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PERSONAGENS:
ROMEU - Filho da Sra. Montéquio
JULIETA - Filha do Sr.Capuleto
SRA.MONTÉQUIO - Matrona da casa dos Montéquio, se acha melhor que todos e é
controladora. Rica que só
PRINCESA DE VERONA - Ela tá de saco cheio das brigas entre os montéquio e
capuletos e só quer paz. É meio hippie, mas tem pavio curto, o que atrapalha.
PÁRIS - Julieta foi vendida, digo, prometida a ele em um casamento arranjado. Ele
é meio fresco.
SR.CAPULETO - Patrono da casa dos Capuletos. Corrupto e golpista.
SERVA - Criada e confidente de Julieta. Militante. Revolucionária nas entocas.
TEOBALDA - prima de Julieta
IRMÃ JOAQUINA - freira trambiqueira de Verona e amiga da serva
BENEDITA - amiga e prima de Romeu
BRENDA - correspondente da serva , fofoqueira de primeira
CENA 01
SERVA - (Entra em cena. carregando uma cesta. Ela se senta em um banco, retira
lápis e papel e começa a escrever uma carta). “Querida amiga, Brenda. Como vai
você? Sobreviveu à peste? Foi a alguma execução pública ultimamente? Creio que
tivemos poucas esse ano (desapontada). Lhe escrevo para lhe contar a última
fofoca sobre a treta entre os Montéquios e a família dos Capuleto. Menina, tá
babado. Ontem teve briga no meio da feira, foi uma Montéquio de nome Benedita
que armou um barraco na praça e puxou briga com Teobaldo, primo de minha
Julieta. Menina , xingou a mãe, xingou o pai, jogaram fruta na cara um do outro…
Nem sei mais porque as duas famílias brigam, mas adoro ver rico passando
vergonha. Sua amiga, a Serva”. (Olha pra plateia) Isso mesmo, o autor da peça é
meio ruinzinho e não me deu nome.
(Entram em cena Teobaldo)
TEOBALDO - Serva, aí está você. Acaso está fugindo do trabalho novamente? Ora,
não sei por qual motivo meu tio a mantém empregada….
SERVA - (Com raiva e à parte) Espera até a revolução chegar que eu te pego de
jeito…
TEOBALDO - O que disse?
SERVA - Eu disse: como posso ajudá-lo , sr?
TEOBALDO - Hoje à noite é o baile na casa de titio, e devo estar belíssimo!
(Benedita entra)
BENEDITA - Ihhhh, isso aí só nascendo de novo. Esse daí parece que a cara pegou
fogo e apagaram com tijolo.
TEOBALDO - Ora ora, chamem a inquisição , deixaram escapar uma bruxa da
fogueira!
BENEDITA - Então vai ter um baile no casebre dos Capuleto. Vai ser o que?
paredão de funk?
TEOBALDO - Uma Montéquio não teria inteligência para compreender o
refinamento do grande evento que meu tio preparou. Sua mãe não deve ter tomado
os devidos cuidados quando lhe teve, para nascer criatura tão desforme!
SERVA - ihhhh, falou da mãe!
BENEDITA - (começa briga de xingamento de mães)
BENEDITA - KKKKK eu vou anotar essa!
SRA.MONTÉQUIO - Mas que confusão é essa? Os vizinhos já estão reclamando
da zuada!
BENEDITA - Foi ele que começou titia!
SRA.MONTÉQUIO - Não me interessa quem começou, eu vou dar um fim nisso!
(olha pra Teobaldo) Avia, menino, sai daqui!
TEOBALDO - Eu não recebo ordens de uma Montéquio.
SRA. MONTÉQUIO - vocês capuletos são todos covardes! Saia logo daqui antes
que eu chame os guardas!
TEOBALDO - Não , não posso ser preso!!
SERVA - Não pode ser preso “de novo”, né? Esse daí roda mais pela polícia do que
o grande circular por fortaleza.
TEOBALDO - Calada!!! (sai)
BENEDITA - ihh, tomou na cara!
SRA MONTÉQUIO - Clada, Benedita! Você já deu muito trabalho (Ela se cala); Ei,
serva, venha cá!
SERVA - Que é? (Se aproximando).
SRA MONTÉQUIO - Ouvi dizer que o traste do Capuleto irá realizar um evento
naquela kitnet que ele chama de mansão.
SERVA - Ouviu certo sim , sra!
SRA MONTÉQUIO - Do que se trata esse evento?
SERVA - Eu merma que não vou dizer pra sra. Eu hein. Meus patrões odeiam os
Montéquio. Se eu conto, me lasco todinha. Sou leal!!
SRA MONTÉQUIO - (Oferece um saco de moedas) E agora?
