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2. Resumo:
A família e o domicílio
5. Tese (s) do autor (es): nem sempre a tese está explicita, nem mesmo
no início do texto; ela pode estar nas entrelinhas ou no final do texto.
A família e o domicílio
a)- Nos primeiros séculos da colonização, a organização familiar e a vida
doméstica não poderiam deixar de ser influenciadas por alguns dos elementos
que marcam profundamente a formação da sociedade brasileira e o modo de
vida de seus habitantes – Pg. 84.
b)- Tratar, pois, da vida doméstica na Colônia, no seu sentido mais estrito,
implica penetrar no âmbito do domicílio, pois ele foi de fato o espaço de
convivência da intimidade – Pg. 85.
c)- Portanto, a distinção clássica entre público e privado não se aplica à vida
colonial antes do final do século XVIII e início do XIX e, ainda assim, só de forma
muito tênue, pois o privado assume conotações distintas daquelas adequadas à
nossa sociedade atual – Pg. 89.
Trabalho e atividades no interior do domicílio
a)- Dois elementos marcaram profundamente as atividades dos colonos no
interior dos domicílios e a sua rotina cotidiana: a escravidão e a falta de produtos,
que estimulou a produção doméstica – Pg. 142.
6. Ideias:
A família e o domicílio
a)- A distância da Metrópole – que dividia muitas vezes os membros de uma
família entre os dois lados do Atlântico – a falta de mulheres brancas, a presença
da escravidão negra e indígena, a constante expansão do território, assim como
a precariedade de recursos e de toda sorte de produtos com os quais estavam
acostumados os colonos no seu dia-a-dia, são apenas alguns dos componentes
que levaram a transformações de práticas e costumes solidamente constituídos
no Reino, tanto no que se refere à constituição das famílias como aos padrões
de moradia, alimentação e hábitos domésticos – Pg. 85.
b)- Base documental – Os dados sobre a vida doméstica, recolhidos em
inventários e testamentos, escritos de cronistas e viajantes, correspondências e
devassas, tampouco informam se no momento da partilha dos bens, ou do
registro da observação, os membros da família compartilhavam um cotidiano –
Pg. 86.
c)- Isso sem contar esposas e maridos que abandonavam a família para viver
com outros companheiros, além, é claro, das repetidas interrupções dos laços
familiares por mortes prematuras – Pg. 86.
d)- Em alguns domicílios verificamos a presença de mulheres com seus filhos,
porém sem maridos; também nos deparamos com situações em que um casal
de cônjuges e a concubina do marido viviam sob o mesmo teto – Pg. 87.
e)- Tantas foram as formas que a família colonial assumiu, que a historiografia
recente tem explorado em detalhe suas origens e o caráter das uniões,
enfatizando-lhe a multiplicidade e especificidades em função das características
regionais da colonização e da estratificação social dos indivíduos – Pg. 87.
f)- A prática de oferecer dotes a moças órfãs e desprotegidas institucionalizou-
se na Colônia mediante doações, reveladoras de que o casamento dignificava
as pessoas – Pg. 87.
g)- Com o avançar dos séculos, a rusticidade dos primeiros tempos dará lugar a
um mínimo de conforto e também a significados distintos atribuídos à intimidade,
embora aos olhos de alguns luso-brasileiros continuassem a ter costumes
primitivos ainda em meados do século XVIII, como se percebe por uma carta do
marquês de Lavradio, datada de 1768, na Bahia, na qual comenta suas primeiras
impressões sobre a gente da terra: “este país o achei com pouco mais
adiantamento que aquele que lhe estabeleceu Pedro Álvares Cabral quando fez
a descoberta desta conquista, o tempo tem-nos polido muito devagar” – Pg. 89.
h)- Tratava-se de um mundo efetivamente muito diferente do nosso, que não
parou de se transformar entre o século XV e início do século XIX – Pg. 89.
