Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
!
!
!
Introdução!à!Análise!
Não!Standard!
!
!
Geovani(Pereira(Machado(
(
(
(
(
DISSERTAÇÃO(APRESENTADA(
AO(
INSTITUTO(DE(MATEMÁTICA(E(ESTATÍSTICA(
DA(
UNIVERSIDADE(DE(SÃO(PAULO(
PARA(
OBTENÇÃO(DO(TÍTULO(DE(
MESTRE(EM(MATEMÁTICA(
(
(
(
Programa:(Mestrado(em(Matemática(
Orientador:(Prof.(Dr.(Rogério(Augusto(dos(Santos(Fajardo(
(
(
(
(
São(Paulo,(Novembro(de(2018(
!
!
!
!
Introdução!à!Análise!
Não!Standard!
!
!
!
!
!
!
!
Esta!versão!da!dissertação!contém!as!correções!e!alterações!sugeridas!
pela!Comissão!Julgadora!durante!a!defesa!da!versão!original!do!trabalho,!
realizada!em!07/12/2018.!Uma!cópia!da!versão!original!está!disponível!no!
Instituto!de!Matemática!e!Estatística!da!Universidade!de!São!Paulo.!
!
!
!
!
!
!
!
!
!
!
!
!
!
Comissão!Julgadora:!
!
• Prof.!Dr.!Rogério!Augusto!dos!Santos!Fajardo!(orientador)!–!IMEVUSP!
• Prof.!Dr.!Hércules!de!Araújo!Feitosa!–!UNESP!
• Prof.!Dr.!Leandro!Fiorini!Aurichi!–!ICMC!
!
Agradecimentos
Agradeço pelo generoso e incessante apoio que recebi da minha família e meus
amigos durante minha trajetória acadêmica. O amor, o incentivo e o suporte concedidos
por essas pessoas extraordinárias foram fundamentais para que eu pudesse superar cada
obstáculo dessa longa missão. Também dedico minha sincera gratidão ao meu
orientador, Prof. Rogério Augusto dos Santos Fajardo, por ter acreditado na proposta do
meu trabalho e ter aceitado o desafio de me guiar nesse prazeroso e gratificante processo
de aprendizado.
“Penso que nos séculos vindouros será considerada uma grande estranheza na História
da Matemática que a primeira teoria exata dos infinitesimais foi desenvolvida 300 anos
após a invenção do Cálculo Diferencial.” [Abraham Robinson, (45); Tradução nossa]
Resumo
A área conhecida como Análise Não Standard consiste na aplicação dos métodos
da Teoria dos Modelos e da Teoria dos Ultrafiltros para a obtenção de extensões peculiares
de sistemas matemáticos infinitos. As novas estruturas construídas segundo esse procedi-
mento satisfazem ao Princípio da Transferência, uma propriedade de suma importância e
influência a qual afirma que as mesmas sentenças de primeira ordem com quantificadores
limitados são verdadeiras para o sistema original e a sua extensão. Concebida em 1961
por Abraham Robinson e aprimorada por vários matemáticos nos anos subsequentes, tal
área de pesquisa provou ser bastante proveitosa e esclarecedora para diversas outras par-
tes da Matemática, como a Topologia, a Teoria das Probabilidades, a Análise Funcional
e a Análise Complexa. Manifesta-se uma reavaliação da Teoria dos Domínios Ordenados
seguida de um tratamento completo e gradual das fundações da Análise Não Standard
assumindo a perspectiva dos Monomorfismos Não Standard, onde adota-se como metate-
oria a teoria dos conjuntos de Neumann-Bernays-Gödel com o Axioma da Escolha. A fim
de impulsionar a assimilação da metodologia abordada, o estudo explora as proprieda-
des do corpo não arquimediano dos números hiper-reais de maneira intuitiva e informal,
utilizando-se destas para revelar demonstrações alternativas e relativamente diretas de
alguns dos principais resultados do Cálculo Diferencial e Integral, como o Teorema do
Valor Intermediário, o Teorema de Bolzano-Weierstrass, o Teorema do Ponto Crítico, o
Teorema da Função Inversa e o Teorema Fundamental do Cálculo.
Descritores: Domínios Ordenados; Corpos Não Arquimedianos; Números Hiper-reais; Cál-
culo Diferencial e Integral; Ultrafiltros; Análise Não Standard.
Abstract
The field known as Non-standard Analysis consists in the application of the methods of
Model Theory and Ultrafilter Theory to the attainment of peculiar extensions of infinite
mathematical systems. The new structures produced under that procedure satisfy the
Transfer Principle, a property of the utmost importance and influence which states that
the same first-order sentences with bounded quantifiers are true for the original system
and its extension. Conceived in 1961 by Abraham Robinson and improved by a number of
mathematicians in the following years, such area of research has proved to be very fruit-
ful and illuminating to many other parts of Mathematics, such as Topology, Probability
Theory, Functional Analysis and Complex Analysis. The work presents a reexamination
of the Theory of Ordered Domains followed by a thorough and gradual treatment of the
foundations of Non-standard Analysis under the perspective of Non-standard Monomor-
phisms, where Neumann-Bernays-Gödel’s set theory with the Axiom of Choice is adopted
as metatheory. In order to boost the assimilation of the methodology put forward, the
study explores the properties of the non-archimedean field of hyperreal numbers in an
intuitive and informal fashion, employing them to reveal alternative and relatively direct
proofs of some of the main results of Differential and Integral Calculus, such as the Inter-
mediate Value Theorem, the Bolzano-Weierstrass Theorem, the Extreme Value Theorem,
the Inverse Function Theorem and the Fundamental Theorem of Calculus.
Key words: Ordered Domains; Non-archimedean Fields; Hyperreal Numbers; Differen-
tial and Integral Calculus; Ultrafilters; Non-standard Analysis.
Sumário
Lista de Símbolos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xv
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxi
3 FILTROS E ULTRAFILTROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
3.1 A Ideia da Construção de R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
⇤
3.2 Filtros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
3.3 Produtos Reduzidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
3.4 Limites Generalizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
3.5 Ultrafiltros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
3.6 Ultraprodutos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
3.7 ↵-Completude de um Filtro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
3.8 A Ultrapotência ⇤ R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Apêndice 151
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
Índice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
Lista de tabelas
62, 6⇢, 6(, etc.Negações das relações de pertinência, de inclusão não estrita, e de
inclusão estrita, respectivamente.
⇢
.
{F (x)}P (x) , F (x) .. P (x) Classe dos objetos da forma F (x) para objetos x que
satisfazem à propriedade P (x), a qual pode ser um conjunto ou uma
classe própria dependendo da propriedade P (x). Os sistemas formais
usuais que formalizam a Teoria dos Conjuntos (ZF, ZFC, NBG, etc.)
limitam as opções de propriedades P (x) que podem ser usadas para
definir uma classe. Conjuntos contáveis às vezes são descritos elemento
a elemento, usando a notação {x1 , x2 , . . . , xn , . . . } ou {x1 x2 . . . xn . . . }.
⇢
.
{Xi }P (i) , Xi .. P (i) Embora sejam essencialmente iguais às notações que defi-
nem classes, essas representações às vezes denotam a família (i.e., a
função) cuja classe de índices é
⇢
.
I := i .. P (i)
[ ⇢
.
Ai := x .. (9i 2 I) x 2 Ai .
i2I
\ \
Ai = {Ai }i2I Interseção da família de conjuntos {Ai }i2I , definida por
i2I
\ ⇢
.
Ai := x .. (8i 2 I) x 2 Ai .
i2I
\ T
Em NBG, temos Ai = ; = V.
i2;
• (a1 ) := a1 ;
• (a1 , . . . , an , an+1 ) := ((a1 , . . . , an ) , an+1 ) para n > 1.
a0 a1 a2 . . . e a1 a2 a3 . . .
ak 2 A, ak+1 2 A, . . . , ak+n 2 A.
Note que
A1 ⇥ A2 ⇥ · · · ⇥ An = (((A1 ⇥ A2 ) ⇥ · · · ) ⇥ An 1 ) ⇥ An .
A
B Conjunto das funções f do tipo A ! B, onde A e B são conjuntos.
P↵ (A) Conjunto das partes x de um conjunto A tais que |x| < ↵, onde
↵ é um cardinal.
(a, b)(X,R) Notação para intervalos abertos relativos a uma relação binária R
em uma classe X, definida por
8⇢
< x 2 X ... (a, x) 2 R e (x, b) 2 R
>
se (a, b) 2 R
(a, b)(X,R) :=
>
:; se (a, b) 2
6 R,
SeqF (X) Classe das sequências finitas de elementos de uma classe X com índices
em segmentos iniciais de N, definida por
1
[
SeqF (X) := [1,n]
X,
n=0
também serão verdadeiros quando as suas variáveis assumirem valores na classe dos nú-
meros ideais. Isso implica que todas as funções matemáticas definidas sobre valores finitos
têm uma extensão para o novo sistema numérico.
Utilizando-se desse sistema, Leibniz obteve resultados importantes da disciplina
conhecida atualmente como Cálculo Diferencial e Integral (ou simplesmente Cálculo),
como as regras de derivação para somas, produtos, quocientes, potências e raízes, as
propriedades básicas da integração e o Teorema Fundamental do Cálculo. Alguns dos seus
termos e notações, considerados simplificadores e esclarecedores, foram estandardizados
1
Mais notavelmente George Berkeley (1685-1753 A.D.) (4, 5), Georg Cantor (1845-1918 A.D.) (4, 17),
e Bertrand Russell (1872-1970 A.D.) (4, 47).
2
Para uma exposição detalhada, ver (9).
pela comunidade matemática até os dias atuais, como o termo “função” e as notações
R
dy/dx e y dx, e talvez sejam seu legado matemático mais duradouro (11).
Vale mencionar que iniciou-se no ano 1699 uma disputa acirrada entre o físico e
matemático inglês Isaac Newton (1642-1727 A.D.) (e seus seguidores) e Leibniz (e seus
seguidores) relativa ao crédito da invenção inédita do Cálculo (26). Muitas acusações
foram feitas de ambas as partes, e, mesmo após a morte de Leibniz, o debate persistiu
por anos. O consenso atual entre os historiadores é que os dois pensadores, Newton e
Leibniz, inventaram o Cálculo independentemente um do outro, de modo que Newton foi
o primeiro a obter resultados na área, embora Leibniz tenha sido o primeiro a publicar
algo sobre o assunto. Newton, no entanto, evitava o uso dos números infinitesimais sempre
que possível. Isso fica claro na seguinte passagem do Commercium Epistolicum Collinii
& aliorum, De Analysi promota, uma coleção de correspondências relevantes à disputa
citada entre Newton e Leibniz, onde Newton (referindo-se a si mesmo na terceira pessoa)
afirma (15):
Como Leibniz e seus seguidores não forneceram uma base matemática bem fun-
dada e convincente para o novo sistema numérico proposto, este foi tratado com muita
suspeita e desconfiança por muitos matemáticos e filósofos dos séculos XVIII e XIX, cul-
minando no gradual declínio da teoria dos ideais de Leibniz e na sua substituição pela
teoria dos limites de Bernard Bolzano (1781-1848 A.D.) e Karl Weierstrass (1815-1897
A.D.) predominante até a atualidade, também conhecida como Método ✏ , cuja formu-
lação é puramente aritmética (2, 4, 7, 8, 30). Tal método permitiu que os matemáticos
removessem os números infinitesimais e infinitos dos cursos de Análise, e, em meados do
século XIX, tais conceitos já haviam sido expurgados da comunidade matemática, assim
como a dependência dos conceitos geométricos intuitivos e dos diagramas. Nesse período,
os ideais de Leibniz persistiram apenas como ajudantes intuitivos para físicos, engenhei-
ros e matemáticos que lidavam com integrais múltiplas (36), e assim permanecem sendo
tratados pela maioria da comunidade matemática contemporânea.
Apenas em meados do século XX que a ambição de Leibniz seria ressuscitada, e,
desta vez, não haveriam dúvidas em relação à sua importância e consistência. No dia
24 de Janeiro de 1961, em um discurso plenário para as bodas de prata da Association
for Symbolic Logic, o matemático Abraham Robinson (1918-1974 A.D.) anunciou que
havia encontrado uma formalização para um sistema númerico que correspondia em vários
aspectos ao concebido por Leibniz, e, em 1966, publicou seus resultados em seu aclamado
livro Non-standard Analysis (45), fundando a área que ficaria conhecida como Análise
Não Standard. Nessa obra, Robinson afirma:
Utilizando-se de métodos da Teoria dos Modelos, área dedicada ao estudo das estruturas
matemáticas sob a perspectiva da Lógica Matemática, e utilizando-se do Axioma da Es-
colha, Robinson provou ser possível obter uma fundação matematicamente correta não
apenas para uma parte significativa do sistema heurístico idealizado por Leibniz, a qual es-
tende os números reais e ficaria conhecida como Sistema dos Hiper-reais, mas também
para sistemas generalizados que estendem qualquer estrutura matemática infinita.
Diversas extensões do corpo ordenado dos números reais haviam sido descritas
com sucesso antes do trabalho de Robinson (27) e várias outras foram detalhadas pos-
teriormente (20, 22). Muitas dessas estruturas propostas carecem de propriedades que
são consideradas cruciais para sistemas numéricos, dificultando o desenvolvimento de
uma Análise Diferencial e Integral sobre tais sistemas. Duas abordagens bastante fru-
tíferas nesse âmbito que merecem destaque são o corpo ordenado dos números surreais
(24, 31, 16) e o corpo de Levi-Civita (48, 49), as quais propiciaram o desenvolvimento de
teorias que gozam de vários teoremas análogos aos resultados no cerne da Análise Real.
Uma das principais dificuldades ao lidar com extensões de R surge quando as fun-
ções transcendentais são consideradas, como, por exemplo, estender o domínio das funções
ex e sin (x) para o novo corpo não arquimediano em questão. Mesmo que tais extensões
sejam sistematicamente definidas em uma construção particular, elas não possuem, em
geral, as principais propriedades das suas contrapartes usuais. Uma vitória significativa
de Robinson foi ter revelado que toda função (transcendental ou não) sobre os reais pode
ser estendida para os hiper-reais, e tais extensões naturalmente “herdam” das suas versões
reais originais todas as propriedades que podem ser descritas em uma linguagem particu-
lar de primeira ordem. Assim, de certa maneira, o princípio Lex Continuitatis de Leibniz
é respeitado nessas extensões.
Nas décadas subsequentes à descoberta de Robinson até a atualidade, diversos
matemáticos apresentaram maneiras mais práticas e descomplicadas de lidar com o tema,3
expressando-o por intermédio de resultados mais conhecidos e tornando-o mais acessível
ao público não especializado na área da Lógica e Fundamentos da Matemática. Além
disso, houve um significante desenvolvimento de novos métodos que buscavam tornar a
Análise Não Standard melhor aplicável às diversas partes da Matemática, tais como a
Topologia, a Teoria das Probabilidades, a Análise Funcional, a Teoria das Medidas e a
Análise Complexa. A despeito desse extensivo aperfeiçoamento e progresso, a pesquisa
na área é relativamente nova e pouco divulgada, e muitos problemas ainda estão em
aberto, abrindo amplo espaço para investigações promissoras com alto potencial para
novas descobertas.
3
O próprio Robinson contribuiu significativamente nesse processo. Outros notáveis são: Elias Zakon
(1908-1991 A.D.), Wilhelmus Luxemburg (1929-2018 A.D.), Edward Nelson (1932-2014 A.D.) e Keith
Stroyan (vivo, nascido em 1944).
1
Domínios e Corpos Ordenados
A ordem não estrita correspondente a uma ordem será denotada pelo mesmo símbolo da ordem
estrita exceto que haverá um traço a mais abaixo do símbolo em questão (e.g. 6). Um conjunto
munido de uma ordem é dito ser um conjunto ordenado. Um subconjunto F de E é dito ser denso
em E se para quaisquer x, y 2 E com x < y existe um z 2 F tal que x < z < y. Dizemos que o
conjunto ordenado (E, <) é denso se E é denso em E.
Dizemos que x 2 D é positivo (resp. não negativo) se 0 < x (resp. 0 6 x), e dizemos
que x é negativo (resp. não positivo) se x < 0 (resp. x 6 0). Se x 2 D e n 2 N, então
denotaremos a soma
n vezes
z }| {
x + x + ··· + x 2 D
A implicação em (Inv) pode ser substituída por uma equivalência sem alterar o
significado da condição, pois basta usar a própria condição (Inv) somando z em ambos
os lados da condição x + z < y + z para obter x < y.
Prova-se diretamente que a condição (Pos) é equivalente à condição
Se 0 < z e xz < yz, então teremos x < y, pois caso contrário teríamos y 6 x e
yz 6 xz por (InvG), o que seria absurdo.
Sob a perspectiva da Teoria dos Modelos (Apêndice A), os domínios ordenados D
são as LAO -estruturas (Exemplo A.10 e Definição A.23) que são modelos da LAO -teoria
gerada pelos seguintes axiomas:
2. (8x) x + 0 = x; 10. 0 6= 1;
3. (8x) (9y) x + y = 0;
11. (8x, y, z) ((x < y ^ y < z) ! x < z) ;
4. (8x, y) x + y = y + x;
12. (8x) (¬x < x) ;
5. (8x, y, z) x · (y · z) = (x · y) · z;
13. (8x, y) ((¬x = y) ! (x < y _ y < x)) ;
6. (8x) x · 1 = x;
Nesta dissertação, denotaremos tal LAO -teoria por TDO . Os axiomas 1-4 certificam
que (D, +, 0) é um grupo comutativo; os axiomas 5-7 certificam que (D, ·, 1) é um monóide
comutativo; os axiomas 1-8 certificam que (D, +, ·, 0, 1) é um anel comutativo; os axiomas
1-10 certificam que (D, +, ·, 0, 1) é um domínio; e os axiomas 11-13 garantem que (D, <)
é um conjunto ordenado. Neste capítulo, assumiremos que (D, +, ·, 0, 1, <) é um domínio
2
ordenado, o qual será denotado apenas por D por simplicidade. O domínio subentendido
em D também será denotado por D por abuso de linguagem.
As noções de morfismo, imersão, imersão elementar e isomorfismo
entre domínios ordenados são definidas como casos particulares das noções equivalentes
referidas no estudo da Teoria dos Modelos (Seção A.15). Em particular, se f : D ! E for
um morfismo entre domínios ordenados, então a imagem de 1 2 D sobre f será o elemento
neutro multiplicativo de E, e, como f também é um morfismo entre os respectivos grupos
aditivos subentendidos em D e E, teremos que f (n) = n (8n 2 N). A noção de subdo-
mínio ordenado corresponde à noção de subestrutura (Definição A.41). O kernel de
um morfismo entre domínios ordenados é a imagem inversa do conjunto {0} sobre
tal morfismo.
Observação 1.2. Na Definição 1.1, definimos os domínios ordenados com ordens estritas
(<), mas poderiamos tê-los definido com ordens não estritas (6). Embora as duas carac-
terizações sejam essencialmente iguais, discrepâncias surgem ao considerarmos morfismos
f entre tais estruturas. Isso ocorre pois as implicações
e
x 6 y ) f (x) 6 f (y)
não são equivalentes. Com finalidade de evitar confusões entre tais conceitos, chamaremos
a estrutura de domínio ordenado com a ordem não estrita de domínio não
estritamente ordenado.
Exemplo 1.4. Os domínios dos números inteiros, dos números racionais e dos números
reais, os quais são respectivamente denotados por Z, Q e R, constituem domínios orde-
nados quando munidos das ordens usuais. Estes exemplos são insuspeitos dado que os
axiomas (Inv) e (Pos) originam-se das propriedades desses domínios numéricos.
Exemplo 1.5. Seja g um número irracional, e seja Z (g) o subconjunto de R definido por
⇢
.
Z (g) := Z + gZ = u + vg .. u, v 2 Z .
3
dos números da lista g, 2g, . . . , ng, (n + 1) g. Como g é irracional, temos fi 6= fj (8i, j).
Considerando a partição
◆ ◆ ◆ ◆
1 1 2 n 2 n 1 n 1
0, , , ,..., , , ,1
n R n n R n n R n R
do intervalo [0, 1)R em n conjuntos, o Princípio da Casa dos Pombos3 implica que existem
fi0 e fj0 com i0 6= j0 tais que fi0 e fj0 pertencem a um mesmo intervalo dessa partição,
resultando em |fi0 fj0 | < 1/n. Assim, como cada fi é uma diferença entre um múltiplo
de g e um número inteiro, temos que existe um z 2 Z (g) com 0 < z < 1/n. Seja k o
número inteiro tal que kz 6 (a+b)/2 < (k + 1) z. Portanto, temos
a+b 1 b a
06 kz < z < < ,
2 n 2
resultando em kz < (a+b)/2 < b e
a+b b a
a= < kz.
2 2
Resumindo, temos a < kz < b e kz 2 Z (g), provando que Z (g) é denso em R.
A soma de dois elementos de Z (g) pertence a Z (g), e, para a maioria dos valores
de g 2 Irr, o produto de dois elementos de Z (g) não pertencerá necessariamente a Z (g),
implicando que Z (g) não forma um subdomínio ordenado de R para esses valores de g.
Seja n um número natural que não é um quadrado perfeito. Provaremos que
p
Z ( n) é um subdomínio ordenado próprio de R. Temos
p p p p
u1 + v1 n · u2 + v2 n = (u1 u2 + v1 v2 n) + (u1 v2 + u2 v1 ) n 2 Z n
p
para quaisquer u1 , u2 , v1 , v2 2 Z, resultando que Z ( n) forma um subdomínio ordenado
de R. Seja m um número natural que não é um quadrado perfeito e que não é um múltiplo
p p
de n. Suponha que u e v são números inteiros com m = u + v n. Se v = 0, então
p p p
m = u e m = u2 , o que é absurdo, e se u = 0, então teremos m = v n e m = nv 2 , o
que também é absurdo. Assim, u e v são não zero, e temos
p 2 p 2 p
m= m = u+v n = u2 + nv 2 + 2uv n,
p
implicando que n é um número racional, o que é absurdo. Portanto, provamos que o
p p
número real m não pertence ao domínio ordenado Z ( n).
Exemplo 1.6. Considere os domínios dos polinômios com coeficientes inteiros, racionais e
reais, Z [x] , Q [x] e R [x] respectivamente. Para cada um desses três domínios, defina uma
relação binária < nesse domínio de modo que p < q se, e somente se, o polinômio q p for
3
O Princípio da Casa dos Pombos (Teorema B.29) é o resultado de ZFC ou NBG cujo enunciado
afirma que se um conjunto A tiver cardinal maior que o cardinal de um conjunto B, então toda função
sobrejetora do tipo A ! B não será injetora.
4
não zero e tiver coeficiente dominante positivo. Prova-se diretamente que cada relação <
definida é uma ordem em cada domínio mencionado, e que as expansões desses domínios
às estruturas de domínio ordenado correspondentes satisfazem aos axiomas (Inv) e (Pos).
Portanto, os domínios Z [x] , Q [x] e R [x] são domínios ordenados quando munidos das
respectivas ordens definidas.
Exemplo 1.7. Considere o conjunto L ⇢ Z R das famílias de reais {an }n2Z tais que
an = 0 (8n < p)
para algum número inteiro p. Informalmente, podemos dizer que L é o conjunto das
famílias de reais com índices em Z que são eventualmente zero pela esquerda. Como toda
família mencionada neste exemplo terá índices em Z, omitiremos a informação “n 2 Z” ao
escrevermos tais famílias, sempre usando a letra n como variável. Sejam {an } , {bn } 2 L.
A operação de adição em L será definida por
com 8
> se n < p + q
<0
>
n q
cn := X
>
>
: ai b n i se p + q 6 n,
i=p
onde p e q são números inteiros tais que an = 0 (8n < p) e bn = 0 (8n < q). O leitor
deverá notar que o produto {an } · {bn } definido acima independe das escolhas de p e q.
A prova de que L é um domínio quando munido dessas operações é direta, onde:
• Para cada r 2 R e para cada m 2 Z, denotaremos por JrKm a família {un } tal que
um = r e un = 0 (8n 6= m). No caso m = 0, denotaremos JrK0 simplesmente por r
por abuso de linguagem. A família J1K0 , a qual é denotada simplesmente por 1, é o
elemento neutro da multiplicação em L.
A ordem em L será definida de modo que {an } < {bn } se, e somente se, {an } 6= {bn }
e ak < bk , onde k é o menor número inteiro tal que ak 6= bk . Tal número inteiro k
sempre existe, pois caso contrário pelo menos uma das famílias {an } e {bn } não seria
5
eventualmente zero pela esquerda. A confirmação de que < é uma ordem em L será
deixada para o leitor.
Provaremos que L é um domínio ordenado quando munido dessa ordem. Se
{an } , {bn } , {cn } 2 L com {an } < {bn }, e se k for o menor número inteiro com ak 6= bk ,
então ak < bk , o número inteiro k será o menor número inteiro tal que ak + ck 6= bk + ck ,
e, como ak + ck < bk + ck (pois, como vimos, R é um domínio ordenado), teremos
provando que L satisfaz a (Inv). Se 0 < {an } e 0 < {bn }, onde p e q são os menores
números inteiros tais que 0 < ap e 0 < bq , então, denotando {cn } := {an } · {bn }, teremos
cn = 0 (8n < p + q), e
(p+q) q
X
cp+q = ai b(p+q) i
i=p
p
X
= ai bp+q i
i=p
= ap bq
> 0,
• x 1
é a família J1K 1 ;
Assim, temos
6
1
X
onde p é o menor número inteiro tal que ap 6= 0. Note que an xn não é uma soma4
n=p
– é meramente uma representação formal de {an }. Tais séries formais são conhecidas
como séries de Laurent,5 e são cruciais no ramo da Análise Complexa. As operações de
adição e multiplicação que definimos em L correspondem meramente às operações usuais
de adição e multiplicação de polinômios na variável x, mas nesta ocasião em uma versão
ampliada para “polinômios infinitos” que admitem uma quantidade finita de potências
negativas de x.
A função : R ! L definida por (r) := JrK0 é uma imersão (Definição A.42)
entre domínios ordenados. Em vista disso, um elemento de L da forma JrK0 com r 2 R é
identificado com o número real r.
(a) Um elemento não zero x de D será positivo se, e somente se, o seu inverso aditivo,
x, for negativo. Analogamente, x será negativo se, e somente se, o seu inverso
aditivo for positivo;
(f ) D é infinito;
(g) Uma unidade6 x em D será positiva se, e somente se, o seu inverso multiplicativo,
x 1 , for positivo. Analogamente, x será negativo se, e somente se, o seu inverso
multiplicativo for negativo.
7
Exemplo 1.9. Não existe uma ordem < em C que torna tal conjunto em um domínio
ordenado. Isso ocorre pois i 6= 0 e i2 = 1 < 0, contradizendo a letra (e) do Teorema 1.8.
Exemplo 1.12. O domínio ordenado dos números inteiros, Z, não é um corpo ordenado,
e os domínios ordenados Q e R são corpos ordenados.
Exemplo 1.14. Os domínios ordenados Z [x] , Q [x] e R [x] (Exemplo 1.6) não são corpos
ordenados, dado que nenhum polinômio não constante nesses domínios é uma unidade.
Exemplo 1.15. Como R [x] é um domínio, existe um corpo R (x) que contém R [x] como
subanel tal que todo elemento r (x) de R (x) pode ser escrito na forma r (x) = p(x)/q(x)
com p (x) , q (x) 2 R [x] e q (x) 6= 0. Tal corpo, o qual é o único com tais propriedades
salvo isomorfismos, é dito ser o corpo das frações de R [x] ou o corpo das funções
racionais. A ordem < em R (x) será definida da seguinte maneira:
• Dizemos que r (x) = p(x)/q(x) 2 R (x) é positivo se 0 < p0/q0 , onde p0 e q0 são os
coeficientes dominantes dos respectivos polinômios p (x) e q (x). Nesse caso, nota-se
prontamente que o número real p0/q0 não depende da representação particular de
r (x) como uma fração da forma p(x)/q(x) com p (x) , q (x) 2 R [x] e q (x) 6= 0;
• Para r (x) e s (x) em R (x), dizemos que r (x) < s (x) se s (x) r (x) é positivo.
