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TODA POESIA
VOLUME 11
SALINAS
Reitor
José Daniel Diniz Melo
Vice-Reitor
Henio Ferreira de Miranda
Revisão
Wildson Confessor (Coordenador)
Luciano Vagno (Colaborador)
Vitor Matheus (Colaborador)
Anna Biatryz (Colaboradora)
Isabelle Cavalcante (Colaboradora)
Zila Mamede
ZILA,
TODA POESIA
VOLUME 11
SALINAS
Natal 2023
Fundada em 1962, a Editora da UFRN continua
até hoje dedicada à sua principal missão:
produzir impacto social, cultural e científico
por meio de livros. Assim, busca contribuir,
permanentemente, para uma sociedade mais
digna, igualitária e inclusiva.
Mamede, Zila.
Salinas [recurso eletrônico] / Zila Mamede. – Dados eletrônicos
(1 arquivo: 3.300 KB). – Natal, RN: EDUFRN, 2023. – (Zila, toda poesia; v. 2)
CDD B869.1
RN/UF/BCZM 2022/28 CDU 821.134.3-1
9 Salinas
Que cores me aniquilando?
Que tintas serão meus pés
no final dessas andanças,
nas marcas que eu não deixar?
Tripulantes descompostos
da vida que não vivi,
navegam meus pés comigo
as luas desarvoradas
e os nortes sem girassol.
10 Zila Mamede
Partida
11 Salinas
Cais
12 Zila Mamede
Poema de viagem
De tudo,
durou apenas
na memória
a última estrela
do anteamanhecer.
13 Salinas
Elegia
14 Zila Mamede
Meus pensamentos de espumas,
meus peixes e meu luar,
de tudo fui despojada
(até das fúrias do mar),
porque já não sou areias,
areias soltas de mar.
Transformaram-me em desertos,
ouço meus dedos gritando
vejo-me rouca de sede
das leves águas do mar.
15 Salinas
Que amargura em ser desertos!
Meu rosto a queimar, queimar,
meus olhos se desmanchando
– roubados foram do mar.
No infinito me consumo:
acaba-se o pensamento.
No navegante que fui
sinto a vida se calar.
16 Zila Mamede
Chuva
17 Salinas
Noturno do Recife
18 Zila Mamede
Canto inútil
Em palavra existi:
agora,
em sombras permaneço decomposta.
Fendeu-se-me o caminho.
Meu nome,
há muito não se faz chamar.
19 Salinas
Elegia das mãos
Mãos defuntas,
mãos que consumiram ressonâncias de lirismo
transformaram-se numa estrela morta,
suor e nada.
20 Zila Mamede
Composição
Componho, além,
teus olhos na planície
e os vejo feitos cor de esquecimento.
Que pressa em desmanchares meus janeiros
aos mangues atirando o calendário.
21 Salinas
Canção do afogado
22 Zila Mamede
Profecia
23 Salinas
Nos olhos de ninguém
a Patrícia Monte-Mor
24 Zila Mamede
Poema
– Pranto.
25 Salinas
Réquiem para minha irmã
Um montículo de areia.
Lá em baixo, uma vida que foi.
26 Zila Mamede
Santa Teresa
Santa Teresa:
as estrelas se mudaram para o chão.
27 Salinas
Para Manuel Bandeira
Penso-te
como quem sonha uma estrela
que inventou na madrugada
e no desejo de guardá-la
viva.
Penso-te
como o claro silêncio permanente
da neve,
como a branca surpresa
de uma flor nascente.
28 Zila Mamede
Poema
Vã chuva caindo
que as sementes
se quedam inertes
na obscura terra.
Vã essa ternura
permanecida:
– o amor já não é
ressonâncias
e se afunda sem ecos:
o azul num pântano.
29 Salinas
Poema bíblico
Na origem,
tens herança primitiva
de fogo,
e mais te escolhes
quanto mais te negas.
30 Zila Mamede
Poema da temporária quietude
O silêncio do sol
lavou-me o luto
da memória.
Ilha ou saltimbancos
meus dedos
são nenúfares
compondo
falas,
dançarinos,
vida.
Somente o nome
permanece
abstração e tempo
e como voo de suicida
desintegra-se.
A montanha vê-se:
flor, espaço, nuvem.
Enorme é o silêncio
– nasce um cacto.
