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"O Regulamento MICA: Uma Análise Jurídica dos Criptoativos


sob a Luz do Direito Europeu"

O Regulamento (UE) 2023/1114 do Parlamento Europeu e do Conselho, de


31 de maio de 2023, relativo aos mercados de criptoativos (Regulamento
MICA), foi publicado no Jornal Oficial da União Europeia no dia 9 de junho
de 2023, tendo entrado em vigor no passado dia 29 de junho de 2023.

Desde o surgimento da Bitcoin em 2009, as criptomoedas têm-se multiplicado e


diversificado, passando de um mero meio de transações fora do sistema
financeiro tradicional para ativos de investimento para serem até mesmo
adotadas por empresas tradicionais. O rápido crescimento das criptomoedas,
como o Bitcoin e o Ethereum, nos últimos anos trouxe consigo a necessidade
urgente de regulamentação para lidar com questões de segurança, proteção do
consumidor e conformidade legal. Surge, assim, o "Regulamento MICA"
(Markets in Crypto Assets) - promulgado conjuntamente pelo Parlamento
Europeu e pelo Conselho Europeu, reformulando a Diretiva (UE) 2019/1937.
Este regulamento, que marca o inaugural quadro regulatório dos criptoativos
pela União Europeia, foi promulgado em 29 de junho de 2023, todavia, as suas
disposições tornar-se-ão efetivas apenas em 2024. A sua premissa central é a

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A v . d a B o a v i s t a , 2 1 21 , 4 .º , s a l a 40 7 , 4 10 0 - 13 0 P o r t o
T + 3 51 2 2 6 0 7 3 78 0 | F + 3 5 1 2 2 6 0 73 7 8 9 | r e s o l v e r @ p r a g m a. p t
de assegurar a proteção dos investidores e proporcionar um controlo normativo
sobre os potenciais riscos inerentes a estes ativos.

Vale ressalvar que os Non-Fungible


Tokens (NFTs) que sejam
materialmente infungíveis, Finanças
Descentralizadas (DeFi) e lending
estão excluídos do âmbito de
aplicação do Regulamento, pelo
menos para já.

Aspetos Jurídicos Louváveis do “Regulamento MICA”:

- Garantia de Direitos dos Investidores: O MICA institui, assim, uma blindagem


normativa, visando salvaguardar investidores e entusiastas de criptomoedas de
possíveis delitos financeiros como fraudes, manipulações de mercado e outros
desvios jurídicos.
- Obrigações Fiscais e Transparência: Ao estabelecer cláusulas de
transparência e cumprimento fiscal, o MICA visa mitigar práticas ilícitas como
evasão fiscal e operações de lavagem de capital.
- Robustecimento da Credibilidade do Mercado: Normatizações explícitas
amplificam a confiabilidade dos investidores, culminando no incremento do
capital injetado no universo cripto.
- Interação com o Sistema Financeiro Convencional: Este regulamento
pavimenta o caminho para a fluidez das criptomoedas no cenário financeiro

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habitual, alinhando-as com os padrões jurídicos e favorecendo sua adoção
massificada.
- Combate ao Terrorismo: O MICA estabelece mecanismos de controlo e
fiscalização que dificultam atividades criminosas, como manipulações de
mercado e, crucialmente, o financiamento do terrorismo e atividades de
criminalidade organizada. Ao exigir maior transparência e rastreabilidade nas
transações, este regulamento torna-se uma ferramenta vital para autoridades no
combate a redes obscuras que utilizam criptoativos para fins nefastos.

Desafios Jurídicos e Implicações da Regulamentação:

• Riscos relativos à Privacidade Financeira: Esta normatização acaba


por expor informações sensíveis dos próprios investidores, “pondo em
xeque” a privacidade financeira e o anonimato, um dos pilares do universo
cripto.
• Estagnação da Inovação: Regulamentações rigorosas como esta podem
inibir a inovação no espaço cripto, tornando mais difícil para as startups e
pequenas empresas desenvolver novas tecnologias e serviços. A
conformidade com regulamentos pode ser cara e complexa,
especialmente para empresas novas, limitando a sua participação no
mercado cripto.
• Descentralização Ameaçada: A regulamentação excessiva ameaça o
princípio da descentralização, que é fundamental para muitas
criptomoedas, tornando-as mais semelhantes às moedas tradicionais

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controladas por governos e bancos centrais, constituindo uma ameaça
aos próprios pilares fundamentais das criptomoedas.

A promulgação do Regulamento MICA evidencia um passo ambicioso e


necessário no ordenamento jurídico dos criptoativos no seio da União Europeia.
Se por um lado oferece garantias jurídicas e protege os investidores, por outro,
levanta questões relevantes sobre os fundamentos do universo cripto. É
imperioso que o Direito, com a sua evolução, equilibre a proteção dos
investidores com a preservação da inovação e da autonomia, características
intrínsecas dos criptoativos. Somente assim poderemos avaliar, com a devida
propriedade, a bondade da solução legal proposta por este regulamento.

04 de outubro de 2023

Nuno Marques

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