Física da UP: Dimensões, Modelos e Gases

Departamento de Fsi
a da Universidade do Porto
T
opi os de F
si a
Aulas Te
ori as
J. M. B. Lopes dos Santos
Departamento de Fsi a
Fa uldade de Ciên ias da Universidade do Porto
email : jlsantosf .up.pt.
6 de Outubro de 1999
Prefa io
A dis iplina de Topi os de Fsi a fun ionou pela primeira vez, no Depar-
tamento de Fsi a da Universidade do Porto, no ano le tivo de 1994/95.
O Departamento pretendeu introduzir uma adeira de Fsi a, no primeiro
semestre do primeiro ano, que umprisse ertos obje tivos:
N~ao fosse vista pelos alunos omo uma repeti ~ao dos onteudos do 12o
ano, ainda que respeitasse os seus nveis de onhe imentos matemati os,
que n~ao in luem o al ulo innitesimal.
Fosse su ientemente motivadora para despertar a uriosidade e o in-
teresse dos alunos pela fsi a;
Contribuisse para desenvolver nos alunos uma maior disponibilidade
para abordar quest~oes novas, en orajando-os a ra io inar sobre quest~oes
on retas e tentando mostrar que os onhe imentos que ja têm lhes per-
mitem abordar problemas de interesse real e n~ao meramente a ademi o.
Estes obje tivos xam uma losoa de abordagem mas n~ao um onteudo
parti ular. Permitem a onstru ~ao de um programa que n~ao se integra em
nenhuma das dis iplinas tradi ionais do ensino da Fsi a. Isso e uma van-
tagem apre iavel, pois as quest~oes realmente interessantes, s~ao, frequente-
mente, horizontais atravessando varias dis iplinas.
O Departamento onou-me a regên ia desta dis iplina desde a sua ria ~ao
e propôs-me um programa om quatro areas:
Estimativas dimensionais
Modelos determinsti os
Modelos probabilsti os
Modelos fenomenologi os
Estas notas (e as aulas) so ontemplam as três primeiras. A dis iplina
so onta om duas horas teori as semanais e n~ao tem sido possvel abordar
a ultima.
i
ii
Esta vers~ao das notas tem ainda um ara ter provisorio, as ideias s~ao
muitas para as melhorar e rti as e sugest~oes s~ao mais do que bem vin-
das. Estas notas s~ao a ompanhadas de uma ole ~ao de problemas, que e
absolutamente essen ial ao umprimento dos obje tivos atras expostos. Aos
alunos (e restantes leitores) ompetita de idir se estes est~ao de fa to a ser
umpridos.
Agrade imentos
Os agrade imentos devidos s~ao muitos e de diferentes tipos. Aqui am
apenas os que se rela ionam dire tamente om esta dis iplina:
Aos alunos de Topi os de Fsi a, por terem suportado esta experiên ia
e pela ades~ao que têm mostrado a esta ideia, apesar das di uldades
que muitos têm en ontrado em adaptar-se ao estilo desta dis plina:
Ao Departamento de Fsi a da U.P. por me ter onado um proje to
de ensino t~ao estimulante;
Ao Centro de Fsi a do Porto pela fa ilidades informati as que permi-
tiram a produ ~ao destas notas;
Aos olegas que olaboraram omigo nesta dis iplina (Fatima Mota,
Jose Fernando Mendes, Jorge Reis Lima, Maria Augusta Santos e
Maria do Ceu Marques);
Ao Nuno Peres pelo entusiamo e apre o que mostrou por esta losoa
de ensino;
Um agrade imento espe ial para a Fatima Mota, pelo interesse (maior
que o meu) que mostrou em transformar os meus manus ritos nesta
forma apresentavel, indo ao ponto de olaborar a tivamente nessa
tarefa.
iii
iv
Indi e Geral
1 Dimens~
oes. Estimativas Dimensionais 1
Dimens~oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
Introdu ~ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
Con eito de Dimens~ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
Unidades Fundamentais em Me âni a . . . . . . . . . . . . . 5
Prin pio de Homogeneidade Dimensional . . . . . . . . . . . 6
Estimativas Dimensionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
O Pêndulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Velo idade do Som . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
For a de Stokes e Numero de Reynolds . . . . . . . . . . . . . 13
Leituras Re omendadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2 Dimens~
oes at
omi as 19
O tamanho dos atomos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
O atomo de Rutherford-Bohr . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
A experiên ia de Rutherford . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
O atomo de hidrogenio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Raios e energias em atomos poliele troni os . . . . . . . . . . . . . 34
Mole ulas e solidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Comprimentos de Liga ~ao e Energias de Disso ia ~ao . . . . . 35
Constantes de For a e Frequên ias de Vibra ~ao Mole ular . . 37
Solidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3 Modelos Determin
sti os 41
Equa ~oes de Movimento na Dinâmi a de Newton . . . . . . . . . . 41
A Realidade e os Modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
A Dinâmi a de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Velo idade e A elera ~ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
O onteudo de uma equa ~ao de movimento . . . . . . . . . . 46
O deslo amento omo integral da velo idade . . . . . . . . . . 49
O Metodo de Euler para Integra ~ao numeri a . . . . . . . . . 49
v
vi
INDICE GERAL
Solu ~ao Numeri a do Os ilador Harmoni o . . . . . . . . . . . . . 52

O Metodo de Euler numa folha de al ulo . . . . . . . . . . . 52
O Metodo Runge-Kutta de segunda ordem . . . . . . . . . . . 56

Orbitas planetarias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
As Equa ~oes de Movimento na Gravita ~ao Newtoniana . . . . 59
Rees alonamento das equa ~oes . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

Orbitas abertas e orbitas fe hadas . . . . . . . . . . . . . . . 68
Leis de Kepler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Colis~oes e orbitas abertas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
As leis de onserva a~o e ara tersti as das orbitas . . . . . . 81
4 Modelos Probabil
sti os 85
Imprevisibilidade e Probabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
O passeio aleatorio (Random Walk) . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Modelo para a Difus~ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Espa o de A onte imentos. Probabilidades . . . . . . . . . . 89
A onte imentos Independentes . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Variaveis aleatorias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Valores medios.
p Variân ias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Flutua o~es em 1= N . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
5 Teoria in
eti a dos gases 101
O Estado Gasoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
As Intera ~oes num Gas Diludo . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Variaveis aleatorias ontnuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Densidade de probabilidade de velo idade . . . . . . . . . . . 105
Cal ulo da Press~ao. Formula de Bernoulli. . . . . . . . . . . . . . . 107
Interpreta ~ao Mi ros opi a de Temperatura . . . . . . . . . . . . . 110
Energia Cineti a e Temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
Equilbrio entre um gas e um pist~ao movel. . . . . . . . . . . 111
A Geometria da Elipse 115
B
Area e Produto Ve torial 117
C Valores M
edios 119
Cap
tulo 1
Dimens~oes. Estimativas
Dimensionais
Dimens~
oes
Introdu
~
ao
O pro esso de medi a~o mais simples e a ontagem. N~ao e frequente pensar-
mos numa ontagem omo uma medi ~ao. Mas na realidade trata-se de um
pro edimento atraves do qual asso iamos um numero a uma entidade que
em muitos asos podemos lassi ar omo um grandeza fsi a. Claro que so
podemos ontar onjuntos. . . ontaveis, tambem designados por numeraveis.
Este pro edimento n~ao e su iente para medir, por exemplo, uma distân-
ia. Sen~ao vejamos. Para medir uma distân ia entre dois pontos, tomamos
um obje to rgido, uma regua, olo amo-la ao longo de uma linha que una os
dois pontos e ontamos o numero de vezes que a regua abe entre eles. Mas,
so muito ex ep ionalmente o omprimento sera expresso omo um numero
inteiro de reguas e vemo-nos obrigados a subdividi-la. Somos, pois, levados
a on eber uma distân ia omo expressa por uma expans~ao de imal (se as
subdivis~oes su essivas forem em dez partes). Uma expans~ao de imal que,
pelo menos poten ialmente, pode ser innita. Da que representemos om-
primentos por numeros reais. N~ao iremos dis utir ate que ponto e que a
estrutura matemati a dos numeros reais e realmente tornada ne essaria pela
nossa experiên ia do mundo fsi o. Alguns ientistas têm mesmo espe ulado
que a representa ~ao do tempo e espa o pelo ontnuo de numeros reais es-
taria na base de algumas di uldades profundas da fsi a ontemporânea.
Mas o aparato matemati o onstrudo om base nesta estrutura e de tal
modo poderoso e e iente que n~ao sera fa il destrona-lo.
O que nos interessa aqui salientar e um aspe to que o pro edimento de
medida destas grandezas ontnuas, referido a ima, torna bem laro. E que
1
2 CAP
TULO 1. ~
DIMENSOES. ESTIMATIVAS DIMENSIONAIS
para asso iar um numero real a uma grandeza deste tipo temos que es olher
um padr~ao, uma unidade. No aso em dis uss~ao uma determinada regua.
O ponto fundamental e que o padr~ao e puramente onven ional. Embora
tenha que ser espe i ado, para que o valor de uma grandeza possa ser ex-
presso por um numero real, ele pode ser mudado sem qualquer prejuzo para
a des ri a~o dos fenomenos. Mas, numa tal mudan a, os valores numeri os
que representam as grandezas transformam-se. Torna-se pois laro que uma
rela ~ao entre os valores de duas grandezas fsi as so tera signi ado se for
preservada (invariante) em qualquer mudan a de unidades. De outro modo
n~ao exprime uma rela ~ao entre grandezas mas sim uma oin idên ia de va-
lores resultante de uma es olha parti ular de unidades. Esta invariân ia
das rela o~es envolvendo valores de grandezas fsi as debaixo de uma de-
terminada transforma ~ao desses valores e um exemplo de uma simetria. Na
deni a~o lassi a de Herman Weyl, um obje to e simetri o se ar invariante
debaixo de uma dada transforma ~ao. A existên ia desta simetria impli a er-
tas restri o~es a forma das equa ~oes da fsi a. S~ao esta restri ~oes que tornam
possveis os argumentos dimensionais. Para os explorarmos teremos que es-
tudar om algum detalhe a natureza destas transforma ~oes de unidades (ou
de es ala).
Con eito de Dimens~

ao
Como se transforma o valor de uma grandeza fsi a numa mudan a de

unidades? Trata-se do mal amado problema de onvers~ao de unidades, que
vamos retomar aqui formulado de um modo um pou o mais abstra to do
que o habitual.
Seja, por exemplo, l o valor real que representa um omprimento om a
unidade metro. Se passarmos para uma outra unidade ( m) que novo numero
real l0 representa o mesmo omprimento? Como bem sabemos
m ! m = 10 2 m (1.1)
impli a que
l ! l0 = 102 l (1.2)
De um modo geral designando por u o padr~ao (unidade) de uma dada
grandeza, numa mudan a para um novo padr~ao u0 dado por
u
u ! u0 = (1.3)

os valores dessa grandeza transformam-se omo
l ! l0 = l (1.4)
~
DIMENSOES 3
Mas omo se transformam os valores de outras grandezas omo uma massa

ou uma area? O padr~ao de omprimentos n~ao serve para medir massas. N~ao
podemos determinar uma massa vendo quantas vezes nela abe uma regua
de 15 m. Pela mesma raz~ao tambem n~ao podemos medir areas om uma
regua, pelo menos n~ao por ompara ~ao dire ta. Para lari ar este ponto e
simultâneamente entender melhor o que e um sistema de unidades, vamos
gastar algum tempo om o aso trivial da es olha de unidade de area.
Para medir uma area temos que es olher um padr~ao: uma gura geome-
tri a onvenientemente denida de que possamos onstruir varias unidades,
om as quais podemos pavimentar a area a medir reduzindo deste modo a
medi ~ao a uma ontagem. Para xar ideia onsideremos a area de um r ulo
de raio r e designemo-la por C (r). N~ao seria dif il on luir, empri a ou
teori amente, que independentemente do padr~ao, uma dupli a ~ao do raio
impli a uma quadrupli a a~o da area. Isto e, generi amente, para qualquer
valor real b
C (br) = b2 C (r) (1.5)
As fun ~oes C (r) que satizfazem esta ondi ~ao para qualquer b real têm a
forma
C (r) = r2 : (1.6)
Isso pode-se ver om fa ilidade rees revendo a eq.(1.5) na forma
C (r) = b 2 C (br) (1.7)
e usando o fa to que, se esta equa ~ao e valida para qualquer b, o e em
parti ular para b = 1=r e por isso
C (r) = C (1)r2 (1.8)
em que C (1) e uma onstante independente de r. Toda a gente sabe que
esta onstante e igual a . Ou sera? Na realidade o seu valor e determinado
pela es olha da unidade de area. Consideremos, omo exemplos as seguintes
possveis es olhas:
a) A unidade de area e a area de um r ulo de raio igual a uma unidade de
omprimento.
b) A unidade de area e a area de um quadrado de lado igual a uma unidade
de omprimento
) A unidade de area e a area de uma moeda de 100$.
No aso a) a onstante vale laramente 1, pois a deni a~o signi a que
C (1) 1. No aso b), a deni ~ao orrente, vale . Com efeito o argumento
4 CAP
TULO 1. ~
que nos onduziu a eq.(1.6) apli ado a area de um quadrado de lado r, Q(r)
leva-nos a armar que
Q(r) = r2 (1.9)
O que a geometria (ou a experiên ia) nos diz e que = = . E apenas isto
o que estamos a armar quando dizemos que a area de um r ulo e r2 . A
es olha a) equivale a fazer = 1, logo = 1=. A es olha b) orresponde
a ter = 1, logo = . Mas, e isto e o mais importante, o padr~ao de
area esta ligado ao de omprimento. Se a unidade de omprimento muda
uL ! u0L = uL = a de area muda de um modo determinado pelas rela ~oes
das eqs(1.6) e (1.9), uA ! u0A = uA =2 . Repare-se que esta dependên ia
da transforma a~o de areas na de omprimentos so existe porque o padr~ao
de area foi es olhido de um modo dependente do de omprimento. No aso
da es ollha ) a ima referida isso n~ao a onte e. Nessa situa ~ao o valor que
exprime a area (o numero de vezes que la abe uma moeda de 100$00) e o
mesmo quer os omprimentos sejam medidos em metros ou em entmetros.
Nos asos das deni ~oes a) e b) a unidade de area e derivada da de
omprimento. A rela a~o entre as transforma ~oes de area e omprimento
l ! l0 = l (1.10)
a ! a0 = 2 a (1.11)
e habitualmente expressa dizendo que uma area tem dimens~ao 2 (ou ex-
poente dimensional 2) no omprimento. E usual a nota ~ao
[area℄ = L2 (1.12)
Note-se que no aso da deni ~ao ) as areas têm dimens~ao zero no ompri-
mento, isto e, os valores que exprimem areas s~ao invariantes numa mudan a
de unidade de omprimento. Neste ultimo sistema de unidades a area de um
r ulo pode ser expressa omo
C (r) = k r2 (1.13)
Mas a onstante de propor ionalidade, ao ontrario dos sistema a) e b) varia
numa mudan a de unidades. Com efeito uma vez que C (r) n~ao varia numa
mudan a de unidade de omprimento, mas r ! r0 = r, temos que ter
k ! k 0 = 2 k . k tem dimens~ao 2 no omprimento.
Este exemplo, ainda que trivial, tem o merito de pôr em evidên ia alguns
pontos relativamente a unidades:
a) Rela o~es entre grandezas fsi as de natureza diferente envolvem, em geral
onstantes multipli ativas ujos valores (e dimens~oes) so s~ao determi-
nados pelas onven ~oes de es olha de unidades.
~
DIMENSOES 5
b) Em ertos asos e possvel (e onveniente) rela ionar a es olha de padr~oes

dessas grandezas de tal modo que essas onstantes sejam independentes
das unidades es olhidas (desde que n~ao se altere a rela a~o entre os
padr~oes). Essa onstantes dizem-se adimensionais.
) Estas es olhas permitem reduzir o numero de padr~oes independentes|
unidades fundamentais|sendo os restantes denidos a partir destes|
unidades derivadas. As leis de transforma a~o das unidades derivadas
s~ao determinadas a partir das das unidades fundamentais.
Unidades Fundamentais em Me ^
ani a
Em Me âni a Classi a e possvel es olher as onstantes arbitrarias que po-

dem surgir nas leis e deni ~oes de modo ter apenas 3 unidades fundamentais,
quase universalmente es olhidas omo massa (M ), omprimento (L) e tempo
(T ). Para que n~ao aiamos na tenta ~ao de atribuir um signi ado profundo
a este fa to onvem saber que em relatividade, por exemplo, e usual usar um
sistema de unidades em que apenas ha duas grandezas fundamentais, massa
e tempo, ou massa e omprimento. Nesses sistema tempo e omprimento
têm as mesmas dimens~oes. Os fsi os de part ulas usam orrentemente um
sistema om uma unidade fundamental. Como vimos atras, e a propria rede
de leis e rela o~es entre grandezas, que onstituem uma teoria, que determina
as possibilidades de rela ionamento de padr~oes e onsequente redu a~o do
numero de unidades fundamentais.
Mas, para ja, quemos na Me âni a Classi a. Vejamos atraves de al-
guns exemplos omo obtemos as dimens~oes de ada grandeza nas unidades
fundamentais:
velo idade: uma qualquer omponente de velo idade e denida por
uma equa ~ao
x
v = lim (1.14)
t
t!0
Numa mudan a de unidades de omprimentos e tempos L ! 1 L, T !
2 T (daqui em diante passaremos sempre a indi ar as transforma ~oes
dos valores das grandezas) omo varia v? Claramente
x
t
! 1 xt (1.15)
2
e portanto
v ! v 0 = 1 2 1 v (1.16)
Isto e, v tem dimens~ao 1 no omprimento e 1 no tempo. Na nota ~ao
habitual
[velo idade℄ = LT 1 (1.17)
6 CAP
TULO 1. ~
outras grandezas: o leitor podera fa ilmente veri ar por pro essos

semelhantes as seguintes equa ~oes de dimens~oes:
[quantidade de movimento℄ = [mv℄ = MLT 1 (1.18)
[momento ineti o℄ = [mvr℄ = ML2 T 1 (1.19)
[for a℄ = [ma℄ = MLT 2 (1.20)
[energia℄ = [mv2 ℄ = ML2 T 2 : (1.21)
Nota: n~ao tera es apado ao leitor atento que todas as grandezas que referi-
mos a ima s~ao denidas omo produtos de potên ias (positivas ou negativas) de
grandezas fundamentais. Isso e uma ondi a~o ne essaria para que a respe tiva mu-
dan a de unidades orresponda a uma transforma a~o de es ala (multipli a a~o por
um fa tor de es ala) e possamos denir os respe tivos expoentes dimensionais. Para
grandezas omo omprimento, massa e tempo que se medem por ompara a~o dire ta
om padr~oes, n~ao se vê omo pudesse ser de outra maneira. Mas a generalidade das
grandezas fsi as n~ao se pode medir por ompara a~o dire ta. N~ao existe um padr~ao
de velo idades que se possa sobrepor a uma dada velo idade para ver quantas vezes
la abe. Portanto poder-se-ia pôr a quest~ao de saber se n~ao seria possvel denir
grandezas fsi as, uteis, que tivessem uma lei de transforma a~o mais ompli ada.
No entanto, ertos requesitos gerais (linearidade, omposi a~o de transforma o~es de
es ala), uja dis uss~ao seria um pou o avan ada demais para este urso, reduzem
as possibilidades aquelas que nos onsideramos.
Prin
pio de Homogeneidade Dimensional
Estamos agora em posi a~o de formular, de um modo mais pre iso, o requesito
exposto atras, de que uma rela a~o om signi ado fsi o entre duas grandezas
tem que ser preservada numa mudan a de unidades.
Tomemos uma rela ~ao generi a entre duas grandezas que designaremos
por A e B .
A=B (1.22)
Numa mudan a generi a de unidades
L ! 1 L (1.23)
T ! 2 T (1.24)
M ! 3 M (1.25)
A e B transformam-se de a ordo om as suas dimens~oes nas unidades fun-
damentais
A ! A0 = 1 1 2 2 3 3 A (1.26)
0
B ! B = 1 2 3 B 1 2 3
(1.27)
ESTIMATIVAS DIMENSIONAIS 7
Para que a rela ~ao seja preservada no novo sistema de unidades deveremos
ter
A0 = B 0 (1.28)
isto e
1 1 2 2 3 3 = 1 1 2 2 3 3 ) 1 1 1 2 2 3 3
2 3 =1 (1.29)
Como os fa tores de es ala s~ao arbitrarios a igualdade so se veri ara, para
qualquer es olha das unidades fundamentais , se
1 = 1 ; 2 = 2 ; 3 = 3 (1.30)
Em on lus~ao, e ondi a~o ne essaria e su iente para que uma equa a~o seja
invariante numa mudan a de unidades que todos os seus termos tenham as
mesmas dimens~oes nas unidades fundamentais|Prin pio de Homogenei-
dade Dimensional.
Este requesito, invariân ia debaixo de uma determinada transforma a~o
e, basi amente, um prin pio de simetria. Uma tal exigên ia olo a erta
restri ~oes as rela ~oes possveis entre determinadas grandezas. E este aspe to
do problema que sera dis utido na proximas se ~oes.
l θ0
Estimativas Dimensionais
O P^
endulo
m
Consideremos a quest~ao de determinar o perodo de os ila a~o de um pêndulo.
Do nosso onhe imento das leis da fsi a poderamos intuir que que os seguintes
parâmetros poder~ao ser importantes: Figura 1.1:o pêndulo gravti o
g, a a elera ~ao da gravidade;
m, a massa do pêndulo;
l, o omprimento do o;
0 , o valor do ângulo ini ial.
Teremos ent~ao, de um modo inteiramente geral, uma rela ~ao,
T = f (g; l; m; 0 ) (1.31)
em que f designa uma fun ~ao des onhe ida. Como vamos ver o prin pio
de homogeneidade dimensional vai permitir determinar ompletamente a de-
pendên ia de f nos primeiros três parâmetros. Es revamos, para referên ia,
8 CAP
TULO 1. ~
as equa o~es de dimens~oes destas grandezas:

[g℄ = LT 2 (1.32)
[l℄ = L (1.33)
[m℄ = M (1.34)
[0 ℄ = 1 (1.35)
[T ℄ = T (1.36)
Note-se que o ângulo e medido em radianos. Como tal e a raz~ao de dois
omprimentos e adimensional (dimens~oes L0 T 0 M 0 ), isto e, tem um valor
independente das unidades es olhidas.
Vejamos o que a onte e a estas grandezas numa mudan a de unidades
de massa, M ! 3 M . Todas s~ao invariantes ex epto m. No novo sistema
de unidades a rela ~ao da eq.(1.31) deve ser mantida, isto e,
T 0 = f (g0 ; l0 ; m0 ; 0 )
0 (1.37)
em que X 0 representa o valor da grandeza X no novo sistema de unidades.
Um ponto importante a notar: se a rela ~ao e de fa to universal a fun ~ao f
e a mesma nas eqs(1.31) e (1.37); mas, para isso, e ru ial que seja expli itada
a dependên ia em todos os parâmetros fsi os om dimens~oes. Imaginemos,
por um momento que nos esque amos da dependên ia em g, ja que esta
pou o varia se n~ao sairmos da superf ie da Terra. Nesse aso ao mudar de
unidades a fun a~o T = f (l; m; 0 ) variaria porque a deni ~ao de f envolveria
o parâmetro g que mudaria om a mudan a de unidades. E fundamental
ompreender bem este ponto para poder apli ar orre tamente os metodos
que estamos a dis utir.
Das equa ~oes de dimens~oes sabemos que T 0 = T; g0 = g; l0 = l; 0 = 00 e
m0 = 3 M . Logo
f (g; l; 3 m; 0 ) = f (g; l; m; 0 ) (1.38)
Esta rela ~ao so pode ser valida para qualquer valor de 3 se f n~ao depender
de m. O perodo n~ao pode depender da massa do pêndulo!
T = f (g; l; 0 ) (1.39)
Podemos agora prosseguir a explorar as onsequên ias de outras mu-
dan as de unidades. Para a unidade de omprimento
l ! 1 l (1.40)
g ! 1 g (1.41)
0 ! 0 (1.42)
T ! T (1.43)
de onde de orre,
f (1 g; 1 l; 0 ) = f (g; l; 0 ) (1.44)
Es olhendo 1 = l 1 obtemos
g
f (g; l; 0 ) = f ( ; 1; 0 ) (1.45)
l
O perodo e fun ~ao da raz~ao g=l e de 0 . Finalmente numa mudan a de
unidade de tempo
l ! l (1.46)
g ! 2 2 g (1.47)
0 ! 0 (1.48)
T ! 2 T (1.49)
O que da
g
T 0 = 2 T = f (2 2 ; 0 ) (1.50)
l
isto e g g
f ( ; 0 ) = 2 1 f (2 2 ; 0 ) (1.51)
l l
Usando a mesma te ni a que anteriormente, es olhendo 2 de modo a que
2 2 g=l = 1 on lumos que
s
g l
T = f ( ; 0 ) = f (1; 0 ): (1.52)
l g
Em resumo a analise dimensional, determina toda a dependên ia em l e
g, s
l
T= f ( ): (1.53)
g 0
A fun ~ao f (0 ) a indeterminda por esta analise. O regime de pequenas
os ila ~oes orresponde a 0 1 (re orde-se que um ângulo re to s~ao =2
radianos, isto e er a de 1:57). Corresponde ao limite
s s
l l
T g
f (0) = k
g
(1.54)
Neste limite a nossa analise determina o valor de T a menos de um onstante

multipli ativa (a analise ompleta das equa ~oes de movimento mostra que
k = 2).
O metodo seguido na dedu a~o do resultado da eq.(1.54) e algo longo mas
tem a vantagem de tornar bem expl ito o onteudo de uma analise dimen-
sional e o prin pio de invariân ia que lhe esta subja ente. Mas e habitual
10 CAP
TULO 1. ~
pro eder de um modo mais expedito. A fun ~ao f (g; l; m; 0 ) da eq.(1.31)

tem laramente as dimens~oes de um tempo. Olhando para as equa ~oes de
dimens~oes dos parâmetros (eqs(1.32) a (1.36))pn~ao e dif il ver que podemos
denir um tempo om l e g nomeadamente l=g . Assim podemos desde
logo es rever, sem perda de generalidade
s
l
T= h(g; l; m; 0 ) (1.55)
g
em que a fun ~ao h e adimensional, isto e tem um valor invariante em qual-
quer mudan a de unidades. Mas ent~ao e laro que ela so pode depender
de parâmetros adimensionais, igualmente invariantes. Uma inspe ~ao das
equa ~oes de dimens~oes mostra que om g; l; m; 0 a uni a ombina ~ao adi-
mensional possvel e o proprio 0 . Basta reparar, por exemplo, que so m
tem dimens~ao de massa n~ao nula. Logo n~ao pode formar om g e l um
parâmetro adimensional. Por outro lado n~ao e possvel anular a dimens~ao
temporal entre g e l. Logo on lumos dire tamente que h so depende de 0
e T tem a forma da eq.(1.54).
Antes de abandonar este exemplo, onvem re e tir um pou o sobre o que
zemos. Ao m ao abo a abamos de deduzir uma lei fsi a, sem fazer uma
uni a experiên ia. Sera que podemos de fa to re ostar-nos num sofa e, us-
ando as nossas elulas inzentas, des obrir omo se omporta o mundo? Na
verdade, a ausên ia de um onteudo empri o no nosso ra io nio e apenas
aparente. A nossa suposi ~ao ini ial sobre as variaveis de que pode depender
o perodo do pêndulo resume observa ~oes muito importantes. O perodo do
pêndulo poderia, a partida, depender de muito mais variaveis omo, o tipo
de material que o onstitui, o lo al onde os ila (latitude e/ou longitude), o
diâmetro do o de suspens~ao et , et . N~ao deixa no entanto de ser interes-
sante que tendo assim limitado o numero de parâmetros, foi depois possvel
hegar t~ao longe om base no prin pio de homogeneidade dimensional.
Velo idade do Som

l
-F F
Suponhamos que apli amos duas for as iguais e opostas no extremo de uma
l+∆l mola. Sabemos que a deforma ~ao e propor ional a for a
Figura 1.2:o elongamento da mola e F = kl (k, onstante da mola) (1.56)
propor ional a F
(Uma quest~ao: e mais usual denir a onstante da mola supondo uma das
extremidades xas e apli ando a for a na outra. As duas deni ~oes s~ao
equivalentes?)
Suponhamos agora que, em vez da mola temos uma barra solida. Se
a for a n~ao ultrapassar o limite de elasti idade da barra temos de novo a
rela ~ao da eq.(1.56) entre a varia ~ao de omprimento da barra e a for a.
Mas omo depende k do material e da geometria da barra? Se dupli ar-

mos o seu omprimento k varia? E se variarmos a se a~o? Imaginemos a
barra onstituda por duas partes do mesmo omprimento olo adas topo a -F F
topo. E obvio que a barra A, estando em equilbrio tem uma resultante das B A
for as apli adas nula. Isto e a barra B exer e sobre A uma for a F 0 = F . Figura 1.3: ada metade da barra esta
Mas ent~ao, designando por k0 a onstante de for a relativa a uma barra de sujeitas as mesmas for as que a barra
omprimento l=2, ompleta
F
lA = 0 (1.57)
k
As for as nas extremidades de B s~ao tambem F e F . Logo
F
lB = 0 (1.58)
k
em que k0 e a ontante de for a relativa a uma barra de metade do ompri-
mento. Mas
1 1 2
l = lA + lB = F ( 0 + 0 ) = F 0 (1.59)
k k k
Isto signi a que
k0
k= (1.60)
2
Por outras palavras a onstante k e inversamente propor ional ao ompri-
mento da barra. Em rela a~o as dimens~oes transversais podemos ra io inar
de modo semelhante. Supomos a barra dividida longitudinalmente em duas.
As for as apli adas a ada uma nas extremidades tem agora modulo F=2.
Mas, omo e obvio, ada uma das duas partes sofre o mesmo elongamento
que a barra ompleta. Assim
F
k0 l = (1.61)
2
ou seja k0 = k=2. A onstante k e propor ional a area da se ~ao da barra.
Em resumo,
A
k=E (1.62)
l
em que E deve ser independente das dimens~oes da barra, ara tersti o do
material de que e feita. E onhe ido omo modulo de Young. Assim temos
para a rela ~ao entre o elongamento da barra e a for a de estiramento
F l
=E (1.63)
A l
As dimens~oes de E s~ao exa tamente as de uma press~ao. No SI a respe tiva
unidade e o Pa (Pas al). Valores tpi os para solidos[4℄, andam na gama das
dezenas a entenas de GPa (1 GPa = 109 Pa).
12 CAP
TULO 1. ~
Agora que sabemos ara terizar as for as elasti as que se exer em num
solido vejamos o que podemos aprender sobre a propaga ~ao do som nos
mesmos. Como o som impli a a propaga a~o de uma deforma ~ao elasti a,
pare e laro que a sua velo idade vai depender do modulo de Young. Este
determina as for as que ada parte do solido exer e sobre as vizinhas. Mas
se pensarmos nas leis de Newton, sabemos que o movimento e determinado,
n~ao apenas pelas for as que a tuam sobre os orpos, mas tambem pelas
repe tivas massas. Por outro lado e um dado adquirido que a velo idade de
propaga a~o do som e uma ara tersti a de ada material e n~ao depende da
geometria dos orpos onde se propaga. Assim sendo, deve depender, n~ao da
massa do orpo, mas da massa volumi a do material que o onstitui. Sem
mais informa o~es arrisquemos
vsom = f (E; ) (1.64)
Olhemos para as dimens~oes
[E ℄ = [Press~ao ℄ = ML 1 T 2 (1.65)
[℄ = ML 3 (1.66)
Ora
E
[ ℄ = L2 T 2 (1.67)

