Você está na página 1de 53

ix

Índice.

Declaração………...…………………………………………………………………………v
Agradecimentos…...………………………………………………………………………....vi

Índice de tabelas…..………………………………………………………………………...vii

Índice de gráficos…….………………………………………………………………………vii

Abreviaturas………….……………………………………………………………………....viii

Resumo……………………………………………………………………………………….ix

Introdução. ................................................................................................................................ 10
Justificativa. .............................................................................................................................. 10
Objectivos. ................................................................................................................................ 11
Gerais. ....................................................................................................................................... 11
Específicos. ............................................................................................................................... 11
CAPÍTULO I: Estudos feitos sobre as orações relativas. ......................................................... 13
Introdução. ................................................................................................................................ 13
1.1 Alguns estudos feitos. ......................................................................................................... 13
1.2 Estudos sobre construções relativas no PE ......................................................................... 14
1.3 Estudos sobre construções relativas no PB......................................................................... 14
1.4 Estudos sobre construções relativas no PM ........................................................................ 15
Orações relativas: definição...................................................................................................... 16
2.1 Tipos de orações relativas................................................................................................... 16
2.2 Relativas restritivas ou determinativas ............................................................................... 17
2.3 Relativas opositivas ou explicativas ................................................................................... 17
2.4 Tipos de orações quanto ao antecedente............................................................................. 18
2.4.1 Orações relativas com antecedente implícito ou sem antecedente .................................. 18
2.4.2 Relativas com antecedente explícito ou com antecedente ............................................... 19
3. Modelos sintácticos. ............................................................................................................. 20
3.1 O modelo tradicional .......................................................................................................... 20
3.1.1 A hipótese wh- moviment ............................................................................................... 21
3.2 O modelo raising ................................................................................................................ 23
3.3 Modelo matching ................................................................................................................ 24
4. Os pronomes. ........................................................................................................................ 25
4.1 Os pronomes relativos. ....................................................................................................... 26
4.1.2 Tipos dos pronomes relativos. ......................................................................................... 27
9

4.1.3 Propriedades dos pronomes relativos. ............................................................................. 27


4.1.3 Locução pronominal o qual. ............................................................................................ 31
4.1.4 Pronome quanto. .............................................................................................................. 33
4.1.5. Pronome cujo. ................................................................................................................. 33
4.1.6. Pronome quando. ............................................................................................................ 34
CAPÍULO II: Questões metodológicas. ................................................................................... 35
Capitulo III. As construções Relativas Restritivas no Português de Moçambique. ................. 36
2. Introdução. ............................................................................................................................ 36
2.1 As construções relativas introduzidas pelo morfema onde apresentação do corpus. ......... 36
2.2 Construções relativas introduzidas pelo morfema onde: entradas canónicas. .................... 38
2.2.1 Construções relativas introduzidas pelo morfema onde: entradas desviantes ................. 42
Introdução ................................................................................................................................. 42
2.2.2 Relativas de duplo morfema ............................................................................................ 42
2.2.3 Construções relativas locativas introduzidas por que ...................................................... 44
2.2.4 Relativas com pronome relativo onde nulo introduzidas por e. ..................................... 45
2.2.5 As relativas de pronome onde nulo introduzida pelo morfema lá ................................... 48
2.2.6 Construções relativas de morfema onde nulo .................................................................. 49
2.2.7 Construções relativas Cortadoras .................................................................................... 51
2.2.8 Corte da preposição de .................................................................................................... 52
3.Corte da preposição com....................................................................................................... 54
3.1 Corte da preposição a. ........................................................................................................ 54
3.2 Construções relativas resumptivas...................................................................................... 55
Conclusão. ................................................................................................................................ 57
V. Referências bibliográficas ................................................................................................... 58
Anexo........................................................................................................................................ 60
10

Introdução.

Este trabalho é um estudo descritivo sobre as construções relativas, também chamadas


adjectivas΅, por muitas vezes terem valor de adjectivo. Este estudo tenciona estudar a estrutura
das relativas produzidas no PM em relação a gramática normativa europeia. O que nos criou a
curiosidade de querer entender as diferentes formas de relativização no PM, foi a vontade de
compreender as formas adoptadas pelos alunos da 8ª classe das diferentes escolas da cidade de
Tete onde recolhemos as amostras.

Em primeiro lugar faremos a revisão da literatura de orações relativas, relacionadas ao tema


que aqui se estuda, construções subordinadas relativas cortadoras no português escrito em
Moçambique.

Justificativa.

É de extrema relevância dizer que o tema em estudo foi constatado em meio ao estágio
pedagógico de português a partir de textos escritos por informantes da 8ª classe, em que
pretendemos compreender e descrever em que situações os informantes constroem as frases
relativas preposicionadas desviantes da norma padrão

A escolha do tema acima prende-se ao facto de sentirmos a necessidade de compreender como


é que os alunos da Escola Secundaria de Chingodzi produzem as construções relativas
cortadoras. A compreensão deste tipo de construção relativa nos textos escritos por estes
informantes pode ajudar aos professores da Língua Portuguesa em Moçambique, por um lado
a desenhar estratégias pedagógicas tendentes a melhoria do fenómeno e por outro, pode ajudar
aos planificadores linguísticos a reflectirem ainda mais sobre o tema para a sua padronização.
O tema é relevante porque como pretendemos entender, situar o contexto em que os alunos da
Escola Secundária de Chingodzi processam as construções de relativas cortadoras na escrita.

Os alunos da 8ª classe da Escola Secundária de Chingodzi produzem orações relativas


cortadoras em contexto em que o verbo é preposicionado. Esse é o problema que constitui o
objecto de estudo que pretendemos desenvolver. Essas relativas foram produzidas em contexto
em que o verbo rege uma preposição, porém esses informantes suprimem a preposição, o que
cria uma estranheza comparativamente a norma padrão do português europeu . Como ilustram
as construções que se seguem:
11

1) a) Deixou-me tao deslumbrada e maravilhada [que foi um momento que] nunca mais me
fugira.

Cf. Deixou-me tão deslumbrada e maravilhada, foi um [momento do qual não me esquecerei].

b) Os meus primos não estão estavao ca em Tete [o qual motivo] não me diverti tanto.

Cf. Os meus primos não estiveram em Tete, [motivo pelo qual não me diverti tanto].

c) Acabei duas semanas, lhe [falei que quero ir em] casa da minha mãe.

Cf. Acabei duas semanas e [falei-lhe de que queria ir a] casa da minha mãe.

Como se pode depreender em (1a) o verbo esquecer rege a preposição de, com isso o
complemento seleccionado por este verbo é introduzido pela preposição de.

Como se pode constatar em (1b) o verbo divertir-se selecciona um complemento introduzido


pela preposição por, isso significa que o verbo divertir-se rege a preposição por.

Como se pode depreender em (1c) o verbo falar rege a preposição de, com isso o complemento
seleccionado por este verbo neste contesto deve obrigatoriamente ser introduzido pela
preposição de.

Assim sendo, procuramos neste trabalho, questionar, e descrever a forma como são produzidas
as construções relativas no português escrito por estes informantes.

Objectivos.

Gerais.

Compreender como se processam as construções relativas cortadoras produzidas por


alunos do primeiro ciclo do ensino Secundário na Escola Secundária de Chingodzi.

Específicos.

Identificar os principais desvios relacionados a regência verbal nas construções de


relativização.

Descrever o contexto em que esses informantes processam as relativas preposicionadas


desviantes a norma Europeia. relacionados com a regência verbal nas construções relativas
nestes informantes.
12

Apontar para os principais verbos em Português que são férteis na produção deste tipo
de construção

Em termos de estrutura esta monografia está disposta da seguinte forma :


No capítulo I temos a fundamentação teórica das estruturas sintácticas das construções
relativas.
Neste capítulo buscamos mostrar as diferentes visões de relativização das orações relativas
e as conclusões a que cada autor chegou. Autores como Santos (2014) ,( Fothine 20177),
por exemplo, chegaram a conclusão de que os seus informantes têm dificuldade em usar
os pronomes relativos junto com as preposições em construções relativas com verbo de
regência .
No capítulo II, serão descritas as metodologias de pesquisa utilizadas neste trabalho.
Nesta parte do trabalho relatamos no início da recolha dos textos na escola Chingodzi, no
processo do estagio pedagógico de português na 8ª classe, após a recolha , digitamos
fielmente os textos, fizemos a selecção das frases com os desvios que se pretendem estudar
e por fim codificamos os textos olhando para a letra que representava cada turma.
No capítulo III, será feita a discussão descritiva dos dados, tendo em conta as diferentes
teorias discutidas de relativização que se vão apresentar .
No capítulo IV, conclusão , serão expostas as principais conclusões do trabalho, e constam
em anexo as amostras recolhidas.
13

CAPÍTULO I: Estudos feitos sobre as orações relativas.

Introdução.

Procuraremos, nesta parte do trabalho, fazer uma revisão dos principais trabalhos feitos sobre
as construções de relativização no Português. Começaremos por fazer a revisão dos trabalhos
feitos em Moçambique, tal são os casos de Gonçalves & Stroud (1998), Lindonde (2018),
Wache (2018), Chimbutane (1995), Diniz (1986) e Brito (2001). Todos estes trabalhos, como
veremos, denunciam que as construções relativas no PM estão a ganhar uma característica
específica que o diferenciam do PE, o qual continua a ser a norma em Moçambique.

Depois trataremos dos estudos feitos na em Portugal, começando por trabalho de Alexandre
(2000), e depois seguido de trabalho de Santos (2014). O primeiro é um trabalho sobre as
relativas resumptivas no PE. É um trabalho que procura explicar uma diversidade de fenómenos
linguísticos que ocorrem nas relativas resumptivas. A dissertação de Santos (2014), como se
disse, é um trabalho sociolinguístico que discute questões orais de relativas cortadoras no
Português bacarense. Para além desses dois estudos que tratam especificamente de aspectos
directamente ligados com este trabalho, há igualmente trabalhos de Brito (1991) e de Telmo
(1992) que são basicamente descritivos de como funciona a relativização no PE.

Por fim faz-se a revisão dos trabalhos feitos no PB, começando pelo estudo de Tarallo (1983),
Kenedy (2000) e Miranda (2014). O trabalho de Tarallo (1983) é pioneiro e é, tal como o nosso,
descritivo e ao mesmo tempo sociolinguístico. Já o trabalho de Kenedy (2000) e Miranda (2014)
procuram levantar hipóteses e explicar as causas de ocorrência de determinados fenómenos
linguísticos, como é o caso de corte de preposições no PB.

