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CANCELADOS- A

COMÉDIA
Por Aloisio Villar

(Rio de Janeiro, RJ)


(2021)

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PERSONAGENS

Cena I – Valdinelson

Valdinelson (Aloisio)
Policial (Márcia)

Cena II – Jantar

Pedro (Alexandre)
Jorge (Evandro)
Yara (Juci)
Denise (Haline)

CENA III – A cobrança

Paula (Márcia)
Heitor (Aloisio)
Mãe do Heitor (Vanessa)

Cena IV – Burocracia sexual

Lucas (Luiz)
Marcia (Juci)
Maristela (Vanessa)

Cena V – Mano Brother

Mano Brother (Aloisio)

Cena VI – Leitura dramatizada

Armando (Luiz)
Leilane (Haline)
Diretor (Alexandre)

Cena VII – O sarau

Miliciano (Evandro)
Poeta (Italo)

CENA VIII - O bar

Pau (Alexandre)
Pau 2 (Diego)
Homem (Luiz)

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Mulher (Haline)
Bunda (Italo)

Cena IX – O dia seguinte

Washignton (Vanessa)
Leonardo (Diego)
Mulher 1 (Juci)
Mulher 2 (Vanessa)

CENA X – Stand up

Comediante (Aloisio)
Mestre de bateria (Italo)
Miliciano (Evandro)
Funkeiro (Alexandre)

CENA XI - Fitness

Narrador (Luiz)
Pau (Alexandre)
Eustáquio (Victor/Aloisio)

CENA XII – O trabalho

Mauro Cezar (Evandro)


Yuri (Diego)
Pau (Alexandre)

CENA XIII – Lua de Cristal

Mano Brother (Aloisio)

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CENA I – VALDINELSON

(Sombra ta ajeitando a cena e Valdinelson entra pelo palco com uma arma)

VALDINELSON – Qual foi!! Perdeu aí!! Vão passando celular, carteira, dinheiro, joia, é,
bem, pela cara de probe de vocês não tem joia, mas vai passando tudo, até o riocard eu
quero.

(Desce do palco)

VALDINELSON – Proque eu sou mau, muito mau, mau pra cacete!! Eu que ensinei
terrorismo pro talibã, ta ligado? Quem não entegrar tudo vai morrer porra!!

(Telefone toca)

VALDINELSON – Peraí que telefone ta tocando, já volto a assaltar vocês.

(Ao telefone)

VALDINELSON – Fala mulher, to ocupado, sim, ocupado. To tabralho mulher, já falei pra
não me ligar essa hora..Não chora, não chora..Ai, mulher é foda, ta ligado? Eu não guitrei!!
Ta bom, ta bom, desculpa, fala que tu quer. Ah..a novela tava boa hoje, ta né. Mas
realmente to um pouco ocupado ta ligada?.. Não caralho, não to com nenhuma vagabunda
juro, to tabralhando. Ta em silêncio porque atendi ao telefone caceta!! Eles estão esperando
que eu volte com o assaltro. Como provar que eu to assaltrando? (pede ao público) Gente,
desculpa, é minha senhora, vocês podiam fazer um favor pra eu? Dar uns guitros, pedir
socorro, pra povrar pra ela que to assaltrando vocês?

(Plateia grita)

VALDINELSON – Bigadro, vocês é muito gentil (Ao telefone) Viu mulher? Como tu não
acredita? Acha que não ficariam tão assustado assim num assaltro meu??? (irritado) Olha
só, com todo respeito, com todo respeito que tu sabe que eu tenho pela tua pessoa, eu
realmente to ocupado, tu me ligou para o quê? (se acalma) Não!! Não!! Eu não guitrei, me
perdoa, não chora. Não chora (afasta o telefone) puta que pariu, mulé chora com tudo, até
com comercial de agonegrocio (volta ao telefone) desculpe, me exaltei, mas é que o pessoal
está esperando aqui pra ser assaltrado, devem tá com compomrisso e eu to atapralhando
eles. Mas proque tu me ligou afinal?. Passar no mercado quando acabar o assalto? Crompá
carne? Tu já viu peçro da carne? Eles lá tão assaltrando mais que eu!! Não mulher, não to
de má vontade. Não chora, por favor. Ta, eu passo lá, me diz, você só quer carne? Que? Vai
pegar a lista? Mulé!! Eu to no meio de um assaltro!!! Tá bom,vai lá.

(Afasta o telefone)

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VALDINELSON – Queria pedir desculpa pra vocês, ta ligado? Nromalmente meus assaltro
são mais rápido, eu pego as coisas, dou uns tapa nos pela saco que não quer entegrar
celular, as vez tocro tiro com a polícia, mas srempe fica bom pra geral, vocês fica vivo e eu
vou embora com as coisas de vocês, hoje que a minha senhora esposa resolveu atapralhar.

(Ao telefone)

VALDINELSON – Não mulher, to falando com as vítima só. Não, não tem nenhuma
piranha aqui. Quer dizer, eu acho né (Ele ri)? Foi uma bincradeira amor, só pra entetrer a
galera, tem piranha aqui não, juro. Achou a lista? Tu costuma colocar a lista de crompa
perto da geladeira. É, naquela mesinha que tem ao lado, na gaveta.

(Afasta o telefone)

VALDINELSON – Cês tão com pessra? Se tiver passo meu pix e cês manda o dinheiro pra
lá..

(Ao telefone)

VALDINELSON – Achou a lista? Mulé, se não ta na gaveta tente na mesa da sala, às vezes
tu deixa lá. Mas se apessre que as pessoas tem compomissro, não pode ficar o dia inteiro
esperando ser assaltrado. O que? Show do Fabio Jr na festa de aniversário do Guanabara e
tu quer ir? Ta, nós vai . Do Luan Santana também? Ah não amor, aí já é demais. Ele é
vesgo, eu nem sei pra onde olha quando canta!! Não mulé, eu não to guitrando, não chora.
Me diz, achou a lista? Mulher, realmente eu to pecrisando desligar, tu não lembra o que tem
que comprar além de carne? O que? Um Omo dupra ação? Só isso? Tu interrompeu meu
assaltro pra que eu crompre Omo? (se desespera, ameaça jogar o telefone longe e volta a
ele) não chora, pro favor. Mas me diga, proquê tu quer um Omo dupra ação a essa hora?

(Ligação cai)

VALDINELSON – Craro é uma merda mero, ligação fica caindo direto e olha que tá em
dia..

(Telefone toca de novo)

VALDINELSON – Fala mulé!! Oi, não, não to interessado em mudar prano da craro, até
tava recramando de vocês com meus criente..Não, não quero 5G, não, não precisa falar os
benefício, não..ai meu saco..vai cair, vai cair..(Desliga) Caiu.

(Telefone toca de novo)

VALDINELSON – Oi mulé, não, não tava falando com nenhuma piranha, era com a craro
mesmo, mas fala aí proque tu quer Omo? (fala devagar, incrédulo) Proquê tu manchou a

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minha camisa do Framengo com assinatura do Zico? (Se desespera) Depois nós fala, depois
nós fala.

(Ele desliga)

VALDINELSON – Vamo concruir logo isso, onde nós tava mesmo?

(Policial entra)

POLICIAL – Parado aí meliante!! Você está preso!!

(Algema Valdinelson)

POLICIAL – Ele roubou alguma coisa de vocês?

VALDINELSON (Chorando) – Não deu tempo cumpadi!!

(Começam a andar pra coxia e o telefone do policial toca)

POLICIAL – Alô? Oi? Mercado?

VALDINELSON – Ih, se fodeu também chefia.

POLICIAL – Eu não, é pra você, sua mulher..

VALDINELSON – Não!!! Desligra!!!

FIM DA PRIMEIRA CENA

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CENA II – O JANTAR

(A cena se passa em um restaurante. Tem dois casais, as mulheres comem em silêncio


enquanto os homens conversam)
PEDRO – Viu o jogo ontem Jorge?
JORGE – Como não Pedro? Jogaço, meu irmão, eu já tava ficando doido, chutando o
cachorro, quase dando bico na televisão.
PEDRO – Mas no fim deu tudo certo, estamos na final.
JORGE – Partiu Maraca?
PEDRO – Já é!!
YARA – Impressionante, vocês só pensam em futebol.
PEDRO – Qual é mulher? Tu é mulher e mulher não entende essas coisas, não saca a
importância do futebol para um homem macho de verdade!!.
JORGE – Aí Pedro, é isso que falta hoje em dia, homem de verdade!!
PEDRO – Pode crer Jorge, falou uma verdade agora.
DENISE – Como vocês são machistas.
JORGE – É questão de ser machista não mulher!! Homem hoje quer ser mulher porra??
Essa porra agora de metrossexual, você já viu Pedro?
PEDRO – Coisa de viado.
JORGE – Claro porra!! Coisa de morde fronha!! Homem tá querendo competir com
mulher, agora se depila, faz análise, é sensível.
PEDRO – Agora homem chora moleque!! Vê se pode!!
JORGE – Não pode porra!! Ta errado!! Isso é culpa dessas feministas bigodudas que não
conseguem arrumar macho!!
PEDRO – Eu sou a favor do movimento feminino!! Do movimento dos quadris!!
JORGE – E se movimentando pra cozinha pra fazer nosso rango e pegar a cerveja!!
(Os dois gargalham)
YARA – Quanta besteira meu Deus..Ta bom Pedro, vocês podem ir ao Maracanã.
PEDRO – Boa mulher!!
JORGE – Já que liberou Maraca podemos curtir o pagode lá no bar antes, acha ruim não né
nega?