as dimens~oes do quadrado de uma velo idade. Logo
s
E
vsom = h(E; ) (1.68)

em que h(E; ) e adimensional. Mas n~ao e possvel formar um parâmetro
adimensional de E e , pelo que h n~ao pode depender de quaisquer destes
parâmetros e tera que ser uma onstante adimensional.
s
E
vsom = (1.69)

p
Como exemplo al ulemos E= para o alumnio , E = 71 GPa; = 2:7 g m 3
[4℄, o que da
vsom (Al) = 5:13 103 m s 1 (1.70)
A velo idade do som no alumnio e, 5100 m s 1 [4℄. Uma analise mais
ompleta mostra que = 1.
For a de Stokes e N
umero de Reynolds
Dentro da mesma losoa onsideremos agora um exemplo no ampo da

fsi a de uidos. E uma area onde a analise dimensional e parti ularmente
util.
Consideremos um orpo de forma esferi a imerso num uido. Se este
se mover exer era sobre o orpo uma for a na dire ~ao do seu movimento.
Note-se que poderemos tambem onsiderar que e o orpo que se move no
uido em repouso. O importante e o movimento relativo solido { uido. De
que podera depender tal for a? Certamente da velo idade relativa solido {
uido, U e das dimens~oes do orpo. Poderemos tambem pensar que pode
depender da massa volumi a do uido. Um uido muito rarefeito n~ao deve
arrastar om muita for a o solido. Vejamos ent~ao as dimens~oes
[R℄ = L; (raio) (1.71)
[℄ = ML ;3 (massa volumi a) (1.72)
[U ℄ = 1
LT ; (velo idade) (1.73)
[F ℄ = MLT ; 2 (for a) (1.74)
Vemos, por inspe a~o que F / (dimens~ao 1 na massa); por outro lado
F / U 2 ( para a ertar as dimens~oes de T ). Portanto
[U 2 R2 ℄ = MLT 2 = [F ℄ (1.75)
ou seja
F = U 2 R2 h(; U; R) (1.76)
A fun ~ao h deve ser adimensional. Mas omo n~ao e possvel, om os seus
argumentos, formar um parâmetro adimensional, h deve reduzir-se a uma
onstante:
F = kU 2 R2 (1.77)
e toda a dependên ia de F nos parâmetros do problema a determinada.
Nesta altura podemos tentar impressionar um experimentalista om esta
lei fsi a deduzida por ra io nio puro! Ele poderia argumentar, om justeza,
que de fa to o nosso ponto de partida (a sele ~ao dos parâmetros de que re-
mos que F possa depender) resulta de uma experiên ia previa, tem pois um
forte onteudo empri o. Mas, mais provavelmente, limitar-se-a a apontar
que o nosso resultado esta errado pois, e bem onhe ido experimentalmente,
que a baixas velo idades, a for a e propor ional a U , n~ao a U 2 . Trata-se da
for a de atrito de Stokes. Como e possvel?
Com efeito a nossa suposi ~ao de partida e demasiado restritiva, pois
ignora uma ara tersti a do uido, a vis osidade. Para expli ar o que e
teremos que fazer um longo parêntesis.
14 CAP
TULO 1. ~
Vis osidade de Stokes
Consideremos um re ipiente heio de lquido, por exemplo agua. A por ~ao

de lquido sombreada na g(1.2) e a tuada pela for a de gravidade. O re-
spe tivo peso vale
p = gV (1.78)
(, massa volumi a, V , volume)
Figura 1.4:o peso da amada sombreada
O que sustenta esta por ~ao de lquido e o impede de air? Naturalmente
de lquido e suportado pela presss~ao do as for as de press~ao exer idas pelo lquido que esta por baixo. Este lquido
lquido que esta em baixo. e omprimido pelo peso do lquido a ima dele (e da oluna de ar por ima
deste). Deforma-se (muito pou o, pois os lquidos, omo os solidos, s~ao pou o
ompressveis) e da resultam for as de press~ao que se exer em normalmente
a fronteira entre as duas por ~oes de lquido. Naturalmente essas for as s~ao
propor ionais a area da superf ie e por isso e bem denida a for a por
unidade de area, a press~ao. O ponto e que os lquidos se omportam de modo
muito semelhante aos solidos sob a ~ao de tens~oes ompressivas (normais as
superf ies atraves das quais se exer em).
Figura 1.5:solido sujeito a tens~oes de Mas onsideremos agora uma situa ~ao um pou o diferente. Uma amada
orte. de lquido esta ontida entre duas pla as horizontais, solidas. O lquido,
normalmente, adere ao solido. Isto e, se arrastarmos uma das pla as hor-
izontalmente o lquido que esta em onta to om ela move-se tambem. Se
entre as pla as estivesse um solido o deslo amento horizontal induziria uma
deforma ~ao no mesmo. Surgiria uma for a elasti a que se oporia ao deslo a-
mento. Seria ne essario manter apli ada uma for a externa para manter a
pla a deslo ada da sua posi ~ao ini ial. Se imaginarmos uma superf ie a sep-
arar o solido em duas amadas vemos laramente que a ondi ~ao de equilbrio
da parte superior impli a que a inferior exer a sobre ela uma for a paralela
a superf ie atraves da qual ela se exer e . Estas tens~oes s~ao designadas por
tens~oes de orte.
Um lquido responde a tens~oes de orte de um modo muito diferente de
um solido. As amadas de lquido podem deslizar umas sobre as outras. A
pla a superior pode estar em equilbrio, sem for as externas, em qualquer
posi ~ao. Em equilbrio, num lquido, n~ao ha tens~oes de orte. Mas por
experiên ia sabemos que enquanto a pla a e o lquido est~ao em movimento
surgem de fa to tens~oes de orte que se lhe op~oem { as for as de vis osidade.
Para uma lasse vasta de lquidos (n~ao todos) veri a-se que para uma
velo idade da pla a superior U e uma amada de espessura l de lquido,
a for a por unidade de area que e ne essario exer er externamente sobre a
pla a para a manter em velo idade uniforme vale
F U
= (1.79)
A l
O oe iente e a vis osidade. Note-se que, omo a pla a se deslo a a uma

velo idade uniforme, a resultante das for as que nela a tuam e nula. Logo U
esta express~ao determina tambem o valor da for a que o lquido exer e sobre l
a pla a.
primeira vista esta deni ~ao pare eria indi ar que a vis osidade e uma
A Figura 1.6:para mover a pla a a ve-
propriedade da interfa e lquido|solido, mais do que do lquido em si. De lo idade uniforme e ne essario manter
fa to n~ao e assim. O que na realidade se veri a na situa ~ao onsiderada e uma for a apli ada. O deslizamento de
amadas de lquido origina tens~oes de
que a velo idade no seio do lquido varia de um valor nulo na pla a inferior orte.
ate U , na superior, de um modo linear. Isto e
y
vx (y) = U (1.80)
l
Se imaginarmos uma superf ie paralela as pla as a separar duas partes do
lquido vemos que a for a que ada uma destas partes exer e sobre a outra
e ainda dada pela eq.(1.80) uma vez que n~ao ha a elera o~es no sistema. O
que estamos a dizer, portanto, e que a for a exer ida atraves da superf ie
de separa ~ao entre as partes A e B do lquido vale
F U dv (y)
= = x (No sentido negativo do eixo xx) (1.81)
A l dy
Em on lus~ao, um deslizamento de uma amada de lquido sobre outra,
(varia ~oes de omponentes da velo idade segundo um dado eixo numa di-
re ~ao perpendi ular ao mesmo, dvx =dy 6= 0) da origem a tens~oes de orte
propor ionais a vis osidade do lquido.
A For
a de Stokes
Estamos agora em ondi ~oes de voltar a dis uss~ao da for a sobre um solido
em torno do qual se move um uido. Pare e laro que a vis osidade do
lquido e relevante. Com efeito se o lquido adere a superf ie do solido tera
que haver varia ~oes de velo idade no seio do uido e surgir~ao tens~oes de
orte determinadas pela vis osidade. Analisando dimensionalmente
[℄ = (MLT 2 )(L 2 )(L)(LT 1 ) 1 = ML 1 T 1 (1.82)
Levemos em onta a informa a~o do nosso amigo experimentalista, F / U .
Temos
F = Uf (; R; ) (1.83)
As dimens~oes da fun ~ao f s~ao fa eis de determinar
F 1
[f ℄ = [ ℄ = MT (1.84)
U
16 CAP
TULO 1. ~
O produto R tem pre isamente estas dimens~oes pelo que

F = UR h(; R; ) (1.85)
em que a fun ~ao h e agora adimensional. Mas n~ao ha nenhum parâmetro
adimensional que se possa formar a partir de produtos de potên ias de , R
e . Sen~ao vejamos
[ R ℄ = M + L 3+ T (1.86)
Para termos um produto adimensional
+ = 0
3 + = 0
= 0 (1.87)
que so tem a solu ~ao = = = 0. Em on lus~ao a fun ~ao h reduz-se a
uma onstante adimensional
F = ks UR (1.88)
Neste regime, de F / U , a dependên ia no raio da esfera e linear e a for a
n~ao depende da massa volumi a do lquido.
Finalmente, e para en errar esta dis uss~ao sobre uidos, podemos olo-
ar o problema om toda a generalidade, sem fazer suposi ~oes sobre a de-
pendên ia da for a na velo idade.
F = f (; ; R; U ) (1.89)
que podemos sempre es rever na forma
F = UR h(; ; R; U ) (1.90)
em que, de novo, h e adimensional. Mas om estes quatro parâmetros ja e
possvel formar um produto adimensional. De fa to, o trabalho ja esta feito.
Como UR e U 2 R2 tem as mesmas dimens~oes (as de uma for a) a raz~ao
entre eles e adimensional
2 2
R = UURR = UR

(1.91)
Este parâmetro e designado por numero de Reynolds.

A analise dimensional onduz ent~ao ao resultado
F = UR h(R) (1.92)
LEITURAS RECOMENDADAS 17
Repare-se que, na medida em que in lumos na dis uss~ao todos os parâmetros

relevantes, a fun ~ao h(R) e universal, a mesma para todos os uidos (desde
que ara terizados por uma vis osidade do tipo a ima denido) e esferas
solidas (para outras formas geometri as a fun ~ao sera diferente).
O numero de Reynolds ara teriza o regime de varia a~o de F om U .
Para R 1 sera de esperar que h(R) h(0) e teremos um regime em
que F / U . Mas para R 1 ou superior esse regime pode ser modi ado.
Com efeito as ara tersti as do es oamento variam substan ialmente om
R. Para R pequeno o es oamento e ordenado e esta ionario. A velo idade
do uido em ada ponto n~ao varia no tempo. Para R 20 desenvolvem-se
turbilh~oes na parte de tras do orpo solido, que para R 100, a abam por
des olar dando origem a varia ~oes temporais na velo idade do uido em ada
ponto. Para R muito elevado a esteira do solido tem um omportamento
desordenado (turbulento) (ver g.(1.7)).
Convem notar o poder da analise dimensional. A des ri a~o que a abamos
de fazer apli a-se a inumeras situa ~oes. Dois quaisquer es oamentos om
's, R's, U 's e 's totalmente diferentes ter~ao as mesmas ara tersti as se
os respe tivos numeros de Reynolds forem idênti os. Uma das onsequên ias
prati as destas ideias e que e possvel estudar o omportamento de grandes
massas lquidas (por exemplo, uma albufeira) om modelos de dimens~oes
reduzidas, se a massa volumi a e a vis osidade do lquido do modelo forem
es olhidas de modo a onduzir ao mesmo numero de Reynolds. O numero
de Reynolds e apenas um de muitos parâmetros adimensionais que surgem
no estudo da me âni a de uidos.
Leituras Re omendadas
Classi al and Modern Physi s, K. Ford, Vol I Cap. 2. Uma boa obra,
na tradi ~ao ameri ana de urso introdutorio om obertura global de
todas as areas da Fsi a. Tem alguns anos e tem sido suplantado por
obras mais re entes, om apresenta ~oes gra as ex ep ionais, mas nem
sempre om lu idez omparavel.
For es and Parti les, B. Pippard, Cap. 7 Um livro relativamente
avan ado, que ontem uma dis uss~ao uidada de alguns dos topio s
deste aptulo.
Sistema Interna ional Guilherme de Almeida Cap. 3 A ênfase e mais
em sistemas de unidades mas no aptulo 3 trata alguns exemplos de
analise dimensional.
18 CAP
TULO 1. ~
Figura 1.7: es oamentos de um uido em torno de uma esfera para varios

valores do numero de Reynolds [5℄
Cap
tulo 2
Dimens~oes atomi as
O tamanho dos atomos
De que tamanho s~ao os atomos? A investiga ~ao experimental desta quest~ao
onstitui uma historia fas inante, plena de inven a~o e riatividade. Uma
ex elente introdu a~o pode ser en ontrada nas notas de J. Bessa de Sousa
Introdu a~o a Fsi a da Materia [1℄. A inven ~ao do mi ros opio de efeito de
tunel veio oroar esta historia om imagens extraordinarias, que permitem
resolver individualmente os atomos de um dado material[2℄.
No presente aptulo tomaremos omo um dado adquirido a a tual pos-
sibilidade de a iên ia determinar om pre is~ao as ara tersti as individu-
ais de atomos (dimens~oes, energias, et ), numa variedade de ir unstân ias
(isolados, em mole ulas, em atomos). Tentaremos, om ideias simples, om-
preender o que determina as es alas ara tersti as de ertas propriedades.
Vejamos alguns exemplos.
Uma onsulta a um quadro periodi o revelara que os raios atomi os
variam entre 0.49 A (Helio) e 3.34
A (Cesio). Se levarmos em onta que
as massas dos atomos variam de um fa tor de 200 temos que re onhe er que
os raios s~ao razoavelmente onstantes.
Na tabela 1 [3℄ des obrimos algo semelhante para os omprimentos de
liga ~ao qumi a (distân ias internu leares) em varias mole ulas. A distân ia
H{H no H2 e a mais urta da lista, 0.7 A, sendo a mais longa inferior a
3 A. N~ao ha liga ~oes qumi as om distân ias internu leares de 10 ou 100
A.
Veremos mais a frente que nos solidos e lquidos as distân ias interatomi as
s~ao tambem desta ordem de grandeza. Considera o~es semelhantes se podem
fazer a respeito de energias.
Poder-se-ia, ertamente, fazer um urso de um semestre inteiro sobre
metodos de al ulo de distân ias internu leares em mole ulas. O al ulo de
energias de oes~ao de solidos poderia o upar um urso de pos-gradua a~o.
Mas, enquanto estes al ulos detalhados s~ao realmente tarefas omplexas,
19
20 CAP
TULO 2. ~
DIMENSOES
ATOMICAS
a ompreens~ao das ordens de grandeza, das es alas ara tersti as, n~ao ex-
ige onhe imentos t~ao aprofundados. N~ao ha raz~ao, pois, para que, nesta
perspe tiva limitada, nos obamos de abordar, desde ja, estas quest~oes.
Na base da nossa ompreens~ao destas ara tersti as esta o modelo atomi o
des oberto por Rutherford em 1911, mas uja fsi a so seria orre tamente
ompreendida em 1926, om o advento da me âni a quânti a.
O atomo de Rutherford-Bohr
A experi^
en ia de Rutherford
A experiên ia de Rutherford, em 1911, foi a primeira in urs~ao dire ta da

iên ia na estrutura interna do atomo e ulminou om a des oberta do nu leo
atomi o. A ideia de base era extremamente simples. Consistia em dirigir
part ulas de alta velo idade ontra uma na folha de material (Rutherford
usou ouro) e observar, em detalhe, os desvios que sofrem. Naturalmente,
D
Au
α
estes desvios dependem das for as de intera ~ao entre as part ulas e os
F atomos do material. Na altura desta experiên ia eram onhe idos alguns
Figura 2.1:Esquema da experiên ia de
fa tos sobre os atomos. As suas dimens~oes s~ao da ordem de 1 A. Sabia-se
Rutherford. F, fonte; Au, folha de ouro; que existiam ele tr~oes, part ulas om massa quase 2000 vezes inferiores a
D, dete tor. do atomo mais leve (o de hidrogenio), que fa ilmente se desprendiam dos
atomos. A natureza das part ulas , atomos de helio sem dois ele tr~oes,
tinha sido estabele ida pelo proprio Rutherford em experiên ias anteriores.
Rutherford observou que quase todas as part ulas atravessavam a folha
de ouro quase sem desvio nenhum. A folha era realmente extremamente na,
do tipo usado para \dourar" metais. Quantos atomos de ouro atravessava
ada part ula? Cada metro quadrado da lâmina tinha uma massa de er a
de 2 g. Como a massa volumi a do ouro e 19.3 g m 3 a espessura sera
t = 2 10 4 =19:3 10 5 m. Supondo um raio atomi o da ordem de 1 Aa
distân ia entre atomos seria er a de 2 A, 2 10 m; a espessura referida
8
orresponde a er a de 500 amadas atomi as. Por outro lado, om estas
dimens~oes os atomos est~ao en ostados uns aos outros. A massa atomi a do
ouro e de 197 u.m.a. (unidades de massa atomi a), isto e, uma mole de
atomos de ouro tem uma massa de 197 g. A massa de um atomo pode pois
ser al ulada onhe ido o numero de Avogadro e obtem-se m = 3:3 10 22
g. Um entmetro ubi o de ouro tem uma massa de 19:3 g e, portanto,
5:8 1022 atomos. O volume por atomo e 1:7 10 23 m3 . Um atomo
de raio 1 A o upa um volume de (4=3)(10 8 )3 = 0:4 10 23 m3 , uma
fra ~ao apre iavel do volume disponvel por atomo. Em on lus~ao, se os
atomos fossem esferas duras, impenetraveis pelas part ulas , estas n~ao seria
apazes de atravessar o ouro. No entanto Rutherford tambem observou que
uma pequena fra ~ao de part ulas sofriam grandes desvios, algumas eram

O ATOMO DE RUTHERFORD-BOHR 21
Bond D, k al/mole re , A k, 105 dynes/ m
Hydrogen HH 103.24 0.7417 5.733

Halogen a ids HF 134 0.917 9.655
HCl 102.2 1.275 5.157
HBr 86.5 1.414 4.116
HI 70.5 1.604 3.141
Hydrides LiH 58 1.595 1.026
BeH 53 1.343 2.263
BH 70 1.233 3.03
CH (diatomi ) 80 1.130 4.484
NH 85 1.038 6.0
OH 103 0.971 7.791
NaH 47 1.887 0.781
MgH 46 1.731 1.275
AlH 67 1.646 1.620
SiH (in SiH4 ) 76 1.456 2.77
PH (in PH3 ) 77 1.42 3.2
SH 85 1.34 4.20
KH 43 2.244 0.561
CaH 39 2.002 0.977
RbH 39 2.367 0.515
SrH 38 2.145 0.854
CsH 42 2.494 0.467
BaH 42 2.232 0.809
First row elements Li2 25 2.672 0.255
LiF 137
BeO 124 1.331? 7.510?
BeF 92? 1.361 5.767
B2 69? 1.589 3.583
BC (in B(CH3 )3 ) (66) 1.56
BN 92? 1.281 8.328
BO 185 1.205 13.65
BF 195? 1.262 8.045
CC 137? 1.312 9.52
CN 129? 1.172 16.29
CO
224 3? 1.128 19.02
CF 106
N2 170.2 1.094 22.96
NO 122? 1.151 15.94
NF (in NF3 ) (56) 1.37
O2 117.2 1.207 11.765
OF (in F2 O) (45.3) 1.41 5.27 or 4.26
Carbon bonds CH 80 1.120 4.484
(CH)H 92
(CH2 )H 87
(CH3 )H 101 1.094 5.394
CH av 90.5 1.08
(C6 H5 )H 77.5
(CCl3 )H 90
C C av 66.2 1.54 4.5
C=C av 112.9 1.35 9.6

C C av 150.3 1.21 15.6

(CH) (CH) 166? 1.20 17.2
(CH2 )=(CH2 ) 125? 1.353 10.90
(CH3 ) (CH3 ) 83 1.54 4.57
(CN) (CN) 112 1.37 6.75 or 5.22
(CH3 ) (CN) 103 1.460 5.2 or 4.94
(CH2 )=(CO) 80 1.30 9.8
(CH3 ) (CO) 17
(CF3 ) (CF3 ) 124 1.52 5.45
(CH3 ) (CF3 ) 117 1.53
C N av (55.5) (1.47)
C=N av 112

C N av (160.6) (17.7)
Tabela 2.1: Tabela de energias de disso ia ~ao, omprimentos de liga ~ao e
onstantes de for a para varias liga ~oes qumi as[3℄.
22 CAP
TULO 2. ~
DIMENSOES
ATOMICAS
mesmo re e tidas.
O modelo atomi o mais em voga, devido a Thompson, a quem e atribuda
a des oberta do ele tr~ao, onsiderava o atomo omo uma esfera de arga
positiva de raio da ordem de 1 A ontendo quase toda a massa do atomo
e na qual estariam embebidos os ele tr~oes. Com base nos seus resultados
Rutherford ra io ionou que estas esferas deveriam, por um lado, ser quase
transparentes as part ulas ; mas se assim fosse, n~ao se vislumbrava no
modelo de Thompson algo que pudesse expli ar os grandes desvios que por
vezes se observavam. Em alternativa a este modelo Rutherford propôs que
no interior do atomo existiria uma regi~ao de dimens~oes extremamente re-
duzidas (muito menores que as do atomo) onde estaria on entrada toda a
massa e arga positiva|o nu leo. O tamanho do atomo, sendo muito supe-
rior ao do nu leo, seria determinado pelo movimento dos ele tr~oes. Sendo
a distân ia a que estes orbitam o nu leo muito superior as dimens~oes do
mesmo, era natural supor que a intera a~o entre ele tr~oes e nu leo fosse do
tipo de Coulomb, tal omo entre nu leo e part ulas . Experiên ias poste-
riores de olaboradores de Rutherford, Geiger e Marsden, em 1913, vieram
onrmar, de um modo inequvo o, a vis~ao de Rutherford. Mas, omo ire-
mos ver, este modelo olo ou problemas insoluveis a fsi a lassi a, alguns
dos quais poderemos dis utir do ponto de vista de analise dimensional. Mas
antes disso iremos analisar om um pou o mais de detalhe os argumentos de
Rutherford, aproveitando a oportunidade para apresentar alguns on eitos
gerais que nos ser~ao uteis em varios ontextos.
Energia de intera
~
ao entre duas argas
As for as que duas argas exer em uma sobre a outra s~ao iguais em modulo,
têm a dire a~o da linha que as une e opostas em sentido. Sendo F 12 a for a
de q1 sobre q2
F 12 (r) = k qr1 q2 2 e^12 (2.1)
em que e^12 e o versor (ve tor de modulo unitario) da dire ~ao de r12
- F12 q1 q2 F12
r
r2 r1 ; r e a distân ia entre as argas r = jr 12 j. A onstante k no SI e
Figura 2.2:Lei de Coulomb
dada por k 1=(40 ). A for a de Coulomb e um exemplo de uma for a
entral uja forma generi a e,
F 12 (r) = F (r)ê12 : (2.2)
Para for as repulsivas F (r) > 0 e para for as atra tivas F (r) < 0. Provar-
se-a mais tarde, no estudo da me âni a, que, para sistemas de part ulas
om intera ~oes deste tipo se pode formular um prin pio de onserva ~ao de
energia. No aso de duas part ulas, arma que, na ausên ia for as exer idas
por outros orpos (sistema isolado), a energia total das duas part ulas, soma

das energias ineti as om uma energia poten ial U (r), mantem-se onstante,
n~ao variando durante o movimento das part ulas:
1 1
m1 v12 + m2 v22 + U (r) = onst: (2.3)
2 2 - F12 q1 q2 F12
Para xar ideias, imaginemos a for a repulsiva. Suponhamos as part ulas r
ini ialmente em repouso, a uma distân ia r. Se as largarmos afastar-se-~ao - F12 q1 q2 F12
sob a ~ao da for a repulsiva. A energia ineti a das part ulas aumentara. r+∆r1+∆r2
Logo, U (r) deve diminuir om o aumento da distân ia r. Consideremos uma Figura 2.3:Duas argas em instantes
segundo instante em que uma das part ulas se deslo ou de r1 e a outra proximos.
r2 , ambas na dire ~ao radial. Por onserva a~o de energia
1 1
U (r) = U (r + r1 + r2 ) + m1 v12 + m2 v22 (2.4)
2 2
uma vez que, ini ialmente, a energia ineti a era nula. Mas por outro lado,
sabemos que a varia ~ao de energia ineti a de ada part ula e igual ao
trabalho realizado pela for a que a outra exer e. E erto que essa for a varia
a medida que a distân ia entre as part ulas aumenta. Mas podemos sempre
imaginar deslo amentos r1 e r2 muito mais pequenos que r, a distân ia
ini ial. Nesse aso F (r) sera prati amente onstante no deslo amento e o
trabalho realizado sobre ada part ula vale
W1 = F (r)r1 (2.5)
W2 = F (r)r2 (2.6)
(note-se que as for as têm a dire o~es dos deslo amentos). Assim
1 1
W1 + W2 = F (r)r = m1 v12 + m2 v22 (2.7)
2 2
Tendo em onta a eq.(2.4) obtemos
U (r) U (r + r)
F (r) = (2.8)
r
Como as express~oes da eqs.(2.5-2.6), para W1 e W2 so s~ao validas para
r ! 0 on lumos que
U (r) U (r + r) dU (r)
F (r) = lim = (2.9)
r!0 r dr
Obtivemos assim a rela ~ao geral entre a lei de for a e a energia de intera ~ao.
Se reexaminarmos este argumento vemos que ele tambem e valido para for as
atra tivas. Nesse aso F (r) e negativo. Largadas do repouso, as part ulas
aproximam-se. r1 e r2 s~ao negativos. Todas as equa ~oes que es revemos
ontinuam validas.
24 CAP
TULO 2. ~
DIMENSOES
ATOMICAS
Para for as repulsivas (F (r) > 0), a derivada dU=dr e negativa, o que
signi a que U (r) de res e om a distân ia. De fa to as for as s~ao de molde
a aumentar a energia ineti a quando as part ulas se afastam, logo a energia
poten ial deve diminuir. Para for as atra tivas passa-se o oposto: F (r) < 0
e U (r) res e om a distân ia r.
Como exemplo, onsideremos o aso da lei de Coulomb. Como F (r) =
=r2 ( kq1 q2 ) vem

U (r) = + onst (2.10)
r
Repare-se que adi ionar um valor onstante a U (r) n~ao tem qualquer on-
sequên ia no prin pio de onserva ~ao de energia. No aso da lei de Coulomb,
omo em muitas outras situa o~es de interesse, quando o afastamento das
part ulas aumenta a for a diminui. Para afastamentos muito grandes,
r ! 1, F (r) ! 0. Pela eq.(2.9) a energia de intera ~ao tende para um
valor onstante (derivada nula). Nesse limite o prin pio de onserva ~ao
U(r)
de energia traduz-se na onstân ia da energia ineti a apenas, ja que as

part ulas s~ao livres. E usual denir o valor onstante de U (r ! 1) omo
zero. Esta es olha de zero de energia orresponde es olher a onstante da
U(r)
r eq.(2.10) igual a zero. Assim,
qq
U (r) = k 1 2 :
r
(2.11)
r
Para for as repulsivas (q1 q2 > 0) U (r) e positivo e para for as atra tivas
(q1 q2 < 0), negativo. Este resultado ompreende-se, fa ilmente, omparan-
Figura 2.4:Energia poten ial de duas
do a energia de duas part ulas paradas a distân ia r (energia total igual
argas, nos asos repulsivo, q1 q2 > 0, a U (r)) om as mesmas part ulas paradas a distân ia innita, um estado
e atra tivo, q1 q2 < 0 que pela nossa onven ~ao tem energia nula. Se as part ulas se repelem
o primeiro estado e de energia superior. Ao largarmos as part ulas elas
afastam-se e a abar~ao muito distantes om alguma energia ineti a. Por
onserva ~ao de energia a soma das suas energias ineti as sera exa tamente
U (r). No aso de for as atra tivas, para hegarmos ao estado de energia zero,
temos que exer er for as externas para afastar as part ulas. Essas for as
realizam trabalho positivo sobre o sistema de part ulas. Ou seja, aumentam
a energia do sistema. Logo a energia ini ial U (r) e negativa. Em on lus~ao,
para for as atra tivas a energia total pode ser negativa (inferior a energia do
estado de energia ineti a nula, om afastamento innito). Os estados orre-
spondentes hamam-se estados ligados. Nestes estados a distân ia maxima
entre part ulas e limitada. A energia de intera ~ao res e om a distân ia
entre as part ulas. Se a energia total e negativa existira um valor de r para
U(r)
b r
o qual U (r) e igual a energia total. A distân ia entre as part ulas n~ao pode
ultrapassar esse valor. Isto porque a energia total da part ula n~ao pode ser
inferior ao valor da sua energia poten ial, pois a energia ineti a e sempre
positiva.
Figura 2.5:Duas part ulas om energia
E , n~ao podem afastar-se mais do que b

Poten ial de uma distribui

~
ao esf
eri a de arga
No modelo de Thompson a arga positiva do atomo distribui-se numa esfera E
de raio d em que d e da ordem de 1 A. Para ompreendermos a intera a~o de P

um atomo e a part ula (de a ordo om este modelo) iremos generalizar o
estudo da se ~ao anterior para o aso de uma distribui a~o esferi a de arga
e uma arga pontual. Para isso pre isamos de dois resultados importantes
do ele tromagnetismo que iremos apresentar sem demonstra ~ao: Q
O ampo ele tri o riado por uma distribui ~ao esferi a de arga, de Figura 2.6:O ampo em P o de uma
arga pontual.
arga total Q, no seu exterior e o mesmo que o de uma arga pontual
Q situada no seu entro.
+
O ampo ele tri o de uma distribui ~ao esferi a de arga ô a, na avi-
dade interior, e nulo.
E=0
Estes resultados apli am-se a todas as intera ~oes a distân ia que têm a
mesma forma da Lei de Coulomb, F (r) / 1=r2 . Nomeadamente, a intera ~ao
+
gravti a. Com efeito, usamos este resultado para es rever para o peso de
um obje to de massa m a superf ie da Terra
M Figura 2.7:O ampo e nulo dentro da
P = mG 2T mg (2.12) avidade.
R
em que MT e R s~ao a massa e o raio da Terra. Esta for a e a que uma massa
MT olo ada no entro da Terra exer e sobre o orpo de massa m.
Como onsequên ia deste resultado, a for a entre uma arga pontual e
a distribui ~ao esferi a de arga de raio a e dada pela express~ao da eq.(2.1)
enquanto a arga pontual estiver no exterior dessa distribui ~ao (r > a).
qQ
F (r) = k (r > a) (2.13)
r2
e a energia de intera a~o e dada por
qQ
U (r) = k (r > a) (2.14)
r
Para uma distân ia r < a podemos imaginar a nossa esfera de arga
dividida em duas partes, uma interior a nossa arga e outra exterior. O
ampo riado pela parte interior e o de uma arga pontual. O da amada
exterior e nulo. Se a nossa arga estiver a uma distân ia r < a do entro
da distribui ~ao a arga da parte interior sera Q(r) = 4r3 =3 em que
e a arga por unidade de volume da esfera. Sendo Q a arga total, temos
Q = 4a3 =3. Conjugando este dois resultados, podemos es rever
r3
Q(r) = Q (2.15)
a3
26 CAP
TULO 2. ~
DIMENSOES
ATOMICAS
e para a for a exer ida sobre a arga pontual q

qQ(r) r
F (r) = k 2 = kqQ 3 (2.16)
r a
Usando a eq.(2.9) obtemos
r2
U (r) = kqQ + onst (r < a) (2.17)
2a3
Temos pois duas express~oes para a energia de intera ~ao, uma valida para
r > a (eq.(2.14)) e a outra para r < a (eq.(2.17)). As duas express~oes
ter~ao que dar o mesmo valor em r = a. Esta ondi ~ao determina o valor da
onstante que surge na eq.(2.17). Obtem-se
(
k qQ
r r>a
U (r) = (2.18)
k 32 qQ
a
qQr2
2a3 r<a
O aspe to mais importante desta express~ao omparada om a de duas
U(r)
argas pontuais e o valor nito (e maximo) em r = 0. A energia res e

omo 1=r ate r = a mas depois satura para um valor nito para r = 0,
U (0) = (3=2)kqQ=a. Na proxima se ~ao exploraremos as onsequên ias
a
r
deste resultado no ontexto da experiên ia da Rutherford.
Figura 2.8:energia poten ial de uma
arga no ampo de uma arga pontual Des oberta do n
u leo at
omi o
(linha solida ) e de uma esfera de raio
a, (linha a tra ejado).Os valores oin i- As part ulas usadas na experiên ia tinham energias ineti as da ordem
dem para r > a.
dos 5 MeV. 1
Podemos agora apre iar melhor o dilema olo ado pelos resultados da
experiên ia. A maior parte das part ulas atravessa a folha de ouro.Vimos
atras que n~ao e rvel pensar que os atomos sejam esferas duras om for as
que impe am a penetra ~ao das part ulas . Se assim fosse a folha se-
ria prati amente impenetravel. Mas existe sempre a repuls~ao ele trostati a
entre as esferas de arga positiva e as part ulas . Sera que esta pode ex-
pli ar os desvios destas? Imaginemos uma part ula que se dirige para
o entro de um atomo. A medida que se aproxima a sua energia ineti a
diminuira devido ao aumento de energia poten ial U (r). Poderemos ent~ao
ter uma situa ~ao em que a part ula para a uma distân ia r do entro a
qual a sua energia poten ial U (r) e igual a sua energia ineti a ini ial. Essa
part ula seria re e tida e voltaria para tras repelida pelo atomo. Part ulas
uja dire ~ao fosse proxima do entro de um atomo poderiam sofrer desvios
apre iaveis.
Re orde-se que 1 eV e a energia que um ele tr~ao adquire ao passar entre dois pontos
1
om 1 Volt de diferen a de poten ial. Assim uma energia de V ele tr~oes -volt orresponde
a e V Joule, em que e e a arga de um ele tr~ao.