SERVA - (conta as moedas) Mulher, nem te conto. Vai ser A festa. Tem um monte
de gente lá no bairro passando fome , porque tenho certeza que toda comida de
Verona vai tá na casa do patrão. Vai ter uns menestréis, uns dançarino, umas
fantasias, bebida e som nas alturas. Merminho que Carnaval.
BENEDITA - Ai tia , eu quero ir!
SRA. MONTÉQUIO - Calada, Benedita!
BENEDITA - Affs…
SRA.MONTÉQUIO - E qual o motivo para tal evento de proporções tão burlescas?
SERVA - É o que?
BENEDITA - Ela quer pra que essa festa toda, mulher.
SERVA - Ah, é aniversário da srta. Julieta! (fala orgulhosa) Julieta é moça tão
bonita, tão inteligente, tão gentil…
BENEDITA - Tipo eu né ?
SERVA - (olha com desprezo. Bem debochada)
SRA. MONTÉQUIO - Isso não vem o caso. Agora saia daqui!
SERVA - Eu vou, mas é porque eu quero! (olha pra plateia) Espera só …. a
revolução chega e … bufu! em tudim…. (sai)
SRA. MONTÉQUIO - Por onde anda Romeu, Benedita?
BENEDITA - Se tu é a mãe não sabe, imagina eu.
SRA. Olhe, fale direito comigo!!
BENEDITA - Perdão , senhora
SRA. MONTÉQUIO - Ele anda estranho ultimamente. No entanto, não sei por qual
motivo… Quero que descubra o que há por trás de comportamento tão inadequado.
Ele já está na idade de casar-se, e preciso que esteja apresentável.
BENEDITA - Pode deixar que eu adoro uma fofoca. Vou descobrir tudinho!
(Sra.Montéquio sai) Bicha azeda, nam.
CENA 02
(Romeu entra. Está triste)
BENEDITA - Ih, Romeu, eu estava ainda agora falando de você. Até parece que
ensaiamos este encontro.
ROMEU - Ensaiamos sim. Numa tragédia escrita por Deus, e eu sou o infeliz
protagonista.
BENEDITA - Já ouvi essa história. Qual é o drama dessa vez?
ROMEU - Estou vindo da casa de Rosalina, mas lá deixei meu coração.
BENEDITA - Quem?
ROMEU - Rosalina, a moça por quem me apaixonei perdidamente. Eu já lhe falei
dela.
BENEDITA - A moça que você me falou foi uma tal Carlota.
ROMEU - Carlota? Isso é ferida velha, a ilusão de um jovem que ainda não sabia a
diferença entre uma tela azul e o céu. Com Rosalina foi diferente. Ela era o meu
firmamento! Meu sol e as nuvens!
BENEDITA - Deixa eu adivinhar: a dona Firmamento fechou o tempo pra você?
Quanto tempo durou esse namorico mesmo?
ROMEU - Fui hoje à casa dela justamente pedir sua mão em namoro.
BENEDITA - E…
ROMEU - E ela agiu como se não me conhecesse!
BENEDITA - Você já tinha falado com ela?
ROMEU - Bem…não.
BENEDITA - Ela sequer já tinha conhecido você, assim, nem que fosse só de vista?
ROMEU - Pensando bem… não.
BENEDITA - Meu filho, então ainda bem que eu não tava contigo, porque eu teria
morrido só da vergonha alheia de ser sua prima. Esse deve ser um novo recorde
pra você.
ROMEU - De fato. Voei perto demais do sol, e, qual Ícaro,paguei pela ousadia.
Estou desolado…
BENEDITA - Você supera.
ROMEU - Estou desconsolado…
BENEDITA - Bola pra frente…
ROMEU - E isso é maravilhoso!
BENEDITA - É o quê?
ROMEU - Estou inspirado como nunca estive antes, Benedita! No caminho para cá
me veio a ideia de uma nova peça! Uma comédia de amor sobre um homem
perdidamente apaixonado por uma mulher imaginária.
BENEDITA - Você quer dizer uma tragédia, não é? Ou uma história de terror.
ROMEU - Não, o público de hoje não gosta de tragédias. Vamos de comédia
mesmo. (escreve em um livro) Preciso ir agora mesmo à companhia de teatro!
BENEDITA - (Toma-lhe o livro) Nada disso! Você não vai ver seus amigos esquisitos
hoje. Fica esperto, viu, Romeu. A sua mãe já tá na sua cola. Ela não vê a hora de te
casar com alguma dondoca de Verona.
ROMEU - Vire a boca pra lá! Meu espírito livre não se dá bem em um casamento
sem amor. Sem amor, de que vale a vida? Não, obrigado, estou muito feliz do jeito
que estou. E é isso que direi a mamãe.