1.1 Alguns estudos feitos.

Embora se diga que em Moçambique se fala o Português europeu (PE) como língua oficial, é
notável que os falantes usam uma variedade que não se aproxima ao padrão. Existem várias
áreas que distinguem o PM do PE, uma dessas áreas é certamente a de orações relativas
cortadoras. Há já muitos estudos feitos em Moçambique, no Brasil e Portugal que procuram
provar não só que o PM ganhou forma própria, como também mostram que nesta variedade
ocorrem relativas cortadoras.
14

1.2 Estudos sobre construções relativas no PE.

Um dos trabalhos sobre as construções relativas no PE é o de Santo (2014). Nesse trabalho


intitulado «Relativas cortadoras no português europeu falado: interação com as variáveis
sociais» em que estudou a fala espontânea transcrita de indivíduos de idade que variava entre
os quinze a setenta e cinco anos, a autora procura ocorrência de relativas cortadoras n PE No
trabalho, a autora refere que a ausência e presença de preposição, suporta a APP no sentido e,
que se verifica o efeito do facto escolaridade como principal influente na concretização da
estrutura com pied-piping.

No entanto, Alexandre (2000) no seu trabalho intitulado A estratégia Resumptiva em Relativas


Restritivas do Português Europeu, descreve que no PE, existem três estratégias de relativização,
em que uma é canónica, e as outras são consideradas marginais. A autora explica que das
estratégias consideradas marginais, a pp- chopping é mais produtiva no PE por ser menos
marcada, visto manter nula a posição origem do constituinte relativizado e apaga apenas as
Preposições marcadas de caso, sendo resultado do movimento WH

1.3 Estudos sobre construções relativas no PB.

Keneddy (2000 ) na sua dissertação intitulada «Aspectos estruturais da relativização em


português- uma analise baseada no movimento raising» procura fazer analise de construções
relativas usando o modelo raising. Nesse trabalho o autor conclui que modelos raising e o
tradicional diferem em dois aspectos fundamentais: (i) na concepção raising, o alvo da
relativização é derivado por Movimento direto, ocorre alçamento do XP de sua posição de base
para a cabeça da relativa (spec-CP), ao passo que no contexto tradicional, o alvo da relativização
um NP, é gerado na base, sem Movimento, e a ele constituintes de CP (wh, OP, t) são associados
via regra de predicação (em LF); (ii) a estrutura sintática assumida no modelo raising é a
complementação de CP a D, em [D CP], enquanto no modelo tradicional assume-se a adjunção
de CP a NP, [NP [NP CP]].
Tarallo (1983) descreve um fenómeno linguístico análogo ao que se aborda neste trabalho. Esse
trabalho mostra que “as relativas cortadoras resultam de uma mudança drástica no sistema
pronominal que consiste no corte de pronomes em orações principais, manifestando-se depois
em orações relativas”. Segundo essa perspectiva, a formação de relativas cortadoras ocorre em
duas etapas: “a de omissão do pronome objecto e a de apagamento da preposição.
15

Kenedy (2007) , na sua tese de doutoramento intitulada antinaturalidade do pied-piping em


orações relativas, com base a estudo feitos entre o PB e PE , notou que há um grande número
de evidências em favor da hipótese de que as diferenças entre as relativas do PE e do PB devem-
se a factores socioculturais e não a motivações gramaticais naturais.
No primeiro experimento, demonstrou-se que os julgamentos de gramaticalidade de relativas
cortadoras são praticamente os mesmos entre os sujeitos do PE e do PB: ambos reconhecem,
de maneira sistemática, as cortadoras como uma estrutura legítima em sua língua.

1.4 Estudos sobre construções relativas no PM.

Existem em Moçambique trabalhos relacionados ao tema da nossa investigação, dos quais


destacamos, para a nossa pesquisa, o trabalho de Lindonde (2018) sobre «as relativas obliquas
de locativo no Português de Moçambique». Neste estudo, o autor conclui que, no PM no lugar
de usar o morfema que precedido pela preposição em, os seus informantes do PM usam forma
onde como argumento interno do verbo da frase relativo. Trata-se de um desvio que, de certa
forma, está relacionado com a estratégia cortadora, na construção de relativas, caracterizada
pela omissão das preposições que precedem o pronome relativo.
Gonçalves & Stroud (1998) no seu trabalho intitulado estruturas gramaticais do português
problemas e aplicações, baseando-se em fontes orais, concluíram que os falantes do POM
realizam construções subordinadas relativas cujos padrões não enquadram na relativização
padrão, a estratégia mais usada pelos falantes do POM é a cortadora, em que há omissão da
preposições em orações relativas, quer com complementos verbais, quer com complementos
temporais . Os autores concluíram também que a não ocorrência de preposições em relativas
não decorre de uma regra de apagamento, mas sim pelo facto de o POM ter uma variante de
preposições.
Já Fothine (2017) conclui que os seus informantes constroem estruturas cortadoras em
construções relativas que envolvem um verbo que rege uma preposição, eles usam o pronome
relativo que ao invés dos constituintes relativos a que, aonde, de que, em que, por onde e para
onde. Além disso, o autor conclui que os seus informantes têm dificuldade em usar os pronomes
relativos junto com as preposições em construções relativas. Portanto, eles não só não dominam
a construção das relativas como também não dominam a regência verbal, o que pode ser um
indício da fixação de um novo parâmetro de relativização diferente da do PE.
16

Perante estes estudos , o questão que ainda prevalece a que merece estudo neste trabalho é ,
quais são as outras construções desviantes envolvendo construções de relativização no PM.

Orações relativas: definição


Bechara (2000:465) define orações relativas como sendo aquelas que apresentam como
transpositor um pronome relativo- como adjectivas, pela equivalência semântica e sintáctica
com o adjectivo equivalente, como adjunto adnominal de um substantivo. Em Duarte & Brito
(2003:655) acresce-se a ideia de que as relativas são formas de modificação de uma expressão
nominal antecedente, (cf.1):

(1) Os Rapazes que estavam presos morreram1

Na frase em (1) a expressão em itálico pressupõe a existência de vários rapazes, mas apenas os
que estavam presos morreram, ou seja num universo de rapazes a expressão em itálico restringe
o sujeito alvo.

Para Veloso (2013:2061) « as orações relativas mais típicas são aquelas que modificam o nome
dentro de um sintagma nominal (SN) complexo e são introduzidas pelo pronome relativo. Para
o autor as relativas são também chamadas na tradição gramatical, "orações adjectivas" por essas
terem a função semântica de adjectivos qualificativos». Como se pode depreender na frase em
(2):

(2) [Os Chocos que comi ontem] estavam estragados.2

Perante estas definições percebe-se que as orações relativas são construções que são
encabeçadas pelo pronome relativo, sendo que semanticamente se equivalem a adjectivos

2.1 Tipos de orações relativas.

As orações relativas são de dois tipos: as relativas restritivas ou determinativas e as relativas


opositivas, explicativas ou não restritivas.

1
O exemplo é de Bechara.
2
O exemplo é de Rita Veloso.
17

2.2 Relativas restritivas ou determinativas.

As orações relativas restritivas são construções sintácticas definidas com base na relação entre
um constituinte nominal (morfologicamente expresso ou não) e uma frase que o modifica.
Duarte & Brito (2003:655) entendem que as relativas restritivas ou determinativas contribuem
para construção do valor referencial da expressão nominal, como se pode constatar nas frases
em (3).

(a) Quem vai ao mar perde o lugar.3

(b) Recebi quem tu recomendaste.4

Na frase em (3a) e (3b) verifica-se que as orações em itálico são o constituintes da oração com
uma função sintáctica própria sendo que em (3a) a oração em destaque é um sujeito da oração
matriz, e em (3b) é objecto directo, o que aproxima estas construções mais das interrogativas
subordinadas do que das relativas com antecedente.

Para Câmara (2015), um dos argumentos fundamentais para se comprovar que uma oração é
relativa restritiva é o facto de ela contribuir para o significado do núcleo nominal, tal
contribuição diz respeito a limitação, restrição, especificação de um referente de entre um
conjunto de referentes possíveis

. (5) Os chapéus que estavam no armário desapareceram.5

Ainda Câmara (2015) esclarece que, a função da oração relativa restritiva é justamente
especificar o referente correcto, o que corresponde neste caso aos específicos objectos
desaparecidos que estavam em um lugar específico, o armário.

2.3 Relativas opositivas ou explicativas.

Segundo Brito (1991:123,) uma oração relativa opositiva consiste num comentário acerca de
um individual denotado pela expressão nominal antecedente, antecedente esse que tem um valor
referencial independentes, sendo tipicamente uma descrição. No entanto Bechara apud Souza
(2007) alude que as orações opositivas apontam para uma particularidade que não modifica a

3
O exemplo é de Mateus.
4
O exemplo é de Mateus.
5
O exemplo é Câmara.
18

referência, e aparece por mero apêndice, é marcada por pausa em relação ao antecedente. Como
se depreende em (6):

(6). O homem, que vinha de cavalo, parou defronte da igreja6.

Segundo Souza (2007), pode verificar-se no exemplo acima, que a oração explicativa 7 que
vinha de cavalo aparece assinalada entre vírgulas. Essa oração relativa opositiva pode ser
suprida sem que a frase matriz se torne incompreensível, visto que essa informação é adicional,
não necessária.

2.4 Tipos de orações quanto ao antecedente.

No que tange ao antecedente frásico, estudos indicam que existem dois tipos de orações
relativos: relativas com antecedente implícito e relativas com antecedente explicito.

2.4.1 Orações relativas com antecedente implícito ou sem antecedente.

As relativas livres ou relativas sem antecedentes, denominadas relativas com antecedente


implícito por Veloso (2013:2067), são orações que na sua estrutura há elipse do antecedente
nominal. Como nas frases em (7).

(a) Quem conhece o Luís sabe que ele é um rapaz sensato.8

(b) o professor elogiou quem leu o livro9.

Podemos constatar que em (7a) e (7b), na sua estrutura sintáctica, essas orações relativas, não
existe um antecedente nominal realizado nessa construção, ou seja o pronome relativo quem
está livre, (não retoma nenhuma expressão nominal) dai que se designam orações relativas ‘‘
com antecedente implícito’’

Apesar de não ser ter um antecedente nominal expresso, que sirva de antecedente do relativo,
pode-se identificar que se trata de um ser [+ humano] por causa do pronome quem, que possuí
esses traços.

6
O exemplo é de Souza.
7
Mais Sobre orações subordinadas explicativas ou opositivas leia em Souza.
8
Os exemplos são de Veloso
9
Os exemplos são de Veloso
19

Na perspectiva de Moia (1992:4):


As orações relativas com antecedente implícito não permitem extracção de um seu constituinte
por movimento –Q, por comportarem-se como ‘’ilhas-Q’’. Neste aspecto, estas estruturas
oracionais aproximam-se das orações relativas com antecedente expresso e afastam-se, por
exemplo, das chamadas orações interrogativas indirectas. Observem-se os seguintes contrastes:

(8) O professor elogiou quem leu o livro10.-


(9) *Este é o livro que o professor elogiou quem leu.
(10) O professor elogiou as pessoas que leram o livro.
(11) *Este é o livro que o professor elogiou as pessoas que leram.

