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(Willian Shakespeare)
Cena 5. A inveja
(GALVÃO) Você não parece muito satisfeito com o rumo dos acontecimentos, meu amigo João.
(JOÃO) E era para estar? Você me conhece. Não sou de ficar rindo à toa. Sou do tipo que come quando tem
vontade, dorme quando está com sono e não liga a mínima para o humor de quem está em volta.
(GALVÃO) Sim, mas não devia dar demonstração na frente do Pedro. Não faz muito tempo, estavam brigados,
lembra-se? Precisa pelo menos fingir alguma satisfação se quiser se aproveitar dele.
(JOÃO) Prefiro ser esquecido do que viver debaixo da sua sombra. Se não puderem dizer por aí que sou um cara
bacana, também não vão dizer que sou puxa-saco.
(GALVÃO) Não pode pelo menos tirar proveito desse seu mau humor?
(JOÃO) Como?
(COSTA) Macacada, vocês não sabem o que eu ouvi. Parece que vai ter noivado por aqui.
(JOÃO) Quem é o doido que vai noivar?
(COSTA) Boa... É o amiguinho do seu irmão
(JOÃO) Quem? O encantador Cláudio?
(COSTA) Ele mesmo.
(JOÃO) Um perfeito cavalheiro... Quem é a talzinha?
(COSTA) A Verinha, filha do Leonato
(JOÃO) A franguinha? Quem te contou?
(COSTA) Ouvi o Pedro dizer ao Cláudio que vai falar com a Vera essa noite.
(JOÃO) Na festa à fantasia?
(COSTA) Isso mesmo. Se a moça aceitar...
(JOÃO) É a melhor notícia que você podia me trazer... Talvez eu tenha a chance de devolver ao Pedro a humilhação
que me fez passar. Vão me ajudar?
(COSTA) Estou com você.
Cena 6. Propaganda no Rádio
Cena 7. A Festa
(LEONATO) O João não veio à festa?
(ANTONIA) Não vi.
(BEATRIZ) Esse rapaz é muito estranho. Sempre que o vejo me ataca uma azia logo depois.
(VERA) Ele é muito fechado.
(BEATRIZ) Se houvesse um homem que fosse o meio termo entre o Benedito e o João, seria perfeito.
(LEONATO) Nesse caso, metade da língua do Benedito na boca do João, e metade da tristeza do João no rosto do
Benedito...
(BEATRIZ) Com algum dinheiro no bolso, esse homem seduziria qualquer mulher do mundo...
(LEONATO) Mas Deus nunca vai te arrumar um marido, minha sobrinha, se continuar com essa língua tão afiada.
(BEATRIZ) É o que eu peço de joelhos, dia e noite.
(LEONATO) Você ainda vai queimar no inferno, Beatriz...
(BEATRIZ) Que nada. Vou só até a porta, onde me encontro com o diabo, de chifres na cabeça me dizendo: Vai para
o céu, Beatriz, vai para o céu... Aqui não tem lugar para santinhas...
(LEONATO) Bom, bom, sobrinha... Ainda tenho esperanças de te ver com um bom marido.
(BEATRIZ) Não, meu tio. Considero todos os homens meus irmãos e me ensinaram desde pequena que é pecado
casar em família.
(Pedro aproxima-se de Vera)
(PEDRO) Quer dar uma volta com seu admirador, senhorita?
(Leonato consente. Pedro e Vera se afastam. A família cai no samba. Costa flerta com Margarida)
(MARGARIDA) Ai, Costa, sei muito bem que é você.
(COSTA) Você está enganada.
(MARGARIDA)Conheço você pelo jeito que balança a cabeça.
(COSTA) Estou tentando imitar o Costa.
(MARGARIDA)Só ia conseguir imitar tão bem os seus defeitos sendo ele mesmo. Além disso, essa mão áspera é
inconfundível
(COSTA) Bem que você podia me demostrar algum carinho
(MARGARIDA)Talvez eu seja uma mulher muito má
(COSTA) Tem toda razão.
(MARGARIDA) AH... se quer algum carinho, mostre que tem samba nesses pés
(Margarida entrega a bandeja para a Madame e arrasta Costa. Benedito, disfarçado, conversa com Beatriz)
(BEATRIZ) Não vai me contar quem disse isso?