A relação < nitidamente satisfaz às condições (Irr) e (Lin). A prova de que < observa
(Trans) será deixada para o leitor.
Provaremos que R (x) é um corpo ordenado quando munido dessa ordem. A
maneira que definimos a ordem <, viz. primeiramente definindo quando um elemento é
7
p
Se u2 nv 2 = 0, então n = ±u/v será um número racional, o que é absurdo.
9
positivo e em seguida vinculando a ordem a uma diferença positiva, implica imediatamente
que R (x) satisfaz a (Inv). Se p(x)/q(x) e p0 (x)/q0 (x) forem elementos positivos de R (x) com
p0 , p00 , q0 e q00 sendo os coeficientes dominantes dos respectivos polinômios p (x) , p0 (x) , q (x)
e q 0 (x), então 0 < p0/q0 , 0 < p00/q00 , e, como o quociente dos coeficientes dominantes do
numerador e do denominador do produto
p (x) p0 (x) p (x) · p0 (x)
· 0 =
q (x) q (x) q (x) · q 0 (x)
é igual a
p0 · p00 p0 p00
= · > 0,
q0 · q00 q0 q00
temos 0 < (p(x)/q(x))·(p0 (x)/q0 (x)), provando que R (x) satisfaz a (Pos) e é um corpo ordenado.
O leitor atento notará que a maneira mais rápida de verificar uma condição da
forma p/q < p0/q0 consiste em manipular as frações de modo que os coeficientes dominantes
de q e q 0 sejam positivos, e em seguida investigar a condição equivalente 0 < p0 q pq 0 . Esta
última será verdadeira se, e somente se, o coeficiente dominante do polinômio p0 q pq 0
for positivo.
A função : R ! R (x) definida por (r) := r/1 (onde r e 1 são polinômios
constantes em R [x]) é uma imersão (Definição A.42) entre corpos ordenados. Por esse
motivo, um elemento de R (x) da forma r/1 com r 2 R é identificado com o
número real r.
Exemplo 1.16. Sejam {an } e {bn } dois elementos não zero do domínio ordenado L
(Exemplo 1.7), e sejam p e q dois números tais que p é o maior número inteiro com
an = 0 (8n < p) e q é o maior número inteiro com bn = 0 (8n < q). Suponha que as
famílias {an } e {bn } são inversas uma da outra em L. Temos {an } · {bn } = 1, ou seja,
p + q = 1, ap bq = 1, e
n q
X
ai bn i = 0 (8n > p + q) .
i=p
resultando em
m+p q
X
ai bm+p i
i=p+1
bm = (8m > q) .
ap
10
Note que se p + 1 6 i, então p < i, p i < 0, e m + p i < m. Assim, para cada m > q, o
valor de bm depende apenas dos valores da sequência finita bq bq+1 . . . bm 2 bm 1 , mostrando
que a família {bn } é univocamente determinada pela família {an }. Isso prova que L é um
corpo ordenado, e, por tal motivo, tal estrutura é chamada de corpo ordenado das
séries de Laurent.
No entanto, isso não ocorre para todo domínio ordenado. Considere o corpo orde-
nado das funções racionais, R (x), onde temos 0 < x 1 < 1. Nesse cenário, temos
n vezes
z }| {
x 1
+ x + · · · + x 1 = nx
1 1
< 1 (8n 2 N) ,
(c) Dizemos que x é finito se x não é infinito em relação a 1, ou seja, se |x| 6 n (9n 2 N).
Se S é um subconjunto de D, então o conjunto de todos os elementos finitos de S
é denotado por Fin (S);
(d) Dizemos que x é infinito se x não é finito, ou seja, se n < |x| (8n 2 N). Se S é um
subconjunto de D, então o conjunto de todos os elementos infinitos de S é denotado
por S1 ;
11
(e) Dizemos que x é apreciável se x é finito e não é infinitesimal, ou seja,
se |x| 6 n (9n 2 N) e 1 6 n |x| (9n 2 N).
As provas dos casos restantes mostrados na Tabela 1 são diretas e serão deixadas
para o leitor.
12
1. Se x e y forem dois infinitesimais em D, e se n 2 N, então
n |x + y| 6 n |x| + n |y|
<1+1
= 2.
m |x + y| < 1 (8m 2 N) ,
Corolário 1.19.
(b) Inf (D) é um subdomínio ordenado sem unidade8 de D e é um ideal em Fin (D) .
13
A condição que define os domínios arquimedianos é conhecida como
Propriedade Arquimediana.
Se D for arquimediano, então teremos Inf (D) = {0}, Fin (D) = D, e D1 = ;.
Exemplo 1.21. O domínio ordenado dos números inteiros, Z, e o corpo ordenado dos
números racionais, Q, são arquimedianos. Utilizando o fato de que Q é denso em R,
prova-se que R também é um corpo arquimediano.
Exemplo 1.22. Se n for um número natural que não é um quadrado perfeito, então o
p
domínio ordenado Z ( n) será arquimediano, visto que ele é um subdomínio
ordenado de R.
Exemplo 1.23. Os domínios ordenados Z [x] , Q [x] e R [x] (Exemplo 1.6) são não ar-
quimedianos, uma vez que temos n < x (8n 2 N) para cada um deles. Se m e n forem
números inteiros não negativos com m < n, então xm será infinitesimal em relação a xn .
Percebe-se que
Inf (R [x]) = {0} ,
Fin (R [x]) = R,
e
R [x]1 = R [x] R,
Exemplo 1.24. O corpo ordenado das funções racionais, R (x) (Exemplo 1.15), é não
arquimediano. Se m < n forem números inteiros, então xm será infinitesimal em relação
a xn . Em particular, se n for um número natural, então x n será infinitesimal e xn será
infinito. Constata-se diretamente que
⇢
p ..
Inf (R (x)) = . p, q 2 R [x] com q 6= 0 e gr (p) < gr (q) ,
q
⇢
p ..
Fin (R (x)) = . p, q 2 R [x] com q 6= 0 e gr (p) 6 gr (q) ,
q
e ⇢
p ..
R (x)1 = . p, q 2 R [x] com q 6= 0 e gr (q) < gr (p) .
q
Exemplo 1.25. O corpo ordenado das séries de Laurent, L (Exemplo 1.7), é não arqui-
mediano. Se m < n forem números inteiros, então xn será infinitesimal em relação a xm .
Em particular, se n for um número natural, então x n será infinito e xn será infinitesimal.
Constata-se diretamente que
⇢
.
Inf (L) = {an } .. ai = 0 (8i 6 0) ,
14
⇢
.
Fin (L) = {an } .. ai = 0 (8i < 0) ,
e ⇢
.
L1 = {an } .. ai 6= 0 (9i < 0) .
(a) K é arquimediano;
(c) ) (a) : Suponha que existem x, y 2 K não zero tais que x é infinitesimal em relação
a y, ou seja, tais que
n |x| < |y| (8n 2 N) .
Como x é não zero, temos que |x| é invertível, e, multiplicando ambos os lados
daquela inequação por |x| 1 , temos
1
n < |y| · |x| (8n 2 N) ,
1
implicando que |y| · |x| é infinito, e contradizendo (c).
(Som) Se x ⌘ y, então x + z ⌘ y + z;
Exemplo 1.28. Considere a relação binária , em Q [x] (Exemplo 1.6) definida por
r
X s
X
ci x ,i
d i xi : , cr xr = d s xs
i=0 i=0
, (r = s e cr = ds ) .
15
Verifica-se prontamente que , é uma relação de equivalência em Q [x] que obedece a
X l m
X n
X
(Som). Sejam p (x) = ci x , q (x) =
i
di x e r (x) =
i
ei xi três polinômios em Q [x]
i=0 i=0 i=0
com p (x) < q (x) < r (x) e p (x) , r (x). Assim, teremos l = n e cl = en = el . Se l < m,
então os graus dos polinômios q (x) p (x) e r (x) q (x) serão iguais a m, e teremos
0 < dm < 0, o que é absurdo. Se m < l, então os graus dos polinômios q (x) p (x) e
r (x) q (x) serão iguais a l, e teremos cl < 0 < el = cl , o que é absurdo. Portanto, temos
l = m = n, resultando em cl 6 dl 6 el = cl , cl = dl = el , e p (x) , r (x). Isso prova que
, satisfaz a (Conf) e é confrontante em Q [x].
(A @ B ou A = B) , (9x 2 A) (9y 2 B) x 6 y.
Se y 6 x, então
06x y = (x a) + (a y) 6 (x a) + (b y) ⌘ 0
16
1.5 Ideais Ordenados
Constata-se na Teoria dos Anéis que qualquer ideal I no domínio subentendido em
D induz sobre o quociente D/I uma estrutura de domínio. Porém, para que possamos
definir uma estrutura canônica de domínio ordenado sobre aquele quociente, o ideal I
deve satisfazer a uma propriedade suplementar às que qualquer ideal observa.
Exemplo 1.34. Como vimos no Corolário 1.19, o conjunto Inf (D) é um ideal em Fin (D).
Se x 2 Fin (D), y 2 Inf (D), e 0 < x < y, então x será infinitesimal, pois caso contrário
existirá um número natural n com 1 < nx < ny, contradizendo a circunstância de que y
é infinitesimal. Assim, Inf (D) é um ideal ordenado em Fin (D).
x ⌘ y :, x y2I
17
e
x · y := x · y.
Prova-se que tais operações são bem definidas e que D/I é um domínio (33).
x + z = x + z v y + z = y + z,
0 v x · y = x · y,
resultando em 0 @ x · y pois D/I não tem divisores de zero, e provando que D/I satisfaz
a (Pos).
Definição 1.39. O domínio quociente D/I munido da ordem @ é dito ser o domínio
ordenado quociente de D módulo I, e ele também é denotado por D/I por
abuso de linguagem.
Teorema 1.40 (Primeiro Teorema do Isomorfismo para Domínios Não Estritamente Or-
denados). Se f : D ! E for um morfismo entre domínios não estritamente ordenados,
então a função g : D/ ker (f ) ! Im (f ) dada por
g (x + ker (f )) := f (x)
18
1.6 Mônadas e Galáxias
Como 0 é infinitesimal, como toda soma de infinitesimais é infinitesimal, e como
toda soma de finitos é finita, podemos definir duas relações de equivalência em
D como segue.
Definição 1.41.
Corolário 1.42.
Demonstração. Basta provar a maximalidade do ideal Inf (K) em Fin (K). Suponha que
I é um ideal em Fin (K) que contém Inf (K) propriamente. Assim, existe um x 2 I
10
Muitos autores denotam essa classe de equivalência por µ (x). Adotarei a notação algébrica padrão.
19
com x 62 Inf (K). Como 0 2 Inf (K), temos x 6= 0. Se x 1 for infinito, então x será
infinitesimal, o que é absurdo. Portanto, temos x 1 2 Fin (K), ou seja, x é uma unidade
em Fin (K), implicando em I = Fin (K).
A letra (b) do Corolário 1.42 implica que o quociente Fin (K) /Inf (K) entre domí-
nios ordenados é um corpo ordenado.
Proposição 1.44.
Demonstração.
1
a<a+ < b.
2n
Claramente, temos a 6⇠ a + 1
2n
, e se a + 1
2n
⇠ b, então
1 1 1 1
= <b a ⇠ 0,
2n n 2n 2n
o que é absurdo. Portanto, temos
1
a a+ b.
2n
(b) Suponha que a e b são elementos de K tais que G (a) / G (b). Como a 6⇡ b, temos
n < b a (8n 2 N), e, tomando n = 2m, temos m < (b a)/2 (8m 2 N), ou seja, (b a)/2
é infinito. Assim, temos
b a
a<a+ < b,
2
e claramente temos a 6⇡ a + (b a)/2 6⇡ b, resultando em
✓ ◆
b a
G (a) / G a + / G (b) .
2
20
1.7 A Propriedade do Supremo
Os conceitos referidos na definição a seguir são indispensáveis para o estudo
das ordens.
Se E tiver um maior elemento (resp. menor elemento), então ele será um supremo
(resp. ínfimo) de E, e se E tiver um supremo (resp. ínfimo), então ele será único.
Considere o conjunto
R := x 2 D | x2 < 2 .
4 = 22 = 2 · 2 < x · x = x2 < 2,
o que é absurdo, resultando em x < 2 (8x 2 R). A existência de uma cota superior de
R acarreta na existência de uma menor cota superior de R? Isto é, o conjunto de todas
as cotas superiores de R tem um menor elemento? A resposta é positiva para o corpo
p
ordenado dos números reais (com supR (R) = 2), e, como veremos na Seção 1.9, essa
peculiaridade define R salvo isomorfismos entre corpos ordenados.
21
Demonstração. Suponha que D obedece à Propriedade do Supremo e é não arquimediano.
Seja X o conjunto ⇢
.
X := x 2 D .. 0 6 x e x é finito .
Como 0 2 X, tal conjunto é não nulo, e, como qualquer elemento infinito positivo de D
é uma cota superior de X, temos que D é limitado superiormente (Teorema 1.26, Letra
(c)) e existe um supremo s de X em D. Se s 2 X, então s + 1 2 X, o que é absurdo visto
que s < s + 1, e se s 62 X, então s 1 será infinito e será uma cota superior de X em D
com s 1 < s, o que também é absurdo. Portanto, a suposição inicial da demonstração
é falsa.
Exemplo 1.50. O corpo ordenado dos números racionais, Q, não satisfaz à Propriedade
do Supremo, visto que Q é denso em R.
Exemplo 1.51. O corpo ordenado dos números reais, R, satisfaz à Propriedade do Su-
premo. Para provar esse fato, deve-se trabalhar com uma construção particular de R como
as construções por sequências de Cauchy e por cortes de Dedekind. Tais construções são
desenvolvidas com detalhe em (14). Na Seção 2.8, veremos outra maneira de definir R a
partir do corpo ordenado dos números racionais, Q.
Exemplo 1.52. Se n for um número natural que não é um quadrado perfeito, então o
p
domínio ordenado Z ( n) (Exemplo 1.5) não obedecerá à Propriedade do Supremo, visto
p
que Z ( n) é denso em R (Proposição 1.48).
Exemplo 1.53. Os domínios ordenados não arquimedianos Q [x] e R [x] (Exemplo 1.6)
não obedecem à Propriedade do Supremo. Se o subconjunto Z de Z [x] tiver um supremo,
então nota-se facilmente que esse supremo será positivo e terá grau 1, ou seja, tal supremo
será da forma ax + b com a, b 2 Z e a > 0 , o que é absurdo pois ax + b 1 é uma cota
superior de Z menor que ax + b. Portanto, Z [x] não satisfaz à Propriedade do Supremo.
Exemplo 1.54. O corpo ordenado não arquimediano R (x) (Exemplo 1.15) não satisfaz
à Propriedade do Supremo.
22
Exemplo 1.55. O corpo ordenado não arquimediano L (Exemplo 1.7) não satisfaz à
Propriedade do Supremo.
1.8 Dedekind-Completude
O corpo ordenado dos números racionais, Q, pode ser particionado da seguinte
forma. Sejam ⇢
.
A := x 2 Q .. x < 2
e ⇢
.
B := x 2 Q .. 2 6 x .
Como A e B são conjuntos não vazios disjuntos que cobrem Q, diz-se que eles formam
uma partição de Q. Além disso, tal partição preserva a ordem usual em Q, no sentido que
todo elemento de A é menor que todo elemento de B. Intuitivamente, podemos descrever
tal partição como uma divisão geométrica de Q em duas metades, onde o número racional
2 está exatamente no meio11 dessa divisão. Denotaremos tal partição pelo par
ordenado (A, B).
É fácil encontrar outros exemplos de partições de Q em duas metades. Sejam
⇢
.
A := x 2 Q .. x 6 0 ou x2 < 2
0
e ⇢
.
B := x 2 Q .. 0 < x e 2 < x2 .
0
Claramente,12 A0 e B 0 são disjuntos. Como o número 2 não tem raiz quadrada racional,
o quadrado de qualquer número racional x é distinto de 2, e verifica-se prontamente que
A0 [ B 0 = Q. Se x 2 A0 , y 2 B 0 , e y < x, então teremos dois casos:
Assim, a partição (A0 , B 0 ) preserva a ordem usual de Q. Neste caso, porém, não há um
número racional exatamente no ponto médio da divisão obtida pela partição considerada.
11
Tecnicamente, temos 2 2 B, mas estamos ignorando esse fato por enquanto.
12
Basta aplicar (Lin) e as leis de De Morgan
23
Ao que parece, a partição (A0 , B 0 ) evidencia um “vácuo” existente no corpo ordenado dos
números racionais, e presumivelmente existem infinitos outros espaços vazios desse tipo.
A definição a seguir alicerça os conceitos que desenvolvemos nesses dois exemplos.
Definição 1.56. Seja D um domínio ordenado. Um par ordenado (X, Y ) é dito ser um
corte de Dedekind13 em D se:
Nesse caso, dizemos que o par (X, Y ) é uma lacuna em D se Y não tem um menor
elemento. Dizemos que D é Dedekind-completo se não existem lacunas em D.
Teorema 1.57. O domínio ordenado D será Dedekind-completo se, e somente se, ele
observar a Propriedade do Supremo.
Nota-se que X não tem um maior elemento, X é limitado superiormente, e o par ordenado
(X, D X) é um corte de Dedekind em D. Como esse corte não é uma lacuna em D,
temos que a diferença D X tem um menor elemento s, o qual claramente é o supremo
de S em D, provando que D satisfaz à Propriedade do Supremo.
13
O matemático Richard Dedekind (1831-1916) desenvolveu o conceito dos cortes nos números racionais
objetivando definir o corpo ordenado dos números reais, R, a partir do corpo ordenado dos números
racionais, Q. Por essa razão, tais cortes hoje levam o seu nome.
24
Proposição 1.58. Se D for um subdomínio ordenado próprio de um domínio ordenado
E, e se D for denso em E, então D não será Dedekind-completo.
⇢
.
Y := y 2 D .. x < y .
Exemplo 1.62. Se n for um número natural que não é um quadrado perfeito, então o
p p
domínio ordenado Z ( n) (Exemplo 1.5) não será Dedekind-completo, visto que Z ( n)
é denso em R (Proposição 1.58).
Exemplo 1.63. Os domínios ordenados não arquimedianos Z [x] , Q [x] e R [x] (Exemplo
1.6) não são Dedekind-completos.
Exemplo 1.64. O corpo ordenado não arquimediano das funções racionais, R (x) (Exem-
plo 1.15), não é Dedekind-completo.
Exemplo 1.65. O corpo ordenado não arquimediano das séries de Laurent, L (Exemplo
1.7), não é Dedekind-completo.
25
1.9 Cauchy-Completude
Considere a sequência {qn } de números racionais definida por
• q1 := 1;
• qn+1 = qn + 10 n2
(8n > 1) .
números naturais tais que nh < n < m. Mostraremos que |qm qn | < h. Para cada
k = 1, 2, . . . , m n, temos k 6 k 2 , 0 < 2nk, e
resultando em
(n+k)2
< 10 (nh +k) = 10
2
n2h k
10 · 10 < 9h · 10 k .
Assim, temos
m
X n
X
i2 i2
|qm qn | = 10 10
i=0 i=0
(n+1)2 (n+2)2 (n+(m n))2
= 10 + 10 + · · · + 10
1 2 (m n)
< 9h · 10 + 9h · 10 + · · · + 9h · 10
10 1
< 9h · 1
1 10
= h.
n 2
o
14
Isso ocorre para algum número natural nh em razão de 10 n ser uma sequência decrescente no
corpo ordenado R, o qual satisfaz à Propriedade do Supremo. Prova-se que o ínfimo dessa sequência
não pode ser positivo e é o limite daquela sequência.
26
Embora a sequência {qn } seja constituída inteiramente de números racionais e se
aproxime de um determinado valor, ela não tende a um número racional quando n ! 1.
Tal fato indica que os números racionais não são “completos” em um sentido peculiar re-
lacionado a uma classe de sequências que têm “potencial de convergência” mas convergem
apenas em uma extensão de Q.
{xn } = x1 x2 x3 . . .
uma sequência em D.
nh 6 n ) |xn l| < h.
|l l0 | = |(l xn ) + (xn l0 )|
6 |l xn | + |xn l0 |
h h
< +
2 2
= h,
27
Demonstração. Seja l 2 E D. Como o domínio ordenado D é denso em E, para cada
número natural n existe um xn 2 D tal que |xn l| < 1/2n. Como E é arquimediano,
temos xn ! l quando n ! 1, visto que todo elemento positivo de E é maior que algum
número racional da forma 1/2n para algum número natural n suficientemente grande. Se
h for um elemento positivo de D, então existirá um número natural nh com 1/nh < h, e se
além disso m e n forem números naturais maiores que nh , então teremos
|xm xn | 6 |xm l| + |l xn |
1 1
< +
2m 2n
1 1
< +
2nh 2nh
1
=
nh
< h,
Exemplo 1.69. Como vimos, {qn } é uma sequência de Cauchy que não é convergente
em Q. Portanto, o corpo ordenado Q não é Cauchy-completo, e, como Q é um domínio
ordenado imerso em Q [x], temos que Q [x] não é Cauchy-completo.
Exemplo 1.70. O corpo ordenado dos números reais, R, é Cauchy-completo. Tal fato é
provado em (14).
Exemplo 1.71. Se n for um número natural que não é um quadrado perfeito, então o
p p
domínio ordenado Z ( n) (Exemplo 1.5) não será Cauchy-completo, visto que Z ( n) é
denso em R e que todo número natural é inversível em R (Proposição 1.67).
(q )
Xn
Exemplo 1.72. Seja cn,i xi uma sequência arbitrária em R [x] (Exemplo 1.6).
i=0
Suponha que essa sequência é de Cauchy. Assim, para todo h > 0 em R [x] existe um
número natural nh tal que para quaisquer números naturais m e n temos
qm qn
X X
m, n > nh ) cm,i x i
cn,i xi < h.
i=0 i=0
qm
X
Em particular, se h for um número real positivo e m, n > nh , então os polinômios cm,i xi
i=0
qn
X
e cn,i xi terão o mesmo grau e diferirão apenas no coeficiente da potência x0 , ou seja,
i=0
teremos qm = qn , cm,i = cn,i 8i 2 [1, qm ]N0 , e |cm,0 cn,0 | < h. Seja q o valor constante
28
que a sequência {qn }n2N eventualmente assume, e, para cada número natural i
com 1 6 i 6 q, seja ci o valor constante que a sequência {cn,i }n2N eventualmente assume.
A sequência {cn,0 }n2N é de Cauchy em R, e, como R é Cauchy-completo, tal sequência
converge para um número real c0 . Prova-se diretamente que
(q ) ( q )
X n
X
cn,i xi ! ci xi
i=0 i=0
Exemplo 1.73. Considere a sequência {an (x)} em R (x) (Exemplo 1.15) dada por
n 1 n
1 X i X 1
an (x) := · x =
xn i=0 i=1
xi
(m n 1) + l < m + k,
resultando em
Xm Xn
1 1
|am (x) an (x)| =
i=1
xi i=1
xi
Xm
1
=
i=n+1
xi
m n
1 X 1
= n·
x i=1
xi
mX
n 1
1 1
= n· m n
· xi
x x i=0
1 + x + x + · · · + xm
2 n 1
=
xm
u (x)
< ,
v (x)
e provando que {an (x)} é uma sequência de Cauchy.
Provaremos que a sequência {an (x)} não é convergente. Suponha que p(x)/q(x)
r
X s
X
é o limite dessa sequência em R (x), com p (x) = ci x , cr 6= 0, q (x) =
i
d i xi , e
i=1 i=1
29
ds = 1. Como {an (x)} é crescente, a fração p(x)/q(x) é o supremo dessa sequência, e temos
1/x < p(x)/q(x), resultando em 0 < x · p (x) q (x) e s 6 r + 1. O cenário s 6 r pode ser
facilmente descartado visto que nesse caso teríamos cr/2 < p(x)/q(x), contradizendo o fato
de que p(x)/q(x) é o supremo da sequência {an (x)}. Portanto, temos s = r + 1, e, como
0 < x · p (x) q (x), temos 1 < cr . Nota-se que a1 (x) < (x+2)/x2 < p(x)/q(x), e temos
1 1 1 1
an (x) = + 2 + 3 + ··· + n
x x x x
n 2 vezes
z }| {
1 1 1 1 1
< + 2+ + + ··· +
x x (n 2) x2 (n 2) x2 (n 2) x2
x+2
=
x2
para todo n > 1, ou seja, (x+2)/x2 é uma cota superior da sequência {an (x)}, o que é ab-
surdo pois p(x)/q(x) é o supremo dessa sequência. Provamos que {an (x)} não é convergente,
e o corpo ordenado R (x) não é Cauchy-completo.
( 1 )
X
Exemplo 1.74. Seja cn,i xi uma sequência arbitrária em L (Exemplo 1.7). Supo-
i=pn
nha que essa sequência é de Cauchy. Isso significa que para todo h (x) > 0 em L existe
um número natural nh tal que
1
X 1
X
i
cu,i x cv,i xi < h (x)
i=pu i=pv
1
X 1
X
cu,i x i
cn0 ,i xi < x0 = 1 (8u > n0 ) ,
i=pu i=pn0
Em particular, para cada número inteiro i < p a sequência {cn,i }n>1 eventualmente
estabiliza-se no valor 0.
30
Seja k um número inteiro qualquer, e sejam u e v dois números naturais maiores ou
iguais a nk . Por indução sobre i, prova-se diretamente que cu,i cv,i = 0 (8i < k). Como
k é arbitrário, temos que para cada número inteiro i a sequência {cn,i }n>1 eventualmente
estabiliza-se em um número real ri para todo n maior ou igual a um número natural Ni ,
ou seja, cn,i = ri (8n > Ni ). Pelo parágrafo anterior, temos rn = 0 (8n < p) e {rn } 2 L.
1
X 1
X 1
X
Mostraremos que i
cn,i x ! ri x quando n ! 1. Seja h (x) :=
i
ei xi em
i=pn i=p i=a
L com 0 < ea , e seja
Assim, se n for um número natural com nh 6 n, então cn,i = ri (8i 6 max {p, a}),
e teremos
1
X 1
X X1
i i
cn,i x ri x = (cn,i ri ) · xi < h (x) ,
i=pn i=p i=max{p,a}+1
( 1
)
X
provando que a sequência cn,i xi é convergente e o corpo ordenado L é
i=pn
Cauchy-completo.
Na Seção 5.6 veremos um exemplo de um corpo ordenado tal que toda sequência
de Cauchy é eventualmente constante, e, por conseguinte, tal corpo ordenado é
Cauchy-completo.
O teorema a seguir tem importância substancial para a teoria dos corpos ordena-
dos, e sua demonstração pode ser encontrada em (14). Além de estabelecer um vínculo
entre os principais conceitos vistos neste capítulo, ele revela a singularidade do corpo
ordenado dos números reais.
• K é arquimediano e Cauchy-completo;
• K é Dedekind-completo.
De fato, o corpo ordenado dos números reais, R, é o único corpo ordenado que satisfaz às
condições equivalentes mencionadas, salvo isomorfismos.
Sintetizando o que vimos até este ponto, podemos agrupar os domínios e corpos
ordenados em quatro classes:
31
Tabela 2 – Classificação dos domínios ordenados
Cauchy-incompleto Cauchy-completo
Não arquimediano R (x) , Q [x] Z [x] , R [x] , L
p
Arquimediano Q, Z ( n) Z, R
Exemplo 1.77. O corpo ordenado das funções racionais, R (x) (Exemplo 1.15), é uma
extensão de R.
Exemplo 1.78. O corpo ordenado das séries de Laurent, L (Exemplo 1.7), é uma extensão
de R.
Teorema 1.80. Se x for um elemento finito de D, então existirá um único número real
r tal que x ⇠ r.
32
Se x + h < r, então x < r h e r h é uma cota superior de A em R, o que é absurdo
pois 0 < h e r h < r = supR (A). Portanto, temos
x h 6 r 6 x + h,
Definição 1.81. A função parte standard associada a D, stD : Fin (D) ! R, é a função
que associa cada elemento finito x em D ao único número real stD (x) tal que x ⇠ stD (x).
Denotaremos tal função simplesmente por st quando o domínio ordenado D em questão
estiver implícito no contexto.
