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LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA BRUNO MALAFAIA GRILLO

Presidente da República DÉBORA SILVA CARVALHO


GRACIEMA RANGEL PINAGÉ
MARINA SILVA RUBENS RAMOS MENDONÇA
Ministra de Estado do Meio Ambiente Equipe Técnica
e Mudança do Clima
BRUNO MALAFAIA GRILLO
GARO JOSEPH BATMANIAN CLARISSA MARIA DE AGUIAR
Diretor-Geral do Serviço Florestal Brasileiro GRACIEMA RANGEL PINAGÉ
RUBENS RAMOS MENDONÇA
ANDRÉ RODRIGUES DE AQUINO TITO NUNES DE CASTRO
Diretor de Fomento Florestal Conteudistas e revisores técnicos

FERNANDO CASTANHEIRA NETO AVANTE BRASIL INFORMÁTICA E TREINAMENTO LTDA.


Coordenador-Geral de Fomento e Inclusão Florestal Projeto Gráfico e Ilustração

LILIANNA MENDES LATINI GOMES


Coordenadora de Ações de Fomento Florestal
SUMÁRIO

1. Caracterização de floresta 5 3. Apresentação 55


1.1 Conceito de floresta 6 3.1. Sustentabilidade 56
1.2 Classificação das florestas 7 3.1.1 Conceito de sustentabilidade 56
1.2.1 Florestas boreais 8 3.1.2 Sustentabilidade e Floresta 58
1.2.2 Florestas temperadas 9 3.2. Definição de manejo florestal sustentável 59
1.2.3 Florestas tropicais 10 3.3 Categorias de Manejo Florestal 60
1.3 Caracterização das florestas tropicais 11 3.4 Práticas de manejo 62
1.4. As estruturas da floresta tropical úmida 13 3.4.1 Planejamento 63
1.4.1. Composição florestal 13 3.4.2 Intensidade e ciclo de corte 65
1.5. Florestas tropicais no Brasil 16 3.4.3 Etapas da execução do manejo 68
1.5.1 A floresta amazônica 18 3.4.4 Saúde e segurança no trabalho 76
1.6 A população que vive na floresta amazônica 22 3.5 Importância do manejo florestal para a
1.6.1 Importância da floresta para as populações 22 comunidade e para a floresta 78
1.6.2 Povos da floresta 23 Encerramento do módulo 3 78
1.6.2.1 Povos Indígenas 25
1.6.2.2. Pequenos produtores rurais e agricultores 4. Licenciamento do Manejo Florestal 80
familiares 26 4.1 Etapas de licenciamento 81
1.6.2.3 População tradicional e extrativistas 27 4.2 O Plano de Manejo Florestal Sustentável 88
Encerramento do módulo 1 28 4.2.1 Apresentação do Plano de Manejo Florestal 90
Aspectos gerais 90
2. Florestas e Biodiversidade 30 4.2.2 Exigências para PMFS Plenos 99
2.1 Introdução 30 4.2.3 Operacional Anual 102
2.2 Produtos florestais madeireiros 33 Encerramento do módulo 4 109
2.3 Produtos florestais não-madeireiros 36
2.4 Serviços ambientais 43 5. Comercialização de produtos florestais 111
2.5 Importância sociocultural 50 Encerramento do módulo 5 123
2.6 Lazer e ecoturismo 52
Encerramento do módulo 2 53
MÓDULO 1
CARACTERIZAÇÃO DE
FLORESTA
1. Caracterização de floresta

CARLOS DONA BENÉ BRUNA RAIMUNDO

Olá! Eu sou o Carlos. Sou técnico extensionista e irei acompanhá-los neste curso. Vamos
tratar do manejo florestal e das principais boas práticas exigidas pela legislação e pelo
mercado.

Vamos ter a participação da Dona Bené, professora e representante da comunidade


local, que tem dúvidas sobre o uso das florestas públicas.

A Bruna, analista ambiental do ICMBio, irá nos orientar sobre a parte burocrática do
planejamento da atividade de Manejo Florestal Sustentável. Também contaremos com
o apoio do Seu Raimundo, mais conhecido como Seu Raí, técnico de Segurança do
Trabalho que já acompanhou vários planos de manejo.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 5 MÓDULO 1


1.1 Conceito de floresta

Carlos, observamos muito no nosso cotidiano a utilização


da palavra floresta, mas é comum que as pessoas não
tenham noção do quanto ela pode ser imensa e diversa. Não
podemos resumir a apenas uma grande área de terra com
árvores que produzem madeira.

É verdade, Dona Bené. Vamos então começar chamando a atenção


para o significado literal de floresta.

“Floresta” é qualquer vegetação que apresente predominância de


indivíduos arbóreos, onde as copas das árvores se tocam formando
um dossel. Sinônimos populares para florestas são: mata, bosque,
capoeira e selva. Seu desenvolvimento está diretamente ligado aos
fatores climáticos, como umidade e temperatura, incidência de luz
solar (que variam de acordo com a latitude), altitude e composição
do solo.

Uma floresta pode se constituir tanto de formações florestais


fechadas (densas), nas quais árvores de vários estratos cobrem
uma alta proporção do solo, quanto de florestas abertas, onde os
indivíduos se encontram mais afastados entre si, impedindo que o
dossel se feche em muitos pontos.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 6 MÓDULO 1


1.2 Classificação das florestas

Pessoal, existem diversas formas de classificar


uma floresta. A principal é quanto à sua
localização no globo (boreal, temperada ou
tropical). Pelas suas características, nem todas
existem aqui no nosso país.
Classificação
das
Florestas

Então vamos detalhar melhor


cada uma delas?

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 7 MÓDULO 1


1.2.1 Florestas boreais

Florestas boreais são aquelas mais próximas aos polos, em regiões frias e com neve na maior parte
do ano. Devido às baixas temperaturas, sua vegetação é pouco diversificada, sendo constituída
principalmente por coníferas (abetos e pinheiros). Essas florestas são encontradas principalmente
no norte do Alasca, Canadá, sul da Groelândia, parte da Noruega, Suécia, Finlândia, Sibéria e Japão.

A Floresta Boreal da Sibéria, também conhecida como Taiga Siberiana, é quase três vezes maior que
a Floresta Amazônica.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 8 MÓDULO 1


1.2.2 Florestas temperadas

As florestas temperadas ocorrem nas regiões de clima


temperado da Terra, que se caracterizam por possuir quatro
estações do ano bem definidas. Além disso, essas florestas
possuem árvores que perdem as folhas durante o período mais
frio, por exemplo, o carvalho, o bordo, a faia e a nogueira. Essas
florestas são encontradas em boa parte da América do Norte,
por quase toda a Europa, nas regiões oeste e leste da Ásia, na
Austrália e Nova Zelândia e na parte inferior da América do Sul.

Saiba Mais
A queda das folhas está associada a uma adaptação das plantas na defesa
contra a seca fisiológica, uma vez que o inverno (nas regiões temperadas), que
dura cerca de três meses, é bastante rigoroso e a água congela no solo. As
árvores que apresentam esta característica são chamadas de caducifólias.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 9 MÓDULO 1


1.2.3 Florestas tropicais

As florestas tropicais ocorrem nas regiões entre os trópicos, que se caracterizam por uma maior
incidência de luz solar, predominando altas temperaturas e umidade. Essas florestas apresentam
alta diversidade de espécies. São encontradas principalmente na América Central, na América do
Sul, na África e no sudeste Asiático.

Saiba Mais
A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo, com área de mais
de 5.500.000 km , estando presente em 8 países da América do Sul (Brasil,
Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia) e no território
da Guiana Francesa. No Brasil, ela ocupa quase a metade do território.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 10 MÓDULO 1


1.3 Caracterização das florestas tropicais

Que interessante! Estou tão Tenho tratado disso com os meus Foi bom ter chamado a
acostumado aqui com a alunos. Mas eu quero aprender atenção de vocês. Mas
nossa floresta que nem me muito mais sobre como podemos vamos ver um pouco mais as
dava conta dessa variedade. ser beneficiados com as florestas. características das florestas
tropicais, que é a que temos
aqui?