Mas esta expli a ~ao n~ao leva em onta os valores das energias envolvidas.
O ouro tem um numero atomi o de 79. A esfera de arga positiva tem uma
arga de 79 e. O maximo de energia poten ial da part ula sera de
3 qQ 3 2 79e2
U (0) = k = k (2.19)
2 d 2 d
Cal ulando este valor para um d de 1A obtemos um valor da ordem de 1000
eV. Ora, as part ulas tinham energias da ordem de 5 milh~oes de eV!
Quer dizer, o efeito das esferas atomi as no movimento das part ulas e
mnimo. Uma part ula dirigida dire tamente para o entro de um atomo
sofrera uma ligeirssima diminui ~ao de velo idade na aproxima a~o. Mas
ara muito longe de parar. Numa dire ~ao proxima desta tera um desvio
muito pequeno da sua dire ~ao original. Uma esfera de arga om estas
dimens~oes nun a podera re e tir uma part ula om energia de 5 MeV!
Repare-se que e possvel relaxar as nossas hipoteses sem alterar esta
on lus~ao. Por exemplo, de a ordo om o modelo de Thompson, a propria
part ula sera uma esfera. Mas isso so pode diminuir ainda mais a energia
de intera ~ao. A arga da part ula nun a podera estar on entrada no
entro do atomo onde U (r) e maximo. Por outro lado a distribui ~ao de
arga do modelo n~ao tem que ser uniforme. Mas n~ao e dif il ver, por analise
dimensional, que se o atomo tiver uma dimens~ao ara tersti a d a energia
de intera ~ao maxima om uma arga q tem que ser da forma
qQ
Umax = k (2.20)
d
(note-se que a energia de intera ~ao deve ser sempre propor ional aos valores
das duas argas, porque as for as ele tri as s~ao propor ionais as argas) em
que e uma onstante adimensional, que no aso da distribui ~ao uniforme
vale 3=2 . Mas em geral sera da ordem de 1 e n~ao alterara a estimativa da
ordem de grandeza de Umax . Tambem n~ao levamos em onta o efeito dos
ele tr~oes do atomo de ouro. Mas a sua presen a diminui a arga efe tiva
do atomo e, de novo, so pode baixar U (r). Em resumo, a intera ~ao om
uma distribui ~ao de arga positiva de dimens~oes da ordem 1 A e in apaz de
expli ar os grandes desvios de algumas das part ula .
Rutherford teve a inspira a~o de propor que uma redu ~ao de varias or-
dens de grandeza do valor da dimens~ao da esfera de arga positiva do atomo
poderia expli ar os resultados. Com efeito se a arga positiva estiver on-
entrada numa regi~ao muito mais pequena que o atomo em si a intera ~ao
entre a part ula e o atomo sera extremamente forte para part ulas que
se aproximem desse nu leo. O valor de Umax res e propor ionalmente a
1=d. Com base nessa hipotese Rutherford e seus olaboradores al ularam
a distribui ~ao de desvios que seriam de esperar se ada part ula fosse
28 CAP
TULO 2. ~
DIMENSOES
ATOMICAS
desviada por um so nu leo, om um intera a~o orrespondente a de duas

argas pontuais. Esse al ulo orrespondeu perfeitamente (sem parâmetros
ajustaveis) aos resultados das experiên ias de Geiger e Marsden.
Podemos ate, a partir destes resultados, obter uma estimativa para um
limite superior do tamanho do nu leo de ouro. Olhando para o sistema
onstitudo por uma part ula e o atomo de ouro que om que ela olide
vemos que a energia total e de 5 MeV. E a energia ineti a ini ial da part ula
. A energia de intera ~ao res e a medida que distân ia diminui. Existira
um valor de r para o qual U (r) valera exa tamente 5 MeV. A distân ia
entre a part ula e o nu leo n~ao pode ser menor que esse valor, pois isso
impli aria uma energia ineti a negativa. Isto e
Ze2
U (rmin ) k = E (2.21)
rmin
Usando os valores k = 9 109 , e = 1:6 10 19 e E = 5 106 1:67 10 19 =
8 10 13 Joule obtemos
rmin = 2:3 10 14 m = 2:3 10 4 A (2.22)
A experiên ia de Geiger e Marsden veri ou que, ate distân ias desta
ordem de grandeza, a intera ~ao entre a part ula e o nu leo de ouro
orrespondia a uma intera a~o entre duas argas pontuais. Em on lus~ao a
soma dos raios do nu leo de ouro e part ula deve ser inferior a este valor,
que, note-se, e dez mil vezes inferior ao tamanho de um atomo.
Estando a arga positiva e a massa do atomo on entrada no nu leo,
as dimens~oes dos atomos ser~ao determinadas pelo movimento dos ele tr~oes
em torno do mesmo. Ate distân ias varias ordens de grandeza inferiores
a distân ia dos ele tr~oes ao nu leo a intera ~ao entre este e as part ulas
e do tipo de Coulomb, omo resulta da analise anterior. Pare e ent~ao
natural supor que o movimento dos ele tr~oes sera determinado pela mesma
intera ~ao. Como vamos ver isso olo a muitos problemas ao modelo de
Rutherford.
O
atomo de hidrog
enio
A onstante que falta
Consideremos, para xar ideias, o aso do atomo mais simples, o de hidrogenio.

A for a entre o ele tr~ao e o nu leo tem a forma
e2 e02
F (r) = k 2 = 2 (2.23)
r r
A lei de for a introduz pois uma onstante na teoria deste atomo, e02 , ujas
dimens~oes s~ao
[e02 ℄ = [F r2 ℄ = ML3 T 2 (2.24)

e ujo valor no SI e e02 = 2:3 10 28 N m2 . Por outro lado, temos as mas-

sas do nu leo e do ele tr~ao omo parâmetros relevantes para determinar os
movimentos dentro do atomo. Sabemos tambem que me mn. Isto im-
pli a que as a elera o~es do nu leo s~ao muito pequenas omparadas om as do
ele tr~ao (as for as sobre ada uma das part ulas s~ao iguais em modulo, pelo
prin pio de a ~ao e rea a~o). Podemos, em primeira aproxima ~ao, desprezar
as a elera ~oes do nu leo e supô-lo imovel. Formalmente isso orresponde a
tomar o limite mn ! 1 (ou, de outro modo, supor me =mn ! 0). Nesta
aproxima a~o a massa do nu leo desapare e omo parâmetro. Fi amos om
mais um parâmetro apenas, a massa do ele tr~ao.
O atomo de hidrogenio e uma estrutura estavel om propriedades bem
denidas:
O tamanho: Embora o raio do atomo n~ao possa ser denido do mesmo
modo que para uma esfera ma ros opi a o atomo de hidrogenio tem
dimens~oes bem denidas. O ele tr~ao orbita o nu leo a distân ias da
ordem de 1 A.
A energia de ioniza a~o: Para afastar o ele tr~ao para uma distân ia
grande do nu leo e ne essario forne er energia ao atomo. Para um
atomo no seu estado de mais baixa energia essa energia e de 13:6 eV.
Como vimos atras, isso signi a que o ele tr~ao e o nu leo formam um
estado ligado de energia 13:6 eV. Se o ele tr~ao estiver a uma distân ia
r do atomo e tiver uma velo idade v a sua energia, soma da ineti a
mais poten ial, sera:
1 e02
E = mv2 (2.25)
2 r
Estamos pois a dizer que existe um estado em que E toma o valor
(mnimo) de 13:6 eV.
As frequên ias do espe tro de radia a~o: E possvel fazer um atomo
emitir luz forne endo-lhe energia (por exemplo atraves da passagem
de uma orrente ele tri a omo nas lâmpadas de uores ên ia). Ja no
tempo de Rutherford se sabia que a luz emitida por ada tipo de atomo
tinha um onjunto de frequên ias bem determinado, que se manifesta
nos espe tros de ris as. De a ordo om a teoria lassi a da radia ~ao
uma arga om movimento de perodo T emite radia a~o om frequên ia
f = 1=T ( e, eventualmente om harmoni os 2f , 3f; : : :). Neste
ontexto o espe tro de ris as signi a que os movimentos possveis
do ele tr~ao têm frequên ias bem determinadas f0 ; f1 ; : : :, iguais as
frequên ias observadas no espe tro de ris as do atomo.
O atomo imaginado por Rutherford tem as suas propriedades determi-
nadas por dois parâmetros e02 e me . Assim, por exemplo, o seu raio deve ser
30 CAP
TULO 2. ~
DIMENSOES
ATOMICAS
determinado por eles

r0 = f (e02 ; me ) (2.26)
tal omo a energia de ioniza ~ao
E1 = g(e02 ; me ) (2.27)
e as frequên ias espe trais
fn = hn (e02 ; me ) (2.28)
a fun a~o f tem que ter as dimens~oes de um omprimento. Como n~ao ha
ombina ~oes adimensionais de e02 e me tera que ter a forma
f (e02 ; me ) = onst (e02 ) me (2.29)
Dadas as dimens~oes destes dois parâmetros, n~ao demora 10 segundos a ve-
ri ar que n~ao existe es olha possvel de e que fa a om que f tenha
dimens~oes de um omprimento. Do mesmo modo se poderia veri ar a im-
possibilidade de denir uma energia ou frequên ia a partir destes parâmetros.
O atomo de Rutherford n~ao pode ter um tamanho, energia ou perodo ar-
a tersti os. Uma des ri ~ao do atomo que envolva apenas os parâmetros e02
e me, n~ao pode dar origem a uma estrutura om propriedades estaveis. Esta
indetermina a~o re e te o fa to de que e possvel uma orbita ele troni a a
qualquer distân ia do nu leo. N~ao e dif il ao leitor onven er-se disso on-
siderando, por exemplo, orbitas ir ulares om velo idade uniforme. Como a
for a e dirigida para o nu leo e tem um valor onstante, para distân ia on-
stante, existem movimentos desse tipo, que têm uma a elera ~ao entrpeta
tambem dirigida para o entro da orbita e de modulo onstante. So que uma
tal orbita pode existir om qualquer raio. O respe tivo perodo e a energia
da orbita variam ontinuamente om o raio da mesma. Com efeito, da lei
de Newton
e02 v2
F (r) = me a ) 2 = me (2.30)
r r
em que a = v2 =r e a a elera ~ao entrpeta, tira-se a seguinte rela ~ao entre
a velo idade e o raio de orbita:
e02
v2 = : (2.31)
me r
O perodo (T = 2r=v ) e dado por
m
T 2 = 42 02e r3 (2.32)
e
e a energia pode ser obtida substituindo a eq.(2.31) na eq.(2.25)
1 e02
E= (2.33)
2 r

Podemos obter qualquer perodo ou energia, dependendo de r. E n~ao ha

qualquer pro esso de denir um raio de orbita ara tersti o om as on-
stantes e02 e me .
Para introduzir uma onstante extra na des ri ~ao do atomo teremos que
modi ar ou a lei de intera ~ao ou a dinâmi a. Como iremos ver, foi a se-
gunda hipotese que vingou. Em 1911 ja existia uma modi a ~ao importante
das leis da dinâmi a|a teoria da relatividade de Einstein. As leis de New-
ton s~ao modi adas para velo idades proximas da luz. Por outras palavras
e introduzida a velo idade da luz omo onstante universal na formula a~o
das leis da me âni a. Sera a onstante que falta? Sera o movimento do
ele tr~ao relativista?
Com esta onstante adi ional n~ao ha qualquer di uldade em denir
uma energia, E = me 2 , ou uma distân ia, r0 = e02 =me 2 . Os respe tivos
valores s~ao E = 0:5 MeV = 0:5 106 eV e r0 = 2:8 10 15 m. Estas
es alas diferem varias ordens de grandeza das que s~ao ara tersti as do
atomo de hidrogenio (13.6 eV e 10 10 m). Se o raio do atomo fosse dado por
uma express~ao do tipo a0 = r0 a onstante adimensional teria que ser da
ordem de 105 o que n~ao e usual para onstantes adimensionais. Mas, mais
onvin entemente, e possvel fazer uma estimativa da velo idade do ele tr~ao
no atomo de hidrogenio e on luir que ela e bastante inferior a da luz. O
atomo de hidrogenio tem varias ris as espe trais na zona do espe tro visvel
ujos omprimento de onda andam entre 4000 A e 7000
A. As frequên ias
orrespondentes s~ao dadas por

f = = (2.34)
T
o que da, para a zona do visvel:
f 0:4 1015 0:75 1015 s 1 (2.35)
O perodo de movimento do ele tr~ao e ent~ao da ordem T 10 15 s. Sendo
d a dimens~ao ara tersti a do atomo a velo idade pode ser estimada em
d
v 105 m s 1 (2.36)
t
isto e v= 10 3 . Estamos no limite n~ao relativista e a velo idade da luz
n~ao deve ser um parâmetro relevante.
Bohr e a onstante de Plan k
Foi Niels Bohr que, em 1913, introduziu uma nova onstante universal na
teoria do atomo. Mas esta onstante ja existia num ontexto diferente.
Plan k tinha-a introduzido em 1900 numa tentativa (bem su edida) de ex-
pli ar a distribui ~ao em frequên ia da energia radiada por um orpo a uma
32 CAP
TULO 2. ~
DIMENSOES
ATOMICAS
dada temperatura. Cin o anos mais tarde Einstein desenvolveu as ideias de

Plan k ao propor que radia ~ao de frequên ia f esta quanti ada em pa otes
de energia (quanta de luz, ou fot~oes) dados por
E = hf (2.37)
em que h e a onstante de Plan k. N~ao era de modo nenhum laro que
esta onstante, que ara terizava propriedades da radia ~ao ele tromagneti a,
tivesse algo a ver om a dinâmi a do atomo. Bohr teve a ousadia de propor
que sim. Claro que uma nova onstante impli a uma nova lei. Bohr fez dois
postulados surpreendentes. No primeiro, propôs que, de todas as orbitas
lassi amente permitidas, so algumas s~ao possveis e estaveis; mais pre isa-
mente, aquelas em que o momento angular do ele tr~ao (orbita ir ular) vale
h
mvr = n = nh (2.38)
2
(h h=2 e a onstante de Plan k reduzida, ou omo e universalmente
onhe ida \h ortado") e n e um inteiro. No segundo postulado defendeu que
o atomo so emite radia ~ao quando um ele tr~ao transita entre duas orbitas
permitidas, emitindo um quantum de luz, de energia igual a diferen a de
energia das orbitas nal e ini ial e om frequên ia dada pela rela ~ao de
Einstein (eq.(2.37)).
A hipotese de Bohr e absolutamente in ompreensvel no ontexto da fsi a
lassi a no âmbito da qual e formulada. Durante 13 anos os fsi os tiveram
ondi ~oes semelhantes a esta enxertadas em teorias lassi as om as quais
ontinuavam a al ular as orbitas.
Mas o seu su esso na previs~ao do espe tro do atomo de hidrogenio era
impossvel de ignorar. Com efeito, ombinando o seu postulado relativo ao
momento ineti o, eq.(2.38), om a eq.(2.31) obtemos um onjunto dis reto
de orbitas possveis om raios
r n = n 2 a0 (2.39)
em que
h 2
a0 = (2.40)
mee02
e o raio de Bohr e tem o valor de 0.53 A. As energias orrespondentes s~ao
1 e02 1
En = = 2R (2.41)
2 rn n
em que
1 me e04
R (2.42)
2 h2

e vale pre isamente 13.6 eV. Pelo segundo postulado, numa transi ~ao entre
duas orbitas, ni ! nf e emitido um fot~ao de energia E = Eni Enf e
frequên ia dada pela equa ~ao de Einstein, eq.(2.37)
!
R 1 1
fif = (2.43)
2h n2f n2i
Esta formula des reve om ex elente grau de pre is~ao o espe tro de radia a~o
do atomo de hidrogenio2 . Note-se que n~ao ontem qualquer parâmetro
ajustavel. Apenas onstantes fundamentais ujos valores ja eram onhe idos
na altura.
Apesar deste su esso, o proprio Bohr tinha plena ons iên ia da pre ari-
dade da sua teoria e do seu mais que questionavel enxerto de ondi o~es de
quanti a ~ao omo a eq.(2.38) na teoria lassi a. Foi impossvel de gen-
eralizar para atomos mais omplexos (por exemplo, o de helio). Alguns
aspe tos do postulado de Bohr sobreviveram na nova me âni a (me âni a
quânti a) que veio substituir a lassi a e que foi inventada em 1926 por
S hrodinger e Heisenberg. Mas o aspe to fundamental e que a me âni a
quânti a introduz tambem, para alem das onstantes que ara terizam as
intera ~oes e das massas, a onstante h. Assim a teoria de Bohr tem pelo
menos o onjunto orre to de onstantes para des rever o atomo.
Re ordemos as dimens~oes
[m2 ℄ = M
[e02 ℄ = ML3 T 2
[h℄ = ML2 T 1 (2.44)

Com estes parâmetros n~ao e dif il ver que existe uma uni a es ala de om-
primentos, pre isamente h=me e02 , o raio de Bohr. A partir da obtêm-se as
es alas de energia e frequên ia que Bohr en ontrou a partir dos seus postu-
lados. No que se segue exploraremos sobretudo este aspe to da teoria em
situa ~oes mais omplexas. A teoria de Bohr tem todas as onstantes funda-
mentais ne essarias para a ara teriza a~o do atomo. Ainda que n~ao possa
ser generalizada om fa ilidade para atomos om mais do que um ele tr~ao,
ou para mole ulas, esse fa to e su iente para podermos tirar algumas on-
lus~oes sobre algumas das suas ara tersti as.
2
A onstante R dene uma es ala de energia, o Rydberg. A substitui ~ao das on-
stantes pelos seus valores SI na eq(2.38) da o valor de R em Joule. As tabelas indi am
normalmente o valor de R em m 1 . A raz~ao e a seguinte: um fot~ao de energia E tem
um omprimento de onda dado por 1= = f= = E=h . O valor de R em m 1 e o
valor do inverso do omprimento de onda de um fot~ao om energia me e04 =2h2 , isto e,
R( m 1 ) = me e04 =(4 h3 ) = 1:097 10 7 m 1 .
34 CAP
TULO 2. ~
DIMENSOES
ATOMICAS
Raios e energias em atomos poliele tr

oni os
Consideremos agora um atomo de numero atomi o Z . O seu nu leo tem
arga Ze. A for a om que atrai ada ele tr~ao e dada por
Ze02
F (r) = : (2.45)
r2
Comparando om o atomo de hidrogenio (Z = 1) vemos que na lei de in-
tera ~ao temos a substitui ~ao e02 ! Ze02 . Para um tal nu leo o raio de Bohr
seria
h2 a
a00 = = 0 (2.46)
me Ze02 Z
Querera isto dizer que um atomo de Z = 50 (estanho), por exemplo, e
50 vezes menor que o de hidrogenio? Ja men ionamos atras que os raios
atomi os variam entre 0.5 Ae3 A, enquanto que Z tem uma varia ~ao de
um fa tor de 100 ao longo do quadro periodi o.
Na verdade estamos a esque er-nos que um atomo de arga nu lear Ze
tem . . . Z ele tr~oes. Estes repelem-se mutuamente e essa repuls~ao ompensa
largamente o aumento de arga do nu leo. Do jogo destes dois fa tores
resulta um raio atomi o razoavelmente onstante em ordem de grandeza.
Um ele tr~ao e atrado pela arga Ze do nu leo mas repelido por Z 1 outros
ele tr~oes. O raio atomi o e determinado pelo movimento dos ele tr~oes mais
exteriores. Re ordemos que uma distribui ~ao esferi a de arga ria no seu
exterior um ampo idênti o ao que riaria se estivesse on entrada no seu
entro. Se Z 1 ele tr~oes se distribussem om simetria esferi a em torno do
nu leo o ampo no exterior desta distribui ~ao seria o de uma arga pontual
Ze + (Z 1)( e) = e, exa tamente o do nu leo de hidrogenio.
Naturalmente a situa a~o real e muito mais omplexa e so om um trata-
mento quânti o ompleto da estrutura do atomo e possvel ompreender
as varia ~oes ara tersti as do raio atomi o ao longo do quadro periodi o.
Mas este argumento permite ompreender porque e que uma uni a es ala de
distân ia ara teriza o tamanho de todos os atomos.
A situa ~ao para as energias ele troni as e um pou o mais ompli ada.
Ja referimos atras que a energia de ioniza ~ao do atomo de hidrogenio e de
13.6 eV. Num atomo om muitos ele tr~oes ha varios estados energeti os
o upados, om diferentes energias de liga a~o. O argumento dado atras para
o raio sugere que os ele tr~oes mais fra amente ligados (que mais fa ilmente
Elemento Z E1 (eV) podem ser afastados do resto do atomo) devem ter energias semelhantes a
H 1 13.59
O 8 13.62 energia de ioniza ~ao do atomo de hidrogenio. Esta suposi ~ao e onrmada
K 19 4.34 pela onsulta ao quadro periodi o (ver Tabela 2.2)
Cu 29 7.73 Mas ha ele tr~oes muito mais fortemente ligados ao nu leo. Os ele tr~oes
Pb 82 7.42
U 92 6.05 que se movem em orbitas mais interiores n~ao sentir~ao repuls~ao de ele tr~oes
Tabela 2.2:energia de ioniza ~ao mais
baixa para varios elementos.

MOLECULAS
E SOLIDOS 35
mais exteriores, pois omo vimos na dis uss~ao do modelo de Thompson,

uma amada esferi a de arga tem no seu interior (ô o) um ampo nulo.
Ignorando ompletamente o efeito dos restantes Z 1 ele tr~oes devemos
obter um limite superior para energia de liga ~ao. A onstante de Rydberg
para um atomo om arga nu lear Z e apenas um ele tr~ao e obtida da do
atomo de hidrogenio apenas pela substitui ~ao e02 ! Ze02 ,
m(Ze02 )2
R0 = = Z 2 R: (2.47)
2h2
Como Z atinge valores da ordem de 100 isto orresponde a energias da
ordem de 105 eV. Esta estimativa revela-se um pou o exagerada. O efeito
de repuls~ao entre ele tr~oes reduz este valor de quase uma ordem de grandeza.
As energias de liga a~o variam entre valores da ordem de alguns eV ate er a
de 104 eV. Numa transi ~ao entre dois nveis om uma diferen a de energia
de 1 eV teremos radia ~ao de omprimento de onda
1 E e 1:6 10 19
= = = =
2h 2h 2(1:05 10 34 )(3 108 )
= 0:08 10 7 m 1 (2.48)
o que da 12000 A na regi~ao de infravermelho do espe tro. Para ener-
gias da ordem de 104 eV teremos omprimentos de onda 104 vezes inferiores
1:2
A. Radia a~o deste omprimento de onda orresponde a regi~ao de
raios X do espe tro ele tromagneti o. Em on lus~ao devemos esperar os
espe tros atomi os, asso iados a transi ~oes ele troni as, a abranger desde o
infravermelho ate os raios X para os atomos mais pesados.
Mole ulas e s
olidos
Comprimentos de Liga
~ao e Energias de Disso ia
~ao
Na tabela 2.1 retirada do Handbook of Physi s [3℄ apresentam-se valores

das energias de disso ia ~ao e distân ias internu leares para varios tipo de
liga ~ao qumi a em diferentes mole ulas. Para uma mole ula diatomi a, a
energia de disso ia ~ao e, basi amente, a energia de liga ~ao dos dois atomos,
isto e, a energia ne essaria para separar os dois atomos ate uma distân ia
su ientemente grande para que a sua intera ~ao possa ser desprezada (ver
se ~ao 2.2.1. Mesmo em mole ulas poliatomi as e possvel, analisando ertas
rea ~oes, determinar a energia ne essaria para \partir" uma dada liga a~o.
Por vezes a energia asso iada a uma determinada liga ~ao entre dois tipos de
atomo (C C , C N , et ) e aproxidamente onstante, de mole ula para
mole ula, e e possvel asso iar-lhe uma energia de liga a~o media.
36 CAP
TULO 2. ~
DIMENSOES
ATOMICAS
A primeira observa a~o e que as distân ia internu leares variam entre

er a de 1 2 A. N~ao ha liga o~es qumi as om distân ias internu leares
de 10 ou 100 A. As energias de disso ia ~ao est~ao nas unidades favoritas dos
qumi os, k al/mole. Re ordemos que uma aloria vale 4.18 Joule. Desig-
nando por N0 o numero de Avogadro vemos que
4:18 103
1 k al/mole = J/mole ula
N0
4:18 103
= eV/mole ula = 0:043 eV/mole ula(2.49)
N0 e
Assim 100 k al/mole s~ao 4.35 eV/mole ula. A onsulta da tabela mostra
que as energia de disso ia ~ao s~ao tipi amente da ordem de 2 6 eV por
liga a~o. Quer a es ala de distân ias quer a de energias s~ao as mesmas que
para os atomos.
A raz~ao e que a liga a~o qumi a e um fenomeno de natureza essen ial-
mente ele troni a e dominado pelo omportamento dos ele tr~oes mais fra a-
mente ligados|os ele tr~oes de valên ia. Os nu leos, om os ele tr~oes mais
fortemente ligados, formam uma unidade relativamente inalterada pela in-
tera a~o entre os diferentes atomos. A liga ~ao qumi a envolve sobretudo os
ele tr~oes mais fra amente ligados, os ele tr~oes de valên ia. Estes vêem ent~ao
uma arga nu lear efe tiva da ordem de e devido ao efeito de blindagem dos
outros ele tr~oes. Temos ent~ao as seguintes intera ~oes envolvidas na liga ~ao
qumi a:
Atra ~ao entre os ele tr~oes de valên ia e os nu leos rodeados dos ele tr~oes
fortemente ligados.
02
Fel n r2e (2.50)
el n
A repuls~ao entre as unidades onstitudas pelos nu leos e ele tr~oes
fortemente ligados
02
Fn n re2 (2.51)
n n
A repuls~ao entre ele tr~oes de valên ia
02
Fel el r2e (2.52)
el el
Como vemos estas intera ~oes introduzem apenas uma onstante dimen-
sional e02 . Alem deste parâmetro teremos a massa do ele tr~ao me e a on-
stante de Plan k h que traduz a natureza quânti a do fenomeno. As massas
nu leares n~ao devem ser parâmetros relevantes, em primeira aproxima ~ao,

