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Ilda Nélia Caré

Distúrbios de Aprendizagem

Licenciatura em Ensino Básico

2º Ano - EAD

Universidade Pedagógica de Maputo

Maputo

2023
Ilda Nélia Caré

Distúrbios de Aprendizagem

Trabalho de Psicologia de Aprendizagem a


ser apresentado no Departamento de
Educação, Faculdade de Educação e
Psicologia, como requisito parcial de
avaliação sob orientação do Dr. Ângelo
Ferreira

Universidade Pedagógica de Maputo

Maputo

2023
Índice

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................3

1.1. Objectivos.............................................................................................................................3

1.1.1. Geral..................................................................................................................................3

1.1.2. Específicos........................................................................................................................3

1.2. Metodologia do trabalho.......................................................................................................3

2. REVISÃO DA LITERATURA................................................................................................5

2.1. Conceito de distúrbio de aprendizagem................................................................................5

2.2. Dislexia.................................................................................................................................6

2.3. Discalculia............................................................................................................................7

2.4. Disgrafia...............................................................................................................................8

2.5. Transtorno de déficit de atenção e hiperactividade – TDAH...............................................8

CONCLUSÃO...............................................................................................................................10

Referências bibliográficas.............................................................................................................11
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1. INTRODUÇÃO

As barreiras que afectam o processo de aprendizagem podem partir de diversas origens, entre
elas: cultural, socioeconómica, familiar, cognitiva, emocional, etc. As grelhas curriculares dos
cursos de graduação da Universidade Pedagógica de Maputo, em particular e das outras
instituições de ensino em geral, agregam cadeiras como Psicologia de Aprendizagem e
Necessidades Educativas Especiais. As disciplinas lidam exactamente com os processos ligados
com a aprendizagem da criança.

O distúrbio de aprendizagem, ou seja, condição neurológica que afecta a aprendizagem e o


processamento de informações contribui para o aumento das estatísticas de baixo índice de
aproveitamento pedagógico nas escolas moçambicanas. Diante de uma variedade de distúrbios
de aprendizagem podemos elencar a Dislexia e a Discalculia, que serão abordadas neste trabalho.

Diante desta premissa enquadra-se o presente trabalho que tem como pano de fundo o
desenvolvimento da temática sobre os distúrbios de aprendizagem.

Para a materialização deste trabalho apresentamos os seguintes objectivos, entre o geral e os


específicos, respectivamente:

1.1. Objectivos

1.1.1. Geral

 Compreender os distúrbios de aprendizagem.

1.1.2. Específicos

 Definir o conceito de distúrbio de aprendizagem;


 .Identificar os tipos de distúrbios de aprendizagem;
 Caracterizar os tipos de distúrbios de aprendizagem.
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1.2. Metodologia do trabalho

O método de pesquisa realizado nesse trabalho é bibliográfico de cunho qualitativo. A pesquisa


bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas
por meios escritos e electrónicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer
trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador
conhecer o que já se estudou sobre o assunto.

Existem, porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica,


procurando referências teóricas publicadas com o objectivo de recolher informações ou
conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA,
2002, p. 32).
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2. REVISÃO DA LITERATURA

Nesta parte do trabalho enseja-se desenvolver uma discussão em torno de alguns tipos de
distúrbios de aprendizagem, visto que não esgotaremos todas as tipologias, para garantir maior
compreensão do assunto em alusão, e abrir espaço para novas propostas de pesquisas.

2.1. Conceito de distúrbio de aprendizagem

Não seria sensato da nossa parte abordar os tipos de distúrbios de aprendizagem sem antes trazer
o conceito associado aos distúrbios de aprendizagem, pelo que passamos a discutir este conceito
norteador deste trabalho.