As florestas tropicais são divididas em três categorias: florestas tropicais secas, florestas tropicais
estacionais e florestas tropicais úmidas (FAO, 2012).

As florestas tropicais secas são caracterizadas por um longo período


seco (5 a 8 meses) e possuem plantas que são adaptadas para resistir
à falta de água, perdendo suas folhas ou acumulando líquidos em seu
tronco, como é o caso dos cactos. A caatinga é um exemplo de floresta
tropical seca no Brasil.

As florestas tropicais estacionais são caracterizadas por possuir um


período seco (3 a 5 meses), no qual parte das plantas perde suas folhas
durante esse período (espécies caducifólias). No Brasil, a maior parte
desse tipo de vegetação está localizada na região Sudeste, dentro do
bioma1 Mata Atlântica.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 11 MÓDULO 1


1
Conjunto de vida (vegetal e animal e as outras formas), com agrupamento de tipos de
vegetação contínuos, em escala regional, com condições e clima e geologia parecidas,
e uma história compartilhada de mudanças. Isso resulta em uma diversidade biológica
própria de cada bioma.

As florestas tropicais úmidas são caracterizadas pela umidade e pelas


altas temperaturas, sendo que a região de ocorrência dessas florestas
pode apresentar uma estação seca, que pode variar de 0 a 3 meses.
Estes ambientes também possuem uma biodiversidade extremamente
abundante, com a presença de árvores altas muito próximas umas
das outras, formando um grande dossel sombreando o solo florestal.
As principais florestas tropicais úmidas do Brasil ocorrem na faixa
litorânea do bioma Mata Atlântica e no bioma Amazônia.

Confira o mapa com a identificação dos biomas no Brasil.


Mapa dos Biomas (IBGE, 2019 - versão mais atualizada)

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 12 MÓDULO 1


1.4. As estruturas da floresta tropical úmida
1.4.1. Composição florestal

As florestas são formadas por milhares de espécies vegetais que apresentam diferentes tamanhos,
formas e funções dentro do ecossistema florestal. Em relação ao tamanho e forma dessas espécies,
podemos dividir a floresta em quatro estratos (altura): herbáceo, sub-bosque, dossel e emergente.

Emergente: árvores altas que


ultrapassam o dossel.

Dossel: patamar superior da


floresta, correspondendo a mais
alta camada de folhas, caules e
pequenos ramos expostos.

Sub-bosque: conjunto de
plântulas e plantas jovens
que crescem abaixo do dossel
florestal.

Herbáceo: camada de ervas


(planta não lenhosa e terrestre),
subarbustos (planta de base
lenhosa e ápice herbáceo),
trepadeiras (planta de hábito
escandente de forma ampla),
sendo estas herbáceas (vinhas)
ou lenhosas (lianas) e arbustos
(planta lenhosa ramificada
desde a base) com até 1,30m.

Para cada estrato, podemos identificar e quantificar em uma determinada área:

Densidade: número de indivíduos por unidade de área, por exemplo, número de árvores por
hectare.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 13 MÓDULO 1


Área basal: área da seção do caule de uma árvore medida à altura de 1,30 m (DAP – diâmetro
a altura do peito). Como calcular: AB = π(DAP)2/4 (onde π = 3,1415). Para calcular a área basal
de uma área, soma-se a área basal de todos os indivíduos dessa área.

Distribuição diamétrica: distribuição do número de árvores por hectare, por espécie e por
classe de DAP.

Distribuição espacial: além da quantidade de indivíduos por espécie, é importante saber


como esses indivíduos se distribuem pela floresta. Uma espécie pode possuir distribuição
aleatória, uniforme ou agregada na floresta. Essa distribuição está frequentemente ligada
às variações das condições locais, como topografia, propriedades dos solos e também às
características próprias das espécies, por exemplo, a dispersão de seus frutos (PUIG, 2008).

Numa mesma área, podemos observar a evolução


da floresta ao longo do tempo, diante das seguintes
observações:

Grupos ecológicos sucessionais

Cada espécie vegetal da floresta apresenta diferentes estratégias de crescimento e


sobrevivência, que se adapta e se organiza conforme os recursos disponíveis. Entre estes
grupos, temos:

• Espécies primárias, que possuem um crescimento rápido (atingindo rapidamente o


dossel), necessitando de maior iluminação para seu crescimento, com um ciclo de vida
reduzido e produzem uma grande quantidade de sementes, que ficam bastante tempo
no solo esperando melhores condições para se desenvolverem. Essas espécies crescem
melhor após algum distúrbio no ecossistema, como a abertura de uma clareira na floresta.
Exemplo: Açaí (Euterpe sp.), Paricá (Schizolobium amazonicum (Vell)) e Maricá (Mimosa
bimucronata).

• Espécies secundárias e clímax crescem em condições de luz reduzida, possuem um ciclo


de vida longo, produzindo sementes em menor quantidade. As espécies desse grupo são
capazes de desenvolver plântulas dentro do sub-bosque da floresta. Exemplo: Jatobá
(Hymenaea courbaril var. stilbocarpa), Copaíba (Copaifera sp.) e Sobrasil (Colubrina
glandulosa Perkins).

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 14 MÓDULO 1


• Espécies secundárias e clímax crescem em condições de luz reduzida, possuem um ciclo
de vida longo, produzindo sementes em menor quantidade. As espécies desse grupo são
capazes de desenvolver plântulas dentro do sub-bosque da floresta. Exemplo:
abiurana (Pouteria guianensis), andiroba (Carapa guianeses) e mogno (Swietenia
macrophylla)

Mosaicos

A mortalidade e a formação de clareiras ocorrem o tempo todo dentro da floresta. Quando um


indivíduo adulto do estrato superior morre, abre-se uma clareira que beneficia as espécies de
crescimento rápido. Estas sombreiam rapidamente a área, facilitando o crescimento de espécies
tolerantes à sombra. Isso transforma a floresta tropical úmida em uma junção de unidades
florestais em diferentes processos de sucessão (clareiras, clareiras em processo de fechamento
de dossel, áreas com vegetação madura, entre outros), transformando a floresta tropical úmida
em um mosaico dinâmico.

Importante
Entender a estrutura espacial das espécies arbóreas dentro da floresta ajuda
no planejamento do manejo florestal, evitando a exploração excessiva de
determinada espécie e, consequentemente, sua extinção dentro da área de
manejo.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 15 MÓDULO 1


1.5. Florestas tropicais no Brasil

Nossa, Carlos! Quanta coisa interessante!

Florestas
tropicais
no Brasil

Dona Bené, agora vamos


começar a ver porque estas
informações são importantes
no dia a dia do manejo florestal.

Como vimos, o Brasil possui seis grandes biomas de características


distintas, com cada um deles abrigando diferentes tipos de
vegetação e de fauna. Bioma é conceituado como um espaço
geográfico formado por organismos vivos agrupados em tipos
de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com
condições geoclimáticas similares e história compartilhada de
mudanças, o que resulta em uma biodiversidade própria.

Confira o Mapa dos Biomas na versão mais atualizada (IBGE, 2019).

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 16 MÓDULO 1


Dentro de cada bioma existem diferentes formações florestais. As
tipologias de vegetação lenhosa que o Serviço Florestal Brasileiro (SFB)
considera como floresta correspondem às seguintes categorias de
vegetação do Sistema de Classificação do IBGE (IBGE, 2012):

• Floresta Ombrófila Densa;


• Floresta Ombrófila Aberta;
• Floresta Ombrófila Mista;
• Floresta Estacional Semidecidual;
• Floresta Estacional Decidual;
• Campinarana (florestada e arborizada);
• Savana (florestada e arborizada) – Cerradão e Campo-Cerrado;
• Savana Estépica (florestada e arborizada) - Caatinga arbórea;
• Estepe (arborizada);
• Vegetação com influência marinha, fluviomarinha (arbóreas);
• Vegetação remanescente em contatos em que pelo menos
uma formação seja florestal;
• Vegetação secundária em áreas florestais;
• Reflorestamento.