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DENISE – Tá bom, pode ir.
PEDRO – Meu irmão, não tem mulheres melhores que as nossas!! Elas que são mulheres
de verdade!!
JORGE – Aí! Vou fazer um pagode pra elas, mas antes quero uma gelada!! Garçom
(Apontando para fora da cena) Secou aqui! Traz mais uma irmão!!
YARA – Vou retocar a maquiagem, vamos?
DENISE – Sim, vamos.
(Elas se levantam e saem)
PEDRO – Saíram?
JORGE – Sim.
(Mudam as vozes, ficam afeminados)
PEDRO – Nossa, eu queria ver o jogo com você ontem amor.
JORGE – Como? Essa mocréia não saía de perto de mim.
PEDRO – Fiquei olhando o zap zap toda hora esperando sua mensagem.
JORGE (Pegando a mão de Pedro) – Estava morrendo de saudades de você sabia
tchutchucão?
PEDRO – Não mais do que eu binzunguinho.
JORGE – Aaaai, fala Bizunguinho de novo..
PEDRO – Bizunguinho...
JORGE – Fico todo molhadinho.
(Do outro lado do palco estão Yara e Denise retocando a maquiagem)
YARA (Voz grossa) – Aí Denisão, quando nós vai encarar de novo aquela rabada esperta
do bar do portuga?
DENISE (Voz grossa) – Temo que ir, deixa só o figueiredo melhorar que na última foi
foda.
YARA – Mandei rebaixar a suspensão do meu Citroen, to arrebentando agora.
DENISE – Só pegando os novinhos da faculdade que tu dá aula né garota esperta.
YARA – Claro cumadi, quer passar tem que fazer gozar, ajoelhou tem que chupar.
DENISE – Assim que se fala vadia.
(Do outro lado)

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PEDRO – Claro que nós não vamos ao Maracanã né?
JORGE – Não amoreco. Vamos pro nosso ninho de amor, aquele motelzinho na beira da
estrada.
PEDRO – Você vai botar aquele baby doll vermelho de novo?
JORGE – Faço tudo o que você quiser minha delícia.
PEDRO – Faz nada.
JORGE – Claro que faço.
PEDRO (Faz beicinho) – Você não me ama mais.
(Do outro lado)
YARA – Aí, vumbora armar uma pescaria, vou levar as geladas e tu arruma a vara já que
vara é contigo mermo.
DENISE – Tem um secretário lá da firma que to urubuzando sabe, to querendo cair dentro,
mas é noivo e tenho que chegar devagar porque tudo agora é assédio nessa porra. O filho da
puta é crente, diz que é virgem e o cacete, mas vou dar surra de xota nele.
YARA – Crente da piroca quente, conheço essa raça.
(Do outro lado)
JORGE – Que isso? Você é meu homem!! Meu gostoso!!
PEDRO – Você diz isso para todos.
JORGE – Claro que não.
PEDRO – Ai confesso!! To insegura!! Ta me dando até coceira essa aflição!!
JORGE – Mas por que meu lindão?
PEDRO – Você acha que não percebo os olhares que você manda pro Tonhão Coice de
Mula na nossa pelada de terça feira?
(Do outro lado)
YARA – Começaram a fazer obra de um prédio lá na frente de c asa, mermã tu te que ver
os peões aí.
DENISE – Tu só na siririca né?
YARA – Porra, tu me conhece né? Eles passam e fico assoviando dizendo que é o genrinho
que mamãe pediu a Deus, que seu eu pegar eu entorto.
DENISE – E eles?

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YARA – Fingem que não ouvem. Na moral? Tudo veado nessa porra, é essa merda de
mundo hoje em dia que homem só gosta de homem, ninguém gosta mais de buceta nessa
porra.
(Do outro lado)
JORGE – Ah não, ta com ciúmes?
PEDRO – To nada.
JORGE – Ta sim, ta sim, ta sim.
PEDRO – To não, to não, to não.
JORGE – Ta sim, ta sim, ta sim, ta sim.
PEDRO – Ta bem, e se eu estiver?
JORGE – Pare de bobagens. Meu vício é você, meu cigarro é você.
PEDRO – Então pare de olhar pro Tonhão Coice de Mula.
(Do outro lado)
DENISE – Esse mundo tá muito esquisito Yara, até tentei pegar mulher, colar velcro, mas
dá não, a mulherzinha era muito mulherzinha. Porra ainda gritei com ela “Seje homem”,
adiantou nada, queria ficar agarradinha fazendo cafuné e ouvindo Ana Carolina.
YARA – Porra, Ana Carolina é meus ovos porra!!
DENISE – Voltei puta pra casa e ainda tive que foder com o imbecil do meu marido, sexo
miojo, três minutos e goza, deu nem tempo de pensar em outro macho, pior que ele fica
arfando igual um porco, tem sudorese.
YARA – Tem nada mais broxante qie foder com marido, oior que dou uns gemidos e ele
pensa que tá arrasando (Dá uns gemidos como se gozasse) não sei como homem cai nessas
porras, são muito idiotas.
DENISE – Se não fossem idiotas não seriam homens.
(Do outro lado)
JORGE – Prometo que nunca mais olho.
PEDRO – E responda meus zaps, magoa ver que ficou azulzinho e você não responder, fere
meus sentimentos..;
JORGE – Eu já disse..
PEDRO – Já sei, a mocréia. Ela me dá nos nervos, sabia? Minha vontade é embolar com ela
nesse chão, arrancar o aplique que ela tem na cabeça e enfiar tudinho no cu dela, você é o
meu bofe!! Meu!!

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JORGE – Ai meu docinho de coco, você não existe.
PEDRO – Me chama de docinho de coco de novo..
JORGE – Docinho de coco..
PEDRO – Você me deixa cada vez mais xonada, sabia?
JORGE – Vadia, safada.
PEDRO – Toda sua.
(Do outro lado Yara solta um arroto)
DENISE – Suspendam o veterinário que o porco deu sinal de vida.
YARA – Saúde dez, educação zero, média cinco, passei.
DENISE – Vamos voltar para aqueles idiotas, nem deu tempo de soltar um barro.
(Do outro lado)
PEDRO – Elas estão voltando.
(As mulheres voltam e eles voltam ao normal)
JORGE – Mas e aí? Gostou do samba do Salgueiro?
PEDRO – Meu irmão!! Que porrada!! Aí cumpadi, esse ano tem pra ninguém não!! Vamos
pras cabeças!!
JORGE – Vamos desfilar esse ano de novo hein?
PEDRO – Claro po!! To lá na bateria!!
(Blecaute indica passagem de tempo)
PEDRO – Vou te ligar então e vamos marcar o Maraca, valeu?
JORGE – Meu irmão!! Só volto pra casa campeão!! Podemos mesmo né amor?
PEDRO – Né amor?
AS MULHERES JUNTAS – Claro amor!!
(Se levantam e andam para o fundo do palco como se saíssem. Os homens abraçados as
suas mulheres, casais próximos um do outro)
JORGE – Mulheres assim não fazem mais.
PEDRO – Podes crer!!
(Uma mulher aperta a bunda da outra enquanto eles andam)
FIM DA SEGUNDA CENA

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CENA III- A COBRANÇA

(Paula entra em cena com Heitor atrás tentando lhe agarrar)

PAULA – Para Heitor, agora não.

HEITOR – Só um pouquinho Paula, tem ninguém vendo.

PAULA – Não posso, a gente precisa conversar.

HEITOR – A gente conversa depois, vamos fazendo um chamego antes, um amorzinho.

PAULA (Se desvencilha) – Não Heitor, é sério, precisamos conversar.

HEITOR – Tá, vamos conversar, você tá tão gostosinha hoje Paula, essa roupinha, uma
rapidinha vai, boto sua calcinha pro lado e foi (Agarra de novo e ela se desvencilha)

PAULA – Não é não.

HEITOR – Ai caralha, que é Paula?

PAULA – Já disse, precisamos conversar. Senta aí.

HEITOR – É tão sério assim?

PAULA – Senta.

(Ele senta)

HEITOR – Vai sentar no meu colo agora?

(Ela senta de frente a ele)

PAULA – Então Heitor, já que vamos casar amanhã eu achei melhor casarmos sem
segredos, um jogando limpo com o outro.

HEITOR – Eu não tenho segredos pra você.

PAULA – Mas eu tenho, tenho uma notícia ruim e uma péssima pra te dar.

HEITOR – Assim você me assusta, qual é a notícia ruim?

PAULA – A ruim é que sou puta Heitor.

HEITOR – Como é que é?

PAULA – Isso mesmo Heitor, eu sou puta.

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HEITOR – Como assim puta?

PAULA – Puta Heitor, garota de programa, prostituta, faço sexo por dinheiro.

HEITOR – Meu Deus do céu?? Como você pôde fazer isso comigo? Se essa bomba é a
notícia ruim qual pode ser a péssima?

PAULA – A péssima é que você me deve 90 mil reais.

HEITOR – Eu te devo?

PAULA – Sim, claro, por todas as vezes que a gente fodeu. É a minha profissão baby, vivo
disso.

HEITOR – Você só pode estar brincando..

PAULA – To não, tenho tudo anotado, toma...

HEITOR (Pegando um papel da mão dela) – O que é isso?

PAULA – Todas as vezes que nós trepamos, só fazer as contas, cobro 500 reais por
programa de uma hora, pernoite 1500, tudo aí.

HEITOR – Mas a gente trepou tudo isso?

PAULA – Na verdade não. Tem as vezes que foram só boquete, você pegou no meu corpo,
botou língua e boca nele, nessas ocasiões rolaram descontos.

HEITOR – Peraí!! Chupar peito e buceta você cobrou também? Mas sempre disse que
gostava, você gozava como uma louca!! Vou pagar pra você sentir prazer??

PAULA – Eu gozava? Sentia prazer?

HEITOR – Sim, gemia pra caralho.

PAULA – Ah tá, era assim??(Começa a gemer) Isso meu gostoso, delícia, cachorro,
cadelão gostoso, mete na sua vadia (Aumenta intensidade) Isso, assim, chupa gostoso, que
homem Meu Deus!! Que homem!!

HEITOR – Era tudo fingimento?

PAULA – Sempre, sou boa nisso.

HEITOR – Caramba, que humilhação..

PAULA – Ah, nudes também tá? Cem reais por cada, no começo foram umas dez vezes
que te mandei.

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HEITOR – Porra, você não deixa passar nada (Ele olha a lista) Epa, peraí!! Isso aqui que
você tá me cobrando mil reais nós nunca fizemos!! Tentei várias vezes e você disse que
não, que doía e nunca tinha feito.

PAULA – É verdade, fiz com seu pai, mas como dia dos pais tá chegando pensei que você
pudesse pagar pra ele como presente.

HEITOR – Eu não vou dar dinheiro pra minha noiva porque ela deu a bunda pro meu pai!!

PAULA – Nossa, que filho péssimo você é.

HEITOR – Não vou pagar essas coisas.

PAULA – Não??

HEITOR – Não, não vou pagar. Eu fui enganado, eu não sabia de nada, se eu for no
PROCON eu tenho ganho de causa.

PAULA – Poxa, eu fui tão legal com você. Nem cobrei aquela vez que você quis ter uma
experiência diferente e nós contratamos um travesti e eu filmei vocês dois fazendo..

HEITOR (Interrompendo) – Parcela?

PAULA – Aceito seu carro como entrada.

(Heitor entrega a chave)

PAULA – O restante você paga por mês, a primeira na volta da lua de mel.

HEITOR – E quem disse que ainda vou me casar com você depois dessa?

PAULA – Sabe aquela amiga que eu chamei pra madrinha? Trabalha comigo, tinha
pensado em uma saída nós três te dando um desconto.