A morada colonial e os espaços de intimidade
O exterior da morada
a)- Base documental – Inúmero são os registro disponíveis sobre as moradas
coloniais tanto no mundo rural como no urbano. Cronistas e viajantes,
percorrendo o Brasil entre os séculos XVI e XIX, deixaram suas impressões
escritas e iconográficas sobre a forma de morar dos colonos, apontando para as
profundas diferenças existentes em tão vasto território – Pg. 91.
b)- Segundo Carlos Lemos, a morada urbana se manteve mais fiel à arquitetura
portuguesa, pelo menos na aparência, embora não descartasse as influências
indígenas e as adaptações dos colonos quanto ao modo de morar; já nas
propriedades rurais, a falta de uniformidade foi mais marcante – Pg. 91.
c)- Essas áreas destinadas ao convívio, ao cuidados dos animais e à indústria
doméstica forneciam também produtos para a subsistência. Era das hortas e
pomares que vinham muitas vezes alimentos básicos para as mesas dos
colonos, uma vez que a economia colonial volta para o exterior impunha a cultura
de certo produtos para o dia-a-dia [...] O inventário de Francisco de Seixas, da
mesma época que o anterior dizia: “sítio com casas de taipa cobertas de palha,
com seu quintal plantado de feijões, bananeiras, com uma parreira” – Pg. 91, 92.
d)- Sempre cercados, os quintais eram parte integrante e fundamental das casas.
Seus muros baixos não impediam, porém, os olhares dos vizinhos. Apesar de
aparente contradição, como geralmente se encontravam nos fundos do terreno,
conseguiam manter, em parte, a privacidade de seus ocupantes, separando-os
do visitante desconhecido que chegava de repente, a quem não era possível
negar hospitalidade por causa da falta de locais para pouso. As grandes
distâncias e o parco povoamento e transformaram a hospitalidade numa
característica e necessidade do mundo colonial brasileiro – Pg. 93.
e)- Além das áreas de serviço, o quintal podia conter a senzala e a secreta. Esta
última era uma edificação com fins de higiene existentes em algumas casas mas
que consistia muitas vezes apenas um buraco na terra, embaixo do qual podiam
se instalar os chiqueiros – Pg. 95.
f)- Numa sociedade continuadamente devassada pelo olhar dos vizinhos, dada
a proximidade das casas e das meias-paredes que as separavam, a estreiteza
das ruas no mundo urbano, ou a presença constante dos escravos, que
entravam e saíam dos recintos nas grandes casas rurais, os jardins talvez fosse
um dos raros espaços onde se podia usufruir de um pouco de intimidade, que
não era muito frequente na sociedade colonial – Pg. 95, 96.
g)- Veremos mais adiante que a divisão das casas tampouco propiciava a
intimidade, sinal de que esta ainda não se tornara fator relevante na vida dos
nossos colonos – Pg. 97.
Os interiores das casas: em busca de uma intimidade
a)- A severidade dos comentários do estrangeiro deixa claro que ele
possivelmente jamais entrara na casa de um camponês pobre de seu país de
origem. Leva-nos, porém, a refletir sobre o caráter das informações disponíveis,
muitas vezes formulada a partir de um olhar exterior, calcadas nas experiências
e valores diversos, uma vez que não dispomos de diários íntimos ou registro
pessoais detalhados – Pg. 100.
b)- A loja, ou escritório instalada no primeiro pavimento, evitava que estranhos
se introduzissem nos espaço de convívio da família – Pg. 101.
c)- Dessa maneira, desvendar a intimidade dos colonos no interior dos domicílios
exige, além de reconhecimento dos vários cômodos e das suas funções, atentar
para o modo como tais espaço foram aproveitados e equipados efetivamente, o
que nem sempre se torna evidente em razão do desaparecimento dessas
construções mais antigas ou às sucessivas reformas às quais foram submetidas
– Pg. 102.
d)- Essa opção arquitetônica [levar fogões e jiraus para fora da casa] pode ser
entendida como uma forma de divisão de espaços entre senhores e seus
escravos, que foi se transformando com o passar dos séculos à medida em que
as refeições se tornavam momentos mais importantes de reunião familiar e a
praticidade da localização da cozinha ao interior das residências tornava-se
evidente – Pg. 103.