Proposição 1.82. A função st : Fin (D) ! R é um morfismo entre domínios não es-
tritamente ordenados. Ou seja, as seguintes condições são observadas para quaisquer
x, y 2 Fin (D):
Demonstração. As letras (a), (b) e (c) são consequências imediatas do Teorema 1.18.
0 6 st (y x) = st (y) st (x) .
33
1.11 Análise Diferencial e Integral em Extensões de R
A Análise Real é repleta de resultados amplamente aplicáveis a diversas áreas do
conhecimento, como a Física e as Engenharias. A ampla aplicabilidade dos números reais
decorre em razão de eles modelarem satisfatoriamente a intuição que temos das grandezas
contínuas como as distâncias e o tempo. De fato, é possível argumentar que nenhum
outro objeto matemático foi tão útil e benéfico ao desenvolvimento teórico-científico como
o conjunto R.
Porém, tal corpo ordenado é arquimediano. Isso significa que ele não contém
quantidades infinitesimais e infinitas, as quais são bastante úteis na exploração de novos
conceitos e resultados na Ciência e na Matemática. Essa aparente imperfeição levou
muitos a questionarem a possibilidade de substituir o conjunto dos números reais por
uma extensão deste a um corpo ordenado não arquimediano que ainda goze de muitas
das qualidades que os números reais possuem.
É desejável que o desenvolvimento de uma teoria acerca de um substituto de R
contenha resultados precisos, notáveis e utilitários sobre a convergência de séries de potên-
cias, as expansões de funções diferenciáveis em séries de Taylor e as equações diferenciáis
ordinárias e parciais, entre outros temas. Ademais, versões renovadas de teoremas intui-
tivos relacionados à noção de continuidade, como o Teorema do Valor Intermediário, o
Teorema do Valor Médio e o Teorema Fundamental do Cálculo, são indispensáveis para
a teoria de um sistema numérico que seja proposto para sobrepor os números reais. Duas
construções não arquimedianas apresentadas que cumprem essas demandas são os corpos
de números surreais (16, 24, 31) e o corpo de Levi-Civita (48, 49). Construído mediante
uma variedade de métodos da área conhecida como Análise Não Standard, o corpo or-
denado dos números hiper-reais, o qual é denotado por ⇤ R, é um sistema numérico não
arquimediano que satisfaz a todas as propriedades desejáveis para uma extensão
de R. A edificação da Análise Hiper-real como uma proposta persuasiva de substituição
de R por ⇤ R está fora do escorpo deste trabalho, e pode ser encontrada em (43, 45, 50).
No Capítulo 2, estabeleceremos de modo informal os princípios que regem o com-
portamento e a aplicabilidade dos números hiper-reais. Veremos que o resultado conhe-
cido como Princípio da Transferência permite que determinações sejam bilateralmente
transferidas entre os sistemas dos números reais e dos números hiper-reais. Essa peculia-
ridade viabiliza um procedimento proveitoso que permite que vários resultados da Análise
Real sejam provados de maneira mais espontânea, direta e intuitiva.
34
2
Visão Ingênua dos Números Hiper-reais
1. R é um R-conjunto;
2. Todo subconjunto de um R-conjunto é um R-conjunto;
3. Se A for um R-conjunto, então P (A) será um R-conjunto;
4. Toda união de R-conjuntos é um R-conjunto.
Nos Capítulos 4 e 5, veremos que, para os propósitos desta dissertação, será ne-
cessário restringir a propriedade 4 de modo que apenas algumas uniões específicas de
R-conjuntos necessariamente serão R-conjuntos (Teorema 4.8, Letra (d)).
O leitor familiarizado com a Teoria dos Conjuntos perceberá que a classe dos
objetos relacionados a R (resp. ⇤ R) será igual ao universo de von Neumann (Exemplo
B.8), o qual é dado por (Seção B.5)
⇢ [
.
V = x .. x = x = V .
2On
Proposição 2.2.
Demonstração.
36
A letra (b) é consequência imediata da (a).
(c) Se a 2 A e b 2 B, então, pelas letras (a) e (b), teremos que (a, b) e {(a, b)} são
R-conjuntos, implicando que a união
[
A⇥B = {(a, b)}
a2A,b2B
será um R-conjunto.
Em geral, assumiremos que o leitor tem a mestria para demonstrar que um objeto
matemático é relacionado a R ou ⇤ R, e nos pouparemos desse tipo de incumbência
neste trabalho.
37
– A notação de vinculação relacional infixal: xyz representa que o par ordenado
cujas respectivas primeira e segunda coordenadas são x e z pertence à relação
binária y.
Se pelo menos uma variável da lista x1 . . . xn aparece livre em , então dizemos que é
aberta, e caso contrário dizemos que é fechada. Se é aberta e nenhum objeto ma-
temático fixo aparece em , então dizemos que é completamente aberta. Condições
fechadas ou são verdadeiras ou são falsas. Se todo objeto matemático fixo que aparece
em é um objeto relacionado a R (resp. ⇤ R), então dizemos que é uma condição
relacionada a R (resp. ⇤ R) ou uma R-condição (resp. ⇤ R-condição).
Teorema 2.3 (⇤-Transformações de Objetos - Versão Ingênua). Existe uma função inje-
tora ⇤ tal que:
(d) ⇤ (R) = ⇤ R;
(e) Se A for um R-conjunto, então ⇤ hAi ⇢ ⇤ (A), e se além disso A for infinito, então
⇤ hAi ( ⇤ (A). Em particular, N ( ⇤ (N) e R ( ⇤ (R);
38
Tal função ⇤ é dita ser um monomorfismo não standard.
A letra (f ) do Teorema 2.3, conhecida como Princípio da Transferência (PT),
estabelece um elo lógico entre as propriedades dos R-objetos e as propriedades
dos ⇤ R-objetos.
A condição fechada (⇤ (a1 ) · · · ⇤ (an )) relacionada a ⇤ R, mencionada no enunciado
do PT, é dita ser a ⇤-transformação da condição fechada (a1 . . . an ).
Notação 2.4. Se a for um R-objeto, então a ⇤-transformação de a, dada por ⇤ (a), será
denotada por ⇤ a.
(b) a = b , ⇤ a = ⇤ b;
(c) a 2 A , ⇤ a 2 ⇤ A; (e) ⇤
; = ;.
Demonstração. A letra (a) é consequência evidente da letra (e) do Teorema 2.3, e a letra
(b) é uma releitura da injetividade da função ⇤. Os resultados das letras (c) , (d) e (e)
seguem ao aplicarmos o Princípio da Transferência às respectivas condições fechadas dadas
por a 2 A, (8x 2 A) (x 2 B) e (8x 2 ;) (x 6= x).
Exemplo 2.7. Como vimos, se A for um R-conjunto (finito ou infinito), então ⇤ A ⇤ hAi
será o conjunto dos elementos não standard de ⇤ A. Nesse caso, se A for infinito, então ⇤ A
terá pelo menos um elemento não standard.
Exemplo 2.8. Seja (x1 . . . xn ) uma condição completamente aberta, e seja a1 . . . an uma
sequência de R-objetos. Todo objeto matemático fixo que aparece na condição fechada
39
(⇤ a1 . . . ⇤ an ) é standard. Portanto, ao aplicarmos o PT nenhum objeto não standard
pode aparecer na ⇤ R-condição fechada envolvida.
(x1 . . . xn , y1 . . . yp )
uma condição completamente aberta, seja R um R-conjunto que é uma relação n-ária, e
sejam a1 . . . ap R-objetos. Sejam
⇢
.
C := (t1 . . . tn ) 2 R .. (t1 . . . tn , a1 . . . ap ) é verdadeira
e ⇢
.
D := (t1 . . . tn ) 2 ⇤ R .. (t1 . . . tn , ⇤ a1 . . . ⇤ ap ) é verdadeira .
Temos ⇤ C = D.
(8x 2 R) (x 2 C , (x, a1 . . . ap ))
(8x 2 ⇤ R) (x 2 ⇤ C , (x, ⇤ a1 . . . ⇤ ap ))
também é verdadeira.
Exemplo 2.10. Considere um intervalo [a, b]R entre dois números reais a e b com a 6 b,
o qual é definido por ⇢
.
[a, b]R := x 2 R .. a 6 x 6 b .
Corolário 2.11.
⇢
.
(a) N = x 2 ⇤ Z .. 0
⇤ ⇤
< x ;
⇢
.
(b) Z = x 2 ⇤ Q .. x 2 ⇤ N ou ( 1)
⇤ ⇤
· x 2 ⇤N ;
⇢
.
(c) Q =
⇤
x 2 ⇤ R .. (9p, q 2 ⇤ Z) (q 6= 0 e x = ⇤ ÷ (p, q)) .
40
2.6 Propriedades Conjuntistas de ⇤
A função ⇤ preserva algumas operações básicas da Teoria dos Conjuntos.
(a) ⇤
{a, b} = {⇤ a, ⇤ b} ; (d) ⇤
(A \ B) = ⇤ A \ ⇤ B;
(b) ⇤
(a, b) = (⇤ a, ⇤ b) ; (e) ⇤
(A B) = ⇤ A ⇤
B;
(c) ⇤
(A [ B) = ⇤ A [ ⇤ B; (f ) ⇤
(A ⇥ B) = ⇤ A ⇥ ⇤ B;
• 1 (x, y1 , y2 ) := x = y1 _ x = y2 ; • 4 (x, U, V ) := x 2 U ^ x 62 V ;
• 2 (x, U, V ) := x 2 U _ x 2 V ;
• 3 (x, U, V ) := x 2 U ^ x 2 V ; • 5 (x1 , x2 , U, V ) := x1 2 U ^ x2 2 V,
Pela letra (e) do Teorema 2.3, temos que se A for um R-conjunto infinito, então
teremos ⇤ hAi ( ⇤ A. A recíproca desse fato também é válida.
Teorema 2.13. Para todo R-conjunto A, teremos ⇤ hAi ( ⇤ A se, e somente se,
A for infinito.
Demonstração. Basta provar a condição necessária. Se A for finito, então ele poderá ser
escrito na forma A = {x1 . . . xn }, onde x1 . . . xn são R-objetos. Nesse caso, pelo Teorema
2.12, teremos ⇤ A = {⇤ x1 . . . ⇤ xn } = ⇤ hAi.
Pelo Exemplo 2.7, o Teorema 2.13 pode ser reescrito com as seguintes palavras:
⇤
A terá elementos não standard se, e somente se, A for infinito.
A função ⇤ preserva algumas noções básicas referentes às relações e funções.
(a) ⇤
R ⇢ ⇤ A ⇥ ⇤ B; (c) Im (⇤ R) = ⇤ (Im (R)) ;
41
(d) ⇤
R h⇤ Di = ⇤ (R hDi) (8D ⇢ dom (R)) ; (f ) ⇤
R ⇤
S = ⇤ (R S) .
1
(e) (⇤ R) = ⇤ (R 1 ) ;
(g) ⇤
f : ⇤ A ! ⇤ B; (i) f será injetora se, e somente se, f
⇤
for injetora;
(j) ⇤
f será sobrejetora se, e somente se, f
(h) ⇤
f (⇤ x) = ⇤ (f (x)) (8x 2 A) ; for sobrejetora.
• 4 (x1 , x2 , U ) := (x2 , x1 ) 2 U ;
Pela letra (d) do Corolário 2.5, as ⇤-transformações dos conjuntos dom (R), Im (R), R hDi,
R 1 e R S estão contidas em ⇤ M . Os resultados das letras (b), (c), (d), (e) e (f ) seguem
ao aplicarmos o PDS às condições 1 , 2 , 3 , 4 e 5 , respectivamente, onde a variável T
deve ser substituída pelo conjunto M .
Sejam 6, 7 e 8 as seguintes condições completamente abertas:
42
2.7 Domínios e Corpos Ordenados Relacionados a ⇤R
As classes de estruturas dos domínios ordenados e dos corpos ordenados
são fechadas sob ⇤-transformações, uma vez que tais classes são axiomatizáveis na lógica
de primeira ordem.
Teorema 2.15.
Demonstração.
(a) Os axiomas 1-15 (Seção 1.1) se tornam condições fechadas quando substituímos
cada ocorrência dos quantificadores (8x) e (9x) por (8x 2 D) e (9x 2 D), respecti-
vamente. O resultado segue pelo PT.
(b) O axioma (InvM) (Seção 1.2) se torna uma condição fechada quando substituímos
cada ocorrência dos quantificadores (8x) e (9x) por (8x 2 K) e (9x 2 K), respecti-
vamente. O resultado segue pelo PT.
(8x 2 D) x + f (x) = 0
e
(8x 2 K {0}) x · g (x) = 1
(8x 2 ⇤ D) x ⇤
+ ⇤ f (x) = 0
43
e
(8x 2 ⇤ K {0}) x ⇤
· ⇤ g (x) = 1
Exemplo 2.17. Todo número real positivo tem uma raiz quadrada, ou seja, a condição
(8x 2 ⇤ R) (0 ⇤
< x ) (9y 2 ⇤ R) x = y ⇤
· y)
é verdadeira. Nota-se que os corpos ordenados L e R (x) (Exemplos 1.7 e 1.15) não ob-
servam essa propriedade, e, portanto, não são extensões de R que satisfazem ao Princípio
da Transferência.
Teorema 2.18.
(a) N = Z \ ⇤ N; (d) ⇤
N1 = ⇤ Z1 \ ⇤ N;
(b) Z = Q \ ⇤ Z; (e) ⇤
Z1 = ⇤ Q1 \ ⇤ Z;
(c) Q = R \ ⇤ Q; (f ) ⇤
Q1 = ⇤ R1 \ ⇤ Q.
Teorema 2.19. Todo número hipernatural que não é um número natural é infinito.
Assim, temos ⇤ N = N [ ⇤ N1 e ⇤ Z = Z [ ⇤ Z1 , onde tais uniões são disjuntas.
44
Demonstração. Suponha que n 2 ⇤ N N e n é finito. Assim, existe um número natural
m tal que n ⇤ 6 m. A condição fechada
(8y 2 N) (y 6 m ) (y = 1 _ y = 2 _ · · · _ y = m))
(8y 2 ⇤ N) (y ⇤
6 m ) (y = 1 _ y = 2 _ · · · _ y = m))
Demonstração. Pela letra (e) do Teorema 2.3, o conjunto ⇤ Z tem um elemento infinito, e,
pela letra (d) do Corolário 2.5, temos que ⇤ Q e ⇤ R também têm um elemento infinito.
Notação 2.21 (Identificações Usuais). Símbolos que comumente denotam relações n-árias
em R serão usados para denotar as ⇤-transformações dessas relações. Assim, se ⇧ for um
símbolo usual usado (na literatura clássica) para denotar uma relação R ⇢ A ⇥ B com
A, B ⇢ R, então a relação ⇤ R ⇢ ⇤ A ⇥ ⇤ B também será denotada por ⇧.
Como funções são relações, tal notação também será aplicada para funções. Como
exemplo, se x e y forem dois números hiper-reais, então denotaremos a soma x ⇤ + y por
x + y, e se além disso x for positivo e f : (0, 1)R ⇥ R ! (0, 1)R for a função definida por
f (x, y) := xy , então denotaremos o número hiper-real positivo ⇤ f (x, y) por xy .
= [a, b]⇤ R .
Assim, pelo Teorema 2.15, temos que as ⇤-transformações dos intervalos em R são inter-
valos em ⇤ R entre números reais.
45
Proposição 2.23. O conjunto ordenado das galáxias em ⇤ Z é denso.
st Fin(⇤ Q) : Fin (⇤ Q) ! R
é verdadeira, temos pelo PT que existe um número hiper-racional z tal que r < z < r + h.
Assim, z é finito, z ⇠ r, e st (z) = r.
46
Pelo Teorema 1.40, temos o seguinte corolário.
⇤
f (M ) + Inf (⇤ Q) 2 Fin (⇤ Q) /Inf (⇤ Q)
47
uma cota superior tem um supremo em ⇤ R, e, como sabemos (Seção 1.7), o mesmo ocorre
para os subconjuntos de R que têm uma cota superior. Todavia, existem subconjuntos de
⇤
R que têm uma cota superior mas não têm um supremo, tal como o conjunto N, e tais
objetos são externos.
As provas dos dois teoremas a seguir serão descritas na Seção 4.3.
Teorema 2.26.
A letra (b) do Teorema 2.26 implica que se uma n-tupla ordenada (a1 . . . an ) de
⇤
R-objetos for interna, então cada ai será interno.
(x1 . . . xn , y1 . . . yp )
⇢
.
S := (t1 . . . tn ) 2 R .. (t1 . . . tn , a1 . . . ap ) é verdadeira
é interno.
Exemplo 2.28. Sejam a e b dois números hiper-reais com a 6 b. O intervalo [a, b]⇤ R é
definido por ⇢
.
[a, b]⇤ R := x 2 ⇤ R .. a 6 x 6 b ,
e, como ⇤ R, a, b e 6 são objetos internos, temos pelo PDI que o intervalo [a, b]⇤ R é interno.
Analogamente, qualquer intervalo aberto, fechado ou semi-aberto em ⇤ N, ⇤ Z, ⇤ Q
e ⇤ R é interno.
(u, f (u) , a1 . . . ap )
é interna.
48
Demonstração. Basta notar que
⇢
.
f = (u, v) 2 R .. (u, v, a1 . . . ap ) é verdadeira
e aplicar o PDI.
A [ B, A \ B, A B e A⇥B
serão internos;
(c) Se R for uma relação interna, e se A for um conjunto interno, então R 1 , dom (R)
e R hAi serão internos.
• 1 (x, y1 , y2 ) := x = y1 _ x = y2 ; • 5 (x1 , x2 , U, V ) := x1 2 U ^ x2 2 V ;
1
Não é possível confirmar a existência desse conjunto neste capítulo. Na Seção 4.3, veremos que o apro-
visionamento dessa peça imprescindível para a presente demonstração é completamente justificável.
49
Denotaremos o conjunto dos objetos internos por I.
O teorema a seguir será provado na Seção 4.4.
B = I \ Int( A, 6) (⇤ B) onde
Int(A,6) ⇤ ⇤
(a) ⇤
P n (A) = I \ P n (⇤ A), onde n 2 N; (c) ⇤
Exemplo 2.32. Pelo Princípio da Boa Ordenação (Teorema B.12), a condição fechada
é verdadeira. Pelo PT e pela letra (a) do Teorema 2.31, todo subconjunto interno não
nulo de ⇤ N tem um menor elemento. Analogamente, como todo subconjunto não nulo
de N que é limitado superiormente tem um maior elemento, temos que todo subconjunto
interno não nulo de ⇤ N que é limitado superiormente tem um maior elemento.
Suponha que o conjunto dos números naturais é interno. Assim, a diferença
⇤
N N = ⇤ N1 é interna (Teorema 2.30, Letra (b)), e, como ela é não nula (Teorema 2.3,
Letra (e)), ela tem um menor elemento N . Como N é infinito, temos n < N (8n 2 N),
resultando em n < N 1 (8n 2 N) e N 1 2 ⇤ N1 , o que é absurdo visto que N 1 < N .
Portanto, o conjunto N é externo.
Exemplo 2.34. Como ⇤ N é standard, temos que ⇤ N é interno. Já o conjunto das partes
P (⇤ N) não pode ser interno, pois caso contrário o elemento N 2 P (⇤ N) também seria
interno (Teorema 2.26, Letra (b)), o que é absurdo (Exemplo 2.32). Assim, o conjunto
das partes de um conjunto interno não é necessariamente interno.
será interno, e, como ⇤ f é injetora (Teorema 2.14, Letra (i)), teremos que
(⇤ f ) 1 h⇤ f hNii = N é interno, o que é absurdo (Exemplo 2.32).
50
Int(Z,<)
Exemplo 2.36. Seja D : R ! P (Z) a função definida por D (x) := dom (x).
Assim, a condição fechada
Exemplo 2.37. Denotaremos por Psup (R) o conjunto dos subconjuntos de R que têm
um supremo, ou seja
⇢
.
Psup (R) := S ⇢ R .. S tem um supremo
⇢
.
= S 2 P (R) .. (9M 2 R) ((8x 2 S) x 6 M ^ (8N 2 R) ((8x 2 S) x 6 N ) M 6 N ))
Denotaremos por Pinf (R) o conjunto dos subconjuntos de R que têm um ínfimo.
Analogamente ao procedimento que vimos, obtém-se que ⇤ Pinf (R) é o conjunto dos sub-
conjuntos internos de ⇤ R que têm um ínfimo.
Exemplo 2.38. Sejam Sup : Psup (R) ! R e Inf : Pinf (R) ! R as funções respectiva-
mente definidas por
Sup (S) := sup (S) e Inf (S) := inf (S) .
Assim sendo, temos que as condições fechadas
(8S 2 Psup (R)) ((8x 2 S) x 6 Sup (S) ^ (8N 2 R) ((8x 2 S) x 6 N ) Sup (S) 6 N ))
(8S 2 Pinf (R)) ((8x 2 S) Inf (S) 6 x ^ (8N 2 R) ((8x 2 S) N 6 x ) N 6 Inf (S)))
(8S 2 ⇤ Psup (R)) ((8x 2 S) x 6 ⇤ Sup (S) ^ (8N 2 ⇤ R) ((8x 2 S) x 6 N ) ⇤ Sup (S) 6 N ))
51
e
(8S 2 ⇤ Pinf (R)) ((8x 2 S) ⇤ Inf (S) 6 x ^ (8N 2 ⇤ R) ((8x 2 S) N 6 x ) N 6 ⇤ Inf (S)))
são verdadeiras. Portanto, as funções ⇤ Sup : ⇤ Psup (R) ! ⇤ R e ⇤ Inf : ⇤ Pinf (R) ! ⇤ R são
tais que
⇤
Sup (S1 ) = sup (S1 ) e ⇤ Inf (S2 ) = inf (S2 )
são externos.
é verdadeira, e os conjuntos Inf (⇤ Q) , Inf (⇤ Irr) , Inf (⇤ R) , Fin (⇤ Q) , Fin (⇤ Irr) e Fin (⇤ R)
não podem ser internos, visto que todos eles têm uma cota superior em ⇤ R e nenhum deles
tem um supremo.
Os conjuntos ⇤ N, ⇤ Z e ⇤ Q são standard, e, portanto, são internos. Como temos
⇤
N1 = ⇤ N \ ⇤ Z 1 ;
⇤
Z1 = ⇤ Z \ ⇤ Q1 ;
⇤
Q 1 = ⇤ Q \ ⇤ R1 ,
pela letra (b) do Teorema 2.30 temos que os conjuntos ⇤ Z1 , ⇤ Q1 e ⇤ R1 são externos.
52
2.10 Aplicações no Cálculo Diferencial
O Princípio da Transferência permite que as noções básicas do Cálculo Diferencial
possam ser reescritas em termos dos números hiper-reais, e essas novas perspectivas muito
se assemelham às interpretações que uma série de matemáticos dos séculos XVII e XVIII
nutriam acerca desses conceitos.
O Teorema 2.41, o Teorema 2.46 e o Corolário 2.47 desta seção apresentam algu-
mas dessas traduções dos conceitos do Cálculo para a Análise Não Standard. Antes de
enunciarmos tais resultados, introduziremos a seguinte notação:
Notação 2.40. Sejam I e R dois conjuntos relacionados a R, e seja {xi }i2I uma família de
elementos de R com índices em I. Se j for um elemento de ⇤ I, então denotaremos por xj
o elemento ⇤ f (j) do conjunto ⇤ R, onde f é a função I ! R definida por f (i) := xi . No
caso I = [n0 , 1)Z para algum n0 2 Z, dizemos que a família
{⇤ f (i)}i2⇤ I = {⇤ f (n)}n>n⇤ 0
n2 Z
(a) I será limitado superiormente se, e somente se, todo elemento positivo de
⇤
I for finito;
(b) i0 será um ponto de acumulação3 de I pela esquerda se, e somente se, tivermos
i ⇠ i0 para algum i 2 ⇤ I menor que i0 .
53
(c) lim fi = f pontualmente em S se, e somente se, fi (x) ⇠ ⇤ f (x) para todo i 2 i0 \ ⇤ I
i!i0
menor que i0 e para todo x 2 ⇤ hSi ;
(d) lim fi = f uniformemente em S se, e somente se, fi (x) ⇠ ⇤ f (x) para todo i 2 i0 \⇤ I
i!i0
menor que i0 e para todo x 2 ⇤ S.
(e) f será uniformemente contínua em S se, e somente se, ⇤ f (x) ⇠ ⇤ f (y) para quais-
quer x, y 2 ⇤ S com x ⇠ y;
(f ) lim f (x) = l se, e somente se, ⇤ f (x) ⇠ l para todo x 2 x0 \ ⇤ S menor que x0 ;
x!x0
x2S
(g) f será uma função de Cauchy nas proximidades de x0 em S pela esquerda se, e
somente se, ⇤ f (x) ⇠ ⇤ f (y) para quaisquer x, y 2 x0 \ ⇤ S menores que x0 ;
Suponha que x0 2 S.
(j) f terá um máximo local nas proximidades de x0 em S pela esquerda se, e somente
se, ⇤ f (x) 6 f (x0 ) para todo x 2 x0 \ ⇤ S menor que x0 ;
(k) f será contínua em x0 pela esquerda se, e somente se, ⇤ f (x) ⇠ f (x0 ) para todo
x 2 x0 \ ⇤ S menor que x0 .
(l) f será diferenciável em x0 pela esquerda com derivada b se, e somente se, tivermos
⇤
f (x) f (x0 )
⇠b
x x0
para todo x 2 x0 \ ⇤ S menor que x0 .
Demonstração. Provaremos tais afirmações apenas para o caso em que os números reais
estendidos i0 , l e x0 são finitos, e as provas dos casos em que i0 , l ou x0 são números reais
estendidos infinitos são análogas às que veremos aqui.
54
(a) Se I for limitado superiormente, então existirá um número real positivo r tal que
i < r (8i 2 I), e, pelo PT, teremos i < r (8i 2 ⇤ I), implicando na condição necessária
da afirmação. Reciprocamente, se todo elemento positivo de ⇤ I for finito, então a
condição fechada
(9r 2 ⇤ R) (0 < r ^ (8i 2 ⇤ I) i < r)
(b) Suponha que i0 é um ponto de acumulação de I pela esquerda. Isso significa que a
condição fechada
será verdadeira. Nesse caso, pelo PT, existirá um i 2 I com 0 < i0 i < ✏, resultando
que i0 será um ponto de acumulação de I pela esquerda.
55
é verdadeira. Se x, y 2 ⇤ S com x ⇠ y, então |x y| < ✏ , e pelo PT teremos
|⇤ f (x) ⇤ f (y)| < ✏, resultando em ⇤ f (x) ⇠ ⇤ f (y) pois ✏ é arbitrário. Reciproca-
mente, se ⇤ f (x) ⇠ ⇤ f (y) para quaisquer x, y 2 ⇤ S com x ⇠ y, e se ✏ for um número
real positivo, então a condição fechada
(f ) Suponha que o limite lim f (x) existe e é igual a l. Seja ✏ um número real positivo
x!x0
x2S
qualquer, e seja ✏ um número real positivo tal que a condição fechada
(g) Suponha que f é uma função de Cauchy nas proximidades de x0 em S pela esquerda.
Seja ✏ um número real positivo qualquer, e seja x✏ um elemento de S menor que x0
tal que a condição fechada
(9 2 ⇤ R) (0 ⇤
< ^ (8x 2 ⇤ S) (0 ⇤
< ⇤ M (x ⇤
a) ⇤
< ) ⇤ M (⇤ f (x) ⇤
l) ⇤
< ✏)) ,
onde M : R ! R é a função valor absoluto dada por M (x) := |x|, e, tendo em vista que
⇤
x = x (8x 2 R), tal condição também pode ser exprimida como
(9 2 ⇤ R) (⇤ 0 ⇤
< ^ (8x 2 ⇤ S) (⇤ 0 ⇤
< ⇤ M (x ⇤ ⇤
a) ⇤
< ) ⇤ M (⇤ f (x) ⇤ ⇤
l) ⇤
< ⇤ ✏)) ,
evidenciando o fato de que todo objeto matemático fixo que aparece nessa condição é um objeto
standard (Exemplo 2.8) e facilitando o entendimento da aplicação do PT a essa condição. A incon-
veniência nítida de abandonar a Notação 2.21 consiste na abundância de asteriscos que ocorrem nas
⇤
R-condições fechadas.
