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SELEÇÃO: CINCO PROCESSOS QUE JESUS USOU

Costumo dizer que 50% do sucesso de um pastor ou líder depende da


seleção de sua liderança. Duas ilustrações podem ajudar entender porque
aposto tão alto na seleção. Quando você olhar para um casamento, que
porcentagem do sucesso dele tem a ver com a seleção? Poderíamos debater
por um bom tempo, mas, sem dúvida, diríamos que é um alto percentual. De
forma parecida, que percentual do sucesso da seleção do Brasil na Copa do
Mundo depende da seleção? Lembro bem as vezes em que a seleção
brasileira foi vencida pela seleção boliviana em La Paz. Claro que a altura
tinha algo relacionado com a derrota. Mais importante, a verdadeira seleção
não tinha se completado: mandamos uma equipe que ainda não tinha todos os
jogadores certos.
Assim, seja a equipe que o pastor chama para trabalhar com ele (que eu
chamo de equipe pastoral), ou qualquer equipe de ministério, grande parte de
seu sucesso, possivelmente a maior parte, tem a ver com a seleção.
Comentei no capítulo anterior que a observação de Ingo sobre minha "equipe
virtual" foi um de dois grandes fatores para eu mudar meu ministério. O outro
foi ler e aplicar seriamente o best-seller secular de Jim Collins, Empresas feitas
para vencer.
Ele e sua equipe, como já relatei no início deste livro, pesquisaram as 500
melhores empresas dos Estados Unidos (conhecidas como as Fortune 500) e
descobriram que 11 decolaram, sendo que não pararam de decolar no decorrer
de quinze anos. Ele denominou-as como "grandes" e as 489 como "boas".
Então fez a pergunta: será que há alguns princípios que distinguem os grandes
ou excelentes dos bons? Seu livro elabora os seis princípios que a equipe
descobriu. Um dos seis é: "Primeiro quem... depois o que". Collins diz:

"Esperávamos que os líderes das "feitas para vencer" fossem começar com a
definição de uma nova visão e uma nova estratégia. Em vez disso,
descobrimos que eles primeiro puseram as pessoas certas no barco, tiraram as
pessoas erradas, e colocaram as pessoas certas nos lugares certos. Só depois
é que decidiram para onde o barco deveria rumar. O velho adágio "as pessoas
são seu ativo mais importante", na verdade, está errado. As pessoas não são o
seu ativo mais importante. As pessoas certas é que são."*
Em outras palavras, as pessoas certas nos lugares certos pelas razões
certas. Esse ditado faz muito sentido. Mas como encontrar as pessoas certas?
Voltemos ao nosso mestre, Jesus, para ver o que ele fez. Ele tinha de acertar
na sua escolha, porque não tinha tempo para errar e então fazer uma segunda
tentativa. Deixe-me comentar cinco processos na seleção que ele usou e que
nós também devemos usar.**

1. Encontros divinos.
2. Padrões divinos.
3. Altas exigências, que levam as pessoas a se auto-excluírem
por não quererem pagar o preço.
4. Discernir quem responde à sua voz, mostrando uma ligação
espiritual.
5. Oração, direção e confirmação do Pai.
Encontros divinos são encontros pessoais nos quais a vida de alguém é
marcada por receber sabedoria, direção ou poder de Deus através da ajuda de
outra pessoa. André, Pedro, Tiago e João tiveram pelo menos três encontros
divinos onde seus nomes foram registrados individualmente antes de serem
escolhidos como parte dos doze (Jo 1.35-42; Mc 1.16-20; Le 5.1-11; Mc 1.29-
31,35-38). Os encontros iniciais da parte de Jesus com Mateus (Mt 9.9-13)
com Filipe (Jo 1.43-45) e Natanael (Jo 1.45-51) também são registrados e
claramente foram encontros marcantes.
Uma chave para termos encontros divinos com outras pessoas é estar
intimamente ligados a Deus. Esses momentos marcantes, em geral, acontecem
se discernirmos o que Deus está fazendo na vida de outra pessoa e
conseguirmos acompanhá-lo. Nem todo encontro divino indica que alguém
deve ser parte de nossa equipe ou discipulado por nós. Apenas é um dos cinco
processos.
Em segundo lugar, Jesus procurou encontrar as pessoas que entrariam num
padrão divino com ele. Esse padrão é quando três áreas coincidem: a visão, o
compromisso e o ritmo de vida (disponibilidade). Demora-se para descobrir
isso. Assim, Jesus passou um ano e meio com os discípulos antes de escolher
os doze. Se você vir um cronograma do ministério de Jesus, perceberá quanta
coisa aconteceu nesse tempo.
Para que a visão de um líder realmente encaixe no coração de um seguidor,
é preciso fazer ajustes de ambos os lados, mas, em especial, da parte do
seguidor. Muitos dos conflitos de Pedro, ou momentos em que falhou, tinham a
ver com o fato de ele se ajustar à visão de Jesus. Visão mais visão traz divisão.
Esses ajustes incluem sobretudo mudanças de valores, mudanças internas.
OswaldChambers o expressa assim:

