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Escola de Evangelização

Nossa Senhora de Guadalupe


FORMAÇÃO HUMANA

Namoro
Eu... Você... De repente, nós

Se existe algo que mexe como coração de um jovem que começa a descobrir a
sua afetividade e a sua sexualidade, é o desejo de na¬morar. Cantada em
verso e prosa, esta fase da vida faz parte do desenvolvimento humano e do
plano de Deus para nos fazer crescer e amadurecer no relacionamento, sendo
também um caminho (embora não o único, nem o maior) de exercitar a
capacidade de amar.
Entretanto, para um jovem cristão, muitas interrogações se levantam: Por que
namorar? Quando namorar? Como ter um namoro cristão?

PORQUE NAMORAR

Em primeiro lugar, é importante saber que o desejo de relacionar-se com


o sexo oposto é algo natural e implica na forma como Deus nos criou. Deus
criou o homem, criou o homem e mulher.

A partir de um certo momento do desenvolvimento humano, sente¬se a


necessidade e a sadia curiosidade de relacionar-se com o sexo oposto, de
descobrir parte da riqueza, da diversidade da obra criativa de Deus, uma outra
pessoa que não é igual a mim, mas que em muitos pontos chega a me
complementar. Neste ponto, o relacionamento com pessoas do outro sexo é
enriquecedor e fonte de formação e edificação do meu crescimento como
pessoa.

Entretanto, o que é belo e edificante pode-se transformar em situações


que nem sempre nos edificarão ou contribuirão para o nosso crescimento.
Devemos levar em conta que estamos vivendo em meio a uma sociedade
hedonista, marcada pela sensualidade. A partir dos meios de comunicação, as
próprias crianças, adolescentes e jovens vão sendo manipulados nos seus
afetos e instintos para que, de maneira precoce e deformada, vejam na pessoa
do outro sexo um objeto de prazer genitalista ou um meio de satisfação de
suas carências afetivas.

Isto é fruto do pecado que marcou as faculdades do nosso ser e também


das feridas de família, onde a fé e o desenvolvimento dos valores cristãos
foram abandonados e a unidade e indissolubilidade do matrimônio e da família,
na vivência do amor, são negligenciadas ou até atingidas de maneira
irremediável, produzindo no meio de nós gerações marcadas pela dor,
insegurança, desvios afetivos, psicológicos e sociais.
Por estes e muitos outros fatores, quando o (a) adolescente vai atingindo
sua puberdade (e muitas vezes ainda como criança), a sociedade e, em muitos
casos, a própria família, começam a exigir que este (a) jovem "arranje" seu
namorado (a) para provar sua masculinidade ou feminilidade.

É preciso que entendamos que o processo natural e sa¬lutar de


conhecimento do sexo oposto como pessoa não implica necessariamente em
um relacionamento de namoro, quando, pelo contrário, a amizade é o passo
fundamental e sadio onde, pelo diálogo e a convivência, vamos podendo
construir mutua¬mente a nossa personalidade de maneira sadia e equilibrada.
Muitos jovens cristã¬os, como muitos que encontramos, se perguntam: Qual é
a hora de iniciarmos o namoro?

Em primeiro lugar, é necessário que alguns tabus possam ser


que¬brados. Isto não significa que todas as pessoas tenham que na¬morar.
Precisamos nos lembrar neste mo¬mento das Palavras de Jesus que dizem:
"Há eunucos que se fizeram eunucos por causa do Reino dos céus. Quem tiver
capa¬cidade para compreender que compreenda." (Mt 19,2)

Devemos nos lembrar que há muitos são chamados para a virgindade


como uma oblação espiritual e um serviço à Igreja e aos homens, e nisto
encontram sua plena realização. Alguns, mui¬to cedo podem descobrir este
chamado no seu interior e, apesar de como pessoa experimentarem a
complementariedade do sexo oposto na convivência comum e fraterna, não
viverão esta complementariedade no plano da afetividade-geni¬talidade,
próprio dos que são chama¬dos ao Sacramento do Matrimônio.

Alguns passam por relaciona¬mentos de namoro antes de descobrir


este sublime chamado, outros não precisam passar por esta etapa, pois a
vocação já se faz manifesta no seu interior de maneira definida.