HEITOR – Primeira parcela na semana seguinte da volta da lua de mel.

PAULA – Feito.

HEITOR – E você mentiu pra mim, disse que era praticamente virgem quando te conheci.

PAULA – Eu era, tinha acabado de fazer a cirurgia de troca de sexo.

HEITOR – Como é que é???

PAULA – Depois a gente fala sobre isso, é muita informação pra um dia só.

HEITOR (Totalmente abalado) – É, eu vou..eu vou..eu..(Apontando pra coxia)

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PAULA – Vai amor (Faz coraçãozinho) Te amo, tão feliz com nosso casamento.

HEITOR – É, eu também, eu acho..

(Heitor sai de cena e sua mãe entra)

MÃE DO HEITOR – O que eu filho tem Paulinha?

PAULA – Ah nada não, umas coisinhas que contei pra ele..Ah (dá uma folha para ela) A
senhora me deve 20 mil reais.

FIM DA TERCEIRA CENA

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CENA IV - BUROCRACIA SEXUAL

(Lucas e Marcia entram se agarrando em cena, Marcia tenta se desvencilhar)

LUCAS – Quero muito você minha delícia.

MARCIA – Você viu como a luta do UFC acabou hoje? Acho que deu empate

LUCAS – Sim, deu empate, um deu pro outro como você vai me dar agora..O seu
coração..Faz um strip pra mim, vai...

MARCIA (Se desvencilha) – Safadinho, vou fazer, vou ser sua mamãe Noel.

(Ela insinua tirar a roupa)

MARCIA – Espera, não acha que tá faltando alguma coisa?

LUCAS – Claro, musiquinha, vou botar.

(Ele bota)

MARCIA – Espera Lucas, não era disso que eu falava.

LUCAS – Era o que então Marcia? Prometi que vamos continuar saindo, cineminha pra ver
vampiro emo, pizza aos domingos, vou conhecer seus pais. O que falta?

MARCIA – Cópia do RG e CPF.

LUCAS – Como é que é?

MARCIA – É, cópia do RG e CPF.

LUCAS – É sério isso?

MARCIA – Sem cópia de RG e CPF sem pintinho na minha xaninha.

LUCAS – Não acredito, burocratizaram a foda.

MARCIA – Você tem ou não tem?

LUCAS – To com o RG aqui e nele em o CPF, ta vendo? (Mostra) To tirando foto de frente
e verso e mandando pro seu zap, ta bom? Vê se chegou aí.

MARCIA Olhando o telefone) – Ok, tudo certinho. Agora comprovante de residência.

LUCAS – É..como é que é?


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MARCIA – Comprovante de residência senhor.

LUCAS – Qual é Marcia?? Eu sou o Lucas, que mané senhor??

MARCIA – Sem comprovante de residência sem boquetinho.

LUCAS – Mas você ta na minha casa, aqui, aqui é a minha casa!!

MARCIA – Ta exaltado senhor?

LUCAS – Ta, vou pegar no quarto (Sai e volta) aqui, comprovante de residência. Vou tirar
foto dele também e mandar pro teu zap.

MARCIA – Ok, deixa ver (Olha) é quebrada hein?

LUCAS – Mas meu Deus do céu, você vai dar a buceta ou entregar IFood?

MARCIA – Ok, antecedentes criminais, por favor.

LUCAS – Como é que é?

MARCIA – Vou facilitar a sua vida, antecedentes com ex.

LUCAS – Como assim? Você quer declarações das minhas exs? É isso?

MARCIA – É, pode ser.

LUCAS – Pode ver, a maioria delas são minhas amigas no face, me seguem no insta, pode
olhar. Um cara legal não teria tantas exs em suas redes.

MARCIA – É, é verdade.

LUCAS – Já posso ver pelo menos um peitinho?

MARCIA – A mãe dos seus filhos também está?

LUCAS – Ela não ta no meu face.

MARCIA – Posso saber o motivo?

LUCAS – Bem, nós tivemos uns probleminhas.

MARCIA – Justo com a mãe dos seus filhos, pega mal..

LUCAS – Ai cacete..

MARCIA – Se resolve com ela ou nada de sexo.


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LUCAS (Pegando o telefone) – O que a gente não faz por uma foda. (Ao telefone)
Maristela, é Lucas, to precisando de uma ajuda sua, não, não é pra rir, é ajuda sua mesmo.

(Luz apaga e acende com Maristela também em cena.

LUCAS – Então minha cara Maristela, eu to conhecendo essa moça e ela ta pedindo meus
antecedentes com minhas exs, falta só você, quebra esse galho, vai.

MARISTELA – Vai revisar a pensão?

LUCAS - Nem fodendo, já te pago uma fortuna.

MARISTELA – Bom, eu tenho que ir, foi um prazer te conhecer moça.

LUCAS – Para!! Pra que a pressa mi há querida ex esposa? Pra quanto?

MARISTELA – O dobro.

LUCAS – Você comeu cocô, só pode.

MARISTELA – Ué, quem tá doido aqui pra comer buceta é você, não eu. Não quer dar o
dobro? To indo, bye.

LUCAS – Para!! Eu pago, eu pago!! Pode ajudar?

MARISTELA – Oi moça.

MARCIA – Oi Maristela, então, eu posso confiar no Lucas?

MARISTELA – Claro, ele é um excelente ex marido. Pai então nem se fala, um amor.
Inclusive nesse fim de semana ele v ai pegar as crianças pra ficar com elas.

LUCAS – Vou?

MARCIA – Ele curte algo do tipo extravagante?

MARISTELA – Que eu me lembre assim nada demais, bom, se você considerar chuva
dourada uma coisa normal..

LUCAS – Como é que é?

MARCIA – O que é chuva dourada?

MARISTELA – Sabe não menina? Ele gosta que você faça xixi em cima dele. Ah, sabe
também o que ele curte? Ele curte um fio terra. Dedadas e vibrador na bunda.

LUCAS – Filha da puta...


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MARCIA – Nem pensar, nada de vibrador na minha bunda, nem pensar.

MARISTELA – Quem disse que é na sua?

LUCAS – Eu vou te matar Maristela!!

MARCIA – Quem diria..

LUCAS – Meu amor, é mentira dela, recalque..

MARISTELA – Quer saber mais alguma coisa queridinha?

MARCIA – Nada não, muito obrigada viu?

MARISTELA – Não tem de que..Ah Lucas, não esquece ta? Sexta feira 19 horas as
crianças estarão prontinhas, ah, e o dobro no dia 5 hein? To indo, tchau!!

(Ela sai)

LUCAS – Vaca, piranha, filha da puta..

MARCIA – É assim que você fala da mãe dos seus filhos? Vai perder pontos dessa forma,
hein?

LUCAS – Parei!! Parei..mas então, pode continuar o strip?

MARCIA – Ah não, ainda não.

LUCAS – O que falta então, pelo amor de Deus?

MARCIA – Eu preciso saber em quem você votou nas últimas eleições.

LUCAS – Pra que isso agora?

MARCIA – Quero saber com quem andou se metendo.

LUCAS – O voto é secreto.

MARCIA – Então minha buceta continuará secreta pra você.

LUCAS – Que buceta difícil, o que quer saber?

MARCIA – Quero saber se votou em candidato escroto.

LUCAS – Claro que não, meu voto sempre é consciente.

MARCIA – Votou em candidato fascista? Homofóbico? Que fala contra as mulheres?


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LUCAS – puta que pariu, buceta com consciência social..Votei no PSOL tá? PSOL!! Viva
Lamarca!! Viva Marighella!! Caminhando e cantando e seguindo a canção!! Falta o que
agora?

MARCIA – Mandei um contrato pro seu zap.

LUCAS – Contrato no zap, deixa ver (ele olha) protocolo de intenções..

MARCIA – Sim, tem que se comprometer com esses itens.

LUCAS – Prometer ligar amanhã, prometer não contar nossas intimidades para amigos.

MARCIA – Nem espalhar nudes em grupos de zap.

LUCAS – Ok, ok, eu assino, vou imprimir e enviar ta?

MARCIA – Assinatura e rubrica.

LUCAS – To indo imprimir e escanear pra você, já volto.

(Tempo depois)

LUCAS – Acabou?

MARCIA – Agora sim, vamos aproveitar.

(Começam a se agarrar)

MARCIA – O que foi Lucas?

LUCAS – Não sei, isso nunca me aconteceu antes.

MARCIA – Bem, então é melhor eu ir embora.

LUCAS – Como assim ir embora? E o contrato?

MARCIA – Devia ter lido o contrato, parágrafo quinto diz que você tem dois minutos para
conseguir ereção, sem ereção contrato anulado.

LUCAS – E agora?

MARCIA – Agora você terá que ir a um cartório requerer segunda via.

LUCAS – Segunda via?

MARCIA – Preencha e depois passe por todos os requerimentos dessa noite, boa noite, me
liga.
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(Ela sai)

LUCAS – E agora?

(Maristela entra)

MARISTELA – Ok, o triplo da pensão e um mês inteirinho com eles.

LUCAS - Tá bom Maristela, tá bom. Bebeu água hoje?

MARISTELA – Um litro, vou encerrar do jeito que você gosta.

(Ela se joga em cima dele)

FIM DA QUARTA CENA

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CENA V – MANO BROTHER

(Mano Brother entra em cena com um microfone agitando o público)

MANO BROTHER – Um salve aí rapaziada. Um salve pros mano, pras mina, pra galera do
Capão Redondo, Osasco, Brasilândia, Jardim Ângela, a todo mundo da quebrada mano, é
nós tacando terror em playba ta ligado?

Me chamam Mano Brother, eu sou rapper, MC, DJ, grafiteiro, artista de rua, fiz som com
Emicida, Racionais, Criolo, Projota, Sabotage, salve Sabotage, tu vive pra sempre mano!!
Já ganhei várias batalhas de rap, sou um vencedor na vida mano porque já fiz muita parada
errada, puxei dez ano de cadeia no Carandiru e vi todos os meus parça de infância se perder
na vida.

Tive 12 irmão, fui o mais velho e tinha que tomar conta deles enquanto a mãe ia pro trampo
já que o pai um dia foi botar gasolina no carro e nunca mais voltou, pra tu ver como já era
difícil arrumar gasolina barata naquela época. Eu ficava com os menor na sala vendo Xou
da Xuxa, ta ligado no Xou da Xuxa mano? Tinha aquela nave da hora que ela ia embora no
fim de todo programa e meu segundo maior sonho era andar naquela nave com ela, o maior
era ser paquita, ia ser da hora mano eu vestido com aquela roupa de paquita, chapeuzinho,
coletinho da hora, short enfiado na raba cantando com o praga e o dengue cantando Lua de
Cristal “Tudo que eu quiser, eu vou tentar melhor do que já fiz, esteja meu destino onde
estiver, eu vou tentar a sorte e ser feliz. Lua de Cristal que me faz sonhar yo yo yo”. Ia ser
massa mano, mas ficou só no sonho.