56
é verdadeira. Se x, y 2 x0 \ ⇤ S com x, y < x0 , então teremos x✏ < x e
x✏ < y, resultando pelo PT em |f (x) f (y)| < ✏ e f (x) ⇠ f (y) pois ✏ é arbitrário.
Reciprocamente, se ⇤ f (x) ⇠ ⇤ f (y) para quaisquer x, y 2 x0 \ ⇤ S menores que x0 , e
se ✏ for um número real positivo, então a condição fechada
(8✏ 2 R) (8x 2 S) ((0 < ✏ ^ x < x0 ) ) (9y 2 S) (x < y < x0 ^ |f (y) l| < ✏))
57
é verdadeira, e se x 2 x0 \ ⇤ S com x < x0 , então teremos 0 < x0 x < , e, pelo
PT, teremos ⇤ f (x) 6 f (x0 ). Se ⇤ f (x) 6 f (x0 ) para todo x 2 x0 \ ⇤ S menor que
x0 , então a condição fechada
⇤ 1 n
p N +N = N +N 1
Xn ✓ ◆
n 1 (n k)
= Nk N
k=0
k
Xn ✓ ◆
n
= N 2k n
k=0
k
= h + H + ⇤ p (N ) ,
onde
8
X ✓n ◆ <N n
+ nN 2 n
+ ··· + n
(n 2)/2 N 2
se n for par
h := N 2k n
=
k :N n
+ nN 2 n
+ ··· + n
N 1
se n for ímpar
06k< /2
n (n 1)/2
e
8
X ✓n ◆ < n
n/2 + n
(n+2)/2 N2 + · · · + n
Nn 2
se n for par
n 1
H := N 2k n
=
k : n
N+ n
N3 + · · · + n
Nn 2
se n for ímpar.
n /26k<n (n+1)/2 (n+3)/2 n 1
58
Se Z for um subconjunto limitado de R, e se u e v forem elementos de ⇤ Z com
u ⇠ v, então u e v serão números hiper-reais finitos (Teorema 2.41, Letra (a)), e teremos
un v n = (u v) · k, onde
k := un 1
+ u n 2 v 1 + · · · + u1 v n 2
+ vn 1.
Nas letras (c) e (d) do Teorema 2.41, note que ⇤ hSi ⇢ ⇤ S (Teorema 2.3, Letra
(e)), resultando que as famílias de funções reais que convergem uniformemente para uma
função real também convergem pontualmente para tal função.
Exemplo 2.44. Seja {f } 2(0,1) a família de funções f : (0, 1)R ! R dadas por
R
f (x) := e x . Mostraremos que lim f = 0 pontualmente mas não uniformemente. Seja
!1
um índice positivo e infinito, e seja x um número real em (0, 1)R = ⇤ h(0, 1)R i. Como
x é apreciável, o produto x é infinito (Teorema 1.18), resultando em e x ⇠ 0 visto que
lim e y = 0, e provando que lim f = 0 pontualmente (Teorema 2.41, Letra (c)). Além
y!1 !1
disso, temos
0⇠ 1
2 (0, 1)⇤ R = ⇤ ((0, 1)R )
e
1 1
e =e 6= 0,
provando que a família {f } 2(0,1)R não converge uniformemente para 0 (Teorema 2.41,
Letra (d)).
59
será verdadeira, resultando pelo PT que cada função fi com i 2 ⇤ I é definida em ⇤ S. Para
cada r 2 S, seja gr a função do tipo I ! R definida por gr (i) := fi (r). Assim,
a condição fechada
(8i 2 I) (gr (i) = g (i) (r))
(a) A família {fi }i2I convergirá pontualmente em S quando i ! i0 pela esquerda se, e
somente se, fi (x) ⇠ fj (x) para quaisquer i, j 2 i0 \ ⇤ I menores que i0 e
para todo x 2 ⇤ hSi ;
(b) A família {fi }i2I convergirá uniformemente em S quando i ! i0 pela esquerda se,
e somente se, fi (x) ⇠ fj (x) para quaisquer i, j 2 i0 \ ⇤ I menores que i0 e
para todo x 2 ⇤ S.
Demonstração. As provas das condições necessárias dessas duas equivalências são con-
sequências imediatas da transitividade da relação de proximidade infinita e das letras
(c) e (d) do Teorema 2.41. Considere a função g e as funções gr definidas no parágrafo
imediatamente anterior a este teorema.
(a) Suponha que fi (x) ⇠ fj (x) para quaisquer i, j 2 i0 \ ⇤ I menores que i0 e para todo
x 2 ⇤ hSi. Assim, se r for um elemento de S, então ⇤ r 2 ⇤ hSi, e teremos
⇤
gr (i) = fi (⇤ r) ⇠ fj (⇤ r) = ⇤ gr (j)
existe. Nota-se que a família {fi }i2I converge pontualmente em S para a função
f : S ! R definida por f (r) := lim fi (r) quando i ! i0 pela esquerda.
i!i0
(b) Suponha que fi (x) ⇠ fj (x) para quaisquer i, j 2 i0 \ ⇤ I menores que i0 e para todo
x 2 ⇤ S, seja f a função definida na prova da letra (a), e seja ✏ um número real
positivo. Pela letra (a), temos que lim fi = f pontualmente em S, e a
i!i0
condição fechada
(8x 2 S) (9 2 R) (0 < ^ (8i 2 I) (0 < i0 i< ) |g (i) (x) f (x)| < ✏))
60
é verdadeira. Seja x um elemento de ⇤ S. Portanto, pelo PT, existe um número
hiper-real positivo tal que, para cada i 2 ⇤ I com 0 < i0 i < , temos
|fi (x) ⇤ f (x)| < ✏, e podemos assumir6 que é infinitesimal. Seja7 j um elemento
de ⇤ I com 0 < i0 j < . Assim, temos j 2 i0 \ ⇤ I, j < i0 , |fj (x) ⇤ f (x)| < ✏, e
se i for um elemento de i0 \ ⇤ I menor que i0 , então fi (x) ⇠ fj (x) pela suposição,
e |fi (x) ⇤ f (x)| < ✏. Nesse caso, como ✏ é arbitrário, teremos fi (x) ⇠ ⇤ f (x),
provando que lim fi = f uniformemente em S (Teorema 2.41, Letra (d)).
i!i0
• I = [n0 , 1)Z e i0 = 1 nas letras (c) e (d) do Teorema 2.41 e nas letras (a) e (b) do
Teorema 2.46;
(a) lim fn = f pontualmente em S se, e somente se, fn (x) ⇠ ⇤ f (x) para todo n 2 ⇤ N1
n!1
e para todo x 2 ⇤ hSi ;
(b) lim fn = f uniformemente em S se, e somente se, fn (x) ⇠ ⇤ f (x) para todo
n!1
n 2 N1 e para todo x 2 ⇤ S;
⇤
Seja {xn }n>n0 uma sequência de números reais e seja l um número real estendido.
61
(f ) {xn }n>n0 será uma sequência de Cauchy se, e somente se, xm ⇠ xn para
quaisquer m, n 2 ⇤ N1 ;
(g) l será um ponto de acumulação de {xn }n>n0 se, e somente se, xn ⇠ l para
algum n 2 ⇤ N1 ;
(h) {xn }n>n0 será limitada superiormente se, e somente se, existir um número real M
tal que xn < M para todo n 2 ⇤ N1 .
(a) O limite lim f (x) existirá se, e somente se, a função f for uma função de Cauchy
x!x0
x2S
nas proximidades de x0 em S pela esquerda;
62
um elemento de x0 \ ⇤ S que é menor que x0 , então ⇤ f (y) será finito (Teorema 2.41,
Letra (i)), resultando em
⇤
f (z) ⇠ ⇤ f (y) ⇠ st (⇤ f (y))
Teorema 2.49. Seja f uma função real definida no intervalo compacto [a, b]R , onde
a, b 2 R com a < b. Se f for contínua em [a, b]R , então f será uniformemente contínua
em [a, b]R .
Demonstração. Sejam x e y dois elementos do conjunto ⇤ ([a, b]R ) = [a, b]⇤ R (Exemplo
2.10) tais que x ⇠ y. Assim, x e y são finitos. Seja r := st (x) = st (y). Como a função
parte standard associada a ⇤ R é um morfismo entre domínios não estritamente
ordenados, temos
st (a) 6 st (x) 6 st (b) ,
⇤
f (x) ⇠ f (r) ⇠ ⇤ f (y) ,
provando que f é uniformemente contínua em [a, b]R (Teorema 2.41, Letra (e)).
Teorema 2.50 (Teorema do Ponto Crítico). Seja f : (a, b)R ! R uma função diferen-
ciável em c 2 (a, b)R . Se f tiver um máximo local em c, então f 0 (c) = 0.
⇤ ⇤
f (c + h) f (c) f (c h) f (c)
f 0 (c) ⇠ 606 ⇠ f 0 (c)
h h
pela letra (l) do Teorema 2.41. Assim, temos f (c) ⇠ 0 e f 0 (c) = 0 (Proposição 1.79).
0
63
Teorema 2.51 (Teorema da Função Inversa). Seja f : (a, b)R ! R contínua, estritamente
monotônica e diferenciável em x 2 (a, b)R com f 0 (x) 6= 0. A função inversa g := f 1 é
diferenciável em y := f (x), e
1
g 0 (y) = 0 .
f (x)
64
2.11 Somas Hiperfinitas
Seja S : Int(Z,<) R ! R a função que associa uma sequência finita de números reais
à sua soma, ou seja, a função definida recursivamente sobre o comprimento das sequências
finitas em Int(Z,<) R como segue:
(S1) S {xi }m6i6m := xm para qualquer sequência {xi }m6i6m em Int(Z,<) R cujo conjunto
de índices é unitário;
(S2) S {xi }m6i6n := S {xi }m6i6n 1 + xn para qualquer sequência finita de números
reais {xi }m6i6n com m, n 2 Z e m < n.
Tais cláusulas definem os valores de S sobre cada sequência não nula pertencente a
Int(Z,<)
R, e, a fim de completar a definição de S, definimos S (;) := 0.10
Pelos Teoremas 2.14 e 2.31, temos que ⇤ S é uma função do tipo
⇤
I \ Int( Z,<) (⇤ R) ! ⇤ R, e, assim como fizemos na Notação 2.40, dizemos que as famílias
⇤
pertencentes ao conjunto Int( Z,<) (⇤ R) são hipersequências.11
xm + xm+1 + · · · + xn .
10
Como 0 2 R é o elemento neutro da adição, a função S pode ser definida pelas seguintes condições:
(S0) S (;) := 0;
⇣ ⌘ ⇣ ⌘
(S20 ) S {xi }m6i6n := S {xi }m6i6n 1 + xn para qualquer sequência finita de números reais
{xi }m6i6n com m, n 2 Z e m 6 n.
11
Em geral, os matemáticos chamam de sequências apenas as famílias cujos conjuntos de índices são
bem ordenados.
65
Teorema 2.53 (Propriedades das Somas Hiperfinitas). Se xm . . . xn . . . xp e ym . . . yn fo-
rem duas hipersequências internas de números hiper-reais (onde m 6 n < p são números
hiperinteiros), se r 2 ⇤ R, e se j 2 ⇤ Z, então teremos:
n
X n
X n
X
(a) (xi + r · yi ) = xi + r · yi ; (Linearidade)
i=m i=m i=m
n p p
X X X
(b) xi + xi = xi ; (Aditividade)
i=m i=n+1 i=m
n n+j
X X
(c) xi = xi j ;
i=m i=m+j
(Invariância Translacional)
n
X n
X
(d) xi 6 yi se xi 6 yi (8i 2 [m, n]⇤ Z ) ;
i=m i=m (Monotonicidade)
n
X n
X
(e) xi 6 |xi |.
i=m i=m (Desigualdade Triangular)
Demonstração. Sejam D, Sup e Inf as funções definidas nos Exemplos 2.36, 2.37 e 2.38,
sejam
⇢
Int(Z,<) 2 ..
E := (x, y) 2 R . D (x) = D (y) ,
⇢
.
5 := (x, y) 2 E .. (8S 2 P (Z)) (S = D (x) ) (8n 2 S) x (n) 6 y (n)) ,
e
⇢
Int(Z,<) 2 ..
C := (x, y) 2 R . D (x) 6= ; =
6 D (y) ^ Sup (D (x)) + 1 = Inf (D (y))
(r ⌦ x) (n) := r · x (n) ;
66
• Trans : Int(Z,<) R ! Int(Z,<) R definida de modo que D (Trans (x)) := D (x) + j e
Os resultados das letras (a), (b), (c), (d) e (e) seguem ao aplicarmos o PT às respectivas
condições fechadas a seguir:
n
X
Deixaremos para o leitor a demonstração da propriedade xi = xn .
i=n
Demonstração. Temos
n
X n
X n
X
(xi xi 1 ) = xi xi 1
i=m+1 i=m+1 i=m+1
n 1 n
! m+1 n
!
X X X X
= xi + xi xi 1 + xi 1
i=m+1 i=n i=m+1 i=m+2
! 0 1
n 1
X n 1
X
= xi + xn @x(m+1) 1 + x(i 1)+1
A
i=m+1 i=(m+2) 1
= xn xm .
67
Pode-se definir produtos hiperfinitos de hipersequências de números hiper-reais
de modo análogo ao que fizemos nesta seção para as somas, e, sistematicamente aplicando
o PT, prova-se que tais produtos hiperfinitos herdam várias propriedades dos produtos
finitos. Veremos no Capítulo 4 que é possível estender qualquer lei de composição as-
sociativa e interna em um conjunto interno para uma operação sobre hipersequências
hiperfinitas de elementos desse conjunto.
10 . 8x, y 2 Int(Z,<) R (8r 2 R) (dom (x) = dom (y) ) S (x + (r · y)) = S (x) + r · S (y)) ;
8x, y 2 Int(Z,<) R (8S 2 P (Z)) ((dom (x) = S = dom (y) ^ (8i 2 S) x (i) 6 y (i))
40 .
) S (x) 6 S (y)) ;
8x, y 2 Int(Z,<) R (8S 2 P (Z)) ((dom (x) = S = dom (y) ^ (8i 2 S) y (i) = |x (i)|)
50 .
) |S (x)| 6 S (y)) .
(SubS) Cada A0i (resp. ⇤ A0i ) é um “substituto satisfatório” para a classe Ai no contexto
dos R-conjuntos (resp. ⇤ R-conjuntos), de modo que a fórmula
(a1 . . . am , A1 . . . An ) (resp. (⇤ a1 . . . ⇤ am , A1 . . . An ))
68
seja metamatematicamente equivalente à fórmula
Nesse caso, por abuso de linguagem, a condição fechada (a1 . . . am , A01 . . . A0n ) é
denotada por
(a1 . . . am , A1 . . . An ) ,
(⇤ a1 . . .⇤ am , A1 . . . An ) .
Exemplo 2.55. Em diversas situações, poderemos empregar a função dom, a qual é defi-
nida na classe das funções cujos domínios são conjuntos, em nossas condições matemáticas.
Em particular, quando o contexto demandar uma função que compute o domínio das fun-
⇤ ⇤
ções pertencentes a Int(Z,<) R ou I \ Int( Z, <) (⇤ R), a função D (Exemplo 2.36) observará
(SubS) para a função-classe dom.
Exemplo 2.56. Em diversas situações, poderemos empregar a função sup, a qual é defi-
nida na classe das ordens parciais que têm um supremo, em nossas condições matemáticas.
Em particular, quando o contexto demandar uma função que compute o supremo dos ele-
mentos de Psup (R) ou ⇤ Psup (R) (Exemplo 2.37), a função Sup (Exemplo 2.38) observará
(SubS) para a função-classe sup.
D := ⇢ \ (P (R) ⇥ P (R)) .
69
é verdadeira, e, aplicando o PT a essa condição fechada, temos que a condição
(8S, T 2 I \ P (⇤ R)) (S ⇤
D T , (8x 2 S) x 2 T )
Exemplo 2.58. Seja Func a relação binária tal que (f, B) 2 Func se, e somente se,
tivermos que f é uma função com domínio R e contradomínio B, e seja F unc a relação
R
F unc := Func \ R ⇥ P (R) .
⇤ ⇤ R)
F unc ⇢ I \ ( (⇤ R) ⇥ (I \ P (⇤ R))
pelo Corolário 2.5 e pelos Teoremas 2.12 e 2.31. Claramente F unc é uma
restrição de Func. É possível (porém bastante maçante) obter uma R-condição fechada
que descreve a relação F unc plenamente, e, aplicando o PT a tal condição, obtém-se que
⇤
F unc é uma restrição de Func. Assim, quando o contexto demandar uma relação binária
⇤
que associe uma função em R R ou I \ ( R) (⇤ R) a um possível contradomínio em P (R) ou
I \ P (⇤ R) para tal função, a relação F unc observará (SubS) para a relação-classe Func.
Definição 2.59. Sejam a e b dois números reais com a < b, e seja n 2 ⇤ N. Um par de
hipersequências de números hiper-reais
P = (x0 x1 . . . xn , ⇡1 ⇡2 . . . ⇡n )
70
é dito ser uma hiperpartição (etiquetada) do intervalo [a, b]⇤ R se
e
xi 1 6 ⇡i 6 xi (8i 2 [1, n]⇤ N ) .
de ⇤ R será interno pelo PDI. Nesse caso, se P for refinada, então S terá uma cota superior
em ⇤ R (e.g., qualquer número real positivo), resultando na existência do supremo
Teorema 2.60. Seja f : [a, b]R ! R uma função limitada. Essa função será Riemann-
integrável se, e somente se, existir um número real I tal que
n
X
⇤
f (⇡i ) · (xi xi 1 ) ⇠ I
i=1
P = (x0 x1 . . . xn , ⇡1 ⇡2 . . . ⇡n ) .
Z
Nesse caso, teremos f = I.
71
é verdadeira. Como P é interna e refinada, temos que sup (xi xi 1 ) é infinitesimal e
16i6n
sup (xi xi 1 ) < , resultando em
16i6n
m
X Z
⇤
f (⇡i ) · (xi xi 1 ) f <✏
i=1
e m Z
X
⇤
f (⇡i ) · (xi xi 1 ) ⇠ f
i=1
P = (x0 x1 . . . xn , ⇡1 ⇡2 . . . ⇡n ) .
Q = (y0 y1 . . . ym , ⇢1 ⇢2 . . . ⇢m )
de [a, b]⇤ R com sup (yi yi 1 ) < é refinada, temos que a ⇤ R-condição fechada dada por
16i6m
m
X Z
(9⇣ 2 R) ⇣ > 0 ^ “
⇤ ⇤
f (⇢i ) · (yi yi 1 ) f < ✏ para toda
i=1
hiperpartição interna
Q = (y0 y1 . . . ym , ⇢1◆⇢2 . . . ⇢m )
de [a, b]⇤ R com sup (yi yi 1 ) < ⇣ ”
16i6m
Teorema 2.61 (Teorema Fundamental do Cálculo). Seja f : [a, b]R ! R uma função con-
Rx
tínua, e seja F : [a, b]R ! R a função dada por F (x) := a f . A função F é diferenciável
e F0 = f.
72
Demonstração. Seja x 2 (a, b)R . Para cada número real positivo h, seja Ph uma hi-
perpartição refinada interna do intervalo [x, x + h]⇤ R , seja mh := min f (y), e seja
x6y6x+h
Mh := max f (y). Note que mh e Mh são números reais bem definidos visto que f é
x6y6x+h
contínua, e temos
lim mh = f (x) = lim+ Mh .
h!0+ h!0
Suponha que h é um número real positivo. Assim, pelo Teorema 2.60, temos
Z n
F (x + h) F (x) 1 x+h
1 X⇤
= f⇠ · f (⇡i ) · (xi xi 1 ) ,
h h x h i=1
X n n n
1 1 X 1 X
· mh · (xi xi 1 ) 6 · f (⇡i ) · (xi xi 1 ) 6 · Mh · (xi xi 1 ) .
h i=1
h i=1 h i=1
Aplicando a função parte standard st nos três membros dessa inequação, temos
Z
1 x+h
mh 6 f 6 Mh ,
h x
Z
1 x+h
e, pelo Teorema do Confronto, temos que f ! f (x) quando h ! 0+ . A prova de
Z h x
1 x+h
que f ! f (x) quando h ! 0 é análoga.
h x
73
3
Filtros e Ultrafiltros
lim (rn sn ) = 0.
n!1
Tal relação de equivalência tem em consideração apenas o “valor alvo” de uma sequência
de Cauchy “no infinito”, ou seja, a classe de equivalência que uma sequência de Cauchy
{rn } pertence depende somente do valor residual para o qual essa sequência se aproxima
quando n ! 1, independentemente da forma e rapidez que essa sequência tende a esse
valor. Como exemplo, nessa construção de R as sequências de Cauchy em Q dadas por
⇢ ⇢
n+1 n + ( 1)n
e
n n
correspondem ao mesmo número real, viz. o número 1, embora a primeira sempre assuma
valores maiores que 1 e a segunda se aproxime do valor limite alternando entre valores
menores e maiores que 1.
Neste capítulo, desenvolveremos uma construção dos números hiper-reais análoga
à mencionada abstração de Méray e Cantor, a qual foi essencialmente concebida por
Edwin Hewitt em 1948 (27) e popularizada por Wilhelmus Luxemburg na década
de 1960 (37, 38). Nessa idealização, cada número hiper-real é identificado com uma classe
de equivalência de uma sequência de números reais. Em particular, as sequências em R
com limite 0 correspondem aos números infinitesimais em ⇤ R, e as sequências ilimitadas
em R correspondem aos números infinitos em ⇤ R. A relação de equivalência no conjunto
das sequências em R empregada nessa concepção de ⇤ R é tal que duas sequências de
números reais, {xn } e {yn }, são equivalentes se, e somente se, o conjunto de índices n tais
que xn = yn pertence a um subconjunto de P (N) cujas propriedades serão estabelecidas
nas Seções 3.2, 3.5 e 3.7. Desse modo, a classe de equivalência de uma sequência de
números reais depende não somente do possível valor para o qual os elementos dessa
sequência assintoticamente se aproximam, mas também da configuração específica de
uma subsequência que sumariza o comportamento da sequência em questão.
3.2 Filtros
A noção que introduziremos a seguir é bastante útil no estudo da Topologia, e ela
tem aplicações em diversas outras áreas da Matemática.
Definição 3.1. Seja I um conjunto não nulo. Um subconjunto não nulo F de P (I) é
dito ser um filtro em I se as seguintes condições são observadas:
(F1) Se X ⇢ Y ⇢ I e X 2 F, então Y 2 F;
(F2) Se X, Y 2 F, então X \ Y 2 F.
para algum E ⇢ I não nulo; caso contrário, dizemos que F é não principal;
\
• F é livre se F = ;;
A condição (F1) implica que P (I) é o único filtro impróprio em I, e, como filtros
são não nulos, temos que o conjunto I pertence a todo filtro em I. Todo filtro livre é
não principal, e, por (F2), todo filtro próprio em um conjunto finito é principal. Uma
interseção de filtros em I é um filtro em I.
Há na literatura diversas tentativas de interpretar a noção de um filtro F em um
conjunto I de modo elementar, porém, na visão deste autor, nenhuma delas obteve êxito
em especificar uma analogia simples na qual os axiomas (F1) e (F2) são asseguradamente
verdadeiros sem que outras propriedades indesejadas também fossem intuitivamente ob-
servadas. Por tal razão, não trabalharemos com alguma versão intuitiva da Definição 3.1,
embora essa não seja a maneira ideal de introduzir conceitos matemáticos dessa relevância.
Neste Capítulo, assumiremos que I é um conjunto não nulo.
76
é um filtro principal em I. Se um conjunto unitário {i} com i 2 I pertencer a um filtro
próprio F em I, então teremos J i ⇢ F por (F1), e {i} \ X 6= ; (8X 2 F) por (F2),
resultando em F = J i . Assim, para cada i 2 I, teremos a igualdade F = J i se, e
somente se, tivermos {i} 2 F, implicando que J i é maximal.
Exemplo 3.5. Se I for infinito, então o conjunto dos subconjuntos finitos de I, o qual
é denotado por P! (I), não será um filtro em I, visto que ele falhará em satisfazer ao
axioma (F1). De fato, teremos I 62 P! (I) nesse caso.
(I X) [ (I Y)=I (X \ Y )
X1 \ · · · \ Xn ⇢ I {i1 i2 . . . in } = X 2 F
por (F1), provando que C ⇢ F. De fato, um filtro F qualquer em I será livre se, e somente
\ \
se, ele contiver o filtro de Fréchet em I, visto que nesse caso teremos F⇢ C = ;.
1
Uma topologia em um conjunto é dita ser uma topologia de Alexandrov se todo ponto do conjunto
tem uma menor vizinhança que o contém, ou seja, se a interseção das vizinhanças de qualquer ponto
do conjunto é aberta.
77
Analogamente ao procedimento realizado no Exemplo 3.6, nota-se que C i é um filtro em
I que não é livre. Se I for finito, então C i será o filtro principal J i (Exemplo 3.3) .
Exemplo 3.8. Suponha que d : I ⇥ I ! [0, 1)R é uma pseudométrica2 em I tal que I é
d-ilimitado. O conjunto
⇢
.
M := S ⇢ I .. S = I ou I S é d-limitado
d
\
é um filtro próprio em I. Se i 2 Md e se r for qualquer número real positivo, então a
bola aberta ⇢
.
Br (i) := j 2 I .. d (i, j) < r
Exemplo 3.9. Seja V uma -algebra em I, e seja µ : V ! [0, 1]R uma medida não
negativa em I com µ (I) > 0. O conjunto
⇢
.
O := S 2 V .. µ (I S) = 0
µ
2
Uma pseudométrica em um conjunto não nulo I é uma função d : I ⇥ I ! [0, 1)R tal que para
quaisquer x, y, z 2 I temos
78
Definição 3.10. Seja K um subconjunto de P (I).
Exemplo 3.11. O filtro em I gerado por ; é o filtro trivial {I} (Exemplo 3.2).
Exemplo 3.13. Seja < uma ordem parcial direcionada pela direita3 em um subconjunto
não nulo J de I, e, para cada i 2 J, seja i6 o conjunto
⇢
.
i := j 2 J .. i 6 j .
6
⇢
.
O filtro Z em I gerado pelo conjunto
J
i6 .. i 2 J é chamado de filtro das caudas de
J em I.
Se i1 i2 . . . ip 2 J, então, como < é direcionada pela direita, existirá um j 2 J com
in 6 j (8n), e teremos
;=6 j 6 ⇢ i6 6 6
1 \ i2 \ · · · \ ip .
79
Nota-se diretamente que Z J será livre se, e somente se, o conjunto parcialmente
ordenado J não tiver um maior elemento k. Caso contrário, Z J será o filtro principal J k .
Assim, mostramos que o filtro Z J será não principal se, e somente se, ele for livre.
Notação 3.14. Seja C (i) uma condição na qual a letra i é uma variável. Usaremos
a notação
C (i) q.t.p.
⇢
.
i 2 I .. C (i) 2 F.
Quando o filtro F não está implícito no contexto, tal condição é denotada por C (i) q.t.p. [F].
Neste trabalho, sempre usaremos a letra i como variável ligada em condições dessa forma.
onde C (i) representa uma cláusula, em vez de nos limitarmos apenas às sentenças
da forma
“Se C (i) for verdadeira, então ...”,
Proposição 3.16. Sejam C1 (i) e C2 (i) duas condições na variável i, e seja C (i, x) uma
condição nas variáveis i e x.
(b) Se (8i 2 I) (C1 (i) ) C2 (i)) e se C1 (i) q.t.p., então C2 (i) q.t.p.;
(c) As condições C1 (i) q.t.p. e C2 (i) q.t.p. serão verdadeiras se, e somente se,
a condição
(C1 (i) ^ C2 (i)) q.t.p.
for verdadeira;
80
(d) Se (Ai )i2I for uma família de conjuntos não nulos, então as seguintes condições
serão equivalentes:
" ! #
1. ((9x 2 Ai ) C (i, x)) q.t.p.; Y
! 3. 9r 2 Ak C (i, r (i)) q.t.p.