e)- Também as capelas, que existiam nas vivendas no campo junto aos
alpendres fronteiriços, ou até em edifícios separados que reuniam os membros
do domicílio, incluindo os escravos, foram sendo substituídas pelos oratórios,
colocados em nichos nas paredes ou nos quartos (oratórios portáteis) para uso
individual. Todos esses elementos são sinais de uma vida íntima em ascensão
– Pg. 103.
f)- Enquanto isso não ocorreu, no mundo urbano, o vaivém dos escravos, que se
incumbiam do abastecimento de água, propiciava os encontros dos cativos e o
inevitáveis mexericos sobre o que se passava nos domicílios, mais um fator que
contribuía para devassar o cotidiano dos indivíduos, já tão à mercê dos olhares
estimulados pela arquitetura externa e interna das casas – Pg. 103.
g)- No geral, a modéstia do mobiliário fica evidente nos depoimentos colhidos,
revelando a inexistência de espaços aconchegantes para o convívio familiar.
Poucas cadeiras, uma ou duas mesas com seus bancos, além de algumas
caixas e baús é o que se encontra na maior parte as vezes, por exemplo, nos
inventários paulistas – Pg. 105.
h)- Se as casas dos colonos eram parcamente mobiliadas, imaginem-se então
os interiores das senzalas. No início do século XIX, Tollerane resumia o que vira
na senzala do Engenho Salgado no Recife: “uma esteira, uma cuia ou cabaça e
às vezes alguns potes de barro e andrajos, eis toda a mobília do lar de um casal
negro” – Pg. 110.
i)- A visibilidade da vida íntima das camadas pobres é sempre mais intensa que
a das classes altas da sociedade, as quais podem dissimulá-la melhor – Pg. 110.
j)- Talvez essa falta de conforto doméstico esteja ligada ao próprio modo de vida
dos colonos, que assumia muitas vezes certo caráter passageiro, típico das
colônias, aonde se ia para voltar o mais breve possível – Pg. 111.
k)- A realidade colonial foi permeada por essa contradição: o isolamento dos
colonos tanto podia incentivar a intimidade como bloqueá-la – Pg. 112.
g)- Afinal era a sociabilidade externa que se impunha definitivamente na vida dos
colonos e imperava na maior parte da Colônia, quando até mesmo os atos de fé
e devoção dos penitentes viam-se testemunhados pelos demais crentes nas
igrejas e nas ruas – Pg. 119.
Costumes domésticos
a)- O abastecimento precário, portanto, foi companheiro dos colonos durante
vários séculos. Dessa forma era imperativo aprender com os gentios da terra a
se proteger do clima e dos animais, a preparar alimentos disponíveis, a fabricar
utensílios e a explorar as matas – Pg. 120.
b)- O trabalho manual, por outro lado, sempre foi recomendado às mulheres
pelos moralistas e por todos aqueles que se preocuparam com a educação
feminina na época moderna, como a forma de se evitar a ociosidade e
consequentemente os maus pensamentos e ações – Pg. 122.
c)- Ligados às refeições, chamam a atenção, entre os costumes domésticos,
certos hábitos de higiene, como o de lavar as mãos antes e depois de comer,
quando um escravos carregando uma jarra, bacia e toalha as passava as
convivas. Antes de dormir também se tinha o costume de lavar os pés, hábito
atribuído aos paulistas desde os primórdios da colonização, para evitar certas
infecções, como o célebre “bicho-de-pé”, provenientes do fato de andarem
descalços – Pg. 126.
d)- Os cuidados com os doentes incluíam uma alimentação especial. A canja de
galinha é recomendada em várias situações, e no livro do fazendeiro baiano, que
acabamos de mencionar [Livro da Razão de Antônio Pinheiro Pinto], as únicas
vezes em que ele registrou gastos com compra de galinhas foi para tratar de dois
hóspedes que adoeceram na sua propriedade – Pg. 127.
Trabalho e relações pessoais no interior do domicílio
7. Problematizações principais