Tu pode então perguntar “Mano Brother, quando tu viu que dava pra ser rapper? ” Eu
respondo “Qual foi mano? Tu ta me tirando? Nunca dei pra ser rapper não, no máximo
chupei três pirocas pra isso”. Mas quem nunca chupou uma piroca né mano? A piroca de
um mano seu, de uma forma hetera, na broderagem? Vocês já chupou né mano? Uma vez
que tava com um mano e nós tava trocando tiro com a rota, uma situação de alto perigo e
ele falou “Mano Brother, nós vai morrer, chupa meu pau antes disso, realiza esse último
pedido”. E eu fiz né mano? O cara era meu mano mano, eu chupei, ele chupou e por um
milagre nós sobreviveu, nós é sobrevivente do inferno. Tudo bem que não era vida real, era
GTA, mas GTA é perigoso mano!! É a vida dura da periferia.

E aí mano, beleza (Pra alguém da plateia) Tu é bonito mano, tem uma estampa firmeza,
qual teu nome? Tu tem tênis da nike mano? Óculos da Oakley? Tem camisa da Lacoste,
aquela do jacaré? Tu sabe que jacaré se defende com o rabo né mano? Me liga ou manda
um zap, não sou governo federal, mas também dou auxílio pros mais necessitado, ta ligado?

Eu tinha na juventude um mano que era muito mano meu, o Zezinho meio metro, é, ele
tinha esse apelido por ser baixinho não, é porque a pica dele tinha quase meio metro, era
um caralho enorme mano, bonito, veiúdo, rosado, cabeça da hora mano, uma vez fui dividir
o mictório com ele pra dar um mijão e tive que aplaudir a piroca do mano, eu sei quando to
de frente de uma obra de arte, ta ligado? Parecia que o mano carregava um anão na calça,
um bebê de seis mês, tá ligado?

22
Um dia nós foi fazer uma batalha de rima em Santo André e ficou tarde pra voltar pra casa
e dormimo na casa de um parça nosso. Eu tava dormindo sonhando com o Cauã Raimond,
pois é, de vez em quando eu sonho com uns mano bonito, sarado, com peitoral definido e o
Cauã é assim né? Queixo quadrado, peitoral definido, Cauã Raimond, Cauã. Raimon!! De
repente eu senti uma coisa cutucando a minha bunda. Olhei de lado pra ver o que era, assim
de relance e era o Zezinho cutucando com seu meio metro. Fiquei na minha, de repente o
mano era sonâmbulo e eu não podia acordar o mano porque dizem que isso faz mal pros
cara. Deixei pra lá e o cara ficou me cutucando..cutucando..cutucando..Confesso que senti
umas coisa estranha, mas acho que foi o podrão que tinha comido antes de deitar, o purê
devia tá estragado..continuou cutucando, senti que a parada atrás de mim tava ficando meio
dura, pensei que o mano podia ta com vontade de mijar, mas como acordar? Podia fazer
mal pra ele e deixei. De repente senti que ele abaixou minha cueca e ele continuou
cutucando...cutucando..Até que senti uma parada entrando, aí fiquei pensando..estranho, se
to com caganeira por causa do podrão era pra tá saindo, não entrando..Tem coisa errada aí,
aí senti o Zezinho arfando no minha orelha (Faz como se alguém arfasse em sua orelha)
dizendo vai minha cadelinha, rebola gostoso..Qual foi mano? Aí comecei a rir pensando,
que otário, ta pensando que tá com uma mina e na verdade tá me comendo. Amanhã
quando acordar vou zoar pros manos todo dizendo que ele é veado. Imagina quando os
caras saber que deixei até que gozasse na minha cara pensando que tava gozando numa
mina. No dia seguinte não vi mais o Zezinho, nunca mais vi o Zezinho e nem seu meio
metro. Você faz falta mano, tu era brother, de verdade, parceiro, mas onde quer que tu
esteja saiba que nunca vou esquecer daquela noite. E agora pra me despedir eu vou cantar
pra vocês, porque eu sou Mano Brother e o rap é minha arma contra o sistema.

Yo yo yo yo
Eu sou Mano Brother
Vim da periferia
Sou a voz do excluído
Revolução que se inicia

Vim pra dar porrada


Nessa porra de sistema
Sou da periferia
Onde se rima porque teima

Eu sou Mano Brother


Não tenho definição
Sou um cara muito além
Do meu relógio e meu cordão
A verdade na tua cara
Eu sempre vou dizer
Não tenho medo de matar
Muito menos de morrer

Eu sou Mano Brother


Esse aqui é o meu som
23
Eu queria ser paquita
E dar pro Cauã Raimond

Doce, doce, doce


A vida é um doce, vida é mel
Escorre na boca feito doce
Pedaço de céu

FIM DA QUINTA CENA

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CENA VI – LEITURA DRAMATIZADA

DIRETOR – Então, você foi muito bem indicado, disseram que você é um grande ator, só
esqueci seu nome..

ARMANDO – Armando, Armando Coimbra.

DIRETOR – Estava analisando aqui, seu currículo é grande, né?

LEILANE – Grande?

DIRETOR – Enorme.

LEILANE – Ah não diretor, grande eu não curto não, machuca.

ARMANDO – Desculpa, eu não entendi.

DIRETOR – Calma Leilane, bem..Você fez Cal né? Tablado, Maria Clara Machado...

ARMANDO – Sim, Wolf Maia também.

DIRETOR – E pelo que vejo aqui trabalhou com Augusto Boal no teatro do oprimido .

ARMANDO – Gerald Thomas, Abujamra..

DIRETOR – Muito bom, tudo muito ótimo. Bom, vamos trabalhar, bota a piroca pra fora.

ARMANDO – Como é queridão? Desculpa, mas eu não entendi. Piroca?

DIRETOR – Sim, piroca. Qual a parte da piroca você não entendeu?

ARMANDO – Justamente essa, justamente a da piroca.

DIRETOR – Piroca, rola, veiúdo, chapeleta, cobra do olho só, algum desses nomes, pelo
menos, você conhece?

LEILANE – Vamos meu filho, faça logo o que ele mandou, não tenho o dia todo.

ARMANDO – Mas por que eu tenho que botar o pau pra fora? O que isso tem a ver? Eu
não to entendendo. O que tem a ver com a leitura dramatizada?

DIRETOR – Amadores...Você chegou a ler o texto?

ARMANDO – Pra ser sincero não olhei, vou dar uma olhada agora.

LEILANE – Diretor, é isso que você chama de profissional?


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ARMANDO – Delírios anais 4? Mas o que é isso?

LEILANE – Continuação de Delírios anais 1, 2 e 3. Grandes sucessos de crítica e público,


por sinal.

ARMANDO – Mas isso aqui é um filme pornô!!

DIRETOR – Olha, descobriu o Brasil. Vumbora, bota essa mixaria logo pra fora.

ARMANDO – Me desculpa, me desculpa, ta? Mas eu sou um ator sério, eu fiz


Shakeaspeare, fiz Nelson Rodrigues, Plinio Marcos, não posso fazer esse, esse, esse..

LEILANE – Delírios anais 4.

ARMANDO – Então, isso aí. Meu Deus, que nome é esse.

DIRETOR – Olha só, seu agente me indicou você, se não te avisou qual era nosso ramo
filho não é problema meu não, reclama com ele, tá?

ARMANDO – Mas pode ter certeza que eu vou reclamar, é um absurdo isso.

DIRETOR – Então tá ótimo, você já pode sair, boa tarde pra você, tá dispensado, eu vou
arrumar outro ator pra fazer o filme e ganhar vinte mil reais só pra transar com essa gostosa
aqui que é o sonho de todos os homens do Brasil, vai com Deus, vai..

LEILANE – Obrigada pelas palavras, são seus olhos..

Armando – Peraí, vinte mil reais pra transar com ela?

DIRETOR – Isso..

ARMANDO – Caramba, já transei com cada jabaranga e ainda paguei pra isso.

DIRETOR – E aí?

LEILANE – Vamos benzinho, eu prometo que vou cuidar bem de você.

ARMANDO – É, nessa recessão não tá pintando trabalho, nem mulher, eu vou ganhar pra
trabalhar e comer mulher, ok, tudo bem, aceito tá? Mas sem necessidade de botar pau pra
fora em leitura dramatizada né? Vamos só ler então, certo?

DIRETOR – Tudo bem, vumbora, vamos ler então.

LEILANE – Até que enfim né? Eu ainda tenho que ler o meu monólogo.

ARMANDO – Já to com o texto aberto aqui, tá bom?


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DIRETOR – Então, a Leilane é uma dona de casa, que ta com problemas na internet, ok?
Você é aquele cara do gatonet que aparece pra resolver o problema, combinado?

ARMANDO – Tá, ok, ok..

DIRETOR – Vamos lá então, ação!!

LEILANE – Oi moço. Demorou...

ARMANDO – É daqui que estão com problema na internet?

LEILANE – É sim, é lá no meu quarto, me acompanhe.

DIRETOR – Eles vão até o quarto.

LEILANE – Então moço, eu tento conectar e não consigo.

ARMANDO – O problema é no plug minha senhora.

LEILANE – No plug? Então pluga meu gostoso.

DIRETOR – Eles se beijam, o rapaz do gatonet arranca sua blusa e beija seu seio.

ARMANDO – Bom, agora ela tira a blusa né? Se você pediu que eu mostrasse o pau tem
que tirar a blusa agora né?

LEILANE – Que foi queridinho? Se você não mostrou também não tenho que mostrar.

ARMANDO – Tudo bem, concordo, só que sou iniciante e você praticamente uma
Fernanda Montenegro da putaria.

DIRETOR – Vamos deixar esses pormenores pro dia da gravação Armando, faz biquinho e
finge que ta beijando o seio dela logo, vai.

ARMANDO – Pra que isso?

DIRETOR – Pra ver se você sabe fazer.

ARMANDO – Isso é ridículo, eu fiz Macbeth, Hamlet, peças grandes, claro que sei fazer a
interpretação de beijar um peitinho.

DIRETOR – Seu diretor quer que você faça, vai contestar?

ARMANDO – Ok, ok.

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(De onde ele está faz biquinho e de onde ela está Leilane empina o seio como se oferecendo
pra ele beijar)

LEILANE (Gemendo) – Ai, assim, vai...

