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da Silveira
Graduado em Jornalismo. Professor em cursos
para concursos. Atualmente é Auditor-Fiscal da
Receita Estadual/RS (“ICMS-RS”), aprovado em
24º lugar no concurso de 2009. Exerceu o cargo
de Assistente Técnico Administrativo (Ministé-
rio da Fazenda). Aprovado em 1º lugar no con-
curso de Analista de Orçamentos do Ministério
MISSÃO APROVAÇÃO — 4ª prova — 17/08/2015 — m////7
Público da União.
sencial.
Nem precisei procurar muito...
Estava lá, no canto superior esquerdo da ZH de domingo, em um
anúncio de três por duas colunas, verde e azul, com um G bem gran-
de e arredondado: Curso Greco, cursos para o concurso do AFTE.
REMUNERAÇÃO INICIAL R$ 5.602,50 + remuneração variável.
Nem preciso dizer que essa foi a única coisa que eu enxerguei,
né? Então era isso que eu iria ser. Isso o quê mesmo? Ah: Agente
Fiscal do Tesouro do Estado do Rio Grande do Sul. Ganhando isso
estava bom para mim.
Chamei meu pai em um canto e pedi uma força para ele. Nesse
momento seria importante que ele ficasse mais no restaurante, pois
durante a noite eu iria fazer um curso para concurso. Disse para ele
que precisava fazer esse curso, estudar um pouco, afinal, iria ser
Agente Fiscal do Tesouro Estadual e o concurso seria em breve. Ele,
espartanamente, respondeu:
– Tá.
Durante a tarde fui ao Curso Greco, que fica em um prédio famo-
so de Porto Alegre, com uma vista belíssima da cidade. Fiz a matrícu-
la, peguei o calendário e fui ler o cronograma de aulas. Não era nada
inalcançável.
Bem nesse momento complicado, a vó da Deise (a minha namo-
rada que já tinha virado companheira) começou a ter problemas de
saúde. Foi internada, voltou pra casa, foi internada de novo e fale-
ceu. Fora a dor que todos sentimos, ainda tive que reorganizar algu-
mas coisas práticas que interferiram na minha rotina de estudos.
Ocorre que a mãe da Deise tinha sofrido dois derrames cerebrais
ainda antes de nos conhecermos. A Ieda – a mãe da Deise – agora
estava bem, não tinha sequelas, era independente e tudo mais. Entre-
tanto, a vó que havia falecido morava junto com ela. A Laura (avó da
Deise) era uma senhora muito bem disposta, bem de vida, feliz, guer-
reira, enfim. A morte dela foi um baque principalmente para a mãe
da Deise, que possuía um histórico de saúde bem frágil.
Até por isso, tivemos que passar a tomar alguns cuidados extras
com a mãe da Deise, caso que, com a nossa grana milimetricamente
contada, acabou por encurtar ainda mais a minha previsão inicial de
tempo necessário à aprovação. E, ato contínuo, a pressão sobre a mi-
nha pessoa passou a tender ao infinito.
Foi nesse tempo que resolvemos dar um cachorrinho para a mãe
da Deise, um companheiro para ajudar no convívio e tal. Daí compra-
mos um maltês de três meses, que denominamos Guri.
Cara, como eu iria contar isso para a Deise? Como? Passei a noite
remoendo o assunto, pensando em estratégias, em ações judiciais, em
recursos administrativos, mas nada me acalmava...
Ainda sozinho com meus devaneios nessa madrugada insone –
nessa minha noite escura – a razão falou mais alto: iria voltar a traba-
lhar e largar essa vida de concurseiro.
Logo pela manhã, reparti as minhas conclusões com a Deise.
– Estou pensando em voltar a trabalhar, amor. As vagas do
concurso foram preenchidas em um concurso de remoção. Pode de-
morar para me chamarem. Pode até não rolar a nomeação. Não
aguento mais.
Ela respondeu com calma e com um olhar ordenador:
– Não. Agora que tu já veio até aqui tem que continuar! A gente
aperta daqui, aperta de lá, mas temos que continuar nesse caminho.
Eu tenho certeza que tu vais conseguir.
Ela falou isso com uma certeza, com uma força tal, que eu não
ousei duvidar. Aliás, me fez também crer. E eu andava um pouco
ausente desse tema na minha vida. Desse dia, desse momento especí-
fico da voz da Deise retumbando nos meus ouvidos, eu passei tam-
bém a CRER.
rante a semana.
Passei a acordar mais cedo e a tomar café mais rápido. Deixei a
internet desligada, organizei as coisas para começar os estudos às 7
horas da manhã. Com isso consegui fazer até nove horas líquidas de
estudo em um dia, tendo uma média de 7 horas e 20 minutos de estu-
do no ano de 2007.
Claro, depois de todo esse esforço, só podia vir a aprovação.
Nessa época, entretanto, saiu a notícia que em 2007 não haveria o
certame para a Receita Federal. Nem em 2007, nem em 2008. A nova
previsão era pra 2009.
Como era de se imaginar, eu, literalmente, afundei. Minha grana
– que nunca tinha sido ao menos razoável – tinha acabado, minhas
esperanças estavam zeradas, minha autoestima batia no pé. Tinha só
uma fezinha no fundo do peito que insistia em não me deixar e que
me dizia: Para continuar tu terás que fazer um esforço ainda maior e
contar com o apoio de alguém.
Certo. Não havia como continuar sozinho. Eu não tinha dinheiro
para pegar um ônibus sequer.
Foi nesse momento que as duas mulheres da minha vida
me mantiveram no prumo. Minha mãe sentou comigo e me
tratégia e pela minha experiência. Se tinha sido difícil para mim que
estava estudando há vários anos, tinha sido difícil para todo mundo.
Dois dias depois, já refeito da paulada, saiu o gabarito.
Acendi uma vela, fiz uma oração e corrigi tudo de uma vez só,
sem tempo para pensar. Terminei a correção e fui contar os acertos.
Eu tinha feito TODOS os mínimos individuais e mais de 70% da
prova, 74% para ser mais exato. Em estatística tinha feito sete ques-
tões, cravadas. Quase desmaiei. Pensei logo, mas e a grade? Será que eu
passei tudo corretamente? Suava frio, sozinho, na sala do nosso apê.
No outro dia requisitei uma cópia do meu cartão resposta e esta-
va tudo certinho, bonitinho, redondinho. As minhas chances eram
grandes, mas como eu estava escaldado, não contei pra ninguém e
nem comemorei nada.
No dia 15 de janeiro eu estava lá no chocolatão numerando as fo-
lhas de um processo quando o resultado final saiu publicado no DOE.
Eu estava na vigésima quarta posição, dentro do número de vagas.
Meu nome ali no DOE...
A sensação indescritível e surreal da aprovação para o cargo de
fiscal. Eu seria um AFTE. EU TINHA CONSEGUIDO REALIZAR O
MEU MAIOR SONHO.
1
Atualmente o Agente Fiscal do Tesouro do Estado é denominado Auditor Fiscal
da Receita Estadual, por força da publicação da Lei Orgânica da Administração
Tributária do Estado do Rio Grande do Sul, a Lei Complementar n. 13.452/2010.