Essas formações florestais estão presentes em cinco dos seis biomas


brasileiros. Apenas o bioma Pampa não apresenta formações florestais.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 17 MÓDULO 1


1.5.1 A floresta amazônica

A floresta amazônica é a maior reserva de biodiversidade do mundo e o maior bioma do


Brasil, ocupando quase metade do território nacional. O bioma cobre totalmente cinco
Estados (Acre, Amapá, Amazonas, Pará e Roraima), quase totalmente Rondônia (98,8%) e
parcialmente Mato Grosso (54%), Maranhão (34%) e Tocantins (9%). Já a Amazônia Legal,
estabelecida no artigo 2º da Lei nº 5.173, de outubro de 1966, abrange os estados do Acre,
Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, parte do Maranhão
e cinco municípios de Goiás.

A Amazônia Legal representa 59% do território brasileiro, distribuídos por 775 municípios,
onde vivem, segundo a projeção de 2017 do IBGE, mais de 28 milhões de pessoas
(aproximadamente 13% da população brasileira).

A região é compreendida pela bacia do rio Amazonas, a mais extensa do planeta, formada por
25 mil km de rios navegáveis, em cerca de 6,9 milhões de km , dos quais aproximadamente
3,8 milhões de km estão no Brasil. A bacia escoa 20% do volume de água doce no mundo.

O clima predominante é quente e úmido, com temperatura média de 25°C, com chuvas
bem distribuídas ao longo do ano.

Das formações florestais vistas anteriormente, segundo dados do IBGE (2012), a floresta
amazônica é caracterizada pela presença de:

Floresta ombrófila densa Campinarana florestada

Floresta ombrófila aberta Campinarana arborizada

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 18 MÓDULO 1


Floresta ombrófila densa

Também conhecida como floresta tropical úmida ou pluvial, é a formação com maior presença
dentro da floresta amazônica e é caracterizada pela existência de árvores de grande porte. Essa
formação florestal é subdividida em cinco categorias, de acordo com as variações das faixas de
altitude: Altomontana, Montana, Submontana, Terras Baixas e Aluvial.

Veloso, Rangel Filho e Lima (1991) disponível em IBGE, 2012.

Floresta ombrófila aberta

Apresenta um dossel mais aberto devido ao maior espaçamento entre as árvores, grande
presença de cipós, palmeiras, bambus ou sororocas2.

Veloso, Rangel Filho e Lima (1991) disponível em IBGE, 2012.

2
Planta da família Musaceae, mesma das bananeiras.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 19 MÓDULO 1


Campinarana florestada

Também conhecida como caatinga da Amazônia e caatinga-gapó, ocorre no alto rio Negro
(noroeste do Amazonas) e no médio rio Branco (sul de Roraima). Essa formação se diferencia da
floresta ombrófila por apresentar um porte menor das árvores com troncos mais finos.

Campinarana arborizada

Também conhecida como campinarana e caatinga-gapó, ocorre nas mesmas localidades da


campinarana florestada, porém em locais com solos mais arenosos. Por essa limitação do solo,
as árvores presentes nesses locais são menos desenvolvidas.

Adaptado de Veloso, Rangel Filho e Lima (1991) disponível em IBGE, 2012.

Saiba Mais
Além dessas formações florestais, também é possível encontrar dentro da floresta amazônica
áreas com vegetação que sofreram distúrbios feitos pelo homem, como vegetação
remanescente em mosaicos em que pelo menos uma formação seja florestal, vegetação
secundária em áreas florestais e reflorestamento.

Atualmente, aproximadamente 20% da floresta amazônica já foi desmatada, principalmente


pelo avanço da fronteira agrícola e pela exploração ilegal de madeira. O desmatamento dessa
floresta é preocupante, pois a floresta tem um papel muito importante no ciclo hidrológico da
América do Sul, principalmente na bacia do Prata onde a umidade proveniente da Amazônia é
responsável parte das chuvas que ocorrem na região (Lovejoy e Nobre, 2018).

Sendo assim, vem se buscando alternativas para reverter este quadro de desmatamento,
principalmente por meio do uso sustentável da floresta. Nesse cenário, o manejo florestal
sustentável é uma alternativa que traz desenvolvimento econômico para a população que
reside na floresta junto com a manutenção da floresta em pé, por meio de práticas de colheita
de baixo impacto.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 20 MÓDULO 1


Entenda a diferença entre bioma Amazônia e Amazônia Legal.

Bioma Amazônia Amazônia Legal


O Bioma Amazônia é um território definido por A Amazônia Legal é um território definido por lei e
critérios ecológicos, sendo que dentro dela existem criado para a aplicação de políticas públicas para a
formações com características ecológicas região.
semelhantes.

VENEZUELA VENEZUELA

COLÔMBIA COLÔMBIA
RR AP RR AP

EQUADOR EQUADOR

AM AM
PA MA PA MA
PI PI
AC AC
RO RO
PERU TO PERU TO
BA BA
MT MT

DF DF
GO GO
BOLÍVIA MG BOLÍVIA MG
MS MS
SP RJ SP RJ
PR PR

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 21 MÓDULO 1


1.6 A população que vive na floresta amazônica
1.6.1 Importância da floresta para as populações

“Mais de 1,6 bilhão de pessoas dependem da floresta em diversos níveis para sobreviver.
Aproximadamente 60 milhões de indígenas são quase totalmente dependentes das
florestas. Em torno de 350 milhões de pessoas que vivem dentro ou perto de florestas densas
dependem dela em um alto grau para subsistência e renda. Em países em desenvolvimento,
aproximadamente 1,2 bilhão de pessoas dependem de sistemas de produção agroflorestais
que ajudam a sustentar a produtividade agrícola e geração de renda. Em todo o mundo, as
indústrias de base florestal empregam mais de 60 milhões de pessoas. Mais de 1 bilhão de
pessoas no mundo dependem de medicamentos derivados de plantas presentes em florestas
para suas necessidades médicas.” (BANCO MUNDIAL, 2004).

Essa citação mostra a importância que as florestas


possuem para a população mundial e, principalmente,
para as populações que vivem dentro dessas regiões,
os povos da floresta.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 22 MÓDULO 1


ATER

ATE
R

Povos
TÉCNICO

da
Floresta

Dona Bené e Seu Raimundo, os Povos da Floresta são grupos sociais que utilizam os recursos
naturais provenientes da floresta e dos rios para sua sobrevivência sem destruí-los, assim
como a comunidade de vocês. Eles baseiam seu modo de vida da extração de produtos
como a borracha, a castanha, óleos vegetais, entre outros, e dedicam-se à caça, à pesca não
predatória e à agricultura de subsistência.

ATER

ATE
R

TÉCNICO

Povos
da
Floresta

Atualmente, com cerca de 28 milhões de pessoas vivendo nos nove estados da Amazônia
Legal, a densidade demográfica é de cerca de 5,4 habitantes por km , com mais da metade
da população vivendo em centros urbanos. Manaus é considerada a maior cidade da
Amazônia, de acordo com a projeção do IBGE da população em 2017(a), com mais de 2,1
milhões de pessoas.
Como podemos observar, a formação da população
da Amazônia, assim como a brasileira, preserva
ainda hoje características da grande variação de seus
diversos povos.

Bruna, isto são características da grande miscigenação


entre diversos grupos étnicos. A população da
Amazônia possui traços indígenas, brancos e negros.

Saiba Mais
Há uma grande diversidade entre os povos e comunidades tradicionais que habitam
a Amazônia Brasileira. Os Povos Indígenas da Amazônia pertencem a mais de 200
povos distintos (incluindo tribos isoladas), cada uma com sua própria cultura e modo
de relação com o ambiente. Além dos povos originários, existem os quilombolas,
seringueiros, castanheiros, quebradeiras de coco-de-babaçu e ribeirinhos, também
com conhecimentos, práticas e culturas bem diversas entre si.

Aqui na nossa região, muitas comunidades


extrativistas e indígenas vivem em condições
sociais precárias. Carecem de rede pública
de saúde, remédios, saneamento básico,
educação e de oportunidades de trabalho.