Em (9), (11) o pronome relativo que cujo antecedente é (o) livro foi extraído da posição de
objecto directo da estrutura oracional quem leu [v] ou que leram [v].

Segundo Moia (1992:7) as sequências agramaticais (8) e (9) documentam a impossibilidade de


extrair por movimento-Q constituintes de orações relativas, com ou sem antecedente expresso.
Esta impossibilidade pode ser explicada pelo facto de as orações relativas estarem encaixadas
em SN's, o que significa que um constituinte extraído de uma oração relativa atravessa de uma
só vez dois nós-barreira à Subjacência, a saber: o SCOMP correspondente à oração relativa e o
SN correspondente à estrutura nominal de que esta faz parte.

(12) *este é o livro [que]i o professor elogiou


[SN [SCOMP quem leu [v] i ] ]
(13) *este é o livro [que ]i o professor elogiou [SN as pessoas [SCOMP que leram [v]i ] ]
Moia (1992:7) ressalta que, o facto de as orações relativas sem antecedente expresso 11 se
comportarem como as relativas com antecedente expresso no que respeita às possibilidades de
extracção por movimento-Q constitui um forte argumento a favor da hipótese de que elas são
SCOMP's encaixados em SN's.

2.4.2 Relativas com antecedente explícito ou com antecedente.

As relativas com antecedente " são também denominadas relativas com antecedente explícito
por Veloso (2013:2067 )" são orações em que na sua estrutura a expressão nominal está patente.

10
Os exemplos são de Telma Moia.
11
Sobre reativas com antecedente ou sem antecedente leia mais em Telma Moia.
20

As orações relativas com antecedentes explícitos podem ter como antecedente um sintagma
nominal em (14a) ou um antecedente frásico, caso em que são introduzidas por que ou o que
em (14b).

14 .a) Os gatos da minha vizinha que veem cá a casa não gostam de bofe12.

b) A Lurdes Mutola ganhou um premio, o que me deixa muito feliz13.

Na frase em (14a) o antecedente da frase relativa é um SN ( o gato) e em (14b) o antecedente


da frase relativa é expressão (o prémio).

3. Modelos sintácticos.

Os modelos sintácticos retratam sobre a estrutura das frases, existem modelos sintácticos tais
como: o modelo de movimento Q, tratado também como modelo tradicional, head matching
analysis, head raising analysis e head external analysis.

Vejamos em que aspectos esses modelos de análise da relativização se divergem.

3.1 O modelo tradicional.

Kenedy (2002) refere que no modelo tradicional, o SN alvo da relativização é gerado na base e
à sua direita, é adjungida a frase relativa, no interior da qual uma posição é interpretada, no
componente lógico da linguagem (LF), como variável correspondente ao SN alvo.
Nessa prespectiva as orações relativas, no modelo wh-movement, apresentam a seguinte
derivação:
[ NP [NP ALVO]i [ CP whi [ IP … ti …]]]

Para Kenedy (2002:26) , o modelo tradicional baseou-se em três hipóteses fundamentais:


(i) O alvo da relativização é um NP;
(ii) O NP relativizado não faz parte da estrutura do CP, e vice-versa;
(iii) A operação que relaciona o NP e CP é adjunção.

12
O exemplo é de Veloso
13
O exemplo é de francisco Wache
21

3.1.1 A hipótese wh- moviment.

Chomsky (1977) citado por Kenedy (2002:27), refere que :


as orações relativas passaram a ser definitivamente caracterizadas como uma instância
de um fenómeno gramatical regular, o movimento de wh, tal como nas construções de
clivagem, topicalizações e construções relativas comparativas, a relativização , á
semelhança das interrogativas com wh , é gerada por movimento e apresenta as
seguintes propriedades:
(i) a construção apresenta uma lacuna ( gap);
(ii) permite relações de longa distância ;
(iii) É sensível ás restrições de ilhas.
Para Kenedy (2002:27), essas propriedade podem ser verificadas a partir das ilustrações a
seguir ( Aoun & li, 2001:05) como se pode depreender em: (15)
15.
a) [NP [ NP the boyi [ CP whoi [IP Mary thinks [ VP ti is the smartest]]]]]
b) *[NP [ NP the boyi [ CP whoi [IP I like the teacher [ CP who[IP has taught ti ]]]]]]
c) *[NP [ NP the boyi [ CP whoi [IP I will be happy [ CP if [IP you like ti ]]]]]]
d) *[NP [ NP the boyi [ CP whoi [IP I wonder [ CP why[IP John has taught ti ]]]]]]

Kenedy (2002:28) afirma que «a posição por t ( trace – vestígio ) em (15ª procura evidenciar
que o pronome who) tenha sido extraído de uma posição sob domínio de VP ( verbal phrase-
sintagma verbal) para spec- CP ( especificador de CP), o que constituiria evidência para as
propriedades (i) e (ii). Já em (15b-d), apresentam-se evidências para a propriedade (iii0 pois a
extracção de who para spec-CP teria violado o principio de subjacência- o Movimento teria
saltado por sobre dois IPs ( inflectional phrase- sintagma flexional)-, o que torna a construção
agramatical».
22

A partir da hipótese de Chomsky (1977), passou-se a compreender que o elemento wh seria


gerado como argumento-núcleo no âmbito da IP, como se pode depreender em:

(16) D- structure- [ the man Bill inveted (d) who]


NP

NP CP

Spec N’ Spec C’

the N C IP
Spec I’
man I VP

NP V’

N’ V NP

N invite N’

Bill N

who

Segundo Kenedy (2002:29) a representação em (16), a D- structure de uma frase relativa deve
ser exactamente idêntica aa de uma pergunta wh . Foi com base nessa hipótese que Chomsky
formulou sua generalização ,de que não há dois NPs idênticos na derivação de uma oração
relativa, há apenas o NP alvo da relativização e CP que lhe é adjungido, no qual há um elemento
nuclear (wh) correferente ao NP alvo.
Kenedy (2002:29) refere que « se o elemento wh na relativização se comporta da mesma
forma que nas interrogativas, ee possível compreender por que ele se encontra no inicio da
oração : wh move-se a spec-CP. Como em (17):
23

(17) S-structure- [ the man who Bill invited]

NP
NP CP

Spec N’ NP C’

N N’ C IP
the
N Spec I’
man I VP
who NP
invited NP V’
N’
t V NP
N
t t

Bill

3.2 O modelo raising.

Miranda (2008) refere que a característica fundamental do modelo raising reside no facto de o
núcleo relativo ser engendrado ou gerado dentro da oração relativa, explica que apesar de
existirem diferenças em relação a posição para onde o núcleo relativo se move no curso da
derivação, a natureza do constituinte que sofre movimento (NP ou DP) e ainda o tipo de relação
estabelecida entre o núcleo nominal modificado e a oração relativa (complementação ou
adjunção):
24

Miranda (2008) citando Kayne (1994) , pressupõe que o CP relativo é complemento do


determinante externo e ainda o DP relativo sofre movimento-A’, indo ocupar a posição de
Spec/ CP . Nessa prespectiva as orações relativas, no modelo raising, apresentam a seguinte
derivação:
O modelo raising
[CP ALVOi [ IP… ti…]

18 . The [cp mani who [CP Bill invited tj]]] --- o modelo raising

3.3 Modelo matching.

Contudo no nosso trabalho, temos como modelo de estudo o modelo matching proposto
inicialmente por Chomsky (1965), nesse modelo há dois SN semelhantes, dos quais um é
substituído pelo pronome que. No entanto este modelo compartilha dois pressupostos com a
HEA: que o núcleo relativo é gerado fora da oração relativa e o CP relativo é adjungido ao
núcleo nominal. E com a HRA, compartilha a ideia de que há uma representação interna do NP
relativo.

Exemplo de frase com o modelo matching14.

DP

D NP

NP CP
the
boy whoi left ti

Segundo Miranda (2008) «Com relação a essa representação do núcleo interno, a análise
matching analysis assume que ela é complemento do operador relativo, que é o elemento gerado

14
O exemplo é de Miranda
25

em posição argumental e que pode ser um pronome relativo ou elemento nulo (no caso de
línguas como o inglês)».
Em termos minimalistas, DP relativo ( formado pelo operador relativo e a representação interna
do núcleo nominal) sofre o movimento-A’ e ocupa, então a posição de Spec/CP, na posição na
qual, em algumas propostas teóricas, o núcleo e apagado por identidade ( que não precisa er
uma identidade completa nas teorias recentes) como o núcleo externo.
Pensadores como (Sauerland 1998, Salzmann,2000) afirmam que
a análise matching difere-se da raising por não considerar que o núcleo interno e externo
estejam relacionados por uma cadeia de movimento-A’, De acordo com tais análises ,
essa relação dá-se por meio de elipse, e o mecanismo vehicle change garante a não
obrigatoriedade de identificação plena entre as duas representações do núcleo nominal
relativo. E uma vez que não pertencem a uma cadeia de movimento, ambos os núcleos
podem ser interpretados na etapa de reconstrução em LF. Como se pode depreender em
(17) :

a) [ DP [D΄ D [ NP [N΄ Ni [CP whi …ti…]]]]]

b) The [ book] cp[Op/ which book ]I John likes ti]


c) The [ book] i[ CP[ Op/ which book] i John likes __ ti] ( reconstrução em LF)

Sauerland (1998) citado por Miranda (2008), entende que o material interno da oração relativa
é uma cópia elidida do material na posição interna: como se pode depreender em (17):
a) The book which John likes
b) the book which ˂ book ˃ John likes t
antecedente NP
Na estrutura proposta por ele, a copia elidida ou silent copy ( book) é complemento do operador
relativo ( which), sendo que em LF, é representada na posição de vestígio dentro da oração
relativa.

4. Os pronomes.

Para Raposo (2013:883) «pronome é a unidade gramatical sintáctica e semanticamente


equivalente a um sintagma nominal., eles são palavras isoladas, embora existam locuções
pronominais “ o que” locução pronominal interrogativa “ o que” e locução pronominal
relativa».
26

Em Vilela (1995:207) « o pronome indica a relação existente entre esta classe de palavras e o
nome. Para o autor, “os pronomes encontram a sua no discurso, indicando as pessoas, seres
vivos, objectos ou estados de coisas, em que a relação na materialidade do pronome é deduzida
da conexão da frase, do texto ou da situação do discurso».

Segundo Cunha & Cintra (2005:277) os pronomes desempenham na oração a função


equivalente às exercidas pelos elementos nominais, para representar um substantivo (20 a), para
acompanhar um substantivo determinando-lhe a extensão do significado (20 b )ou para referir-se
ao termo anterior ou antecedente (20c),como se pode depreender nas frases em (18).

a) Os campos, que suportaram a longa presença solar a queima-los15 …

b)….Leques espanhóis, de seda, de alguma bisavó do meu tio cónego, com estas pérolas
de prata e oiro.

d) Dêem-me as cigarras que eu ouvi menino.