DIRETOR – Agora a dona de casa faz sexo oral no rapaz.

(Armando levanta e começa a mexer no zíper)

DIRETOR – O que é isso?

ARMANDO – Você me convenceu que é importante mostrar, eu boto pra fora e ela chupa.
Somos profissionais.

DIRETOR – Não há necessidade, você mesmo já me convenceu que nada de pau hoje,
então ela não precisa chupar.

ARMANDO – Mas meu amigo, por que eu posso e ela não?

LEILANE – Meu queridinho, eu já fiz mais de trinta filmes, se tem uma coisa que eu sei
fazer na vida é chupar um pau, já ganhei três vezes o prêmio Boquete Pinto de melhor oral
do cinema pornô.

DIRETOR – Eles começam a trepar em todas as posições possíveis.

LEILANE (Gemendo) – Ahhh, humm, delícia...

ARMANDO – Bem, mas há necessidade disso aqui mesmo? Leitura dramatizada de


gemido?

DIRETOR – Tão importante como qualquer texto do Benedito Ruy Barbosa ou Gilberto
Braga, nosso público é muito rigoroso filho.

ARMANDO – Rigoroso? Público de pornô? Essa hora a m aioria já parou de ver o filme e
tá se limpando.

LEILANE – Oh diretor, tá dando certo não.

DIRETOR – Vamos Armando, para de frescura.

ARMANDO (Gemendo) – Huumm, ahhhh, uuuiii...

DIRETOR – O rapaz ejacula e geme de prazer.

ARMANDO – É sério isso?

DIRETOR – Vamos!!
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ARMANDO – Aaaaiiiii...

DIRETOR – Ótimo, muito bom, vamos agora pra segunda cena.

ARMANDO – Peraí, segunda cena? Não tem segunda cena aqui.

DIRETOR – O rapaz sorri, deita de bruços na cama, a dona de casa volta com um vibrador
de trinta centímetros.

ARMANDO – Oi, essa parte não entendi.

LEILANE – Vibrador meu querido, eu vou entrar em cena com um vibrador.

ARMANDO – Tá, mas pra que um vibrador? Eu sou capaz de dar uma segunda e satisfazer
a ela.

LEILANE – Não é pra mim bonitinho.

ARMANDO – Não entendi.

DIRETOR – Ela vai comer o seu cu agora Armando.

ARMANDO – Ah, o m eu cu.

DIRETOR – A dona de casa se aproxima dele, dá beijinhos em seu pescoço e introduz um


dedo em seu ânus.

ARMANDO – Olha, não vai dar. Literalmente não vai dar. Eu vou ter que recusar o
personagem, o dinheiro e com dor no coração a gostosa, tá bom? Me perdoem de verdade,
adoraria, mas fui, desculpa.

(Ele sai)

LEILANE – Que isso? E agora diretor?

DIRETOR – Agora vamos ter que arrumar um novo ator.

LEILANE – Bom, enquanto você tenta arrumar vou ensaiar o meu monólogo, beleza?

DIRETOR – Beleza, vamos de “Hamete, o rei da Dinamarca caindo na putaria”.

LEILANE (Na frente do público, gemendo) – Dar ou não dar, eis a questão.

FIM DA SEXTA CENA

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CENA VII – SARAU

MILICIANO (Dando um tiro para o alto) – Calma comunidade, calma que hoje é no amor!!
Bem vindos a mais um churrasco da nossa família, agradecendo a nosso deputado tenente
Cardosinho que cedeu a carne e a gelada pra gente, não esqueçam de votar nele pra
reeleição hein porra? Tenente Cardosinho é gente nossa, é fechamento!! Ta boa a picanha
aí Peçanha? Esse sempre gostou de uma carne roliça na boca hein Oliveira? Tudo moleque
piranha!! Abaixa o som aí que tenho um comunicado a fazer. Isso, mais um pouco, aí ta
bom. Seguinte rapaziada!!Hoje temos uma novidade em nosso churrasco!! Não teremos
pagode!! Calma galera que semana que vem teremos a banda Sorrio Moleque de volta, mas
hoje não teremos pagode porque ficam acusando as comunidades de só quererm saber de
pagode e funk e pra mostra que isso é caô, é coisa de playba querendo diminuir nosso povo
hoje aqui vai ter sarau!!! (Barulho de grilos por alguns segundos) não dona Efigênia, sarau
não é comida baiana, alguém por favor dá um remédio pra dona Efigênia que ela já tá
mamada, muito suco de cevada nesse churrasco graças ao tenente Cardosinho que é gente
nossa, é fechamento!! Teremos poesias, algo fino, de classe, então chamo pro aplausos de
vocês o Manoelzinho Poeta, aplaude aí porra (dá tiros pro alto) Aplaude que Manoelzinho é
coisa nossa!!

(Manoelzinho entra)

MILICIANO – O palco é teu Manoelzinho, vai começar com que parceiro?

MANOELZINHO – Eu vou declamar quadrilha.

MILICIANO – Quadrilha? ADA? CV? TCP? Tão te incomodando, se tão fala que passo
um rádio agora. Tá na escuta aí Azulão (No rádio)?

MANOELZINHO – Não, essa quadrilha é uma poesia, poesia de Carlos Drummond de


Andrade.

MILICIANO – Esse cara aí que tu vai declamar poesia é parente do Castor de Andrade?

MANOELZINHO – Que eu saiba não.

MILCIANO – Tranquilo, tranquilo, fica nosso salve aí ao mestre Castor de Andrade!! (Da
tiros pro alto) Palco é teu, volta o sarau.

MANOELZINHO (Pigarreia) – João amava Teresa que amava Raimundo


que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili..

MILICIANO (Volta interrompendo) – Pediu pra parar parou..Que parada é essa? É suruba?

MANOELZINHO – Não entendi.

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MILICIANO – Fulana que ama fulano, que ama sicrana, to gostando dessa parada não, essa
comunidade aqui é de família Manoelzinho, tiha umas mamadeiras aqui que mamavam por
dez reais que eu expulsei da comunidade, fora que vai acabar em viadagem e nós aqui na
comunidade não gostamos de viadagem!! Muda a poesia!!

MANOELZINHO – Está bem, desculpa.

MILICIANO – Vamos lá, com vocês Manoelzinho Poeta!! Volta o sarau!!(Ele sai)

MANOELZINHO – No meio do caminho havia uma pedra, havia uma pedra no meio do
caminho..

(Miliciano entra falando no rádio)

MILICIANO – Mosquito, ta na escuta?

MOSQUITO (Sonoplastia bota) – To sim chefe.

MILICIANO – Vê aí a questão de uma pedra que tá atrapalhando o ir e vir dos moradores,


em qual rua é Manoelzinho?

MANOELZINHO – Rua nenhuma não, isso é da poesia.

MILICIANO – Esquece Mosquito, fica na atividade aí..Aí Manoelzinho, essa é do Dr.


Castor também?

MANOELZINHO – Drummond!!

MILICIANO – Muda o poeta, esse aí é muito complexo.

MANOELZINHO – Posso tentar Camões?

MILICIANO – Camões, com os pés, faz o que tu quiser, o palco é teu meu poeta!! Volta o
sarau!!

(Ele sai)

MANOELZINHO – O amor é fogo que arde sem se ver..

(Miliciano entra com extintor apertando)

MILICIANO – Fogo!! Fogo!!

MANOELZINHO – O que é isso??

MILICIANO – Tu que falou que ta pegando fogo, aonde é? Na churrasqueira?? Tilico!!


Taca a espuma na churrasqueira!!
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MANOELZINHO – Não!! É da poesia!!
MILICIANO – Suspende a espuma Tilico e me traz uma gelada!! Arruma algo menos
complexo aí Manoelzinho, menos complexo!! Volta o sarau!!

(Ele sai)

MANOELZINHO – Minha alma tem o peso da luz, tem o peso da música, tem o peso da
palavra não dita..

(Miliciano entra com prato e cerveja)

MILICIANO – Já comeu poeta?

MANOELZINHO – Oi? Não!!

MILICIANO – Toma aqui um prato e uma cerveja pra melhorar ainda mais tuas poesias,
gostei dessa, de quem é?

MANOELZINHO – Clarisse..

MILICIANO – Tá maluco? Fala esse nome aqui não!! (Pra coxia) Oi amor!! É outra
Clarisse!! É aquela não!! Esquece aquela!! Continua aí!!

(Ele sai, Manoelzinho não sabe o que fazer com o prato e a cerveja e bota no chão)

MANOELZINHO – De tudo ao meu amor serei atento, antes com tal zelo, e sempre, e
tanto..

(Miliciano volta)

MILICIANO – Foi bom tu falar em atenção que eu to querendo rapidinho atenção da


comunidade. Galera, seguinte, segunda feira teremos um pequeno reajuste na tarifa das
nossas kombis, é pequeno, apenas pra manutenção das mesmas, mas a boa notícia é que vão
começar a aceitar riocard, fiquem tranquilos que tudo que fazemos é pro bem de vocês,
valeu!! Pode continuar nessa que tá bonita..Volta o sarau!!

(Ele sai e volta)

MILICIANO – Agora o cheiro de queimado é da churrasqueira mesmo, quem é que ta na


churrasqueira porra? Já falei que não é pra botar o Frazão!! Ele bebe e deixa a carne
queimar porra!! Bota outro!! Freitas assume aí a churrasqueira e capricha na asa que ela
tava salgada na última!! Continua aí meu poeta!!

MANOELZINHO – Que mesmo em face do maior encanto, deles e encante mais meu
pensamento...

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(Miliciano entra)

MILICIANO – Ah, outra coisa que tava esquecendo, o Juca da birosca lá na rua sete
reclamou que tem gente que ainda não pagou os fiados!! É pra pagar até segunda que
segunda vai passar a lista dos devedores pra gente e nós que vamos cobrar, então abram o
olho, se situem, não vou mais interromper, é bonito esse hein? Vai lá!! Volta o sarau!!

(Ele sai)

MANOELZINHO – Quero vive-lo em vão cada momento..

(Miliciano volta)

MILICIANO – Ih rapá, foi bom tu falar em viver, faleceu ontem nosso sargento Paranhos,
infelizmente foi vítima da criminalidade dessa cidade e morreu atingido por bala perdia, 38
balas perdidas na verdade, bota música triste aí DJ!! Peço um minuto de silêncio pelo
Paranhos (Olha o relógio dez segundos e para) Tá bom, chega, vamos lá rapaziada!! Um
salve pro sargento Paranhos!! (Atira para o alto com vários tiros sendo dados, Manoelzinho
se assusta) Continua que tá bom, isso aí é do Belo né? Já vi ele cantando, continua!! Volta o
sarau!!

