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Poeta, jornalista, crítico literário, foi presidente da Academia Alagoana de Letras por seis mandatos
consecutivos, autor dos livros Desencontro, Notas sobre poesia moderna em Alagoas e do festejado A
Ilha, considerado um clássico da poesia alagoana. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de
Alagoas, autor da letra do Hino de Maceió, faleceu no dia 19 de maio de 1998, aos 86 anos.
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SONETO N.° 37
Cléa Marsiglia é um poeta de rara leveza, retirando a poesia da pura sensação. É uma pena conhecer
uma poeta tão sutil com tanto atraso e mesmo que ela vindo da terra de dois outros dois grandes
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poetas (Jorge de Lima e Lêdo Ivo), não seja festejada nacionalmente. Basta ver que Fábio Lucas a cita,
em entrevista que consta em livro de estudos sobre a Literatura Brasileira, de autoria de Douglas
Tufano, entre as grandes poetas do Brasil:
“A sensibilidade feminina, sem violências extremas na área da mera aparência formal, tem
contribuído fortemente para fixar um campo original de inquietação poética, de apreensão
deslumbrada de novos mundos, de afirmação superior da mulher na sociedade contemporânea.
Dentre os muitos nomes, em todo o Brasil, que mereceriam citação, lembro Laís Corrêa de Araújo,
Celina Ferreira, Renata Pallottini, Ana Elisa Gregori, Hilda Hilst, Zila Mamede, Olga Savary, Clea
Marsiglia, Myriam Fraga, Sônia Queirós, Elza Beatriz, Adélia Prado, Yone Giannetti, Dora Ferreira da
Silva, Lara de Lemos. A enumeração é apenas ilustrativa. Considere que, no momento, a figura da
mulher se expande no contexto cultural brasileiro. As universidades, as faculdades de Letras, os
veículos de comunicação de massa, a própria produção literária estão gradualmente passando da
hegemonia masculina para a predominância feminina.”
TEXTOS
CANTA A AUSÊNCIA
Canta a ausência
nos ramos de tília.
Falta a lembrança
pelo macio das rosas.
Sussurra a voz
pela brisa dos campos.
Maior é meu silêncio
quando chegas
e fazes presença
deste amar.
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FELIZMENTE O INVERNO NÃO VEM
Som de lauta.
Rebanho quieto
com olhar longo de paz.
Encostas floridas
se debruçam de beleza
para o aroma do espaço.
Sorriso do outono
cai triste e profundo
na tarde molhada
de chuva.
Ar manso do primeiro frio
enrola dores e lembranças
no manto do sentir.
O íntimo passou às pressas
para o silêncio do sempre.
A flauta parou agora
bem no meio do amar.
Não soube mais tocar
o que já era do eterno.
3. JORGE COOPER
O poeta Jorge Cooper é um alagoano da capital que nasceu em 1911. Além de Maceió, morou duas
décadas no Rio de Janeiro. Morou um tempo no Maranhão, em São Luiz, onde inclusive publicou o
livro Poemas quando em São Luiz, que era o seu preferido. Filho de pai inglês e mãe alagoana de
ascendência portuguesa, o poeta começou sua vida literária no final da Segunda Guerra Mundial. Os
poemas que apresentaremos aqui fazem parte da antologia Noite Nova: Vigília, que foi organizada
pelo poeta Sidney Wanderley e por Fernando Sérgio Lyra. A publicação é de 1991 e faz parte da
coleção “Viventes das Alagoas”.
TEXTOS
ENQUANTO EXISTE
Tenho que certa feita Cristo disse
A carne é fraca
E Mallarmé
que leu todos os livros
e como homem soube
o vício
— dizem que Mallarmé disse
A carne é triste
Fraca ou triste
triste ou fraca
certo é que na carne é que a alma é
Enquanto existe
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ANTES MESMO
Talvez o fim se dê
antes mesmo de voltar o sol
ou esteja ainda longe
para além de muitos dias
Que nem os raios de uma roda
à disparada
o fim avança
como se recuasse
— E recuando
me recusasse.
POEMA
Não ter pai
nem mãe
e tampouco irmãos
Ser como Adão
quando até a maçã
lhe foi imposta
— é não viver sob o peso
de saudades
remorsos
e lembranças
sempre à mão
Assim seria melhor
A vida teria sido imposta
POEMA DÉCIMO
A idade me diz
ser tempo de
passar a vida a limpo
— (Não custa passar a vida a limpo
Não lhe tenho é o rascunho)
POEMA
Minha vida
foi um mar sem porto
onde à noite
nem ao menos o olho de um farol
piscou
E quando era dia
o tempo vadio
só lhe mostrou
o azul vazio
de quem vem de ir
de onde não chegou
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VIGÍLIA
Na noite
relâmpagos lembram que tudo é sombra
O silêncio exterior perturba-me
Faz frio
Sensual como um tuberculoso
maldigo a falta que me faz teu corpo
POEMA VIGÉSIMO-NONO
Para que falar das coisas que não fiz
por esquecimento
e das que deixei de fazer
por serem lembradas
se as coisas que faço
logo que as faço
metem-se sob o véu
das lembranças inventadas
ESQUECIMENTO
Morto
o homem é de pronto
relegado ao esquecimento
Comigo
dá-se o contrário
É que me antecipo ao esquecimento
alheio