Para isso é necessário que o jovem cristão tenha sempre no seu interior
este questionamento: - Qual é a vocação que Deus me chama a viver? – e uma
reta e séria motivação de responde-la. Sabemos que isso, para muitos, se
constitui em um longo processo, onde graças a Deus vai iluminado, tirando a
cegueira e apontando onde encontrar e aderir à sua vontade, pois aí está a
felicidade.

Entrando no processo de namoro propriamente dito, falando para os


jovens que acompanhamos, procuramos orientá-lo em algumas etapas para
este discernimento:

A amizade .

A amizade entre sexos opostos é benéfica e edificante. A amizade se


constitui em uma identificação que, se baseada em Cristo Jesus e nos valores
do Evangelho, caracterizando-se pela doação de si e respeito mútuo, muito
contribuirá para o nosso amadurecimento e crescimento. Atenção, nem toda
amizade precisa desembocar em um namoro. Pelo contrário, é perigoso
confundir as coisas.
As vezes a pessoa atrai fisicamente e afetivamente, mas isto não
significa que seja da vontade de Deus e edificante para os dois um
relacionamento mais pro¬fundo pelo namoro. Pode¬mos acabar uma bela
amizade se precipitarmos as coisas. É compreensível também que em um
relacionamento entre um ra¬paz e uma moça que são atraentes, possam
aparecer desejos e aspirações mais superficiais que, de uma maneira geral,
pode jogar esses jovens em um relacionamento sem maiores bases. Ora, o
aparecimento destes sentimentos só atestam a normalidade da afetividade e
sexualidade de ambos e não deve ser ele, principalmente nos primeiros
momentos, o ponto de discernimento de um compromisso de namoro.

Para evitar namoros precipitados (baseados só na atração física,


carências ou sentimentos efêmeros), que fazem alguns mudarem de na¬moro
como se troca de roupa e que, em vez de gerar crescimento, pode gerar tantas
feridas, dores e marcas na pessoa e nos futuros relacionamentos, é preciso
que se tenhamos um relacionamento de amizade. O momento é de aprofundar
o conhecimento do outro e procurar ir à luz da oração e da convivência
buscando alguns pontos de discernimentos.

Pontos de discernimento no plano psicológico:

Enquadramos aqui alguns pontos na maturidade humana e na


identificação dos projetos e planos de vida, inclina¬cães, aspirações, gostos,
formação e educação que cada um teve e que não podem ser ignoradas, sob o
risco de serem fonte de profundos desgastes e verdadeiros furos que farão
naufragar o relacionamento. Não se trata de que o outro seja igual a mim, mas
que se nestes pontos podemos nos completar, aceitar e nos construir
mutuamente, e se há maturidade em ambos para isto.

Pontos de discernimento no plano espiritual:

Se queremos nos relacionar em Deus e com Deus, este plano não pode
ser esquecido. É necessário, na convivência, perceber as aspirações
espirituais e se o outro está disposto a colocar Deus como o centro de um
relacionamento, para que o relaciona¬mento não seja nada de egoísta, para a
"minha", ou "nossa" satisfação, mas para que ele, apoiado na Graça de Deus,
seja voltado para Jesus, seguindo os Seus ensinamentos de renúncia, pureza
e abertura. Conhecer a espiritualidade do outro, suas aspirações de conduta
moral e de compromisso com a Igreja é fundamental para evitar conflitos
futuros, ou namoros onde Deus e sua Palavra estejam ausentes.

Pontos para discernimento no plano afetivo:

A afeição em um relacionamento afetivo é o primeiro passo, mas com


certeza não se constitui em sinal de presença real de uma semente de amor.
Se o que me faz afeiçoar-me ao outro é só sua aparência física, isto tem sua
importância, mas não é tudo.
As aparências passam e o coração, mentalidade e forma de ser
permanecem. É preciso descobrir se o senti¬mento que me move tem a
maturidade de ENXERGAR e ACEITAR os limites, defeitos e fragilidades do
outro. Pondo na balança o que pesa mais, é o que nos une ou o que nos
divide? Neste momento, um certo realismo é salutar, para que a paixão não
cegue, e evitemos dar um passo que depois vai nos ferir e ferir ao outro.

