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VOCÊ ESTAVA AQUI?

Amizade, podem surgir na infância, por interesses em comuns, por acasos ou


por picolé como no caso de Ian Brown e Félix Lee mas se está pensando que isso
começou com o ato inocente de duas crianças sinto lhe informar mas está errado,
esta amizade começou a três meses em um dia de calor onde Ian saiu da escola
bravo por ter ido a diretoria sem motivo, ou quase, na verdade o ruivo estava
defendendo uma garota de seu namorado babaca, e a discussão estava civilizada,
até o garoto se achar o “machão” e dizer coisas extremamente machistas, assim Ian
perdeu a paciência e bateu no garoto, mas que culpa eu tenho? Ele realmente era
um babaca! Assim pensava, porém no fim da confusão, por ser já conhecido com
garoto problema, o diretor o dispensou da escola pelo resto do dia, e como estava
com calor e irritado decidiu ir a lojinha do senhor Ming comprar picolé.
Assim que saiu da lojinha, quando foi descer o degrau do deck acabou
tropeçando em algo:
- Ui! - O ruivo soltou sem fôlego por causa do impacto com o chão.
- Eita, essa foi feia. - Uma voz disse com desdém mas ainda preocupada.
A coisa fala? Pensou o ruivo levantando a cabeça para ver melhor a tal coisa.
- Quem é você? - Ian perguntou ao garoto loiro sardento que estava sentado
encolhido no deck, este que fez uma cara surpresa e com os olhos esbugalhados
encaram Ian.
- Você tá me vendo? - O garoto estava realmente assustado.
- Sim, quer dizer…eu não tinha te visto, mas agora estou vendo. - O ruivo se
levantou e sentou ao lado do garoto - Meu nome é Ian, qual é o seu, hum? -
Perguntou.
- Fé-Félix…Lee - O garoto respondeu hesitante.
- Bom Félix, agora somos amigos! - O ruivo sorriu, dando um soquinho
amigável no ombro do loiro.
Daquele dia em diante os dois se tornaram muito próximos, todos os dias após
a escola Ian iria a lojinha do senhor Ming para encontrar Félix, eles falavam sobre
tudo e tinham gostos semelhantes, apesar do ruivo achar o garoto um tanto quanto
estranho já que estava sempre no deck da lojinha, sem falar em seu uniforme antigo
e seus gostos um tanto quanto…vintage, quer dizer como ele não sabia que
lançaram Matrix, Toy Story, Clube da Luta, por Deus até o Iphone? O loiro era
definitivamente estranho, mas gostava dele do mesmo jeito.
Depois de um mês conversando e se vendo todos os dias, Ian decidiu andar
pela cidade com seu novo amigo, segundo ele o deck era muito parado e
adolescentes precisavam de emoção, desse modo a fuga noturna era frequente,
combinavam um lugar na cidade em meio a escuridão com apenas as estrelas para
noticiarem suas aventuras também compartilharam seus segredos mais íntimos.
- Eles sempre brigam? - Perguntou o loiro preocupado com o amigo, este que
tinha chegado muito nervoso e não parava de chorar, mas que agora estava mais
calmo.
- Uh-hum. - Confirmou o ruivo. Os dois estavam sentados de frente um para o
outro, sentados na neve. Ian desviava o olhar enquanto Félix se esforçava para
capturá-lo.
- Quer falar sobre isso? - O loiro perguntou, não obtendo uma resposta do
ruivo. -Se você me contar o seu segredo, eu te conto o meu, o que acha? - Ian o
olhou e acenou com a cabeça.
- Os dois sempre fizeram isso desde que eu me entendo por gente, brigar,
brigar e brigar. Por que eles só não se separam? Seria tão mais fácil - Revirou os
olhos e se encolheu no próprio abraço, até que sentiu algo lhe atingir…Neve? - Ei!
- Nunca mais diga que algo é sua culpa. - Jogou outra bola - Você não tem
culpa de nada, e não é esse monte de coisa que pensa que é. - Jogou outra bola,
dessa vez maior.
-Tem como você parar, mané? - Perguntou o ruivo levemente irritado tendo
outra bola de neve sendo jogada em sua cara.