Y
2. 9r 2 Ak [C (i, r (i)) q.t.p.] ; k2I
k2I
Demonstração.
⇢ ⇢
. .
i 2 I .. C1 (i) ⇢ i 2 I .. C2 (i) ,
⇢
.
resultando em i 2 I .. C2 (i) 2 F pelo axioma (F1).
⇢ ⇢
. .
(c) Se C1 (i) q.t.p. e C2 (i) q.t.p., então os conjuntos i 2 I .. C1 (i) e i 2 I .. C2 (i)
pertencerão a F, e, pelo axioma (F2), a interseção
⇢ ⇢ ⇢
.. .. .
i 2 I . C1 (i) \ i 2 I . C2 (i) = i 2 I .. C1 (i) ^ C2 (i)
⇢ ⇢
. .
i 2 I .. (9x 2 Ai ) C (i, x) i 2 I .. C (i, r (i)) 2 F,
resultando em ((9x 2 Ai ) C (i, x)) q.t.p. por (F1), e provando que 2 implica 1.
81
Assim, temos J 2 F. Para cada i 2 J, seja r (i) um elemento de Ai com C (i, r (i)),
e para cada i 2 I J, seja r (i) um elemento qualquer de Ai . Portanto, temos
⇢
.
i 2 I .. C (i, r (i)) = J 2 F,
Definição 3.17. Seja {Mi }i2I uma família de conjuntos. Denotaremos por =Mi ,F a
Y
relação binária no produto cartesiano Mi definida de modo que, para quaisquer
Y i2I
r, s 2 Mi , teremos r =Mi ,F s se, e somente se, tivermos r (i) = s (i) q.t.p.
i2I
Corolário 3.18. Seja {Mi }i2I uma família de conjuntos. A relação =Mi ,F é uma relação
Y
de equivalência em Mi .
i2I
Y
Notação 3.19. Para cada r 2 Mi , a classe de equivalência
i2I
( )
Y .
r/ =Mi ,F = s2 Mi .. r =Mi ,F s
i2I
( )
Y .
= s2 Mi .. r (i) = s (i) q.t.p.
i2I
é dita ser o limite de r módulo (Mi , F), e ela é denotada por lim r (i).
Mi ,F
Proposição 3.20. Sejam {Mi }i2I e {Ni }i2I duas famílias de conjuntos não nulos tais
Y Y
que Mi ⇢ Ni (8i 2 I), e seja s 2 Ni tal que s (i) 2 Mi q.t.p. Existe um r 2 Mi
i2I i2I
tal que r (i) = s (i) q.t.p.
82
Y
Demonstração. Como cada conjunto Mi é não nulo, existe um t 2 Mi (Teorema B.26).
⇢ i2I
.
Seja J := i 2 I .. s (i) 2 Mi e seja r a função com domínio I dada por
8
<s (i) se i 2 J
r (i) :=
:t (i) se i 2 I J.
⇢
.
Assim, J está contido no conjunto i 2 I .. r (i) = s (i) , e, como J 2 F, temos
r (i) = s (i) q.t.p. por (F1).
Y
Sob as condições da Proposição 3.20, seja r0 2 Mi . Nota-se que
i2I
r0 (i) = s (i) q.t.p. se, e somente se, r0 (i) = r (i) q.t.p. (Proposição 3.16, Letras (b) e (c)),
resultando em ( )
Y .. 0
lim r (i) = r 20
Mi . r (i) = s (i) q.t.p. .
Mi ,F
i2I
Até agora nesta seção, obtivemos uma sistematização de um processo que gera um
conjunto quociente !
Y
Mi / =Mi ,F
i2I
a partir de uma família de conjuntos {Mi }i2I com índices em I. Esse processo pode
ser generalizado,4 de modo que se L for uma assinatura (Definição A.5) e se {Mi }i2I
for uma família de L-estruturas (Definição A.23) com índices em I, então poderemos
canonicamente definir uma L-estrutura cujo universo é o quociente do produto cartesiano
da família {kMi k}i2I módulo =kMi k,F .
Até o restante deste capítulo, assumiremos que L é uma assinatura e {Mi }i2I é
uma família de L-estruturas com índices em I, e, por abuso de linguagem, denotaremos
Y Y
o produto cartesiano kMi k por Mi .
i2I i2I
83
(a) Para cada símbolo relacional n-ário P em L, teremos
se
(r1 (i) . . . rn (i)) 2 P Mi q.t.p.
Y
Essa L-estrutura é denotada por Mi .
Se {Mi }i2I é uma família constante
F Y
com Mi = M (8i 2 I), então o produto reduzido M é dito ser a potência reduzida
Y F
de M módulo F, e a função d : M ! M dada por d (x) := lim x é dita ser canônica.
M,F
F
84
Convenciona-se (Definição A.23) que o símbolo relacional binário de igualdade, =,
sempre deve ser interpretado em uma L-estrutura qualquer M da seguinte forma
⇢
.
= := (x, y) 2 kM k2 .. x = y .
M
Y
No caso do produto reduzido Mi , temos que essa convenção vai ao encontro do item 2
F
da Definição 3.23, visto que a condição
Y
é equivalente à condição (r1 (i) , r2 (i)) 2 =Mi q.t.p., onde r1 , r2 2 Mi .
i2I
se
(r1 (i) . . . rn (i)) 2 P Mi (8i 2 I) ;
Exemplo 3.25. Suponha que o conjunto I é infinito e é tal que para cada número natural
n existe um subconjunto cofinito Jn de I tal que cada L-estrutura Mi com i 2 Jn tem no
mínimo n elementos. No Exemplo 3.48, mostraremos que se F for livre, então o produto
Y
reduzido Mi será infinito.
F
85
Teorema 3.26 (Termos Interpretados por Produtos Reduzidos). Se t (x1 . . . xn ) for um
Y
L-termo (Definição A.13) e se r1 . . . rn 2 Mi , então
i2I
Q
✓ ◆
Mi
t F lim r1 (i) . . . lim rn (i) = lim tMi (r1 (i) . . . rn (i)) .
Mi ,F Mi ,F Mi ,F
onde a hipótese de indução foi aplicada na transição da primeira linha para a segunda.
Portanto, o teorema é válido para termos de complexidade k, e, pelo Princípio da Indução,
o resultado está demonstrado.
Definição 3.27. Seja {Ai }i2I uma família de conjuntos tal que Ai ⇢ kMi k q.t.p.
Y
O limite integral de {Ai }i2I módulo (Mi , F) é o subconjunto de Mi definido por
F
( )
. Y
lim r (i) .. r 2 Mi e r (i) 2 Ai q.t.p. ,
Mi ,F
i2I
86
A proposição a seguir mostra que o limite integral lim Ai é uma cópia do produto
Mi ,F
Y
reduzido Ai de ; -estruturas (i.e., conjuntos) quando cada Ai é não nulo.
F
Proposição 3.29. Seja {Ai }i2I uma família de conjuntos não nulos tal que Ai ⇢ kMi k q.t.p.
Y
A função u : Ai ! lim Ai dada por
Mi ,F
F
✓ ◆
u lim r (i) := lim r (i)
Ai ,F Mi ,F
Definição 3.30. Seja Nij i2I uma família dupla de L-estruturas, seja Aji i2I uma
16j6n 16j6n
família dupla de conjuntos com Aji ⇢ Nij q.t.p. (8j), e seja {Ri }i2I uma família de
relações ✓
n-árias com Ri ◆⇢ A1i ⇥ A2i ⇥ · · · ⇥ Ani q.t.p. O limite relacional de {Ri }i2I
módulo Nij i2I ,F é a relação n-ária
16j6n
✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆
lim Ri ⇢ lim A1i ⇥ lim A2i ⇥ ··· ⇥ lim Ani
Nij ,F Ni1 ,F Ni2 ,F Nin ,F
definida por
✓ ◆
lim r1 (i) . . . lim
n
rn (i) 2 lim Ri :, (r1 (i) . . . rn (i)) 2 Ri q.t.p.,
Ni1 ,F Ni ,F j
Ni ,F
Y
onde rj 2 Nij (8j) .
i2I
Proposição 3.31. Seja Nij i2I uma família dupla de L-estruturas, seja Aji i2I
16j6n+1 16j6n+1
uma família dupla de conjuntos com Aji ⇢ Nij q.t.p. (8j), e seja {fi }i2I uma família
87
de funções n-árias com✓fi : A1i ⇥ A2i ⇥ · ·◆· ⇥ Ani ! An+1
i q.t.p. O limite relacional da
família {fi }i2I módulo Nij i2I , F é uma função n-ária do tipo
16j6n+1
✓ ◆ ✓ ◆ ✓ ◆
lim fi : lim A1i ⇥ lim A2i ⇥ ··· ⇥ lim Ani ! lim An+1
i
j
Ni ,F
1
Ni ,F 2
Ni ,F Nin ,F n+1
Ni ,F
dada por
!✓ ◆
lim fi lim r1 (i) . . . lim
n
rn (i) := lim fi (r1 (i) . . . rn (i)) ,
Nij ,F Ni1 ,F Ni ,F n+1
Ni ,F
onde fi (r1 (i) . . . rn (i)) pode ser definido como sendo qualquer objeto quando i
for tal que (r1 (i) . . . rn (i)) 62 dom (fi ) (Notação 3.21).
e
(r1 (i) . . . rn (i) , fi (r1 (i) . . . rn (i))) 2 fi q.t.p.,
resultando em
!
lim r1 (i) . . . lim
n
rn (i) , lim fi (r1 (i) . . . rn (i)) 2 lim fi .
Ni1 ,F Ni ,Fn+1
Ni ,F j
Ni ,F
Y
Se s1 , s2 2 Nin+1 com s1 (i) 2 An+1
i q.t.p. e s2 (i) 2 An+1
i q.t.p., e se as (n + 1)-tuplas
i2I
! !
lim r1 (i) . . . lim
n
rn (i) , lim s1 (i) e lim r1 (i) . . . lim
n
rn (i) , lim s2 (i)
Ni1 ,F Ni ,F n+1
Ni ,F Ni1 ,F Ni ,F n+1
Ni ,F
e, como (fi é uma função) q.t.p., teremos s1 (i) = s2 (i) q.t.p. e lim
n+1
s1 (i) = lim
n+1
s1 (i),
Ni ,F Ni ,F
provando que lim
j
fi é uma função.
Ni ,F
Sob as condições da Proposição 3.31, dizemos que a função n-ária lim fi é o limite
Nij ,F
✓ ◆
j
funcional de {fi }i2I módulo Ni i2I ,F .
16j6n+1
88
3.5 Ultrafiltros
Para cada X ⇢ I, temos que X e o seu complemento I X não podem simultane-
amente pertencer ao filtro próprio F, visto que isso implicaria em ; = X \ (I X) 2 F
pelo axioma (F2). Nesta seção, investigaremos os filtros U em I que são saturados no
sentido que o complemento I X de um subconjunto X de I pertencerá ao filtro U sempre
que X não pertencer a U .
Definição 3.32. Um filtro próprio U sobre um conjunto não nulo I é dito ser
um ultrafiltro em I se para cada X ⇢ I temos
(U) Se X 62 U, então I X 2 U.
Y
O limite lim r (i) é chamado de ultralimite de r módulo (Mi , U ) para cada r 2 Mi ,
Mi ,U
Y i2I
o produto reduzido Mi é chamado de ultraproduto de {Mi }i2I módulo U , e cada
U
um dos três tipos de limites generalizados módulo (Mi , U ) são ditos serem ultralimites
generalizados. Se {Mi }i2I é uma família constante com Mi = M (8i 2 I), então o
Y
ultraproduto M é dito ser a ultrapotência de M módulo U .
U
O axioma (U) configura os ultrafiltros de modo que eles sejam filtros próprios que
compreendem a maior quantidade possível de subconjuntos de I. O teorema a seguir
mostra que os ultrafiltros podem ser caracterizados por outras propriedades de saturação.
(a) F é um ultrafiltro em I;
X1 [ · · · [ Xn 2 F,
Demonstração. Provaremos separadamente que (a) é equivalente a cada uma das condi-
ções (b), (c) e (d). Claramente, temos (b) ) (a).
X=I (I X) 2 F,
89
n
[
(a) ) (c) : Sejam X1 . . . Xn subconjuntos de I com Xi 2 F. Se Xi 62 F (8i), então
i=1
I Xi 2 F (8i), e por (F2) teremos
n
[ n
\
I Xi = (I Xi ) 2 F,
i=1 i=1
o que é absurdo.
; = X \ (I X) 2 E
Exemplo 3.34. O filtro trivial {I} em I será um ultrafiltro em I se, e somente se, I for
um conjunto unitário, visto que se i 2 I e I {i} =
6 ;, então os conjuntos {i} e I {i}
não pertencerão a {I}, contradizendo (U’).
Exemplo 3.36. Suponha que I é infinito. Assim, existe uma função injetora f : N ! I,
e os conjuntos 2N, f h2Ni, 2N 1 e f h2N 1i têm o mesmo cardinal !, implicando que
todos eles são infinitos. O complemento de f h2Ni em I também é infinito visto que
f h2N 1i ⇢ I f h2Ni. Portanto, f h2Ni e I f h2Ni não pertencem ao filtro de Fréchet
em I (Exemplo 3.6), provando que C não é um ultrafiltro em I pelo axioma (U’).
90
Exemplo 3.37. Seja i um elemento de I. Se I for finito, então o filtro C i em I (Exemplo
3.7) será o filtro principal J i , o qual claramente é um ultrafiltro em I, e se I for infinito,
então, analogamente à prova mostrada no Exemplo 3.36, obtém-se que C i não é um
ultrafiltro em I.
Exemplo 3.38. Suponha que d : I ⇥ I ! [0, 1)R é uma pseudométrica em I tal que
I é d-ilimitado. Mostraremos que o filtro próprio Md em I (Exemplo 3.8) não é um
ultrafiltro. Seja i um elemento de I. Como I é ilimitado, existe uma sequência {in }n>1 de
pontos de I tal que a sequência {d (i, in )}n>1 é crescente e é tal que d (i, in ) ! 1 quando
n ! 1. Assim, temos que o conjunto {i2n }i>1 é d-ilimitado, e o seu complemento em I,
o qual contém o conjunto {i2n 1 }n>1 , também é d-ilimitado, contradizendo o axioma (U’)
e implicando que Md não é um ultrafiltro em I.
Exemplo 3.39. Seja V uma -algebra em I, e seja µ : V ! [0, 1]R uma medida não
negativa em I com µ (I) > 0. Se existir um S 2 V tal que 0 < µ (S) < µ (I), então o
filtro próprio Oµ em I (Exemplo 3.9) não será um ultrafiltro em I, visto que nesse caso
teremos µ (I S) = µ (I) µ (S) > 0, resultando que S e I S não pertencem a Oµ e
contradizendo o axioma (U’).
Proposição 3.40. Seja C (i) uma condição na variável i. A condição C (i) q.t.p. será
falsa se, e somente se, ¬C (i) q.t.p. for verdadeira.
Demonstração. A condição C (i) q.t.p. será falsa se, e somente se, tivermos
⇢ ⇢
.. .
I i 2 I . ¬C (i) = i 2 I .. C (i) 62 U,
e, pelo axioma (U’), temos que isso é equivalente à condição ¬C (i) q.t.p.
(c) ) (d) : Como U não é livre, ele não contém o filtro de Fréchet C em I (Exemplo
3.6), e existe um X ⇢ I não nulo tal que I X é finito e X 62 U, implicando em
I X 2 U por (U).
91
(d) ) (a) : Sejam i1 . . . in os elementos de um subconjunto finito de I pertencente a U .
Assim, temos
{i1 } [ · · · [ {in } 2 U
Demonstração. Seja W o conjunto dos filtros próprios em I que contêm F, o qual é não
nulo pois F 2 W. Usaremos o Lema de Zorn para provar que W tem um elemento
maximal quando parcialmente ordenado pela inclusão. Suponha que K é um subconjunto
S
não nulo de W que é ordenado pela inclusão. A união K contém F e não contém o
S
conjunto vazio como elemento. Provaremos que K observa os axiomas (F1) e (F2):
S
• Se X ⇢ Y ⇢ I e X 2 K, então X 2 A para algum A 2 K, e teremos Y 2 A por
S S
(F1), resultando em Y 2 K e provando que K satisfaz ao axioma (F1).
S
• Se X, Y 2 K, então X 2 A e Y 2 B para algum A 2 K e algum B 2 K. Como
K é ordenado pela inclusão, temos A ⇢ B ou B ⇢ A, e, sem perda de generalidade,
podemos assumir que B ⇢ A e X, Y 2 A. Portanto, temos X \ Y 2 A por (F2), e
S S
X \ Y 2 K, provando que K satisfaz ao axioma (F2).
S
Assim, K é uma cota superior de K em W, e, pelo Lema de Zorn, existe um elemento
maximal F 0 no conjunto parcialmente ordenado W. Todo filtro próprio em I que contém
F 0 pertence a W, implicando que F 0 é um filtro maximal e é um ultrafiltro em I (Teorema
3.33, Letra (d)).
92
Exemplo 3.44. Se < for uma ordem parcial direcionada pela direita em um subconjunto
J de I, então, pelo Lema do Ultrafiltro, existirá um ultrafiltro em I que contém Z J
(Exemplo 3.13), o qual terá o conjunto J como elemento. Esse ultrafiltro será livre se J
não tiver um maior elemento.
3.6 Ultraprodutos
O teorema a seguir foi publicado pela primeira vez por Jerzy Łoś em 1955 (53).
Também conhecido por Teorema Fundamental dos Ultraprodutos, ele evidencia a impor-
tância dos ultrafiltros e ultraprodutos na Teoria dos Modelos.
Teorema 3.45 (Teorema de Łoś). Seja (x1 . . . xn ) uma L-fórmula (Definição A.14).
Y
Para quaisquer r1 . . . rn 2 Mi , temos
i2I
Y
Mi |= [r1 (i) . . . rn (i)] q.t.p. , Mi |= lim r1 (i) . . . lim rn (i) .
Mi ,U Mi ,U
U
93
pela hipótese de indução. O resultado desejado segue pela definição da
relação de satisfatibilidade.
4. Se for da forma (9y) (x1 . . . xn , y), onde y é uma variável que não está na lista
x1 . . . xn ,5 então a L-fórmula terá complexidade k 1, e, pela letra (d) da Propo-
sição 3.16, a condição Mi |= [r1 (i) . . . rn (i)] q.t.p. será equivalente à condição
!
Y
9s 2 Mk (Mi |= [r1 (i) . . . rn (i) , s (i)] q.t.p.) ,
k2I
Y
pela hipótese de indução. Como todo elemento de Mi é uma classe de equiva-
Y U
lência de algum elemento do produto Mk , temos que o resultado desejado segue
k2I
pela definição da relação de satisfatibilidade.
5. Se for da forma (8y) (x1 . . . xn , y), onde y é uma variável que não está na lista
x1 . . . xn , então será equivalente à condição
Portanto, pelo Princípio da Indução, provamos que o teorema é válido para L-fórmulas
de qualquer complexidade inteira não negativa.
= (x1 . . . xi 1 xi+1 . . . xn ) .
Assim, y não estará na lista x1 . . . xi 1 xi+1 . . . xn , mostrando que basta provarmos o caso em que y
não aparece na lista x1 . . . xn .
94
Corolário 3.46. Toda classe axiomatizável K de L-estruturas (Definição A.37) é fechada
Y
sobre ultraprodutos, ou seja, temos Mi 2 K para qualquer família {Mi }i2I de
U
L-estruturas em K.
Exemplo 3.47. Na Seção 3.8, veremos que é possível obter um corpo não arquimediano
como resultado de um ultraproduto de corpos arquimedianos, implicando que a classe dos
corpos arquimedianos não é axiomatizável. Isso ocorre devido à limitação do processo de
construção das LAO -fórmulas (Definição A.14) na lógica de primeira ordem, onde apenas
uniões e interseções finitas de LAO -fórmulas são permitidas. Em lógicas infinitárias, a
Propriedade Arquimediana (Definição 1.20) pode ser expressa pela LAO -fórmula infinitária
1 n vezes !!
_ z }| {
(8x, y) 0 < x < y ! y < x + x + ··· + x ,
n=1
1
_
onde o símbolo representa uma disjunção infinita das LAO -fórmulas que correspondem
n=1
a cada número natural n. Tal fórmula não pode ser expressa em lógicas finitárias como a
que estamos trabalhando nesta dissertação.
Exemplo 3.48. Considere o caso descrito no Exemplo 3.25, e suponha que F é livre.
Assim, temos C ⇢ F, e, pelo Lema do Ultrafiltro, podemos assumir que F ⇢ U. Para
cada número natural n, seja >n uma L-sentença que afirma que uma L-estrutura tem
no mínimo n elementos.6 Assim, para cada número natural temos Mi |= >n q.t.p. [U ], e,
Y Y
pelo Teorema de Łoś, temos Mi |= >n (8n), implicando que o ultraproduto Mi é
U Y Y U
infinito. Nota-se que a função f : Mi ! Mi dada por
F U
✓ ◆
f lim r (i) := lim r (i)
Mi ,F Mi ,U
Y
é bem definida e sobrejetora, resultando que o produto reduzido Mi é infinito.
F
Ademais, tal função f é um morfismo entre L-estruturas.
Exemplo 3.49. Seja p um número primo maior que 2, e, para cada número natural n,
seja Fpn a LA -estrutura (Exemplo A.9) do corpo com exatamente pn elementos, o qual
é único salvo isomorfismos e tem característica p. Se n 2 N e se todo elemento de Fpn
6
A sentença >n pode ser escrita na forma
^
>n = (9x1 ) (9x2 ) · · · (9xn ) xi 6= xj ,
16i<j6n
^
onde representa uma conjunção finita das L-fórmulas que correspondem a cada par (i, j) de
16i<j6n
números naturais menores ou iguais a n com i < j.
95
possuir uma raiz quadrada, ou seja, se para todo x 2 Fpn existir um y 2 Fpn com x = y 2 ,
então a função x 7! x2 do tipo Fpn ! Fpn será sobrejetora, e, como Fpn é finito, tal
função será bijetora. Nesse caso, como ( 1)2 = 1 = (1)2 , teremos 1 = 1 (em Fpn ) e a
característica p do corpo Fpn será igual a 2, o que é absurdo. Portanto, para cada n 2 N
existe um elemento de Fpn que não tem uma raiz quadrada, e teremos
Exemplo 3.50. Seja {Ki }i2I uma família de corpos algebricamente fechados com índi-
Y
ces em I. Se o ultraproduto Ki não for algebricamente fechado, então existirá um
Y U
polinômio em Ki de grau k > 2 que não possui raízes nesse corpo, e teremos
U
Y
Ki |= (9ck 1 ) · · · (9c0 ) (8x) xk + ck 1 · xk 1
+ · · · + c1 · x + c0 6= 0 ,
U
o que é absurdo visto que cada Ki é algebricamente fechado. Portanto, provamos que
qualquer ultraproduto de corpos algebricamente fechados é algebricamente fechado.
96
Y
(c) M ⌘ M (Definição A.36);
U
Y
(d) Se M for finita, então as L-estruturas M e M serão isomorfas (Definição A.42).
U
J1 [ J2 [ · · · [ Jn = I 2 U
Ultrafiltros principais não podem ser utilizados para representar L-estruturas novas
via ultraprodutos, como está evidenciado no corolário a seguir.
Y
Corolário 3.52. Se U for principal, então existirá um j 2 I tal que Mi ⇠
= Mj .
U
para qualquer condição matemática C (i) na variável i. Assim, nota-se prontamente que
Y
a função f : Mi ! Mj dada por
U
✓ ◆
f lim r (i) := r (j)
Mi ,U
Y
para quaisquer r1 . . . rn 2 Mi , e, por conseguinte, f é uma imersão elementar
i2I
e um isomorfismo.
97
3.7 ↵-Completude de um Filtro
Pelo axioma (F2), sabemos que interseções finitas de conjuntos em um filtro qual-
quer pertencem a esse filtro. Porém, o mesmo não é necessariamente válido para
interseções infinitas.
(F2↵ ) Se {Xk }k2K for uma família de elementos de F indexada por um conjunto não
\
nulo K com K ↵ (Definição B.24), então Xk 2 F.
k2K
Caso contrário, dizemos que F é ↵-incompleto. Dizemos que um filtro é completo se ele
é ↵-completo para qualquer cardinal ↵, e caso contrário dizemos que ele é incompleto.
Se ↵ e forem cardinais com ↵ < , então todo filtro -completo será ↵-completo.
O axioma (F2↵ ) prontamente implica na condição:
(F2↵ ’) Se {X } < for uma família de elementos de F indexada por um ordinal não
\
zero menor que ↵, então X 2 F.
<
Como estamos admitindo que Axioma da Escolha está em vigor, temos que (F2↵ ) e
(F2↵ ’) são equivalentes. De fato, se (F2↵ ’) for verdadeira, e se {Xk }k2K for uma família
de elementos de F com K ↵, então, pelos Teoremas B.14 e B.26 existirá um ordinal
equipotente a K e existirá uma família injetora {k } < cujos elementos são os elementos
de K. Nesse caso, visto que ↵ é um ordinal inicial, teremos < ↵ e
\ \
Xk = Xk 2 F,
k2K <
provando que (F2↵ ) será verdadeira. Além disso, o Axioma da Escolha nos permite lidar
com a concepção do cardinal de um conjunto arbitrário (Definição B.27), e, assim, uma
condição da forma K ↵ é equivalente a |K| < ↵.
Exemplo 3.55. Pelo axioma (F2), todo filtro finito em I é completo e todo filtro em I
é !-completo.
98
Exemplo 3.56. Qualquer interseção de conjuntos em um filtro principal pertence a esse
filtro. Assim, todo filtro principal é completo.
(a) ) (b) : Se F for |F|+ -completo, então {X}X2F será uma família de elementos de F
indexada pelo conjunto não nulo F com cardinal menor que |F|+ , e, por
(F2↵ ), teremos
\ \
F= X 2 F,
X2F
implicando que o filtro F será principal.
P1 [ P2 [ · · · [ Pn = I 2 U,
99
Proposição 3.59. Seja ↵ um cardinal infinito. O ultrafiltro U será ↵-completo se, e
somente se, toda partição de I em uma quantidade de partes menor que ↵ tiver pelo
menos uma dessas partes pertencente a U .
Demonstração. Se U for ↵-completo, e se {Pk }k2K for uma partição7 de I com |K| < ↵,
então teremos
\
(I Pk ) = ; 62 U,
k2K
\
Note que teremos f (i) = se, e somente se, tivermos i 2 X . O conjunto {f 1
h{ }i} 6
<
é uma partição de I em uma quantidade de partes menor que ↵, e, pela suposição, existe
um ordinal ⌘ 6 tal que f 1 h{⌘}i 2 U . Se ⌘ < , e se i for um elemento de f 1 h{⌘}i,
então i 62 X⌘ pela definição de f , implicando em f 1 h{⌘}i \ X⌘ = ;, o que é absurdo por
(F2). Assim, ⌘ = , e temos
\
1
X =f h{ }i 2 U,
<
100
Demonstração. Se U for |M |+ -completo, e se r : I ! M for uma função, então o conjunto
{r 1 h{a}i}a2Im(r) será uma partição de I em uma quantidade de partes menor que |M |+ ,
e, pela Proposição 3.59, existirá um elemento a de Im (r) com r 1 h{a}i 2 U , resultando
em d (a) = lim r (i), e provando que a função d é sobrejetora.
M,U
Suponha que d é sobrejetora, e seja {Pk }k2K uma partição de I com |K| < |M |+ .
Assim, temos |K| 6 |M | e existe uma injeção do tipo K ! M , de modo que podemos
assumir que K é um subconjunto de M . Seja f : I ! M a função definida por
f (i) := k se i 2 Pk .
resultando em f 1
h{a}i 2 U, f 1
6 ;, a 2 Im (f ) = K, e
h{a}i =
1
Pa = f h{a}i 2 U .
3.8 A Ultrapotência ⇤R
Nesta seção, assumiremos que I = N e que o ultrafiltro U em N é não principal.
Como C é livre, o Lema do Ultrafiltro implica que ultrafiltros desse tipo existem em N.