MANOELZINHO – Melhor eu ir pro final logo...Eu possa me dizer do amor que tive, que
não seja imortal posto que é chama..

(Barulho de tiros)

MANOELZINHO – O que é isso??

MILCIANO (Entra atirando) – Tão invadindo a comunidade!! Se tu não é imortal corre!!

(Miliciano corre pra um lado e Manoelzinho pro outro pegando o prato e o copo do chão e
bebendo)

FIM DA SÉTIMA CENA

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CENA VIII - O BAR

(Ator vestido de pau entra em cena e fala com o público)

PAU – Desculpe atrapalhar o momento de lazer de vocês. Eu podia estar roubando,


matando, mas estou aqui humildemente pedindo a ajuda de vocês. Eu sou um pau
abandonado pelo seu dono que passa necessidade e pede um trocado, qualquer trocado para
comprar uma cachaça e esquecer a vida infeliz que eu levo.

Desde pequeno tive uma vida miserável. A casa que eu morava era um saco e embaixo só
tinha matagal. Sabe como é né? Fui criança nos anos 70 e a moda na época era matagal
Claudia Ohana, só ver os filmes que passam de madrugada no Canal Brasil. Quando mais
jovem era troncudinho, corpo de marombeiro, cabeçudo, tinha uma cabeça vermelha,
imponente, bonita e era bem veiúdo, estava no ápice da minha forma física, atlética. Eu era
sinistro, literalmente foda, era só mexer um pouco comigo que eu crescia, ficava grandão.
Me davam um pouco de atenção e lá vinha a cuspida.

E era cuspida de classe, cuspida digna de Oscar, Nobel, era cuspida na privada, na parede,
na coberta, em mão de amiguinho, sim, quem nunca fez um troca troca, não é verdade? Era
me manipular e aquele chuááá (Faz o gesto) bonito, forte, branco. Com o tempo vieram as
garotas e eu sempre fui um cara de dar orgulho. Me chamavam e eu ficava logo de sentinela
“Presente!! Soldado Caralhão pronto para servir!!” E eu dava meu show!! Showtime!! Era
em peito, nas coxas, porque menina de família só deixava lá, algumas vezes em bocas,
conheci umas amígdalas maneiras, até troquei telefone com elas..alguns lugares escuros e
mal cheirosos também, ok, eram apertados, me machucavam um pouco, mas eu cumpria
meu serviço de forma digna e profissional. Até no inverno. Às vezes eu estava lá deitado,
encolhidinho (Faz gesto de estar se encolhendo), só com um olhinho pra fora, mas tocava o
alarme e eu rapidamente levantava e cumpria meu papel. Anos dourados, anos felizes.

Mas o tempo passa né rapaziada. Muito cigarro, bebida, meu dono foi engordando,
envelhecendo e isso acabou refletindo em mim. Já acordava com preguiça, não tinha aquela
disposição toda, mas conseguia cumprir minha missão. Até que um dia eu falhei. Falhei a
primeira, a segunda, a terceira, comecei a ficar com problemas psicológicos, fui a
psicóloga, macumba, remedinho azul..Até que um dia meu dono se revoltou comigo em
uma mijada gritando pra mim “Quando você quer eu levanto né filho da puta?? Por que
você não levanta também quando preciso?”. Ele se esqueceu de nossos dias de glória me
magoando profundamente e agora estou aqui nesse bar querendo um trocado pra beber uma
cachaça e esquecer essa vida merda que eu levo.

(Fala com alguém imaginário)

Obrigado moço, Deus lhe pague, vou pegar minha cachaça..

(Sai, volta e senta com um copo na mão, entra outro pau)

PAU 2 (Afetado) – Oi gostoso, você vem sempre aqui?

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PAU – Mas que merda, um caralho não pode nem mais beber em paz que aparece um pau
veado pra importunar.

PAU 2 – Olha essa homofobia hein? Isso é crime hoje em dia. Vamos logo benzinho, se eu
fosse você bebia rápido.

PAU – Por que?

PAU 2 – Nossos donos estão negociando.

(Vozes da coxia)

TRAVESTI – Então meu amor, boquete 50, anal 100.

CLIENTE – E inversão?

TRAVESTI – Inversão é o dobro.

CLIENTE – Ok, entra no carro..

PAU 2 – Uhúúú!! Vamos lá meu gostoso, vamos nos divertir!!

(Levantando e puxando o outro pela mão)

PAU – Depois não querem que eu beba!! Olha que fim de carreira!!

PAU 2 – Vai ficar de preconceito agora? Acho bom você endurecer hein porque eu (faz voz
grossa) sou do caralho!!

PAU –.Eu começo porque já tenho certa idade e durmo cedo..Coitada da bunda, vai se
foder hoje..

(Eles saem enquanto uma mulher entra no restaurante com um cara, os quatro se
cumprimentam acenando, só o homem acha estranho)

HOMEM – Aqueles dois ali..eles são..acho melhor suspender o remédio pra emagrecer
(puxa a cadeira pra mulher) senta amor.

MULHER – Ai, você é um sonho sabia? Não imaginei que no Tinder eu fosse encontrar um
homem assim. Cavalheiro, fofo, respeitador..Tive uma desilusão muito grande com meu ex-
marido depois que eu o peguei no motel com o melhor amigo e vestido de Pabblo Vittar.

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Muito obrigada viu? Por me fazer acreditar nos homens novamente. Acredita que até pensei
que estava virando lésbica?

HOMEM – Você é muito especial.

MULHER – Sim, mas me diga, o que você quer fazer depois daqui? Quer o que?

HOMEM – Seu cu.

MULHER – Oi? Como?

HOMEM – Seu cu, seu ânus, seu brioco, sua raba, seu popozão, seu derriere, seu pacote,
sua buzanfa, o buraco da lacraia, comer sua bunda.

MULHER (Espantada) – Não to entendendo.

HOMEM – Deixa que te explico.

(Luz foca nele que vai pro meio do palco. Sonoplastia coloca “Vinte e poucos anos de
Fábio Jr, ele vai cantar uma paródia)

HOMEM (Cantando) –

Ainda vou te enrabar oh meu amor


Minha jeba é grande e ela é capaz
De ir muito mais além
Que você imagina

Eu não desisto assim tão fácil meu amor


O teu cuzinho é tudo o que eu sempre quis
Se for o caso bote o preço
Seu valor
Que eu te pago pro meu caralho
Ser feliz
Eu não abro mão..
Nem de você, nem de ninguém
Comer sua bunda tá nos planos
Eu já comi bem mais
Que uns vinte e poucos anus

Tem gente sim que demorou para me dar

36
Com medo da minha piroca, de doer
Eu sei também que você tá me enrolando (uhhh)
Mas que bobagem
Fica de quatro pra eu meter

Eu não abro mão..


Nem de você, nem de ninguém
Comer sua bunda tá nos planos
Eu já comi bem mais
Que uns vinte e poucos anus

(Música para e luz fica normal)

HOMEM – E então? Vamos?

(Mulher se aproxima séria)

MULHER (Sorrindo) – Pra minha casa ou pra sua?

HOMEM (Sorrindo) – Motel né? Um cuzinho é um cuzinho.

(Se abraçam e começam a andar saindo pra coxia)

MULHER – Mas oh, vai rolar fio terra.

(Aperta a bunda dele)

HOMEM (Se assustando) – Epa!!

(Eles saem e entra um ator vestido de bunda com curativos, gemendo e andando.

BUNDA – Tão rindo de que? (Geme) Velho veado filho da puta...

(Sai andando)

FIM DA OITAVA CENA

37
CENA IX – O DIA SEGUINTE

(Washington acorda em um colchão, sem camisa, parte do corpo está coberta, do lado tem
uma pessoa completamente coberta)

WASHINGTON – Ai minha cabeça, puta que pariu, não devia ter misturado bebida ontem.
Cacete, que dor de cabeça!!! Pior que lembro nada do que ocorreu ontem, nem sei que lugar
é esse.

(Observa que tem uma pessoa ao lado toda coberta)

WASHINGTON – Eita que nem sei quem é essa mulher (começa a cutucar) moça, hei,
acorda moça.

(Leonardo descobre o rosto, também sem camisa)

LEONARDO – Me deixa dormir porra.

WASHINGTON – Leonardo?? Que porra é essa???

LEONARDO – Washington??Qual foi?

WASHINGTON – Que porra é essa?

LEONARDO – Qual foi?

WASHINGTON – Que porra é essa?

LEONARDO – Essa parte eu já entendi, qual foi???

WASHINTON – Que você ta fazendo pelado na mesma cama que eu?

LEONARDO – Peraí, você ta pelado também? Desencosta porra!! Leva essa lombriga pra
lá.

WASHINGTON –Que porra é essa?

LEONARDO – Olha só, se você ficar repetindo muito isso a esquete não vai sair do lugar e
ainda tem 4.

WASHINGTON – O que a gente ta fazendo pelado numa cama de motel só nós 2?

LEONARDO – Não sei, só lembro da gente ter parado num bar pra comemorar a vitória do
Vascão e.mais nada.

WASHINGTON – E a gente parou pelado em um quarto de motel só nós 2.

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LEONARDO – Não cara, não pode ser, isso não pode estar acontecendo. A gente fodeu???

WASHINGTON – Que isso cara, claro que não, a gente é macho pra caralho!! Claro que
não!!

LEONARDO – Qual outra explicação que você pode dar pra estarmos sozinhos pelados em
um quarto de motel?

WASHINGTON – Puta que pariu, não pode ser.

LEONARDO – Desculpa cara, de coração..

WASHINGTON – Não tem que pedir desculpas, é a maldita bebida, que merda cara, não
pode ser...

LEONARDO – Tenho sim cara, espero que eu não tenha te machucado, eu sou meio bruto
às vezes e acabo machucando.

WASHINGTON – Não entendi.

LEONARDO – To pedindo desculpas pelo fato de ter te comido.

WASHINGTON – Qual foi doido? Ta maluco doido? Quem disse que foi você que comeu
doido? Claro que fui eu!!

LEONARDO – Ah tá, sou macho pra caralho irmão, até bêbado continuo macho, claro que
fui eu que comi essa bunda murcha aí.

WASHINGTON – Bunda murcha o caralho, minha bunda é bonita e se precisar te levo


num hospital ta ligado? Farmácia tem que fazer camisinha especial porque as normais não
cabem no meu pau.

LEONARDO – Será que a gente usou camisinha? Não quero pegar essas gonorreias que
você tem.