Considerando o conhecimento tradicional e as


técnicas de utilização e cultivo que esses habitantes
praticam, o apoio aos povos da floresta é a melhor
estratégia de futuro para a região. A presença das
comunidades é fundamental para conter as ações
predatórias neste bioma. A área rural da Amazônia
também abriga agricultores familiares (que podem
pertencer a alguns dos povos e comunidades
tradicionais ou não), agricultores assalariados e
fazendas de grande porte.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 24 MÓDULO 1


1.6.2.1 Povos Indígenas

Segundo o censo demográfico de 2010, do IBGE, existem mais de 896


mil indígenas no Brasil, sendo mais de 340 mil residentes na região
Norte. No território Amazônico, concentram-se 98,5% das terras
indígenas do Brasil.

Povos
Indígenas

A comunidade indígena depende muito da terra para a sua subsistência. Em


2010, 83% dos indígenas com 10 anos de idade ou mais recebiam até um salário
mínimo ou não tinham rendimentos (PEREIRA, 2016). Esses valores mostram a
importância da terra para esses povos como garantia de seu sustento.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 25 MÓDULO 1


1.6.2.2. Pequenos produtores rurais e agricultores
familiares

Os pequenos produtores rurais e agricultores


familiares são aqueles que vivem do cultivo da
terra, retirando alimentos e outros produtos para
consumo próprio. Normalmente essas pessoas vivem
em pequenas propriedades ou comunidades de uso
coletivo da terra.

Atualmente, segundo os resultados preliminares do


Censo Agropecuário de 2017 (IBGE, 2017b), existem
mais de 700 mil propriedades com menos de 100
hectares nos estados da Amazônia Legal.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 26 MÓDULO 1


1.6.2.3 População tradicional e extrativistas

Nossa comunidade é composta por produtores familiares


que vivem do cultivo da terra e de atividades extrativistas,
como a pesca, a caça e a coleta. Nós possuímos um grande
conhecimento da floresta e dos produtos que ela pode nos
oferecer e utilizamos de técnicas de exploração que causam
pouco impacto à natureza. Nossa produção é voltada para
subsistência.

Segundo o Instituto Socioambiental (2017), as principais populações tradicionais presentes na


região amazônica são:

Babaçueiros – Extrativistas que têm como base da subsistência a


exploração do babaçu, uma espécie de palmeira oriunda do Norte do
Brasil.

Caboclos – Mestiços de negros e índios que vivem em comunidades


rurais.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 27 MÓDULO 1


Seringueiros – A principal atividade é a extração do látex, matéria-prima
da borracha, embora possam também praticar alguma agricultura e
criação de gado. As primeiras Reservas Extrativistas criadas no País foram
em grande parte resultantes das ações dos seringueiros.

Quebradeiras de Coco – Mulheres de comunidades extrativistas do


Maranhão, Tocantins, Pará e Piauí que coletam e quebram o coco da
palmeira de babaçu, utilizado para a produção de óleo e sabonete de
coco, por exemplo.

Quilombolas – Comunidades rurais negras, muitas delas formadas por


ex-escravos remanescentes dos quilombos (comunidades fundadas por
escravos fugidos).

Ribeirinhos – Pequenos produtores que moram na beira de rios ou em


regiões de várzea, ou seja, nas áreas de floresta que são periodicamente
alagadas pela água de rios, e praticam atividades de coleta, caça, pesca
e alguma agricultura. São conhecidos também como varjeiros.

Encerramento do módulo 1

Estemódulofoifundamentalpara
expor as questões conceituais de
floresta, além da caracterização
do bioma e das pessoas que aqui Lembrem-se
habitam. de realizar os
exercícios.
Até mais!
No próximo módulo,
vamos abordar mais
tópicos relacionados
às atividades dentro
das florestas.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 28 MÓDULO 1


MÓDULO 2
FLORESTA E
BIODIVERSIDADE
2. Florestas e Biodiversidade
2.1 Introdução

Neste módulo, vamos abordar a biodiversidade


da floresta, os serviços ambientais, a conservação
do solo e a importância sociocultural.

Muito bom! Vamos seguir.

Floresta

Sabemos que as florestas são essenciais para a terra como um todo. Falar da importância
das florestas não envolve somente nós humanos, mas também sua relevância como um
elementofundamentaldonossoecossistema,comoprotetorasdosoloedabiodiversidade3,
como influência fundamental na regulação das chuvas, na regulação do ciclo de nutrientes
em nível global, dentre muitos outros serviços.

3
Biodiversidade é a variedade de formas de vida, animal, vegetal, bacteriana, fúngica e
demais organismos existentes em determinado local. A diversidade entre as espécies, como
variedades de mandioca, e genética, também faz parte da atividade.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 30 MÓDULO 2


Floresta

As florestas são fontes de bens como madeiras, combustíveis, extrativismos de


frutos, sementes, vários produtos medicinais e ainda têm um elevado valor
paisagístico e recreativo. Para vários povos, também possui um valor cultural e
espiritual essencial para eles.

É isto mesmo, Dona Bené.

Os bens florestais são os produtos palpáveis


vindos das florestas, como frutas, madeiras,
fibras e plantas aromáticas. Os serviços
são impalpáveis, mas nem por isso menos
importantes, tanto local, regional ou até Floresta
mesmo globalmente, como sequestro de
carbono, fixação de solo e regulação do
regime de chuvas.

A vegetação nativa é parte importante das relações dos povos e comunidades tradicionais e
agricultores familiares com seus territórios. Para além de um pedaço de terra, estes territórios
são o local onde estas populações existem, se reproduzem, produzem e vivem. Assim, as
florestas públicas comunitárias, as propriedades da agricultura familiar e demais territórios
ocupados por povos e comunidades são de importância crucial.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 31 MÓDULO 2


As florestas geram produtos florestais, madeireiros e não-madeireiros, essenciais
para seus habitantes, como:

• Madeira para lenha e construção de casa e barcos, para cercas e cochos, para
casas de farinha e jiraus.

• Plantas para remédio e comida, para fazer cestas e artesanato, para cobrir
casas, para vender e gerar renda, a castanha, o açaí, a erva-mate, a cataia,
o licuri, o pequi, o umbu, o tucum, a sempre-viva, o babaçu, o velame,
dentre uma infinidade de outros produtos. As florestas representam uma
fonte contínua de diversos produtos que geram alimento, remédios e renda.
Isso contribui para a permanência das famílias nessas áreas e estimula a
sustentabilidade ambiental.

Floresta

Isto mesmo, Carlos. A demanda por produtos florestais tem crescido, estimulando a sua
produção por parte dessas comunidades. Isso garante o sustento e o desenvolvimento delas e
é uma importante estratégia de conservação das florestas.
Os que vivem na e da floresta, costumam usar de forma racional e sustentável, se estes
produtos conseguirem proporcionar uma renda mínima para eles.

É o que dizemos, “quem precisa do ovo não mata a galinha”.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 32 MÓDULO 2


2.2 Produtos florestais madeireiros

O manejo madeireiro, além da madeira


propriamente dita de espécies nativas, Produtos
inclui seus subprodutos, como lenha, florestais
madeira para serraria, estacas, mourões, madeireiros
entre outros.

Saiba Mais
Segundo o IBGE, a produção de madeira em tora, vinda das florestas nativas da Amazônia
Legal, foi de 10,6 milhões de m , em 2016, ante 52,1 milhões de m , em 1995. O avanço
das ações e políticas relacionadas às medidas de comando e controle explica, em parte,
essa queda considerável na produção, pois levou à redução do desmatamento ilegal e
à substituição parcial da madeira vinda das florestas nativas por madeiras derivadas
de plantios florestais e por outros produtos substitutos da madeira. Outras possíveis
causas que colaboraram para esse declínio da produção foram as crises econômicas
internacionais ocorridas no período.

A silvicultura (obtida em florestas plantadas) contribuiu com 79,3% (R$ 16,3 bilhões)
desse total, representando um aumento de 11,1% no valor de produção na comparação
com 2017.

A extração vegetal (coleta de produtos em matas e florestas nativas) teve participação


de 20,7% (R$ 4,3 bilhões), sofrendo uma queda (a terceira consecutiva) de 2,7% na
comparação com o ano anterior.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 33 MÓDULO 2


Na silvicultura, a produção de madeira para a indústria de papel e celulose foi o grupo que gerou
o maior valor de produção em 2018 (R$ 5,1 bilhões). Entretanto, a principal influência para o
crescimento no valor de produção da silvicultura veio da produção de carvão vegetal, com aumento
de 18,9% da produção, gerando valor de R$ 4,1 bilhões (aumento de 50,5% no valor de produção).

