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“É Abominável, ao Espírito Santo, Toda e Qualquer Religião Inventada pelo Homem”

João Calvino - Institutas da Religião Cristã I.5.13

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13. É ABOMINÁVEL, AO ESPÍRITO SANTO, TODA E QUALQUER RELIGIÃO


INVENTADA PELO HOMEM
Agora é preciso sustentar também que se afastam do Deus único todos quantos adulteram a
religião pura, como acontece, necessariamente, com todos os que se entregam à sua própria
opinião (a respeito de religião). É bem verdade que se orgulharão de ter em mente coisa
melhor. No entanto o que pretendem ou o de que se convençam não vem muito ao caso,
porque o Espírito Santo trata como apóstatas a todos quantos, por causa da cegueira da
própria mente, colocam o demônios no lugar de Deus (I Co.10:20).

Por esta razão, Paulo afirma que os Efésios (2:12) haviam estado sem Deus até que
tivessem aprendido, pelo Evangelho, o que significa adorar ao Deus verdadeiro. E não se
deve restringir esta verdade a uma só nação apenas porque, em outro lugar (Rm.1:21),
Paulo afirma, em termos mais gerais, que depois de ter sido manifestado aos homens, na
própria estrutura do universo, a majestade do Criador, todos os mortais se tornaram vãos
em sua cogitações.

E, por isso, para dar lugar ao Deus verdadeiro e único, a Escritura (Hc.2:18-20) condena
como falsidade e mentira tudo quanto outrora foi celebrado a respeito da Divindade, entre
os povos, e nem reconhece qualquer outra divindade senão no Monte Sião, onde florescia o
adequado conhecimento de Deus.

No tempo de Cristo, sem dúvida, os Samaritanos, dentre os gentios, pareceram estar bem
próximos da verdadeira piedade. Entretanto, Cristo (Jo.4:22) disse que eles não sabiam o
que adoravam. Conclui-se daí que os Samaritanos foram enganados por erros fúteis.

Afinal, mesmo que nem todos se tenham entregue à prática de vícios grosseiros, ou nem
todos se tenham resvalado para abertas idolatrias, nem mesmo assim existiu qualquer
religião pura e aprovada, que tivesse se fundamentado apenas no senso comum. Pois ainda
que uns poucos não tenham cedido à loucura do vulgacho, ainda permanece firme o ensino
de Paulo (I Co.2:8), que diz que a sabedoria de Deus não foi aprendida pelos príncipes
deste mundo. Ora, se até os mais excelentes dentre os homens andaram todos ao sabor das
trevas, quê se haverá de dizer da própria escória?

Por isso, nada há de surpreendente no fato de o Espírito Santo repudiar como


degenerescências, a todos os cultos inventados pelo arbítrio dos homens, visto que, quando
se trata dos mistérios celestes, a opinião humana é a mãe do erro, não obstante nem sempre
gerar abundante amontado de erros! Quando nada pior aconteça, contudo, não é falta leve
adorar, ao acaso, a um Deus desconhecido (At.17:23). Nesta culpa, entretanto, conforme o
próprio Cristo sentencia (Jo.4:22), incorrem todos os que não foram ensinados pela lei a
respeito de quê Deus se deve cultuar.
E, na verdade, os que têm sido conclamados como os mais excelentes legisladores, não
foram além da idéia de que a religião teria nascido do consenso público. É assim que , no
Xenofonte, Sócrates louva a resposta de Apolo, que preceituou que cada um deveria adorar
aos deuses da mesma forma como o fizeram os antepassados, e de acordo com o costume
da própria cidade. Porém, de onde vem, aos mortais, o direito de definir, por sua própria
autoridade, (A divindade que se deve adorar), direito esse que ultrapassa os próprios limites
do mundo? Ou quem poderia, a tal ponto, concordar com as determinações dos ancestrais,
ou com as ordenanças do povo, para receber, sem hesitação, a um Deus que lhe seja
imposto em bases puramente humanas? Ao invés de cada um sujeitar-se à opinião alheia (a
respeito desta matéria), cada um persistirá no seu próprio parecer.

Portanto, uma vez que é excessivamente fraco e frágil - na adoração de Deus - o vinculo da
piedade, quer seja ele baseado na praxe da cidade, quer seja ele baseado no consenso da
antigüidade, resta-nos receber, do próprio Deus, o testemunho que Ele nos dá de Si Mesmo.

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