Começamos por trazer a concepção de Moysés e Collares (1992), que se propuseram a delinear o
significado do termo distúrbio de aprendizagem. Segundo as autoras:

“A palavra distúrbio compõe-se do radical turbare e do prefixo dis. O radical


turbare significa 'alteração violenta na ordem natural' e pode ser identificado
também nas palavras turvo, turbilhão, perturbar, conturbar, etc. O prefixo dispor
seu significado - 'alteração com sentido anormal, patológico' - possui,
intrinsecamente, valor negativo. É exactamente por esse significado que é um
prefixo muito usado na terminologia médica. Assim, retomando a palavra
distúrbio, pode-se traduzi-la por 'anormalidade patológica por alteração violenta
na ordem natural” (Moysés & Collares, 1992, p. 31).

De acordo com as autoras, a expressão distúrbios de aprendizagem se refere claramente a uma


anomalia patológica gerada por uma alteração drástica na ordem natural do processo de
aprendizagem, estando o problema directamente centrado no aluno, ou seja, naquele que aprende
ou, nesse caso, deveria aprender. A utilização desse e de termos semelhantes, atribui um
problema médico, um diagnóstico de doença e de cunho unicamente biológico ao aluno que
apresenta dificuldades em relação ao seu processo de aprendizado, excluindo os demais factores
que podem, muitas vezes, estar presentes e interferir no processo de ensino e aprendizagem.

Patto (2008) argumenta que os processos e dificuldades que acometem os alunos não podem ser
visualizados de forma independente e isolada, devendo ser levados em consideração os aspectos
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históricos e sociais que permeiam e contribuem para a instauração dos quadros de dificuldades
de aprendizagem. Ressalta a importância de se considerar os aspectos sociais e históricos não
apenas dos alunos, mas também de familiares, professores e corpo docente escolar para a
elucidação dos verdadeiros sentidos da classificação dos alunos como “incapazes de aprender”
ou portadores de distúrbios e, inclusive, de deficiências mentais.

2.2. Dislexia

De referir que este tem sido um dos maiores problemas que assola maior parte das escola no
nosso país, que geralmente se manifesta aquando da publicação dos resultados do
aproveitamento pedagógico, onde os alunos não apresentam as competências básicas exigíveis.

Pode ser compreendida como uma grande dificuldade em aprender a ler e a escrever, fazendo
com que a criança não consiga relacionar os sons da fala com a grafia da escrita, realize troca de
letras que possuem aspectos espaciais semelhantes como o p, b, q e d. Também é muito comum
que invertam letras nas palavras ou palavras nas frases, ou ainda aglutinem palavras ou separem
as sílabas de forma inadequada quando escrevem (ALVES, MOUSINHO & CAPELLINI, 2011).

A dislexia pode ser de três tipos: visual, auditiva ou mista (JARDINI, 2003). A dislexia do tipo
visual tem como principal característica dificuldades na percepção e discriminação devido a um
possível déficit nas magnocélulas da visão (SHAYWITZ, 2006). O trabalho pedagógico com
disléxicos visuais requer o emprego de recursos auditivos, observar os contrastes e evitar excesso
de informações nas imagens, observar maior espaçamento entre linhas, verificar a posição do
aluno na sala em relação à fonte de luz, além de consulta-lo sobre suas necessidades e o que lhe
parece mais confortável (ALVES, MOUSINHO & CAPELLINI, 2011).

A dislexia do tipo auditiva tem como principal característica a dificuldade em relacionar o som
(fonema) com o símbolo (grafema) e tem como causa um possível déficit no processamento
fonológico ou no processamento auditivo central. O trabalho pedagógico com estes alunos requer
o investimento em recursos visuais, evitar o uso de palavras que não são do quotidiano da
criança, introduzir novos vocabulários aos poucos, observar a propagação do som na sala e a
posição do aluno nela, e consulta-lo sobre suas necessidades a fim de atende-las (JARDINI,
2003).
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Já a dislexia mista apresenta características do tipo visual e do tipo auditivo ao mesmo tempo,
fazendo com que o trabalho pedagógico ora se apoie em recursos visuais, ora em recursos
auditivos (IANHEZ & NICO, 2003).