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura 1996 – 2018.

Considerando o levantamento Produção da Extração vegetal


e Silvicultura – PEVS, do IBGE, edição de 2017, o valor total da
produção extrativista brasileira foi de mais de 4 bilhões de
reais, entre produtos alimentícios, fibras, ceras, oleaginosas,
medicinais, lenha e carvão de nativas.

De acordo com a metodologia usada, apenas os


estabelecimentos formais foram consultados, então
pode-se deduzir que a importância destes produtos é
bem maior.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 34 MÓDULO 2


Fonte: “IBGE – Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura”
“As Unidades da Federação, mesorregiões, microrregiões e municípios sem informação para pelo menos um produto da silvicultura em pelo menos um ano da pesqui-
sa não aparecem nas listas.”

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 35 MÓDULO 2


2.3 Produtos florestais não-madeireiros

Agora que estudamos os produtos florestais


madeireiros, vamos ver também os não-
madeireiros?

Produtos
florestais
não-madeireiros

O manejo não-madeireiro gera os chamados os Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNM)


advindos da extração vegetal.

Quantidade extraída dos principais produtos florestais não-madeireiros de espécies nativos em


2011.

PRODUTO Quantidade extraída no ano de 2011 (t)


Borracha (Hévea) 3.005
Cera de carnaúba 21.274
Fibra de Carnaúba 1.640
Fibra de buriti 465
Fibra de Piaçava 61.409
Açaí (fruto) 215.380
Castanha de caju 3.179
Castanha do Brasil 42.152
Erva-mate 229.681
Palmito 5.563
Umbu (fruto) 9.323

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 36 MÓDULO 2


Licuri (coquinho) 4.213
Óleo de copaíba 214
Amêndoa de babaçu 102.499
Amêndoa de cumaru 103
Amêndoa de Pequi 7.047

Fonte: Adaptado de: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Produção da Extração Vegetal de 2012.

Fonte: “IBGE – Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura”


“1 – Os municípios sem informação para pelo menos um produto da extração vegetal não aparecem nas listas.
“2 – Até 2001 era pesquisada a erva-mate cancheada. A partir de 2002 passou-se a pesquisar a erva=mate folha verde.”

Vamos aprender melhor sobre alguns desses produtos?

O látex de seringueira, produto principal do


grupo das borrachas, tem grande importância
principalmente para a região Norte. Nesta
região, o produto é extraído de árvores nativas,
e é conhecido como borracha natural. Já
foi o produto mais importante em termos
econômicos da Amazônia, e é o ”leite” da árvore,
que escorre de cortes na casca, recolhido em
tijelinhas e que se solidifica quando fermenta.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 37 MÓDULO 2


A cera de carnaúba é outro produto de grande
potencial devido ao seu alto valor econômico e
social. É uma cera que recobre as folhas de uma
palmeira, a carnaúba. Por ter um alto ponto de
fusão e brilho, é muito apreciada pela indústria
e usada em polimentos, vernizes, produtos de
cosméticos e muitos outros. A fibra desta palmeira
também é um produto em potencial para a
produção. Além da carnaúba, outras espécies são
destaque na produção de fibras, como o buriti e a
piaçava, concentrada na região Norte e Nordeste,
na qual são utilizadas para atender a confecção
de artesanatos pelas comunidades.

Considerado uma superfruta pelo seu alto valor


nutricional, o açaí tem grande importância para
a produção dessas comunidades tradicionais
devido à grande demanda no mercado nacional
e internacional e por sua produção ser bem
sustentada por meio do plantio extrativista. É
alimento essencial para muitas comunidades
da Região Norte. Ocorre em áreas alagadas, e
existem dois tipos, o açaí-solteiro, mais comum
no Acre, Amazonas e Rondônia, e o açaí de
touceira, que, ao contrário do açaí solteiro, forma
touceiras com várias palmeiras, como o nome diz.
Existem grandes açaizais nativos no estuário do
rio Amazonas, principalmente na ilha de Marajó.
O palmito desta palmeira também tem alto valor
comercial.

A piaçava são as fibras que ocorrem ao redor


do tronco de duas palmeiras, uma que ocorre
na Mata Atlântica do sul da Bahia e outra no
Amazonas. Essas fibras longas e rígidas são usadas
na confecção de vassouras e artesanato, além da
utilização do fruto da palmeira.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 38 MÓDULO 2


O buriti é uma palmeira de áreas alagadas
encontrada no Brasil todo. Dá um cacho grande
com frutos e a polpa comestível, usada na
fabricação de bebidas e doces. As folhas
fornecem uma fibra clara e muito resistente.

Bem conhecida dos brasileiros, a castanha de caju


é oriunda tanto de cajueiros cultivados como dos
que crescem espontaneamente. A parte carnosa
(pseudofruto) é usada para fazer sucos, doces,
bebidas e licores, e a castanha – que é o fruto de
verdade, deve ser torrada antes de ser consumida,
porque a casca contém uma substância muito
cáustica. Apesar de muitos tipos de caju ocorrerem
na maior parte do Brasil, a castanha de caju tem
importância econômica especialmente na região
Nordeste.

A castanha do Brasil é coletada em toda a


Amazônia brasileira. É o fruto de uma das maiores
árvores da floresta, a castanheira, polinizada por
grandes abelhas florestais. Os ouriços são muito
duros, e abertos com o facão para a retirada da
castanha, que depois é seca, por vezes defumada
e descascada antes do consumo. Além de ser
bem usada na alimentação local, gera renda para
muitos coletores.

Fruto do umbuzeiro, árvore característica do


semiárido nordestino, o umbu tem uma polpa
ácida com sabor delicado. É bastante usada para
fazer sucos. A árvore armazena água em grandes
”bolas” nas raízes e é muito resistente à seca.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 39 MÓDULO 2


A copaíba é uma resina extraída do tronco
de várias árvores, todas conhecidas como
coapibeiras. Ela gera o óleo de copaíba, apesar de
não ser realmente um óleo, de uso medicial e que
tem alto valor comercial.

O licuri é a castanha de uma palmeira, típica das


áreas de transição entre a caatinga e o cerrado.
Muito oleosa e saborosa, é bastante usada na
culinária – o leite de licuri é base de muitos
pratos doces e salgados. Também produz um
óleo de alto valor para cosméticos. Como o fruto
é o alimento preferencial da arara-azul-de-lear,
criticamente ameaçada de extinção, existem
normas específicas para a coleta do fruto desta
espécie.

Erva Mate. O mate é bem conhecido no sul do


Brasil e Mato Grosso, sendo a base das bebidas
muito apreciadas conhecidas como chimarrão e
tereré, respectivamente. Embora seja cultivada,
parte da produção vem de plantas selvagens,
manejadas nas florestas de araucárias
remanescentes.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 40 MÓDULO 2


O Babaçu é uma palmeira robusta que cresce bem
tanto em áreas de florestas menos densas quanto
em áreas já abertas pela agricultura. Aproveita-se
o mesocarpo para fazer uma farinha comestível,
o coco propriamente dito, que fornece um carvão
de alta densidade (para ser usado como medicinal
e filtros) e o óleo da castanha, que é o principal
produto, para uso alimentar e cosmético.

Existem vários tipos de pequi no Brasil, alguns


deles (mais conhecidos como piquiá e piquiarana)
ocorrendo como árvores na floresta Amazônica.
No entanto, o pequi tem maior importância nas
áreas de cerrado, sendo um insumo importante
para a culinária mineira e goiana. O fruto tem de
uma a três sementes, recobertas por uma polpa
amarela e oleosa, muito aromática, usada na
culinária. A amêndoa é recoberta por espinhos
finos. Essa amêndoa é bem saborosa quando
torrada, e fornece um bom óleo de uso cosmético.