Também convém ter a sensibilidade para perceber se eu ou o outro


esta¬mos buscando um relacionamento para "minha" satisfação, fechado sobre
nós mesmos e a nossa "fantasia romântica" ou se o relacionamento, mesmo
com o tempero de romance, é voltado para Deus, para o outro e para as outras
pessoas, numa perspectiva de abertura.

Permeando todas estas considerações e orientações, devemos


encontrar a oração. É através dela, que a graça de Deus vai purificar as nossas
motivações, iluminar a nossa cegueira, fazer-nos entender o que só
humana¬mente não nos é possível, e perceber os reais sinais do Espírito que
nos move ou nos detém para um relacionamento que, se quer ser cristão, deve
buscar, em todos os sentidos, a maior glória de Deus.

A ajuda de uma pessoa mais amadurecida e vivida no campo espiritual e


humano se constitui em ajuda indispensável para chegarmos a um
discernimento claro e uma decisão conjunta e madura em nos comprometer em
um relacionamento de namoro.

O Namoro

Uma vez sedimentado no nosso interior o processo de discernimento (que


exige tempo, pois não se resume a dias ou poucas semanas, mas a alguns
meses de convivência e oração) e chegando a um discernimento positivo em
relação ao namoro, alguns pontos não podem ser esquecidos:

A amizade

O namoro é, antes de tudo, uma amizade que se aprofunda e sedimenta uma


caminhada a dois. É essencial que o tempo que os na¬morados passam juntos
seja anima¬do pelo diálogo e a abertura do seu ser que se deixa conhecer e
revelar. Muitos namorados não sabem conversar e fogem em carícias,
desagradáveis a Deus e destruidoras do relacionamento. O esforço do diálogo,
conversar assuntos que unem e saber também conversar as divergências;
revelar-se para o outro através da arte do diálogo é fonte de relacionamentos
saudáveis e maduros.

A oração

A presença de Jesus dentro de um namoro cristão não pode ser


decorativa ou em plano inferior. Ele tem que ser o primeiro para dar fertilidade
ao relacionamento. Por isto, é necessário dar tempo e espaço para a oração,
partilhar de experiências da vida espiritual, de leitura espiritual. É importante
que se saiba que se tem a responsabilidade de levar o outro para Deus e para
a Igreja, e não ser um obstáculo para a comunhão com Deus e o serviço na
Igreja. A oração e os sacramentos serão também a fonte da graça para
permanecer sob as orientações da Palavra e da Igreja, e nos capacitará a
crescer na escola do verdadeiro amor, que é aquele que ama apesar dos
defeitos e limites do outro.

A abertura

Os namorados cristãos não podem estar somente voltados para si


mesmos, como se só o outro existisse, ou que este relacionamento, se não for
o único, torne os outros opacos e insignificantes.

Os namorados cristãos sabem fugir do risco da dependência, que


sempre é sinal de carência e não de verdadeiro amor, e se aplicam na
abertura, amizade e dedicação aos outros (amigos, família), que também são
fontes de complemento para a nossa vida, e esta abertura toma-se fonte de
enriqueci¬mento do próprio namoro.

Os carinhos

Especial cuidado devemos ter neste campo, pois, muitas vezes, mesmo
em namoros cristãos, constatamos cenas de carícias que levam a estados de
profunda excitação emocional e orgânica que, seguindo o modelo do mundo
considera-se normal, quando na verdade estes atos são apropriados para a
preparação do ato conjugal dentro do matrimônio.

O não se deter no físico, e o traçar limites bem definidos e claros para os


dois, buscando a pureza e evitando o puritanismo, é ponto básico e que muito
necessita da graça para não se deixar levar pelas "facilidades" mútuas, que o
sensualismo deste mundo e a concupiscência da carne plantaram em nós.

Nós precisamos construir um Mundo Novo, baseado na Boa Nova de


Jesus e da Sua Igreja. Entretanto, não haverá Mundo Novo se não houver
Famílias Novas. Não haverá Famílias Novas se não houver Namoros No¬vos,
baseados na graça e no poder do Espírito.

Se meditarmos nestas orientações, sentiremos que são superiores à


nossa capacidade. Lembre-se de que “o Verbo se fez carne”, por isto a graça
penetrou em todas as realidades da vida humana, e Pentecostes é a certeza
de que o Espírito nos capacita a dar nosso sim integral a Deus.

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