Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
I Zeros de Íwnções:
O método da dicotomia
"Planejar é tomar a decisão de colocar um pé diante do outro.,'
Winston Churchill
1,.1 Introdução
Determinar os zeros de uma função significa achar as raízes dessa função. Esse pÍoce-
dimento é muito importante em aplicações práticas, principalmente no caso de aplica-
ções em computação. Dá-se às raízes o nome de zeros da função porque nesses valo-
res, ou seja, nas raízes, a função assume valor zero. vejamos um exemplo simples de
uma função do segundo grau (veja a Figura 1.1), onde são representadas uma função
e suas taízes:
f(*):ax2*bx+c (1.1)
(1.2)
não tem solução analítica, e a busca por suas raízes não é trivial. Isso signif,ca que não
existe um algoritmo que solucione a função, e as suas taízes devem ser encontradas
por outro método.
Capítulo Um
Como, segundo o que foi discutido anteriormente, araiz divide regiões com sinais di-
ferentes, o intervalo que contém ataiz é lx", xo).
Uma maneirurápida de verificar se araiz está contida num determinado intervalo é
através do produto do valor da função nos seus extremos. Assim,
í(*")í(x)> 0 (1.4)
Uma vez que se sabe que araiz estácontida no intervalo Lx", xt], pode-se aplicar no-
vamente o mesmo pÍocesso, dividindo-se o intervalo em duas partes. Como resultado,
obtém-se um novo intervalo, menor que o anterior, que ainda contém araiz'
,rrll
(-o,9)t(-{,8)
,""2
= ={,g5 (1.6)
(-0185)
Í(x")=/(-{,85) = eu'r' + =0,02415 (l'7)
2
Como esse valor é positivo, despreza-se o intervalo lx", xu7, pois a raiz encontra-se
no intervalo Íx o, x,f . Grafi camente:
Figura 1.5 Representação da função l{x)* e' +!xno intervalo [-0,9; --0,8].
2-
Capítulo Um
,tr
.,;|,
,!ttlr
uma
Conclui-se que aÍaizda função é aproximadamente --0,85259' O resultado será
It
um nú-
aproximação, pois paÍa se chegar a uma precisão absoluta, dever-se-ia calcular
mero infinito de iterações, o que não é possível'
I
um bom exemplo do que se deseja discutir aqui. Na verdade, pala certas aplicações,
o valor ae Jí pode ser substituído por 1,414, ou até mesmo por 1,4. Dependendo
da
Nas aplicações de cálculo numérico, a precisão passa a ter uma importância primor-
dial. Os computadores digitais, por mais rápidos e soflsticados que sejam, têm limi-
tações de precisão inerentes à sua construção. Os circuitos digitais são naturalmente
limitados e, portanto, capazes de alcançar um nível de precisão também limitado, se
bem que suÍiciente para a grande maioria das aplicações discutidas nesta obra.
Chama-se de "iteração" a cada passagem pelo processo, e sua repetição até alcançar
o valor desejado implica necessariamente uma melhoria da aproximação da rarz. Cada
iteração divide por dois o intervalo considerado. Depois de duas iterações, o intervalo
será quatro vezes menor. Depois de três iterações, oito vezes menor.
ATabela 1.3 apresenta o avanço do tamanho dos intervalos à medida que o método
é aplicado:
Tamânho relativo aó
iítervalo original,' Potência de 2 da divisâo
0 1,000000000 20=7
1 0,s00000000 )1 -)
t'
2 0,250000000 1) Á
- t
J 0.125000000 lr - Q
I
:
4 0,062500000 2a=16 !
I
6 0,01s625000 26=64
7 0.007812-500 21 = 128
8 0,003906250 28 = 256
9 0.00195312s )q - §l )
Observe que, depois de 10 iterações, o intervalo foi dividido por 1024, ou seja, al-
cançou-se uma precisão da ordem de milésimos. Com mais dez iterações podem-se
alcançar precisões da ordem do milionésimo, ou 11220 (veja o Exercício 1.2, no final
deste capítulo).
Assim, é possível prever o número de iterações necessário para satisfazer uma pre-
cisão previamente estabelecida e, portanto. resolver o problema sempre num tempo
que também é previsível.
Capítulo Um
//-----------
// Programa dicotomia
return xc;
)
int main(int argc, ehar* argvl])
{
float raiz;
raiz = dicotomia(-0. 9, -0.8, 0. 0001) ;
printf("taiz = %g\n",raiz) ;
getchar();
return 0;
Figura 1.6 Programa em linguagem C que acha a raiz de Í(x) = e' +)xpelo Método da Di-
cotomia.