(BENEDITO) Desculpe, mas eu não conto.
(BEATRIZ) Nem vai me dizer quem é você?
(BENEDITO) Agora, não.
(BEATRIZ) Que sou orgulhosa... E que vivo me balançando por aí que nem a Carmem Miranda... Só pode ter sido o
Benedito quem lhe falou...
(BENEDITO) Quem é esse Benedito?
(BEATRIZ) Tenho certeza de que se conhecem muito bem.
(BENEDITO) Não conheço, verdade!
(BEATRIZ) Ele nunca bancou o palhaço pra você?
(BENEDITO) Fala logo, mulher, quem é esse Benedito?
(BEATRIZ) É o bobo da corte que anda com o tenente pra todo lado. A única coisa que sabe fazer na vida é inventar
calúnias absurdas. O tipo de gente que anda com ele não é boa coisa. Se ele não está divertindo quem está em
volta, está irritando alguém e por isso acaba sempre apanhando. Deve saber quem é.
(BENEDITO) Quando me apresentarem essa pessoa, vou lhe dizer o que ouvi a seu respeito.
(BEATRIZ) Diga, diga mesmo. Ele também vai falar mal de mim. Agora, se ninguém prestar atenção, vai ficar tão
triste que perde até o apetite. Quem sabe assim sobra mais comida. Mas venha, vamos dançar.
(Cláudio espera no canto do palco, ansioso. João e Galvão se aproximam)
(GALVÃO) Olha o Cláudio ali.
(JOÃO) Finja que é o Benedito... Oi, Benedito, é você mesmo?
(CLÁUDIO) Sim... Sim, sou o Benedito, não me reconhece, não?
(JOÃO) Eu não sei bem como lhe dizer isso, mas... É o Pedro. Ele está apaixonado pela Vera, a filha do Leonato,
sabe? Pois é, e eu vim pedir a sua ajuda. Alguém precisa fazê-lo desistir desse amor. Ele é meu irmão, um homem
bem nascido, numa alta patente, merece coisa melhor. Faça isso, por favor, em nome de sua amizade.
(CLÁUDIO) Como sabe que ele está apaixonado por ela?
(JOÃO) Ouvi quando lhe disse.
(GALVÃO)E eu também. Até jurou que lhe dará um beijo essa noite.
(JOÃO) Contamos com você, Benedito. Vamos, pessoal, é hora da comida
(João e Galvão saem de cena)
(CLÁUDIO) Respondi em nome do Benedito, mas foi com os ouvidos do Cláudio que escutei as más notícias. Então,
o tenente quis a Vera para ele mesmo. A amizade é leal em tudo, menos no amor e na guerra. Quem está
apaixonado não deve confiar em ninguém para anunciar o seu amor. Azar o meu.
(Benedito se aproxima)
(BENEDITO) Cláudio?
(CLÁUDIO) O que é?
(BENEDITO) Venha comigo
(CLÁUDIO) Aonde?
(BENEDITO) À igreja mais próxima. Pode ir pensando no enxovalzinho porque o tenente conquistou a Vera.
(CLÁUDIO) Que seja muito feliz com ela.
(BENEDITO) Credo, homem, você acha que o tenente faria isso com você?
(CLÁUDIO) Me deixe em paz, tá?
(BENEDITO) Essa é boa. Inventa um desatino desses e desconta em mim?
(CLÁUDIO) Se não vai me deixar em paz, eu saio (retira-se).
(BENEDITO) Pobre passarinho ferido... Mas a minha Beatriz não me reconheceu. Bobo da corte... Isso que dá essa
mania de animar todo mundo. O que é isso, eu estou me recriminando? Não é verdade, não passa de fruto da
língua medonha e do despeito da Beatriz. Mas, deixe... Ela não perde por esperar.
(PEDRO) E o Cláudio, não passou por aqui?
(BENEDITO) Nem te conto... Vim dizer a ele que estava tudo certo, que você havia conquistado a mocinha e ouvi
uma porção de desaforos.
(PEDRO) Desaforos? Que desaforos?
(BENEDITO) Sabe quando um garoto olha por cima da cerca e mostra ao amigo a laranja madura que deseja?
(PEDRO) Sim?