O cumaru é o fruto de uma árvore amazônica,


também bastante usada para madeira. O fruto
seco é usado na perfumaria e para aromatizar
alimentos.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 41 MÓDULO 2


Ainda existem muitos produtos não-
madeireiros utilizados Brasil afora que
não constam no Censo do IBGE. Seja como
alimento, como a juçara, a gueroba, a
castanha-de-cotia, a cataia, o butiá, o pinhão; Produtos
seja como medicinal, como a arnica, a sacaca, florestais
o ipê, o barbatimão, a macelinha-do-campo, não-madeireiro
o velame, a imburana de cheiro; para a
produção de fibras, corantes, alimento para
animais, artesanato, fibras, a lista de produtos
é gigantesca e condizente com a grande
diversidade biológica e cultural do Brasil.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 42 MÓDULO 2


2.4 Serviços ambientais

Vamos ver agora como as florestas podem contribuir


para o equilíbrio global de gases na atmosfera em
especial o dióxido de carbono (CO ).

Serviços
ambientais

Por meio do processo chamado fotossíntese, as florestas desempenham um papel-chave na


manutenção do equilíbrio global de dióxido de carbono (um dos gases do efeito estufa3) e oxigênio
(gás vital para nossa respiração) na atmosfera.

De dia, as plantas realizam a fotossíntese, elas absorvem o dióxido de carbono (COꢂ) e usam a
energia solar para convertê-lo em açúcares (que servem de alimento para as plantas) e oxigênio. À
noite, elas param de fazer a fotossíntese (pois não há energia solar) e passam a respirar, de modo
que o oxigênio é absorvido e o dióxido de carbono é liberado.

3
Processo natural de reter o calor da luz do sol na terra,
causado por alguns gases da atmosfera, os chamados
gases de efeito estufa.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 43 MÓDULO 2


Esquema da Fotossíntese

Saiba Mais
As mudanças climáticas possuem relação com a concentração de COꢂ no planeta, ou
seja, quando se tem um aumento de COꢂ (muito pelas ações humanas como a queima
de madeira e combustíveis fósseis como carvão e petróleo que chegam a 6 bilhões de
toneladas de COꢂ por ano!) se tem o aumento da temperatura, por isso a preocupação
com relação ao aquecimento global.

As plantas, principalmente as lenhosas, como árvores, são formadas basicamente


pelo carbono absorvido pela fotossíntese. Ou seja, elas estocam esse carbono em seus
corpos, e quando morrem, na matéria orgânica do solo.

Quando se desmata ou se queima uma floresta, esse carbono volta para a atmosfera,
aumentando a concentração de COꢂ. Há ainda um efeito perverso desse aquecimento:
Quanto mais a temperatura sobe, mais a floresta fica seca, portanto, mais fácil de pegar
fogo e liberar ainda mais carbono no ar.

Desta forma, as florestas, além de absorverem o COꢂ extra da atmosfera e convertê-lo


em oxigênio, ajudam a retardar o aquecimento global.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 44 MÓDULO 2


Carlos, esse processo é importante também para
regular as chuvas, não é mesmo?

Serviços
ambientais

Com certeza! São importantes para regular o


regime de chuvas, sendo cruciais para a formação
de chuvas no Centro-Sul do Brasil.

Saiba Mais
A floresta amazônica funciona como uma grande “bomba biótica” de umidade. Através
do processo de evapotranspiração as árvores retiram água pelas raízes, levando através
do tronco para as folhas, que por sua vez jogam essa água evaporada para a atmosfera.

Devido à estrutura rugosa do estrato superior da floresta, ela consegue frear os ventos
que chegam do oceano e ajuda a manter a umidade nos níveis mais altos do céu. Essa
não é uma bomba qualquer: cada árvore amazônica de grande porte pode evaporar
mais de mil litros de água por dia. Todos os dias, quase 20 bilhões de toneladas de água
são evaporadas pela floresta, mais do que o aporte diário de água para o rio Amazonas.
Toda essa umidade é importante, pois regula o regime de chuvas na região, inclusive em
áreas distantes como no Sudeste. Essa grande circulação de vapor causada pela floresta
foi chamada por alguns pesquisadores de ”rios voadores”.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 45 MÓDULO 2


O solo é o sistema que sustenta a
vida das florestas!

Serviços
ambientais

Para qualquer tipo de vegetação, o solo é a parte do ecossistema que vai


abastecer as plantas de água e nutrientes (além da função de dar suporte
para as raízes). É no solo que as plantas e vegetais mortos serão convertidos
novamente em nutrientes pela decomposição, para alimentar as novas plantas.

Do mesmo jeito que o solo é essencial para as


florestas, estas também são essenciais para a
conservação daquele. A serrapilheira (camada de
restos vegetais, como folhas, gravetos, sementes,
frutos etc.) é a característica mais distinta de um
solo florestal e contribui consideravelmente para
as suas propriedades físicas e químicas.

Essa camada fornece alimento para a microflora


e fauna (insetos, fungos, bactérias e outros
seres pequenos que vivem nela, e que ajudam
a decompor a matéria orgânica, liberando os
nutrientes contidos nela). Também funciona
como isolante térmico e impede que a água
das chuvas arrastem os nutrientes, além de
reter consideravelmente a proporção de água,
reduzindo a evaporação do solo.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 46 MÓDULO 2


Porissoaretiradadaserrapilheiradasflorestastemimpactos
sérios, diminuindo a fertilidade do solo e a infiltração de
água, além de deixá-lo mais suscetível à erosão.

E como trataremos a produção e conservação


dos recursos hídricos?

Primeiramente, devemos
entender como é fácil a
relação das florestas com
a água e conhecer o ciclo
hidrológico na floresta.

Saiba Mais
A chuva que vai sobre uma mata pode seguir dois caminhos: volta à atmosfera por
evapotranspiração (como já falamos, é a transpiração da água das folhas) ou atinge o
solo, através da folhagem ou do tronco das árvores. A água que fica na copa das árvores,
junto com a evapotranspiração, garante a formação de novas nuvens. A chuva que
chega ao chão, pingando pelas folhas ou escorrendo pelos troncos, atinge o solo e a
folhagem no chão, a serrapilheira.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 47 MÓDULO 2


Da água que chega ao solo, uma parte escorre, chegando de alguma forma aos cursos d’água ou
aos reservatórios de superfície. A outra parte se infiltra, sendo armazenada temporariamente. Essa
água armazenada pode ser liberada para a atmosfera de três maneiras:

• Pela evapotranspiração – as raízes das árvores retiram essa água do solo e devolve para a
atmosfera através das folhas;
• Fica como água no solo por mais algum tempo, mantendo-o úmido;
• Se infiltra mais profundamente, como água subterrânea, e abastece o lençol freático4.

A água armazenada no solo que não passar pela evapotranspiração escorre lentamente da floresta,
compondo o chamado deflúvio5, que vai alimentar os rios e fontes ao longo do ano.

4
Reserva de água subterrânea no solo, que consegue se movimentar lentamente.
5
Deflúvio é a parte da chuva que não é absorvida pelo solo nem evapotranspirada, e escorre
pela superfície do solo ou logo abaixo.

Tudo isto é muito importante. Quero aprender ainda mais e repassar aos meus alunos.

Dona Bené, a vegetação absorve parte da água e


ajuda a barrar a força das gotas de chuva, o solo
não é arrastado pela força da água que escorre
(além de estar preso pelas raízes das plantas). Serviços
Isso ajuda a manter o solo e a evitar enchentes, ambientais
pois a parte da água que escorre é menor que em
terreno descoberto.

Repare na água da chuva que escorre de uma


área com vegetação intacta! Ela não é barrenta,
porque essa vegetação está cumprindo a função
de proteger o solo. Isso também protege os
cursos d’água, que sofrem com esse acúmulo de
terra carregada pelas chuvas para dentro deles.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 48 MÓDULO 2


Saiba Mais
Entenda melhor o CICLO DA ÁGUA!

https://www.youtube.com/watch?v=vW5-xrV3Bq4

Fonte: Agência Nacional de Águas

As florestas contribuem para manter o ciclo


hidrológico, nos fazendo pensar cada vez mais na
sua preservação e conservação!