Como se pode depreender, os pronomes relativos são palavras que servem para substituir os
sintagmas ou frases.

4.1 Os pronomes relativos.

Para Veloso (2013:2077) «os pronomes relativos são formas tipicamente iniciadas,
graficamente pelas letras “ qu” ou “c”, tais como: que, quando, (o) qual, quem, onde, como,
cujo, quanto. Salienta-se que a forma “onde” não possui propriedades fonéticas e ortográficas,
porém é classificada como pronome “qu”,por ter o mesmo comportamento sintácticos dos
pronomes com a inicial “Qu”».

Para Veloso (2013:2077) «Os pronomes relativos introduzem orações relativas que
desempenham funções como já mencionamos anteriormente, e dependendo da função , o
constituinte relativo pode ser simples, consistindo apenas no pronome relativo, ou complexo,
contendo mais material». Como nos exemplos a seguir (19).

(a) O gato que roubou o peixe fugiu (nesta oração o gato é o sujeito de roubou o peixe) 16

15
Os exemplos em vinte são de Cunha e Cintra
16
Os exemplos em vinte um sao de Rita veloso.
27

(b) O gato que eu vi na varanda é tigrado (nesta frase o gato é complemento directo de vi)

4.1.2 Tipos dos pronomes relativos.

Os pronomes relativos em português dividem-se em duas classes, os pronomes variáveis e os


invariáveis, como ilustra a trabela a seguir. 17

Tabela .1

Variáveis Invariáveis

Singular Plural

Masculino Feminino Masculino Feminino Quando

O qual A qual Os quais As quais Como

Cujo Cuja Cujos Cujas Onde, quem

Quanto Quanta Quantos Quantas Que

4.1.3 Propriedades dos pronomes relativos.

Pronome que.

Para Veloso (2013:2081)«o pronome que 18 pode ocorrer em relativas de nome, mas é
geralmente excluído nas orações relativas de frase, em que se utiliza preferencialmente o que(a)».
Nas orações relativas de nome, sejam restritivas ou opositivas o pronome que, por ser
semanticamente subespecificador, pode relacionar-se com qualquer tipo de antecedente. Este
pronome relativo aceita uma diversidade de contexto no que diz respeito à sua função dentro
da oração relativa.

17
Sobre pronomes relativos consulte em Veloso. A tabela dos pronomes relativos pertence a Veloso.
18
Acerca das propriedades do pronome relativo que, e outros pronomes leia em veloso
28

(20)

(a) A professora que os alunos admiram ganhou um prémio científico19.

(b).A professora nunca criticava os alunos, que os incentivava.

Com base ao conceito de Veloso ,podemos constatar que em (20 a) o pronome que retoma a
expressão nominal “a professora”,, restringindo dentre várias professoras ( um todo) para um
alvo particular ( a professora que os alunos admiram) enquanto em (20b) a expressão relativa
explica que o sujeito da frase (a professora) não critica os que ela incentiva.

Na perspectiva de Veloso (2013:2082), nas orações relativas de nome, sejam restritivas (22)ou
opositivas (23) o pronome que, por ser semanticamente subespecificado, pode relacionar-se
com qualquer tipo de antecedente seja [+ humano]no exemplo (22a) ou [- humano] (22b) [+
lugar] (22c) ou [+ tempo] (23d) e [+ modo] (22 e).

(22)

a) Os meninos que têm notação podem sair mais cedo.20

b) Comprei uns chocolates que estavam estragados.

c) O país em que eu vivi mais tempo foi Japão.

d) No dia em que tudo aconteceu, foi memorável.

e) É impressionante o carinho com que esta enfermeira trata os doentes.

(23)

a) A Ana, que esta sempre a chatear-me, não me escreve.21

b) Aqueles chocolates, que comprei na Bélgica, eram excelentes.

c) Esse país, em que eu vivi tanto tempo, é muito interessante.

d ) Esse dia, em que tudo aconteceu, foi memorável.

19
Os exemplos são de veloso
20
Os exemplos são de veloso
21
Os exemplos são de Rita velosa
29

e) Esses teus maus modos, com que tratas até os melhores amigos, ainda te vão dar
problemas.

O pronome que, aceita maior diversidade de contextos no que respeita à sua função dentro da
oração relativa. Veloso (2013:2082) «afirma que nas orações relativas, que pode ter a função
sintáctica de sujeito (24 a), de complemento directo (25b),contrastando com o qual e quem, que
não podem ter estas funções » como se pode depreender em (b).

(24)

a) Os alunos que _ fizeram o trabalho estão dispensados deste teste.

b).* Os alunos { os quais/ quem } _fizeram o trabalho estão dispensados deste teste.

(25)

a) Os alunos que encontrei_ no bar faltaram à aula.

b) *Os alunos { os quais/ quem } encontrei_ no bar faltaram à aula.

Veloso (2013:2083) ainda afirma que , nas orações opositivas, que pode surgir com a função
de sujeito(cf.26a) ou de complemento directo(cf.27a), podendo alternar com o qual ( CF, os
exemplos b), mas nunca com quem (cf. Os exemplos em (26c), (27c) das frases que se seguem)

(26)

a) A Ana , que _ é uma boa amiga, foi ver-me ao hospital.22

b) A Ana , a qual _ é uma boa amiga, foi ver-me ao hospital.

c) * A Ana, quem _ é uma boa amiga, foi ver-me ao hospital.

(27)

a) Os alunos, que encontro_ todos os dias no bar, nunca faltam às aulas23.

b) Os alunos, os quais encontro_ todos os dias no bar, nunca faltam às aulas.

c) *Os alunos, quem encontro_ todos os dias no bar, nunca faltam às aulas.

22
Os exemplos são de Rita velosa
23
Os exemplos são de veloso
30

Ainda na perspectiva de veloso « nas orações relativas com antecedente explícito, que pode
ainda ocorrer num constituinte preposicionado com a função sintáctica de complemento
indirecto (cf.29a), de complemento oblíquo (cf.29 b,c), de modificador nominal possessivo
(cf.29d), ou de adjunto adverbial preposicionado (cf.29e)»:

(29)

a) O idiota a que emprestei esse livro_ nunca mais me devolveu.

b) Interessa-me muito o tema de que falaste- na TV.

c) Não partilho os ideais por que ele sempre lutou.

d) O telefone de que o gato roeu o fio_ nunca mais funcionou.

e) A cidade em que me sinto melhor _ é mesmo Lisboa.

Veloso (2013:2083) afirma que , os constituintes relativos preposicionados, pode-se fazer uso
dos pronomes relativos semântica ou morfologicamente mais ricos, dependendo do tipo de
antecedente frásico, como se pode depreender em (30):

a) O idiota a quem emprestei esse livro_ nunca mais me devolveu24.

b) Interessa-me muito o tema do qual falaste- na TV25.

c) Não partilho os ideais pelos quais ele sempre lutou.

d) O telefone cujo fio o gato roeu _ nunca mais funcionou26.

e) A cidade em que me sinto melhor _ é mesmo Lisboa.

e) A cidade onde me sinto melhor _ é mesmo Lisboa.

Segundo Veloso (2013:2089) nas orações explicativas, o uso do que é basicamente idêntico ao
seu uso nas orações restritiva, porém que geralmente não ocorre em orações relativas com
antecedente implícito, visto que lhe faltam traços semânticos que lhe permitam reconstruir o
antecedente: cf. *Que vai ao mar perde lugar (quem vai ao mar perde lugar).

24
Os exemplos são de Rita velosa
25
Os exemplos são de Rita velosa
26
Os exemplos são de Rita Veloso
31

Pronome quem.

Para Veloso (2013:2089) «o pronome quem tem o traço [+ humano], que partilha com o seu
antecedente, por isso quem só ocorre em orações relativas de nome, não de frase. Mesmo em
orações relativas de nome, com antecedente humano explícito, o pronome quem só ocorre num
constituinte relativa introduzida por uma preposição. O morfema quem pode ter a função de
complemento indirecto, complemento directo, complemento oblíquo, e complemento
possessivo de nome», como demonstramos em (31):

(a) O rapaz a quem dei o livro gostou muito dele. 27


(b) (b) Aquela é a Ana, de quem tu conheceste ontem o primo.

Para Veloso «quando quem, introduzido pela preposição de, é modificador possessivo do nome,
e este é usado na oração relativa como complemento do um verbo locativo (como estar, ficar,
viver) ou de movimento (ir, vir), o nome geralmente faz parte do constituinte relativo, junto
com o pronome relativo e a preposição» como se pode depreender em (32):

(a) (a) Esta é a amiga a casa de quem eu vou logo à noite28.

(b) As pessoas em casa de quem vivo tratam-me bem.

4.1.3 Locução pronominal o qual.

Segundo Veloso (2013:2091), «a locução pronominal o qual funciona como sintagma nominal
e é variável em género e numero, em concordância com o núcleo nominal do seu antecedente,
ocorre apenas em orações relativas de nome com antecedente explicito».

Como se pode depreender em (33);

a)Jantei com a Ana, a qual me disse que estava grávida29.

b)Comprei uma tinta fantástica, com a qual vou pintar a sala e a cozinha.

27
Os exemplos são de Rita veloso
28
Os exemplos são de Rita veloso
29
Os exemplos são de Rita veloso
32

Segundo Veloso (2013:2091), «a locução pronominal o qual não pode ocorrer em orações
relativas de antecedente implícito porque não marca morfologicamente qualquer traço
semântico, portanto não permite a reconstrução do antecedente».

Segundo Veloso (2013:2091), «esta locução pronominal o qual, em orações relativas com
antecedente explicito, pode ocorrer com a função de sujeito ou de complemento directo nas
relativas opositivas (cf.34) mas não nas relativas restritivas. (cf.35)».

34.

a) O professor elogiou muito o Rui, o qual teve 20 no teste. [sujeito]

b) Os teus pais, os quais vi ontem no cinema, estão cada vez mais novos, [complemento directo]

35.

a)* Posso apresentar-te uma rapariga a qual gosta de ti. [sujeito]

b)* O gato o qual vi no telhado a Zorba.[complemento directo]

A locução o pronominal o qual pode ocorrer livremente tanto nas orações como opositivas em
(36) relativas restritivas em (37) se estiver preposicionado.