MOLECULAS
E SOLIDOS 37
por serem muito superiores a do ele tr~ao. O argumento e semelhante ao

que usamos na dis uss~ao do atomo de hidrogenio. O movimento dos nu leos
deve ser muito mais lento que o dos ele tr~oes devido a diferen a de massa.
Em primeira aproxima a~o s~ao onsiderados imoveis e o estado ele troni o
e al ulado para uma dada posi ~ao dos nu leos. A energia total sera, na-
turalmente, fun ~ao dessa posi ~ao. A ongura a~o de equilbrio da mole ula
orresponde a distân ia internu lear para a qual essa energia e mnima. Em
on lus~ao , temos exa tamente os mesmos parâmetros dimensionais que no
aso do atomo de hidrogenio, e02 , me e h. N~ao surpreende, ent~ao que tenha-
mos a mesma es ala de distân ias
h 2
d (2.53)
me e02
e de energias
me e04
= (2.54)
2h2
e, portanto distân ias internu leares da ordem de pou os A e energias de
disso ia ~ao de alguns eV. Re ordemos a proposito que uma rea ~ao qumi a
e fundamentalmente uma rearranjo de liga ~oes. O que a abamos de dizer
permite-nos on luir que n~ao devemos esperar mais do que uma varia ~ao
de energia de alguns eV por liga ~ao (absorvidos ou libertados onforme a
rea ~ao for endotermi a ou exotermi a).
Como ilustra a~o desta ideia re ordemos que os explosivos onven ionais
derivam a energia que libertam de rea o~es qumi as, n~ao podendo por isso
libertar mais do que alguns N0 eV por mole de material (N0 , numero da
Avogadro); mas os explosivos nu leares resultam de rea ~oes nu leares, que
alteram a estrutura dos proprios nu leos. Isso envolve intera ~oes mais fortes
que as ele trmagneti as, intera ~oes nu leares, om uma es ala de energia,
tipi amente um milh~ao de vezes superior a das intera ~oes ele tromagneti as
nos atomos. Por exemplo a energia media de liga ~ao por nu le~ao nos nu leos
e de er a de 8 MeV (106 eV)
Constantes de For
a e Frequ^
en ias de Vibra
~ao Mole ular
A tabela referida tem uma ter eira oluna relativa a onstantes de for a. Vi-
mos a ima que, para efeito de determina ~ao de movimentos ele troni os, os
nu leos de uma mole ula podem ser onsiderados em repouso, devido a sua
U(r)
elevada massa. Mas, naturalmente a energia ele troni a e portanto a energia

total do agregado mole ular dependera da posi ~ao dos nu leos. Esquemati- d
r
amente a dependên ia da energia na distân ia internu lear sera do tipo rep-

resentado na g.(2.8). Para grandes distân ias temos o estado de atomos
separados (zero de energia, por onven ~ao ). A mole ula so se podera formar Figura 2.9:energia de uma mole ula em
fun ~ao da distân ia internu lear.
38 CAP
TULO 2. ~
DIMENSOES
ATOMICAS
se a energia for negativa, para distân ias nitas. A distân ia de equibrio

orrespondera ao mnimo de energia3 . A intera ~ao repulsiva entre nu leos
e a dominante a muito pequenas distân ia e a energia torna-se positiva para
r muito pequeno. Se afastarmos os nu leos da posi ~ao de equilbrio (o que
pode a onte er, por exemplo, numa olis~ao entre duas mole ulas) surgem
for as que tendem a fazê-las voltar a distân ia de equilbrio. Para pequenos
deslo amentos a for a e propor ional a esse deslo amento
F (r0 + r) = kr (2.55)
(se r > 0 a for a deve ser atra tiva, se r < 0 repulsiva). Tal omo uma
mola, uma liga ~ao qumi a pode ser ara terizada por uma onstante de
for a. E laro da dis uss~ao anterior que estas onstantes devem ser determi-
nadas, mais uma vez, por e02 , h e me . Atentando as respe tivas dimens~oes
[k℄ = [for a distân ia 1℄ = [energia distân ia 2℄ (2.56)
obtemos omo estimativa
R 2
k 48 eV A (2.57)
a20
A tabela apresenta os valores de k em dyne m 1 que vale 6:2510 5 eV A 2.
2 2
Por exemplo, k(H H ) = 35:6 eV A , k(C C ) = 28:2 eV A .
As for as referidas na eq.(2.55) fazem om que as mole ulas vibrem se
os nu leos se afastarem das posi o~es de equilbrio. Esta os ila ~ao tera um
perodo determinado pela onstante k e pela massa nu lear (agora sim ela
e importante pois s~ao os nu leos que se movem). Por analise dimensional,
as frequên ias de vibra ~ao ser~ao da ordem de (para nu leos de numero de
massa A 1) s
k
fvib (2.58)
mp
em que mp a massa do prot~ao. Usando a nossa estimativa de k
s
R
fvib (2.59)
a20 mp
Usando h2 =2ma20 = R e ignorando fa tores numeri os adimensionais, heg-
amos a s
me
fvib f (2.60)
mp el
3
No mnimo, dU=dr F (r) = 0, ver se ~ao 2.2.1. O anulamento da for a entre os dois
nu leos ara teriza a situa ~ao de equilbrio

MOLECULAS
E SOLIDOS 39
em que fel = R=h e da ordem de grandeza das frequên ias que orrespondem
a mudan as de estado dos ele tr~oes (eq(2.43)). Como me =mp 1=2000 om-
lumos que fvib 10 2 fel . Na teoria quânti a os estados de vibra a~o das
mole ulas tambem onstituem um onjunto de nveis dis retos. As transi ~oes
entre eles tambem podem ser a ompanhadas da emiss~ao de radia a~o. Mas,
omo vemos, as frequên ias dos fot~oes respe tivos s~ao muito mais baixas
do que em transi o~es ele troni as e orrespondem a radia ~ao na zona do
infravermelho.
S
olidos
A massa volumi a de um solido e dada pela raz~ao entre a sua massa e o seu
volume, = m=V . Se a distân ia entre atomos vizinhos for designada por
d o volume por atomo pode ser estimado omo sendo da ordem de vat d3 .
A massa num tal volume e a massa de um atomo. Logo num solido om um
uni o tipo de atomo podemos es rever para a massa volumi a
m
3at (2.61)
d
o que nos permite estimar a distân ia interatomi a a partir de e da massa
molar do elemento (massa de uma mole em gramas)
1
M 3
d (2.62)
N0
(N0 e o numero de Avogadro). A tabela (2.3) ontêm dados retirados do
SDB[4℄, mas a essveis em qualquer bom quadro periodi o, e na ultima olu-
na mostra os valores de d em A estimados pela formula anterior. E de notar
que tal omo nas mole ulas as distân ias interatomi as est~ao entre 2 3

A. O argumento que demos para as distân ias internu leares nas mole ulas
apli a-se tambem aqui.
No aso de redes ristalinas ubi as e possvel um al ulo mais rigoroso de
d. O alumnio, por exemplo tem uma estrutura ristalina do tipo ubi a de
fa es entradas. Isto signi a que e onstitudo por repeti a~o de uma elula
ubi a em que os atomos de alumnio o upam os verti es e o entro das fa es.
Cada atomo de um verti e e partilhado por oito elulas; ada atomo de uma
fa e por duas. Isto signi a que ha um total de 8 1=8 + 6 1=2 = 4 atomos
por elula unitaria. Logo a massa volumi a e
m
= 4 3at (2.63)
a
em que a e a aresta do ubo. En ontra-se para o Al a = 4 A.pA menor
distân ia entre atomos e meia diagonal de uma fa e, isto e d = a= 2 = 2:86

A.
40 CAP
TULO 2. ~
DIMENSOES
ATOMICAS
Elemento g m 3 ) M d (A)
Al 2.7 27 2.55
Cr 7.2 52 2.29
Cu 8.9 63 2.27
Ga 7.9 157 2.11
Pb 11 207 3.2
Ir 22.4 192 2.44
Au 19.3 197 2.57
Pt 21.4 195 2.47
Tabela 2.3: estimativa de distân ias interatomi as em alguns solidos.
En oraja-se o leitor a pegar num quadro periodi o e onrmar om mais

generalidade que as varia ~oes de massa volumi a da materia solida s~ao mais
devidas as diferen as de massa dos atomos que das distân ias entre eles.
Physi s for the Inquiring Mind, E. M. Rogers Cap 40. Uma obra muito
original que mere e bem uma vista de olhos.
Introdu a~o a Fsi a da Materia, J. Bessa de Sousa. Estas notas podem
ser en ontradas na Bibliote a do Departamento de Fsi a da Universi-
dade do Porto e onstituem uma ex elente alternativa e omplemento
da perspe tiva que foi aqui adoptada.
Cap
tulo 3
Modelos Determinsti os
Equa ~
oes de Movimento na Dinâmi a de Newton
A Realidade e os Modelos
Uma massa presa a extremidade de uma mola. E dif il imaginar um sistema

fsi o mais simples. Mas, se pensarmos bem na quantidade de fenomenos
que podemos testemunhar num tal sistema, a nossa impress~ao pode sair
modi ada. Vejamos:
Deforma ~ao elasti a da mola e movimento da massa. Figura 3.1:Um sistema fsi o simples?
Altera ~oes de temperatura do sistema e do ambiente ir undante.

Varia ~ao da massa por desgaste na mesa.
Altera ~oes fsi as (fadiga) das propriedades elasti as da mola.
Altera ~oes qumi as ( orros~ao).
Flutua ~oes de pequena amplitude da posi ~ao da massa, mesmo quando
ma ros opi amente em repouso.
Tudo isto s~ao pro essos que podem e est~ao a o orrer neste sistema. Como
e possvel hegar a uma des ri ~ao onsistente de um fenomeno quando o
numero de pro essos simultâneos, num sistema t~ao simples, e ja t~ao elevado?
A des ri ~ao ient a envolve, de um modo geral, a onstru ~ao de um
modelo, uma representa ~ao simpli ada da realidade que pretende apenas
aptar uma pequena parte do que se poderia a partida des rever. Nesta
onstru ~ao do modelo entram muitas suposi ~oes, muitas opera ~oes que, a
maior parte das vezes, nem sequer s~ao expli itadas. Assim por exemplo:
Limitando as \janelas" temporais (espa iais) de observa a~o pode tornar-
se possvel ignorar fenomenos que o orrem em es alas muito rapidas ou
41
42 CAP
TULO 3. MODELOS DETERMIN
STICOS
muito lentas. Por exemplo, fenomenos omo a fadiga do metal da mola,

a sua orros~ao, o desgaste da massa, o orrem em es alas de tempo de
observa ~ao de meses ou mesmo de anos. As os ila ~oes da massa po-
dem ter perodos de alguns segundos. Um tempo de observa ~ao de
alguns minutos e mais do que su iente para medir perodos de os-
ila a~o, mas nesta es ala de tempo os fenomenos mais lentos n~ao se
manifestam. Considera ~oes semelhantes se apli am a es alas espa iais.
Por exemplo, estando a mola presa a uma das fa es da massa, esta
pode deformar-se quando se move. Mas, enquanto que o deslo amento
do entro da massa pode ser de alguns entmetros, a varia ~ao das di-
mens~oes da massa pode n~ao ultrapassar alguns de imos ou entesimos
de mm.
Limitando a gama de observa ~oes de variaveis fsi as podemos, fre-
quentemente, simpli ar a des ri ~ao. Por exemplo podemos usar reguas
e ronometros para medir tempos e posi ~oes mas ignorar varia ~oes de
temperatura, ampos ele tromagneti os, et .
Podemos es olher as ondi ~oes das experiên ias de modo a manter xas
ertas grandezas fsi as estudando apenas as varia ~oes das outras.
Seria possvel ontinuar esta lista. Um momento de re ex~ao onrma
que a des ri ~ao de um fenomeno, envolve, em geral, a onstru ~ao do modelo
e que esta passa por uma sele ~ao de observaveis possveis x(t); y(t); : : : ujos
valores e varia ~oes temporais pretendemos ompreender.
O que e de erto modo notavel (mas que por outro lado e quase uma pre-
ondi a~o de existên ia de uma des ri ~ao ient a) e que, das simpli a ~oes
referidas, possa resultar um onjunto de grandezas fsi as \ ompleto", no
sentido em que o seu omportamento e evolu ~ao possa ser estudado sem re-
ferên ia as inumeras grandezas que, embora presentes no sistema real, foram
eliminadas no pro esso de onstru ~ao do modelo. Con retamente, referindo-
nos ao exemplo da massa e mola e possvel uma des ri ~ao do movimento
usando uma uni a variavel x(t) que ara teriza o deslo amento relativo a
posi a~o de equilbrio. Para des rever a evolu ~ao temporal de x(t) n~ao e
ne essaria qualquer referên ia a mriade de fenomenos fsi os e qumi os que
a ompanham esse movimento.
A Din^
ami a de Newton
A dinâmi a de Newton e o primeiro onjunto de leis gerais que permite

a onstru ~ao sistemati a de leis de evolu ~ao para uma grande numero de
sistemas fsi os. Este \esquema" newtoniano assenta em duas vertentes:
a) As leis da din^ ami a : a segunda lei, em parti ular, determina a a elera ~ao
de um orpo em termos da resultante das for as sobre ele exer idas.
EQUAC ~
OES ^
DE MOVIMENTO NA DINAMICA DE NEWTON 43
As varias omponentes da a elera ~ao est~ao rela ionadas om o modo

omo variam no tempo as oordenadas do orpo. Estas podem ser de-
terminadas atraves da observa ~ao do seu movimento. Veremos tambem
que o movimento pode ser re onstrudo a partir do onhe imento dessa
a elera ~ao. A segunda lei reduzir-se-ia a uma deni a~o de for a, se n~ao
fosse omplementada por uma espe i a ~ao independente que permita
al ular as for as e da inferir as a elera ~oes. E aqui que surge a se-
gunda vertente do esquema newtoniano.
b) As leis de for a : no esquema newtoniano as for as sobre um orpo s~ao
atribudas a presen a (proxima ou distante) de outros orpos. As leis
de for a espe i am estas intera ~oes, determinando o valor das for as
em termos da ongura ~ao dos orpos.
E a ombina ~ao destes dois aspe tos que onfere a me âni a newtoniana o
seu ara ter de des ri a~o ompleta do movimento. A ongura a~o dos orpos
determina os valores das for as. Essa for as, pela segunda lei, determinam
as a elera ~oes e, portanto, a varia ~ao temporal dessa ongura ~ao. Neste
aptulo vamos on retizar este programa em alguns exemplos. Teremos
oportunidade de apresentar algumas ideias uja importân ia e apli abilidade
trans ende largamente o âmbito de me âni a.
Velo idade e A elera

~ao
Consideremos uma oordenada de posi ~ao de um orpo x(t). Queremos on-

siderar o problema de determinar a velo idade, vx (t), e a elera a~o, ax (t),
orrespondentes, a partir de x(t) e tambem o problema inverso, de re on-
struir x(t) a partir do onhe imento da a elera ~ao.
Considerando um intervalo de tempo t, denimos a velo idade media
do orpo nesse intervalo
x(t + t) x(t)
vm = (velo idade media em [t; t + t℄) (3.1)
t
que podemos rees rever omo
x(t + t) = x(t) + vm t (3.2)
Esta equa ~ao e exa ta pois, no fundo, e a deni ~ao de velo idade media no
intervalo [t; t+t℄. Mas suponhamos que queremos ara terizar o movimento
para todos os instantes do intervalo [t; t + t℄. N~ao podemos, por exemplo,
es rever
x(t + h) = x(t) + vm h (0 h t) (3.3)
porque a velo idade media num intervalo mais pequeno que t n~ao e em
geral a mesma que em t. So seria se o movimento fosse uniforme (a mesma
44 CAP
STICOS
velo idade media em qualquer intervalo). O on eito de velo idade media

esta asso iado n~ao a um instante, mas a um intervalo de tempo nito. No
entanto, onsiderando intervalos su essivamente mais pequenos, podemos
hegar a um on eito de on eito de velo idade instantânea, isto e, asso iada
a ada instante
x(t + t) x(t) dx(t)
vx(t) = lim = : (3.4)
t!0 t dt
Se re ordarmos a no ~ao matemati a de limite vemos que por mais pequeno
que seja um numero real > 0 podemos sempre es olher um t su iente-
mente pequeno tal que
j x(t + t)t x(t) vx(t)j < (3.5)

Designando por 0 a diferen a que surge no primeiro membro, isto signi a
que
x(t + t) = x(t) + vx (t)t + 0 t = x(t) + (vx (t) + 0 )t (3.6)
em que j0 j < . A velo idade media num intervalo a volta de t e vx (t) + 0 ,
a velo idade instantânea em t mais uma orre a~o, que pode ser tornada
t~ao pequena quanto queiramos se tomarmos t su ientemente pequeno.
A velo idade instantânea em t ara teriza o movimento num intervalo de
tempo innitesimal a volta de t.
A rela a~o entre a elera ~ao e velo idade e idênti a a rela ~ao que a abamos
de dis utir, entre vx (t) e x(t). Do mesmo modo que vx (t) ara teriza a
varia ~ao de x(t) assim ax(t) ara teriza a varia ~ao de vx (t). Denimos uma
a elera ~ao media,
vx (t + t) vx (t)
am = (a elera a~o media em [t; t + t℄) (3.7)
t
e instantânea
vx (t + t) vx (t) dvx (t)
ax(t) = lim = (3.8)
t!1 t dt
Dizemos que vx (t) e a primeira derivada de x(t) em ordem a t. Logo ax (t) e
a primeira derivada de vx(t) em ordem a t e a segunda derivada de x(t):
dvx (t) d dx d2 x
ax (t) = = ( ) 2 (3.9)
dt dt dt dt
Como na eq.(3.6) podemos es rever
vx (t + t) = vx (t) + ax (t)t + 00 t = vx (t) + (ax (t) + 00 )t: (3.10)
EQUAC ~
OES ^
A a elera ~ao instantânea, ax (t) ara teriza a varia ~ao de velo idade num
intervalo de tempo innitesimal em torno de t.
Voltemos ao nosso exemplo ini ial da massa na mola. Designemos por
x(t) o deslo amento da massa relativamente a sua posi a~o de equilbrio.
A for a sobre a massa e devida a mola. E a for a que esta exer e pode
exprimir-se a usta da sua varia ~ao de omprimento
F = kl (3.11)
Mas l = x(t), o deslo amento da massa da posi a~o de equilbrio. O resul-
tado e uma lei de for a
F = kx (3.12)
que exprime a for a em termos da posi ~ao da massa. A segunda lei toma
ent~ao a forma
d2 x k
ax (t) 2 = x(t): (3.13)
dt m
Vimos a ima omo a partir de x(t) se poderia obter ax(t) d2 x=dt2 . O
nosso problema de dinâmi a ou resumido a esta equa a~o de movimento,
isto e, a pro ura de movimentos x(t) uja ax (t) satisfa a a eq.(3.13).
Estas deni ~oes generalizam-se fa ilmente para sistemas mais omplexos.
Por exemplo, e simples in luir for as de atrito que dependem em geral da
velo idade do orpo. Se a massa estiver sujeita a um atrito do tipo de
Coulomb, no seu deslizamento sobre uma mesa, temos uma for a adi ional
om sinal oposto a velo idade (mg e a rea a~o normal da mesa sobre a massa)
Fa = mgsgn(vx ) (3.14)
em que: (
+1 vx > 0
sgn(vx ) = 1 vx < 0
A equa ~ao de movimento teria a forma:
d2 x k
= x(t) gsgn(v) (3.15)
dt 2 m
De um modo inteiramente geral, para um sistema ara terizado por uma
oordenada x(t), a equa a~o de movimento tera uma forma
d2 x
= f ((x(t); v(t)) (3.16)
dt2
em que a fun ~ao f (x; v) sera determinada pelas leis de for a.
Na maior parte das situa ~oes, a espe i a a~o da ongura ~ao de uma
sistema requer mais do que uma uni a oordenada. Por exemplo, para uma
46 CAP
STICOS
part ula material em movimento a 3 dimens~oes teramos 3 oordenadas

x(t); y(t); z (t), das quais poderamos denir três velo idades
dx
vx (t) = (3.17)
dt
dy
vy (t) = (3.18)
dt
dz
vz (t) = (3.19)
dt
e 3 a elera ~oes.
dvx d2 x
ax (t) = = 2 (3.20)
dt dt
dvy d2 y
ay (t) = = 2 (3.21)
dt dt
dvz d2 z
az (t) = = 2 (3.22)
dt dt
A segunda lei e valida para ada uma destas omponentes,
d2 x
= Fx =m
dt2
d2 y
= Fy =m
dt2
d2 z
= Fz =m (3.23)
dt2
As equa o~es de movimento ariam ompletas, por exemplo, se soubessemos
a dependên ia das omponentes da for a nas oordenadas de posi ~ao da
part ula.
d2 x
= fx(x; y; z )
dt2
d2 y
= fy (x; y; z )
dt2
d2 z
= fz (x; y; z ) (3.24)
dt2
Obtemos assim um sistema de equa ~oes de natureza semelhante a eq.(3.16)
O onte
udo de uma equa
~ao de movimento
Consideremos ent~ao uma equa ~ao de movimento generi a om a forma

d2 x
= f (x(t); v(t)) (3.25)
dt2
EQUAC ~
OES ^
em que supomos a fun a~o f (x; v) onhe ida. Como estamos a lidar om uma
uni a oordenada usaremos o smbolo v para identi ar a respe tiva ompo-
nente de velo idade. Que informa ~ao ontem esta equa ~ao de movimento e
omo obtê-la?
Re ordemos a deni ~ao de a elera ~ao
d2 x dv v(t + t) v(t)
a(t) = = = lim (3.26)
d t dt t!0
2 t
Isto signi a que para t su ientemente pequeno
v(t + t) v(t)
= a(t) + (3.27)
t
em que e t~ao pequeno quanto se queira. Isto e:
v(t + t) = v(t) + a(t)t + t (3.28)
e de modo semelhante
x(t + t) = x(t) + v(t)t + 0 t: (3.29)
Usando a equa a~o de movimento
x(t + t) = x(t) + v(t)t + 0 t (3.30)
v(t + t) = v(t) + f (x(t); v(t))t + t (3.31)
Usando um t su ientemente pequeno as orre o~es 0 t e t podem
fazer-se desprezaveis em ompara ~ao om os termos anteriores pois ; 0 ! 0
se t ! 0. Isto e, om uma pre is~ao t~ao boa quanto queiramos
x(t + t) = x(t) + v(t)t (3.32)
v(t + t) = v(t) + a(t)t = v(t) + f (x(t); v(t))t (3.33)
Estas equa ~oes, formulas de Euler, permitem-nos al ular x e v num in-
stante t + t se os onhe ermos no instante t. Mas t e innitesimal, ou
seja, as formulas so s~ao validas no limite t ! 0. Suponhamos ent~ao que
onhe emos num dado instante t = t0 os valores de x(t0 ) x0 e v(t0 ) v0 .
Como podemos determinar x(t) e v(t) para um t qualquer? Podemos dividir
o intervalo [t0 ; t℄ em N intervalos de dura ~ao t. Para N grande t sera
pequeno. Usando as formulas de Euler, partindo de t = t0
x1 x(t0 + t) = x0 + v0 t (3.34)
v1 v(t0 + t) = v0 + f (x0 ; v0 )t: (3.35)
48 CAP
STICOS
Estas equa ~oes podem ser iteradas
x2 x(t0 + 2t) = x1 + v1 t (3.36)

v2 v(t0 + 2t) = v1 + f (x1 ; v1 )t (3.37)
Ou, generi amente, om as designa ~oes xn x(t0 + nt) e vn v(t0 + nt),
xn = xn 1 + vn 1 t (3.38)
vn = vn 1 + f (xn 1 ; vn 1 )t (3.39)
Estas formulas, omo dissemos, so s~ao validas para t ! 0. Em rigor

teramos pois que al ular x(t) = x(t0 + N t), v(t) = v(t0 + N t) por este
pro esso e depois al ular o limite N ! 1 e t ! 0 om N t = t t0 .
Ao usar a formulas de Euler ometemos, em ada passo, erros t em que
! 0 se t ! 0. Em N passos teremos um erro majorado por N0 t em
que 0 e o majorante dos erros da ada passo. Como, em ada passo, ! 0,
se t ! 0, podemos esperar o mesmo do majorante 0 em muitas situa ~oes.
Desse modo o erro em N passos, N0 t, tende para zero quando N ! 1,
t ! 0 e N t = t t0. Se o erro em x(t) e v(t) tende para zero neste limite,
t ! 0 (N ! 1), ele devera ser pequeno quando t e pequeno. Esta ideia
onstitui a base da utiliza a~o das equa ~oes de Euler para en ontrar solu ~oes
numeri as das equa ~oes de movimento. Nesta apli a ~ao n~ao tomamos o
limite matemati o t ! 0 (que obrigaria a iterar as equa ~oes um numero
innito de vezes), mas usamos um t nito, mas su ientemente pequeno
para que o erro seja toleravel.
Antes de prosseguir om exemplos on retos, importa salientar alguns
aspe tos de orrentes desta onstru ~ao.
As equa ~oes de movimento, que a abamos de reduzir as rela ~oes de
re orrên ia das eqs(3.38,3.39), permitem-nos a onstru ~ao das solu ~oes x(t),
v(t) se onhe ermos num dado instante, t0 , os valores de x (x0 ) e de v (v0 ).
No fundo algo que ja sabamos da nossa experiên ia. O movimento de um
orpo sujeito a determinadas for as pode ser ini iado em qualquer posi ~ao e
om qualquer velo idade. As equa ~oes de movimento xam univo amente o
movimento onhe idos esses valores.
O intervalo t tanto pode ser negativo omo positivo. Na deni ~ao de
velo idade ou a elera a~o o limite t ! 0 in lui valores de t positivos e
negativos. As ondi ~oes \ini iais" podem ser nais. As equa ~oes de movi-
mento podem ser usadas para en ontrar os valores de x(t) e v(t) para t < t0
(no passado) para os quais, em t = t0 , o sistema tem x(t0 ) = x0 e v(t0 ) = v0 .
Finalmente gostaramos de hamar a aten ~ao para a rela ~ao estreita que
existe entre estas ideias e o on eito de integral.
EQUAC ~
OES ^
O deslo amento omo integral da velo idade
Como subproduto da nossa dis uss~ao podemos formular a quest~ao de obter

a oordenada x(t) se for onhe ida a velo idade vx (t) dx=dt e o valor de x
num dado ponto x(a) x0 . Note-se que no aso das equa ~oes de movimento,
n~ao onhe emos v(t) nem sequer a(t), para todo o t a partida. Apenas
onhe emos a maneira omo a a elera ~ao depende da posi ~ao e velo idade.
Dividindo o intervalo [a; t℄ em N intervalos, [a; a + h℄, [a + h; a + 2h℄ : : : [a +
(N 1)h; t℄, (t = a + Nh) podemos es rever
x(a + h) = x0 + vx(a)h
x(a + 2h) = x(a + h) + vx (a + h)h = x0 + vx (a)h + vx (a + h)h
..
.
x(t) = x0 + vx(a)h + vx (a + h)h
+vx (a + 2h)h + : : : + vx (a + (N 1)h)h (3.40)
Se for de fa to onhe ida a velo idade vx no intervalo [a; t℄, as somas do
segundo membro destas equa ~oes podem, em prin pio, ser al uladas. No
entanto este resultado so e valido para h ! 0; N ! 1; Nh = t a, isto e
NX1
x(t) x(a) = lim vx (a + nh)h (3.41)
N !1 n=0
A express~ao do segundo membro e denida omo sendo o integral da fun ~ao

v(t) entre a e t. O deslo amento e o integral da velo idade.
Z t
x(t) x(a) = vx (t0 )dt0 (3.42)
a
De um modo semelhante poderamos mostrar
Z t
vx (t) vx (a) = ax (t0 )dt0 : (3.43)
a
O M
etodo de Euler para Integra
~ao num
eri a
As equa o~es de Euler

x(t + t) = x(t) + v(t)t (3.44)
v(t + t) = v(t) + f (x(t); v(t))t (3.45)
s~ao, omo vimos, orre tas no limite t ! 0. Mas se estivermos dispostos a
tolerar um erro dentro de uma determinada margem podemos usa-las om
50 CAP
STICOS
um t nito. Nesse aso permitem-nos formular um metodo aproximado

de resolu ~ao das equa o~es de movimento. A melhor maneira de o ilustrar
e atraves de um exemplo. Voltemos a equa a~o de movimento da mola om
massa
d2 x k
= x(t) (3.46)
dt 2 m
Come emos por notar que o uni o parâmetro dimensional k=m tem as di-
mens~oes do quadrado de uma frequên ia:
[k℄ = [F ℄L 1 = MT 2 (3.47)
[m℄ = M (3.48)
p
Este problema tem pois um tempo ara tersti o = m=k . Para on-
retizar um metodo numeri o temos que xar o valor de e das ondi ~oes
ini iais. Suponhamos = 1 e usemos
x(0) = 1 (3.49)
v(0) = 0 (3.50)
Mais tarde veremos que estas ondi o~es n~ao s~ao t~ao parti ulares omo pode-
riam pare er a primeira vista.
As equa ~oes de re orrên ia do metodo de Euler s~ao, neste aso,
xn x(nt) = xn 1 + vn 1t (3.51)
vn v(nt) = vn 1 + ( xn 1)t (3.52)
ja que a equa ~ao de movimento e:
d2 x
= x(t) (3.53)
dt2
Para al ular os valores de x e v pre isamos de espe i ar um passo t.
Pela natureza do metodo o valor de t deve ser pequeno, pois as equa ~oes
so s~ao exa tas no limite t ! 0 . Mas o que quer dizer pequeno? Menor
que 1, que 0.1 ? Um momento de re ex~ao mostra que a resposta n~ao pode
ser dada deste modo. Com efeito o numero real que exprime o valor de t
depende do sistema de unidades . Como veremos este sistema tem um movi-
mento periodi o e o perodo e da ordem de grandeza de . Mas, mesmo sem
esse onhe imento a posteriori podemos ante ipar que as solu o~es x(t), v(t)
ou a(t), tenham um tempo ara tersti o , ou seja devem ter varia ~oes pe-
quenas (x=x; vx =vx ; ax =ax 1 em intervalos t . Ora as formulas
de Euler (eqs.(3.44) e (3.45) s~ao exa tas se a a elera ~ao e a velo idade n~ao
variarem num passo de integra ~ao. Por outras palavras t ! 0 orresponde
EQUAC ~
OES ^
t x v a(= x)
0 1:000 0:000 1:000
0:2 1:000 0:200 1:000
0:4 0:960 0:400 0:960
0:6 0:880 0:592 0:880
0:8 0:760 0:768 0:762
1:0 0:608 0:920 0:608
1:2 0:424 1:042 0:424
1:4 0:216 1:127 0:216
1:6 0:010 1:170 +0:010
Tabela 3.1: Integra ~ao da equa a~o d2 x=dt2 = x(t) pelo metodo de Euler
.
ao limite fsi o t no aso presente. Podemos agora es olher um valor de

t por exemplo t = 0:2 (t= = 0:2) e al ular expli itamente xn e vn .
x0 = x(0) = 1
v0 = v(0) = 0
x1 = x(0) + v0 t = x0 = 1
v1 = v(0) + ( x0 )t = 0:2
x2 = x1 + v1 t = 1 + ( 0:2)(0:2) = 0:96
v2 = v1 + ( x1 )t = 0:4
..
. (3.54)
Sugere-se que o leitor tente veri ar por este pro esso os valores da
Tabela 1. O trabalho envolvido numa apli a ~ao t~ao simples do metodo
onven ê-lo-a rapidamente que estes metodos numeri os so podem ser de
alguma utilidade om re urso a meios de al ulo automati o (ou ent~ao om
muita pa iên ia!).
Nas se ~oes que se seguem apresentam-se varios exemplos de apli a ~ao
destes metodos a alguns problemas, onstrudos numa folha de al ulo.
Deixaremos tambem para essa altura uma dis uss~ao (muito sumaria) dos
erros envolvidos nas aproxima ~oes que zemos. Este exemplo a apenas
omo uma ilustra a~o do metodo. Terminamos esta se a~o om um resumo
dos prin ipais resultados. Para uma equa ~ao de movimento
d2 x
= f (x(t); v(t)) (3.55)
dt2
52 CAP
STICOS
om ondi ~oes ini iais