Veja os principais efeitos que o desmatamento


pode causar com relação à água:

Alteração na qualidade da água, através do aumento da turbidez, da eutrofização6 e do


assoreamento dos corpos d’água;

Alteração do deflúvio, com enchentes nos períodos de chuva e redução na vazão de base
quando das estiagens;

Poluição hídrica, em função da substituição da floresta por ocupação, em geral inadequada,


com atividades agropastoris, urbanas e industriais.

6
Processo de poluição de corpos d´água causado pelo acúmulo de matéria orgânica, o que
diminui os níveis de oxigênio dissolvidos provocando a morte de diversas espécies animais
e vegetais.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 49 MÓDULO 2


2.5 Importância sociocultural

Serviços
ambientais

Bruna e Carlos, as atividades florestais têm uma relação


muito estreita com nossas comunidades. Por um lado, as
florestas naturais abrigam populações indígenas e caboclas
tradicionais e, por outro, o plantio de florestas ou o manejo
das reservas florestais se apresentam como alternativa
econômica aos pequenos produtores rurais.

É comum que os comunitários tenham dúvidas sobre a


utilização dos recursos naturais como instrumentos de
inclusão social, subsistência e geração de renda.

Bené, o manejo comunitário é um tema que vem sendo


estudado, divulgado e colocado em prática, especialmente
na região amazônica, como forma de as comunidades
tradicionais utilizarem economicamente a floresta de
forma organizada para que possam aumentar sua renda e
melhorar suas condições de vida.

O fomento florestal de florestas plantadas tem sido


colocado como uma alternativa para pequenos
proprietários rurais em regiões tradicionalmente
agrícolas.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 50 MÓDULO 2


As florestas desempenham ainda importante papel social,
pois estão intimamente associadas a rituais tradicionais,
folclore, cultura – no imaginário brasileiro. As florestas
acabam sendo elemento místico na cultura brasileira,
especialmente para as populações que nelas vivem. A
questão social das florestas merece atenção especial dos
governos para que a imensa riqueza delas produzidas não
concentre renda, mas gere benefícios para todo o povo
brasileiro, trazendo inclusão social e riqueza nacional.

Importante
É importante destacar que, para os indígenas, existe uma conexão espiritual e de
identidade com as florestas, e as florestas sagradas – locais de destacada relevância
espiritual para estes povos – fazem parte de sua cultura, modos de vida e regras,
incluindo-se em seus valores e identidade, integrando partes de sua identidade étnica.
Despojar estes povos de suas florestas sagradas é equivalente a mutilar sua identidade
e espiritualidade.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 51 MÓDULO 2


2.6 Lazer e ecoturismo

Ecoturismo, ou turismo ecológico, é o “segmento da atividade turística


queutiliza,deformasustentável,opatrimônionaturalecultural,incentiva
sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista
por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das
populações” (MMA, 2010).

Este ramo do turismo é caracterizado pelo contato com ambientes


naturais, pela realização de atividades que promovam a vivência e
o conhecimento da natureza e pela proteção das áreas onde ocorre.
Isto é, ele está fundado nos conceitos de educação, conservação e
sustentabilidade. O ecoturismo pode ser entendido, então, como as
atividades turísticas baseadas na relação sustentável com a natureza,
comprometidas com a conservação e a educação ambiental.

O Ecoturismo pode trazer contribuições


positivas para o bem-estar dos destinos
e das comunidades locais – ao mesmo
tempo oferecendo um incentivo econômico
eficaz para a conservação e valorização
da diversidade biológica e cultural e
ajuda a proteger o patrimônio natural e Lazer e
cultural ao redor do mundo. Ele é também ecoturismo
uma ferramenta eficaz para capacitar as
comunidades locais ao redor do mundo a
alcançar um desenvolvimento sustentável.
Além disso, o ecoturismo tem incentivado
a aplicação de práticas sustentáveis aos
demais segmentos da indústria do turismo.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 52 MÓDULO 2


Mas mesmo as florestas urbanas
ou próximas às cidades oferecem
recreação?

Sim. Como arborismo, observação de pássaros, uma simples


caminhada na sombra das árvores. Recentemente, os médicos
japoneses têm recomendado “banhos de floresta” como
suporte para a saúde mental. Florestas ainda estabilizam o
microclima, mantêm a biodiversidade local e inspiram artistas.

Encerramento do módulo 2

Quantos tópicos importantes aprendemos


nesse módulo.

Com certeza. No próximo vamos abordar o Manejo


Florestal sustentável.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 53 MÓDULO 2


MÓDULO 3
MANEJO FLORESTAL
SUSTENTÁVEL
3. Apresentação

Olá! Vamos iniciar o


módulo 3 do nosso
curso!

Vamos
prosseguir!

Nesse módulo, vamos apresentar


alguns conceitos básicos de
sustentabilidade e falaremos sobre o
manejo florestal sustentável.

Vamos começar apresentando a diferença entre preservação e


conservação:

Preservação: ação de proteger contra a modificação e qualquer


forma de estrago ou degradação de um ecossistema ou espécies
ameaçadas de extinção.

Conservação: utilização do recurso natural de forma controlada,


garantindo sua renovação natural, possibilitando ter um
rendimento bom e sua renovação natural.

O manejo florestal trabalha com o conceito de conservação da


floresta, ou seja, a utilização da floresta de forma sustentável.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 55 MÓDULO 3


3.1. Sustentabilidade
3.1.1 Conceito de sustentabilidade

Vamos a um breve conceito histórico.

O desenvolvimento sustentável foi utilizado


pela primeira vez em 1987, pela Comissão Sustentabilidade
Mundial sobre Meio Ambiente da ONU, no
Relatório Brundtland.

No relatório, denominado “Nosso Futuro Comum” o desenvolvimento


sustentável foi trazido ao discurso público como:

“O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as


necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações
de atender suas próprias necessidades… O desenvolvimento sustentável
requer que as sociedades atendam às necessidades humanas tanto pelo
aumento do potencial produtivo como pela garantia de oportunidades
iguais para todos… No mínimo, o desenvolvimento sustentável não
deve pôr em risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra: a
atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos.”
“Na sua essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de
mudança no qual a exploração dos recursos, o direcionamento dos
investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a
mudança institucional estão em harmonia e reforçam o atual e futuro
potencial para satisfazer as aspirações e necessidades humanas.”

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 56 MÓDULO 3


De maneira geral, a sustentabilidade se apoia num ponto
de equilíbrio entre o crescimento econômico, a equidade
social e a proteção ambiental. Um sistema sustentável deve
ser ambientalmente suportável, socialmente equitativo e
economicamente viável.

Tripé da sustentabilidade

Social

Suportável Equitativo

Ambiental Econômico

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 57 MÓDULO 3


3.1. Sustentabilidade
3.1.2 Sustentabilidade e Floresta

Quais iniciativas podemos Bené, isto é conquistado quando a comunidade agrega


tomar para tornar nossa valor aos produtos da floresta, gerando ganhos sociais
produção mais sustentável? para a população local e garantindo a conservação da
floresta e a geração de renda para as futuras gerações.

Por exemplo: o manejo comunitário de castanha é uma atividade sustentável, pois agrega
renda à castanha do Brasil, gera ganhos sociais e econômicos para a comunidade que
coleta e comercializa a castanha e seus subprodutos, mantém a floresta em pé garantindo
a conservação da floresta e, por consequência, renda para as futuras gerações.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 58 MÓDULO 3


3.2. Definição de manejo florestal sustentável

“Manejo” significa manusear, servir-se de algo. Quando se


fala em manejo florestal, pode-se pensar no planejamento
de uso controlado de qualquer produto da floresta
(madeireiros e não-madeireiros).

Isso mesmo, Carlos. O Manejo Florestal Sustentável


é a retirada de produtos da floresta sem que haja o
esgotamento deles, ou seja, nessa atividade é retirado
apenas aquilo que a floresta consegue repor ao longo do
tempo sem que tenha prejuízo para ela

A Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei nº 11.284, de 2


de março de 2006) define Manejo Florestal Sustentável
como “administração da floresta para a obtenção de
benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-
se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do
manejoeconsiderando-se,cumulativaoualternativamente,
a utilização de múltiplas espécies madeireiras, de múltiplos
produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a
utilização de outros bens e serviços de natureza florestal”.