BENEDITA - Tá bem (para a coxia) Ô TITIA!!
ROMEU - (assustado) Mas outra hora, quando eu voltar do teatro!
BENEDITA - (puxa-o) Nada disso, Pierrot apaixonado. Hoje, você e sua prima tem
um compromisso no mundo real, lá na casa dos Capuleto.
ROMEU - Os Capuleto? Desde quando você se interessa pelos Capuleto?
BENEDITA - Ai, você vive mesmo embaixo de uma pedra, né? Os Capuleto vão dar
uma festa chiquérrima, e todo mundo importante de Verona vai estar lá. Bem, todo
mundo menos a gente. Aí eu pensei, a gente bem que podia entrar de penetra. A
gente curte a festa, e eles pagam a conta. É perfeito!
ROMEU - Não sei se estou com ânimo para festas agora.
BENEDITA - Vamos, priminho, um pouco de diversão às custas dos Capuletos vai te
fazer bem. Faça isso por você!
ROMEU - Você só quer que eu te arrume um disfarce pra entrar lá escondida.
BENEDITA - Tá, pense em mim então, sua prima favorita! Além do mais, você está
sempre atrás de uma nova inspiração, não é? Pois eu aposto que vai rolar algum
barraco com toda a high society de Verona num só lugar.
ROMEU - Hummm, é verdade que tudo que é importante só acontece com aqueles
de berço nobre.
(enquanto Romeu divaga, a Serva passa atrás deles, carregando uma cesta,
quando é então atacada por um rato gigante, e tem que se defender com golpes de
karatê)
BENEDITA - Anda, Romeu, vem comigo, nunca te pedi nada!
ROMEU - Não sei, eu ainda tenho minha peça para escrever…a musa da inspiração
nunca se demora, nem tem hora para voltar.
BENEDITA - Lá na festa dos Capuleto não vai ter titia pra te atazanar com um
casamento.
ROMEU - Está decidido! Hoje jantaremos às custas dos Capuleto!
(Os dois saem, seguidos pela serva.)
CENA 03
(Troca de cenário: Alguém coloca uma placa de NÃO ENTRE escrito com letras
agressivas em uma coxia. O sr. Capuleto entra e bate à porta.)
SR. CAPULETO - Julieta! Julieta! Ah, senhor Deus, por que me deste uma filha tão
trabalhosa? É pra evitar esses castigos que eu pago à igreja! Julieta! Abra já essa
porta!
(Entra Teobalda)
TEOBALDA - Julieta não está.
SR. CAPULETO - Que história é essa? Quem foi que trancou essa porta, então?
TEOBALDA - É um truque velho dela. Deve ter trancado a porta para que não
notasse que ela saiu pela janela. Vai saber onde está agora.
SR. CAPULETO - Não diga isso! Ela não não pode me dar um chá de sumiço agora!
Ela vai aparecer, nem que eu tenha que contratar Marco Polo pra achar essa
menina!
TEOBALDA - Guarde seu dinheiro, titio. Acho que já sei onde ela está.
SR. CAPULETO - E onde ela está, pelo amor de Médici?
TEOBALDA - Aquela toupeira deve estar entocada no último lugar em que alguém
procuraria. (aponta para a plateia)
(Sr. Capuleto anda pela plateia e, com efeito, encontra Julieta dormindo em uma
cadeira)
SR. CAPULETO - Julieta! O que está fazendo aqui, no meio da ralé da classe
econômica?
JULIETA - (acordando) Humm…que horas são?
SR. CAPULETO - É hora de você tomar vergonha na cara, mocinha! Onde estava
esse tempo todo? E você nem está arrumada ainda! A festa logo vai começar!
JULIETA - Então não perdi nada importante. Boa noite.
SR. CAPULETO - É isso então? A senhorita planeja passar o resto do dia dormindo
nessa cadeira?
JULIETA - Tem razão, já estou toda doída. Eu vou pro meu quarto.
(Julieta se levanta e vai para o palco.)
SR. CAPULETO - Nada disso, Julieta Capuleto! Você vai lavar o rosto, botar aquele
vestido caríssimo que eu comprei, e vai ficar apresentável para o baile desta noite.
TEOBALDA - Desista, titio. Julieta poderia estar vestida com a última moda de
Roma e ainda nos faria passar vergonha.
SR. CAPULETO - Agora não, Teobalda!
TEOBALDA - É verdade! Ela simplesmente não tem modos, um grama de finesse,
uma gota de requinte. E eu, como fico? Eu me recuso a ser vista ao lado de um
animal de circo!
(Julieta pára ao lado de Teobalda, e olha para ela.)
JULIETA - Já eu não me importo nem um pouquinho.