x(t0 ) = x0 (3.56)
v(t0 ) = v0 (3.57)
obtemos as seguintes equa ~oes de re orrên ia para a determina ~ao de x(t) e
v(t).
xn x(t0 + nt) = xn 1 + vn t (3.58)
vn v(t0 + nt) = vn 1 + f (xn 1 ; vn 1 )t (3.59)
O leitor podera fa ilmente adaptar estas ideias ao al ulo aproximado de
integrais tendo em onta a se a~o anterior.
Solu ~ao Numeri a do Os ilador Harm

oni o
O M
etodo de Euler numa folha de
al ulo
A apli a a~o dos metodos a ima dis utidos so e viavel om re urso a meios
automati os de al ulo. Para a ompanhar estas notas foram preparados
varios exemplos numa folha de al ulo. A folha de al ulo n~ao e, erta-
mente, o tipo de software mais adequado para apli a ~oes ient as serias.
Mas existe uma em quase todos os omputadores pessoais, e de muito fa il
utiliza a~o e perfeitamente adequada para as apli a ~oes que podemos fazer
a este nvel. Estas notas n~ao pretendem ensinar a usar este software. Ire-
mos on entrar-nos nos resultados invo ando al ulos em que as equa ~oes
de Euler s~ao iteradas varias dezenas (ou entenas) de vezes, sem qualquer
di uldade, uma vez que as ontas s~ao feitas pelo omputador. Creio que a
des ri ~ao dos algoritmos e su ientemente detalhada para permitir ao leitor
reproduzir estes exemplos no seu software favorito, aso isso lhe seja possvel.
Come amos por reproduzir (g.2) um gra o relativo ao problema da
massa e mola( movimento harmoni o simples), assim omo alguns dos pri-
meiros valores de x e v ( omparem-se om os da Tabela 1).
O gra o mostra resultados pou o abonatorios da qualidade da aprox-
ima ~ao. E patente o aumento da amplitude de os ila ~ao, o que, laramente,
n~ao a onte e no aso real da massa e mola. Poderamos nesta altura pergun-
tar o que a onte e se es olhermos um t mais pequeno. Na g.3 reduzimos
t para metade, t = 0:1. A altera ~ao nos resultados do al ulo e evidente e
onstitui uma indi a ~ao lara de que deveramos pro urar usar valores ainda
mais pequenos para t.
Na realidade o metodo de Euler raramente e utilizado em exemplos on-
retos. Embora extremamente util para expli ar a natureza do metodo de
resolu ~ao numeri a de equa ~oes, na prati a, ele e suplantado por metodos
SOLUC ~
AO
NUMERICA
DO OSCILADOR HARMONICO 53
Figura 3.2: O metodo de Euler para a massa e mola. t = 0:2; k=m = 1.
muito mais e ientes, que para pou o mais esfor o de al ulo, onduzem a
resultados om muito menor erro.
Na g.4 mostramos uma ompara ~ao entre o metodo de Euler, um se-
gundo metodo que vamos utilizar a seguir, Runge-Kutta de segunda ordem
e tambem o resultado analti o para este problema. Este ultimo n~ao e dif il
de obter. Re ordemos a equa ~ao de movimento (k=m = 1)
d2 x(t)
= x(t) (3.60)
dt2
A derivada da fun ~ao os(t) e sin(t) e de sin(t) e os(t). Isto signi a que
se derivarmos duas vezes qualquer uma destas fun ~oes obtemos a mesma
fun ~ao multipli ada por 1. Isto e, sin(t) e os(t) s~ao solu ~oes da equa a~o
de movimento. Esta equa a~o e linear, isto e se somarmos duas solu ~oes,
ou multipli armos uma solu ~ao por uma onstante, obtemos uma solu ~ao.
Assim A sin(t) + B os(t) (A e B , quaisquer) tambem satisfaz a equa ~ao
de movimento. Qual sera ent~ao a solu ~ao om as ondi o~es ini iais x(0) =
x0 ; v(0) = v0 ? E possvel a omodar estas ondi ~oes mediante a es olha de A
54 CAP
STICOS
Figura 3.3: O metodo de Euler para a massa e mola. t = 0:1; k=m = 1.
e B . Com efeito
x(t) = x0 os(t) + v0 sin(t) (3.61)
tem x(0) = x0 e v(0) = v0 alem de satizfazer a equa ~ao de movimento. Logo
e a solu a~o , pois omo vimos atras, so ha uma nestas ondi ~oes.
SOLUC ~
AO
NUMERICA
Figura 3.4: Compara a~o entre os metodos de Euler, Runge-Kutta e o resul-

tado exa to.
56 CAP
STICOS
O M
etodo Runge-Kutta de segunda ordem
Com o uni o m de motivar a introdu ~ao do metodo de Runge-Kutta vamos

fazer uma dis uss~ao heursti a de alguns problemas do metodo de Euler.
Deixaremos uma analise mais uidada dos erros para outras dis iplinas.
Para ilustrar as limita ~oes do metodo de Euler e util onsiderar uma
equa ~ao de primeira ordem envolvendo apenas x(t) e a sua primeira derivada
dx(t)
= f (x(t)) (3.62)
dt
A fun ~ao f (x) e suposta onhe ida. Pretendemos onstruir a solu ~ao om
ondi ~ao ini ial x(t0 ) = x0 . Imaginemos por um momento que poderamos
tra ar o gra o da solu ~ao real da equa ~ao. A equa ~ao de movimento permite
al ular f (x0 ) a derivada da solu ~ao real em x = x0 . Mas para x(t0 + t)
es revemos
x() (t0 + t) = x(t0 ) + f (x0 )t (3.63)
o que orresponde a substituir a verdadeira fun ~ao x(t) no intervalo [t0 ; t0 +
t℄ por uma re ta de de live f (x0 ). O erro x() (t0 + t) x(t0 + t) sera
por ex esso se a urvatura de x(t) for negativa neste intervalo, isto e, se a
sua derivada diminuir de t0 para t0 + t. Se a urvatura for positiva o erro
sera por defeito. Ora o metodo de Euler aproxima a velo idade media no
intervalo sempre pelo valor ini ial da velo idade. Ao dar um novo passo de
integra a~o, se a urvatura de x(t) n~ao tiver mudado de sinal o erro sera no
mesmo sentido. Pela natureza do metodo t deve ser pequeno. Isto e, e de
esperar que, entre pontos onde a urvatura da fun a~o muda de sinal, haja
um grande numero de passos de integra ~ao. Os erros ter~ao todos o mesmo
sinal e a umular-se-~ao.
Esta ideia esta ilustrada na g.5. A linha arregada orresponde a solu ~ao
real da equa a~o de movimento. A linha a tra ejado e a aproxima ~ao de
Euler. Como se vê ao m de um passo o valor de x(t) foi al ulado por
defeito. Representam-se tambem as solu o~es da equa ~ao de movimento que
passam por ada um dos pontos (t1 ; x1 ); (t2 ; x2 ) : : : al ulados pelo metodo
de Euler. Como se vê, em ada passo o metodo de Euler transporta-nos para
uma solu a~o ada vez mais afastada da original.
Este problema poderia ser orrigido se substitussemos na formula de
Euler f (x(t0 )) por f (x(t0 +t=2)), a velo idade no ponto medio do intervalo.
Claro que essa velo idade n~ao e, ne essariamente igual a velo idade media
no intervalo t. Mas as vezes sera superior, outras vezes inferior, e os erros
poder~ao ompensar-se de um modo mais e az que no aso anterior. Mas
o problema e pre isamente que x(t0 + t=2), tal omo x(t0 + t), n~ao e
onhe ido. E pre isamente o que pretendemos al ular, os valores de x(t)
em instantes diferentes de t0 (futuros ou passados). O metodo de Runge-
Kutta de segunda ordem onsiste pre isamente em usar o metodo de Euler
SOLUC ~
AO
NUMERICA
0 0.5 1 1.5 2
Figura 3.5: Ilustra a~o da instabilidade do metodo de Euler.
para estimar x(t0 + t=2). Denindo:

k = f (x0 )t x() (3.64)
o in remento de x pelo metodo de Euler, pomos
k
x(t0 + t) = x(t0 ) + f (x0 + )t (3.65)
2
x()
= x(t0 ) + f (x0 + )t (3.66)
2
Seria deslo ado fazer aqui uma analise dos erros envolvidos nesta aprox-
ima ~ao. Limitar-nos-emos a referir que a estimativa que fazemos da velo i-
dade media
x()
vm f (x0 + ) (3.67)
2
n~ao e ne essariamente por ex esso num intervalo de urvatura positiva, nem
por defeito num intervalo de urvatura negativa.
Para ilustrar as possibilidades deste metodo podemos apli a-lo ao prob-
lema do os ilador relativamente ao qual onhe emos a solu ~ao analti a. Es-
revamos as equa ~oes do metodo para equa ~oes de segunda ordem. Consid-
eremos um problema de dinâmi a inteiramente geral om um for a F (x; v)
(1 dimens~ao )
d2 x 1
= F (x; v) f (x; v): (3.68)
dt2 m
58 CAP
STICOS
Se es revermos
dx
=v (3.69)
dt
a equa ~ao de movimento e
dv
= f (x; v) (3.70)
dt
Por esta via reduzimos o problema a duas equa ~oes de primeira ordem nas
variaveis independentes x e v
dx(t)
= v(t) (3.71)
dt
dv(t)
= f (x(t); v(t)) (3.72)
dt
Uma solu a~o deste sistema de equa ~oes (x(t); v(t)), na medida em que e
solu a~o da primeira, garante que a fun ~ao v(t) e de fa to a derivada de x(t),
a velo idade.
Es rever agora as equa ~oes do metodo de Runge-Kutta e relativamente
simples. Come amos por al ular os in rementos pelo metodo de Euler para
ambas as variaveis:
x() = v(t)t (3.73)
v() = f (x(t); v(t))t (3.74)
As varia ~oes de x e v , no intervalo t s~ao al uladas supondo que a velo i-
dade media neste intervalo e v(t) + v() =2 e que a a elera ~ao e f (x(t0 ) +
x() =2; v(t) + v() =2:
!
v()
x = v(t) + t (3.75)
2
!
x() v()
v = f x(t) + ;v + t: (3.76)
2 2
Usando a mesma nota ~ao que anteriormente
xn = x(t0 + nt) (3.77)
vn = v(t0 + nt) (3.78)
e denindo
kn = vn t (3.79)
kn0 = f (xn; vn )t (3.80)

ORBITAS
PLANETARIAS 59
(os in rementos pelo metodo de Euler), obtemos as rela ~oes de re orrên ia

k0
xn+1 = xn + (vn + n )t (3.81)
2

k k0
vn+1 = vn + f xn + n ; vn + n t (3.82)
2 2
No gra o da g.4 o resultado desta aproxima a~o para o movimento harmoni o
simples (f (x; v) = (k=m)x), om k=m = 1 e t = :1, n~ao se onsegue dis-
tinguir da solu ~ao exa ta. No mesmo gra o esta tambem o resultado do
metodo de Euler.

Orbitas planetarias
As Equa
~oes de Movimento na Gravita
~ao Newtoniana
Agora que dispomos de um modelo numeri o minimamente utilizavel, vamos

apli a-lo a um problema de grande interesse fsi o: o movimento de um
planeta sob a a ~ao do ampo gravti o de uma estrela.
Falamos em planeta e estrela por uma uni a raz~ao: a massa de uma
estrela, M , e em geral varias ordens de grandeza superior a de um planeta,
m. Pelo prin pio da a ~ao e rea ~ao as for as sobre o planeta e a estrela
s~ao iguais em modulo:
F
jaej = M (a elera a~o da estrela) (3.83)
F
japj = m (a elera a~o do planeta) (3.84)
e
jaej japj (3.85)
Em primeira aproxima a~o podemos onsiderar ae 0. Num referen ial
ligado a estrela ela estara em repouso. No que se segue a estrela o upa,
imovel, a origem dos eixos de referên ia.
Uma segunda simpli a a~o torna-se possvel a partir da observa ~ao que
as orbitas s~ao planas. Imaginemos uma dada posi a~o e velo idade ini ial
para o planeta. O ve tor de posi a~o r e a velo idade v denem um plano. A
for a da estrela sobre o planeta tem a dire ~ao de r; a a elera a~o esta, pois,
neste plano. Ao m de um pequeno intervalo t, r = vt, v = at
est~ao ainda no mesmo plano. A orbita permane e no plano denido num
dado instante por r e v. Es olhendo esse plano omo o plano xy a posi a~o
do planeta pode ser espe i ada por duas oordenadas apenas, x(t) e y(t).
Pela lei da gravita a~o universal, temos
F = GMm e^
r2 r
(3.86)
60 CAP
STICOS
em que e^r = r=jr j, e o ve tor de modulo unitario om a dire ~ao e sentido

de r. Como r tem omponentes (x; y) temos
1 x y
e^r = (x; y) = ( ; ) (3.87)
jrj r r
e as omponentes x e y da for a
x
Fx = GMm (3.88)
r3
y
Fy = GMm 3 (3.89)
r
em que r2 = x2 + y2 . As equa ~oes de movimento s~ao:
d2 x x
2 = GM 3 (3.90)
dt r
d2 y y
2 = GM 3 (3.91)
dt r
Temos agora duas omponentes de posi ~ao e n~ao apenas uma omo no aso
do os ilador. A velo idade tem tambem duas omponentes vx e vy e as
equa ~oes de movimento podem ser rees ritas omo
dx
= vx (3.92)
dt
dy
= vy (3.93)
dt
dvx x
= GM 3 (3.94)
dt r
dvy y
= GM 3 (3.95)
dt r
Nesta forma e bem laro o modo de integrar estas equa ~oes. Temos quatro
variaveis (x; y; vx ; vy ) e as equa ~oes de movimento xam as derivadas tempo-
rais destas grandezas. Conhe ido o respe tivo valor no instante t o metodo
de Euler da os in rementos num intervalo t
x() = vx (t)t (3.96)
y() = vy (t)t (3.97)
x(t)
vx() = GM 3 t (3.98)
r(t)
y(t)
vy() = GM 3 t (3.99)
r(t)
p
(r(t) x(t)2 + y(t)2 ). No metodo de Euler os valores de de x; y; vx e
vy em t + t seriam al ulados somando o respe tivo in remento ao valor

ORBITAS
PLANETARIAS 61
orrespondente em t. Nos al ulos que a seguir se apresentam utilizou-se o

metodo de Runge Kutta de segunda ordem e por uma quest~ao de referên ia
es revemos agora as equa o~es de re orrên ia:
vx()
x(t + t) = x(t) + (vx (t) + )t (3.100)
2
v()
y(t + t) = y(t) + (vy (t) + y )t (3.101)
2
vx (t + t) = vx (t)
x + x() =2
GM t (3.102)
(x + x() =2)2 + (y + y() =2)2 3=2
vy (t + t) = vy (t)
y + y() =2
GM t (3.103)
(x + x() =2)2 + (y + y() =2)2 3=2
Os in rementos x() ; y() ; vx() e vy() s~ao denidos pelas eqs.(3.96-3.99).
S~ao equa ~oes om um aspe to algo aterrorizador. Uma uni a itera ~ao feita
manualmente seria su iente para fazer perder a pa iên ia. Mas uma vez
programados num omputador o trabalho deixa de ser nossso. Fixamos as
ondi ~oes ini iais x(0); y(0); vx (0); vy (0) e apli amos as rela ~oes de re orrên ia
das eqs.(3.100-3.103) para al ular x; y; vx ; vy em t, 2t; : : :. Deste modo
onseguimos re onstruir uma orbita a partir do onhe imento de quatro
ondi ~oes ini iais, duas oordenadas e duas omponentes de velo idade do
planeta.
Nas paginas seguintes (gs.(3.6-3.9)) mostram-se varias orbitas, al u-
ladas usando as eqs(3.100-3.103), om as respe tivas ondi ~oes ini iais. Ire-
mos seguidamente dis utir alguns aspe tos dessas orbitas. Mas algumas
perguntas surgem imediatamente: em que unidades est~ao expressos os val-
ores das oordenadas e dos tempos? Qual a massa da estrela? Na proxima
se ~ao abordamos esta quest~ao. Veremos que o mesmo al ulo pode de-
terminar orbitas em torno de um orpo de qualquer massa, mediante uma
mudan a adequada das es alas de tempo e distân ia.
Rees alonamento das equa

~oes
Qualquer problema fsi o tem, normalmente um onjunto de es alas de dis-

tân ia, tempo, energia, ara tersti os. E onveniente trabalhar em unidades
apropriadas a essa es alas. Nem os astronomos medem distân ias em angs-
trom, nem os fsi os nu leares em anos-luz. Numa apli a ~ao numeri a uma
es olha adequada de unidades pode ser mais do que uma onveniên ia prati a.
62 CAP
STICOS
Figura 3.6: Esta orbita e ir ular. N~ao pare e, porque os eixos xx e yy têm
es alas diferentes. Mas note-se que a energia poten ial,que so depende de r
e onstante.

ORBITAS
PLANETARIAS 63
O ara ter dis reto e nito da representa ~ao de numeros num omputa-
dor digital impli a uma gama de representa ~ao limitada. Se tivermos que
al ular om numeros demasiado pequenos ou demasiado grandes podemos
in orrer em erros de arredondamento ou de over ow. Mas existe uma outra
raz~ao importante para um estudo previo das es alas envolvidas num dado
problema. A melhor maneira de a expli ar e atraves do nosso exemplo.
Nas equa ~oes de movimento apare e um uni o parâmetro, GM . Alem
deste, poderemos tambem variar as ondi ~oes ini iais, que, omo vimos,
orrespondem as duas omponentes de posi ~ao e duas de velo idade. A
partida, teramos in o parâmetros que poderamos variar para estudar as
diferentes orbitas possveis. Por exemplo, se quisessemos estudar orbitas em
torno do Sol ou da Terra teramos que resolver as equa ~oes de movimento
duas vezes pois o valor de GM n~ao e o mesmo nos dois asos. A onte e no
entanto que GM e um parâmetro dimensional, nomeadamente
[GM ℄ = L3 T 2 (3.104)
O seu valor pode ser mudado por es olha de unidades de tempo e distân ia.
Designemos por l o valor SI de um novo padr~ao de omprimento e por o
de tempo; por exemplo, usando omo unidade de omprimento a unidade
astronomi a, l = 1:5 1011 . Na mudan a de unidades
x
x ! x0 = (3.105)
l
t
t ! t0 = (3.106)

o valor da onstante GM passaria a ser
2
GM ! (GM )0 = GM 3 (3.107)
l
Por es olha apropriadas das es alas de tempo e omprimento, l e , pode-
mos xar o valor de (GM )0 onforme desejarmos. As mesmas equa o~es de
movimento des revem orbitas em torno do Sol ou da Terra , ou de qualquer
outro orpo, mudando apenas as es alas de distân ia e/ou tempo.
Vejamos omo podemos onseguir isto no aso presente. A a elera ~ao
numa orbita ir ular, om velo idade onstante, e entrpeta e tem valor
onstante. A for a gravti a e tambem dirigida para o entro da orbita e
tem modulo onstante, pois a distân ia entre os dois orpos n~ao varia. A
segunda lei de Newton reduz-se a
v2 1
a = = GM 2 (3.108)
r r
O que da
1
v2 = GM (3.109)
r
64 CAP
STICOS
Figura 3.7: Uma orbita elpti a. O ponto ini ial e o afelio. A velo idade
ini ial e inferior a da orbita ir ular.

ORBITAS
PLANETARIAS 65
Figura 3.8: Neste aso o ponto ini ial e o perielio. A velo idade ini ial e
superior a da orbita da g.(3.6).
66 CAP
STICOS
Figura 3.9: Uma orbita aberta. Note-se que a energia total e positiva, ao
ontrario dos asos anteriores. Assimptoti amente o movimento e uniforme.

ORBITAS
PLANETARIAS 67
Figura 3.10: Um exemplo de al ulo das unidades de tempo e velo idade, de
modo a que GM valha 42 .
O perodo desta orbita e dado pela raz~ao entre o permetro da orbita, 2r,
e o modulo ( onstante) da velo idade, T = 2r=v; usando a eq.(3.109)
T 2 42
= (3.110)
r3 GM
Tomemos agora uma es ala de distân ias onveniente. Para orbitas em torno
do Sol, M = 2 1030 Kg, poderia ser a unidade astronomi a l = 1:5 1011 m.
Para orbitas de satelites em torno da terra , M = 6 1024 Kg, onviria mais
o raio da Terra l = 6:4 106 m. Em qualquer dos asos, es olhamos omo
unidade de tempo o valor do perodo de uma orbita ir ular de raio l , dado
pela eq.(3.110). Nestas unidades o valor de T 2 =l3 sera por deni ~ao 1, ou
seja o valor da onstante GM sera 42 , qualquer que seja M .
Foi esta a es olha que foi deita nos al ulos destas orbitas. As equa ~oes
de movimento s~ao es ritas om GM = 42 . A unidade de distân ia e ar-
bitraria e a de tempo orresponde ao perodo de uma orbita ir ular de raio
unitario. Na g.(3.10) mostra-se uma parte da folha de al ulo onde podem
ser introduzidos os valores SI de M e da unidade de p
distân ia, l e onde s~ao
al ulados os valores SI da unidade de tempo = 42 l3 =GM e de velo i-
dade v0 = l= . O mesmo al ulo pode des rever uma orbita em torno do Sol
ou da Terra (ou de qualquer outro orpo) atraves de uma reinterpreta ~ao
das es alas de tempo e distân ia.
68 CAP
STICOS
Este exemplo ilustra alguns aspe tos a ter em onta sempre que se
trabalha om equa ~oes de movimento. Frequentemente a tarefa mais im-
portante onsiste em explorar a natureza dos movimentos em fun ~ao dos
parâmetros do problema. Mas os valores de parâmetros dimensionais depen-
dem das unidades. Transforma ~oes de es ala, em que os diferentes parâmetros
mudam de a ordo om as respe tivas dimens~oes, n~ao alteram a natureza das
solu ~oes uma vez que s~ao apenas mudan as de unidades. E pois importante,
em ada aso, fazer uma redu a~o dimensional das equa ~oes, reduzindo alguns
destes parâmetros a valores xos, mediante es olha apropriada de unidades.
Deste modo onseguimos identi ar os parâmetros adimensionais ( om valor
independente das unidades) que de fa to determinam a natureza dos movi-
mentos, mesmo antes de ini iarmos qualquer al ulo.
Como exer io de apli a ~ao deste pro edimento re ordemos a solu ~ao do
os ilador harmoni o desenvolvida na se ~ao 3.2. Na altura pusemos k=m = 1
e x(0) = 1. Deixamos ao leitor a tarefa de mostrar, que o movimento de
qualquer os ilador harmoni o de velo idade ini ial nula (quaisquer k=m e
x(0)) pode ser reduzido a este mediante es olha apropriada das es alas de
tempo e distân ia. Como dissemos na altura, a solu a~o obtida e muito mais
geral do que pare e a primeira vista.

Orbitas abertas e
orbitas fe hadas
Em ada uma das gs(3.6-3.9) mostram-se, no topo, os valores ini iais da

posi a~o e da velo idade, o passo de integra ~ao, dt assim omo a dura ~ao de
integra a~o, Tmax = numero de passos dt.
As quatro orbitas têm a mesma posi ~ao ini ial x0 = 1 e y0 = 0, e velo i-
dade vx0 = 0, variando apenas a velo idade ini ial vy0 . Esta es olha mere e
um omentario. Os valores de x0 e y0 n~ao têm qualquer signi ado espe-
ial. Como vimos atras o valor x0 = 1 pode representar qualquer distân ia
a estrela, onsiderada na origem de oordenadas. Os eixos podem ser es-
olhidos de modo que um qualquer ponto da orbita esteja sobre o eixo dos
xx. Assim n~ao ha qualquer perda de generalidade na es olha da posi ~ao ini-
ial. A velo idade e es olhida de modo a ser perpendi ular ao raio ve tor da
posi a~o ini ial. Qualquer orbita tera um ponto em que a distân ia a estrela
e mnima. Se for uma orbita limitada tera tambem um ponto de distân ia
maxima. Nesses pontos extremos a velo idade e perpendi ular ao raio ve tor
de posi a~o. A omponente da velo idade na dire ~ao radial e dada por
dr
vr = (3.111)
dt
Logo num extremo de r(t) (maximo ou mnimo) vr = 0. Deste modo a
nossa es olha de ondi ~oes ini iais oresponde a al ular ada orbita a partir
do seu ponto de distân ia mnima (ou eventualmente maxima) e de novo

ORBITAS
PLANETARIAS 69
n~ao impli a qualquer perda de generalidade. Podemos ara terizar todas as

orbitas possveis variando apenas um parâmetro vy0 .
A orbita da g.(3.6) e ir ular. Vimos atras que se trata de uma orbita
possvel desde que a velo idade seja dada pela eq.(3.109)
GM
v 2 = (3.112)
r
O perodo desta orbita e T = 2r=v . Nas nossas unidades a orbita om
r = 1 tem T = 1, isto e v = 2. A orbita da g.(3.7) tem velo idade ini ial
inferior a v e as das gs.(3.8) e (3.9) superiores.
As primeiras três orbitas s~ao fe hadas. Mas a orbita da g.(3.9) pare e
tender assimptoti amente para uma linha re ta (note-se a diferen a das es-
ala x e y relativamente aos asos em que as orbitas s~ao fe hadas).
A diferen a entre orbitas abertas e fe hadas, e fa ilmente ompreendida
tendo em aten ~ao a energia total do orpo que orbita no ampo gravti o da
estrela.
A integra ~ao numeri a da os valores de vx e vy em ada instante, o
que permite al ular a energia ineti a, por unidade de massa do orpo que
orbita,
E 1 2 1 2 2
= v = (vx + vy ) (3.113)
m 2 2
Por outro lado a energia poten ial do planeta no ampo gravti o da estrela
obtem-se por analogia om o aso da intera ~ao de Coulomb, que tratamos
no Captulo 2. Para uma for a de Coulomb atra tiva
FC = k 2
jqjjq0 j (3.114)
r
obtivemos
UC (r) = k
jqjjq0 j (3.115)
r
om (U (r ! 1) ! 0). Com uma for a gravti a
Mm
FG = G 2 (3.116)
r
obtemos, om a substitui ~ao kjqjjq0 j ! GMm0
Mm
UG (r) = G (3.117)
r
o que da para a energia total
1 Mm
E = mv2 G (3.118)
2 r
1 Mm
= m(vx2 + vy2 ) G (3.119)
2 r
70 CAP
STICOS
Esta grandeza e uma onstante de movimento, isto e n~ao varia ao longo da

orbita. Nas unidades que estamos a usar
E 1 2 1
= (v 42 ) (3.120)
m 2 r
Nas gs.(3.6-3.9) representam-se tambem as energias ineti a, poten ial e a
soma das duas, por unidade de massa do planeta, em fun a~o do tempo, para
ada uma das orbitas em analise. Podemos veri ar que:
i) a energia total e onstante;
ii) as orbitas fe hadas têm energia total negativa;
iii) a orbita da g.(3.9) tem energia total positiva;
Como a energia total e onstante ela e xada pelas ondi ~oes ini iais (no
nosso aso por vy0 ). A energia ineti a nun a e negativa. A energia poten ial
n~ao pode em aso algum ser superior a energia total E :
EP E (E 0): (3.121)
A igualdade veri a-se se a velo idade do planeta for nula. Se E < 0 isto
signi a que
Mm
G
r
jE j (3.122)
o que impli a
GMm
r (3.123)
jE j
Uma orbita de energia negativa esta ontida, ne essariamente, numa es-
fera a volta da estrela, de raio GMm=jE j. E uma orbita limitada. E
ne essario forne er energia ao sistema estrela-planeta, para que este se possa
afastar innitamente da estrela. E um estado ligado. Os estados de en-
ergia positiva n~ao s~ao ligados. Se pudessemos ontinuar a integra ~ao no
aso da g.(3.9) veramos a energia poten ial a aproximar-se de zero quando
r ! 1, enquanto a energia ineti a tenderia para o valor da energia total.
Assimptoti amente o movimento do planeta seria re tilneo e uniforme. A
for a que sobre ele a tua de ai omo 1=r2 .
O valor da velo idade ini ial que separa as orbitas abertas e fe hadas e
fa ilmente al ulado a partir da ondi ~ao de anulamento da energia
1 2 Mm
mv0 G =0 (3.124)
2 r0
2GMm
v02 = = 2v 2 (3.125)
r0

ORBITAS
PLANETARIAS 71
em que v e a velo idade da orbita ir ular de raio r0 . Com as nossas

unidades p p
v0 = 2v = 22 = 8:89 (3.126)
Na g.(3.11) representamos uma orbita exa tamente om este valor de ve-
lo idade ini ial. Na se ~ao seguinte on entramo-nos nas orbitas fe hadas,
pela importân ia que têm no Sistema Solar.
72 CAP
STICOS
Figura 3.11: Uma orbita de energia nula.

ORBITAS
PLANETARIAS 73
Leis de Kepler
As orbitas dos planetas do sistem solar orrespondem a estados ligados. Com

base nas observa ~oes minu iosas do astronomo dinamarquês Ty ho Brahe,
Kepler formulou as suas famosas leis de que re ordamos as duas primeiras.
As orbitas dos planetas s~ao elipses e o Sol o upa um dos fo os.
(Lei das areas) As areas varridas pelo ve tor de posi ~ao de um planeta,
em tempos iguais, s~ao iguais (origem Sol).
Newton provou, analiti amente, que estas leis, obtidas empiri amente,
eram onsequên ia das suas leis de movimento. Poderemos veri ar o mesmo
numeri amente. No apêndi e A re ordam-se algumas deni ~oes relativas a
elipses. De a ordo om a primeira lei um dos fo os deve ser a origem de
oordenadas, onde esta a estrela. Como ja referimos, o ponto ini ial de
integra a~o x = 1 y = 0, omo tem vr = 0, e um ponto de distân ia maxima
ou mnima da origem. Logo e um ponto sobre o eixo maior da elipse. O
segundo fo o estara sobre o eixo xx a uma distân ia 2ea da origem, em que
e e a ex entri idade e a o semieixo maior da elipse. O semieixo maior da
elipse (se a orbita for uma elipse) sera dado dado por
2a = xmax xmin (3.127)
Como temos um lista de oordenadas x n~ao e dif il en ontrar o valor mnimo
(xmax = 1, por onstru ~ao ) e obter a
1 1
a = (xmax xmin ) = (1 xmin ) (3.128)
2 2
A distân ia do ponto ini ial de integra ~ao a origem (sempre 1) permite al-
ular a ex entri idade, pois
xmax = (1 e)a (3.129)
onforme o ponto ini ial e o afelio (afastamento maximo) ou perielio (afas-
tamento mnimo).
Em qualquer aso
x 1
e = j max 1j = j 1j (3.130)
a a
O entro da elipse tem oordenada x dada por (xmax + xmin )=2. O se-
gundo fo o o upa relativamente a este ponto a posi a~o simetri a do primeiro
(origem das oordenadas) e portanto tem oordenada xf dada por xmax +
xmin . Na g.(3.12) representa-se mais uma orbita om a indi a ~ao da ex-
entri idade e semi-eixo maior al ulados por este pro esso.
74 CAP
STICOS
Figura 3.12: As prin ipais ara tersti as desta orbita, energia, area varrida
por unidade de tempo, ex entri idade, perodo, foram al uladas do modo
indi ado no texto.