31 Salinas
Ponte velha
Em campo
onde açucenas não floreiam
lavadeiras caminham
estreando o amanhecer.
Os volumes de roupas
nas cabeças ondulantes
como flores de algodão em hastes negras.
32 Zila Mamede
Lagoa do Bonfim
As águas conservando
nas entranhas
um último segredo
de afogados,
prematuros desesperos
de afogados,
silenciosas tragédias
de afogados.
Tardias horas:
o repouso da lagoa se embrutece
e as maretas conversam,
33 Salinas
Falanges de fantasmas suicidas
dispersam o súbito murmúrio da lagoa
que é o seu próprio mistério.
Novamente a tranquila,
novamente a transparente face da lagoa
se mostra:
e dos mortos aquáticos
o segredo permanece
puro.
34 Zila Mamede
Chamado
35 Salinas
Soneto da iniciação
36 Zila Mamede
A (outra) face
37 Salinas
Retrato
Me lembrava da menina
escavacando o chão agreste,
me lembrava do menino
carregando melancias.
38 Zila Mamede
A cruz da menina
39 Salinas
3. Aquela gruta escondida
lhe causava espantação;
mas a madrasta queria
trinta ovos de guinés
que a menina colheria
(ao toque de ave-marias)
nas bandas de lá da serra,
bem nas fundas do sertão.
40 Zila Mamede
Os cabelos da menina
viraram capim, no chão.
41 Salinas
8. Da gruta se aproximava
na ponta dos pés andando
não sabendo que o terror
precedia outro maior,
que a morte se antecipara:
seus cabelos alongados
seriam cabo seguro
para a rude imolação.
A madrasta de tocaia
a morte leva na mão.
42 Zila Mamede
10. Camponês vinha da feira
de Patos a seu rincão,
tangendo seu jumentinho,
resmungando contra a vida:
parou à encosta da gruta
e vento lhe foi trazendo
no soluço cor de noite,
um chamado de aflição.
43 Salinas
12. O busto rolado estava
beliscado de urubus;
no boqueirão, nas veredas
os cabelos aparados
pelos beiços do machado
voavam de pedra em pedra,
desciam pelas areias
tentando se replantar.
44 Zila Mamede
14. Na cruz que ali foi plantada
uma capela nasceu
para a fé dos viajantes
que acreditam nos milagres,
no murmúrio soluçante,
no choro nunca estancado
da menina que morrida
à tardinha vem gemer.
45 Salinas
As enchentes
2. Meninada bandoleira
no patamar da Matriz
– velho patamar de lajes
degraus de pedras de cor
pedra lisa de escrever
dos jogos de dama e de onça
dos ticas, das cabras-cegas
e dos cavalos de pau.
46 Zila Mamede
3. O escuro lombo da serra
que se chama de Santana
era sinal das enchentes
maduras para chegar.
Na frente vinha a zoada
das terras descaroçando
e na curva o braço d’água
já se fazia mostrar.
47 Salinas
6. Enchentes de trinta e sete
embocando ponte, açudes
gado roças caieiral.
Com seus olhos seus faróis
caminhões-sapos-moleques
mergulhavam rio escuro
pintando de girassóis
as águas da noite breu.
7. A trovoada tremendo
terra bruta arrepiada
varando clarão de raios
as campinas de pavor
pois raio dobra coqueiro
silencia lavrador.
Palhas bentas nas janelas
Salve-Rainhas de dor.
48 Zila Mamede
9. O rio, tive-o de longe
quando a chuva recolhia.
Sentava no patamar
toda noite, que de tarde
é que a chuva vem cair.
Meus lirismos de menina
minhas noites vaga-lumes
nos degraus os imprimi.
49 Salinas
12. As valetas soçobrando
nudez de mulher na chuva
recolhendo água nos potes
cachaça dando tostão
que a terra muda de estampa
que a gente muda de pão
e o sujo e a tristeza antiga
cheiram de novo a cristão.
50 Zila Mamede
O TEMPO
DE ZILA
1943
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1936 a 1946
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1928 a 1941
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1935 1942
Zila e sua família Zila e sua família
transferem-se para mudam-se para Natal-
Currais Novos, interior RN, uma vez que seu pai
do Rio Grande do Norte. havia sido contrato para
a construção da Base
Aérea de Parnamirim.