(BENEDITO) E o amigo, mais esperto, espera o garoto sair pra ir buscar a laranja?
(PEDRO) Sim, mas... Ah, não acredito...
(BENEDITO) Segundo Cláudio, você andou chupando a laranja dele... com todo o respeito!
(PEDRO) E eu só queria ajudar.
(BENEDITO) Eu sei, meu amigo, nem pensei nisso.
(PEDRO) Beatriz está furiosa. Um soldado contou pra ela que você a desacreditou.
(BENEDITO) Eu? Mas foi ela que me maltratou! Nem um cachorro merece ouvir o que eu ouvi. Olha, chegou a me
dizer, sem saber que eu era eu, que sou o bobo da corte do grupo. Que sou mais desagradável que uma ferida de
catapora, que falo tanta asneira em cima de asneira que acabo virando um daqueles alvos de guerra, com todos
atirando em mim. Ela fala de punhais, mas são as palavras dela que cortam como lâminas. Não me casaria com
Beatriz nem que fosse a última mulher da face da Terra. Por Deus, ela é infernal.
(PEDRO) Olha ela aí.
(BENEDITO) Tenente, ordene outra missão na Itália e eu irei. Massarosa, Monte Acuto, Monte Castello, qualquer
coisa é melhor do que falar com essa víbora. Não tem nada que eu possa fazer?
(PEDRO) Não, meu amigo. Queremos é a sua companhia.
(BENEDITO) Sinto muito, senhor. Não dá para agüentar a Senhora Língua!
(PEDRO) Venha cá, Beatriz. Parece que você perdeu o coração do Benedito.
(BEATRIZ) Só se pode perder aquilo que se tem, tenente.
(PEDRO) Você deixou o homem no chão.
(BEATRIZ) Imagine... De qualquer forma, quanto mais distante o Benedito, melhor. Não quero pagar a minha língua.
Aqui está o Cláudio.
(PEDRO) Então, Cláudio, por que essa tristeza?
(CLÁUDIO) Não estou triste, tenente.
(PEDRO) Então, está doente?
(CLÁUDIO) Também não.
(BEATRIZ) Nem triste, nem doente, nem alegre, nem de saúde. Ele está morrendo de ciúme.
(PEDRO) E não é que é verdade? Mas eu posso jurar-lhe que é sem motivo algum. Venha aqui, homem... Pedi essa
moça em seu nome e ela aceitou. Falei com o pai e já tem a sua permissão. Marquem o noivado e sejam muito
felizes.
(LEONATO) Cuide bem de minha filha, Cláudio, e que Deus o abençoe!
(BEATRIZ) Fala alguma coisa, homem. É a sua vez!
(CLÁUDIO) Eu não tenho palavras... Não posso dizer a felicidade que sinto!
(BEATRIZ) Fala, prima! Ou, então, fecha-lhe a boca com um beijo e não deixe que fale também.
(PEDRO) Afinal, seu coração não é de pedra...
(BEATRIZ) Não se iluda... Olha...Minha prima está dizendo que o ama.
(CLÁUDIO) É isso aí, prima.
(BEATRIZ) Bom Deus! Mais um casamento. Pobre feia engraçada que sou... Acho que vou sentar na esquina e gritar:
“Um marido, pelo amor de Deus!”
(PEDRO) Beatriz, eu vou te arrumar um!
(BEATRIZ) Queria ter um da fábrica do seu pai. Por acaso não tem um irmão parecido com você?
(PEDRO) Eu não sirvo?
(BEATRIZ) Não, tenente, a menos que tenha outro para os dias de semana. Você é bom demais para usar todos os
dias. Desculpe, eu nasci para falar muito e não dizer nada que preste.
(PEDRO) Eu não ia querer o teu silêncio. Gosto de você assim como é.
(LEONATO) Beatriz, minha filha, Margarida está precisando de ajuda lá na cozinha.
(BEATRIZ) Com licença...
(PEDRO) É uma boa moça.
(LEONATO) É alegre demais para o meu gosto.
(PEDRO) Ela não suporta ouvir falar em casamento.
(LEONATO) Nem fale... Ela esnoba todos os pretendentes.
(PEDRO) Seria uma excelente esposa para o Benedito.