WASHINGTON – Tenho nada não, quem anda com puta aqui é você.

LEONARDO – Cara, não pode ser, isso não pode estar acontecendo. A gente sempre foi
macho. Da força jovem do Vascão, do tipo que zoa viadinho na rua, taca garrafa em travesti
quando vê no ponto, somos homofóbico raiz porra!!

WASHINGTON – Semana passada mesmo a gente juntou um veado na porrada numa


boate lá na Barra, não gosto de veado porra, isso só pode ser praga.

LEONARDO – Não somos veados, não é pelo fato da gente ter transado que somos veados,
foi um deslize, aconteceu, homens também transam com homens e nem por isso são
veados.
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WASHINGTON - - Claro, isso é broderagem.

LEONARDO – Vamos fazer o seguinte. É o nosso segredo beleza? O que acontece em Las
Vegas fica em Las Vegas.

WASHINGTON – Não estamos em Las Vegas.

LEONARDO – Estamos sim, olha aí no cinzeiro, motel Las Vegas.

WASHINGTON – Puta que pariu, fui foder com homem num motel barato na Dutra.

LEONARDO – Será que teve chupada no cu?

WASHINGTON – Por que você quer saber isso agora?

LEONARDO – Acho nojento chupar cu, minha mulher sempre pediu que eu chupasse a
buceta dela e nunca quis, ela que tem que chupar meu pau, não tenho que chupar buceta,
ainda mais cu!!!

WASHINGTON – Você depila o cu pelo menos?

LEONARDO – Depilar é coisa de veado, mas por que quer saber se depilo meu cu?

WASHINGTON (Mexendo na língua) – Tem pentelho aqui não.

LEONARDO – Qual é maluco, tu ta achando que chupou meu cu??

WASHINGTON – Você lava bem o cu pelo menos né?

LEONARDO – Vai se foder Washington!!

(Duas mulheres entram de toalha)

MULHER 1 – Oi meninos acordaram.

MULHER 2 – Pensei que não fossem acordar nunca, que noite!!

WASHINGTON – Peraí? Quem são vocês?

MULHER 1 – Nossa, esqueceram até da gente? Viu o que dar misturar bebida?

MULHER 2 – Eu mesma falei pra eles maneirarem, mas estavam todos empolgados com a
vitória do Vasco.

MULHER 1 – A gente se conheceu no bar depois do jogo, ficou lá bebendo, conversando,


trocando uns beijos, negócio foi ficando quente.

MULHER 2 – Aí paramos aqui no motel, fodemos a noite toda, suruba da boa viu?

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MULHER 1 – Olha menina, tempo que não faço uma suruba boa dessas viu? Esses dois são
gostosos mesmo.

MULHER 2 – Bem, só viemos ver se tinham acordado, estamos lá na hidro.

MULHER 1 – Por quê vocês não acompanham a gente lá? Tem um café da manhã ótimo lá
na mesa

MULHER 2 – E a sobremesa pode ser maravilhosa..

AS DUAS – Bye!!

(Elas saem)

WASHINGTON (Eufórico olhando Leonardo) – Sabe o que isso significa?? Que não
somos veados!! Continuamos machos pra caralho!! Nós comemos essas minas!!

LEONARDO (Eufórico olhando Washington) – Graças a Deus, posso continuar zoando


veado, saindo na porrada com a Jovem do Flamengo, a gente continua o mesmo, só traímos
nossas mulheres como sempre fazemos, ufa..

WASHINGTON – Vamos lá, vamos aproveitar essa hidro e pegar essas piranhas de novo.

LEONARDO - Mostrar quem manda nessa porra!!

WASHINGTON – Mas acho que elas podem esperar um pouco..

LEONARDO – Uns cinco minutinhos, talvez dez..

(Se olham por um tempo, se beijam e jogam o lençol em cima do corpo)

FIM DA NONA CENA

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CENA X – STAND UP

COMEDIANTE – E aí? Estão gostando da peça? Estamos na reta final dela, quase
acabando e lógico que para garantirmos muitas risadas e aplausos não poderia ficar de fora
a sessão de stand up.

Nessa parte aqui vou precisar mais do que nunca da participação de vocês. Vocês já foram
em uma comédia stand up né? É muito simples, nela um cara com camisa normal, calça
jeans e um microfone conta algumas piadas fingindo que elas ocorreram na sua vida e você
ri, se quiser pode rir e bater palmas, ao fim de uma hora e pouco você vai embora mijado de
tanto rir, sem nem saber porque riu tanto e o comediante vai pra casa mais rico. As piadas
muitas vezes têm cunho sexual e quase sempre palavrões, na hora do palavrão você ri mais
alto e aplaude mais forte, tá? Vamos fazer um teste. Cu..Buceta..Isso, começamos bem.
Então vamos começar nosso stand up.

Deixa me apresentar, eu sou..(Mestre Bereco entra comandando uma bateria imaginária,


sonoplastia põe som alto de bateria, ao fim o comediante vai falar com ele)

COMEDIANTE – Oi queridão, tranquilo?

MESTRE BERECO – Oi irmão, tranquilo.

COMEDIANTE – Você é o?

MESTRE BERECO – Mestre Bereco, mestre de bateria da União da Ilha.

COMEDIANTE – Prazer, então queridão, vi que você ta ensaiando com sua bateria aí,
legal a beça o som, mas eu to fazendo um show de stad up aqui.

MESTRE BERECO – Ah ta legal, já fui em um do Fabio Porchat, é maneiro.

COMEDIANTE – Que bom que gostou, então..

MESTTE BERECO – Você consegue um autógrafo dele pra mim?

COMEDIANTE – Posso tentar..

MESTRE BERECO – Você não é conhecido igual a ele né? Nunca te vi.

COMEDIANTE – Queridão!! Queridão..será que eu poderia pedir um favor? Que o ensaio


esperasse um pouquinho, só um pouquinho pra que eu pudesse terminar o show?

MESTRE BERECO – Claro chefia.

COMEDIANTE – Muito obrigado. (Volta ao meio do palco e ao público) Então galera. Eu


decidi virar comediante stand up porque não tinha habilidade com o futebol, não gostava de

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estudar e as meninas não queriam nada comigo, então pensei que teria que chamar atenção
delas de alguma forma pra não morrer virgem, decidi então..

(A bateria volta)

COMEDIANTE – Oh mestre..

MESTRE BERECO – Oi chefia.

COMEDIANTE – Você não tinha dito que iria esperar acabar meu show?

MESTRE BERECO – Ah, não tinha acabado ainda? É que não ouvi ninguém rindo.

COMEDIANTE – Não deu tempo, ainda não consegui fazer nenhuma piada.

MESTRE BERECO – Foi mal chefia, faz seu show aí.

COMEDIANTE – Muito obrigado mestre, muito obrigado. (Ele volta) Decidi então que iria
virar ator, mas não sabia se tinha beleza para isso, desconfiado que não, parei na frente do
espelho e como a madrasta da Branca de Neve disse a ele..

(Entra“È hoje” da União da Ilha de “Diga espelho meu” até “Serei o dono dessa festa”)

COMEDIANTE – Não mestre, eu não to conseguindo ser o dono dessa festa mestre, porque
eu não consigo contar uma piada mestre..

MESTRE BERECO – Foi mal, a galera ouviu a do espelho e se empolgou, mas vai lá, faz o
show que tá maneiro.

COMEDIANTE – Obrigado, muito obrigado. Continuando. Perguntei ao objeto que mostra


nossa imagem, melhor não falar seu nome, se tinha alguém mais bonito do que eu e ele me
respondeu..

(Entra “Festa profana” no refrão do meio “Eu vou tomar um porre de felicidade”)

COMEDIANTE – Não, o espelho não tomou um porre. O mestre Bereco.

MESTRE BERECO – Pois não?

COMEDIANTE – Vocês estão de sacanagem com a minha cara? Começo a desconfiar que
é pessoal.

MESTRE BERECO – É não, chefia, galera é muito empolgada, carnaval chegando.

COMEDIANTE – Cinco minutinhos, peço só cinco minutinhos.

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MESTRE BERECO (Gritando) – Po galera!! Cinco minutinhos pro chefia poder contar
uma piada aqui!! Vamos respeitar o comediante brasileiro!! Sim, ele não é o Fabio Porchat,
mas é bom também po!! Galera vai ficar em silêncio, chefia.

COMEDIANTE – Muito obrigado..Bem, eu estava lá..com o objeto na minha frente,


decidindo a minha vida, o meu amanhã.

(Entra “O amanhã”)

COMEDIANTE – Chega!! Não aguento mais!! Chega!! Eu sofro dos nervos!! Não
aguento mais samba enredo!! Ninguém mais ouve samba enredo!! Ninguém mais aguenta
Mauricio de Nassau, enredo de macumba, ninguém aguenta mais Mangueira falando de
verde e rosa, Portela de Oswaldo Cruz e Madureira, Beija Flor trazendo Jesus Cristo
carbonizado dentro de um Opala, Paulo Barros com alegoria viva de destaques fazendo a
chuca ao vivo, União da Ilha não ganha carnaval!! Vocês vão ensaiar essa porra cinquenta
anos e a União da Ilha continuará não ganhando carnaval!! Chegaaaa!! Chegaaa!! Estressei.

MESTRE BERECO – Calma chefia, olha a pressão.

COMEDIANTE – O ser humano estressa, sabia?

MESTRE BERECO – Sabe o que ajuda nisso?

COMEDIANTE – O que?

(Entra o samba “De bar em bar Didi um poeta” na parte do “Hoje eu vou tomar um porre” o
comediante aceita que não conseguirá fazer seu show e começa a sambar com o mestre, o
miliciano da outra cena entra)

MILICANO – Aê Bereco.

BERECO – Fala aí sargento!!

MILICIANO – Fui fazer um sarau no último churrasco e deu muito certo não, não sei
porque o Manoelzinho Poeta não quer mais fazer, ta afim de ir com sua bateria não?

BERECO – Po sargento, só se for agora.

(Eles saem)

COMEDIANTE – É isso mesmo? To com o palco todo pra mim? Nem acredito. Bem,
vamos começar tudo de novo, deixa ver se agora consigo me apresentar, eu sou o..

(Entra um funkeiro com dançarinas)

COMEDIANTE (Correndo atrás dele) – Filho da puta!!


FIM DA DÉCIMA CENA
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CENA XI - FITNESS

NARRADOR – Acabou a bagunça aqui? Posso começar a minha esquete? Que bom,
porque está na hora dos exercícios, de perder peso, ficar sarado e bonito para o verão,
venha pau!!