Também assumiremos que o conjunto dos números reais, R, está munido de sua
LAO -estrutura usual de corpo ordenado.
Y
Definição 3.61. A ultrapotência R é dita ser o corpo ordenado dos números
U
hiper-reais, e ela é denotada por R. Pelo Corolário 3.46, tal estrutura é um corpo
⇤
ordenado que estende R. Assim como fizemos na Seção 1.10, identificaremos os elementos
da imagem da imersão canônica d : R ! ⇤ R com os números reais, e, por abuso de
linguagem, escreveremos R ⇢ ⇤ R. Além disso, denotaremos a adição, a multiplicação e a
ordem em ⇤ R por +, · e <, respectivamente.
101
• Se A1 A2 . . . An são subconjuntos de R, e se R ⇢ A1 ⇥ A2 ⇥ · · · ⇥ An é uma relação
n-ária, então ultralimite relacional
lim R ⇢ ⇤ A1 ⇥ ⇤ A2 ⇥ · · · ⇥ ⇤ An
R,U
Pela Proposição 3.29, os limites integrais ⇤ N, ⇤ Z, ⇤ Q e ⇤ Irr são cópias das respec-
Y Y Y Y
tivas ultrapotências N, Z, Q e Irr, e, assim como fizemos no Capítulo 2,
U U U U
chamaremos os elementos desses conjuntos de números hipernaturais, números
hiperinteiros, números hiper-racionais e números hiperirracionais, respectivamente.
Nota-se que as ultrapotências mencionadas têm os mesmos traços estruturais dos respec-
tivos limites integrais que elas espelham em ⇤ R.
Exemplo 3.65. Seja {qn } a sequência definida na Seção 1.9, e considere o número hiper-
real w dado pelo ultralimite w := lim qi . Claramente, temos qi 2 Q (8i), e, pela definição
R,U
dos limites integrais, temos w 2 ⇤ Q. Assim, w é um número hiper-racional mesmo sendo
gerado por uma sequência cujo limite em R é um número irracional.
Exemplo 3.66. Considere o número hiper-real h dado pelo ultralimite h := lim 1/i. Como
R,U
0 < 1/i (8i), temos 0 < lim 1/i = h, e se n 2 N, então teremos
R,U
n vezes
z }| {
nh = h + · · · + h
n vezes
z }| {
1 + ··· + 1
= lim
R,U i
n
= lim
R,U i
< 1,
102
Exemplo 3.68. Considere o número hiper-real u dado pelo ultralimite u := lim ( 1)i .
R,U
Pelo Axioma (U’) (Seção 3.5), temos que ou ( 1)i = 1 q.t.p. ou ( 1)i = 1 q.t.p.,
resultando em ou u = 1 ou u = 1. Como os conjuntos ordenados 2N e 2N 1 são
direcionados pela direita e não possuem um maior elemento, é possível escolher o
ultrafiltro não principal U em N de modo que cada uma dessas duas alternativas
vigora (Exemplo 3.44).
Exemplo 3.69. Considere a sequência {cos (i)}i>1 , onde os ângulos nos argumentos da
função cosseno são dados em radianos. Se m e n forem números naturais com
cos (m) = cos (n), então existirá um número inteiro k com m ± n = 2⇡k. Nesse caso, se
k 6= 0, então o número ⇡ será racional, o que é absurdo, implicando que k = 0 e m = n.
Assim, a sequência {cos (i)}i>1 é injetora, e, como o ultrafiltro U em N é não principal,
temos que o ultralimite lim cos (i) não é um número real em ⇤ R.
R,U
a+b b a
|x u| < h ) cos (x) <
2 2
para todo número real x, e, como o conjunto Z+2⇡Z é denso em R (Exemplo 1.5), existem
números inteiros n e k tais que |n + 2⇡k u| < h e
a+b a+b b a
cos (|n|) = cos (n + 2⇡k) < ,
2 2 2
resultando em a < cos (|n|) < b, e provando que {cos (i)}i>1 é denso em [ 1, 1]R .
Seja r 2 [ 1, 1]R qualquer, seja {ni }i>1 uma sequência injetora de números naturais
tal que |cos (ni ) r| < 1/i para cada índice i 2 N, e considere que U é um ultrafiltro não
principal em N que contém o filtro Z {ni }i>1 (Exemplo 3.44). Para cada número natural
positivo k, temos
1 1
< lim (cos (i) r) < ,
k R,U k
implicando em lim cos (i) ⇠ r. Portanto, para cada r 2 [ 1, 1]R existe um ultrafiltro não
R,U
principal U em N tal que o número hiper-real lim cos (i) é infinitamente próximo a r.
R,U
O corpo ordenado dos números hiper-reais satisfaz à letra (e) do Teorema 2.3 para
subconjuntos de R:
103
Demonstração. A prova da inclusão A ⇢ ⇤ A é imediata. Suponha que A é infinito.
Assim, temos !1 6 |A|+ , e, como U é !1 -incompleto (Proposição 3.57), o ultrafiltro U
Y
é |A|+ -incompleto, resultando que a imersão canônica e : A ! A não é sobrejetora
Y U
(Proposição 3.60). Seja u : A ! ⇤ A a bijeção canônica (Proposição 3.29). Portanto, a
U
composição u e : A ! ⇤ A não é sobrejetora, e, como (u e) (x) = d (x) (8x 2 A), existe
um elemento de ⇤ A que não é da forma d (x) para x 2 A.
R |= [a1 . . . an ] , ⇤ R |= [a1 . . . an ] ,
R |= , ⇤ R |=
8
Embora as condições matemáticas especificadas na Seção 2.3 sejam fórmulas de primeira ordem,
algumas delas têm aspecto de fórmulas de segunda ordem. A título de exemplo, na sentença verdadeira
há uma quantificação sobre os subconjuntos de R típica das sentenças da lógica de segunda ordem.
104
4
Monomorfismos Não Standard
4.1 X! -Objetos
Vimos no Capítulo 2 que a classe dos objetos relacionados a R (ou ⇤ R) é igual ao
universo de von Neumann, V, tornando a definição desses objetos supérflua e infrutífera.
Nesta seção, desenvolveremos uma noção similar à que foi elaborada na Seção 2.2, a qual
confina os objetos definidos em uma classe não própria (i.e., um conjunto). O leitor é
encorajado a comparar as definições e os resultados apresentados nesta parte com os da
Seção B.5.
Pelo restante desta dissertação, assumiremos que X é um conjunto qualquer.
X0 X1 . . . Xn . . . X!
Os índices dessa sequência são os ordinais finitos e o ordinal infinito ! (Seção B.3). Temos
as seguintes terminologias e notações:
1
O Teorema B.21 permite que a sequência dos X↵ seja estendida para qualquer índice ↵ em On. Para
os propósitos da Análise Não Standard, será suficiente lidar apenas com a parte dessa sequência cujos
índices são menores ou iguais a !.
• Os elementos de X! são chamados de X! -objetos;
de modo que cada função ⇤n será do tipo Xn ! Yn e ⇤ será a extensão das funções dessa
sequência (Seção 5.2).
Exemplo 4.2. Prova-se facilmente por indução sobre n > 1 que se o conjunto X for
finito, então todo X! -conjunto de nível n será finito, implicando que todo X! -conjunto
será finito.
o autor providenciará contextos suficientemente claros para que o leitor tenha ciência de qual objeto
matemático a notação X n representa.
106
Definição 4.4. Dizemos que um conjunto X é um conjunto base se ; 62 X e
x \ X! = ; (8x 2 X) .
{a1 . . . an } \ X! = {a1 . . . an } =
6 ;.
Temos Xn = X [ P (Xn 1 ) para cada número natural n, onde tal união é disjunta.
Para cada número natural n, as condições A 2 X n e A ⇢ Xn 1 são equivalentes, e se todo
elemento de A for um X! -conjunto, então as condições A 2 X n e A ⇢ X n 1
serão equivalentes.
107
(e) Se A, B 2 X n , então A B 2 X n; (f ) Se A, B 2 X n , então A ⇥ B 2 X n+2 ;
(h) Teremos a1 , a2 2 Xn e ai 2 Xn+2i 4 (8i > 3) se, e somente se, a m-tupla (a1 . . . am )
pertencer a X n+2m 2 ;
Demonstração.
(b) Temos S ⇢ A ⇢ Xn 1 e S 2 X n.
T T
(c) Se A 2 A com A 2 X m (m < !), então teremos A ⇢ A ⇢ Xm 1 e A 2 X m.
S S
(d) Temos A ⇢ X n 1
e A ⇢ Xn 2 (8A 2 A), resultando em A ⇢ Xn 2 e A 2 X n 1.
108
X! -conjuntos de nível n + 1, resultando em a1 , a2 2 Xn e provando que a equiva-
lência desejada é válida no caso m = 2. Suponha que ela é válida para um número
natural m > 2 qualquer, e considere o caso em que a sequência dos ai tem m + 1
elementos. Se a1 , a2 2 Xn e ai 2 Xn+2i 4 (8i > 3), então teremos am+1 2 Xn+2m 2
e (a1 . . . am ) 2 X n+2m 2 pela hipótese de indução, implicando em
(l) Pela letra (j), os conjuntos I e {Ai }i2I têm nível n 2 em X ! , e, pela letra (d),
[
temos Ai 2 X n 3 . Como
i2I
!
Y [
Ai ⇢ P I⇥ Ai ,
i2I i2I
109
Podemos hierarquizar os X! -objetos de acordo com o menor nível que cada ele-
mento aparece na sequência dos Xn . Temos, assim, a seguinte definição:
Apenas os átomos têm posto 1, e, para cada número inteiro não negativo n, o
conjunto dos X! -objetos de posto n é dado pela diferença
Xn+1 Xn = X n+1 X n,
⇢
.
Demonstração. Seja n o posto de A em X! , e seja N := postoX! (a) + 1 .. a 2 A . Assim,
temos A 2 X n+1 e A ⇢ Xn , resultando que se a for um elemento de A, então
ou seja, o número n é uma cota superior de N em Z. Suponha que m é uma cota superior
de N com m < n. Se a 2 A, então postoX! (a)+1 6 m e a 2 Xm , resultando em A ⇢ Xm ,
A 2 X m+1 e n + 1 6 m + 1, o que é absurdo, provando que n é a menor cota superior de
N em Z.
A função dada por x 7! postoX! (x) com domínio X! é crescente com respeito à
relação de pertinência.
Exemplo 4.12. Se Y := {;, {;}}, então Y não é um conjunto base. Nesse caso, temos
⇢
.
postoY! ({;}) = 1 6= 0 = sup postoY! (a) + 1 .. a 2 {;}
e
postoY! (;) = 1 = postoY! ({;}) ,
mostrando que a Proposição 4.10 e o Corolário 4.11 não seriam necessariamente válidos
caso X não fosse um conjunto base.
110
4.2 Monomorfismos Não Standard
O conceito de X! -objeto (Definição 4.1) e a ideia de satisfatibilidade de
uma L✏ -estrutura sobre uma L✏ -fórmula com parâmetros (Definição A.34) viabilizam a
elaboração de uma caracterização formal e generalizada da noção de monomorfismo não
standard apresentada na Seção 2.4. Para isso, as condições relacionadas a X (Seção 2.3)
são substituídas por L✏ -fórmulas com quantificadores limitados (Definições A.14 e A.16),
e a noção de verdade ou falsidade de uma condição é manifestada por condições da forma
M |= , onde as L✏ -estruturas M utilizadas são definidas a seguir.
(8x 2 X! ) (x 62 a _ (x))
(Mon1) ⇤ (X) = Y ;
(Mon3) (Princípio da Transferência; PT) Para toda L✏ -fórmula (x1 . . . xn ) com quan-
tificadores limitados (Definição A.16), temos
para quaisquer a1 . . . an 2 X! .
111
O PT implica que a função ⇤ é uma imersão do tipo V (X) ! V (Y ) que não é
uma imersão elementar (Definição A.42). Em particular, ⇤ é injetora. A Notação 2.4 será
novamente posta em uso para representar as imagens de ⇤ sobre X! -objetos.
O digrafo SupEstr cuja classe de objetos é dada por
⇢
.
V (X) .. X é um conjunto base
e cujas setas são os monomorfismos não standard entre superestruturas forma uma cate-
goria grande3 tal que todos os morfismos de SupEstr são mono4 , elucidando a escolha do
nome atribuído às funções que satisfazem aos axiomas (Mon1)-(Mon3).
O único exemplo concreto de um monomorfismo não standard que veremos neste
trabalho será construído ao longo do Capítulo 5. Tal construção é indubitavelmente a mais
simples possível, mas existem diversas outras, incluindo algumas que são caprichosamente
projetadas para que a função ⇤ obtida observe propriedades extras desejáveis.
Até o final deste capítulo, assumiremos que ⇤ é um monomorfismo não standard
cujo domínio é a superestrutura V (X). Em virtude do axioma (Mon1), podemos dizer
que ⇤ é do tipo V (X) ! V (⇤ X).
Notação 4.16. Se n 6 ! for um ordinal, o n-ésimo nível da superestrutura V (⇤ X) será
denotado por ⇤ Xn . Tal notação não deve ser confundida com a ⇤-transformação
do n-ésimo nível em X! , a qual será consistentemente denotada por ⇤ (Xn ) a fim de evitar
ambiguidades notacionais.
Notação 4.17. Ao lidarmos com os axiomas (Mon1)-(Mon3) dos monomorfismos não stan-
dard ⇤ : V (X) ! V (⇤ X), apenas duas L✏ -estruturas serão de interesse, e.g. V (X)
e V (⇤ X). Por tal motivo, convém simplificar a notação para as condições das formas
V (X) |= e V (⇤ X) |= , as quais serão respectivamente denotadas por |= e ⇤ |=
neste capítulo.
112
disso, o ⇤ X! -conjunto ⇤ hAi é uma cópia5 de A, tornando-o um candidato mais pertinente
em ⇤ X ! para ser identificado com A. Não há inconveniência alguma, no entanto, em
identificar cada X! -átomo a com a sua ⇤-transformação ⇤ a, visto que os átomos são
desprovidos de estrutura interna sob a interpretação da superestrutura na qual estão
inseridos (Observação 4.14). Assim, adotaremos a seguinte notação:
Notação 4.18. Cada X! -átomo será identificado com a sua respectiva ⇤-transformação,
e escreveremos
a = ⇤ a (8a 2 X) .
113
4.3 Objetos Internos e Externos
Duas categorizações para os ⇤ X! -objetos são indispensáveis no estudo dos mono-
morfismos não standard.
Definição 4.20.
Demonstração. Como Xn 2 X ! (8n < !), todo elemento da união do enunciado é interno.
Suponha que a é um ⇤ X! -objeto interno. Assim, existe um B 2 X m com m < ! tal que
a 2 ⇤ B. Como |= (8x 2 B) x 2 Xm 1 , pelo PT temos ⇤ |= (8x 2 ⇤ B) x 2 ⇤ (Xm 1 ),
implicando em
[
a 2 ⇤ (Xm 1 ) ⇢ ⇤
(Xn ) .
n<!
Notação 4.22.
• Cada imagem ⇤ (Xn ) com n < ! é dita ser o n-ésimo nível de I! e é denotada por
In . Dizemos que cada elemento de In tem nível n em I! ;
|= (8x 2 Xn ) (x 62 X ! x 2 X n) ,
114
temos In = ⇤ (X n ). Para um n < !, aplicando o PT às condições verdadeiras
Xn , X n 2 X n+1 e X n ⇢ Xn ⇢ Xn+1 obtém-se In , In 2 In+1 e In ⇢ In ⇢ In+1 .
Haja vista que
|= (8A 2 X n ) (8x 2 A) x 2 Xn 1 ,
(x1 . . . xn , y1 . . . yp )
uma L✏ -fórmula com quantificadores limitados, seja R uma relação n-ária em ⇤ X! com
R 2 Im (m < !), e sejam a1 . . . ap 2 Ik (k < !). O conjunto
⇢
.
S := (t1 . . . tn ) 2 R .. ⇤ |= (t1 . . . tn , a1 . . . ap )
tem nível m em I! .
Assim, a condição
115
e é dada formalmente por
(c) Se A, B 2 In , então A [ B, A \ B, A B 2 In ;
(g) Se {Ai }i2I for uma família de ⇤ X! -conjuntos pertencente a In com I 2 ⇤ X ! finito,
Y
então o produto cartesiano Ai terá nível n + 2 em I! .
i2I
• 1 (x, y1 y2 . . . ym ) := x = y1 _ x = y2 _ · · · _ x = ym ;
116
• 6 (x, U, V ) := x 2 U ^ x 62 V ; • 9 (x, U, N ) := (9x 2 N ) (x, y) 2 R;
• 7 (x1 , x2 , U, V ) := x1 2 U ^ x2 2 V ;
onde aplicamos várias abreviações análogas às mencionadas nas Notações A.29, A.30 e
A.31 para representar algumas dessas fórmulas.
117
(f ) Pela letra (e), temos que R e H são relações binárias em In 3 , resultando em
R H ⇢ In 3 ⇥ In 3 2 In pela letra (d). O resultado desejado segue ao aplicarmos
o PDI à fórmula 12 , onde a variável T deve ser substituída por In 3 .
Y
(g) Seja f 2 Ai e seja (i, x) 2 f . Pela letra (e), temos I ⇢ In 3 e Ai 2 I n 3
(8i 2 I),
i2I
resultando em Ai ⇢ In 2 (8i 2 I) e f ⇢ In 3 ⇥ In 2 ⇢ In . Como I é finito, temos
que f é um conjunto finito de elementos de In , implicando em f 2 In+1 pela letra
Y
(a), e provando que Ai ⇢ In+1 2 In+2 . O resultado segue ao aplicarmos o PDI à
i2I
fórmula 13 , onde a variável U deve ser substituída por In 2 .
Pela letra (a), temos que um ⇤ X! -conjunto finito será interno se, e somente se,
cada um dos seus elementos for interno.
Corolário 4.28. Se A for um X! -conjunto infinito, então ⇤ hAi será externo. Em parti-
cular, teremos ⇤ hAi ( ⇤ A nesse caso.
118
4.4 Princípio Geral das ⇤-Transformações
Várias operações matemáticas em X! são definidas por L✏ -fórmulas, de modo que
X! -conjuntos são formados a partir de sequências finitas de parâmetros em X! . O teorema
a seguir oferece uma descrição geral das ⇤-transformações dos resultados dessas operações.
Teorema 4.29 (Princípio Geral das ⇤-Transformações7 ; PGT). Seja (x, y1 . . . yp ) uma
L✏ -fórmula com quantificadores limitados, e sejam a1 . . . ap 2 X! . Se o conjunto
C dado por ⇢
.
C := t 2 X! .. |= (t, a1 . . . ap )
⇢
.
D := t 2 ⇤ X! .. ⇤ |= (t, ⇤ a1 . . . ⇤ ap ) ,
então ⇤ C = I! \ D.
|= (8x 2 Z) (x 2 C ! (x, a1 . . . ap )) ,
pelo PT temos
|= (8x 2 ⇤ Z) (x 2 ⇤ C ! (x, ⇤ a1 . . . ⇤ ap )) .
(x1 . . . xn , y1 . . . yp )
uma L✏ -fórmula com quantificadores limitados, seja R uma relação n-ária em X! perten-
cente a X ! , e sejam a1 . . . ap 2 X! . Sejam
⇢
.
C := (t1 . . . tn ) 2 R .. |= (t1 . . . tn , a1 . . . ap )
7
Diferentemente do PDS e do PDI, o enunciado do Teorema 4.29 é raramente explicitamente menci-
onado na literatura. O autor considera-o tão importante, elucidativo e generalizante quanto aqueles
princípios, legitimando, assim, a atribuição de um nome e uma sigla a tal resultado.
119
e ⇢
.
D := (t1 . . . tn ) 2 ⇤ R .. ⇤ |= (t1 . . . tn , ⇤ a1 . . . ⇤ ap ) .
Temos ⇤ C = D.
Seja E o conjunto
⇢
.
E := t 2 ⇤ X! .. |= t 2 ⇤ R ^ (9t1 . . . tn 2 Ik 3 ) (t = (t1 . . . tn ) ^ (t1 . . . tn , ⇤ a1 . . . ⇤ ap )) .
⇢
.
⇤
;= t 2 ⇤ X .. ⇤ |= t 6= t = ;.
(a) ⇤
{a1 a2 . . . an } = {⇤ a1 ⇤ a2 . . . ⇤ an } ; (f ) ⇤
(A ⇥ B) = ⇤ A ⇥ ⇤ B;
(g) ⇤
(P n (A)) = I! \ P n (⇤ A), onde n
(b) ⇤
(a1 a2 . . . an ) = (⇤ a1 ⇤ a2 . . . ⇤ an ) ;
é um número natural;
(c) ⇤
(A [ B) = ⇤ A [ ⇤ B; (h) ⇤ A
B = I! \ (
⇤ A)
(⇤ B) ;
B = I! \ Int( A, 6) (⇤ B)
Int(A,6) ⇤ ⇤
(d) ⇤
(A \ B) = ⇤ A \ ⇤ B; (i) ⇤
(p) ⇤
f : ⇤ A ! ⇤ B; (r) ⇤
f será injetora se, e somente se, f
for injetora;
(s) f será sobrejetora se, e somente
⇤
(q) ⇤
(f (x)) = ⇤ f (⇤ x) ; se, f for sobrejetora.
Demonstração. Claramente, temos (a) ) (b) e (f ) ) (j) . As condições (p) , (r) e (s)
são consequências imediatas de (j) e do PT, e as condições (c) e (d) são consequências de
(a) , (b) , (t) e (u). Como
R hP i = Im [R \ (P ⇥ Im (R))] ,
• 1 (x, y1 y2 . . . yn ) := x = y1 _ x = y2 _ · · · _ x = yn ;
• 2 (x, U, V ) := x 2 U ^ x 62 V ;
121
• 5 (x, U, V ) := x : U ! V ;
• 18 (x, U ) := (9y 2 U ) x 2 y;
• 19 (x, U ) := (8y 2 U ) x 2 y.
Nota-se que
[ \ [ \
{⇤ a, ⇤ b} , ⇤ A ⇤
B, ⇤ A ⇥ ⇤ B, ⇤
Mi , ⇤
Mi , ⇤
A, ⇤
A ⇢ I! ,
i2⇤ I i2⇤ I
e os resultados das letras (a) , (e) , (f ) , (g) , (h) , (i) , (t) , (u) , (v) , (↵) e ( ) seguem ao apli-
carmos o PGT às L✏ -fórmulas 1 , 2 , 3 , 4 , 5 , 6 , 11 , 12 , 13 , 18 e 19 , respectivamente.
Em 13 , a variável U deve ser substituída por um nível em X! que contenha a
[
união Mi .
i2I
em X! .
Como A, B ⇢ X ! e A, B 2 X n para algum número natural n, temos A, B ⇢ X n 1 ,
e todo elemento de A ou de B será um subconjunto de Xn 2 . Portanto, as letras (w) , (x)
e (y) seguem ao aplicarmos o PGT às L✏ -fórmulas 14 , 15 e 16 , respectivamente, onde a
122
variável T deve ser substituída pelo nível Xn 2 em X! . Produtos cartesianos de elementos
de X n 1 são subconjuntos de Xn (Teorema 4.8, Letra (f )), resultando que a letra (z) segue
ao aplicarmos o PGT à L✏ -fórmula 17 , onde a variável T deve ser substituída pelo nível
Xn em X! .
Por fim, se x 2 A, então pelas letras (a) e (m) teremos
As letras (g), (h) e (i) do Teorema 4.32 correspondem ao Teorema 2.31. Assim,
finalizamos as demonstrações de todas as afirmações postuladas no Capítulo 2.
Exemplo 4.33. Se X for finito, então todo elemento de ⇤ X = ⇤ X0 será standard (Teorema
4.32, Letra (a)), e prova-se por indução sobre n que todo elemento do nível ⇤ Xn será
standard. Assim, nesse caso, todo ⇤ X! -objeto será standard, e o monomorfismo não
standard ⇤ : V (X) ! V (⇤ X) será um isomorfismo.
Corolário 4.34.
Demonstração.
(a) Temos
In = ⇤ P (Xn 1 ) = I! \ P (⇤ Xn 1 ) = I! \ ⇤ X n .
|= x 2 X n+1 ^ x 62 X n ,
123
4.5 Conjuntos Hiperfinitos
Há uma classe peculiar de ⇤
X! -conjuntos associada à noção de finitude de
um conjunto.
implicando que A será hiperfinito. Portanto, todo ⇤ X! -conjunto será hiperfinito quando
X for finito.
Proposição 4.38.
(a) ⇤
(P! (E)) = Phf (⇤ E) para todo X! -conjunto E;
Demonstração.
⇤
P! (E) ⇢ ⇤ P (E) = I! \ P (⇤ E) ,
|= (8A 2 P! (F )) (A ⇢ E ! A 2 P! (E)) ,
124
(b) Seja E um X! -conjunto, seja A 2 ⇤ (P! (E)), e seja S ⇢ A com S 2 Ik (k < !).
Temos
|= (8A 2 P! (E)) 8S 2 X k (S ⇢ A ! S 2 P! (E)) ,
(c) Pelas letras (c), (d) e (e) do Teorema 4.25, o conjunto B e a restrição
g := f S= f \ (S ⇥ B)
são internos. Seja E um X! -conjunto de nível m < ! tal que S 2 ⇤ P! (E), e seja n
um número natural tal que B e g têm nível n em I! . Assim, temos B ⇢ In 1 e
Exemplo 4.39. Se {xn }M 6n6N for uma hipersequência interna de ⇤ X! -objetos com
M, N 2 ⇤ Z, então o conjunto {xn }M 6n6N será hiperfinito (Proposição 4.38, Letra (c)).
Nesta seção, denotaremos por Fin (E, P ) a L✏ (X! )-fórmula (Definição A.26
e Nota A.27)
(9!n 2 N) (9S 2 P (N)) (9f 2 P ) (E, n, S, f ) ,
2. (8x 2 N) (x 2 S ! x 6 n) ;
Se A e B forem dois X! -conjuntos, então a condição |= Fin (A, P (N ⇥ B)) será verdadeira
se, e somente se, A for um subconjunto finito de B.
Teorema 4.40. Um ⇤ X! -conjunto A será hiperfinito se, e somente se, existir um único
número hiperinteiro não negativo n tal que existe uma bijeção interna f : [1, n]⇤ N0 ! A.
125
Demonstração. O resultado é imediato para A = ;, visto que a bijeção nula
; : ; ! ; é interna.
Suponha que A é hiperfinito e não nulo. Assim, existirá um X! -conjunto F tal
que A 2 ⇤ P! (F ), e, como
S 2 ⇤ P (N) ⇢ P (⇤ N)
e uma função
f 2 ⇤ P (N ⇥ F ) ⇢ P (⇤ N0 ⇥ ⇤ F )
tais que S = [1, n]⇤ N e f é uma bijeção do tipo S ! A, provando a condição necessária.
Suponha que existe um único número hipernatural n tal que existe uma bijeção
interna f : [1, n]⇤ N ! A. Assim, existe um número natural k com A 2 Ik (Teorema 4.25,
Letra (e)), e, como
(a) ⇤
E será hiperfinito se, e somente se, E for finito;
(b) Um ⇤ X! -conjunto finito será hiperfinito se, e somente se, ele for interno.
Demonstração.
(a) Se E for finito, então ⇤ E será finito e será hiperfinito (Teorema 4.32, Letra (a)). Se
⇤
E for hiperfinito, se n for um número natural com E 2 X n , e se E for infinito,
então teremos
|= ¬Fin (E, P (N ⇥ Xn 1 )) ,
126
Exemplo 4.42. O conjunto dos números hipernaturais, ⇤ N, não é hiperfinito. De fato, a
⇤-transformação de qualquer X! -conjunto infinito não é hiperfinita (Corolário 4.41,
Letra (a)).
pelo PT temos que se A 2 ⇤ (P! (E)) = Phf (⇤ E), então (A, JAK) 2 ⇤ f .
Demonstração. Assumiremos que f (a) < f (b). Seja N um número hipernatural infinito,
e seja {xn }06n6N a hipersequência de números hiper-reais definida por
b a
xn := a + · n.