O programa é composto por três funções: a função principal (nain) que "chama" a ro-
tina que executa o método, a própria rotina do método (dicotomia) e uma última função
oom a descrição matemática do problema a ser resolvido (flr)). Essa estrutura permite
que o problema possa ser alterado com facilidade para ser aplicado a outÍos casos.
Zeros de Funções: O Método da Dicotomia
1.5 Exercícios
L Ache, pelo Método da Dicotomia, a raiz da função
ftx)=É-*-7 0.8)
2. Proponha uma regra geral para estabelecer o número de iterações necessárias para alcançar
uma determinada precisão quando se usa o Método da Dicotomia. Use essa regra para cal-
cular quantas iterações são necessárias para chegar a uma precisão de 10{.
f(x)_e_,rd)
\ t.,J (1's)
com uma precisão de quatro casas decimais. Sabe-se que a raiz encontra-se no intervalo
to,21.
4. No exercício anterior, a raiz é 1, que é alcançada logo na primeira iteraçã0. proponha uma
modificação do programa apresentado no item 7.4 para o caso de o ponto médio do intervalo
coincidir com a raiz exata da função.
5. Proponha um método generalizado que ache todas as raízes de uma função utilizando o Mé-
todo da Dicotomia. Aplique esse novo método para achar todas as raízes da função
6. A função
tem uma raiz positiva e outra negativa. Determine o intervalo em que essas raízes estão con-
tidas. Determine o valor dessas raízes.
7. Sabe-se que a função
f(x)=x-3-r' (1.12)
tem uma raiz no intervalo x= [1,0; 3,0]. Use o Método da Dicotomia e encontre o valor da
raiz (considere quatro casas decimais).
l0 Capítulo Um
9. Uma nave espacial sai da Terra a caminho de Marte. Sabendo-se que a órbita da Terra em
torno do Sol tem um raio médio de 149,598 milhões de quilômetros e que o raio médio da
órbita de Marte é de227,398 milhões de quilômetros, calcule, através do Método da Dico-
tomia, a que distância da Terra aÍorça de atração da Terra e Marte se anulam, no caso de
proximidade máxima entre os dois planetas. Considere que a massa de Marte equivale a 0,11
da massa daTerra e a força de atração gravitacional é dada por
- ^Mm (1.13)
d'
onde Mé a massa do planeta, m é a massa da espaçonave, G é aconstante de gravitação
universal e déa distância entre a nave e o planeta. Dica:caro leitor, antes de mais nada,
não entre em pânicol Não é necessário saber o valor de G nem de m, pois estas constantes
desaparecerão no decorrer do cálculo. Escreva as equações das forças, F, e F*, levando em
conta as distâncias entre os planetas e a nave, dre d*; depois iguale as duas equações (pois
as "forças se anulam"). Lembre-se de que du = (órbita de Marte - órbita da Terra) - dr.
10. Uma escola de nÍvel superior oferece um curso de Bacharelado em Ciências da Computa-
ção com quatro anos de duraçã0. Uma estimativa baseada na observação de vários anos do
curso mostra que a cada ano que passa, 5% dos alunos de cada turma desistem. A soma
dos salários dos professores e de outras despesas equivale a 40.000 reais por mês para este
curso. A cada início de ano, as mensalidades sofrem um reajuste de 12%. Uma vez que o
dono da escola deseja um lucro de um milhão de reais paracada turma formada, qual deve
ser o valor da mensalidade praticado no primeiro ano?
11. O capitão Kirk, da nave estelar Enterprise, está viajando com metade da velocidade da luz.
Para receber mensagens da Federação Unida de Planetas, ele deve levar em conta o efeito
Doppler, que altera as freqüências de rádio segundo a fórmula
LLv (1.14)
Lrc
onde yé a velocidade da Enterprise, cé a velocidade da luz, À"é o comprimento original da
emissão e ÀÂ é o quanto o comprimento de onda foi alterado. A relação entre comprimento
de onda e freqüência é dada por:
f =c). (1.15)
Para ouvir as notícias da Eldorado AM (700 kHz), em qual freqüência o capitão Kirk deve
sintonizar seu rádio?
12. Num chuveiro elétrico, a energia elétrica consumida é dada pela expressão:
,.U,
,R (í.1 6)
* + 1,95x- 2,09 tem uma raiz positiva e outra negativa. Determine o inter-
13. A função fl,x) =
valo em que estas raízes estão contidas. Determine o valor destas raízes.
14. 0 grego Aquiles, que consegue correr 150 metros em 10 segundos, foi desafiado a apostar
corrida com Mary, atarlaruga de Pitágoras, cuja velocidade máxima é de 1 metro por mi-
nuto. Para ajudar o pobre bichinho, o grande herói resolveu dar-lhe uma vantagem de 200
metros. U m certo tem po depois de dada a largada (um tempo bem curto...), Aqu iles estava
alcançando o ponto de partida de Mary, mas o animal já tinha andado um pouco. Aquiles
pensou: "Quando eu chegar ao ponto em que a tartaruga está agora, ela terá andado mais
um pouco. E depois, mais um pouco. Desse jeito, eu nunca alcançarei a tartaruga...". Acon-
tece que nós sabemos que Aquiles ultrapassa a tartaruga, e que o seu raciocínio deve estar
errado. Explique por quê.