(36)

a) Os meus gatos, aos quais só dou a melhor comida, estão gordos.[O.I]


b) Esses ideias pelos quais sempre lutei, são partilhados por poucos. [Complemento
obliquo]

(37)

a) Os gatos aos quais só dou ração são Zorba e a Pipoca. [ objecto indirecto]

b) O rapaz com o qual estavas a conversar é meu primo. [complemento obliquo]

Com o antecedente [+ humano], apenas os constituintes preposicionados introduzidos por


exigem o qual, aparentemente para evitar a dissonância de sem quem. Como se pode depreender
em (38).

a) É ele a pessoa sem a qual não vivo.


b) É ele a pessoa sem quem eu não vivo.
33

4.1.4 Pronome quanto.

Para Veloso (2013:2099):

o pronome quanto pode ser equivalente a um sintagma nominal (SN)


quando tem um antecedente de um pronome neutro tudoa, ou em orações
relativas com um antecedente quantificável implícitob, sendo nesse caso
morfologicamente invariável; pode também funcionar como
especificador, variando morfologicamente em género e número. O grupo
nominal com o qual concorda pode ocorrer dentro do constituinte relativo
ou no antecedente. Vejamos alguns em (39):
a) Transformava em ouro tudo quanto tocava.
b) Comeu quanto havia em casa.
c) Viu quantos filmes de cobóis passavam em Lisboa.
d) Viu tantos filmes de cobóis quantos passavam em Lisboa.

4.1.5. Pronome cujo.

Veloso (2013:2097) afirma que esta forma, variável em género e número, é um pronome
relativo semanticamente equivalente a um pronome genitivo da 3a pessoa. Como se pode
depreender em (40):

a) Comprei um livro cujas páginas vinham rasgadas.

b) Comprei um livro. As suas páginas vinham rasgadas.

Pode-se depreender que a frase em (b) é paráfrase da frase em (a).

Veloso (2013:2097) afirma que «são varias as semelhanças gramaticais e semânticas que
existem entre cujo e pronome possessivo da 3a pessoa. O pronome cujo retoma
pronominalmente a entidade possuidora na relação de posse expressa no sintagma nominal».

O pronome cujo corresponde a um complemento ou modificador de nome que denota a entidade


possuída.

O pronome cujo precede o nome que denota a entidade possuída. Este nome por vezes chamado
consequente de cujo e os dois integram obrigatoriamente o constituinte relativo.
34

Cujo concorda em género e numero com nome consequente.

Cujo é equivalente a um sintagma preposicional introduzido pela preposição de, também com
a função de modificador ou complemento de nome, assim, correspondendo a alínea (a), tem-se:
a) Comprei um livro as páginas do qual vieram rasgadas.

c) Comprei um livro as páginas dele vinham rasgadas.30

4.1.6. Pronome quando.

Veloso (2013:2097) afirma que «as orações introduzidas por quando têm um valor temporal e
são frequentemente classificadas como orações adverbiais. Em português, o antecedente das
orações relativas com quando é geralmente implícito», como ilustram os exemplos em (41):

a) Telefone-te quando sair da reunião. (cf. Telefono-te no momento em que sair da reunião
b) Os alunos contestaram para quando o exame foi marcado. (cf. Os alunos contestaram a
data para a qual exame foi marcado).

Para Veloso (2013:2101) «as pro-formas onde, como, e quando são pro-formas relativas de
natureza adverbial que se caracterizam por ter valores semânticos particulares; onde tem o traço
[+ lugar], como [+ modo] e quando [+tempo]».

O pronome onde caracteriza-se por ser semanticamente locativo, esta propriedade impõe dois
requisitos distintos sobre o seu uso: (i) o seu antecedente (implícito, explicito) tem de denotar
um lugar. (ii) o valor semântico do pronome dentro da oração relativa tem de ser locativo, quer
o pronome seja um complemento oblíquo (42a) , quer seja um adjunto(42b), Veloso
(2013:2101), assim ilustram os exemplos em (42).

a) Visitei uma casa onde tinha vivido a Lorca.


b) Lembro-me da cidade onde conheci a Maria.

Enquanto Veloso (2013) afirma que o pronome relativo onde não só tem o valor do locativo
com a função de complemento obliquo, Mateus (2003:655) afirma que o pronome onde usa-se
unicamente com obliquo com o valor locativo.

30
O exemplo é de veloso
35

CAPÍULO II: Questões metodológicas.

Neste capítulo, expor-se-ão as técnicas e metodologias que orientaram a pesquisa, como é o


caso de tipo de pesquisa, métodos, técnicas e estratégias usadas na recolha de dados, população
e amostra.

O Presente trabalho é resultado do estudo realizado na Escola Secundária de Chingodzi,


localizada na província de Tete.

A nossa pesquisa é descritiva, pois pretendemos descrever as características linguísticas dos


alunos de Chingodzi, relacionadas com as diferentes formas de relativização, tais como o corte
das preposições em orações relativas e outras estratégias por eles adoptadas
A pesquisa será feita com base a um Corpus escrito por alunos da 8ª classe da Escola Secundária
de Chingodzi. (descreve aqui como os alunos produziram os textos, que comando deste, onde
estavam, se havia ou não a controlar, qual foi o tema que sugeriu, porque sugeriu tal tema).

Este instrumento de recolha de dados foi aplicado ao mesmo tempo em pelo menos quarenta
alunos de diferentes turmas da mesma escola. Estes alunos elaboraram textos com cerca de 200
a 250 caracteres fazendo uso dos pronomes relativos, que acreditamos que todos esses alunos
apresentam as mesmas características de construção das relativas.

A idade dos informantes varia dos 16 a 19 anos, A escolha dos informantes foi aleatória, pois
acreditamos que os jovens desta faixa etária procuram sempre aperfeiçoar os seus discursos. A
escolha foi aleatória para que não caíssemos em grupos linguísticos com as mesmas
características .

De seguida, digitamos os textos, e agrupamos as frases que pretendíamos estudar consoante


cada tipo de desvio.

Por fim codificamos os textos dor informantes olhando para a enumeração por alfabeto as suas
turmas, assim teremos as seguintes codificações , ESC.8A, ESC.8C, e ESC.8D, que significa
Escola secundaria de Chingodzi 8ª A, Escola secundaria de Chingodzi 8ª C, e Escola secundaria
de Chingodzi 8ª D.
36

Capitulo III. As construções Relativas Restritivas no Português de Moçambique.

2. Introdução.

Neste capítulo, apresentaremos , analisaremos e descreveremos as construções relativas


produzidas por informantes da 8ª classe da Escola Secundária de Chingodzi da província de
Tete.

A partir desse corpus, primeiro analisam-se as construções de relativas canónicas , para de


seguida, analisarmos as construções relativas não canónicas .

2.1 As construções relativas introduzidas pelo morfema onde apresentação do corpus.

Nesta parte ,vamos analisar e descrever discutir as construções relativas introduzidas pelo
morfema onde, produzidas pelos informantes da 8ª classe da Escola Secundária de Chingodzi
de Tete. Em português , o morfema onde desempenha, na frase, essencialmente a função de
adjunto adverbial, ou função sintáctica de complemento obliquo, como se ilustra em (2)

(1) a. A Maria vivo onde estudo.


b. esta é a sala onde todos devem estar

Qualquer outro uso deste morfema que não esteja relacionado com estas funções sintáctica, em
construções relativas é considerado um desvio-o desvio, diferente de erro, é entendido por
Dubois et al. (2006: 180) como sendo “um uso geral da língua comum a um conjunto de
falantes, chama-se desvio qualquer ato de fala que surge como transgressor de uma dessas
regras de uso; o desvio resulta então da decisão do falantes.” Completando a ideia de Dubois et
al. (2006: 180), Peres & Moia (1995: 41) colocam duas condições para que os usos lexicais ou
realizações fonéticas se tornem desvios: “(i) constituírem rupturas com o subsistema ou variante
de que é suposto fazerem parte; e (ii) não serem integrados – pelo menos plenamente – pela
comunidade linguística de suporte.”
O erro é entendido por Chun et al. (1982: 537-547), citados por Gonçalves (19971: 10) como
“o uso de um item linguístico de forma que, de acordo com utentes fluentes da língua, indica
aprendizagem com falhas ou incompleta” (op. cit. 538). Lennon (1991: 182), citado também
por Gonçalves (1997:10) entende que o erro é “uma forma linguística ou uma combinação de
formas linguísticas que, no mesmo contexto e sob condições de produção semelhantes, não
seriam, muito provavelmente produzidas pelas contrapartes de falantes nativos.”
37

Portanto, as construções relativas produzidas pelos nossos informantes devem ser entendidas
como desvio, já que correspondem ao uso de uma determinada comunidade linguística e não
apenas lapsos episódicos de uma língua (erro).

Tabela 2: entradas canónicas e desviantes de construções relativas .

ORIGEM DAS FRASES Entradas canónicas Entradas desviantes TOTAL


Pronome Freq.
Freq. Abs. % Freq. Abs. % Abs. %
Onde 2 5.4 35 94.5 37 100
Que 10 30.3 23 66.6 33 100
Textos da 8a Classe
cujo 0 0 1 100 1 100
qual 0 0 1 100 1 100
quem 0 0 1 100 1 100
SUBTOTAL 12 16.4 61 83.5 73 100

Como se pode constatar, na tabela 1, houve 73 entradas de construções relativas envolvendo os


morfemas relativos, onde, cujo, que, qual, e quem. Os morfemas cujo, qual, e quem oferecem
apenas 8.1% entradas ao corpus o qual é desviante.

O morfema onde ofereceu maior número de entradas (37), seguido do morfema que o qual
ofereceu (33) entrada. O número de frases relativas desviantes é de 58 e de canónicas é de 12.

Gráfico: 1

Entradas globais
16.4 entradas
desviantes
entradas
83.5 canónicas

Esse gráfico ilustras as percentagem das entradas canónicas dos pronomes relativos e das
entradas desviantes.
38

2.2 Construções relativas introduzidas pelo morfema onde: entradas canónicas.

Neste trabalho, fazemos o estudo das orações relativas a partir do padrão europeu. por isso é
imprescindível, caracterizar as orações canónicas. Com isso, neste estudo pretendemos
descrever as construções que são consideradas canónicas segundo o padrão Pe que é a variedade
que se preconiza ser falado em Moçambique.

Lembre-se que para analisar estas estruturas frásicas, é necessário ter em conta os modelos
que já descrevemos no capítulo anterior, como : o modelo raising e a modelo matching. O
modelo raising, como se disse defende que a oração relativa é complemento do determinante
(D).

Observemos as construções canónicas que se seguem em: (1)

a) ver caora bassa de | onde | saiu energia de mocambique


b) vó passar no angonia | onde | vivem meus avos
c) angonia no lugar | onde | Eu nasci
d) me levou ao rio lugemla, | onde | aprendi a pescar.

Como se pode depreender em (1a), (1b) (1c) (1d) etsas construções relativas obedecem a norma
padrão europeia, visto que o antecedente da oração relativa é locativo e o morfema da
relativização do SN é o pronome onde que desempenha a função de adjunto adverbial ou de
obliquo. O morfema onde pode ocorrer com antecedente explícito, tal como indicam os
exemplos em (1) ) ou com antecedente implícito, como se ilustra em (2).