(LEONATO) Bom Deus, tenente, se ficassem casados por uma semana, internaríamos os dois.
(PEDRO) Cláudio, já combinou a festa do noivado?
(CLÁUDIO) Na próxima terça. Sei que vai se reapresentar logo.
(LEONATO) Não, filho, espere até o próximo sábado, se não vai faltar tempo para arranjar tudo como eu quero.
(PEDRO) Garanto a vocês que não verão o tempo passar. Pretendo aproveitar esses dias para realizar uma missão
quase impossível: vou fazer o Benedito e a Beatriz se apaixonarem perdidamente. E seria muito mais fácil se todos
me ajudassem.
(LEONATO) Eu acho impossível, mas estou à sua disposição, tenente, nem que para isso eu gaste o resto dos meus
dias.
(CLÁUDIO) Pode contar comigo.
(PEDRO) E você, mocinha?
(VERA)Eu farei o que estiver ao meu alcance para ajudar minha prima a encontrar um bom marido.
(PEDRO) Eu garanto que esse é o Benedito. É um homem de bom coração e grande valor. O plano é o seguinte...
(saem todos)
Cena 8. Os loucos
(Chegam Verges, Dogberry e Afrânio num jipe de guerra imaginário)
(Dogberry) Sentido, soldados!!! Temos que estar atentos a todos os lados, por causa dos ataques inimigos!
(Verges) Sargento Dogberry ! Que inimigos ?
(Dogberry) Como me faz uma pergunta dessa ? Os alemães, os italianos, os japoneses, o dono da padaria...
que não quis me dar pão ontem. Todos são inimigos!
(Afrânio) O seu Silva não quis dar pão para o Sargento ?
(Verges e Afrânio falam juntos) OOOh! Que coisa !!!
(Dogberry) Calem a boca! Temos que ser discretos. Os americanos estão por perto.
(Verges) Mas, senhor, os inimigos são os alemães, os italianos, os japoneses e o dono da padaria!
(Dogberry) Quem disse ?
(Afrânio) O senhor, Senhor !!!
(Dogberry) Não, eu não disse isso. Quem foi o idiota que disse isso?
(Verges) Talvez Franklin Delano Rosevelt, senhor. Mais conhecido como Roosevelt, senhor.
(Dogberry) Quem é esse? Quem ele pensa que é ?
(Afrânio) Ele pensa que é o presidente dos Estados Unidos, senhor.
(Dogberry) Como obteve essa informação, soldado Afrânio ?
(Afrânio) É o que dizem por aí, senhor.
(Dogberry) – Roosevelt, Roosevelt (pensando)... Oh, yes! Roosevelt! Como eu forget my grande friend Roosevelt! É
verdade, o meu caro amigo Roosevelt. Eu tinha dito inimigos americanos?? Jamais inimigos !! São tantos aliados e
inimigos que isso acaba me confundindo. Às vezes nem sabemos de que lado estamos.
(Verges) Posso apagar a vela, senhor?
(Dogberry) Ficou louco? Quando as luzes se apagarem para o grande bombardeio, como nos encontraremos
uns aos outros? Acha que vou ficar gritando por aí?
(Verges) Mas está ventando, senhor...
(Dogberry) Pois diga ao vento que pare de soprar. Ou que sopre em outra direção. Esse batalhão está sob as
minhas ordens e eu ordeno que não vente.
(Verges) Senhor... Não é por nada, não, mas... Eu ouvi dizer que a guerra acabou
(Dogberry) Fique quieto Verges ! Fale baixo ! Essa é a informação que temos que espalhar se quisermos pegar os
inimigos desprevenidos. Mas não pense que a guerra acabou! A guerra nunca acaba para um verdadeiro defensor
da Pátria.
(Afrânio) É claro, senhor. Ficaremos aqui para combater os inimigos disfarçados, infiltrados em nosso território.
Mas... Se estão disfarçados, como é que a gente vai saber quem são?
(Dogberry) Você fala demais, soldado.
(Verges) Estamos aqui para lutar pela democracia, seja isso o que for.
(Dogberry) É isso mesmo !!! Por isso iremos até o fim. Deus salve a democracia !!!
(todos juntos fazem a saudação nazista)
(Dogberry) Fiquem atentos pra tudo, soldados !(sai)
Fascinação