2.3. Discalculia

Segundo Hudson (2019), a criança com discalculia pode apresentar dificuldades com números
(não saber qual é maior ou menor, dificuldades em compreender o sentido de “arredondar”
números, inverte números na escrita de valores com muitos algarismos, dificuldade em
reconhecer padrões numéricos e em estimar resultados, entre outros), dificuldades em
compreender questões escritas (dificuldade em compreender o que a questão lhe pede, confunde
símbolos das questões, entra em pânico, “chuta” ou “tem um branco” quando está sobre pressão),
problemas de memória de curto prazo (dificuldade para se lembrar dos números com os quais
está trabalhando, dos processos e instruções, de sequências numéricas), dificuldades com
representações gráficas (dificuldade em compreender e lidar com gráficos, escalas, linhas e
pontos).

García (1998) apontou que a discalculia pode ser de seis tipos diferentes:

 Discalculia verbal – com dificuldades de nomear quantidades, números, termos,


símbolos e as relações;
 Discalculia practognóstica – dificuldade para enumerar e comparar matematicamente;
 Discalculia léxica – dificuldade na leitura dos símbolos matemáticos;
 Discalculia gráfica – dificuldades para escrever símbolos matemáticos;
 Discalculia ideognóstica – dificuldades com operações mentais; e
 Discalculia operacional – dificuldade para executar operações e cálculos.

Hudson (2019) propôs várias sugestões para o atendimento do aluno com discalculia, tais como
fazer uso de instruções breves e claras, observar o vocabulário usado, observar os contrastes nas
figuras, não apresentar muitos exemplos de uma única vez, fazer uso de folhas coloridas ao
utilizar material impresso, não colocar muitas actividades na mesma folha impressa, usar cores e
desenhos para ajudar os processamentos da memória de curto e de longo prazo, fazer uso de
canções para ajudar a memorizar regras, entre outros.
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2.4. Disgrafia

Conhecido como “letra feia”, este transtorno/ distúrbio de aprendizagem se caracteriza como
uma grande dificuldade em escrever, levando o aluno a exceder o uso de força sobre o papel
durante a escrita, apresentando grafias diferentes para a mesma letra ou fragmentações
incorrectas nas palavras.

Segundo Hudson (2019), a disgrafia pode ser de três tipos:

 Disgrafia espacial – ocorre quando o processamento visual e a compreensão do espaço


estão comprometidos, causando dificuldade para escrever em linha recta, desenhar e
colorir;
 Disgrafia motora – quando não há controle dos músculos da mão e do punho bem
desenvolvidos, tornando a caligrafia desalinhada;
 Disgrafia de processamento (ou disgrafia disléxica) – quando há dificuldade em
visualizar a aparência das letras, levando a uma caligrafia malformada e na ordem errada
das palavras.

Consideramos importante lembrar que a “letra feia” também pode ser reflexo de questões
culturais, socioeconómicas e emocionais. Portanto, conversar com a criança e conhece-la melhor
pode ser parte importante para que ela supere suas dificuldades.

Hudson (2019) pontuou que o acompanhamento por um terapeuta ocupacional ou psicopedagogo


pode contribuir para o melhorar o desempenho de casos nos quais há grande comprometimento.

2.5. Transtorno de déficit de atenção e hiperactividade – TDAH

O TDAH é um transtorno que tem sido bastante discutido nos últimos quinze anos em razão do
diagnóstico difícil (muitos sintomas e comportamentos se assemelham a outros tipos de
transtornos/ distúrbios) e das muitas controvérsias que seu diagnóstico suscita. Isto porque,
conforme abordado na introdução deste texto, a criança pode se deparar com um contexto muito
diferente do qual está acostumada e se comportar de uma maneira que possa ser considerada
inadequada aos olhos de alguns professores.
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Este transtorno se caracteriza por comportamentos inadequados, impulsivos e hiperactivos,


associados a dificuldades em manter a atenção e a concentração. Assim, embora não seja
necessariamente um transtorno/ distúrbio de aprendizagem, geralmente impacta negativamente
sobre ela.