(2) Eu fui para onde estava as minhas família.

Nas construções frásicas do Português de Moçambique, o pronome onde tem aparecido muitas
vezes a a desemprenhar a função sintáctica de adjunto adverbial de lugar (2 a), do que a
complemento obliquo (2b).

a) angonia no lugar | onde | Eu nasci.


b) vó passar no angonia | onde | vivem meus avos.

Mateus (2003) « o pronome onde no PE manifesta caso obliquo com valor de locativo, e quando
precedido pelas preposições a e de produz as formas aonde, de onde» .
39

No exemplo em (2b) o pronome onde desempenha a função de complemento obliquo, pelo


facto de se ser seleccionado pelo verbo da frase relativa que rege obrigatoriamente a
preposição em seguida de um SN.

É importante referir que os oblíquos preposicionados e adjuntos partilham a mesma estrutura,


mas diferem-se pelo facto de um complemento obliquo ser obrigatório por ser seleccionado
pelo predicador verbal, e o adjunto é um acessório e a sua presença ou ausência não resulta em
construções agramaticais. Vejamos as diferenças nos exemplos:

(4)

.a) vó passar no angonia | onde | vivem meus avos (Obl)

b) angonia no lugar | onde | Eu nasci (Adj)

Em (4a) o verbo viver selecciona obrigatoriamente um argumento interno com função de


oblíquo, introduzido pela preposição em , seguida de um SN. Se apagarmos o SP teríamos a
uma construção agramatical , como a que a seguir se ilustra em (5):

(5)

a ) vó passar no angonia | onde | vivem meus avos .

o verbo viver, nesta frase não se refere a estar com vida , mas sim ao verbo morar em.

Enquanto, em (4b) o verbo nascer pode ocorrer sem um argumento interno porque não é
obrigatório, servindo de adjunto, a sua presença ou ausência não provoca qualquer
agramaticalidade na frase, como na frase que se segue em (5).

(5)

b) angonia no lugar | onde | Eu nasci (Adj)


40

Vejamos a seguir as construções de onde com função sintáctica de adjunto adverbial em árvore,
com antecedente explícito em (6)

a) me levou ao rio lugemla, | onde | aprendi a pescar

DP

D NP

N CP

o Rio lugemla Onde aprendi a pescar [ti ]

b. o lugar | onde | Eu nasci


DP

D NP

N CP

lugar onde eu nasci [ti]

Vejamos a seguir as construções de onde com função sintáctica complemento oblíquo em


aarvore, com antecedente explicito.

c ) vó passar no angonia | onde | vivem meus avos

DP

D NP

N CP

angonia onde vivem meus avos [ti]


41

Na frase em (6a) marcamos com [ti] o lugar de onde partiu o movimento constituinte locativo
para o lugar de poiso. Este constituinte partiu do lugar reservado ao adjunto do verbo aprender
, com função sintáctica de adjunto adverbial de lugar.

O verbo aprender , é transitivo directo com dois argumentos , um externo, um interno, sendo
o primeiro com a função sujeito , que só é possível identificar através das marcas verbais, e o
segundo com função sintáctica de complemento directo, um adjunto adverbial, como se
depreende em (6.1a) na estrutura profunda:

(6.1)

a) me levou ao rio lugemla, aprendi a pescar em (o rio legemla)

Em (6b) marcamos com [ti] o lugar de onde partiu o movimento do segundo sintagma
adverbial, deixando marcas de vestígio (v), no verbo nascer, que pela sua natureza, não rege
nenhum argumento interno.

Refira-se que na frase, o morfema onde co-refere às expressões geradas fora da oração
relativa, que são movidas por regra de mover-A’, em forma de pronome relativo e adjungido
ao núcleo nominal externo como se pode depreender em (7).

É de constar, segundo Miranda(2008), olhando para o programa minimalista, o DP relativo (


formado pelo operador relativo e a representação interna do núcleo nominal) sofre o
movimento-A’ e ocupa, então a posição de Spec/CP, na posição na qual, em algumas propostas
teóricas, o núcleo e apagado por identidade ( que não precisa ser uma identidade completa nas
teorias recentes) como o núcleo externo. Como em (7 a, b).

O que é movido é a representação interna, este caso o pronome onde.

7.a) me levou ao rio lugemla, | onde | aprendi no rio lugemla [ti] a pescar

Mover-A

b) angonia no lugar | onde | Eu nasci em (angonia) [ti]

mover-A
42

Nas frases em (7 a,b) marcamos com [ti] o lugar de onde partiu o movimento do segundo
sintagma adverbial, deixando marcas de vestígio (v), no verbo nascer, que pela sua natureza,
não rege nenhum argumento interno.

2.2.1 Construções relativas introduzidas pelo morfema onde: entradas desviantes.

Introdução.

Nesta parte do trabalho consideramos entradas desviantes as construções relativas introduzidas


elo morfema onde, às quais não se adequam à regra padrão europeia. Essas produções
representam uma percentagem de 94.5%, as frases que vão ser objecto de estudo, nesta parte
do trabalho, são como as que seguem em (8):

2.2.2 Relativas de duplo morfema.

Neste parte do tralhamos, vamos analisar as construções relativas de duplo morfema. Assim
consideramo-las pelo facto de haver uma locução de morfemas relativos composta pelo
morfema onde e que. Segundo a gramática luso-brasileira, nenhuma construção relativa
gramatical ocorre com duplo morfema. As construções que são objecto de estudo nesta parte
são como as que se seguem em (8):

a)em Manica cidade de Chimoio onde | que | eu vou mesmo.ESC8A

b) comhcer a cidade nos bairo | onde | que eu não conheço. ESC8A

A agramaticalidade da frase em (7a) consiste apenas na ocorrência da locução de pronominal


na frase. O pronome onde ocorre em frases com SN com função de locativo enquanto que o
pronome que, pode desempenhar a função de sujeito, complemento directo, e quando
acompanhado por uma preposição pode desempenhar a função sintáctica de complemento
obliquo,, adjunto adverbial e de complemento indirecto.

Na frase em (7b) a expressão nominal (a cidade nos bairo) é núcleo externo do morfema
onde. Para que essa construção seja considerada canónica é necessário que se elimine o
morfema que como se pode verificar em (8.1a), e se mova para o local de poiso, a preposição
a regida pelo verbo ir.

(8.1)

a) em Manica cidade de Chimoio aonde | que | eu vou .ESC8A.


43

A agramaticalidade da frase em (7b) não consiste apenas na ocorrência de locução de


pronominal na frase, mas também nos aspectos referentes à selecção do próprio morfema.
Consideremos a frase a seguir (8.2) .

b) comhcer a cidade nos bairo | onde | que eu não conheço. ESC8A

O pronome onde ocorre em frases em que o antecedente nominal desempenha a função de


adjunto ou complemento obliquo. N a frase em (7b) , apesar de a expressão a cidade nos bairo
ser um lugar, não é compatível ao morfema onde , e o verbo da relativa rege obrigatoriamente
um SN com a função de complemento directo.

Notamos que mesmo após o apagamento do morfema que a frase ainda é agramatical, pelo
aspectos acima referidos. Assim sendo, tentaremos eliminar o morfema onde a fim de
verificarmos se a gramaticalidade da frase prevalece.

( 9)

a) comhcer a cidade nos bairo | que |eu não conheço. ESC8A

Com a eliminação o morfema onde, em ( 9) a frase resultante pode ser considerada em


construções relativas canónica.

De seguida, ilustraremos o movimento do constituinte relativo, em (10) , para provar que as


estruturas em (8) e em ( 9) são canónicas.

(10)
a)em Manica cidade de Chimoio |onde |eu vou [ti] .ESC8A
mover-A

b) comhcer a cidade nos bairo | que |eu não conheço[ti]. ESC8A


mover-A
44

2.2.3 Construções relativas locativas introduzidas por que.

O pronome que aceita maior diversidade de contextos no que respeita à sua função dentro da
oração relativa. Veloso (2013:2082) «afirma que nas orações relativas, que pode ter a função
sintáctica de sujeito , de complemento indirecto quando preposicionado e de complemento
oblíquo, porém nunca de complemento obliquo com valor locativo». Factor que nos leva a
afirmar que no português é desviante construir orações relativas locativas com o pronome que.

Os nossos informantes usam o morfema que como co-referente de argumentos externo com
valor de locativo, ao vez do morfema onde , o qual é adequado para esses casos.

Designam-se relativas locativas de que neste trabalho, as construções em que o morfema que
é usado como relativizador em circunstâncias anómalas ao PE, visto que o lugar de onde se
parte omovimento está reservado exclusivamente ao adverbio de lugar . Construções de
género, em nosso corpus, corresponde a 21% , como as em :(11)

a) é pra eu ir pra casa dela | que | irei assistir meu irmão a jogar .ESC.8D
b) minha família mora em Alfredo de cahora bassa | que | tem muita agua doce. ESC.8D
c) vou viajar para crusamento 18 este em distrito | que | vive os meus família na terça
feira ESC.8C
d) regressei para a casa | que | vivo com o meu irmão. ESC.8C
e) 2019 eu passei as ferias em mutarrara | que | é na casa dos meus pai foi muito divertido.
ESC.8A

A frase em (11a) é agramatical pelo facto de o lugar de onde foi extraído o morfema que está
reservado para um constituinte locativo. Esse constituinte, por via d regra , só é
pronominalizável pelo morfema onde. Assim , parece-nos que a versão canónica desta
construção é a que se segue em:

(12)

a) é pra eu ir pra casa dela | que | onde irei assistir meu irmão a jogar .ESC.8D

Em (11b) o verbo ter é de dois lugares, com um argumento externo e um interno. O verbo
subcategoriza um SN com a função sintáctica de complemento directo. A razão que torna esta
frase agramatical é que o lugar de onde partiu o movimento do morfema que, é exclusivamente
reservado ao morfema com valor de locativo, neste caso o morfema onde .
45

A construção que se segue em (13), parece-nos que é canónica e formulando a frase, teríamos
a seguinte construção canónica em:

(13)

a) minha família mora em Alfredo de cahora bassa | onde | tem muita agua doce. ESC.

Em (11c, e d) as frases são agramaticais porque o lugar em que é reservado por exclusividade
para o morfema com valor locativo onde, foi ocupado pelo pronome que , o qual não tem traços
locativos, o que as torna agramaticais, contudo , . Umas versões como as que se seguem em
(14) parecem-nos canónicas:

a) vou viajar para crusamento 18 este em distrito | onde | vive os meus família na terça
feira ESC.8C
b) regressei para a casa | onde| vivo com o meu irmão. ESC.8C

2.2.4 Relativas com pronome relativo onde nulo introduzidas por e.

Considera-se relativas de pronome nulo onde introduzidas por e as construções em que esse
pronome não se manifesta na estrutura sintáctica da superfície da frase, mas pode-se recuperar
a ocorrência do pronome a partir do contexto..

