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POR QUE O RP GOREANO BRASILEIRO PATINA, PATINA E SEMPRE CAI?

Mais uma ilha de RP chamado goreano brasileira fechou. A segunda em menos de 30 dias.

Este texto não é para tripudiar ninguém, zoar com ninguém, provocar ninguém, falar mal de
ninguém, vou logo avisando nas primeiras linhas. Ele é apenas uma reflexão que a tempos eu
gostaria de fazer e hoje me deu na veneta fazê-la.

Há uns dias estava trocando prosa com meu amigo Hazzlo Ohmai, para variar falando do passado, o
que é comum quando dois dinossauros se juntam. Lembrávamos que no final de 2009, começo de
2010 tínhamos três ilhas “full” brasileiras funcionando. A minha e de Diana, Hulneth – criada nos
moldes de uma das cidades centrais de Gor – a de Hazz – uma ilha Torvaldsland – ambas BTB e a
de Vexel, que atendia mais a um público que poderíamos considerar GE. Juntas, essas ilhas
passavam de duzentos jogadores ativos. Tanto a minha ilha quanto a de Hazz passaram de
homestead para “full” por não comportarem mais o limite de vinte avatares. E essas ilhas só
fecharam por mera questão econômica. Na época, o real que tinha paridade de um para um com o
dolar foi extremamente desvalorizado, fazendo com que o custo de tier mais que duplicasse.

De lá para cá, em apenas alguns anos, houve uma clara derrocada de Gor no meio brasileiro. Ilhas
abrindo e fechando, perda de jogadores, enfim, o quadro que temos hoje desenhado. E,
interessantemente, nesse período o nível de informação e divulgação de Gor em língua portuguesa
cresceu, particularmente com o início da tradução e publicação dos Livros em português.

Nas ilhas estrangeiras também ocorreu fenômeno similar a partir de 2011. Mas os fatos que levaram
à perda de jogadores nessas ilhas são substancialmente distintos, a meu ver, dos que levaram à
derrocada de Gor entre os brasileiros. Entre os estrangeiros – notadamente americanos e europeus –
mais antigos, anos de RP desde 2004/05 quando Gor veio para o SL criaram um certo cansaço, um
desestímulo, após o auge alcançado entre 2008 e 2009. No entanto, a partir do momento em que os
Livros passaram a ser comercializados no formato de e-book, um novo público se apresentou e o
RP Goreano tomou novo fôlego.

Nos últimos meses eu tenho voltado a frequentar ilhas estrangeiras e, não raro, encontro cidades
com cinquenta, sessenta jogadores ativos. Existem cidades vazias? Claro. Sempre existiu. Nem
todas têm o mesmo apelo. Nem todas são bem geridas ou acolhedoras. Normal.

E vendo esse quadro, não é possível deixar de comparar. E vou fazer essa comparação, logicamente,
dentro do quadro onde me insiro, qual seja o das ilhas chamadas BTB.

A primeira análise superficial que escuto é: “lógico que eles têm as ilhas mais cheias. Eles são em
maior número.” Análise superficial e imbecil. Eles são em maior número, mas possuem um número
muito maior de opções. Recentemente publiquei neste grupo uma estatística que mostra a existência
de mais de 250 ilhas Goreanas, entre BTB, GE, ou seja lá qual letrinha que você queira dar.

A segunda análise superficial – e também imbecil – é que “brasileiro é desunido. Cada um quer ser
o dono da bola.” Outra bobagem. Em outros tempos, jogadores de RP – fossem de Gor ou de
qualquer outra plataforma – conseguiam separar com muito mais clareza o que era jogo do que
eram seus gostos e preferências pessoais, amores e desamores. Problemas haviam, mas
contornavam-se sempre dentro das regras do jogo.

E, fazendo a inevitável comparação com as ilhas estrangeiras, elenco aqui alguns pontos que
acredito serem importantes para que eles sejam bem-sucedidos e nós não.
1. A imensa maioria dos jogadores de RP Goreano estrangeiro têm em Gor sua única opção de lazer
no Second Life e elegem uma única ilha para desenvolver seu RP. Ou seja, não ficam pulando de
ilha para ilha procurando a mais cheia, nem ficam pulando de atividade em atividade. Goreano é
Goreano, vampiro é vampiro, lobo é lobo, e por ai vai. Existe uma fidelidade ao RP que nós, hoje,
não temos.