N
Como o intervalo [0, N ]⇤ N é interno (Exemplo 2.28), a sequência dos xn é interna (Corolário
2.29). Seja A o conjunto não nulo dado por
⇢
.
A := xn .. 0 6 n 6 N e ⇤ f (xn ) < y .
127
subconjunto finito não nulo de R tem um maior elemento, pelo PT temos que todo
subconjunto hiperfinito não nulo de ⇤ R tem um maior elemento, implicando que existe
um k 2 [0, N ]⇤ N tal que xk é o maior elemento de A. Seja c := st (xk ) 2 [a, b]R . Temos
✓ ◆
b a
⇤
f (xk ) < y 6 f (xk+1 ) = f xk +
⇤ ⇤
,
N
e, como f é contínua em c, temos (Teorema 2.41, Letra (k))
✓ ◆
⇤ ⇤ b a
f (xk ) ⇠ f (c) ⇠ f xk + ,
N
resultando em f (c) ⇠ y e f (c) = y (Proposição 1.79).
• g :Int(Z,<) E {;} ! E;
128
M
• {xi }m6i6m = xm para qualquer hipersequência interna {xi }m6i6m com xm 2 A
cujo conjunto de índices é unitário;
M M
• {xi }m6i6n = {xi }m6i6n 1 xn para qualquer hipersequência interna
{xi }m6i6n de elementos de A com m, n 2 ⇤ Z e m < n.
M
Dizemos que a função é a operação hiperfinita induzida por , visto que cada
elemento do seu domínio define um conjunto hiperfinito (Proposição 4.38, Letra (c)). Caso
M
a lei de composição tenha um elemento neutro 0A 2 A, a função será estendida
⇤
M
para o domínio I! \ Int( Z,<) A de modo que (;) := 0A .
n
! p
! p
Y Y Y
(b) xi · xi = xi ; (Aditividade)
i=m i=n+1 i=m
n n+j
Y Y
(c) xi = xi j ;
(Invariância Translacional)
i=m i=m+j
n
Y n
Y
(d) xi 6 yi
i=m i=m (Monotonicidade)
se 0 6 xi 6 yi (8i 2 [m, n]⇤ Z ) ;
n
Y n
Y
(e) xi = |xi |. (Distributividade de |·|)
i=m i=m
129
onde xm . . . xn . . . xp e ym . . . yn são duas hipersequências internas de números hiper-
reais com m 6 n < p, r 2 ⇤ R, e j 2 ⇤ Z.
Exemplo 4.49. Seja E 2 X n com n < !, e seja [ : P (E) ⇥ P (E) ! P (E) a lei de
composição em P (E) que associa cada par (M, N ) de subconjuntos de E à união M [ N .
Assim, temos
Mn [n
união. Analogamente, tomando = [ prova-se que
⇤
Mi = Mi para qualquer
i=m i=m
hipersequência interna {Mi }m6i6n de subconjuntos internos de ⇤ E, implicando que a união
[n
Mi é interna. Esses resultados também são válidos ao considerarmos as interseções no
i=m
lugar das uniões.
Exemplo 4.50. Considere a função mdc : N ⇥ N ! N, a qual associa cada par (p, q) de
números naturais ao maior divisor comum de p e q. Temos
|= (8p, q 2 N) [mdc (p, q) |p ^ mdc (p, q) |q ^ (8n 2 N) ((n|p ^ n|q) ! n|mdc (p, q))] ,
onde as L✏ (X! )-fórmulas da forma a|b são dadas por (9c 2 N) a · c = b, resultando pelo
PT que se p e q forem dois números hipernaturais, então o número ⇤ mdc (p, q) será o
maior divisor comum de p e q em ⇤ N. Analogamente, tomando = ⇤ mdc prova-se que se
M n
{pi }m6i6n é uma hipersequência interna de números hipernaturais, então a imagem pi
i=m
é o maior divisor comum dos números pi em ⇤ N. Esses resultados também são válidos ao
considerarmos os menores múltiplos comuns no lugar dos maiores divisores comuns.
Teorema 4.51. Seja (x, y1 . . . yn ) uma L✏ -fórmula com quantificadores limitados, sejam
a1 . . . an 2 I! , e seja A o conjunto de números hipernaturais dado por
⇢
.
A := n 2 ⇤ N .. ⇤ |= (n, a1 . . . an ) .
130
(a) (Princípio do Overflow ) Se existir um k 2 N tal que [k, 1)N ⇢ A, então existirá um
K 2 ⇤ N N tal que [k, K]⇤ N ⇢ A;
(a) A união B := [1, k 1]N [ A é interna (Teorema 4.25, Letra (c)), e, pela hipótese,
temos N ⇢ B ⇢ ⇤ N. Se B = ⇤ N, então [k, 1)⇤ N ⇢ A, e, em particular, teremos
[k, K]⇤ N ⇢ A para qualquer K 2 ⇤ N N. Se B 6= ⇤ N, então a diferença interna
⇤
N B será não nula e terá um menor elemento H (Exemplo 2.32)
pertencente a ⇤ N N, implicando em
(b) A união C := [K + 1, 1)⇤ N [ A é interna (Teorema 4.25, Letra (c)), e, pela hipótese,
temos ⇤ N N ⇢ C ⇢ ⇤ N. Se C = ⇤ N, então [1, K]⇤ N ⇢ A. Se C 6= ⇤ N, então a
diferença interna ⇤ N C será não nula e terá um maior elemento h (Exemplo 2.32)
pertencente a N, implicando em
Exemplo 4.52. Se g : ⇤ N ! ⇤ R for uma função interna tal que g (n) ⇠ 0 (8n 2 N), então
todo número natural pertencerá ao conjunto
⇢
. 1
A := n 2 ⇤ N .. |g (n)| < ,
n
131
Exemplo 4.53. Seja S um subconjunto interno de ⇤ N. Provaremos que S conterá núme-
ros hipernaturais infinitos arbitrariamente pequenos se, e somente se, S contiver números
naturais arbitrariamente grandes. Se a interseção S \ N tiver um número natural n como
cota superior, então, como o complemento ⇤ N S é interno e contém todo número no
intervalo [n + 1, 1)N , pelo Princípio do Overflow existirá um número hipernatural infi-
nito K tal que [n + 1, K]⇤ N ⇢ ⇤ N S, resultando em S1 ⇢ [K + 1, 1)⇤ N e provando
a implicação contrapositiva da condição necessária do problema. Reciprocamente, se a
interseção S \ ⇤ N1 tiver uma cota inferior N em ⇤ N1 , então a diferença [1, N 1]⇤ N N
estará contida no conjunto interno ⇤ N S, e, pelo Princípio do Underflow, existirá um
número natural k tal que [k, N 1]⇤ N ⇢ ⇤ N S. Nesse caso, teremos S \ N ⇢ [1, k 1]N
e o conjunto S \ N será finito, finalizando a demonstração da equivalência desejada.
132
5
Monomorfismos Não Standard Existem
Os resultados dos Capítulos 2 e 4 não têm relevância matemática até que a existên-
cia dos monomorfismos não standard ⇤ : X! ! Y! seja demonstrada em NBG. Veremos
neste capítulo que o Axioma da Escolha e o aparato conceitual desenvolvido no
Capítulo 3 e na Seção 4.1 são suficientes para descrever uma construção de uma função
com as propriedades desejadas. Essa idealização de ⇤, concebida por Abraham
Robinson e Elias Zakon (46, 54), é parcialmente ardilosa e emaranhada, embora seja a
mais simples conhecida. A fim de elucidá-la, procederemos, inicialmente, à descrição de
uma função ? : X! ! Y! , para depois definirmos a função ⇤ pretendida evitando um
empecilho peculiar que impede que ? seja um monomorfismo não standard.
Assim como fizemos na Seção 3.8, aproveitaremos a imersão canônica associada a
Y
uma ultrapotência X para iniciar a concepção de ⇤, onde será necessário que U seja
U
um ultrafiltro não principal em um conjunto I. Como existe um modelo de NBG {AC}
no qual todo ultrafiltro em todo conjunto I é principal, deduz-se que o Axioma da Escolha
é indispensável para que a construção descrita neste capítulo seja possível. De fato, não
é conhecida uma única maneira de obter ⇤ sem a utilização do Axioma da Escolha.
Lema 5.1. Seja ↵ um ordinal infinito. Se X for um conjunto tal que ; 62 X e todo
elemento de um elemento de X tem posto ↵, então X será um conjunto base.
Demonstração. Provaremos por indução sobre o número inteiro não negativo n que cada
X! -objeto x de nível n é tal que posto (x) < n ou ↵ < posto (x) 6 ↵+n+1. Tal afirmação
é válida para n = 0, visto que todo X! -átomo tem posto ↵ + 1. Suponha que ela é válida
para um número n e seja x 2 Xn+1 . Se x 2 X, então posto (x) = ↵ + 1 6 ↵ + (n + 1) + 1.
Considere o caso em que x 2 X n+1 , ou seja, x ⇢ Xn . Assim, pela hipótese de indução,
todo elemento de x terá posto menor que n ou pertencente ao intervalo (↵, ↵ + n + 1]On .
Se todo elemento de x tiver posto menor que n, então o posto de x será menor que n + 1
(Proposição B.33), e se x tiver pelo menos um elemento no intervalo (↵, ↵ + n + 1]On ,
então, como ↵ é infinito, teremos ↵ < posto (x) 6 ↵ + (n + 1) + 1, finalizando a indução.
Portanto, se a 2 X e x 2 a \ X! , então x terá posto ↵ e existirá um número
inteiro não negativo n tal que x 2 Xn , resultando em posto (x) < n < ↵ ou
↵ < posto (x) 6 ↵ + n + 1, o que é absurdo.
Se x e y forem quaisquer dois objetos, então o posto do par ordenado (x, y) será
dado por
Portanto, o posto de um par ordenado é duas unidades maior que o maior posto
das suas coordenadas.
Vale lembrar que se X 0 for uma cópia de X, então qualquer estrutura matemática
relacionada ao conjunto X pode ser convertida em uma estrutura equivalente relacionada
a X 0 . Por exemplo, se f : X ! X 0 for uma bijeção, e se R for uma relação n-ária em X,
então a relação n-ária R0 em X 0 definida pela equivalência
(x1 . . . xn ) 2 R0 , f 1
(x1 ) . . . f 1
(xn ) 2 R
134
Proposição 5.3 (Potências Reduzidas Base). Seja X um conjunto, seja I um conjunto
não nulo de posto infinito, e seja F um filtro em I. Se
Seja f : I ! X uma função. Se posto (I) for um ordinal sucessor, então existirá um ordinal
↵ com posto (I) = ↵ + 1 tal que posto (i) 6 ↵ (8i 2 I), e existirá um elemento i↵ de I
com posto (i↵ ) = ↵. Nesse caso, se i 2 I, então os ordinais posto (i) e posto (f (i)) serão
menores ou iguais a ↵ (Teorema B.16), implicando em posto ((i, f (i))) 6 ↵ + 2 (8i 2 I)
com a igualdade ocorrendo no caso i = i↵ , e posto (f ) = ↵ + 3.
Suponha que posto (I) é um ordinal limite. Assim, se (i, x) 2 f , então
teremos (Teorema B.23)
posto ((i, x)) = max (posto (i) , posto (x)) + 2 < posto (I) ,
e se for qualquer ordinal menor que posto (I), então existirá um i 2 I com
< posto (i ) < posto (I), resultando em
< max (posto (i ) , posto (f (i ))) + 2 = posto ((i , f (i ))) < posto (I)
(Mon1) ⇤
X =Y;
(Mon3) (Princípio da Transferência; PT) Para toda L✏ -fórmula (x1 . . . xn ) com quan-
tificadores limitados, temos
|= [a1 . . . an ] , ⇤ |= [ ⇤ a1 . . . ⇤ an ]
para quaisquer a1 . . . an 2 X! ,
135
onde estamos aplicando a Notações 4.17 e 4.18.
Como vimos na Seção 3.8, é razoável definir Y = ⇤ X como uma ultrapotência da
Y
forma X. Por ora, escolheremos um conjunto não nulo I qualquer e um ultrafiltro U
U
qualquer em I, e definiremos:
Y
Definição 5.4. Seja Y a ultrapotência X.
U
A Proposição 5.3 nos fornece uma condição suficiente para que a ultrapotência Y
seja um conjunto base. Por tal razão, faremos a seguinte suposição:
Suposição 5.5. O conjunto I tem posto infinito e maior ou igual a posto (X).
é uma cópia de J que tem posto infinito e maior que posto (X).
136
Definição 5.8. Para cada subconjunto A de X, seja
⇢
.
⇤1 (A) := lim s (i) .. s 2 I X0 e s (i) 2 A q.t.p. .
X,U
Assim, temos
⇢
..
⇤1 (X) = lim s (i) . s 2 I X0 e s (i) 2 X q.t.p.
X,U
⇢
..
= lim s (i) . s 2 IX
X,U
= Y,
onde:
para todo r 2 I X1 I
X0 .
137
As funções p0 e p1 exibem um padrão previsível.
pn (x) := {x}i2I .
1
[
A extensão infinita das funções pn , a qual é dada pela união pn e é uma função do
n=0
1
[
tipo X! ! I
Xn , será denotada por p.
n=0
p0 ⇢ p1 ⇢ p2 ⇢ · · · .
Definição 5.10.
• Supondo que a função qn já foi determinada, definimos a função qn+1 como sendo a
extensão da função qn ao domínio I Xn+1 tal que
⇢
.
qn+1 (s) := qn (r) .. r 2 I Xn e r (i) 2 s (i) q.t.p.
Temos ?0 = ⇤0 , ?1 = ⇤1 , e
q0 ⇢ q1 ⇢ q2 ⇢ · · · .
138
Exemplo 5.11. Suponha que X 6= ;, seja a um X! -átomo, e seja1 A um X! -conjunto
de posto 1 tal que a 2 A. Empregando a Notação 2.4 para a função ?, temos
?
A = q2 (p2 (A))
= q2 {A}i2I
⇢
.
= q1 (r) .. r 2 I X1 e r (i) 2 A q.t.p. .
Se t 2 I X0 e t (i) 2 r (i) q.t.p., então, como r (i) 2 X0 q.t.p., teremos (Proposição 3.16,
Letra (c))
t (i) 2 r (i) 2 X0 q.t.p.,
implicando em ; 2 A pelo PT. Nesse caso, como A é arbitário, o conjunto vazio pertencerá
a todo X! -conjunto de posto 1 que tem um átomo como elemento, o que é claramente
um absurdo como diversos contraexemplos mostram. Portanto, a função ? indicada na
Definição 5.10 não pode ser um monomorfismo não standard quando X 6= ;.
1
Existe um X! -conjunto com tal propriedade. Como exemplo, podemos tomar A = {a, {a}}.
139
em vez de q1 (r) = ;, tornando a conclusão da argumentação daquele exemplo impraticá-
vel. Há coerência e significância em expressar o ultralimite lim r (i) (Notação 3.21), e isso
X,U
sugere que devemos considerar uma nova sequência de funções
f0 ⇢ f1 ⇢ f2 ⇢ · · ·
Definição 5.12.
1
[
e seja W! := Wn ;
n=0
e fn+1 (s) 2 Y n+1 , provando que Im (fn+1 ) ⇢ Yn+1 . Pelo Princípio da Indução, a demons-
tração está completa.
140
Cada função fn é do tipo Wn ! Yn , e f é do tipo W! ! Y! .
Até o restante deste capítulo, aplicaremos as Proposições 3.16 e 3.40 sem
mencioná-las explicitamente.
Corolário 5.15. Para cada ordinal finito n e para cada s 2 Wn+1 , temos
(a) Se r, s 2 W0 , então
e podemos assumir que r (i) 6⇢ s (i) q.t.p. sem perda de generalidade. Como
r, s 62 W0 , temos
(r (i) 6⇢ s (i) ^ r (i) , s (i) 2 X ! ) q.t.p.,
ou seja, existe um U 2 U tal que r (i) 6⇢ s (i) e r (i) , s (i) 2 X ! para todo i 2 U .
Para cada i 2 U , seja u (i) um elemento de r (i) que não pertence a s (i), e, para cada
141
i 2 I U , seja u (i) := ;. Definimos, assim, uma função u : I ! X! pertencente
a Wn (Proposição 5.14) tal que u (i) 2 r (i) q.t.p. e u (i) 62 s (i) q.t.p., resultando
em f (u) 2 f (r). Se f (u) 2 f (s), então existirá um v 2 Wn com v (i) 2 s (i) q.t.p.
tal que f (u) = f (v), e, pela hipótese de indução, teremos u (i) = v (i) q.t.p. e
u (i) 2 s (i) q.t.p., o que é absurdo. Portanto, temos f (u) 2 f (r) f (s), o que é
absurdo, provando a proposição pelo Princípio da Indução.
Enfim, dispomos das ferramentas necessárias para trabalhar com os objetos mate-
máticos desejados neste capítulo: as funções ⇤0 ⇤1 ⇤2 . . . e a função ⇤.
⇤n := fn pn : Xn ! Yn
e seja
1
[
⇤ := ⇤n : X ! ! Y ! .
n=0
142
Se A ⇢ X, então
⇢
.
⇤ hAi = ⇤
x .. x 2 A
⇢
.
= lim x .. x 2 A
X,U
⇢
.
⇢ lim r (i) .. r 2 W0 e r (i) 2 A q.t.p.
X,U
= ⇤A ,
Lema 5.22. Seja C (i, x) uma condição nas variáveis i e x, e seja r 2 W! . As condições
143
e
(9s 2 W! ) [(s (i) 2 r (i) ^ C (i, s (i))) q.t.p.]
são equivalentes.
Lema 5.23. Para toda L✏ -fórmula (x1 . . . xn ) com quantificadores limitados, e para
quaisquer r1 . . . rn 2 W! , temos
(x1 . . . xn ) = ¬ (x1 . . . xn ) ,
144
• Se (x1 . . . xn ) for da forma
• Se (x1 . . . xn ) for da forma (9y) (x1 . . . xn , y) (onde y é uma variável que não
aparece na lista x1 . . . xn ), então, como tem quantificadores limitados (Definição
A.16), a L✏ -fórmula (x1 . . . xn , y) será da forma
(x1 . . . xn , y) = y 2 xm ^ (x1 . . . xn , y) ,
⇤ |= (f (r1 ) . . . f (rn )) ;
pelo Corolário 5.15, implicando que existe um s 2 W! tal que s (i) 2 r1 (i) q.t.p.
e g = f (s). Portanto, como a fórmula tem complexidade k 2, as seguintes
condições são equivalentes:
1. ⇤ |= (f (r1 ) . . . f (rn )) ;
2. (9g 2 f (r1 ) \ Y! ) ⇤ |= (f (r1 ) . . . f (rn ) , g) ;
3. (9s 2 W! com s (i) 2 r (i) q.t.p.) ⇤ |= (f (r1 ) . . . f (rn ) , f (s)) ;
4. (9s 2 W! com s (i) 2 r (i) q.t.p.) |= (r1 (i) . . . rn (i) , s (i)) q.t.p.;
5. (9s 2 W! ) (|= s (i) 2 r1 (i) ^ (r1 (i) . . . rn (i) , s (i)) q.t.p.) ;
6. ((9x 2 X! ) |= x 2 r1 (i) ^ (r1 (i) . . . rn (i) , x)) q.t.p.;
7. |= (r1 (i) . . . rn (i)) q.t.p.,
145
onde usamos a hipótese de indução na equivalência 3 , 4 e usamos o Lema 5.22
em 5 , 6.
A indução está completa, provando que o resultado desejado é válido para toda L✏ -fórmula
(x1 . . . xn ) com quantificadores limitados.
146
5.6 ⇤
Q e ⇤R são Cauchy-completos
Encerraremos este capítulo mostrando que, dependendo do monomorfismo não
standard ⇤ considerado, é possível concluir que os corpos ordenados dos números hiper-
racionais e hiper-reais, ⇤ Q e ⇤ R, são Cauchy-completos.
Assumiremos que X contém uma cópia do conjunto dos números racionais,
e escreveremos Q ⇢ X.
Lema 5.26. Para quaisquer A, B 2 X ! e para toda função h : ⇤ hAi ! ⇤ B, existe uma
extensão interna H :⇤ A ! ⇤ B de h.
⇤ |= (f (p (a)) , f (ta )) 2 f (T ) ,
é interno pelo PDI. Como B observa a PIF, temos N ⇢ G e existe um número hipernatural
infinito N pertencente a G (Teorema 4.51, Letra (a)), resultando que existe um
x 2 U tal que
\ \ \ \
x2 H (m) ⇢ H (m) = h (m) = B.
m2[1,N ]⇤ N m2N m2N
147
A propriedade de ⇤ descrita no enunciado do Lema 5.27 é chamada de !1 -saturação.
Assim, o monomorfismo não standard ⇤ descrito na Definição 5.17 é !1 -saturado.
Teorema 5.28. Toda sequência de Cauchy no corpo ordenado dos números hiper-racionais
é eventualmente constante.
o que é absurdo, visto que N, mN > N e r < yN = |xN xmN |. Portanto, provamos que
toda sequência de Cauchy em ⇤ Q é eventualmente constante.
Trocando toda ocorrência do conjunto Q por R nesta seção, obtém-se uma de-
monstração completa de que toda sequência de Cauchy em ⇤ R é eventualmente constante.
Assim, ⇤ R é Cauchy-completo.
148
Apêndice
A
Conceitos da Teoria dos Modelos
Diversos conceitos da Teoria dos Modelos, área que estuda classes de estruturas
matemáticas sob a perspectiva da Lógica Matemática, são imprescindíveis para o texto
principal desta dissertação. Este apêndice tem o propósito de recapitular esses conceitos,
assim como prestar esclarecimentos acerca das definições e terminologias relevantes que
serão amplamente empregadas ao longo do trabalho. Para uma exposição detalhada,
ver (13, 28, 39).
definida por
(a1 a2 . . . am ) . (b1 b2 · · · bn ) := a1 a2 . . . am b1 b2 . . . bn
88 9
< <a se i 6 m =
i
= .
: :b se m < i ;
i m
16i6m+n
Note que
e
;. (a1 a2 . . . am ) = (a1 a2 . . . am ) .; = a1 a2 . . . am
para quaisquer sequências finitas {ai }i6m , {bi }i6n , {ci }i6p 2 SeqF (A), de modo que a
função binária que definimos é uma lei de composição associativa em SeqF (A) que tem ;
como elemento neutro. Assim, o conjunto SeqF (A) é um monóide quando munido dessa
lei, o qual é chamado de monóide livre sobre A. A lei de composição em SeqF (A) será
denotada por justaposição, ou seja, a composição de quaisquer A e B em SeqF (A) será
denotada por AB. Os elementos de SeqF (A) são chamados de palavras em SeqF (A), e
todo subconjunto de SeqF (A) é dito ser uma linguagem com alfabeto A.
Observação A.1. Na Teoria dos Monóides, é comum estabelecer que um produtório nulo é
igual ao elemento neutro do monóide. Assim, temos que um produtório da forma A1 . . . An
com Ai 2 SeqF (A) (8i) será igual a ; no caso n = 0.
Definição A.2. Sejam A e B duas palavras em SeqF (A). Dizemos que A é uma sub-
palavra de B se existirem palavras C e D em SeqF (A) tais que B = CAD.
Definição A.3. Se S ⇢ N, então uma função s : S ! SeqF (A) é dita ser um esquema
de substituição (em SeqF (A)).
A.3 Assinaturas
Os símbolos matemáticos não lógicos têm papéis sintáticos específicos nos termos e
sentenças nas quais eles ocorrem. É conveniente que cada um desses símbolos seja enqua-
drado em uma categoria correspondente a exatamente uma dessas aplicações sintáticas.
onde:
• arL é uma função do tipo SLrel [ SLfun [ {=} ! N com arL (=) = 2.
152
Nesse caso, dizemos que:
• Para cada número natural n, os elementos P de SLrel tais que arL (P ) = n são os
símbolos relacionais n-ários em L;
• Para cada número natural n, os elementos G de SLfun tais que arL (G) = n são os
símbolos funcionais n-ários em L;
• Para cada S 2 SLfun [ SLrel [ {=}, o número natural arL (S) é dito ser a aridade de
S em L.
Em geral, identificamos L com a união disjunta SLrel [ SLfun [ SLcon , e dizemos que os
elementos dessa união são elementos de L. Em particular, quando os conjuntos SLrel ,
SLfun e SLcon forem finitos, denotaremos a assinatura L utilizando-se da notação usual
{x1 x2 . . . xn } para conjuntos finitos, onde a situação de cada símbolo da lista como um
símbolo relacional n-ário, um símbolo funcional n-ário ou um símbolo de constante deverá
ser explicitada pelo o contexto.
Exemplo A.7. A assinatura L✏ := {2} tal que 2 é um símbolo relacional binário é dita
ser a assinatura dos conjuntos.
• 1
é um símbolo funcional unário;
153
Exemplo A.9. A assinatura LA := {+, ·, 0, 1} tal que
AL := {v1 v2 . . . vi . . . } [ {¬, _, ^, 9, 8, =, ), (, ,} [ L,
onde:
• Os símbolos
¬, _, ^, 9, 8, =, ), (, e ,
são distintos.
154
• v1 v2 . . . vi . . . são as variáveis; • 9 é o símbolo da quantificação
existencial;
• ¬, _, ^, 9, 8 são os símbolos lógicos
em AL ; • 8 é o símbolo da quantificação
universal;
• Os elementos de L são os símbolos
• = é o símbolo da igualdade,1 o qual
específicos em AL ;
é considerado um símbolo relacional
binário em L embora não seja um ele-
• ¬ é o símbolo da negação;
mento de L;
• _ é o símbolo da disjunção; • ( e ) são os parênteses;2
A.4 Termos
Objetos matemáticos são representados pelas palavras em SeqF (AL ) que são ge-
radas por três regras sintáticas.
Definição A.13. Dizemos que uma palavra t 2 SeqF (AL ) é um L-termo ou um termo
em L se existe uma sequência finita não nula de palavras t1 t2 . . . tk tal que tk = t, e, para
cada índice i, uma das seguintes condições é observada:
155
A complexidade de um L-termo t é o número de ocorrências de símbolos
funcionais em t. O conjunto dos L-termos é uma linguagem com alfabeto AL a qual é
denotada por T (L). Denotaremos por V (t) o conjunto dos índices das variáveis que
ocorrem em um termo t, e dizemos que t é um termo fechado se V (t) = ;. A notação
t (vi1 . . . vin ) significará V (t) ⇢ {i1 . . . in }, onde i1 i2 . . . in 2 N, e, sempre que escrevermos
t (x1 . . . xn ), estará subentendido que x1 . . . xn são variáveis.
A.5 Fórmulas
Algumas palavras em SeqF (AL ) representam afirmações matemáticas completas.
Definição A.14. Dizemos que uma palavra 2 SeqF (AL ) é uma L-fórmula ou uma
fórmula em L (de primeira ordem) se existe uma sequência finita não nula de palavras
1 2 . . . k tal que k = , e, para todo índice i, uma das seguintes condições é observada:
i = P (t1 t2 . . . tn ) .
Nota. Em ocasiões, omitiremos pares de parênteses que não forem estritamente necessários
para evitar ambiguidades em algumas fórmulas. Porém, em outras ocasiões, adicionare-
mos pares de parênteses que ajudem na “leitura semântica” das fórmulas.
156
são respectivamente denotadas por
( 1 ! 2) e ( 1 ! 2) .
(QLim1) Para toda subfórmula de da forma (9x) para alguma variável x e alguma
fórmula , a fórmula é da forma
= (x 2 y ^ )
(QLim2) Para toda subfórmula de da forma (8x) para alguma variável x e alguma
fórmula , a fórmula é da forma
= (x 2 y ! )
(9x) (x 2 y ^ ) e (8x) (x 2 y ! )
(9x 2 y) e (8x 2 y) .
= (8x) (x 2 y _ y 6= z) ^ z = w
157
não tem quantificadores limitados, pois a fórmula
(8x) (x 2 y _ y 6= z)
(x 2 y _ y 6= z)
= (9y) (y 2 x ^ y 62 z) ! (8y) (y 62 z _ y = w)
(9y) (y 2 x ^ y 62 z) ,
(8y) (y 62 z _ y = w) ,
158
• é dita ser uma L-sentença ou uma sentença em L se V ( ) = ;;
na posição i + j 1;
• Dizemos que t é livre para x em se, para cada índice i tal que x ocorre livre em
na posição i, temos que t é livre para x em na posição i.