Estas orações apresentam o núcleo externo onde se pode adjungir o pronome locativo na oração
relativa, deixa-se vestígio no lugar onde estaria o matching copy. Existem quatro tipos de
construções reativas de morfema nulo, que apresentam diferentes características: as primeiras
construções são as relativas em que o pronome onde é substituído pela conjunção coordenada
copulativa e com as de(15a), (15b), (15c); nas segundas o pronome relativo é substituído pelo
morfema locativo lá como em (15d), (15e), (15f), nas terceiras construções relativas em que
ocorre tanto o morfema la como a conjunção copulativa e ,como em15f), (15g), (15h), e por
fim as construções relativas de onde sem morfema como em 15e), (15i), (15j

15)

a) Depois vó para casa do meu irmão e vou ficar um dia. ESC.8A

b) Seguinte irei em matundo e ficare um dia e dePois irei em maChaquene ir Ver a minha
madrinha e fiCarei um dia. ESC.8 D
46

c) quero mesmo ir para Matema na casa de minha tia Madrinha, e brincar muito la e jogar game
ESC.8 D

d) conheci a Fortaleza de Maputo, lá vi as armas usadas pelos portugueses na guerr

e) ou de chimoio Eu estava em Nampula la Fui reçebeda bem

f.) no mercado de Moatize la tem meus pais e la tem meu tio | que | me da dinheiro. ESC.8C

g) ia 07 de Dezembro fui a Maputo,e lá conheci novos amigo ESC.8D

h) na beira na minha cidade e la eu fis minhas coizas . ESC.8D

i) voltar em casa dele depois em casa vou assistir futebol com as minhas irmãs ESC.8C

j. ir para Sofala conhecemos muitos amigos. ESC.8C

Em (15a), (15b), (15c), o pronome relativo onde foi substituído, na frase, pela conjunção
coordenada copulativa e , como já referimos. Chegamos a essa conclusão, porque olhando para
Duarte & Brito (2003:655) as relativas restritivas ou determinativas contribuem para construção
do valor referencial da expressão nominal. Assim senso, acreditamos que nessas construções o
e retoma a expressa nominal da frase, como em (16).

a)Depois vó para casa do meu irmão e vou ficar um dia [ti]. ESC.8A

b)Seguinte irei em matundo e ficare um dia[ti]. e dePois irei em maChaquene ir Ver a minha
madrinha e fiCarei[ti]. um dia. ESC.8 D

c) quero mesmo ir para Matema na casa de minha tia Madrinha, e brincar [ti]. muito la e jogar
game ESC.8 D

substituímos, nas frases em(17) o morfema e pelo morfema onde , a fim percebemos que o
lugar é reservado ao morfema locativo.

(17)

Depois vó para casa do meu irmão onde vou ficar um dia [ti]. ESC.8A

Mover- A
47

b)Seguinte irei em matundo onde ficarei um dia[ti]. a. ESC.8 D

mover-A

c) mesmo ir para matema na casa de minha tia Madrinha onde brincarei muito [ti].ESC.8 D
. mover-A

Como se pode depreender as reconstruções em (17) são canónicas ,visto que cumprem com as
normas de construções relativas, como como se denota na árvore que se segue em (18).

(18)

a) Depois vó para casa do meu irmão onde vou ficar um dia [ti]

DP

D NP

N CP

casa onde vou ficar um dia [ti ]

b) Seguinte irei em matundo onde ficarei um dia[ ti]

DP

D NP

Ø N CP

Matundo onde ficarei um dia[ ti]


48

d) quero mesmo ir para Matema na casa de minha tia Madrinha onde brincarei muito [ti]

DP

D NP

Ø N CP

Matema onde brincarei muito[ti]

2.2.5 As relativas de pronome onde nulo introduzida pelo morfema lá.

As construções que aqui analisaremos são semelhantes com as que analisamos em (18). A única
diferença reside no facto de que nestas construções além de os informativas usarem o morfema
onde, usam o morfema lá . Estas construções possuem vestígio, que é ocupado por locativo lá.

Para obtermos uma frase locativa canónica , substituiremos o morfema lá por onde.

(19):

d) conheci a Fortaleza de Maputo onde vi as armas usadas pelos portugueses na guerra[ti].

e) ou de chimoio Eu estava em Nampula onde Fui reçebeda bem[ti].

f.) no mercado de Moatize onde tem meus pais. [ti]. . ESC.8C

Como se pode depreender, as frases em (19) podem ser consideradas canónicas.

Construções relativas de onde introduzidas por e, lá .

Consideram-se construções relativas de onde introduzidas por e , lá as construções em que o


morfema locativo onde não é inserido na estrutura das frases , mas pode-se recuperar a
ocorrência do pronome a partir do contexto.
49

(20)

a) ia 07 de Dezembro fui a Maputo,e lá conheci novos amigo [ti] ESC.8D

b) na beira na minha cidade e la eu fis minhas coizas[ti] . ESC.8D

Estas construções possuem vestígio que é ocupado por uma conjunção copulativa e por um
locativo lá . Para obtermos frases locativas canónicas, substituiremos os morfemas e, lá pelo
pronome onde. Vejamos a reconstrução das frases que se seguem em (21).

(21)

a) ia 07 de Dezembro fui a Maputo ,e lá onde conheci novos amigo [ti] ESC.8D

mover-A

b) na beira na minha cidade e la onde eu fis minhas coizas[ti] . ESC.8D

mover-A

Com a inserção do pronome as frases podem ser consideradas canónicas.

2.2.6 Construções relativas de morfema onde nulo.

Nestas construções, não ocorre nenhum morfema, o que as diferenciam das restantes
construções de morfema nulo é o facto de neste não ocorrer nenhum morfema no lugar de poiso,
mas as frases exibem o vestígio de onde o movimento do constituinte relativo. Tomemos em
conta as seguintes estruturas representadas em (22) .

(22)

a) voltar em casa dele depois em casa vou assistir futebol [ti]. ESC.8C

mover- A
50

d) ir para Sofala conhecemos muitos amigos[ti].


mover- A

Mostramos, nestas estruturas, o local de origem do morfema locativo nulo para o seu lugar onde
iria poisar.

(23)

Construções em árvore sem matching copy

a) voltar em casa dele depois em casa vou assistir futebol [ti]. ESC.8C
DP

D NP

N CP

casa Ø vou assistir futebol [ti].

b) ir para Sofala conhecemos muitos amigos[ti].

DP

D NP

N CP

Sofala Ø conhecemos muitos amigos [ti].

Apesar de não se manifestar o morfema locativo onde na oração é possível recuperar o


lugar de origem do morfema, olhando primeiro para o núcleo externo da oração que neste caso
é Sofala que precisa de um núcleo interno , para se cumprir a sua gramaticalização, no modelo
matching. Nas frases que se seguem insere-se o pronome relativo onde, de modo a tornar as
frases gramaticais.
51

(24)

a) voltar em casa dele depois onde vou assistir futebol [ti]. ESC.8C

b) ir para Sofala onde conhecemos muitos amigos[ti].

Ao logo da análise constatou-se que todas as construções aqui envolvidas, possuem um


antecedente explicito, o que nos leva a concluir que para que haja esse tipo de construções e
fundamental o antecedente seja explicito, portanto não ocorrem em relativas com antecedente
implícito.

2.2.7 Construções relativas Cortadoras.

Nesta parte do trabalho vai se analisar as estruturaras relativas , em que os informantes apagam
as preposições. Esse fenómeno geralmente ocorre em verbos de dois argumentos, um externo e
outro interno. O argumento interno dessas construções é introduzida por preposição .

Para Mateus (2003:667) «a estratégia cortadora é a formação de relativas que deviam conter
SPs (Sintagmas Preposicionais) em posição inicial mas que só apresentam o Que (Pronome
Relativo)», como ilustra o exemplo em (25) :

a) fis muitas coisas | que | eu gosto. ESC.8A


b) C aniversario da milha tia eu dei a coisa | que | ela mais gosta .ESC.8A
c) não ter um amigo | que | eu meu amigo aprendemos. ESC.8D
d) para casa ela tem coisa | que | eu gosto pinto jogar ESC.8D
e) depois volto para casa ela tem coisa | que | eu gosto pinto jogar ESC.8D
f) casa branca Tem uma pecina | que | eu gosto muito de ir nadar . ESC.8ª
g) Em manica cidade de Chimoio onde que vou mesmo. ESC.8A

Os nossos informantes apagam a preposição de regida pelo verbo, quando acontece o


movimento do constituinte relativo para o lugar de poiso.

Assim teríamos as seguintes versões canónicas em:

(26)

a) fis muitas coisas de | que | eu gosto. ESC.8A


b) C aniversario da milha tia eu dei a coisa de | que | ela mais gosta .ESC.8A
c) não ter um amigo com | quem | aprendemos. ESC.8D
52

d) para casa ela tem coisa de | que | eu gosto pinto jogar ESC.8D
e) depois volto para casa ela tem coisa de | que | eu gosto pinto jogar ESC.8D
f) casa branca Tem uma pecina de| que | eu gosto muito de ir nadar . ESC.8A
g) Em manica cidade de Chimoio aonde vou mesmo. ESC.8A

2.2.8 Corte da preposição de.

Nesta parte iremos analisar particularmente as construções relativas em que os informantes


apagam a preposição de .Como se ilustra em (27):

a) fis muitas coisas | que | eu gosto. ESC.8A


b) C aniversario da milha tia eu dei a coisa | que | ela mais gosta .ESC.8A
c) para casa ela tem coisa | que | eu gosto pinto jogar ESC.8D
d) depois volto para casa ela tem coisa | que | eu gosto pinto jogar ESC.8D
e) casa branca Tem uma pecina | que | eu gosto muito de ir nadar . ESC.8 A

Como se depreende, as construções em (27) os informantes cortam a preposição de que ee


regida pelo verbo gostar.

A respeito, Santos (2014:14) afirma que “[…] o movimento do pronome relativo para o início
da oração arrasta consigo todo o SP […]. Em PE, se não houver movimento da Preposição e
esta permanecer na sua posição de base, a frase é agramatical

Tabela 3: Análise comparativa da estratégia cortadora (EC) em cada preposição

ORIGEM DAS Entradas Entradas


TOTAL
FRASES Preposições canónicas desviantes
Freq. Abs. % Freq. Abs. % Freq. Abs. %
Por 0 0 0 0 0 0
De 0 0 5 100 5 100
8ª classe A 0 0 1 100 1 100
Com 0 0 1 100 1 100
Para 0 0 0 0 0 100
SUBTOTAL 0 0 7 100 7 100
Nesta análise constatamos que os nosso informantes usaram o verbo gostar em 71.4% das
construções , e este sofre com o apagamento da preposição quando se move o pronome relativo
53

para o início da oração, usaram em 14.2% ( o verbo aprender ), e em 14.2% ( o verbo ir),
o que corresponde a 100% dos desvios relacionados ao apagamento das preposições.