2. A imensa maioria dos jogadores de RP Goreano estrangeiro lê os Livros. Mesmo os mais novos
já leram pelo menos os cinco ou seis primeiros Livros da Saga, fundamentais para entender o básico
de Gor. A média, das pessoas com quem tenho conversado, é ter lido entre 12 e 15 Livros. E, com
humildade, ninguém se arvora de “estudioso de Gor” sem ser. Os bons Escribas leram todos os
Livros e são capazes de debater qualquer assunto. Os bons médicos conhecem a prática e não
receitam chazinhos para dor de barriga. Os bons guerreiros sabem lutar, não usam uma espada só
como enfeite, para deixar o avatar mais bonitos. Os assassinos sabem exatamente o que é ser um
matador Goreano, respeitam as regras do silêncio e as imposições dos Códigos de sua Casta, e
aceitam até a morte de seu personagem caso as infrinjam.

3. A imensa maioria dos jogadores de RP Goreano estrangeiro baseia seus personagens com
fidelidade nos Livros, bem como o RP das cidades, suas story lines, é firmemente calcado nas
Crônicas. Port Kar é administrada por um Conselho de Capitães, por exemplo. Só a título de
ilustração, eu fui convidado para assumir a posição de Magistrado nessa cidade, mas com um aviso:
“caso você assume, prepare-se para ter uma vida um pouco difícil, já que a primeira decisão que
você tomar contra um dos Capitães, pode colocar a sua cabeça a prêmio.” Uma cidade Goreana é
Goreana, segue a risca os Livros. Não inventa moda. Não dispersa esforços em atividades OOC,
não tem Gor nas galáxias, não é Roma, Egito, Áfica, Caribe… É Gor. Os personagens têm BGs
coerentes, mantidos ao longo de anos, as pessoas não mudam de personagem, ou de casta, ou de
povo como trocam de roupa.

4. A imensa maioria dos jogadores de RP Goreano estrangeiro contribui financeiramente para a


manutenção de suas cidades, nem que seja com uma quantidade mínima de lindens por mês. O
estrangeiro valoriza o esforço de quem cria e mantém o espaço para o jogo. Nas três cidades que
tive, nunca ninguém, além dos sócios, contribuiu financeiramente para a sua manutenção.

5. Os jogadores de RP Goreano estrangeiro que deixaram o jogo souberam fazer sucessores. Outros
jogadores capacitados, conhecedores dos Livros e, não somente isso, conhecedores de como
administrar uma ilha de jogo foram formados e continuaram a manter as atividades. Infelizmente
nós, brasileiros, não soubemos fazer isso. Conto nos dedos as pessoas que abriram ilhas
recentemente que realmente conhecem Gor a fundo. Umas duas ou três, se tanto.

6. Os líderes de RP Goreano estrangeiro detêm a tecnologia do RP. Muitos conhecidos meus “das
antigas” deixaram Gor e partiram para outro RP. Uma boa parte está em Star Wars, que tem sido
bastante bem sucedido, graças à transferência de tecnologia acumulada ao longo dos vários anos de
prática em Gor.

7. A imensa maioria dos jogadores de RP Goreano abomina o drama. O IM é raramente usado.


Conversa por voz, então, muito menos. Claro, que entre amigos isso existe. Mas entre eles, amigos
são realmente amigos. E não relações fugazes estabelecidas em meia duzia de dias de convivência.

8. Como todo jogo adulto, o RP Goreano, também entre os estrangeiros, envolve sexo. Mas,
diferentemente do que ocorre entre brasileiros, poucos são os casos de pessoas procurando “mestres
ou kajirae namorados” ou sexo virtual fácil. Para isso, o SL possui um monte de outros lugares, e
eles entendem isso.
9. Para a imensa maioria dos jogadores de RP Goreano estrangeiro, Gor não é plataforma para a
fama fugaz, para projetos pessoais de engrandecimento, para aventuras de poder, para ações pouco
lícitas ou éticas. Para a imensa maioria dos jogadores de RP Goreano estrangeiro, Gor é um jogo,
um divertimento, algo sadio para relaxar e passar o tempo.

Bem, essa é a minha visão. Outros pontos podem ser levantados. E esse debate deveria ser feito com
seriedade. Mas parece que toda vez que esses pontos são levantados, egos se inflamam, paixões se
acendem, ódios se criam.

Pois bem, que Gor morra, então, entre os brasileiros. Porque o RP Goreano continua vivo. Nas
mãos de quem o sabe fazer bem.

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