Biografia
Zenonde Elea
Zenon é considerado um dos grandes filósofos gregos da época
pré-socrática. Foi aluno e amigo do filósofo parmênides. Aliás, a
obra de Platão, "Parmênides", é aprincipal fonte de informações
a respeito de suas realizações. Ele estudou segundo os conceitos
da escola Eleâtica (de Elea, é claro...), que, entre outras suposi-
ções, postulava que tudo o que existe seria uma manifestação de
um único ente, e que o mundo seria um "ser''.
Zenon alcançou certa fama, mesmo junto dos filósofos de Ate-
nas, através de seu livro sobre problemas ligados à interpretação
de paradoxos. um paradoxo é um tipo de proposição cujo desenvolvimento en-
contra sua própria negação. os paradoxos são importantes ferramentas paÍa o
desenvolvimento da fllosofla, matemática. artes, ética e legislação, sendo muito
valorizados pela nata da f,losof,a grega na época.
Nesta obra,Zenon descreve quarenta paradoxos, e dentre estes se pode desta-
car aqueles mais famosos, que chegaram até nossos dias.
No "Paradoxo da dicotomia",zenon propõe que "um corpo que se move deve
alcançar a metade do percurso antes de chegar ao flnal deste". Entretanto, para
alcançar a metade do percurso, o corpo também tem que ultrapassar a metade des-
ta meia distância, e por conseqüência a metade desta, e assim por diante. Dessa
forma, o caminho completo seria dado por
Zenon af,rmava que esta soma não resulta em 1, pois paratanlo seria necessário
um número inflnito de passos. Portanto, seria impossível para um corpo se mo-
ver, e daí que o movimento é apenas uma ilusão em nossas mentes. Atualmente,
considera-se que
!
t2 Capítulo Um
i -L=r
,L,t 1l
(1.18)
é válido.
de formação,
As intenções de Zenon eram de justif,car a fllosofia de sua escola
a variedade dinâmica de
os eleáticos, e de seu mentoÍ, Parmênides, que negavam
formas e composições observadas no mundo'
.,Aquiles e a tartaruga",zenofr discute a dicotomia do tempo
No paradoxo
(vejaoExercício14).AcadapassodeAquiles,atartarugaavançaumapequena
tartaruga, esta es-
fração do espaço. Quando Aquiles chegar ao ponto original da
e o argumento
tará mais adiante, exigindo do atleta mais um pequeno esforço.'.
também menores,
continua com passos cadavez menores em frações de tempo
alca,nça e ultrapassa a
mas inflnitamente. Apesar de todos saberem que Aquiles
tartaruga,aargumentaçãodeZenonganhoumuitoprestígio,principalmentede-
o paradoxo é esco-
vido à sua forma de apresentação. uma das formas de refutar
da tartaruga' em
lher um certo instante de tempo, no qual Aquiles estará adiante
vez de fi.car "fatiando" o tempo em pedaços cadavez menores'
por
Formalmente, se considerarmos que a velocidade é dada
. lllll
,rrilil Ll (1.1e)
Lt
do tipo v = 0/0,
a cadapassagem do paradoxo nos aproximamos de uma explessão
rtl
o que poderia ser um argumento a favor dos eleáticos.
Entretanto, segundo as pro-
que o numerador
po.iç0", de sir Isaac Newton (veja no capítulo 2), no limite em
,lil
instantânea deAqui-
àesta fração se iguala azeÍo,temos a deflnição da velocidade
e equivale à
les (e também da tartaruga). Esta grandezaé perfeitamente definida
velocidade que é lida no velocímetro dos automóveis atuais'
"Parado-
da Flecha" e o
Os outros paradoxos famosos deZenonsão o "Paradoxo
a flecha nunca
xo do Estádio". Para o caÍo leitor, basta dizer que, segundo zenon,
lado do estádio'
alcançarâo alvo, e Hércules jamais conseguirá chegar ao outlo
pitágorase Anaxágorasfi.zeram várias pÍopostas para resolver os paradoxos de
medidas tão
zenon,e chegaram a desenvolver a noção dos "incomensuráveis"'
trabalhos de Zenon
inflnitamente pequenas que seria impossível descrevê-las. Os
principalmente na
contribuíram muito para a evolução do pensamento humano,
área matemática dos inflnitesimais, e suas repercussões
em física.