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REGIÃO NOROESTE
renathacruz@gmail.com
deus.joao@gmail.com
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
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No referido estudo sete cidades destacaram-se pelo alto crescimento populacional no
período de 1970 a 2000. São elas: Campo Grande, Cuiabá, Brasília, Goiânia, Manaus, Petrolina e a
Grande Vitória.
Há outras três formas de hierarquia urbana que são classificados de acordo com a
população e nível de influência: capital regional, influência regional e com população entre
250 e 955 mil, centro sub-regionais, com influência menor que as capitais regionais e com
população entre 71 e 95 mil habitantes, e os centros locais com influência que não
ultrapassa os limites do município e com população até 10 mil habitantes.
A rede urbana, segundo o IPEA (2001) é o conjunto das cidades que polarizam o
território brasileiro e os fluxos de bens, pessoas e serviços que se estabelecem entre si. É
formada por centros, com dimensões variadas, que estabelecem dinâmicas entre si como
campos de forças de diferentes magnitudes. Explica-se que a classificação da Rede Urbana
Brasileira foi desenvolvida com base em um conjunto de critérios e procedimentos
articulados ás tipologias de tamanho dos centros urbanos, ocupacional e de dependência
funcional desses, bem como da forma urbana assumida pelos centros.
O que se percebe nesse estudo do IPEA (2001) é que houve um padrão de
crescimento populacional, mas também de renda das aglomerações urbanas no país. O
sistema urbano brasileiro além de acompanhar a dinâmica de outros países, também
mantém um crescimento que acentua as desigualdades regionais. No documento
“Dinâmica Populacional de Goiás”, os dados do IBGE (2010) foram analisados e é
possível perceber, segundo SEGPLAN-GO:
Apenas a região metropolitana – redefinida pela lei complementar estadual nº 78, de 25
de março de 2010 – detêm 2.173.141 habitantes o que equivale a 36,2% de toda a
população do Estado. Este índice só não é maior em função de outra aglomeração
urbana que ocorre em Goiás mais especificamente na Região do Entorno do Distrito
Federal. Com a marca de 1.036.905 habitantes, os municípios goianos da Região do
Entorno de Brasília representam 17,27% de toda a população goiana. Assim, apenas 2
(dois) grandes centros urbanos respondem juntos por mais de 53% da população do
Estado. (SEGPLAN-GO, 2011, p. 22)
Nesse sentido a “exclusão do pequeno proprietário vê-se forçada pela orientação e
exigências dos administradores dos projetos, no que diz respeito à tecnologia e manejo do
solo” (IBASE, 1986, p. 14). Qual a trajetória traçada pelo camponês nesse momento? Onde
enraizar-se novamente? Que feridas se abriram nesse processo?
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De acordo com o Boletim Informativo das Invasões de fevereiro de 1981 os bairros participantes
da União das Invasões eram: Jardim Nova Esperança, Jardim Europa, Setor Universitário, Parque Amazônia,
Vila Cosme, Vila Paraíso, Vila Silvério, Esplanada do Anicuns, Bairro Anhanguera, Emílio Povoa, Vila Santa
Rita, Jardim Novo Mundo, Jardim Bela Vista, Vila Adélia, Vila Concórdia, Areião, Parque Santa Cruz, Vila
Monticelli, Conjunto Bandeira e Parque Industrial.
diferentes regiões da capital com a finalidade de assegurar a doação de lotes nos bairros
ocupados. A luta pela moradia em Goiânia borbulhava nas diferentes regiões da cidade,
mas como todo processo de segregação, há uma tendência a aglomeração dos grupos com
menor renda nas áreas mais longínquas da cidade, devido ao valor do solo urbano (Harvey,
1980). Foi o que aconteceu com a Região Noroeste3. Após a ocupação ocorrida em 1979,
outras ocupações ocorreram nas fazendas próximas, a exemplo da Fazenda Caveira e São
Domingos4, compreendendo o chamado “núcleo duro da segregação”, estudado por
Moyses (2004).
Mesmo na atualidade é possível perceber que boa parte dos moradores dessa região
é oriunda de outros municípios. Em pesquisa recente5, foram entrevistadas trinta pessoas
dos bairros Residencial Recanto do Bosque, Setor Morada do Sol, Setor Estrela D’Alva,
Parque Tremendão, Jardim Curitiba I, Jardim Curitiba II, Setor Alto do Vale, Residencial
Maringá, Jardim Colorado, Tremendão Residence, Jardim das Hortências, Vila Mutirão,
Residencial Brisas da Mata e Residencial Paulo Pacheco.
Nesse contato cerca de 40% dos entrevistados nasceram em Goiânia, sendo que o
restante do percentual e distribuído por pessoas oriundas do interior de Goiás (30%) e dos
Estados da Bahia (10%), Maranhão (10%), Minas Gerais (10%), São Paulo (10%) e
Tocantins (10%). Do universo pesquisado a maioria reside em Goiânia entre 11 e 20 anos,
sendo que oito pessoas estão na capital há mais de 21 anos. A maioria residia em outras
regiões da cidade antes de fixar-se em média quinze anos.