54 Zila Mamede
1954
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Zila exerce a função
de auxiliar de escritório no
Departamento de Reeducação
tangiam-nos serenos com as cantigas e Assistência Social.
aboiadeiras e um bastão de lírios
Julho
Os bois assim dormindo caminhavam Zila representa o Rio Grande
destinos não de bois mas de meninos do Norte no 1º Congresso de
libertos que vadiassem chão de feno; Biblioteconomia realizado na
cidade de Recife-PE.
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a 1949 aprogramas
1953 altos da nossa série Memória Viva,
sobretudo pela bela Zila
liçãoatua
decomo 1954
sensibilidade, de poesia, da presença
Zila realiza o curso
simpática que Zila nos deu –no
contadora que,
a 1962
como encerramento do nosso pro-
Serviço
técnico de contabilidade, Social da Indústria.
grama,
na Escola escolhesse
Técnica de o poema que mais aprecia, mais Zila assume, ados
emociona convite
que
do governador Sylvio
já escreveu, e encerrasse o nosso programa declarando
Comércio “Imaculada esseo cargo
poema.
Conceição”.
Pedroza, de 1953
diretora da Biblioteca do
ZILA MAMEDE – Vou ler o poema dedicado ao meu
Zila publica avô, que faz
Instituto de Educação,
parte do livro O arado, e, se houver
Rosa detempo,
pedra. gostaria de
queler um apoema
sediava Escola
do meu próximo livro que será A morte da máquina. Normal de Natal eo
Atheneu Norte-rio-
grandense.o que foi o
“O ALTO (O AVÔ)” é um poema que descreve, exatamente,
meu avô materno, com quem convivi toda a minha infância e adoles-
cência. O ALTO é o nome do sítio (O AVÔ).
55 Salinas
1957
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Zila exerce a função
1958
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de redatora no jornal
Diário de Natal. Zila publica
Zila é designada Salinas.
correspondente do
jornal O Globo no
Congresso Mundial
da Juventude Católica
Operária, na Itália.
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1955 1957
a 1956 a 1961
Zila realiza o Zila atua como
curso superior de bibliotecária da
Biblioteconomia, Sociedade Cultural
promovido pela Brasil-Estados
Biblioteca Nacional Unidos
do Rio de Janeiro. de Natal.
56 Zila Mamede
1959 1961
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2 de maio 6 a 16 de abril
Zila é nomeada pelo Zila realiza estágio no
Reitor Onofre Lopes Washington International
como Bibliotecária Center.
Diretora do Serviço
Central de Bibliotecas 9 a 16 de julho
da UFRN. Zila é uma das convidadas
estrangeiras da 80ª Conferência
1959 Anual da Associação
a 1961 Americana de Bibliotecas,
realizada em Cleveland, EUA.
Zila assume
interinamente a Diretoria 17 a 30 de novembro
de Documentação Zila realiza estágio na
e Cultura, órgão da biblioteca da universidade
Prefeitura de Natal. americana de Syracuse.
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1959 1960
a 1980 Zila é indicada pelo
Zila exerce a função de governador Dinarte de
Bibliotecária Diretora Medeiros Mariz, para
do Serviço Central compor o Conselho
das Bibliotecas da Estadual de Cultura do
Universidade do Rio Rio Grande do Norte.
Grande do Norte (1959-
60); da Universidade
Federal do Rio Grande
do Norte (1960-74) e,
posteriormente, Diretora
da Biblioteca Central da
UFRN (1974-80).
1959
Zila publica
O arado.
57 Salinas
1970 1976
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1964 a 1965
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58 Zila Mamede
1980
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28 de março
Zila aposenta-se,
transmitindo a direção
da Biblioteca Central
1984
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da UFRN para a
bibliotecária Sônia
Zila publica
Campos Ferreira, sua
A herança.
discípula e vice-diretora
desde 1967.
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1985
13 de dezembro
Zila falece. Após
proposta do Reitor
Genibaldo Barros, e por
meio da Resolução nº
120/85-CONSUNI, de
13 de dezembro de 1985,
foi aprovada a mudança
do nome da Biblioteca
Central para Biblioteca
Central “Zila Mamede”.
59 Salinas
Este livro foi produzido
pela equipe da EDUFRN
em maio de 2023.