Representação no diagrama de estrutura simplificada em árvore em que ocorre o apagamento


da preposição de com o movimento do pronome relativo.

(28)

Vejamos a arvores no modelo matching da estrutura frásica que se segue.

a) fis muitas coisas | que | eu gosto. ESC.8A

SN

SD SN

N SCOMP

Ø coisas SP COMP’

de que Comp SFLEX

SN FLex ,

eu SV SP

gosto de que

Em (28) demonstramos a estrutura-D da frase que mostra o local de onde parte o pronome
relativo, e o apagamento da preposição regida pelo verbo gostar . em (29) ilustram-se as versões
que achamos que são canónicas.

(29)

a) fis muitas coisas de que eu gosto de que. ESC.8A


b) C aniversario da milha tia eu dei a coisa de que ela mais gosta de que .ESC.8A
c) Depois volto para casa ela tem coisa de que eu gosto de que pinto jogar ESC.8D
d) casa branca Tem uma pecina de que eu gosto de que muito de ir nadar . ESC.8A
54

3.Corte da preposição com.

Além do apagamento da preposição de , encontramos um caso de apagamento da preposição


com, equivalente a 100% dos desvios. Reconstruindo a frase, teríamos a seguinte estrutura
gramatical em (30):

a) não ter um amigo com quem | que | aprendemos. ESC.8D

tal como se referiu quando se analisaram as relativas em que ocorre o corte da preposição de,
os nossos informantes cortam igualmente a preposição com. No nosso corpus, registamos
apenas uma entrada na qual a preposição com foi cortada. Apesar de ser única entrada, o seu
estudo é informante já que nos permite captar que esta preposição é igualmente cortada.

Na frase em (30), a preposição cortada é regida pelo verbo aprender. Este verbo, em Português,
é geralmente usado como transitivo directo, podendo reger a preposição com em algumas
circunstâncias concretas, tal como é a frase em (30). Em (31), apresenta-se a versão que se acha
correspondente no Pe:

(31). não ter um amigo com quem | que | aprendemos. ESC.8D

3.1 Corte da preposição a.

Nesta fase , analisamos as estruturas frásicas em que ocorre o apagamento da preposição a, esta
preposição é propensa ao apagamento em contexto em que o verbo de regência é o verbo de
movimento ir. O apagamento da preposição a corresponde a 100%, ou seja, em todos os
contextos em que deveria ocorrer a preposição, os nossos informantes cortaram-na, conforme
se ilustra em (32).

(32)

a) Em manica cidade de Chimoio onde vou mesmo. ESC.8A

A construção frásica em (31) submetem-nos para uma semântica de um movimento e de curta


permanência.

Veloso (2013:1542) refere que “as preposições a é direccional e marca constituintes com valor
de destino. Neste contexto, o verbo ir rege um constituinte introduzido pela preposição
55

direccional a e o nome Chimoio é substituído pelo pronome onde pelo facto de ter os traços
[+lugar] e [+físico], como em (32).
a) Em manica cidade de Chimoio aonde vou mesmo. ESC.8ª

Assim podemos chegar a conclusão de que o principal verbo do qual se corta a preposição é
gostar e a principal preposição cortada é de.

3.2 Construções relativas resumptivas.

Nesta parte do trabalho, procuramos analisar as construções que designamos construções


resumptivas, uma estratégia de relativização canónica.

Alexandre (2000) define orações resumptivas 31 como sendo aquelas em que o posição do
elemento relativizado é preenchida por um elemento pronominal ou adverbial com realização
morfológica dos seus traços ( pessoa , numero e género) e de caso, sendo co-refente da
expressão nominal que funciona como antecedente da relativa, confira em (33):

As construções relativas produzidas pelos nossos informantes s quais foram consideradas


resumptivas, são como as que se seguem em (33)

(33)

a) de Mocambique que é um prédioi bonito [CP que na maior parte [GEN delei] é constituído]
po.rESC.8A
b) visitar a minha familia, os meus amigosi [ CP que eu brinco com [eles] i].ESC.8C

c) fazer visita das minhas famílias todas em Moatizei [ CP onde [OBL la ]i me diverti]. ESC.8C

Nas frases em( 33 a, b, c) recupera-se o conteúdo semântico do antecedente, reborando-o, a


partir do pronomes dele ,em (33 a) eles,(33 b) e lá em (33c). Os informantes usam esta
estratégia como forma um recurso de ligação entre o SN antecedente e uma posição no interior
de uma ilha.

Nestas frases constatamos que a relativização ocorre sobre elementos com a função de SU, OBL
e GEN. Os pronomes têem marcas explicitas de caso, em (33a)de GEN, em (33b) NOM (e) em
(33c) oblativo.

31
Sobre orações resumptivas leia em Alexandre 2000
56

Reconstruindo essas frases tendo em vista a modelo matching copy, que pressupõe a existência
de dois SNs idênticos, terí amos as seguintes frases canónicas em (34).

a) de Mocambique que é um prédio bonito em que na maior parte GEN dele é constituído
po.rESC.8ª mover-A

b) visitar a minha familia, os meus amigosi [ CP com quem eu brinco com SU [


eles] i].ESC.8C
mover-A

c) fui fazer visita das minhas famílias todas em Moatizei [ CP onde [OBL la ]i me diverti].
ESC.8C mover-A

Nas construções em (34 a, b e c) as expressões dele, eles e lá recuperam o conteúdo


semântico dos sintagmas nominais relativizados.
57

Conclusão.

Ao apostarmos neste estudo designado Construções Relativas Cortadoras no Português Escrito


pelos Alunos da Escola Secundária de Chingodzi, tencionávamos, primeiro compreender as
diferentes formas de relativização usadas pelos alunas da 8ª classe da Escola Secundária de
Chingodzi.

O nosso objectivo foi alcançado porque conseguimos (i) -descrever o contexto em que os
informantes produzem orações introduzidas por onde (iii) descrever as frases relativas de duplo
morfema (iii) analisar as construções relativas locativas introduzidas por que (iv) descrever as
frases relativas com pronome relativo onde nulo introduzidas por e (v) analisar frases relativas
de pronome onde nulo introduzidas pelo morfema la, (vi) descrever construções de morfema
onde nulo introduzas por e , lá , (vii), analisar construções relativas de morfema onde em que
não ocorre o morfema (viii) construções relativas cortadoras e (ix) construções resumptivas.

Desse modo chegamos à conclusão de que os informantes têm dificuldade de identificar um


antecedente nominal com valor de locativo para que a relativização ocorra com o morfema
locativo adequado onde.

Concluímos também que os nossos informantes no lugar de poiso do morfema locativo,


substituem pelos morfemas e coordenativo copulativo e pelo morfema lá , com valor de
locativo. Essas orações envolvem processos de parataxe, que se pode explorar, visto que pode
ser mais uma estratégia de relativização.

Verificamos de igual forma, que os informantes têem dificuldades em usar os pronomes


relativos com preposições na relativização.

Inferiu-se para que não haja uma lacuna, os informantes recuperam o antecedente nominal no
interior da frase, através das formas pronominais e adverbias

Conclui-se, assim que no PM desenvolve-se diferentes formas de relativização pelos falantes,


emergindo assim uma gramática revolucionária à gramática normativa europeia, permitindo
aos falantes adoptar qualquer uma delas.
58

V. Referências bibliográficas.

TARALLO, F. Relativation strategies in Brazilian Portuguese. Tese (Doutorado). Filadélfia,


Pensilvânia, 1983

Alexandre, P. M. Nelia, A estratégia Resumptiva em Relativas Restritivas do Portugues


Europeu, Lisboa 2000 .

VELOSO, Rita. Subordinação Relativa in: RAPOSO, Eduardo Buzaglo et al. Gramática do

português. Vol. II. 1ª edição. Lisboa: Fundação Calauste Gulbenkiana, 2013.

SOUZA, Cláudia Rosana de. Relativas Cortadoras: Movimento ou apagamento? Dissertação


de Mestrado em Teoria e Análise Linguística, Porto Alegre: Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 2007.

SANTOS, Catarina Selas. Relativas cortadoras no português europeu falado: interação com

as variáveis sociais. Dissertação de Mestrado em Ciências da Linguagem. Minho: Universidade


do Minho, 2014.

PERES, João Andrade; MÓIA, Telmo. Áreas Críticas da Língua Portuguesa. 2.ª Edição.
Lisboa: Caminho, 1995

MÓIA, Telmo. Aspectos Sintáctico-Semânticos das Orações Relativas com como e quando.
Lisboa: Universidade de Lisboa, 2000.

MATEUS, Maria Helena Mira et al. Gramática da Língua Portuguesa. 6ª edição. Lisboa:
Caminho, 2003.

MATEUS, Maria Helena Mira et al. Gramática da Língua Portuguesa. 7ª edição. Lisboa:
Caminho, 2003.

LINDONDE, Loureço. Orações Relativas e Outras Construções Aparentadas com onde e em


que no Português de Moçambique. Tese de mestrado, Porto: Universidade do Porto, 2002.

GONÇALVES, Perpétua & STROUD, Cristopher. Panorama do português oral de Maputo.


Vol. III. Estruturas gramaticais do português: problemas e exercícios, Cadernos de Pesquisa,
27. Maputo: INDE. 1998.
59

ALEXANDRE, Nélia Maria Pedro. Estratégia Resumptiva em Relativas Restritivas do


Português Europeu. Dissertação de Mestrado em Linguística Teórica, Lisboa: Universidade de
Lisboa, 2000.

Moia ,Telmo, A sintaxe das Orações Relativas Sem Antecedente Expresso do Português.
Dissertação de Mestrado em Linguística portuguesa descritiva , Lisboa, Universidade de Lisboa
1992.

BRITO, Ana Maria Barros de. A Sintaxe das Orações Relativas em Português. Dissertação de
Doutoramento, Porto: Universidade do Porto, 1988.

KENEDY, Eduardo, Aspectos Estruturais da Relativização em Português- uma Analise


Baseada no modelo Raising, Dissertação de Mestrado em Linguística , Rio de Janeiro,
Universidade Federal do Rio de Janeiro,2002.

FOTHINE, Alberto, A Estratégia Cortadora no Português Moçambicano: O Caso dos Alunos


do Ensino Secundário da Província de Nampula, Monografia cientifica, Nampula 2017

KENEDY, Eduardo As orações preposicionadas e a hipotes de antinaturalidade de pido


piping, Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro,2007.
60

Anexo.

Você também pode gostar