- Não!- Assim que o loiro respondeu começou uma guerra de bolinhas de neve,
onde nem um nem o outro admitiram a derrota, e apesar de terem dezessete anos,
voltaram aos sete. Quando cansaram, deitados na neve fofa sob as estrelas, Ian
disse:
- Sua vez. - Ele apontou com a cabeça.
- Eu sou invisível, ninguém nunca notou minha presença, sem mesmo antes
daquilo acontecer…Mas sabe, até que eu gosto, apesar de não ter amigos é legal
poder ver a vida das outras pessoas de longe, como em um filme, sabe?
- Não seria melhor participar, do quê só assistir? - Argumentou o ruivo.
- Não - Félix sorriu fraco - Estou bem vendo tudo de longe.
- Vou te mostrar como é ter um monte de amigos! - Ian sorriu grande, porém o
loiro não acreditou na promessa.
Assim como dito, na sexta a noite Ian arrastou Félix para conhecer seus
amigos.
Faltando dez segundos para o final da partida, os garotos estavam
desesperados, era só mais uma cesta e eles venceriam o jogo. Apesar de sentados,
sentiam a tensão como a de um gladiador, Chip estava gritando mais alto que o
narrador, falando qual jogada deveria ser feita, Simon e Peter estavam tampando os
olhos do outro mas espiando pelos dedos, Samuel estava em puro nervosismo e
tentava aliviar-lo se empanturrando de pipoca, Khris e Jorge tentavam acalmar Chip
que nesse momento estava quase descendo da arquibancada para bater no juiz por
sua “falta de competência” em sua palavras modificadas por serem de baixo calão, e
por fim Ian que estava concentrado no jogo até perceber a quietude de Félix:
-O que foi cara? - Ian o cutucou-Não está gostando do jogo?
-Não é isso - Félix disse voltando para a realidade, e depois olha em volta.
-Tá tudo bem? - Perguntou Ian.
-É só que…- Félix foi interrompido por uma pessoa que talvez estivesse feliz.
-AAAAAAAA! ISSO SIM É JOGO CARAMBA! OLHA ISSO NESHVILLE, É
ASSIM QUE SE FAZ! UHUL!
Chip gritou comemorando a vitória do time atraindo a atenção do grupo, todos
se levantaram comemorando e abraçando aos outros, exceto Félix que não teve tal
comportamento ignorado por Ian, ele conseguia perceber que seu amigo estava
estranho para se dizer o mínimo, algo nele fazia o parecer com um fantasma como
se não estivesse realmente ali.
Após toda a comemoração com direito até a foto com o time de basquete, os
garotos foram a SliceTaste comemorar com uma boa pizza. Entre altas risadas os
garotos conversavam, tendo a atenção chamada pelo gerente para que diminuíssem
a animação, até que Peter se virou e disse:
- Ei! Vamos tirar uma foto em grupo!
- Pra quê, cara? - Perguntou Jorge um tanto quanto emburrado.
- Para guardar o momento ué?! - Disse Peter.
- Mas estamos todos suados, feios e sujos de pizza. - Argumentou Simon.
- Diga por você, eu estou lindo como sempre. - Samuel concluiu jogando seu
cabelo imaginário na cara de Simon.
- Anda gente, vamos tirar essa foto. - Chamou Khris - Olha o passarinho!
Todos sorriam para a foto que acabou saindo com peperones voadores já que
alguém - Chip - os jogou para o ar.
- Eu vou lá fora atender uma ligação. - Félix falou só para Ian ouvir.
Fora do estabelecimento e longe das risadas Félix conseguiu observar o grupo
pela janela vendo a felicidade estampada em seus rostos, ficava feliz em saber que
os outros estavam felizes, principalmente Ian o qual teve que lidar com várias coisas
ao longo da vida, ele desejava do fundo se seu coração protegê-lo dos males da
vida. O loiro expira fundo, não vendo o ar expelido se condensar com a brisa fria da
noite, assim enfia sua mão no bolso da jaqueta jeans retirando um isqueiro e uma
vela simples de aniversário, a acendendo. Fecha seus olhos calmamente fazendo
um único e último desejo e então apaga a vela, abre seus olhos se dando conta da
escuridão do estacionamento e por fim sai do local, deixando sua figura se misturar
entre as sombras.