(O pau entra cheio de disposição)

NARRADOR – Desculpe pau, não é você, ficha errada, volte na próxima.

PAU – Vai se foder!! Vem me chupar!!

(Ele sai)

NARRADOR – É com você Eustáquio!! Venha Eustáquio!!

(Eustáquio entra em cena)

NARRADOR – Eustáquio, você ta muito fora de forma, que tal começarmos a fazer
exercício?

(Eustáquio faz sinal positivo)

NARRADOR – Existem várias formas de ficar em forma, mas a maioria delas é errada
porque você recupera tudo depois, você mesmo já passou várias vezes por isso, não
Eustáquio?

(Faz sinal positivo de novo)

NARRADOR – Agora você ficará sarado da forma certa, se sacrificando, quase morrendo,
mas ficando da forma que a sociedade quer, pra ganhar likes no Instagram, já pegou a faca?

(Ele mostra)

NARRADOR – Então comece!! Corte o açúcar!! Corte a gordura!! Corte o pão!!

(Enquanto o narrador fala ele corta e grita como se fosse um guerreiro japonês)

NARRADOR – Corte a pizza!!

(Ele olha de forma triste)

NARRADOR – Corte a pizza também!! Você quer se tornar um velho obeso tendo enfarte
só em correr pra pegar um ônibus!!

(Ele corta triste)

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NARRADOR – Muito bem Eustáquio!! É assim que se faz!! Vamos começar de forma leve
então, trinta voltas em torno do palco.

(Eustáquio se assusta e faz sinal de trinta)

NARRADOR – Isso Eustáquio, trinta voltas!! Vamos começar!! Vou botar uma música pra
te animar!!

(Bota uma música triste)

NARRADOR – Desculpe Eustáquio, música errada, agora vai a certa.

(Bota a música)

NARRADOR – Vamos Eustáquio, correndo!! Correndo!!

(Eustáquio começa a correr)

NARRADOR – Movimente esse corpo flácido e moribundo!! Sinta o suor saindo e a saúde
entrando!! Corra Eustáquio!!

(Eustáquio dá só uma volta e para botando as mãos nos joelhos)

NARRADOR – Mas o que é isso? Mãos nos joelhos? Vai dançar o tchan e balançar a
bundinha agora? Que coisa feia!! Você está muito fora de forma!! Vamos pro segundo
passo então, polichinelo!!

(Eustáquio pede pra esperar e anda em direção a coxia)

NARRADOR – Você vai aonde Eustáquio?? Volte aqui!!

(Eustáquio volta com um chinelo na mão e começa a jogar pro alto)

NARRADOR – Muito engraçadinho você, polichinelo não é isso, vamos começar!! Música
pra animar!! Um, dois, três..

(Eustáquio todo desengonçado faz, o narrador para no dez e Eustáquio ta exausto)

NARRADOR – Abdominal, vamos!!

(Eustáquio deita no chão)

NARRADOR – Vamos lá!! Vamos ficar com a barriga tanquinho!! Um!! Dois!!

(Eustáquio faz de forma toda desengonçada com o narrador indo até cinco)

NARRADOR – Flexão agora, se posicione Eustáquio!!


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(Ele se posiciona)

NARRADOR – Um, dois, três, acelerando. Acelerando..

(Eustáquio só consegue fazer uma)

NARRADOR – Vamos Eustáquio!! Mexa esse traseiro gordo!!

(Eustáquio desesperado aponta para as costas, dois atores entram, levantam o homem e
ajeitam suas costas)

NARRADOR – Você está uma vergonha Eustáquio, uma negação, mas nós vamos
consertar esse corpo gorduroso e sedentário..Supino agora!!

(Eustáquio mostra com as mãos que não entendeu perguntando onde está o supino)

NARRADOR – Aí na sua frente!! Use a imaginação Eustáquio!! Isso aqui é teatro!! Teatro
fitness!! Deite no supino e pegue o peso!!

(Ele deita)

NARRADOR – Vamos lá!! Um!! Dois!!

(Eustáquio fica preso com o peso no pescoço, faz sinal de falta de ar, dois atores entram e
tiram o supino imaginário)

NARRADOR – Esteira agora!! Vamos!! Vamos!!

(Ele sobe na esteira imaginária e começa)

NARRADOR – Mas o que é isso Eustáquio? Tá passeando no bosque enquanto o lobo não
vem? Aumente isso aí!!

(Ele começa a aumentar e ir mais rápido)

NARRADOR – Mais Eustáquio!! Mais!! Bem mais!! No máximo Eustáquio!!

(Eustáquio corre desesperado e cai fulminado, ator entra no palco, faz massagem cardíaca,
ele volta a si e o ator sai)

NARRADOR – Que vergonha Eustáquio, você é uma vergonha, mas nós vamos resolver
isso, o próximo exercício agora..

(Eustáquio faz sinal para esperar, pega telefone e liga)

NARRADOR – Com quem está falando Eustáquio? Interrompendo os exercícios pra falar
ao telefone?
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(Eustáquio desliga e entra um ator com uma caixa de pizza entregando a ele)

NARRADOR (Enquanto ele fala Eustáquio vai sentando no palco com a pizza) – Não!!
Você não vai comer essa pizza!! Você não pode desistir tão fácil assim!! Quer morrer antes
dos 50?? Deixar seus filhos órfãos? Sua mulher viúva?? Isso é suicídio!! Tome vergonha,
fale alguma coisa!!

EUSTÁQUIO – Vai chupar o pau!!!

(Eustáquio pega um controle, desliga som imaginário e feliz abre a caixa de pizza).

FIM DA DÉCIMA PRIMEIRA CENA

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CENA XII – O TRABALHO

(Yuri entra em cena e vê uma travesti de costas para a plateia)

YURI – E aí delícia, quanto tá o programa?

(Mauro Cezar se virando)

MAURO CEZAR – 100 o boquete, 200 rapidinha em carro, 300 uma hora, 1000 pernoite.

YURI – Mauro Cezar????

MAURO CEZAR –E aí Yuri, beleza?

YURI – O que você tá fazendo aqui cara?

MAURO CEZAR – Trabalhando, não soube que fiquei desempregado?

YURI – Não, não sabia.

MAURO CEZAR – A firma fechou, gerente deu desfalque e fugiu.

YURI – Poxa, que chato.

MAURO CEZAR – Pois é, mas eu já tava de saco cheio do ambiente de escritório, trabalho
de oito as cinco, aqui faço meu horário.

YURI – Legal, vantagem de ser autônomo.

MAURO CEZAR – E a noite a clientela aumenta, por isso não tenho ido ao futebol.

YURI – Você vem fazendo falta lá, galera anda perguntando.

MAURO CEZAR – Saudade deles também, vou ver se tiro uma folga aqui e apareço lá.

YURI – Mas me diz, isso aí da dinheiro mesmo?

MAURO CEZAR – Cara, você nem imagina. Eu tava na merda irmão, viagem com a
Renata pro Nordeste, Maceió é linda, tem que levar a Letícia lá.

YURI – Fui a Natal uma vez.

MAURO CEZAR – Então..viajamos, meu mais velho, o Diego, entrou na faculdade.

YURI – Po, que orgulho, UFRJ?

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MAURO CEZAR – Não, Estácio mesmo, mas entrou né? E tem mensalidade, gasto pra
caralho, IPVA vencendo, IPTU, aí pensei..já fiz troca troca quando moleque mesmo, qual o
problema?

YURI – É, tem sentido.

MAURO CEZAR – Aí um boquetinho aqui, uma mordida de fronha ali e vou fazendo a
grana, já zerei as dívidas parceiro, zeradinha.

YURI - E você come também?

MAURO CEZAR - Não po, sou fiel cara, só como a Renata, dar dou pra geral, até pra
mendigo que recebeu dinheiro de venda de latinhas, mas comer só a Renata, prometi
fidelidade no casamento.

YURI – Que maneiro cara.

MAURO CEZAR – Peraí rapidinho (Passa um ator pela cena, ele desmunheca) Oi gostoso,
vem cá vem!! Vem pra te dar uma mamadinha, deixo você gozar na minha cara.

(O ator sai ignorando)

YURI – Você é bom mesmo nisso.

MAURO CEZAR – Melhor coisa que eu fiz.

YURI – Mas dói não?

MAURO CEZAR – Compro KY, aí facilita, chato quando gozam na cara, mas tenho lenço
umedecido.

YURI – Bacana..

MAURO CEZAR – Ontem chegou um navio da Inglaterra aqui no porto, me dei bem, fiz
suruba com uns 20, cheguei em casa andando de lado, mas deu até pra levar a patroa em
restaurante chique hoje, isso dá muito dinheiro e só tenho que dar 20% pro cafetão, coisa
pouca.

YURI - Feliz por você Mauro Cezar.

MAURO CEZAR - Rebeca.

YURI - Não entendi.

MAURO CEZAR - Nome de guerra né? É estranho falarem "Mama Mauro Cezar, rebola
no meu pau Mauro Cezar", clientela se sente mais a vontade com Rebeca, ainda mais que tô
bem feminino pra ser chamado de Mauro Cezar.

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YURI – Tem sentido, mas porra, show de bola, pior que to precisando de uma grana
mesmo.

MAURO CEZAR – Por que você não tenta?

YURI – Será que levo jeito pra isso?

MAURO CEZAR – Cara, eu tenho umas paradas aqui que podem te ajudar, se quiser.

YURI – Quero sim.

(Mauro vai até a coxia, pega uma sacola com peruca, vestido e sutiã com enchimento)

MAURO CEZAR – Vamos colocar em você, ver como fica.

(Yuri se veste)

MAURO CEZAR – Olha, ficou legal (Aponta a coxia) olha, ta vindo um cara ali, vou
tentar e você me segue.

YURI – Beleza.

(O pau entra andando, Mauro Cezar e Yuri andam atrás)

MAURO CEZAR – Hei delícia, vem cá, vou te fazer todinho, rebolo gostoso na sua
cabeça.

YURI – Vem cá vem gostosão, sou iniciante, todo apertadinho e ainda aceito vale refeição.

PAU – Puta que pariu, mas não consigo ficar em paz nessa peça.

(Eles estão saindo e entra Lua de cristal com a Xuxa)

MAURO CEZAR – Vem andar na nossa nave vem, quero ser sua paquita..

FIM DA DÉCIMA SEGUNDA CENA

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CENA XIII – LUA DE CRISTAL

(Mano brother entra vestido como Xuxa, começa a dublar Lua de Cristal, restante do elenco
entra como paquitas na parte do “Vamos com você, nós somos invencíveis, podes crer ”)

FIM DA DÉCIMA TERCEIRA CENA

FIM

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