ORBITAS
PLANETARIAS 75
Sabendo a posi ~ao do segundo fo o podemos al ular a soma d + d0 para

ada ponto da orbita.
q q
d + d0 = x2 + y2 + (x xf )2 + y2 (3.131)
Naturalmente esta determina a~o de parâmetros e aproximada. A orbita e
onstruda a partir do al ulo de um numero dis reto de posi ~oes e, em geral,
o instante em que a orbita volta a ruzar o eixo dos xx podera n~ao estar
entre os instantes al ulados. Este erro pode ser ontrolado variando o passo
de integra ~ao dt.
Seja A(T ) a area varrida pelo raio ve tor do planeta a partir de um dado
instante t = 0. A area varrida entre t e t + t e A A(t + t) A(t). A
segunda lei de Kepler, arma que a intervalos t iguais orrespondem A
iguais. Isto quer dizer que a area varrida por unidade de tempo, A=t
e a mesma para qualquer intervalo t. Por outras palavras, A velo idade
de varrimento de area dA(t)=dt = limt!0 A=t n~ao varia ao longo da
orbita. Trata-se de uma segunda lei de onserva a~o a juntar a da energia.
Num intervalo de tempo t muito urto a area varrida pelo raio ve tor de
posi ~ao e a do triângulo ujos lados s~ao r(t), r = r(t+t) r(t) e r(t+t).
Mas esta area e metade da area do paralelogramo denido por r(t) e r.
Usando o resultado do apêndi e B
1
A = (xy yx) (3.132)
2
No limite t ! 0
x = vx t; y = vy t; (3.133)
ou seja
dA 1
= (x(t)vy (t) y(t)vx (t)) (3.134)
dt 2
O segundo membro pode ser al ulado a partir da listagem dos valores de r
e v ao longo do tempo. A segunda lei de Kepler arma
dA
= onstante: (3.135)
dt
Nas g.(3.13) mostram-se gra os da soma das distân ias aos fo os, e da
area varrida por unidade de tempo, para uma orbita fe hada. Como era de
esperar num al ulo aproximado n~ao se veri a exa tamente a onstân ia
destas duas grandezas. No entanto um olhar atento as es alas mostram
que as respe tivas varia o~es per entuais s~ao, de fa to, muito pequenas. Na
prati a, a existên ia de leis de onserva ~ao serve muitas vezes para aferir a
qualidade dos metodos numeri os. E urioso notar que as maiores varia o~es
76 CAP
STICOS
de dA=dt o orrem quando o planeta passa mais proximo da estrela. Neste

problema, omo vimos, n~ao existe uma es ala de tempo intrnse a.
p
Mas dada
uma distân ia r temos uma es ala de tempo asso iada, T 42 r3 =GM .
Quanto mais pequeno for r mais pequeno sera T . Deste modo para manter
a mesma qualidade de aproxima ~ao o passo de integra ~ao deveria ser menor
quando o planeta passa mais proximo da estrela.
A lei das areas foi utilizada para al ular o perodo das orbitas. Como
dA=dt e onstante a area varrida entre 0 e t, A(t) = (dA=dt)t. Para um
perodo, a area varrida deve ser a area da elipse, S = ab, logo T =
S=(dA=dt). Os parâmetros geometri os da orbita foram determinados pelo
pro esso a ima referido e e possvel para ada orbita al ular o perodo.
T , assim omo e e o semieixo maior a, res em quando a velo idade
ini ial se aproxima da velo idade limite das orbitas fe hadas. Os ometas
s~ao orpos om orbitas muito ex êntri as. O seu perielio (1 e)a pode ser
varias vezes inferior ao afelio (1 + e)a pois a ex entri idade das respe tivas
orbitas e proxima de 1. Na g.(3.14) mostra-se uma orbita deste tipo.
Colis~
oes e
orbitas abertas
Na g.(3.15) representa-se uma orbita aberta, ini iada a uma distân ia da

estrela muito superior ao valor da distân ia mnima. A orbita e quase re -
tilnea, no in io e novamente depois de o planeta se voltar a afastar da
estrela. No limite em que r ! 1 o movimento devera ser uniforme pois
a for a gravti a tende para zero. Por onserva ~ao de energia a velo idade
nal devera ser igual a ini ial, pois para r ! 1 a energia poten ial e nula e
toda a energia e ineti a. O efeito da atra a~o gravti a da estrela e desviar a
dire ~ao de movimento do planeta. Estas orbitas foram en ontradas, noutro
ontexto, a proposito da experiên ia de Rutherford. A for a entre part ulas
e os nu leos de ouro e semelhante, na forma, a for a gravti a, (for a entral
de aindo om 1=r2 ) embora seja, nesse aso, repulsiva. O movimento ini ial
das part ulas e re tilneo. Quando se aproximam dos nu leos de ouro s~ao
de e tidas pela for a de Coulomb. Como a energia total e positiva voltam
a afastar-se a abando por ter um movimento re tilneo. Um parâmetro im-
portante nestas ir unstân ias e o ângulo de desvio. Na g.(3.16) mostra-se
o ângulo que a velo idade faz om o eixo dos xx para a orbita da g.(3.15).
Estas orbitas podem ser ara terizadas pela energia e pelo parâmetro de
impa to, a distân ia entre a dire ~ao ini ial da velo idade (assmptota da
orbita) e a estrela. No aso da experiên ia de Rutherford as part ulas
têm aproxidamente a mesma energia. Mas, omo o feixe de part ulas
tem uma se ~ao re ta de dimens~oes ma ros opi as, existe uma distribui ~ao
de parâmetros de impa to que se traduz numa distribui ~ao de ângulos de
desvio. Os metodos aqui apresentados podem ser usados para reproduzir
numeri amente os al ulos de Geiger e Marsden, relativos a distribui ~ao de

ORBITAS
PLANETARIAS 77
Figura 3.13: As varia ~oes da area varrida por unidade de tempo e da soma
das distân ias aos dois fo os s~ao inferiores a 1%.
78 CAP
STICOS
Figura 3.14: Uma orbita muito ex êntri a, quase aberta.

ORBITAS
PLANETARIAS 79
a^ngulos de desvio das part ulas , referidos no aptulo 2 e que vieram

onrmar a interpreta ~ao de Rutherford.
80 CAP
STICOS
Figura 3.15: Uma orbita aberta. Nos limites t ! 1 o planeta tem movi-
mento uniforme.

ORBITAS
PLANETARIAS 81
Figura 3.16: O ângulo da velo idade om o eixo dos xx para a orbita da

gura anterior.
As leis de onserva
~ao e ara ter
sti as das
orbitas
Ha varios resultados importantes que podem ser obtidos sem o al ulo om-
pleto das orbitas, se usarmos as leis de onserva ~ao, que veri amos nume-
ri amente. Como exemplo vamos onsiderar a ex entri idade e o perodo
de uma orbita fe hada a medida que a velo idade no perielio se aproxima
da velo idade orrespondente a uma orbita aberta. Outros exemplos s~ao
onsiderados nos problemas que a ompanham estas notas.
Atentemos primeiro nas seguintes rela ~oes
1 1
E=m = vp2 GM (3.136)
2 rp
dA 1
= vp rp (3.137)
dt 2
em que E e a energia e vp e rp s~ao a velo idade e a distân ia a estrela no
perielio. Note-se que neste ponto a velo idade e perpendi ular ao raio ve tor
e da a segunda igualdade ( .f. eq.(3.134)). A grandezas do primeiro membro
s~ao onstantes de movimento. Logo no ponto de afastamento maximo, o
afelio, temos tambem
1 1
E=m = va2 GM (3.138)
2 ra
1
= va ra (3.139)
2
Ou seja
1 2 1 1 1
va GM = vp2 GM (3.140)
2 ra 2 rp
va ra = vp rp (3.141)
82 CAP
STICOS
Estas duas equa ~oes permitem determinar va e ra em termos de vp e rp .

Como ra =rp = (1 + e)=(1 e) podemos obter, em prin pio, a ex entri idade
em termos de rp e vp . Eis uma maneira expedita de o fazer
r
va = v p p (3.142)
ra
1 2 1 2 GM r
va vp = 1 p (3.143)
2 2 rp ra
Subsituindo a primeira equa ~ao na segunda obtem-se
!
1 2 rp2 GM rp
v 1 = 1 (3.144)
2 p ra2 rp ra
ou seja
GM
vp2 = (1 + e) (3.145)
rp
Se designarmos por v GM=rp a velo idade de uma orbita ir ular de raio
rp podemos es rever este resultado de um modo sugestivo
v2
e = p2 1 (3.146)
v
A ex entri idade
p e nula para para vp = v omo seria de esperar. Quando
vp ! 2v a ex entri idade e ! 1 (note-se que por deni a~o, a velo idade
no perielio e sempre superior a velo idade de uma orbita ir ular de raio rp).
Como estamos a manter rp xo o semi-eixo maior da elipse a = rp =(1 e)
diverge neste limite, que, omo vimos atras, separa as orbitas fe hadas das
abertas (a energia total e nula neste limite, ver eq.(3.126)).
O perodo pode ser p obtido da rela a~o atras referida T = S=(dA=dt) em
que S = ab = a2 1 e2 e a area da elipse. Usando a eq.(3.145) e os
resultados do Apêndi e A podemos obter a ter eira lei de Kepler, na sua
forma geral, para orbitas elpti as
a4 (1 e2 ) 42 3
T 2 = 42 = a (3.147)
vp2 rp2 GM
Note-se que T ! 1 quando vp tende para a velo idade limite de uma orbita
fe hada. Estes resultados e outros semelhantes s~ao explorados nos proble-
mas.
Feynman Le tures on Physi s, Feynman Leighton & Sands, vol I, aps.
8 e 9. Se so puder adquirir uma obra de Fsi a, ompre esta. Os três
volumes das li ~oes de Feynman, onstituem a mais fas inante obra
introdutoria de Fsi a que onhe o.
LEITURAS RECOMENDADAS 83
Classi al and Modern Physi s, K. Ford, Vol I Cap. 11.

84 CAP
STICOS
Cap
tulo 4
Modelos Probabilsti os
Imprevisibilidade e Probabilidade
Temos vindo a dis utir problemas em que a evolu ~ao dos sistemas e deter-
minsti a. Por outras palavras, e possvel ara terizar num dado instante o
estado do sistema de tal modo que os estados posteriores (ou anteriores) s~ao
univo amente determinados. Vamos agora onsiderar problemas em que a
possibilidade de al ular uma evolu ~ao bem determinada nos es apa. N~ao
nos preo uparemos demasiado om a raz~ao de ser dessa impossibilidade. O
obje tivo fundamental sera, n~ao so des ortinar um pou o dos metodos de
analise apropriados a estas quest~oes, mas sobretudo aprender a formular as
perguntas relevantes.
Consideremos um gas onnado a um re ipiente. Suponhamos que num
dado instante onhe emos a posi ~ao e velo idade de uma das mole ulas.
Apos um erto tempo poderemos saber onde ela se en ontra? Poderemos
sequer saber se ela se en ontra na metade esquerda ou direita do re ipi-
ente? Naturalmente a traje toria da mole ula e determinada pelas leis de
Newton. Mas a nossa espe i a ~ao do estado ini ial e grosseiramente in om-
pleta. Teramos que onhe er tambem as posi o~es e velo idades de todas as
outras mole ulas que poderiam vir a olidir om a que estamos a onside-
rar. As for as sobre a mole ula em ausa dependem das posi o~es das suas
vizinhas e temos que as onhe er para al ular o movimento dela. Mas
as posi ~oes das vizinhas variam de um modo que depende das posi ~oes de
outras mole ulas. Por outras palavras, n~ao e possvel, sequer, ontemplar o
al ulo do movimento de uma mole ula sem al ular o de todas. Mas mesmo
que possussemos a prodigiosa apa idade de al ulo para um sistema de
equa ~oes de evolu ~ao para 6N variaveis, 3 de posi a~o e 3 de velo idade para
N mole ulas ( om N 1023 ) o nosso problema n~ao aria resolvido. E que
um tal sistema e om toda a erteza aoti o, isto e, sensvel as ondi ~oes
ini iais. Qualquer pequena in erteza nos valores ini iais da posi a~o e da
85
86 CAP
TULO 4. MODELOS PROBABIL
STICOS
velo idade (note-se que para que a in erteza seja \nula" numa oordenada
pre isavamos de espe i ar uma sequên ia innita de dgitos) sera rapida-
mente ampli ada. Todo o jogador (ou jogadora) de bilhar sabe que a menor
impre is~ao na ta ada pode signi ar a diferen a entre duas bolas olidirem
ou n~ao e onduzir a um estado nal totalmente diferente. Assim no nosso
sistema apos um tempo muito urto o nosso poder de previs~ao estaria om-
pletamente perdido.
Imaginemos a seguinte experiên ia on eptual. Colo amos uma deter-
minada mole ula no entro da metade direita do re ipiente. Preparamos
o estado ini ial do gas t~ao pormenorizadamente quanto possvel. Depois,
esperamos um tempo su iente para que a mole ula possa atravessar o re-
ipiente varias vezes e veri amos se a mole ula se en ontra do lado direito
ou esquerdo. A nossa apa idade de previs~ao do resultado desta experiên ia
seria nula. Com efeito se a repetirmos, sempre om a mesma ondi a~o ini-
ial, pelo menos tanto quanto podemos dizer, obteremos resultados variaveis,
sem qualquer padr~ao, aleatorios. N~ao teremos mais su esso em prever de que
lado se en ontra a mole ula do que em prever se o lan amento de uma moeda
vai dar ara ou oroa.
Mas, e esta e a quest~ao fundamental, a quem importa saber a traje toria
de uma uni a mole ula de um gas? Que observa ~ao fsi a que possamos
fazer sobre um gas tem um resultado dependente da traje toria de uma so
part ula? Quais s~ao ent~ao as quest~oes relevantes?
O valor de qualquer grandeza que possamos medir relativa a um gas sera
o resultado do omportamento de um grande numero de mole ulas. Por
exemplo, a massa de gas que num dado instante se en ontra na metade
direita do re ipiente poderia ser medida isolando-a da outra metade por
uma parti ~ao e pesando-a. As mole ulas de um gas diludo, omo veremos
mais a frente, s~ao razoavelmente independentes. Assim, a quest~ao n~ao e
onde se en ontra uma dada mole ula, mas sim quantas se en ontram numa
dada por ~ao do re ipiente. Se as mole ulas s~ao independentes, isto e omo
perguntar, num grande numero de lan amentos de uma moeda, quantas
vezes sai ara. O fa to de nada podermos prever num uni o lan amento
signi a (entre outras oisas) que temos uma expe tativa denida para o
que deve a onte er em muitos, nomeadamente devemos ter aproxidamente
tantas aras omo oroas. No aso do gas teremos tambem expe tativas
denidas quanto ao numero de mole ulas que en ontraremos numa dada
parte do re ipiente. No que se segue exploraremos em mais detalhe esta
ideia, tentaremos pre isa-la em alguns aspe tos, pois ela esta na base das
arma ~oes e previs~oes positivas que podemos fazer relativamente a modelos
probabilsti os. Mas antes disso onsideremos outro exemplo.
Dois nu leos radioa tivos, tanto quanto podemos dizer absolutamente
idênti os, n~ao de aem, no entanto, ao mesmo tempo. Por exemplo on-

O PASSEIO ALEATORIO (RANDOM WALK) 87
sideremos o isotopo de azoto 13 N . Tomemos um nu leo e esperemos 10

minutos. Prever se ele de aiu, ao m deste tempo, emitindo um positr~ao e
transformando-se em 13 C , e uma experiên ia do tipo moeda ao ar. Temos
tanta possibilidade de a ertar omo de prever se uma moeda vai dar ara
ou oroa. E repare-se que neste aso, a iên ia refere-se a dois nu leos deste
tipo omo indistinguveis; o a aso e parte essen ial deste fenomeno. De novo,
sobre o que a onte e a um nu leo, a nossa ignorân ia e ompleta. Mas ao
medir a radioa tividade de uma amostra n~ao trabalhamos om um nu leo de
ada vez. Se onsegussemos 13 g deste isotopo, teramos 6 1023 nu leos.
O seus de amentos s~ao ompletamente independentes uns dos outros e, por
isso, perguntar quantos nu leos de aem ao m de 10 minutos e semelhante
a perguntar quantas vezes sai ara se lan armos a moeda 6 1023 vezes. E
neste aso temos uma expe tativa denida de que devemos obter er a de
metade das vezes aras. Isto e, deveremos ter aproximadamente metade dos
nu leos a de air. Dizemos aproxidamente porque, se se trata realmente de
um pro esso aleatorio, o numero de de amentos sera variavel. Os nu leos
sobreviventes aos m de 9 minutos n~ao tem possibilidade de saber quantos
de aram nesse intervalo, para poderem perfazer onta erta. Uma das oisas
que vamos fazer neste aptulo e tentar quanti ar esta varia a~o.
O passeio aleat
orio (Random Walk)
Modelo para a Difus~
ao
Uma part ula num gas tem um movimento muito irregular mar ado pelas
su essivas olis~oes om outras mole ulas. A sua dire ~ao de movimento apos
ada olis~ao pode ser onsiderada omo aleatoria. A distân ia entre olis~oes
tambem varia de modo imprevisvel. O movimento pode ser onsiderado
omo uma sequên ia de passos de tamanho e dire o~es aleatorias. O passeio
aleatorio e um modelo extremamente simpli ado deste pro esso. Primeiro
temos a quest~ao do tamanho dos passos. No aso da difus~ao o tamanho
variara de a ordo om uma determinada distribui ~ao. Iremos supor que
ada passo tem um tamanho xo. Alem disso o intervalo de tempo que
dura ada deslo amento e variavel. Imaginaremos um intervalo onstante;
podemos ent~ao medir o tempo atraves do numero de passos. Numa situa a~o
realista a dire ~ao de deslo amento variara ontinuamente no espa o. Su-
poremos que a part ula se deslo a ao longo dos eixos oordenados. Esta
hipotese e a anterior orrespondem a dizer que as uni as posi ~oes possveis
s~ao as de uma rede ristalina ubi a. Sera um modelo realista para o movi-
mento de um defeito pontual (um atomo de tipo diferente, um vazio) numa
rede. Mas mesmo om todas estas simpli a ~oes ha um aspe to do fenomeno
que e preservado neste modelo: o ara ter aleatorio de ada deslo amento,
88 CAP
STICOS
30
20
10
-10
-20
-30
-60 -40 -20 0 20
Figura 4.1: uma simula a~o de um passeio aleatorio de 5000 passos numa
rede triangular.
independente dos anteriores. Finalmente, limitamos os deslo amentos ape-

nas a um eixo. Esta ultima simpli a ~ao n~ao e t~ao importante quanto possa
pare er. Estudando o movimento ao longo de uma linha podemos aprender
muito sobre o movimento numa rede quadrada ou ubi a. Assim, por ex-
emplo, se uma part ula se deslo ar entre os pontos de uma rede quadrada
(lado 1), em ada instante a sua oordenada x tera uma erta probabili-
dade de aumentar de 1 unidade, uma erta probabilidade de diminuir de 1
unidade e nalmente uma erta probabilidade de ar igual, se o deslo a-
mento for ao longo do eixo dos yy. Uma part ula que se deslo a numa rede
quadrada realiza passeios aleatorios unidimensionais nas oordenadas x e y;
estas variam exa tamente omo em passeios aleatorios numa linha, general-
izados para situa o~es em que se admite que o deslo amento num passo pode
ter tambem o valor 0 alem de +1 e 1. Nas paginas que se seguem vamos
fazer uma breve introdu ~ao a alguns on eitos de teoria de probabilidades.
Fa-lo-emos numa perspe tiva eminentemente prati a, e ilustraremos os on-
eitos, a medida que forem sendo introduzidos, om o modelo do passeio
aleatorio.

Espa
o de A onte imentos. Probabilidades
10
Ao pensar num pro esso aleatorio temos em mente uma experiên ia, que 5
pode ser repetida, e ujo resultado e variavel. Representaremos esta situa a~o 0
introduzindo um onjunto U = fe1 ; e2 ; : : : ; eM g, ujos elementos orrespon- -5
dem aos a onte imentos possveis. Um passo de um passeio aleatorio tem um -10
0 5 10 15 20
de dois resultados possveis, passo para a direita e para a esquerda que or- 10
respondera a U = fd; eg. Se repetirmos a experiên ia N vezes a frequên ia 5
relativa do a onte imento ei e fi = Ni =N em que Ni e o numero de vezes 0

que o orreu ei . Trata-se, omo e obvio, de uma grandeza tambem aleatoria. -5
Em duas sequên ias de N experiên ias os valores de Ni ser~ao em geral difer- -10
0 5 10 15 20
entes. Na g.(4.2) mostram-se 5 passeios de vinte passos. Pela varia a~o da 10
posi ~ao nal, vê-se que o numero de passos d (nos gra os s~ao deslo amentos 5
no sentido positivo do eixo x) e variavel. Mas, por outro lado, temos uma 0
expe tativa denida para o valor destas frequên ias relativas, pelo menos no -5
limite em que N e grande. Esperamos que duas sequên ias de N grande -10
tenham valores de fi proximos. Traduziremos esta expe tativa asso iando
0 5 10 15 20
a ada a onte imento ei 2 U uma probabilidade pi . No limite em que o

10
5
numero de repeti ~oes, N e grande as frequên ias fi devem ser proximas de 0
pi . Dado este signi ado de pi , deveremos exigir as seguintes propriedades: -5
0 para todo ei 2 U
-10
pi (4.1) 10
0 5 10 15 20
M
X
pi = 1 (4.2) 5
i=1 0
-5
As frequên ia relativas s~ao n~ao negativas, fi 0. Como estamos a inter- -10
pretar as probabilidades pi omo valores esperados de fi devemos exigir a
0 5 10 15 20
mesma propriedade. Por outro lado, e obvio que se U in lui todos os resul-
P Figura 4.2: in o passeios de vinte pas-
tados possveis de uma dada experiên ia, M i=1 fi = (N1 + : : : + NM )=N = 1. sos. O numero de passos em ada sen-
A soma das frequên ias relativas e sempre 1 e portanto devemos exigir o tido e variavel.
mesmo para a soma das probabilidades.
Cada um dos passeios da g.(4.2) pode ser visto omo o resultado de
uma experiên ia. Podemos asso iar a um passeio de N passos um onjunto
de a onte imentos U . Por exemplo para N = 3 os seus elementos seriam
e1 = (d; d; d); e2 = (d; d; e)
e3 = (d; e; d); e4 = (e; d; d)
e5 = (d; e; e); e6 = (e; d; e)
e7 = (e; e; d); e8 = (e; e; e) (4.3)
Para um passeio de N passos teremos 2 2 : : : = 2N resultados (passeios)
possveis, uma vez que ha duas possibilidades para ada passo. A partir
90 CAP
STICOS
das probabilidades asso iadas a ada elemento de U podemos denir prob-

abilidades para qualquer sub onjunto de U . Uma pergunta possvel, por
exemplo, e qual e a frequên ia om que os dois primeiros passos s~ao iguais.
No aso de L passeios om N = 3 teramos
N + N 2 + N 7 + N8
f= 1 = f1 + f2 + f 7 + f 8 (4.4)
L
o que nos leva a atribuir ao onjunto fe1 ; e2 ; e7 ; e8 g a probabilidade p =
p1 + p2 + p7 + p8 . A ada sub onjunto S U asso iamos uma probabilidade
X
p(S ) = pi (4.5)
ei 2S
Do ponto de vista matemati o a interpreta a~o das probabilidades e total-
mente irrelevante. Em teoria matemati a de probabilidades dene-se uma
estrutura onstituda por um onjunto de a onte imentos U no qual esta
denida uma apli a ~ao nos numeros reais, om propriedades que s~ao uma
vers~ao mais sosti ada das eqs.(4.1), (4.2) e (4.5), apli aveis a espa os inni-
tos e ontnuos. No entanto a raz~ao de ser do interesse desta estrutura, e da
es olha das suas propriedades fundamentais, e determinada pelas situa ~oes
reais a que pode ser apli ada, em parti ular pela interpreta a~o de proba-
bilidades omo valores esperados de frequên ias relativas. As propriedades
basi as de probabilidades (na situa ~ao muito simpli ada de um espa o de
a onte imentos dis reto e nito) s~ao as destas equa ~oes. Juntamos apenas
duas onven ~oes de nomen latura, uja raz~ao de ser e mais que lara. A um
a onte imento (que pode agora ser entendido omo qualquer sub onjunto de
U ) om probabilidade nula hamamos impossvel; se a probabilidade for 1 o
a onte imento e erto.
A onte imentos Independentes
O onjunto de a onte imentos da eq.(4.3) pretende representar uma sequên ia

de três experiên ias idênti as e independentes. Isto signi a que as proba-
bilidades p1 ; : : : ; p8 devem estar rela ionadas om as frequên ias esperadas
para um passo. Para simpli ar a nota ~ao onsideremos apenas dois passos:
e1 = (d; d) e2 = (d; e)
e3 = (e; d) e4 = (e; e) (4.6)
Designemos por p a probabilidade de um passo ser d e por q = (1 p) a de
ser e. Pare e natural es rever, simplesmente,
p1 = p2 (4.7)
p2 = p3 = pq (4.8)
p4 = q2 (4.9)

Com efeito, esperamos uma fra ~ao p de aminhos om um primeiro passo

d. Destes, uma fra ~ao p tera um segundo passo d. Logo o valor esperado da
frequên ia de e1 sera p2 . De modo idênti o obteramos as outras equa o~es.
Mas vamos analisar isto do ponto de vista do espa o de a onte imentos
ujos elementos s~ao aminhos de dois passos, listados na eq.(4.6). Imag-
inemos L repeti ~oes de 2 passos. A frequên ia relativa de dois passos a
direita pode ser es rita, om nota ~ao obvia,
N (d; d)
f (d; d) f1 = (4.10)
L
A frequên ia om que o primeiro passo e d e
N (d; d) + N (e; d)
f (qualquer; d) = (4.11)
L
Note-se que, para ser onsistente om nota ~oes onsagradas, os passos s~ao
listados da direita para a esquerda ((d; e), e um passo e, seguido de um d).
As eqs.(4.10) e (4.11) podem ombinar-se omo
N (d; d)
f (d; d) =
N (d; d) + N (e; d)
N (d; d) +L N (e; d) (4.12)
O valor esperado do segundo fa tor do segundo membro e p, a probabilidade

de um passo ser para a direita. O primeiro fa tor e a frequên ia relativa om
que, nos aminhos em que o primeiro passo e d, o segundo e tambem d. A
frequên ia om que o segundo passo e d, sem ondi o~es, e dada por
N (d; d) + N (d; e)
f (d; qualquer) = (4.13)
L
obviamente diferente do primeiro fa tor do segundo termo da eq.(4.12). Es-
tas onsidera ~oes levam-nos a introduzir a no ~ao de probabilidade ondi-
ionada, p(djd), a probabilidade de o segundo passo ser d dado que o primeiro
tambem e. Tendo em aten ~ao a eq.(4.12) esta probabilidade e denida pela
equa ~ao
p(d; d) p(djd) p(qualquer; d) = p(djd) p (4.14)
e orrespondera ao valor esperado para a frequên ia N (d; d)=(N (d; d) +
N (e; d)).
Podemos agora dar um signi ado pre iso ao on eito de independên ia
de a onte imentos. A ideia que o segundo passo n~ao tem qualquer rela ~ao
om o primeiro, signi a, n~ao apenas que a probabilidade de o segundo passo
ser d e igual a p, mas tambem que o valor do primeiro n~ao têm infuên ia
nas frequên ias de o orrên ia do segundo. Isto e que o valor esperado das
92 CAP
STICOS
raz~oes:
N (d; d)
( aminhos em que o primeiro passo e d)
N (d; d) + N (e; d)
N (d; e)
( aminhos em que o primeiro passo e e)
N (d; e) + N (e; e)
N (d; d) + N (d; e)
(todos os aminhos) (4.15)
L
e o mesmo, p. Por outras palavras
p(djd) = p(dje) = p (4.16)
e, idênti amente para um segundo passo e,
p(ejd) = p(eje) = q = (1 p) (4.17)
Quando estas ondi ~oes s~ao veri adas dizemos que os passos s~ao indepen-
dentes e obtemos
p(d; d) = p2 (4.18)
p(d; e) = p(e; d) = pq = p(1 p) (4.19)
p(e; e) = q2 = (1 p)2 (4.20)
om uma generaliza ~ao obvia para qualquer numero de passos.
Assim, por exemplo, a probabilidade de o orrên ia de um dado passeio
de N passos, em que Nd s~ao d (e N Nd s~ao e) sera
p( ) = pNd qN Nd (4.21)
Na situa a~o em que p = q = 21 esta probabilidade e 1=2N , isto e todos os
passeios tem a mesma probabilidade de o orrên ia. E importante notar que
a eq.(4.21) da a probabilidade de um passeio determinado e n~ao a proba-
bilidade de o numero de passos de tipo d ser Nd . Para obter esta ultima
teramos que somar a anterior sobre todos os passeios om Nd passos d.
Vari
aveis aleat
orias
O deslo amento de uma part ula ao m de N passos de um passeio aleatorio,

XN , e um exemplo de uma variavel aleatoria. A ada um dos a onte imentos
possveis ( ada aminho) orresponde um valor de XN . Por exemplo para
N = 3 temos (ver eq(4.3))
X3 (e1 ) = 3 (4.22)
X3 (e2 ) = X3 (e3 ) = X3 (e4 ) = 1 (4.23)
X3 (e5 ) = X3 (e6 ) = X3 (e7 ) = 1 (4.24)
X3 (e8 ) = 3 (4.25)

O deslo amento no primeiro passo e outro exemplo de uma variavel aleatoria,

que podemos denir no mesmo espa o de a onte imentos:
1 (e1 ) = 1 (e2 ) = 1 (e3 ) = 1 (e5 ) = 1 (4.26)
1 (e4 ) = 1 (e6 ) = 1 (e7 ) = 1 (e8 ) = 1: (4.27)
Com efeito, a variavel X3 pode ser es rita omo uma soma X3 = 1 + 2 + 3
usando a deni ~ao orrente de soma de fun ~oes om valores em R.
Como estamos a onsiderar espa os de probabilidade dis retos e nitos
as varaveis aleatorias tomam um onjunto de valores tambem dis reto e
nito. Cada um destes valores orresponde a um dado sub onjunto de U .
Por exemplo o valor X3 = 1 orresponde ao onjunto de a onte imentos
S = fe2 ; e3 ; e4 g. A ada valor de uma dada variavel aleatoria podemos
asso iar uma probabilidade de o orrên ia. Por exemplo a probabilidade de
X3 valer 1 seria p2 + p3 + p4 . De um modo geral, para uma variavel a
probabilidade de , om valores (ei ) 2 fx1 ; x2 ; x3 : : : xpg, tomar o valor x
sera X
p (x ) pi (4.28)
fi:(ei )=x g
em que a soma in lui apenas os a onte imentos ei tais que (ei ) = x Esta
equa ~ao dene a distribui a~o de probabilidade de , a fun ~ao p (x).
Como exemplo vamos determinar a distribui ~ao de probabilidade de XN .
De a ordo om a deni ~ao
X
PN (x) = p( ) (4.29)
f :XN ( )=xg
em que a soma e sobre todos os passeios de N passos uja posi a~o nal
e x 2 f N; : : : ; N g. A posi ~ao nal pode ser dada em termos do numero
de passos Nd para a direita, x = Nd Ne = 2Nd N . A probabilidade
orrespondente e p( ) = pNd (1 p)N Nd . Todos os termos da soma da
eq.(4.29) tem o mesmo valor. Deste modo
PN (x) = pNd (1 p)N Nd
N (Nd ) (4.30)
em que
N (Nd ) e o numero de passeios de N passos om Nd para a direita
sendo Nd = (x + N )=2. Este numero e dado por
N!