TEOBALDA - Atrevida!
JULIETA - Mas você tem razão, prima. Eu não me dou bem com essa gente tão
elegante da alta sociedade. É muito melhor eu ficar aqui no meu quarto, onde eu
não arrumo problema com ninguém e ninguém arruma problema comigo. Por isso,
com sua licença…
(Julieta tenta entrar no quarto, mas é impedida por sr. Capuleto)
SR. CAPULETO - Você vai comparecer, sim, porque você faz parte dessa gente
elegante da alta sociedade, minha filha. De fato, você será a grande joia do evento!
JULIETA - Tá bom. Tá mais pra bijuteria. Porque vamos ser sinceros, né, papai.
Esse “vestido caríssimo” você comprou no Beco da Poeira e mandou costurar a logo
da Lacoste por cima, esses seus “convidados” são todos seus amigos de falcatruas,
e eu nem quero saber de onde você tirou toda essa comida.
(Entra a criada, esbaforida)
SERVA - Gente, vocês não sabem o que eu passei. Essa peste negra tá saindo do
controle. (mostra ao sr. Capuleto a pele do rato que a atacou) Ô, seu Capuleto,
consegui o tiragosto pro jantar de hoje dos grão fino.
SR. CAPULETO - Agora não, serva, guarda isso! (para Julieta) Tem razão, minha
filha, tudo é falsidade e interesse, eu também não gosto disso. Mas adivinha só: isso
é a sociedade. Eu, como um homem adulto, tenho que seguir suas regras. E sabe
quem mais vai virar adulta hoje?
JULIETA - Ah, estava demorando. Diga, papai, por quanto foi?
SR. CAPULETO - Quanto foi o quê?
JULIETA - Por quanto você vendeu a minha mão? Se tenho que ir ao baile de
qualquer jeito, estava pensando em colocá-lo numa etiqueta. Me parece apropriado.
SR. CAPULETO - Menina, me respeite! Eu lá sou homem de vender a mão da
minha filha em casamento? Ela será leiloada, hoje à noite. Do jeito que esses
nobres são competitivos, estou esperando propostas de valores altíssimos.
JULIETA - Você não perde nenhuma oportunidade, não é ?
SR. CAPULETO - Veja pelo lado bom, minha filha: em um evento como este, é
quase certo que você conseguirá um bom partido! Nós ficaremos ricos! Ricos!
JULIETA - Mas nós já somos ricos.
SR. CAPULETO - Mas podemos ser mais ricos! Ricos como o príncipe de Verona!
Melhor ainda: ricos como o papa!
(Teobalda e sr. Capuleto concordam que, de fato, seria bom ser ricos igual ao papa)
SERVA - Sabe, às vezes eu até penso que rico também é gente. Aí eu venho
trabalhar aqui.
SR. CAPULETO - Serva, faça algo de útil e feche a janela de Julieta
permanentemente. Não queremos que ela dê suas escapulidas esta noite.
SERVA - Eu não tô nem aí, mas pobre não ter querer nessas peças mesmo.
SR. CAPULETO - O que disse, serva?
SERVA - Já estou indo.
(a serva sai e entra no quarto de Julieta com tábuas e um martelo.)
JULIETA - Você não pode fazer isso!
SR. CAPULETO -Posso, estou fazendo e, no futuro, terei concluído. E você,
Teobalda, leve Julieta para se arrumar, e não tire os olhos dela, ouviu?
TEOBALDA - Se eu preciso…
JULIETA - Está bem, papai, se me quer tanto assim no seu baile, então conseguiu.
Tentei avisar. Quando ele acabar em desastre, terá só a si mesmo para culpar.
Porque a minha mão já tem dona, e ela não está à venda!
TEOBALDA - Argh, como é dramática.
CENA 04
(Música de baile ao fundo. Entram Romeu e Benedita com roupa de festa e usando
máscaras)
CENA 05
CENA 07
(Entra em cena A serva ; ainda trocando de roupa e também entra Brenda. As duas
se colocam em lados opostos do palco)
A SERVA - Diaxo de diretor, dá tempo nem deu trocar a porcaria da roupa! (se senta
e pega a carta para escrever. Brenda está fazendo o mesmo) “Querida Brenda,
tenho novas fofocas para repassar. Adivinha quem é o novo casal da vez?”
BRENDA - (Escrevendo ao vivo) “Quem?”
SERVA - Julieta Capuleto e Romeu Montéqio!
BRENDA - Mentira!
SERVA - Verdade!
BRENDA - Conta mais , mulher, que aqui tá mais parado que a mobilidade social.
SERVA - Todas as noites Romeu vai até a casa dos capuletos, ficxar sob a sacada