De acordo com Smith e Strick (2001), durante muito tempo foi considerado que este transtorno
afectava mais o género masculino do que o género feminino; entretanto, pesquisadores tem
apontado que ambos são afectados na mesma proporção, embora com características diferentes.
Segundo as citadas pesquisadoras, enquanto os meninos tendem a apresentar comportamentos
mais agressivos ou disruptivos, as meninas tendem a apresentarem comportamentos silenciosos e
retraídos

O TDAH é compreendido como de três tipos diferentes conforme os sintomas que apresenta
(HUDSON, 2019):

 TDAH predominantemente desatento (mais comum em meninas),


 TDAH hiperactivo (considerado raro) e
 TDAH misto (mais comum em meninos).

Jardini (2003) considerou um quarto tipo, definido como TDAH não específico, o qual há a
presença de alguns sintomas que, embora desequilibrem a vida da criança, não se apresentam em
número suficiente para um diagnóstico definido.

Hudson (2019) aponta as seguintes sugestões: iniciar as aulas sempre da mesma forma para que
o aluno se sinta confiante, passar informações por partes para que o aluno não se perca, indicar
quais as actividades que serão realizadas ao longo do dia, fazer uso de abordagens
multissensoriais, actuar da maneira mais contextualizada possível, propor actividades nas quais o
aluno possa exercitar sua criatividade, ser flexível com o tempo e o estado de espírito da criança,
apresentar as regras da sala de aula de forma clara e objectiva, permitir que o aluno com TDAH
sente-se na frente, permitir a movimentação em certos momentos durante a aula, entre outros.
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CONCLUSÃO

Em jeito de conclusão importa ressaltar que durante o desenvolvimento do presente trabalho,


buscou-se o entendimento de que Os distúrbios de aprendizagem afectam somente certas
funções, enquanto que nas crianças com deficiência intelectual as dificuldades afectam de
maneira ampla as funções cognitivas.

Assim, crianças com distúrbios de aprendizagem podem ter dificuldades significativas para
compreender e aprender matemática, mas nenhuma dificuldade para ler, escrever e se sair bem
em outras matérias. A dislexia é o distúrbio de aprendizagem mais conhecido.

Os distúrbios de aprendizagem não incluem as dificuldades de aprendizagem que se devem a


problemas de visão, audição e de coordenação ou a distúrbios emocionais, embora esses
problemas possam também ocorrer em crianças com distúrbios de aprendizagem.
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Referências bibliográficas

ALVES, L. M; MOUSINHO, R; CAPELLINI, S. A. (orgs) Dislexia: novos temas, novas


perspectivas. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.

GARCÍA, J. N. Manual de dificuldades de aprendizagem: linguagem, leitura, escrita e


matemática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

HUDSON, D. Dificuldades específicas de aprendizagem: ideias práticas para trabalhar com


Dislexia, Discalculia, Disgrafia, Dispraxia, TDAH, TEA, Síndrome de Asperger, TOC.
Petrópolis: Vozes, 2019.

IANHEZ, M. E; NICO, M. A. Nem sempre é o que parece: como enfrentar a dislexia e os


fracassos escolares. São Paulo: Alegro, 2002.

JARDINI, R. S. R. Método das Boquinhas: alfabetização e reabilitação dos distúrbios da leitura e


da escrita. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.

MOYSÉS, M. A. A. & COLLARES, C. A. L. A História não Contada dos Distúrbios de


Aprendizagem. Cadernos CEDES, Campinas: Papirus, 28,31-48. 1992.

SHAYWITZ, S. Entendendo a dislexia: um novo e completo programa para todos os níveis de


problemas de leitura. Porto Alegre: Artmed, 2006.

SMITH, C; STRICK, L. Dificuldades de aprendizagem de A a Z: um guia completo para pais e


educadores. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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