N (Nd ) = (4.31)
(N Nd )!Nd !
Eis um argumento que podera onven er o leitor da validade desta formula
(ver g.(4.3)). Representemos os N passos por N aixas vazias. Para es-
pe i ar um aminho om Nd passos d temos que pegar em Nd smbolos d e
94 CAP
STICOS
d d d
Figura 4.3: para espe i ar um aminho om Nd passos d num total de N
temos que es olher Nd aixas de um total de N .
olo a-los em Nd das N aixas. Como temos N es olhas para a primeira aixa
a preen her, N 1 para a segunda, et , teremos N (N 1)(N 2) : : : (N
Nd + 1) possibilidades. Mas deste modo geramos ada passeio mais do que
uma vez. De fa to duas es olhas orrespondentes ao mesmo onjunto de
aixas preen hidas, es olhidas numa ordem diferente, representam o mesmo
aminho. Cada aminho e, pois, gerado Nd ! vezes por este pro esso. O
numero de aminhos distintos sera N (N 1) : : : (N Nd + 1)=Nd !, que e a
express~ao es rita na eq.(4.30).
Em resumo
N! 1
PN (x) = pNd (1 p)N Nd ; Nd = (x + N ) (4.32)
(N Nd )!Nd ! 2
Os valores de PN (x) para N = 100 est~ao representados na g.(4.4) pela urva
ontnua (note-se que P (x) = 0 se x for mpar). Sobrepostos a esta urva
est~ao os valores da frequên ia relativa de o orrên ia de ada valor de XN
numa simula ~ao em que foram gerados 1000 passeios de 100 passos. O valor
de p utilizado foi de p = 0:7. Existe um pi o pronun iado junto a x 30.
Na se ~ao seguinte introduzimos on eitos que permitem des rever, su inta-
mente, ara tersti as salientes de distribui o~es de probabilidade omo esta,
om valores signi ativos numa regi~ao limitada.
Valores m
edios. Vari^
an ias
Consideremos a seguinte experiên ia. Uma man ha de orante e inje tada

num anal estreito om um uido em movimento. A man ha deslo a-se
e alarga-se. Cada part ula de orante tem um movimento errati o que
podemos representar por um passeio aleatorio, om algumas das simpli-
a ~oes referidas nos in io deste aptulo. O numero de passos representa o
tempo que de orreu desde a inje a~o. Ha, obviamente, um grande numero
de part ulas na man ha. Cada part ula orresponde a uma realiza ~ao
de um passeio aleatorio e a fra ~ao de part ulas numa dada posi ~ao e a
frequên ia relativa de o orrên ia dessa posi ~ao. Isto signi a que, a prob-
abilidade PN (x) de o deslo amento de uma part ula ser x ao m de N
passos, deve ser proxima da fra ~ao de part ulas que ao m de N passos
tem posi ~ao x. Por outras palavras a distribui ~ao de probabilidade PN (x)
e a distribui ~ao esperada de part ulas de orante no anal. Na g(4.5)

0.08
0.06
0.04
0.02
0
-100 -50 0 50 100
Figura 4.4: A distribui a~o de probabilidade da posi ~ao ao m de 100 passos.

As barras orrespondem as frequên ias relativas obtidas numa simula a~o em
que foram realizados 1000 passeios de 100 passos. Foi usado p = 0:7.
mostra-se a evolu a~o desta distribui ~ao em fun a~o do tempo (numero de
passos). O valor ini ial P0 (x) e nulo para todo o x 6= 0 sendo P0 (0) = 1. A
evolu ~ao pode ser obtida atraves do al ulo expl ito da formula da eq.(4.32)
ou re ursivamente, seguindo o metodo do problema 44.
Uma ara teriza a~o ompleta da distribui ~ao de massa do orante exige o
onhe imento de PN (x). Por outro lado pare e possvel denir uma posi a~o
media e uma largura para esta distribui ~ao . Suponhamos que ara terizamos
a posi ~ao media pelo entro de massa da man ha de orante. Designando por
n(x) o numero de part ulas om posi ~ao x, (e M o numero total) teramos
X
MX m = xn(x) (4.33)
x
(tendo todas as part ulas a mesma massa, esta an ela nos dois membros
desta equa ~ao), ou
X n(x)
X m = x (4.34)
x M
n(x)=M e a frequên ia relativa de o orrên ia de uma posi ~ao x. O seu valor
esperado e, por deni ~ao , PN (x). O valor esperado para a posi a~o do entro
de massa ao m de N passos e, ent~ao
X
< XN >= xPN (x) (4.35)
x
96 CAP
STICOS
0.25 0.25
t=0 t=20
0.2 0.2
0.15 0.15
0.1 0.1
0.05 0.05
0 0
-100 -50 0 50 100 -100 -50 0 50 100
0.25 0.25
t=40 t=60
0.2 0.2
0.15 0.15
0.1 0.1
0.05 0.05
0 0
-100 -50 0 50 100 -100 -50 0 50 100
0.25 0.25
t=80 t=100
0.2 0.2
0.15 0.15
0.1 0.1
0.05 0.05
0 0
-100 -50 0 50 100 -100 -50 0 50 100
0.25 0.25
t=120 t=140
0.2 0.2
0.15 0.15
0.1 0.1
0.05 0.05
0 0
-100 -50 0 50 100 -100 -50 0 50 100
Figura 4.5: evolu ~ao temporal ( om o numero de passos) da distribui ~ao de

probabilidade da posi ~ao de uma part ula que realiza um passeio aleatorio
om p=0.7

Isto onduz-nos a deni a~o geral de valor medio, ou valor esperado, de uma
variavel aleatoria om distribui ~ao de probabilidade P (x)
X
< > xP (x) (4.36)
x
Note-se que esta deni a~o tambem pode ser expressa atraves de uma soma
sobre todos os elementos ei do espa o de a onte imentos U
X
< >= (ei )pi (4.37)
ei 2U
N~ao e dif il transformar esta equa ~ao na anterior, se nos lembrarmos que
P (x) e a soma dos pi 's sobre todos os a onte imentos para os quais (ei ) = x.
Esta no a~o de valor medio esta tambem rela ionada om a no ~ao orrente
de media de um onjunto de valores. Supondo que ha M part ulas de
orante a media das suas posi ~oes e
x + : : : + xM
x= 1 (4.38)
M
Mas, e laro que em vez de somar as posi o~es de todas as part ulas, podemos
somar sobre todos os valores possveis de posi a~o , x, multipli ando ada um
pelo numero de vezes que o orre na soma da eq.(4.38) isto, e pelo numero
de part ulas om essa posi a~o, n(x). As eqs.(4.33) e (4.38) s~ao equiva-
lentes. O valor medio de XN e o valor esperado para x quando M e grande.
No apêndi e C juntam-se algumas propriedades de valores medios que s~ao
onsequên ias quase dire tas da deni a~o dada aqui.
Quando medimos a posi ~ao de uma part ula que realiza um passeio
aleatorio, n~ao esperamos en ontrar o valor medio. Quando repetimos uma
experiên ia e medimos uma variavel aleatoria, obtemos valores diferentes.
E apenas a media desses valores que esperamos que seja proxima do valor
medio da variavel. Podemos denir uma nova variavel aleatoria que mede
os desvios relativamente ao valor medio
<> (4.39)
P (x) , a probabilidade de ter o valor x, e tambem a probabilidade de
ter o valor x < >. O valor medio de e
X
< >= (x < >)P (x) =< > < >= 0 (4.40)
x
A media de e zero porque os respe tivos valores podem ser positivos ou
negativos. Para estimar a dispers~ao dos valores de em torno do seu valor
medio temos que usar jj, ou (o que resulta ser mais onveniente do ponto de
98 CAP
STICOS
vista analti o) 2 . Dene-se a variân ia de uma variavel aleatoria , omo

o valor medio de ( < >)2
2 < ( < >)2 > (4.41)
p
A grandeza < ( < >)2 > e designada por desvio padr~ao.
Voltando a g.(4.5) os visveis deslo amento e alargamento da distribui ~ao
de probabilidade om o numero de passos dados, poder~ao ser ara terizados
pelas dependên ias de < XN > e XN em N . Usando o fa to que
XN = 1 + 2 + : : : + N (4.42)
e que os passos s~ao a onte imentos independentes, e possvel mostrar os
seguintes resultados:
< XN > = N
p<> (4.43)
XN = N (4.44)
em que e o deslo amento num so passo (qualquer um). Vejamos omo.
A eq.(4.43) resulta dire tamente do fa to de XN ser uma soma de variaveis
om a mesma distribui ~ao de probabilidade, e onfere om a nossa no ~ao in-
tuitiva de media (para uma prova mais formal ver o Apêndi e C). Se o
deslo amento medio num passo e < > o deslo amento medio em N deve
ser N < >. N~ao penso que o segundo resultado seja t~ao intuitivo. Podemos
es rever
XN = XN 1 + N (4.45)
Subtraindo o valor medio, usando a eq.(4.43) e quadrando vem
(XN < XN >)2 = (XN 1 < XN 1 >)2 + (N < >)2
+ 2(XN 1 < XN 1 >)(N < >) (4.46)
Tomando o valor medio
XN2 = XN2 1 +
2 + 2 < (X
N 1 < XN 1 >)(N < >) > (4.47)
O ultimo termo e nulo. Sen~ao vejamos. Para o al ular temos que somar
sobre todos os aminhos de N passos, N :
< (XN 1 < XN 1 >)(N < >) >=
X
(XN 1 < XN 1 >)(N < >)p( N) (4.48)
N
A soma pode ser feita somando sobre todos os aminhos posveis de N 1
passos N 1 e sobre os dois valores possveis do ultimo passo. Como os
p
FLUTUAC ~
OES EM 1= N 99
passos s~ao independentes p( N ) = p( N 1 )p(N ). A soma sobre os valores

do ultimo passo faz apare er um fa tor
X
(N < >)p(N ) (4.49)
N =1
que n~ao e mais do que < (N < >) >= 0. Podemos on luir
XN2 = XN2 1 + 2 (4.50)
Esta rela ~ao pode ser iterada para dar a variân ia de XN omo a soma das
variân ias de ada passo
XN2 = 12 + : : : + N2 = N (4.51)
que e equivalente a eq.(4.44)
O aspe to mais interessante deste resultado e que, a medida que N au-
menta XN vai ando ada vez mais bem denido, em erto sentido menos
aleatorio. Isto porque o p desvio padr~ao, que e uma estimativa da utua ~ao
de XN , aumenta omo N , enquanto que os valores tpi os de XN , es-
timados por < XN p >, aumentam omo N . A in erteza relativa de XN ,
XN = < XN > 1= N , tende para zero quando N ! 1. Este resultado,
omo vimos, e valido para qualquer variavel que seja a soma de N variaveis
independentes, om a mesma distribui a~o de probabilidade. E para variaveis
omo estas que a designa ~ao de valor esperado, para o valor medio pare e
mais apropriada. Com efeito, no limite N 1 os desvios em torno do valor
medio s~ao muito menores que o proprio valor medio.
Flutua ~oes em 1= N
p
O resultado deduzido na se ~ao anterior têm uma importân ia que trans-
ende largamente o âmbito do passeio aleatorio. Para o ompreender volte-
mos aos dois exemplos om que ini iamos este aptulo.
Imaginemos uma regi~ao A de um re ipiente om gas. Suponhamos que a
probabilidade de uma part ula se en ontrar em A e p. Para ada part ula
podemos denir uma variavel aleatoria i que vale 1 se a part ula se en-
ontrar em A e 0 se estiver no resto do re ipiente. Fa ilmente se veri a
que
<> = p (4.52)
2
= p(1 p) (4.53)
Ex epto quando p e proximo de 1 ou de 0 sera uma variavel om utua ~oes
(medidas por ) da ordem do respe tivo valor medio. O numero de
part ulas em A pode es rever-se omo
NA = 1 + 2 + : : : + N (4.54)
100 CAP
STICOS
em que N e o numero total de part ulas (quando i = 0 a part ula i,

que esta fora de A, n~ao ontribui para a soma). Como as part ulas s~ao
razoavelmente independentes num gas diludo, podemos apli ar o resultado
da se a~o anterior para on luir
< NA > = N
p<> (4.55)
NA = N (4.56)
ou seja,
NA 1
=p (4.57)
< NA > N
p
Para um valor tpi o de N 1023 o fa tor 1= N 3 10 12 . As varia ~oes
esperadas de NA (medidas por NA ) s~ao doze ordens de grandeza inferiores
ao valor esperado para NA . Por outras palavras, em ir unstân ias normais,
as utua ~oes aleatorias de NA s~ao indete taveis. Por exemplo, se a probabil-
idade de en ontrar uma mole ula em A for 1=2 (< >= 1=2) e N = 6 1023
podemos dizer que o numero de part ulas em A e 3 1023 visto que as
utua ~oes de NA s~ao da ordem de 1012 , e so seriam visveis se a pre is~ao de
medida de NA tivesse er a de 12 algarismos signi ativos!
Uma situa ~ao inteiramente semelhante se veri a om o segundo exem-
plo que referimos, o do de amento radioa tivo de 13 N . Para ada nu leo
denimos uma variavel i que vale 1 se o nu leo de ai em num erto intervalo
e 0 se n~ao de ai. O numero de de amentos e Nd = 1 + : : : + N e por isso,
Nd 1
< Nd >
p : (4.58)
N
Numa amostra om um numero de nu leos ma ros opi o, para todos os
efeitos, o valor medio < Nd > e o valor observado numa uni a experiên ia.
Creio que isto e su iente para ver que este me anismo e extremamente
geral. Para variaveis extensivas, somas de um numero, N , muito elevado de
grandezas mi ros opi as, relativas a atomos ou mole ulas individuais, ( omo
s~ao normalmente as grandezas ma ros opi amente mensuraveis, numero de
part ulas, massa, arga, energia, quantidade de movimento, et ) a desor-
dem, a aleatoriedade, veri ada ao nvel mole ular, n~ao se manifesta
p a nvel
ma ros opi o. As utua ~oes dessas grandezas res em omo N mas os
respe tivos valores res em propor ionalmente a N . Os valores observados
s~ao, fundamentalmente, os respe tivos valores medios.
Feynman Le tures on Physi s, Feynman Leighton & Sands, vol I, ap.
6
Cap
tulo 5
Teoria ineti a dos gases

O Estado Gasoso
As Intera
~oes num G
as Dilu
do
Na primeira parte do urso estimamos densidades de solidos e lquidos e

hegamos a on lus~ao que as distân ias entre atomos vizinhos s~ao da ordem
de grandeza dos tamanhos do atomos. A situa ~ao, no aso dos gases em
ondi ~oes normais de press~ao e temperatura (P = 1 atm, T = 300 K), e
muito diferente. Sabemos que uma mole de gas o upa 22:3 litros. Isto e o
volume por mole ula ou atomo e:
22 10 3
v 4 10 26 m3 : (5.1)
6 1023
A distân ia tpi a entre part ulas vizinhas e:
p
d V 1=3 3 40 10 9 3:5 10 9 m 35 A (5.2)
Um gas e ent~ao um sistema diludo em que as distân ias entre part ulas s~ao
muito maiores que os respe tivos tamanhos. Como as for as de intera ~ao
entre atomos ou mole ulas de aem rapidamente om a distân ia e de esperar
que nos gases o efeito destas for as seja muito mais reduzido que nos solidos
e lquidos.
Com efeito, existe ampla evidên ia que nos gases as part ulas onstitu-
intes mantêm inta tas, em grande parte, as propriedades que as ara terizam
individualmente. Isso e parti ularmente evidente nos espe tros de emiss~ao.
Os espe tros atomi os, atraves dos quais identi amos as diferentes espe ies
atomi as, s~ao, na realidade, espe tros emitidos por atomos na fase gasosa.
A raz~ao porque remos que s~ao ara tersti os dos atomos que ompoem o
gas resulta do fa to de, no essen ial, os espe tros n~ao dependerem do grau
101
102 CAP
TULO 5.
TEORIA CINETICA DOS GASES
de dilui ~ao ou temperatura do gas. Note-se que num solido o espe tro e
radi almente alterado relativamente ao dos atomos que o onstituem.
Assim, somos levados a supor que uma boa parte do seu tempo as
part ulas de um gas n~ao est~ao sujeitas a for as movendo-se om velo i-
U(r)
dade onstante. Mas e obvio que isto n~ao pode ser a historia ompleta. Se
representarmos a energia de intera a~o entre dois atomos de He, por ex-
emplo, em fun ~ao da distân ia entre os atomos obtemos algo semelhante
r a g.(5.1). Para grandes distân ias a intera ~ao e atra tiva (e fra a),
Figura 5.1: a intera ~ao entre dois
mas e muito d il omprimir a materia a densidades que orrespondem a
atomos e fortemente repulsiva a urtas distân ias interatomi as menores que o tamanho dos atomos. Os atomos
distân ia e fra amente atra tiva para s~ao impenetraveis. A energia de inetra ~ao res e rapidamente quando
distân ias grandes
as distân ias dos entros dos atomos s~ao menores que er a um diâmetro
atomi o.
Con lumos pois que o movimento uniforme das part ulas e interrompido
por eventos em que duas delas se aproximam entrando em a ~ao as for as
repulsivas. As duas part ulas tro ar~ao quantidades de movimento e energias
e separar-se-~ao retomando movimentos uniformes om velo idades diferentes
das que tinham. A abamos de des rever um pro esso de olis~ao!
Que numa olis~ao haja onserva ~ao de quantidade de movimento, n~ao
supreende pois quando duas part ulas olidem so entram em jogo for as
internas, e portanto e de esperar que haja onserva ~ao da quantidade de
movimento. Mas vamos tambem supor que as olis~oes entre as mole ulas
de um gas s~ao elasti as, isto e, ha onserva ~ao da energia ineti a. Para
que n~ao haja e ne essario que uma das part ulas que olide saia da olis~ao
num estado interno ex itado. A energia ineti a disponvel na olis~ao so
desapare e se apare er omo energia interna dos orpos que olidem. Ora
um atomo ou mole ula tem um onjunto dis reto de estados ex itados bem
denido. A onte e frequentemente que o estado nal e o mesmo que o ini ial,
pois a energia do movimento das mole ulas pode n~ao ser su iente para
fazer uma delas transitar para um estado ex itado. Nesse aso a olis~ao
e rigorosamente elasti a. Mesmo quando isso n~ao a onte e, a energia a
armazenada em graus de liberdade internos das mole ulas (vibra ~oes ou
rota ~oes). Noutras olis~oes pode a onte er que a energia de vibra ~ao de uma
mole ula se tranforme em energia de movimento de entro de massa. Numa
situa ~ao de equilbrio, em media, a energia ineti a total em ada olis~ao
n~ao deve variar; a energia ineti a total do gas deve manter-se onstante
no tempo (ao m ao abo sabemos da experiên ia que existem estados de
equilbrio, em que as propriedades do gas se mantêm onstantes no tempo).
Con luindo, hegamos a imagem de um gas omo um sistema diludo de
part ulas ujas intera ~oes se reduzem a olis~oes que onservam a quanti-
dade de movimento e a energia ineti a total das part ulas que olidem. A
velo idade de ada part ula a aba por ser imprevisvel quer devido a im-
O ESTADO GASOSO 103
possibilidade de prever exa tamente o resultado de uma olis~ao, quer devido

a impossibilidade de prever quais as olis~oes que v~ao o orrer.
Vamos pois re orrer a uma des ri ~ao probabilsti a da velo idade das
part ulas do gas. Mas antes de prosseguirmos onvem dizer algumas palavras
sobre o modo de tratar variaveis aleatorias ontnuas.
Vari
aveis aleat
orias ont
nuas
Tomemos omo exemplo uma variavel aleatoria que toma valores reais no
intervalo [0,1℄. Isto e, de ada vez que realizamos uma experiên ia obtemos
um valor real para neste intervalo. Vamos ver que n~ao e possvel denir
uma probabilidade P (x) de o valor de ser x.
Com efeito imaginemos por simpli idade que todos os valores de s~ao
igualmente provaveis. Suponhamos que realizamos N experiên ias om N
muito grande. De a ordo om a nossa interpreta a~o de probabilidade, P (x)
deveria ser o valor esperado da frequên ia om que e observado o valor x
para , N (x)=N , em que N (x) e o numero de experiên ias em que o orreu
o valor = x. Mas por maior que seja N , N (x) e zero para quase todos os
valores reais no intervalo [0; 1℄. Isto porque n~ao e possvel numerar numeros
reais. Ha \muitos mais" numeros reais que naturais. Visto de outro modo,
espe i ar um numero real deste intervalo e indi ar uma sequên ia innita
de numeros naturais, a sua expans~ao de imal. Se es olhermos os dgitos om
igual probabilidade (desde 0 a 9), todas as sequên ias (todos os numeros reais
do intervalo [0; 1℄, 1 = :9999 : : : se a expans~ao for innita) s~ao igualmente
provaveis. E om probabilidade nula que geraremos duas sequên ias iguais
(as sequên ias s~ao innitas). Em resumo, para N numeros reais teremos
N (x) = 1 e para os outros (quase todos) N (x) = 0. Em qualquer aso no
limite N ! 1 teremos sempre
P (x) = 0 (5.3)
Como podemos ent~ao des rever a probabilidade de o orrên ia de uma variavel
ontnua, omo por exemplo uma omponente da velo idade de um gas?
Consideremos o domnio de dividido em varios intervalos, [xi ; xi+1 ℄ ; i =
1; 2; : : :. N~ao ha qualquer di uldade em denir a probabilidade de estar
no intervalo [xi ; xi+1 ℄. Se realizarmos um numero su ientemente grande de
experiên ias, as frequên ias relativas
N (xi < < xi+1 )
(5.4)
N
dever~ao ser nitas, pelo menos para alguns dos intervalos pois,
X
N (xi < < xi+1 ) = N (5.5)
i
104 CAP
TULO 5.
(N (a < < b)=numero de vezes que toma valores entre a e b) e portanto:

X N (xi < < xi+1 )
=1 (5.6)
i N
Mas e obvio que, se o numero de intervalos aumentar e x = xi+1 xi ! 0, o
numero de termos nesta soma aumenta e, generi amente, ada termo devera
tender para zero propor ionalmente a x (pois 1=x e propor ional ao
numero de intervalos, isto e, de termos da soma). Assim quando:
P (x < < x + x) = (x)x (para x ! 0) (5.7)
hamamos a (x) a densidade de probabilidade da variavel . Para x
pequeno (x)x e a probabilidade de a variavel tomar valores no intervalo
[x; x + x℄.
Para al ular P (a < < b) usamos o esquema habitual de dividir [a; b℄
em intervalos x e somar P (x < < x + x) a todos os intervalos. No
limite x ! 0 (numero de intervalos ! 1 ) obtemos:
Z b
P (a < < b) = dx(x) (5.8)
a
Se so toma valores no intervalo [0; 1℄, devemos ter
Z 1
P (0 1) = dx(x) = 1:
0
Em geral teremos sempre para ada variavel real:
P( 1 < < 1) = 1 (5.9)
ou seja, a fun ~ao (x) devera obede er a ondi a~o de normaliza ~ao :
Z 1
dx(x) = 1: (5.10)
1
Como o integral de (x) em qualquer intervalo e uma probabilidade, e por
isso n~ao negativo, devemos exigir
(x) 0: (5.11)
A deni ~ao de valor medio e uma generaliza ~ao do que foi feito para variaveis
dis retas: Z 1
< >= dxx(x) (5.12)
1
Generi amente, para qualquer fun ~ao de
Z 1
< f ( ) >= dxf (x)(x): (5.13)
1
O ESTADO GASOSO 105
DISCRETA CONTINUA
Variavel; x1 ; x2 ; : : : 1 < < +1
Probabilidade (Densidade) P (xi ) (x)
P R +1
Normaliza a~o
P
i P (xi ) = 1 R1+1
dx(x) = 1
Valor medio; <> i xi P (xi ) dxx(x)
P R + 11
< f ( ) > i (xi )P (xi )
f 1 dxf (x)(x)
Tabela 5.1: orrespondên ias entre alguma deni ~oes relativas a variaveis
aleatorias dis retas e ontnuas.
Intuitivamente, podemos pensar nesta express~ao omo uma soma a todos

os intervalos innitesimais [x; x + dx℄ da respe tiva probabilidade (x)dx
vezes o valor que f ( ) toma quando esta nesse intervalo. Na tabela(5.1)
es revemos lado a lado alguns resultados para os asos de variaveis dis retas
e ontnuas.
Densidade de probabilidade de velo idade
Dada uma mole ula parti ular apenas podemos falar de probabilidade de
uma dada omponente da velo idade, vz , estar num dado intervalo. Somos
assim levados a denir a densidade de probabilidade de fz (v) omo
fz (v)dv = probabilidade de vz de uma mole ula
estar no intervalo [v; v + dv℄
Naturalmente dado o elevado numero de mole ulas, N , o numero de mole ulas
om velo idade vz nesse intervalo e Nfz (v)dv ou, por unidade de volume
(n N=V ):
nfz (v)dv = numero de mole ulas om omponente z de v
no intervalo [v; v + dv℄, por unidade de volume.
N~ao dis utiremos a forma expl ita de f (v) mas indi aremos algumas pro-
priedades gerais.
1. Num gas em equilbrio fz (v) = fz ( v) e < vz >= 0.
2. Num gas em equilbrio as densidades de probabilidade de qualquer
omponente da velo idade s~ao iguais. Isto e fx (v) = fy (v) = fz (v).
106 CAP
TULO 5.
Como onsequên ia
< vx >=< vx >=< vz > = 0

1 1
< vx2 >=< vy2 >=< vz2 > = < vx2 + vy2 + vz2 >= < v2 > :
3 3
Estas propriedades de f (v) s~ao laramente ne essarias dadas as ara -

tersti as ma ros opi as de um estado de equilbrio de um gas. Por exemplo,
suponhamos que < vz >6= 0. Cal ulemos a quantidade de movimento to-
tal do gas. Temos que somar mvz a todas as mole ulas do gas. Como ha
nfz (v)dv mole ulas om vz no intervalo [v; v + dv℄, temos, por unidade de
volume:
Z 1
pz = n dvmvfz (v)
1
= nm < vz > : (5.14)
Mas isso signi a que um volume V do gas tem uma quantidade de movi-
mento Pz = nV m < vz > : Do ponto de vista ma ros opi o, Pz e
dado pelo produto da massa desse volume, M = mnV , pela velo idade
ma ros opi a segundo z ,
Pz = mnV uz : (5.15)
Comparando estas duas equa ~oes , vemos que < vz > n~ao e mais que a
velo idade ma ros opi a de es oamento do gas. Para um gas em equilbrio,
sem transporte de massa < vz > (e < vx > e < vy >) s~ao nulos.
A propriedade (2) resulta da equivalên ia de todas as dire ~oes no espa o
no seio do gas (isotropia de propriedades).
Chamaremos de vrms a raiz quadrada do valor medio de v2 :
2 < v 2 >
vrms (5.16)
Veri a-se que a distribui ~ao de velo idades de um gas e ara terizada por
uma uni a es ala de velo idades, vrms . Ou seja, todos os valores medios n~ao
nulos se podem exprimir em termos de < v2 > (ou de vrms ),
< vin >= n vrms

n (5.17)
em que i = x; y; z e n e um parâmetro adimensional da ordem de 1 (que

depende de n). Para n mpar, omo f (v) = f ( v), < vin >= 0 (as on-
tribui ~oes de v > 0 an elam as de v < 0 pois para n mpar vn = ( v)n ).

CALCULO ~
DA PRESSAO.
FORMULA DE BERNOULLI. 107
Cal ulo da Press~ao. Formula de Bernoulli.