"Deus nos dá uma visão, e depois nos faz descer até o vale para , mediante os
embates, nos moldemos à forma da visão, e é no vale que muitos de nós
desfalecem e desistem. Todas as visões se tornarão reais se tivermos
paciência. Pense em quanto tempo Deus tem! Ele nunca se apressa. Nós é
que vivemos sempre numa pressa frenética. Entramos logo em ação, apenas à
luz da glória davisão que temos, sem primeiro ter a visão real em nós; aí Deus
tem que nos levar ao vale e fazer-nos passar pelo fogo e pela água, para
moldar-nos até que cheguemos ao ponto em que ele possa confiar-nos a
realidade espiritual. Desde que recebemos a visão, Deus tem estado operando,
tentando dar-nos a forma do ideal,
mas nós estamos sempre escapando de sua mão e tentando moldar-nos a nós
mesmos à forma que achamos melhor."***
Algumas pessoas vibram com a visão, mas, no fim das contas, não estão
dispostas a pagar o preço para alinhar sua vida com ela,
deixando outras coisas para segui-la de verdade.
A terceira característica do processo de seleção que Jesus usou
foram suas altas exigências. Ele procurava o tipo de pessoa que valesse a
pena reproduzir. Não procurou um grande número de pessoas. Já pudemos ver
que Jesus exigia bastante. Ele também ensinou repetidamente que ninguém
poderia ser seu discípulo se não entregasse tudo (Lc 9.23-26,57-62; 14.25-35).
No processo de formação de equipe, os critérios de que você
precisa nas pessoas que andarão com você vão ficando claros. À
À medida que você conseguir articular esses critérios, as pessoas se
esforçarão para crescer nessas áreas, ou desistirão. Precisamos deixar
pessoas saírem da equipe, mantendo a porta aberta para isso. As vezes, é
porque a visão deles mudou; outras vezes, Deus os chama para outro papel ou
função; e outras vezes ainda, não querem to-
mar decisões difíceis de serem alinhadas com os critérios do que
precisam ser ou fazer para ficar na equipe. Jesus nunca rogou a
ninguém para ficar ao seu lado. Ao contrário, repetidas vezes deixou
claras suas exigências e permitiu à pessoa escolher. Ao mesmo tempo, Jesus
nunca mandou ninguém embora. Apenas esclarecia os
critérios para segui-lo, e as pessoas foram se auto-eliminando.

A quarta característica da seleção de Jesus foi o discernimento


quanto a quem respondia à sua voz (Jo 10.3-5,16,27). Podem-se
distinguir tais pessoas, reconhecer quem está atraído por você, e
quem leva a sério suas sugestões, o ensino e a tarefa de como seguir
melhor ao Senhor. Dê tarefas às pessoas interessadas em segui-lo ou
estar em sua equipe e veja quem as leva a sério.
Por exemplo, muitos pastores e líderes investem bastante tempo "apagando
incêndios", aconselhando pessoas em crise, respondendo às necessidades
urgentes de seus membros. Poderiam poupar
muitas horas cada semana com a seguinte sugestão: quando alguém pedir
para encontrá-lo para aconselhamento, poderia dizer
"Fulano, eu gostaria muito de me encontrar com você! Permite-me
pedir um favor antes de marcar esse encontro? Por favor, leia Tiago
e 1João, anote dez princípios que se aplicam à sua situação. Então
volte e marque o encontro". Você encontrará três tipos de pessoas:

1. Aquela que não o leva a sério, não faz a tarefa e não o procura
mais. Aleluia!
2. Aquela que o leva a sério, faz a tarefa, mas não precisa mais
de ajuda. Aleluia!
3. Aquela que o leva a sério, faz a tarefa e volta para o encontro
com você. Vale a pena investir nessa pessoa. Aleluia!

A quinta característica da seleção de Jesus foi a oração, confirmando os


nomes com o Pai. Devemos sentir que o próprio Deus está indicando as
pessoas nas quais ele quer que invistamos nossa vida (Jo 17.6). Jesus passou
a noite orando, antes de escolher os doze (Lc 6.12-16), mesmo sendo o
Messias, com sabedoria do alto, sendo cheio do Espírito. Por quê? Pense um
pouco sobre alguns dos problemas que ele enfrentou com Pedro (orgulho,
Pedro o corrigindo, falando antes de pensar bem), Tiago e João (filhos de
trovão, ira, ambição para posições de poder, ciúme de seu ministério),
Tomé (dúvida, racional), Mateus (reputação terrível, dificuldade
de relacionamento com todos), Simão, o Zelote (político, violento), Natanael
(homem justo que provavelmente teria problemas
com vários outros discípulos que não andavam de forma justa),
Judas, (avarento, traidor, não confiável) e assim por diante! Oração, ouvindo do
Pai, começa a fazer mais e mais sentido!
Se não orarmos, podemos escolher um Eliabe em vez de um Davi. Imagine o
desastre para Israel se Samuel tivesse ficado na
primeira impressão, atentasse para a aparência sem ouvir a orientação de
Deus quanto ao sucessor ao rei Saul (1Sm 16.6,7). Eventos
posteriores mostraram que Eliabe tinha um caráter parecido com
Saul (1Sm 17.28).

Perguntas para reflexão (individual e em grupo pequeno)

1. Que proporção de seu sucesso como líder você acha que depende de
selecionar bem sua equipe? si uso

2. Qual dos cinco processos você acha ser mais importante?

3. Quais seriam alguns passos iniciais para você aplicar esses


processos à sua realidade?

Para aprofundar-se

Estude meu livro As bases na formação de discipuladores (São


C Paulo: Vida, 1997).

*P.32

**Esses cinco processos de seleção se encontram com mais detalhes em meu


livro As bases na formação de discipuladores.

*** Tudo para Ele, 06 de julho.

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