Definição A.22.
(a) Seja
t = t1 t2 . . . tk = t (x1 . . . xn )
159
de substituição definido por s (ij ) := hu quando tij = xu . A palavra tpsq é um
L-termo, o qual é denotado por t (h1 . . . hn ).
(b) Seja
= 1 2 ... k = (x1 . . . xn )
A.9 Estruturas
Muitas estruturas matemáticas consistem em um conjunto munido de relações,
funções e constantes definidas nesse conjunto. À vista disso, pode-se compreender uma
assinatura (Definição A.5) como um esquema de construção adequado a um determinado
tipo de estrutura, o qual contém as variedades de munições que devem ser fornecidas a
um conjunto para que ele seja uma estrutura do tipo desejado.
kM k , L, IM ,
onde:
• IM é uma função com domínio SLrel [ SLfun [ SLcon [ {=} tal que:
– Definimos: ⇢
.
I (=) = = := (x, y) 2 kM k2 .. x = y .
M M
160
Nesta dissertação, abriremos exceção para a regra kM k =
6 ; somente quando a
assinatura L for tal que Sf un = Scon = ;. Assim, por exemplo, consideraremos que a
L L
Exemplo A.24. Se L for a assinatura vazia, então L não terá símbolo algum para ser
interpretado por uma L-estrutura M , implicando que tal estrutura sempre poderá ser
identificada com seu conjunto de elementos. Ou seja, nesse caso podemos dizer que as
L-estruturas são os conjuntos.
Definição A.25. Sejam L0 uma assinatura que estende L, seja M uma L-estrutura, e
seja N uma L0 -estrutura. Dizemos que M é a redução de N a uma L-estrutura, ou N é
uma expansão de M a uma L0 -estrutura, se as seguintes condições são observadas:
• kM k = kN k ;
Definição A.26. Seja U um conjunto e seja u 7! u uma bijeção com domínio U cuja
imagem, U , é disjunta de L. Denotaremos por L (U ) a extensão de L definida por
L(U ) L(U )
• Srel := SLrel ; • Scon := SLcon [ U ;
L(U )
• Sf un := SLfun ; • arL(U ) := arL .
161
• Sejam {ui }i2I e {u0i }i2I duas famílias, e sejam ui 7! ui e u0i 7! u0i duas bijeções5 com
n o
respectivos domínios {ui }i2I e {ui }i2I cujas respectivas imagens, ui i2I e u0i
0
,
i2I
são disjuntas de L. Podemos assumir que ui = ui (8i 2 I) quando tivermos a in-
0
• P MU := P M 8P 2 SLrel ;
(8w 2 U) (w 2 z ! (w = x _ w = y))
162
Notação A.30. A L✏ (U)-fórmula com quantificadores limitados dada por
Notações da forma z = ... como as mostradas acima podem ser aproveitadas para
definir notações de inúmeras outras formas, como mostra o exemplo a seguir.
Notação A.31. A L✏ (U)-fórmula com quantificadores limitados dada por
(8w 2 U) (w = (x, y) ! w 2 z)
é denotada por (x, y) 2 z ou y = z (x), onde assume-se (implicitamente) que uma variável
distinta de w está ligada ao quantificador presente na composição interna da fórmula
w = (x, y). Se t1 , t2 e t3 forem L✏ (U)-termos, então a substituição simultânea das
respectivas variáveis x, y e z por t1 , t2 e t3 em (x, y) 2 z será denotada por (t1 , t2 ) 2 t3
ou t2 = t3 (t1 ).
Definição A.32. Seja M uma L-estrutura. Para cada L-termo fechado t definiremos o
elemento tM de M indutivamente sobre a complexidade de t. Se t tem complexidade 0,
então t é um símbolo de constante em L, e, nesse caso, definimos tM := IM (t). Para um
número natural k, suponha que tM está definido para L-termos fechados t de complexidade
< k, e suponha que t é um L-termo fechado de complexidade k. O termo t é da forma
G (w1 w2 . . . wn ), onde G é um símbolo funcional n-ário em L e cada wi é um L-termo
fechado. Assim, definimos:
Note que os termos w1 w2 . . . wn têm complexidade < k, pois suas complexidades somam
k 1. Para um L-termo fechado t, o elemento tM de M é dito ser a
M -interpretação de t.
163
A.12 Relação de Satisfatibilidade
Cada L-fórmula é uma representação de uma afirmativa matemática, e, para cada
L-estrutura M , há uma maneira formal de averiguar se uma L-fórmula simboliza uma
asserção verdadeira ou falsa acerca da essência de M .
M |= P (t1 t2 . . . tn ) :, tM
1
M MM
t2 . . . tM
n
M
2 PM.
Note que 0
tem complexidade k 1;
M |= :, (M |= 1 ou M |= 2) .
M |= :, (M |= 1 e M |= 2) .
M |= :, M |= (a) (9a 2 M ) .
M |= :, M |= (a) (8a 2 M ) .
164
Temos as seguintes terminologias:
Teorema A.35. Seja L0 uma assinatura que estende L, seja M uma L-estrutura, seja
(x1 . . . xn ) uma L-fórmula, e sejam a1 . . . an 2 M . Se M 0 for uma expansão de M a
uma L0 -estrutura, então
M |= [a1 . . . an ] , M 0 |= [a1 . . . an ] .
M |= , N |=
165
Definição A.37. Uma classe K de L-estruturas é dita ser axiomatizável (resp. finita-
mente axiomatizável)
⇢ se existe um conjunto (resp. conjunto finito) de L-sentenças
.
tal que K = M .. M |= . Nesse caso, dizemos que é um conjunto de axiomas
para K.
A.13 Teorias
Se uma L-estrutura for modelo de um conjunto de L-sentenças, então ela também
será modelo das L-sentenças que são implicações semânticas desse conjunto. Portanto, a
classe das sentenças modeladas por uma estrutura é fechada sobre implicações semânticas,
motivando a seguinte definição:
Definição A.39. Seja L0 uma assinatura, seja T uma L-teoria, seja U uma L0 -teoria, e seja
0 =
!! ! (L )!! uma função injetora. Dizemos que U é uma h-extensão conservativa
h : L=
de T se h hT i ⇢ U e h 1 hU i ⇢ T , ou seja, se a equivalência
2 T , h( ) 2 U
166
Existe uma função h : (L✏ )= =
!! ! (L✏ )!! , a qual é definida indutivamente sobre a
complexidade das L✏ -sentenças em seu domínio, cuja aplicação h ( ) sobre uma
L✏ -fórmula consiste na troca de cada subfórmula de das formas (9x) e (8x) pelas
respectivas fórmulas (9c x) e (8c x) (Definição B.3), mantendo o restante dos símbolos
que ocorrem em intactos em suas posições originais. Prova-se que essa função é injetora
e que o seguinte teorema é válido:
Definição A.41. Seja L uma assinatura e sejam M e N duas L-estruturas. Dizemos que
M é uma subestrutura de N , ou M ⇢ N simbolicamente, se as seguintes condições
são observadas:
(SubU) kM k ⇢ kN k ;
167
perspectivas para examinar os enigmas da disciplina. Na Teoria dos Modelos, as principais
ferramentas de comparação entre estruturas estão definidas a seguir:
Toda imersão é injetora e toda imersão elementar é uma imersão. Se existir uma
imersão elementar f : M ! N , então M ⌘ N . Prova-se que todo isomorfismo é uma
imersão elementar e a função inversa de um isomorfismo é um isomorfismo.
Como a negação de uma condição da forma M |= é equivalente a M |= (¬ ),
temos que (ImEl) é equivalente à condição
168
(ImEl’) Para toda L-fórmula (x1 . . . xn ) e para quaisquer a1 . . . an 2 M , temos
Se f for uma função kM k ! kN k entre conjuntos que observa o axioma (ImEl’), então
prova-se que f será uma imersão elementar M ! N entre L-estruturas.
169
B Formalizações da Teoria dos Conjuntos
O estudo informal e intuitivo dos conjuntos, conhecido como Teoria Ingênua dos
Conjuntos, provou ser incerto e pouco confiável à medida que diversos paradoxos foram
sendo descobertos no início do século XX. O afastamento dessa abordagem foi encarado
como uma prioridade crucial por vários pensadores, visto que praticamente todas as áreas
da Matemática fundam-se decisivamente na noção de conjunto. A solução encontrada para
esse problema consiste na instauração de uma série de postulados que determinam quais
conjuntos podem ser considerados no estudo, tornando, assim, impraticável a construção
dos conjuntos envolvidos nos paradoxos encontrados na versão ingênua do tema.
Várias axiomatizações da teoria foram propostas, a princípio com o mero objetivo
de tornar o estudo consistente e posterioremente com outros objetivos variados, e as mais
aceitas pela comunidade matemática são conhecidas como ZFC e NBG. A primeira trata
exclusivamente de uma qualidade de objeto, os conjuntos, enquanto a segunda trata das
classes, as quais são subdivididas em dois tipos: conjuntos e classes próprias. Ambas
as teorias são equivalentes para teoremas que não envolvem classes próprias (Teorema
A.40). Na visão do autor, NBG possibilita que muitos teoremas sejam apresentados de
maneiras mais diretas e elegantes comparativamente à maneira que eles são exprimidos
em ZFC, e, por tal razão, ela foi escolhida como metateoria para este trabalho.
Neste apêndice, apontaremos as definições de ZFC e NBG e evocaremos os teore-
mas de NBG que serão relevantes para a temática da dissertação. Para uma exposição
detalhada, ver (39).
(Extensão) Se dois conjuntos tiverem os mesmos elementos, então eles serão iguais.
Simbolicamente, temos
(Par) Se x e y forem dois objetos, então existirá um conjunto que contém apenas x e y
como elementos. Simbolicamente, temos
(Infinito) Existe um conjunto I que contém o conjunto vazio como elemento e é tal
que x [ {x} 2 I para todo x 2 I. Simbolicamente, temos
172
(Fundação) Se X for um conjunto não nulo, então existirá um elemento x de X tal
que todo elemento de X não pertence a x. Simbolicamente, temos
(Escolha) Se X for um conjunto, então existirá uma função f tal que qualquer sub-
conjunto não nulo S de X pertence ao domínio de f e é tal que f (S) 2 S. Simbo-
licamente, temos
Uma função f definida em P (X) {;} que satisfaz à propriedade descrita no Axioma da
Escolha é dita ser uma função de escolha para X.
O Axioma da Escolha foi encarado com relutância e desaprovação por vários pen-
sadores do século XX, em virtude dele ser utilizado para demonstrar a existência de alguns
objetos matemáticos que não podem ser explicitamente construídos2 e implicar diversos
resultados contraintuitivos e aparentemente contraditórios. No entanto, ele é quase una-
nimemente aceito pela comunidade matemática contemporânea, sendo supresso apenas
em aplicações pontuais.
1
Essa fórmula simboliza que f é uma relação.
2
Como exemplo, o Axioma da Escolha implica o Lema do Ultrafiltro (Teorema 3.42), o qual certifica a
existência de ultrafiltros sem especificar os elementos que os compõem.
173
Definição B.3.
M (x) := (9y) (x 2 y) .
Tal fórmula é lida como “x é um conjunto”, e a sua negação é lida como “x é uma
classe própria”;
(8x) (M (x) ! ) .
(9x) (M (x) ^ ) .
O Axioma do Par implica que nenhum objeto é uma classe própria em ZF e ZFC.
(Parc ) Se x e y forem dois conjuntos, então existirá um conjunto que contém apenas x
e y como elementos. Simbolicamente, temos
(Conjunto Vazio) Existe um conjunto que não tem elemento algum. Simbolicamente,
temos
(9c X) (8c x) x 62 X;
(Relação de Pertinência) Existe uma classe cujos elementos são os pares ordenados
(x, y) de conjuntos tais que x 2 y. Simbolicamente, temos
(Interseção) Se X e Y forem duas classes, então existirá uma classe cujos elementos
são os objetos que pertencem a X e Y simultaneamente. Simbolicamente, temos
174
(Complemento) Se X for uma classe, então existirá uma classe cujos elementos são os
conjuntos que não pertencem a X. Simbolicamente, temos
(Domínio) Se X for uma classe, então existirá uma classe cujos elementos são os con-
juntos que são primeiras coordenadas dos pares ordenados que pertencem a X.
Simbolicamente, temos
(Relação Universal) Se X for uma classe, então existirá uma classe cujos elementos
são os pares ordenados de conjuntos tais que as primeiras coordenadas desses pares
pertencem a X. Simbolicamente, temos
(Permutação 231) Se X for uma classe, então existirá uma classe cujos elementos são
as ternas ordenadas (u, v, w) de conjuntos tais que a terna (v, w, u) pertence a X.
Simbolicamente, temos
(Permutação 132) Se X for uma classe, então existirá uma classe cujos elementos são
as ternas ordenadas (u, v, w) de conjuntos tais que a terna (u, w, v) pertence a X.
Simbolicamente, temos
175
(Substituiçãoc ) Se f for uma função e se X for um conjunto, então a imagem de f
sobre X existirá como um conjunto. Simbolicamente, temos
(Infinitoc ) Existe um conjunto I que contém o conjunto vazio como elemento e é tal
que x [ {x} 2 I para todo x 2 I. Simbolicamente, temos
(Escolhac ) Se X for um conjunto, então existirá uma função f tal que qualquer sub-
conjunto não nulo S de X pertence ao domínio de f e é tal que f (S) 2 S. Simbo-
licamente, temos
Note que NBG é definida por dezessete axiomas, implicando que ela é uma
L✏ -teoria finitamente axiomatizável. Alguns autores não incluem o Axioma da Fundação
na definição de NBG.
Como trataremos apenas de NBG no restante do trabalho, omitiremos o símbolo
c sobrescrito no nome de alguns axiomas de NBG.
Dizemos que uma L✏ -fórmula é predicativa se ela pode ser escrita de maneira
que todos os quantificadores que aparecem em sejam das formas (8c x) e (9c x), ou seja,
se apenas quantificações sobre conjuntos aparecem em .
176
O Axioma da Relação de Pertinência atesta a existência da relação cujos elementos
são os pares ordenados (x, y) com x 2 y, a qual será denotada por E. Utilizando-se de tal
axioma, prova-se por indução sobre a complexidade das fórmulas que qualquer L✏ -fórmula
predicativa define uma classe.
(a1 . . . am ) 2 Z , (a1 . . . am , C1 . . . Cn ) .
Exemplo B.7. Se X e Y forem duas classes, então o Teorema da Existência das Classes
nos permite definir a classe
⇢
.
X ⇥ Y := (x, y) .. x 2 X ^ y 2 Y ,
Exemplo B.9. Para cada classe X, denotaremos por EX a relação dada por
⇢
.
EX := (x1 , x2 ) .. x1 2 x2 ^ x1 , x2 2 X = E \ (X ⇥ X) .
B.3 Ordinais
Existe uma maneira elegante e prática de listar todos os conjuntos bem ordena-
dos, salvo isomorfismos. Os elementos dessa sequência de conjuntos comportam-se como
números em diversos aspectos.
177
Definição B.10.
• Uma classe ordinal que é um conjunto é dita ser um ordinal. Os ordinais são
comumente denotados por letras gregas minúsculas. A classe dos ordinais é denotada
por On.
Exemplo B.11. Os conjuntos ;, {;}, {;, {;}} e {;, {;} , {;, {;}}} são ordinais, respec-
tivamente denotados por 0, 1, 2 e 3 e chamados de zero, um, dois e três.
Teorema B.12.
• (Princípio da Boa Ordenação) A classe própria EOn é uma boa ordem em On;
Teorema B.13 (Princípio da Indução Transfinita - Primeira Versão). Seja X uma classe.
Se para todo ordinal a condição ⇢ X implicar 2 X, então On ⇢ X.
3
Uma ordem < em uma classe X é dita ser uma boa ordem em X se qualquer subclasse não nula de
X tiver um menor elemento. Nesse caso, dizemos que X é bem ordenado por <.
178
Cada ordinal ↵ é um conjunto bem ordenado quando munido da ordem E↵ em ↵.
Reciprocamente, cada conjunto bem ordenado é isomorfo a exatamente um ordinal.
Teorema B.14. Seja < uma boa ordem em um conjunto X. Existem um único ordinal ↵
e uma única função f : X ! ↵ tais que f é um isomorfismo entre os conjuntos ordenados
(X, <) e (↵, E↵ ).
Definição B.15. Se ↵ for um ordinal, então o ordinal ↵ [ {↵} será chamado de sucessor
de ↵ e será denotado por ↵0 . Nesse caso, dizemos que ↵ é o antecessor de ↵0 . Um ordinal
não zero ↵ é dito ser um ordinal sucessor, ou Suc (↵) simbolicamente, se ele é o sucessor
de algum ordinal, e caso contrário dizemos que ele é um ordinal limite.
• Se ↵0 = 0
, então ↵ = ;
• Teremos ↵ < 0
se, e somente se, ↵ 6 .
Teorema B.17 (Princípio da Indução Transfinita - Segunda Versão). Seja X uma classe.
Se forem observadas as condições
então On ⇢ X.
179
A classe ! é um conjunto, e temos 0, 1, 2, 3 2 ! (Exemplo B.11).
• Se ↵ 2 ! e < ↵, então 2 !;
Exemplo B.20. Se X for um conjunto de ordinais com 0 2 X tal que o sucessor de cada
ordinal finito em X pertence a X, então, utilizando-se do Axioma do Infinito, prova-se que
todo ordinal finito pertencerá a X. Essa conclusão é conhecida como Princípio
da Indução.
Para cada ordinal , a imagem F↵ ( ) é dita ser a soma dos ordinais ↵ e , e ela é
denotada por ↵ + . A função + : On ⇥ On ! On dada por (↵, ) 7! F↵ ( ) é chamada
de adição em On.
É comum que muitas propriedades das funções definidas por Recursão Transfinita
sejam demonstradas por intermédio do Princípio da Indução Transfinita.
180
Teorema B.23. Para quaisquer ordinais ↵, e , temos:
• Denotamos X Y se X 4 Y e X ⇠
6= Y ;
• Um conjunto é dito ser finito se ele é equipotente a um ordinal finito, e caso contrário
ele é dito ser infinito;
• X 4 X e X ⌃ X;
• Se X ⇢ Y , então X 4 Y ;
• Se X 4 Y e Y 4 Z, então X 4 Z;
181
• Se ↵ for um ordinal finito, e x ( ↵, então x ⇠
6= ↵;
Teorema B.26. Seja T a L✏ -teoria gerada pelos axiomas de NBG exceto o Axioma da
Fundação e o Axioma da Escolha. As seguintes condições são equivalentes ao Axioma da
Escolha módulo T :
B.4 Cardinais
Se R for a relação de equipotência entre dois ordinais, então cada classe de equiva-
lência no quociente On/R representará uma “quantidade” de elementos que um conjunto
pode compreender. Em virtude da classe On ser bem ordenada por EOn , uma maneira
natural de apontar um representante para cada classe de equivalência em On/R consiste
em escolher o menor ordinal pertencente a cada classe.
• Dizemos que um ordinal é um cardinal ou um ordinal inicial se, e somente se, ele
não é equipotente a um ordinal menor que ele;
• Pelo Teorema de Zermelo (Teorema B.26) e pelo Teorema B.14, existe um ordinal
equipotente a X. O menor ordinal equipotente a X é um cardinal, o qual é chamado
de cardinal de X e é denotado por |X| ;
4
Uma cadeia ordenada em um conjunto parcialmente ordenado (E, <) é um subconjunto S de E tal
que x < y ou y < x para quaisquer x, y 2 S distintos.
182
• Pelo Teorema de Hartog (Teorema B.25), existe um ordinal maior que ↵ que não
é equipotente a ↵. O menor ordinal maior que ↵ que não é equipotente a ↵ é um
cardinal, o qual é chamado de cardinal sucessor de ↵ e é denotado por ↵+ .
• Teremos |X| = |Y | se, e somente se, existir uma função bijetora do tipo X ! Y ;
• (Princípio da Casa dos Pombos) Se |Y | < |X|, então toda função sobrejetora do
tipo X ! Y não será injetora;
183
Tal sequência é dita ser a hierarquia cumulativa dos conjuntos em NBG. Para cada
n 2 !, temos que Vn é um conjunto finito de conjuntos finitos. Em particular, todo
elemento de V! é finito.
Teorema B.30.
[
• V↵ ( V se, e somente se, ↵ < ; • V↵ = P (V ) para cada ordinal
<↵
• V↵0 = P (V↵ ) para cada ordinal ↵; limite ↵.
Teorema B.31. Seja T a L✏ -teoria gerada pelos axiomas de NBG exceto o Axioma da
Fundação e o Axioma da Escolha. O Axioma da Fundação é equivalente à
[
equação V = V↵ módulo T .
↵2On
Definição B.32. Seja X um conjunto. O menor ordinal ↵ tal que X 2 V↵0 é chamado
de posto de X e é denotado por posto (X).
Proposição B.33.
⇢
.
posto (X) = sup posto (x) + 1 .. x 2 X .
Exemplo B.34. Como ; 2 V00 = P (V0 ), temos posto (;) = 0. Prova-se por indução
transfinita que posto (↵) = ↵ (8↵ 2 On), implicando em ↵ 2 V↵0 (8↵ 2 On) .
184
Referências
3 BASCELLI, T. et al. Fermat, Leibniz, Euler, and the gang: The True History of the
Concepts of Limit and Shadow. Notices of the American Mathematical Society, v. 61,
no. 8, 2014.
7 BLASZCZYK, P.; KATZ, M. G.; SHERRY, D. Ten Misconceptions from the History
of Analysis and Their Debunking. Foundations of Science, p. 46, 2012.
8 BOROVIK, A.; KATZ, M. G. Who Gave You the Cauchy–Weierstrass Tale? The
Dual History of Rigorous Calculus. Foundations of Science, v. 17, n. 3, p. 245-276,
Agosto de 2011.
10 BOYER, C. B. The History of the Calculus and Its Conceptual Development. 1. ed.
[S.l.]: Dover Publications, 1959. 368 p.
18 DAVIS, M. The Universal Computer: The Road from Leibniz to Turing. 1. ed. [S.l.]:
W. W. Norton & Company, 2000. 256 p.
25 GRAY, J. The Real and the Complex: A History of Analysis in the 19th Century.
1. ed. [S.l.]: Springer International Publishing, 2015. 350 p. Springer Undergraduate
Mathematics Series.
26 HALL, A. R. Philosophers at War: The Quarrel between Newton and Leibniz. [S.l.]:
Cambridge University Press, 2002. 356 p.
28 HODGES, W. Model Theory. 1. ed. [S.l.]: Cambridge University Press, 2008. 778 p.
Encyclopedia of Mathematics and its Applications (Book 42).
186
29 KATZ, M. G.; TALL, D. Tension between Intuitive Infinitesimals and Formal
Mathematical Analysis. Crossroads in the History of Mathematics and Mathematics
Education. The Montana Mathematics Enthusiast Monographs in Mathematics
Education, v. 12, p. 19, 26 de Outubro de 2011.
33 LANG, S. Algebra. 3. ed. [S.l.]: Springer-Verlag New York, v. 211, 2002. 914 p.
Graduate Texts in Mathematics.
34 LEIBNIZ, G. W. Leibniz: Philosophical Essays (R. Ariew & D. Garber, Trads.). 1st
edition ed. Indianapolis: Hackett Publishing Company, 1989.
187
43 PINTO, J. S. Infinitesimal Methods of Mathematical Analysis. 1. ed. [S.l.]:
Woodhead Publishing, 2004. 270 p.
188
Índice
190
G de um símbolo de constante, 160
Galáxia de um elemento, 19 de um símbolo funcional, 160
de um símbolo relacional, 160
H de um termo, 163
Hierarquia cumulativa, 184 Interseção, xvi
Hiperfinito
enumerável, xviii
conjunto, 124
Intervalo aberto, xix
operação, 129
Isomorfismo, 168
produto, 68, 129
soma, 65 K
Hiperpartição, 71 Kernel, 3
refinada, 71
Hipersequência, 53, 65 L
Lacuna, 24
I Lema
Ideal ordenado, 17 de Zorn, 182
Imagem homomórfica, 168 do Ultrafiltro, 92
Imersão, 168 Sequencial de Robinson, 131
elementar, 168 Limite
Ímpar de uma sequência convergente, 27
número hiperinteiro, 45 em um produto reduzido, 82
Implicação, 157 funcional, 88
Implicação semântica, 165 integral, 86
Inclusão relacional, 87
estrita, xv Linguagem, 152
não estrita, xv de primeira ordem, 156
Incompleto
filtro, 98 M
Ínfimo, 21 Maior cota inferior, 21
Infinitamente próximos Maior elemento, 21
elementos, 19 Menor cota superior, 21
Infinitesimal Menor elemento, 21
elemento, 11 Modelo
em relação a outro elemento, 11 de um conjunto de fórmulas, 165
Infinito de uma fórmula, 165
conjunto, 181 Módulo, 7
elemento, 11 Mônada de um elemento, 19
Interno Monóide livre, 151
objeto, 47, 114 Monomorfismo não standard, 39, 111
Interpretação Morfismo, 168
191
N P
Não negativo Palavra, 152
elemento, 2 Par
Não positivo número hiperinteiro, 45
elemento, 2 Par ordenado de Kuratowski, xvii
Não standard Parte standard
objeto, 39, 114 função, 33
Negativo Positivo
elemento, 2
elemento, 2
Nível
Posto
em I! , 114
em V, 184
em I! , 114
em X! , 110
em X ! , 106
Potência reduzida, 84
em X! , 106
Primeiro Teorema do Isomorfismo, 18
Número
Princípio
hiperinteiro, 44, 102
da Boa Ordenação, 178
hiperirracional, 44, 102
hipernatural, 44, 102 da Casa dos Pombos, 183
192
Q Standard
Quociente objeto, 39, 114
conjunto ordenado, 16 Subassinatura, 154
de um conjunto, xix Subcorpo ordenado, 8
domínio ordenado, 17, 18 Subdomínio ordenado, 3
Subestrutura, 167
R elementar, 167
Recursão Transfinita, 180 Subfórmula, 157
Redução de uma estrutura, 161 Subpalavra, 152
Relação Substituição simultânea, 152
de equipotência, 181 Subtermo, 156
de pertinência, xv Sucessor
de pertinência em uma classe, xviii de um cardinal, 183
de proximidade finita, 19 de um ordinal, 179
de proximidade infinita, 19 Superestrutura, 111
de satisfatibilidade, 164 Supremo, 21
domínio de uma, xviii
imagem de uma, xviii T
Teorema, 166
S da Função Inversa, 64
Saturação, 148 de Bernstein, 181
Sentença, 159 de Bolzano-Weierstrass, 62
Sequência, xvii de Cantor, 183
Série de Laurent, 7 de Cauchy, 62
Símbolo de Łoś, 93
da conjunção, 155 de Hartog, 182
da disjunção, 155 de Zermelo, 182
da igualdade, 155 do Ponto Crítico, 63
da negação, 155 do Valor Intermediário, 127
da quantificação existencial, 155 Fundamental do Cálculo, 72
da quantificação universal, 155 Fundamental dos Ultraprodutos, 93
da vírgula, 155 Teoria, 166
de constante, 153 Teoria dos Conjuntos
de variável, 155 de Neumann-Bernays-Gödel (NBG), 174
do parêntese, 155 de Zermelo-Fraenkel (ZF), 172
específico, 155 de Zermelo-Fraenkel-Choice (ZFC), 173
funcional, 153 Termo, 155
lógico, 155 fechado, 156
relacional, 153 livre para uma variável, 159
Soma de dois ordinais, 180 Transformação
193
de um subconjunto de R, 101
de uma condição fechada, 39
de uma relação em R, 102
U
Ultrafiltro, 89
Ultralimite, 89
generalizado, 89
Ultrapotência, 89
Ultraproduto, 89
União, xvi
enumerável, xviii
Universo
de uma estrutura, 160
de von Neumann, xvii, 177
V
Valor absoluto, 7
Variável
ligada, 159
ligada em uma posição, 159
livre, 158
livre em uma posição, 158
194
195