Suponha que desejava pôr a andar um vag~ao. Um vag~ao \a ademi o", isto
e, sem atrito. Poderia olo ar-se atras dele e empurra-lo om uma for a, F ,
onstante. De a ordo om a lei de Newton, a a elera ~ao seria a = F=M . O
movimento seria uniformemente a elerado e ao m de um tempo t,
MV (t) = F t (5.18)
Mas poderia ser ainda mais imaginativo. E ome ar a disparar bolas de tenis
ontra o vag~ao. Supondo que as bolas eram arremessadas om velo idade
vb e re e tidas no hoque om o vag~ao sem perdas de energia, a varia ~ao da
quantidade de movimento de ada bola seria
mb ( vb ) mb v = 2mb vb (5.19)
Por ada olis~ao o vag~ao adquire ent~ao , por onserva a~o de quantidade de
movimento
ÆP = 2mb vb (5.20)
Mantendo uma taxa de n arremessos por unidade de tempo, ao m de um
tempo t o vag~ao veria a sua quantidade de movimento alterada para
MV (t) = nt 2mb vb (5.21)
Se representassemos a quantidade de movimento do vag~ao em fun a~o do
tempo para as duas situa o~es onsideradas, teramos algo omo o que esta
representado na g.(5-2). Como mb M a varia ~ao de velo idade do vag~ao
por ada olis~ao e muito pequena. Para um grande numero de olis~oes a
quantidade de movimento do vag~ao torna-se, ontudo apre iavel. No gra o
da g.(5.2) onseguimos distinguir os impa tos individuais, mas podemos
fa ilmente imaginar uma situa ~ao em que a mesma velo idade fosse on-
seguida om muito mais olis~oes e menor varia a~o por olis~ao.
A formula da eq.(5.21) orresponde a re ta representada tambem na
g.(5.2) e so e valida para tempos muito superiores ao intervalo entre olis~oes,
e quantidades de movimento tranferidas muito superiores as de uma olis~ao.
Neste limite o efeito das olis~oes e equivalente ao de uma for a onstante
apli ada ao vag~ao e dada por ( .f eqs(5.21) e (5.18))
F = 2nmvb (5.22)
A nossa interpreta ~ao da press~ao exer ida por um gas nas paredes do
re ipiente que o ontem, tem um paralelo muito dire to om o efeito das
bolas de tenis no vag~ao. Ja tnhamos visto que um gas e um sistema diludo,
em que, na maior parte do tempo, as for as sobre ada part ula s~ao de-
sprezaveis. As intera ~oes reduzem-se a olis~oes. E pois natural supor que a
108 CAP
TULO 5.
V(t)
Figura 5.2: A velo idade do vag~ao para uma for a onstante (linha re ta) e
para uma su ess~ao de olis~oes om obje tos om massa muito menor que a
do vag~ao .
intera a~o do gas om as paredes e igualmente onstituda pelas olis~oes das

part ulas do gas om as referidas paredes. Deste modo ha uma transferên ia
de quantidade de movimento permanente do gas para a parede. Dada a pe-
quena massa das mole ulas a quantidade de movimento em ada olis~ao e
mi ros opi a, extremamente pequena a nossa es ala. Por isso essen ialmente
indete tavel. Mas o resultado de uma a umula ~ao de inumeros hoques e
uma for a ma ros opi amente mensuravel. Vamos agora al ula-la.
Tomemos omo dire ~ao do eixo dos zz a dire ~ao perpendi ular a parede
om o sentido positivo do gas para a mesma. Por simetria (se n~ao houver
movimento ma ros opi o do gas paralelamente a parede) as for as segundo
xx ou yy s~ao nulas. Havera, em media tantas olis~oes a transferir quanti-
dade de movimento na dire a~o de x positivo omo de x negativo e o efeito
resultante sera uma for a nula segundo x. Um argumento semelhante pode
ser apli ada a qualquer dire ~ao paralela a parede. Por isso pre isamos de
nos preo upar apenas om o al ulo da for a na dire ~ao perpendi ular a
parede.
Em media, ent~ao, as omponentes mvx e mvy da quantidade de movi-
mento de uma mole ula que olide om a parede n~ao variam (Fx = Fy = 0).
Por outro lado, numa situa ~ao de equilbrio, a energia ineti a das mole ulas
tambem n~ao varia pois n~ao ha transferên ia lquida de energia entre as pare-
des e o gas. Se vx e vy e v2 = vx2 + vy2 + vz2 n~ao variam, on lumos que jvz j n~ao

CALCULO ~
DA PRESSAO.
FORMULA DE BERNOULLI. 109
varia na olis~ao. Isto e, numa olis~ao, a omponente z da velo idade tro a ∆
de sinal, vz ! vz Cada olis~ao transfere uma quantidade de movimento
para a parede de:
ÆPparede = ÆPmole ula = (m( vz ) mvz ) = 2mvz (5.23)
em que m e a massa da mole ula. Mas, numa area A de parede, quantas
olis~oes ha num intervalo de tempo t ? Uma mole ula deslo a-se, neste
intervalo de tempo, de uma distân ia vz t na dire a~o da parede. Se a sua
distân ia ini ial a parede for superior a vz t, a mole ula n~ao olide neste
intervalo; se for inferior, ha olis~ao. As mole ulas que olidem s~ao ent~ao as
que est~ao num volume de base A e altura vz t. Sendo n o numero de
mole ulas por unidade de volume o numero de olis~oes om a parede neste
intervalo de tempo e na area A sera nvz tA (n volume em ausa), e a
quantidade de movimento transferida sera
P = nvz t 2mvz = 2mnAtvz2 (5.24) Figura 5.3: as mole ulas om vz = v,
que olidem om a parede num inter-
Ate ao momento temos ignorado um pequeno detalhe: nem todas as valo t têm que estar a uma distân ia
mole ulas têm o mesmo valor de vz . Como vimos atras nfz (v)dv e o numero desta inferior a vt.
de part ulas, por unidade de volume om omponente z da velo idade no
intervalo [v; v + dv℄. O ra io nio que zemos pode ser apli ado a estas
mole ulas. Basta-nos adi ionar o fa tor fz (v)dv. A quantidade de movi-
mento transferida por estas mole ulas sera
P = 2mnAtv2 fz (v)dv (mole ulas om vz 2 [v; v + dv℄) (5.25)
Para obter a quantidade de movimento total transferida por unidade de
tempo e de area, isto e, a for a por unidade de area, a Press~ao, teremos
que dividir por At e somar sobre todos os intervalos [v; v + dv℄. Note-se
que nestas equa ~oes esta impl ito o limite dv ! 0 , ou seja a \soma" e, na
realidade, um integral
Z 1
Press~ao = 2mn dvfz (v)v2 (5.26)
0
Somamos apenas sobre v > 0 pois mole ulas om vz < 0 n~ao olidem om a
parede. Mas, omo o numero de mole ulas om velo idade vz = v e igual
ao de mole ulas om velo idade vz = v (fz (v) = fz ( v)) podemos somar
sobre todos os valores de vz e dividir por 2:
Z 1
Press~ao = mn dvfz (v)v2 (5.27)
1
O integral e a soma, sobre todos os valores v da variavel vz , da respe tiva
probabilidade fz (v)dv vezes o valor de vz2 = v2 ; e pois o valor medio de de
vz2 (ver Tabela(5.1)).
Press~ao = mn < vz2 > (5.28)
110 CAP
TULO 5.
Como todas as dire ~oes s~ao equivalentes no gas, podemos es rever:

1
< vx2 >=< vy2 >=< vz2 >= < v2 > (5.29)
3
Chegamos nalmente a equa ~ao de Bernoulli
1
P = mn < v2 > (5.30)
3
que rela iona uma propriedade ma ros opi a gas, a press~ao, om propriedades
mi ros opi as do onjunto de part ulas que o onstituem. Como a energia
ineti a de uma mole ula e = mv2 =2 esta formula pode ser rees rita na
forma
2
P = n < > (5.31)
3
Interpreta ~ao Mi ros
opi a de Temperatura
Energia Cin
eti a e Temperatura
A densidade de part ulas, n que surge na equa ~ao de Bernoulli e n = N=V

em que N e o numero de part ulas e V o volume do gas. Podemos pois
reees rever a equa ~ao omo
2
P V = N < > (5.32)
3
Esta forma sugere uma ompara ~ao om a equa ~ao dos gases perfeitos, que
resume as observa o~es empri as sobre o omportamento dos gases em gamas
importantes de press~ao, volume e temperatura:
P V = nmolesRT (5.33)
Como o numero de moles e nmoles = N=Na em que Na e o numero de
Avogadro, obtemos:
P V = NkB T (5.34)
om kB R=Na , a onstante de Boltzmann (no SI vale 1:38 10 23 J K 1 ).
A ompara ~ao destas duas equa ~oes sugere uma rela ~ao entre a grandeza
ma ros opi amente observavel, temperatura, e a energia ineti a media das
part ulas do gas:
3
< >= kB T (5.35)
2
ou, em termos de velo idade:
2 = 3kB T
vrms : (5.36)
m
INTERPRETAC ~
AO
MICROSCOPICA DE TEMPERATURA 111
Como exemplo, fa amos uma estimativa para o oxigenio (O2 , mole ula om
dois atomos de O e massa m 32 u.m.a) em ondi o~es normais de press~ao
e temperatura (P = 1 atm = 105 Pa, T = 300 K):
s s
3kB T 3 1:38 10 23 300
vrms = =
m 32mp
480 m s 1 (5.37)
Do ponto de vista da teoria ineti a o on eito de temperatura apare e
asso iado a energia ineti a das part ulas que onstituem o gas. Mas e
importante salientar que este on eito e autonomo desta interpreta a~o. O
aspe to fundamental do on eito de temperatura a nvel ma ros opi o e o de
equilbrio termi o. Dois sistemas em onta to ter~ao, no estado de equilbrio,
a mesma temperatura. Quer isto dizer que dois gases em onta to ter~ao a
mesma energia ineti a por part ula. Vamos seguidamente analisar uma
situa ~ao muito parti ular, um modelo, que eviden ia de um modo laro a
rela ~ao entre o equilbrio termi o e a energia ineti a media. O modelo
que vamos apresentar permite-nos deduzir de um modo relativamente sim-
ples um resultado que e um exemplo on reto de um teorema muito mais
geral. Vai tambem permitir-nos ompreender melhor a no ~ao de alor omo
transferên ia de energia.
Equil
brio entre um g
as e um pist~
ao m
ovel.
Tomemos um gas em onta to om um pist~ao movel de massa M . O pist~ao

esta asso iado a uma mola que se ontrai ate que a for a exer ida sobre o
pist~ao an ele as for as de press~ao do gas. Mas e importante salientar que
o pist~ao n~ao a em repouso. De ada vez que ha uma olis~ao om uma
mole ula ha uma transferên ia de quantidade de movimento para o pist~ao.
A sua velo idade segundo z , que designaremos por Vz , e ent~ao tambem uma
variavel aleatoria om uma densidade de probabilidade gz (V ).
Consideremos ent~ao uma olis~ao de uma mole ula do gas (massa m) om
o pist~ao. Sejam vz e Vz as velo idades ( omponentes z ) da mole ula e do
pist~ao antes da olis~ao e vz0 e Vz0 os valores orrespondentes apos a olis~ao.
A onserva ~ao da quantidade de movimento impli a:
mv0 + MV 0 = mvz + MVz :
z z (5.38)
Como o pist~ao so se move segundo z , para as omponentes x e y temos
apenas:
mvx0 = mvx
mvy0 = mvy (5.39)
112 CAP
TULO 5.
e em onsequên ia a onserva a~o de energia ineti a tem a forma:

1 02 1 1 1
mv z + MV 0 2z = mvz2 + MVz2 (5.40)
2 2 2 2
O nosso obje tivo e exprimir as velo idades apos a olis~ao em termos das
velo idades antes. Uma maneira expedita e a seguinte. A eq.(5.40) pode
tomar a forma:
m(v0 2z vz2 ) = M (V 0 2z Vz2 )
ou
m(v0 z vz )(v0 z + vz ) = M (V 0 z Vz )(V 0 z + Vz ): (5.41)
A equa ~ao da quantidade de movimento (eq.(5.38))impli a m(v0 z vz ) =
M (V 0 z Vz ),pelo que, em onjunto om esta, da
m(v0 z vz ) = M (V 0 z Vz )
v 0 z + vz = V 0 z + Vz :
Nesta forma n~ao e dif il determinar as velo idades nais em termos das
ini iais. Por exemplo, a velo idade do pist~ao e dada por
(1 m=M ) 2m=M
Vz0 = Vz + v (5.42)
(1 + m=M ) 1 + m=M z
No lado direito est~ao as velo idades antes da olis~ao. Do lado esquerdo, as
velo idades depois da olis~ao. Quadrando a equa ~ao obtemos ( m=M ):

1 2 2 2 2 2 4(1 )
V 0 2z = Vz + vz + Vv: (5.43)
1+ 1+ (1 + )2 z z
Em ada olis~ao os valores ini iais de Vz e vz s~ao diferentes. Se tomar-
mos agora o valor medio do lado direito, relativamente as distribui ~oes de
velo idade de Vz e vz , obtemos do lado esquerdo o valor medio de V 0 2z , o
quadrado da velo idade apos uma olis~ao. O ponto ru ial do argumento e
este: numa situa a~o de esta ionaridade (equilbrio) < Vz2 > n~ao varia, isto
e, < V 0 2z >=< Vz2 >. Por outro lado vamos admitir, que n~ao ha orrela ~ao
entre vz e Vz , isto e :
< vz Vz >=< vz >< Vz > : (5.44)
No fundo, estamos apenas a dizer que a densidade de probabilidade de Vz
e independente do valor da velo idade da proxima mole ula que vai ho ar
om a parede. Mas no estado de equilbrio < Vz >= 0 (note-se que < vz >
n~ao e nulo pois trata-se duma media sobre as mole ulas que v~ao ho ar om
a parede). Ent~ao obtemos < vz >< Vz >= 0 e:
1 2 42
< V 0 2z >= ( ) < Vz2 > + < vz2 > : (5.45)
1+ (1 + )2
INTERPRETAC ~
AO
MICROSCOPICA DE TEMPERATURA 113
om a ondi ~ao de esta ionaridade:

< V 0 2 >=< V 2 > :
z z (5.46)
vem !
(1 )2 2 >= 4
2
1 < V z < vz2 > (5.47)
(1 + )2 (1 + )2
que onduz ao resultado:
m
< Vz2 >= < vz2 >= < vz2 > (5.48)
M
Em termos das energias ineti as do pist~ao , E e part ulas do gas, ,
obtemos omo ondi ~ao de equilbrio:
1
< E >= < > (5.49)
3
Antes de prosseguirmos onvem referir um ponto. Apli amos a lei da on-
serva ~ao da quantidade de movimento, que e valida apenas para sistemas
isolados sem for as exteriores. Mas, na realidade, a mola que segura o pist~ao
exer e sobre ele uma for a. No intervalo de tempo t, que dura a olis~ao,
essa for a faz variar a quantidade de movimento do pist~ao de F t. Se o
tempo de intera ~ao de uma mole ula om o pist~ao for urto podemos, nesse
intervalo, onsiderar o movimento do pist~ao omo livre (aparte a olis~ao).
Entre olis~oes esta for a in uen iara o movimento do pist~ao.
Mais importante que este detalhe e hamar a aten ~ao para o resultado.
O \equilbrio" do pist~ao e na realidade ara terizado por uma utua ~ao
ontnua da sua posi a~o e velo idade. Essa vibra ~ao do pist~ao n~ao e ob-
servavel ma ros opi amente porque a energia ineti a media do pist~ao e da
ordem de grandeza da energia ineti a media de uma mole ula do gas (o
fa tor 1=3 resulta da restri ~ao do movimento do pist~ao a uma dire ~ao ape-
nas). Por exemplo, se M = 100 g e vrms 480 m s 1 ( ondi ~oes normais de
press~ao e temperatura de O2 ):
s
q
m<v > 2
< Vz2 > M 3
0:28 A s 1 !!
(5.50)
A velo idade tpi a do pist~ao e inferior a um angstrom por segundo! Mas
reparemos no que a onte e se o pist~ao separar dois gases. Por um lado, para
haver equilbrio om o gas 1
1
< E >= < >1 (5.51)
3
114 CAP
TULO 5.
e tambem om o gas 2
1
< E >= < > (5.52)
3 2
o que impli a que so ha equilbrio quando as energias ineti as medias por
part ula de ada gas forem iguais!
Suponhamos que ini ialmente um dos gases tem uma agita ~ao menor,
h i1 < h i2 . As olis~oes do gas 2 om o pist~ao v~ao-lhe omuni ar ener-
gia enquanto hE i < h i2 .Mas isso signi a que a energia media do pist~ao
sera superior a das mole ulas do gas 1 e estas, nas olis~oes om o pist~ao,
a abar~ao por re eber energia. E pois atraves do movimento ma ros opi a-
mente imper eptvel do pist~ao que a energia das mole ulas de 2 se transfere
lentamente para o gas 1. E a esta transferên ia de energia, n~ao a ompan-
hada de movimentos ma ros opi amente dete taveis, que hamamos alor.
O alor uira atraves do pist~ao ate que as energia ineti as medias dos gases
{ as suas temperaturas { sejam iguais! Esta situa ~ao e um pou o irreal-
ista porque o pist~ao, um obje to ma ros opi o, foi tratado omo um uni o
grau de liberdade (movimento do seu entro de massa). Este resultado e
um exemplo de um teorema geral da fsi a estatsti a lassi a (Teorema da
Equiparti ~ao de energia) que arma que, em ada grau de liberdade existe,
em equilbrio termi o, uma energia kB T=2 (uma part ula em três dimens~oes
têm três graus de liberdade de movimento de entro de massa).
Feynman Le tures on Physi s, Feynman Leighton & Sands, vol I, Cap.
39 a 43.
Introdu a~o a Fsi a da Materia, J. Bessa de Sousa. Estas notas podem
ser en ontradas na Bibliote a do Departamento de Fsi a da Universi-
dade do Porto.
Introdu a~o a Fsi a , Jorge Dias de Deus, Mario Pimenta, Ana Noronha,
Teresa Pe~na, Pedro Brogueira, M Graw-Hill, ap 6.
Ap^
endi e A
Geometria da Elipse
A soma das distân ias um ponto da elipse a ada um fo os, d + d0 , e on-
stante. A linha que passa pelos dois fo os e um eixo de simetria da elipse.
O segmento desta linha interior a elipse e o eixo maior e tem omprimento
2a, em que a e o semi-eixo maior da elipse. O afastamento de ada fo o
do entro da elipse e naturalmente menor que a e vale ea o que dene a
ex entri idade, e. Para o ponto A, sobre o semi-eixo maior
d = (1 e)a (A.1)
d0 = (1 + e)a (A.2)
o que da, para todos os pontos da elipse, d + d0 = 2a. Para o ponto B , sobre
o semi-eixo menor q
d = d0 = b2 + (ea)2 (A.3)
B
ist e, b2 + (ea)2 = a2 ou seja
d'
p d ea
b = a 1 e2 (A.4)
(1-e)a
A
F F'
Figura A.1: uma elipse om fo os F e

F 0.
115
116 ^
APENDICE A. GEOMETRIA DA ELIPSE
Ap^
endi e B

Area e Produto Ve torial
A area do paralelogramo denido por dois ve tores a e b e dada por
= jajjbjjsenj (B.1)
(base = a, altura= jbjjsenj Mas:
s
jsenj = 1 os2 = 1 ( jaajj bbj )2
p
(B.2)
isto e: s
(a b)2 q 2 2
= jajjbj 1
jaj2 jbj2 = jaj jbj (a b)2 (B.3)
Desenvolvendo em omponentes:
jaj2 = a2x + a2y (B.4)
jbj2 = b2x + b2y (B.5)
(B.6)
obtem-se:
q
= a2x b2y + a2y b2x 2ax bx ay by (B.7)
q
= (ax by ay bx )2 (B.8)
= jax by ay bx j (B.9)
117
118 ^
APENDICE B.
AREA E PRODUTO VECTORIAL
Ap^
endi e C
Valores Medios
Re ordamos a deni ~ao de valor medio de uma variavel aleatoria:
X
< >= (ei )pi (C.1)
ei 2U
expressa omo soma sobre todos os a onte imentos do espa o U , ou, alter-
nativamente, em termos da respe tiva distribui ~ao de probabilidade
X
< >= x P (x ); (C.2)
x
em que a soma e sobre os valores possveis da variavel. A equivalên ia e
onsequên ia da deni ~ao
X
P (x ) = pi (C.3)
fei 2U :(ei)=x g
Desta deni ~ao de orrem algumas propriedades mais ou menos imediatas.
Valor medio de uma soma:
< 1 + 2 + : : : + n >=< 1 > + < 2 > + : : : + < n > (C.4)
Este resultado de orre imediatamente da eq.(C1), pois
X
< 1 + 2 + : : : + n >= (1 (ei ) + 2 (ei ) + : : : + n (ei ))pi (C.5)
ei 2U
Valor medio de uma fun ~ao de :

X X
< f ( ) >= f ( (ei ))pi = f (x )P (x ) (C.6)
ei 2U x
A primeira igualdade e apli a ~ao imediata da deni a~o da eq.(C.1).

f ( ) e a variavel aleatoria denida no mesmo espa o de a onte imentos
119
120 ^
APENDICE C.
VALORES MEDIOS
que e ujo valor, para um qualquer a onte imento ei , e f ( (ei )). Se

nesta soma zermos primeiro a soma sobre os a onte imentos om
(ei ) = x e depois somarmos sobre x , obtemos a segunda forma (ver
eq.(C.3)).
< 2 >< >2 ;
a igualdade so se veri a se for uma onstante (um uni o valor
possvel). Come emos por mostrar que:
< ( < >)2 >=< 2 > < >2 (C.7)
Expandindo o quadrado
< ( < >)2 > = < 2 2 < > + < >2 >
= < 2 > 2 < >< > + < >2
= < 2 > < >2 (C.8)
Por outro lado, a variân ia < ( < >)2 > e dada por uma soma
onde todos os termos s~ao n~ao negativos,
X
< ( < >)2 >= (x < >)2 P (x ) (C.9)
x
Por isso < 2 > < >2 0, sendo nula apenas se todos os termos
da soma da eq.(C.9) forem nulos. Isso impli a que x =< > ou
P (x ) = 0. Isto e, so ha um valor possvel para (P (x ) 6= 0) que e,
naturalmente, o seu valor medio.
Bibliograa
[1℄ Introdu a~o a Fsi a da Materia , J. Bessa de Sousa.
[2℄ F. Quate, Physi s Today, Agosto 1986 pag. 26
[3℄ Handbook of Physi s , Condon & Odishaw, M Graw-Hill, NY, 1958
[4℄ S ien e Data Book , R. M. Tennent (ed) Oliver & Boyd, Edinburgh,
1979
[5℄ From Order to Chaos , L. P. Kadano, World S ienti , Singapore, 1980
121

Física da UP: Dimensões, Modelos e Gases

Enviado por

Dados do documento

Descrição original:

Título original

Direitos autorais

Formatos disponíveis

Compartilhar este documento

Compartilhar ou incorporar documento

Opções de compartilhamento

Você considera este documento útil?

Este conteúdo é inapropriado?

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Física da UP: Dimensões, Modelos e Gases

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Departamento de Fsi

J. M. B. Lopes dos Santos

Solu ~ao Numeri a do Os ilador Harmoni o . . . . . . . . . . . . . 52

Con eito de Dimens~

Como se transforma o valor de uma grandeza fsi a numa mudan a de

Mas omo se transformam os valores de outras grandezas omo uma massa

b) Em ertos asos e possvel (e onveniente) rela ionar a es olha de padr~oes

Em Me ^ani a Classi a e possvel es olher as onstantes arbitrarias que po-

 outras grandezas: o leitor podera fa ilmente veri ar por pro essos

as equa o~es de dimens~oes destas grandezas:

Neste limite a nossa analise determina o valor de T a menos de um onstante

pro eder de um modo mais expedito. A fun ~ao f (g; l; m; 0 ) da eq.(1.31)

Velo idade do Som

Mas omo depende k do material e da geometria da barra? Se dupli ar-

vsom = f (E; ) (1.64)

Olhemos para as dimens~oes

Dentro da mesma loso a onsideremos agora um exemplo no ampo da

Vis osidade de Stokes

Consideremos um re ipiente heio de lquido, por exemplo agua. A por ~ao

O oe iente  e a vis osidade. Note-se que, omo a pla a se deslo a a uma

O produto R tem pre isamente estas dimens~oes pelo que

Este par^ametro e designado por numero de Reynolds.

Repare-se que, na medida em que in lumos na dis uss~ao todos os par^ametros

Figura 1.7: es oamentos de um uido em torno de uma esfera para varios

A experi^en ia de Rutherford, em 1911, foi a primeira in urs~ao dire ta da

Bond D, k al/mole re , A k, 105 dynes/ m

Hydrogen HH 103.24 0.7417 5.733

Para xar ideias, imaginemos a for a repulsiva. Suponhamos as part ulas r

ini ialmente em repouso, a uma dist^an ia r. Se as largarmos afastar-se-~ao - F12 q1 q2 F12

de energia traduz-se na onst^an ia da energia ineti a apenas, ja que as

Poten ial de uma distribui

No modelo de Thompson a arga positiva do atomo distribui-se numa esfera E

de raio d em que d e da ordem de 1 A. Para ompreendermos a intera  a~o de P

e para a for a exer ida sobre a arga pontual q

argas pontuais e o valor nito (e maximo) em r = 0. A energia res e

desviada por um so nu leo, om um intera  a~o orrespondente a de duas

A onstante que falta

Consideremos, para xar ideias, o aso do atomo mais simples, o de hidrogenio.

e ujo valor no SI e e02 = 2:3 10 28 N m2 . Por outro lado, temos as mas-

determinado por eles

Podemos obter qualquer perodo ou energia, dependendo de r. E n~ao ha

Bohr e a onstante de Plan k

dada temperatura. Cin o anos mais tarde Einstein desenvolveu as ideias de

[h℄ = ML2 T 1 (2.44)

Raios e energias em atomos poliele tr

mais exteriores, pois omo vimos na dis uss~ao do modelo de Thompson,

Na tabela 2.1 retirada do Handbook of Physi s [3℄ apresentam-se valores

A primeira observa a~o e que as dist^an ia internu leares variam entre

por serem muito superiores a do ele tr~ao. O argumento e semelhante ao

elevada massa. Mas, naturalmente a energia ele troni a e portanto a energia

amente a depend^en ia da energia na dist^an ia internu lear sera do tipo rep-

se a energia for negativa, para dist^an ias nitas. A dist^an ia de equibrio

En oraja-se o leitor a pegar num quadro periodi o e on rmar om mais

Uma massa presa a extremidade de uma mola. E dif il imaginar um sistema

 Altera ~oes de temperatura do sistema e do ambiente ir undante.

muito lentas. Por exemplo, fenomenos omo a fadiga do metal da mola,

A din^ami a de Newton e o primeiro onjunto de leis gerais que permite

As varias omponentes da a elera ~ao est~ao rela ionadas om o modo

Velo idade e A elera

Consideremos uma oordenada de posi ~ao de um orpo x(t). Queremos on-

velo idade media em qualquer intervalo). O on eito de velo idade media

j x(t + t)t x(t) vx(t)j <  (3.5)

Departamento de Fsi

Solu ~ao Numeri a do Os ilador Harmoni o . . . . . . . . . . . . . 52

Como se transforma o valor de uma grandeza fsi a numa mudan a de

b) Em ertos asos e possvel (e onveniente) rela ionar a es olha de padr~oes

Em Me ^ani a Classi a e possvel es olher as onstantes arbitrarias que po-

outras grandezas: o leitor podera fa ilmente veri ar por pro essos

as equa o~es de dimens~oes destas grandezas:

Neste limite a nossa analise determina o valor de T a menos de um onstante

pro eder de um modo mais expedito. A fun ~ao f (g; l; m; 0 ) da eq.(1.31)

vsom = f (E; ) (1.64)

Dentro da mesma losoa onsideremos agora um exemplo no ampo da

Consideremos um re ipiente heio de lquido, por exemplo agua. A por ~ao

O oe iente e a vis osidade. Note-se que, omo a pla a se deslo a a uma

O produto R tem pre isamente estas dimens~oes pelo que

Este par^ametro e designado por numero de Reynolds.

Repare-se que, na medida em que in lumos na dis uss~ao todos os par^ametros

Figura 1.7: es oamentos de um uido em torno de uma esfera para varios

Para xar ideias, imaginemos a for a repulsiva. Suponhamos as part ulas r

de energia traduz-se na onst^an ia da energia ineti a apenas, ja que as

Poten ial de uma distribui

No modelo de Thompson a arga positiva do atomo distribui-se numa esfera E

de raio d em que d e da ordem de 1 A. Para ompreendermos a intera a~o de P

e para a for a exer ida sobre a arga pontual q

argas pontuais e o valor nito (e maximo) em r = 0. A energia res e

desviada por um so nu leo, om um intera a~o orrespondente a de duas

Consideremos, para xar ideias, o aso do atomo mais simples, o de hidrogenio.

e ujo valor no SI e e02 = 2:3 10 28 N m2 . Por outro lado, temos as mas-

Podemos obter qualquer perodo ou energia, dependendo de r. E n~ao ha

[h℄ = ML2 T 1 (2.44)

Raios e energias em atomos poliele tr

A primeira observa a~o e que as dist^an ia internu leares variam entre

por serem muito superiores a do ele tr~ao. O argumento e semelhante ao

elevada massa. Mas, naturalmente a energia ele troni a e portanto a energia

amente a depend^en ia da energia na dist^an ia internu lear sera do tipo rep-

se a energia for negativa, para dist^an ias nitas. A dist^an ia de equibrio

En oraja-se o leitor a pegar num quadro periodi o e onrmar om mais

Uma massa presa a extremidade de uma mola. E dif il imaginar um sistema

Altera ~oes de temperatura do sistema e do ambiente ir undante.

muito lentas. Por exemplo, fenomenos omo a fadiga do metal da mola,

A din^ami a de Newton e o primeiro onjunto de leis gerais que permite

As varias omponentes da a elera ~ao est~ao rela ionadas om o modo

Velo idade e A elera

Consideremos uma oordenada de posi ~ao de um orpo x(t). Queremos on-

velo idade media em qualquer intervalo). O on eito de velo idade media

j x(t + t)t x(t) vx(t)j < (3.5)

part ula material em movimento a 3 dimens~oes teramos 3 oordenadas

Consideremos ent~ao uma equa ~ao de movimento generi a om a forma

Estas equa ~oes podem ser iteradas

x2 x(t0 + 2t) = x1 + v1 t (3.36)

Ou, generi amente, om as designa ~oes xn x(t0 + nt) e vn v(t0 + nt),

Estas formulas, omo dissemos, so s~ao validas para t ! 0. Em rigor

A express~ao do segundo membro e denida omo sendo o integral da fun ~ao

As equa o~es de Euler

um t nito. Nesse aso permitem-nos formular um metodo aproximado

ao limite fsi o t no aso presente. Podemos agora es olher um valor de

om ondi ~oes ini iais

Solu ~ao Numeri a do Os ilador Harm

Figura 3.2: O metodo de Euler para a massa e mola. t = 0:2; k=m = 1.

Figura 3.3: O metodo de Euler para a massa e mola. t = 0:1; k=m = 1.

Figura 3.4: Compara a~o entre os metodos de Euler, Runge-Kutta e o resul-

Com o uni o m de motivar a introdu ~ao do metodo de Runge-Kutta vamos

Figura 3.5: Ilustra a~o da instabilidade do metodo de Euler.

para estimar x(t0 + t=2). Denindo:

(os in rementos pelo metodo de Euler), obtemos as rela ~oes de re orr^en ia

Agora que dispomos de um modelo numeri o minimamente utilizavel, vamos

em que e^r = r=jr j, e o ve tor de modulo unitario om a dire ~ao e sentido

orrespondente em t. Nos al ulos que a seguir se apresentam utilizou-se o

Rees alonamento das equa

Qualquer problema fsi o tem, normalmente um onjunto de es alas de dis-

Esta grandeza e uma onstante de movimento, isto e n~ao varia ao longo da

em que v e a velo idade da orbita ir ular de raio r0 . Com as nossas

Figura 3.11: Uma orbita de energia nula.

As orbitas dos planetas do sistem solar orrespondem a estados ligados. Com

Sabendo a posi ~ao do segundo fo o podemos al ular a soma d + d0 para

de dA=dt o orrem quando o planeta passa mais proximo da estrela. Neste

Na g.(3.15) representa-se uma orbita aberta, ini iada a uma dist^an ia da

Figura 3.14: Uma orbita muito ex ^entri a, quase aberta.

a^ngulos de desvio das part ulas , referidos no aptulo 2 e que vieram

Figura 3.16: O ^angulo da velo idade om o eixo dos xx para a orbita da

Estas duas equa ~oes permitem determinar va e ra em termos de vp e rp .