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“Na Região Noroeste, originou-se o acontecimento doméstico que marcou definitivamente a luta
por moradia em Goiânia, nos anos 80. Iniciou-se em julho de 1979, quando um grupo de aproximadamente
100 (cem) famílias pobres, premidas pelas necessidades básicas, invadiu uma gleba de fazenda de
aproximadamente de 130 hectares, nos arredores da cidade”. Moyses (2004, p. 24).
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Primeiro deu-se a invasão da área próximo à Avenida Perimetral que deu origem ao bairro Jardim
Nova Esperança, em 1979. Posteriormente houve outra invasão em uma área próxima chamada Jardim Boa
Sorte, que não prosperou, visto a presença ostensiva da polícia. Um ano depois, houve outra invasão que
ficou conhecida como Jardim Boa Vista que após muita luta e intensos conflitos foi remanejada para uma
área ainda mais distante do centro da cidade e se tornou a Vila Finsocial.
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Pesquisa realizada em janeiro de 2014. Os dados estão em análise.
Nessa pesquisa preliminar pudemos identificar que a Região conta com serviços
básicos importantes para o estabelecimento em uma cidade: equipamentos de saúde,
educação, parques, dentre outros. Em 2000, apenas 1% dos bairros da Região contavam
com esgoto sanitário. O governo estadual, com o programa de melhoria sanitária das
cidades, destinou R$ 350 milhões para a ampliação da rede de esgoto na região estudada
mediante investimento do Sistema de Saneamento de Goiás - SANEAGO.
Mas, dos moradores pesquisados somente 10% contam atualmente com o serviço
de esgoto, e 90% da população ainda utiliza como forma de deposição dos dejetos as
fossas, sobretudo aquelas feitas pelos próprios moradores, ou seja, sem planejamento ou
estudo ambiental. Em 2010, de acordo com os dados do IBGE (2010)6 é possível perceber
a população chegava a 164.385 habitantes, destes 91.705 são naturais do município (56%)
e 72.680 pessoas não naturais (44%). Destes habitantes 48.873 não tinham acesso à creche
ou escola. Mas, 18.377 desses moradores nunca tiveram acesso à creche ou escola. Quanto
à renda, 46% dessa população recebiam até 2010 no máximo dois salários mínimos
(75.452 habitantes).
Então, lembremos o conceito de segregação discutido por Correa:
Em resumo, a segregação tem um dinamismo onde uma determinada área social é
habitada durante um período de tempo por um grupo social e, a partir de um dado
momento, por um outro grupo de status inferior ou, em alguns casos, superior, através
do processo de renovação urbana. (CORREA, 2005, p.70)
Nesse sentido, o que nos leva a discutir a segregação em Goiânia não tange apenas
dados, mas uma realidade que foi construída socialmente, mediante a luta pela terra, e
atualmente, à luta por melhores condições de vida, e em alguns casos, de luta pelo
reconhecimento do direito do solo urbano. Então, a Região Noroeste ainda é um exemplo
de distância física do centro, mas, também, de uma distância social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho buscamos compreender como a apropriação das terras goianas no
cenário produtivo intensificou o processo migratório para outros centros urbanos, tal como
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Foram utilizados dados do IBGE (2010) agregados por áreas de ponderação.
Goiânia, e como essa gama de migrantes continuou e sentir o processo de segregação na
capital, reproduzindo o processo iniciado no campo.
A Região Noroeste de Goiânia é descrita por Moyses (2004), como expressão
máxima da segregação na capital. Em pesquisa recente foi identificado que o processo de
segregação continua a ser perceptível. O que se pode inferir é que a influência dos atores
hegemônicos, tendo como referência Santos (2006), influenciaram na distribuição das
redes urbanas, e nesse sentido, a população de baixa renda continua a ser margeada,
marginalizada, segregada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A VOZ DOS TRABALHADORES. Invasões: a situação do nosso povo que não tem
onde morar. Abril – Maio, Goiânia, 1980.
ALVES, Maria de Lourdes. Goiânia uma cidade de migrantes. Dissertação de Mestrado.
FCHF, UFG, Goiânia, 2002.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
SEGPLAN (GO). Dinâmica populacional de Goiás: análise de resultados do Censo
Demográfico 2010 – IBGE. SEPIN, Goiás, 2011.
SILVEIRA, Maria Laura. Porque há tantas desigualdades sociais no Brasil? IN:
ALBUQUERQUE, Edu Silvestre de Albuquerque. Que país é esse? Pensando o Brasil
contemporâneo. São Paulo: Globo, 2005. Pp. 141 – 178.
UNIÃO DAS INVASÕES. Boletim Informativo das Invasões. Goiânia, n. 03, Fevereiro
de 1981.