Dentro do restaurante os garotos continuam a conversa normalmente:
- Khris, me manda a foto? - Perguntou Peter, tendo uma resposta positiva do
mais velho. Logo todos os garotos estavam passando o celular para ver a foto.
Jorge finalmente passa o celular para a direita chegando em Ian, este que
observa a foto com cuidado vendo o sorriso, poses de cada um e os peperones
voadores, mas notando algo ou melhor a falta de alguém, não conseguia enxergar
Félix na foto, lembrava claramente de estar o abraçando ao fundo bem no centro. Se
vira rapidamente levando o celular consigo:
- Cadê o Félix? - O ruivo perguntou a Jorge.
- Hum? - Jorge parecia não ter entendido a pergunta sem sentido. - Quem?
- Como quem? - Então se vira para Khris - Você viu o Félix?
- Ian, quem é esse Félix? - Khris e os outros garotos encararam Ian como se
fosse um louco
- Mas ele estava aqui, quer saber esquece. - Ian se levantou da mesa e saiu
correndo do restaurante.
Em sua cabeça passavam-se todos os momentos que teve com o grupo e o
loiro. Como eles estão perguntando quem é? Eles estão literalmente vivendo juntos
a semanas! Ian pensava e repensava e pensava novamente, mas dessa vez em
onde Félix estaria. Havia percebido como o mais novo estava estranho e mais quieto
que o normal, sua cabeça parecia longe e seu olhar morto, de repente o peito do
ruivo começava a se apertar em preocupação assim correndo sem pensar duas
vezes para o local onde apenas os dois iriam. No caminho Ian pensava em como
Félix estaria? Não, não poderia perder seu amigo, tinha que encontrá-lo sabia das
coisas que passavam pela cabeça do mais novo, e não gostava de nenhuma delas,
então correu o mais rápido que pode atravessando a escuridão e cortando caminho
pelo mato alto, quando estava no fim subindo o pequeno morro, suas pernas já não
se aguentavam, a fadiga já era presente e não conseguia controlar sua respiração.
Chegando na lojinha do senhor Ming, Ian encontrou Félix em seu uniforme
escolar antigo com alguns machucados no rosto, o garoto parecia tranquilo, como se
nada tivesse acontecido, a brisa fria do inverno abraçava os dois corpos e a noite
escura sem estrelas contribuía para a cena dramática. O mais novo sorri doce.
- O que você…- Ian é interrompido por Félix.
- Adeus. - Ele sorri levemente, tombando a cabeça.
E como mágica, lentamente o corpo do menino foi ficando cada vez mais claro,
possibilitando ver através de si. Seus cabelos estavam mais claros e pequenas
criaturas luminosas saiam dele com pixels, seu sorriso mais brilhante e grande a
cada segundo o menino ia sumindo mais, e quando a única coisa que poderia ser
vista era a camisa antiga a figura do menino encheu-se de brilho eclodindo-se
lindamente em pétalas brancas e vagalumes que se espalharam pelo céu, tendo um
vagalume pousando lentamente no dedo do ruivo, não restando nada a não ser o
broche com seu nome, Félix Lee.
Ian com as pernas tremendo e sem entender o que havia acontecido se
aproximou do deck de madeira onde o loiro esteve, quando sua ficha caiu e
entendeu que nunca mais poderia ver seu melhor amigo, seu irmão, o desespero
tomou conta de seu corpo, seus olhos arregalados iam de um lugar para o outro
rapidamente como bolinhas de pinball, sua respiração estava muito acelerada não
conseguia conter nada em seus pulmões e quando já não conseguiu deixar tudo
trancado no interior, gritou o mais alto que pode com todo o desespero e dor que
seu coração abrigava. Então esta era a dor de perder uma pessoa, que nem existia?
“Boa noite, nesta tarde do dia 13 de outubro de 1993, recebemos a trágica
notícia que um motorista embriagado passou em alta velocidade, acabando por
atropelar o aluno Félix Lee de 17 anos que não resistiu aos ferimentos e faleceu no
local. A família Lee desejamos nossas condolências, e que Deus ou alguma força
maior esteja com vocês nesse momento difícil. Boa Noite.”

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