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Janice Diniz
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Matarana
Poucos anos atrás
Santa Fé
Dias Atuais
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Um ano depois.
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Vince e Lorenzo bebiam uísque escocês no
escritório de Thales Dolejal na Arco Verde.
— Lealdade se conquista, mas antes de conquistá-
la, temos que nos impor, mostrar que não temos sangue de
barata e que ninguém tá livre de ser executado
sumariamente. — declarou Thales, tragando o cigarro com
serenidade.
— Somos uma grande família na Rainha do
Cerrado, um feudo isolado, não queremos impor nenhum
sistema de castas ou, sei lá, esquema da máfia e o cacete.
— afirmou Vince.
— Hum, interessante. — disse o fazendeiro, com
arrogância. Inclinou-se ligeiramente pra frente e perguntou
ao Romano mais velho, com ar superior: — Então, me
explique, por que ninguém é desleal na Arco Verde?
Exceto, claro, — parou de falar e lançou um olhar
debochado a Lorenzo — o Romano aqui?
— Ainda me considera um traidor?
Thales se recostou para trás no sofá e, dando de
ombros num gesto de enfado, respondeu:
— Na verdade, era eu quem queria a sua cidade e
não você a minha, contudo, podíamos ter unido nossas
forças. Imagina, Lorenzo, eu e você, juntos no comando de
Santa Fé seríamos imbatíveis.
— O que ganharíamos com isso?
Ao ouvir a pergunta do tio, Lorenzo se virou para
encará-lo.
— Pra começar, parte da minha tropa, todos são
homens de confiança...
— Como o Magno e o Ned?
— Meus queridos, eles nunca me traíram. Talvez
esteja na hora de pendurar alguns corpos nas árvores da
sua propriedade para mostrar aos seus homens que a RC
não é apenas uma fazenda leiteira e um haras de puro
amor e bondade. — debochou. — A hierarquia do poder
deve partir da fazenda de vocês e ser determinada por
quem tá no comando, e eu realmente não sei quem manda
na Rainha do Cerrado. É você, Vince? O Max? Você,
comandante de uma tropa desgarrada?
— O que mais pode nos oferecer?
— Estamos em fase de negociação, Vince?
— Sim.
— Então é você quem manda na Rainha do
Cerrado?
— Sempre foi.
— E como fica o “comandante” nessa história?
— À frente da tropa dos pistoleiros.
— Hum, entendi, subordinado a você. — concluiu.
— Exatamente.
— Aceita as coisas dessa forma? Pensei que fosse
mais ambicioso? — indagou a Lorenzo.
— E sou mais ambicioso. Mas no último ano,
adquiri outro tipo de ambição, a de estar presente na vida
da minha mulher e dos meus filhos. Veja-me agora como
uma espécie de Franco Dolejal. — sorriu.
Viu os olhos de Thales brilharem.
— Vocês terão de mim uma tropa leal e fantoches
para ocuparem a prefeitura e demais cargos importantes,
gente de fácil manipulação, é só colocar comida no
aquário. O meu apoio e financiamento para o que
precisarem.
— Em troca...?
— Quero fazer negócios em Santa Fé.
— Que tipo?
— Vince, quero expandir a minha riqueza
comprando terras, ora. Sou um fazendeiro.
— Você quer comprar terras próximas a Belo
Quinto. — afirmou Lorenzo sagazmente.
Thales sorriu.
— Sim, quero atacar a bandidagem daquele reduto
podre e fedido e pôr a bandeira de minha posse sobre
aquela terra.
— A sua ambição não tem fim. — constatou
Lorenzo, com um sorriso de admiração.
— Tudo por um mundo melhor.
Parecia que Thales estava escarnecendo, mas ele
falava a verdade. Um milionário que combatia o crime...
Um super-herói?
— Batman.
— E com os Romano e o Max, nos tornaremos a
“Liga da Justiça”. — agora, sim, era pura ironia.
Eles apertaram as mãos e selaram o pacto. Entre
aqueles homens não havia contrato, detestavam
burocracia. Se alguém rompesse o combinado, adubaria o
solo de Matarana ou o de Santa Fé, dependendo o
sobrenome do infeliz.
Antes de saírem, a porta já aberta, Thales segurou o
antebraço de Lorenzo e sentenciou com um sorriso
endemoniado:
— Vou me divertir muito trabalhando com vocês.
Essa historinha de você se colocar na posição de segundo
na hierarquia quase me levou às gargalhadas. — ele olhou
diretamente nos olhos de Lorenzo e desferiu: — Você é e
sempre será uma “espécie de Thales Dolejal”, meu
querido, é a sua sina, o seu carma, o seu dom, se quiser
pensar assim.
Lorenzo viu a si mesmo nos olhos do outro.
— Não. Você tá acima de todos, inclusive de mim.
Capítulo 35
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