Assim, nem toda a exploração de produtos florestais é


manejo. Para ser caracterizado como manejo, a floresta
deve ser mantida em pé e com capacidade de produzir o
que foi retirado de forma contínua, sem ocasionar danos e
perdas permanentes à biota7 que vive na floresta.

7
Conjunto de seres vivos de determinado local.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 59 MÓDULO 3


3.3 Categorias de Manejo Florestal

O Manejo Florestal pode ser realizado por todos os interessados


em gerar renda e/ou matérias-primas através da floresta, tanto por
empresas quanto por povos tradicionais, comunidades e agricultores
familiares. Vamos abordar a seguir algumas formas de manejo.

Manejo Florestal Empresarial

O Manejo Florestal Empresarial é realizado por empresas florestais com


o intuito de atender a demanda do mercado interno e/ou externo de
madeira.
Por atender a demanda do mercado, a retirada de madeira na floresta é
realizada em escala industrial, o que requer um maior investimento em
maquinários e em mão de obra especializada.

Manejo Florestal Comunitário

O Manejo Florestal Comunitário é o uso dos recursos da vegetação nativa pelos povos e
comunidades tradicionais e agricultores familiares. Ocorre em todo o Brasil, tendo um papel
importante para a alimentação e a renda de muitas famílias, além de fornecer vários produtos
para a população urbana e insumos para a indústria.

Numa definição mais técnica, Manejo Florestal Comunitário e familiar engloba todas as
atividades de manejo dos recursos florestais realizadas pelos agricultores familiares,
assentados da reforma agrária e pelos povos e comunidades tradicionais, a partir de
sua própria realidade e perspectivas, para obtenção de benefícios econômicos, sociais
e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema, conforme
descrito pelo Decreto nº 6.874, de 5 de junho de 2009.

O manejo florestal comunitário vem mostrando seu potencial como alternativa para as
comunidades e associações rurais, principalmente por estimular duas questões importantes:

• A conservação dos recursos naturais: o manejo deixa a floresta em pé.


• O fortalecimento da organização social: quando a comunidade se manifesta para a
prática do Manejo Florestal Comunitário, as famílias começam a planejar e desenvolver
suas ações de maneira compartilhada.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 60 MÓDULO 3


Concessão Florestal

Desde 2006, o governo pode conceder a empresas e comunidades o direito de manejar


florestas públicas para extrair madeira, produtos não-madeireiros e oferecer serviços
de turismo. Em contrapartida ao direito do uso sustentável, os concessionários pagam
ao governo quantias que variam em função da proposta de preço apresentada durante o
processo de licitação destas áreas.

O principal objetivo das concessões florestais é conservar a cobertura vegetal das


florestas brasileiras, por meio da melhoria da qualidade de vida da população que vive
em seu entorno e do estímulo à economia formal com produtos e serviços de florestas
manejadas.

A floresta concedida permanece em pé, pois os contratos firmados somente permitem


a obtenção do recurso florestal por meio de técnicas do manejo florestal de impacto
reduzido. Desta forma, a área é utilizada em um sistema de rodízio, que permite a produção
contínua e sustentável de madeira.

É garantido o acesso gratuito da comunidade local à área de concessão para a coleta de


produtos não-madeireiros considerados essenciais à sua subsistência, além da coleta de
sementes para a produção de artesanatos, tais como biojoias.

Para saber sobre o processo de concessão de uma floresta pública e quais são as florestas
públicas sob concessão, acesse a página do Serviço Florestal Brasileiro na internet.

http://www.florestal.gov.br/o-que-e-concessao-florestal

O Serviço Florestal Brasileiro, por meio do Portal Saberes da Floresta disponibiliza o curso
sobre Introdução às Concessões Florestais, acesse a plataforma.

https://saberes.florestal.gov.br

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 61 MÓDULO 3


3.4 Práticas de manejo

Entendi os diversos tipos de manejo e a


concessão florestal, mas como realizar
esse planejamento?

Dona Bené, como já visto anteriormente, o manejo


aplica atividades de planejamento a fim de assegurar
a manutenção da floresta para a próxima colheita,
e monitora o desenvolvimento da floresta e aplica
tratamentos silviculturais.

Para a realização do manejo, algumasatividades, etapas


e procedimentos devem ser cumpridos para minimizar
o impacto causado pela exploração e assim assegurar a
conservação da floresta.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 62 MÓDULO 3


3.4.1 Planejamento

O planejamento é o princípio por trás


do manejo florestal, sendo essencial
Como Onde
para a garantia da sustentabilidade da
atividade. Antes de iniciar o manejo,
é necessário responder as perguntas Quanto O que
Onde, O quê, Quanto e Como.

Onde será explorado?

A escolha da área da floresta onde ocorrerá o manejo é crucial devido a alguns fatores
que devem ser levados em conta, como topografia, composição florística, formas de
escoamento das toras, acessibilidade do maquinário, entre outros. Além disso, é importante
delimitar quais serão as áreas excluídas da exploração (infraestruturas e acampamentos,
Áreas de Preservação Permanentes e áreas sem potencial produtivo) e através de mapas
georreferenciados identificar todas estas áreas.

O que será explorado?

Quais produtos e/ou serviços que existem na floresta com potencial de mercado e, dentre
estes produtos, quais são os mais viáveis para exploração.

Quanto será explorado (de cada produto)?

Qual a quantidade existente de cada produto e/ou serviço; qual é a demanda local (família,
comunidade ou comprador); qual a capacidade de produção do empreendimento (equipe,
equipamentos, conhecimentos); quanto pode ser extraído da floresta sem exceder sua
regeneração.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 63 MÓDULO 3


Como será explorado?

Qual será a tecnologia empregada e o sistema de exploração, levando em consideração as


respostas anteriores.

As respostas dessas perguntas fazem parte das atividades


de macroplanejamento do manejo.

Esta etapa irá gerar as informações necessárias para a


tomada de decisão quanto à viabilidade econômica do
manejo florestal, além de subsidiar as demais atividades
do empreendimento.

É importante reforçar que todos os investimentos e


procedimentos do manejo florestal devem ser planejados
conforme o recurso disponível e a intensidade de
exploração que o produtor poderá realizar na área a ser
manejada.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 64 MÓDULO 3


3.4.2 Intensidade e ciclo de corte

Nas atividades de manejo florestal,


a intensidade e o ciclo de corte são
parâmetros essenciais para garantir a
recuperação da floresta e a realização
da intervenção com o menor impacto
possível para a floresta.

Intensidade de corte

Intensidade de corte – volume máximo de madeira a ser retirado por hectare de floresta.
No Brasil, apenas árvores com DAP8 maior que 50 cm podem ser derrubadas em uma área de
manejo florestal. Na prática, isso corresponde a 3 ou 4 árvores adultas (dependendo dos seus
volumes) numa área um pouco maior que um campo e meio de futebol oficial.

8
O Diâmetro à Altura do Peito (DAP) é uma medida do diâmetro da árvore a 1,30 metros
de altura em relação ao nível do solo e é um elemento importante pois fornece a base
para muitos outros cálculos. Ele serve para a obtenção da área seccional à altura do
peito (g), medida importante no cálculo do volume das árvores e de povoamentos, a
qual é dada pela seguinte expressão:
g = (π.〖DAP〗^2)/4, se o diâmetro estiver em metros.

Ciclo de corte

Ciclo de corte – tempo entre duas colheitas na mesma área. Este período deve permitir que
o processo de regeneração da floresta através da sucessão florestal ocorra nas clareiras de
exploração e que as espécies exploradas possam crescer e se recuperar antes da próxima
intervenção na floresta.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 65 MÓDULO 3


Isto é algo que sempre nos atentamos
nas atividades de campo.

O período do ciclo de corte deve estar condicionado à intensidade de corte e do grau


de danos que foram causados à floresta durante a exploração para assegurar a sua
recuperação. Quanto maior a intensidade, mais longo deverá ser o ciclo de corte. Para
determinação do ciclo de corte ideal, a recuperação da floresta estará relacionada ao
crescimento das árvores de interesse comercial após o manejo.

A legislação brasileira define que a relação entre intensidade de exploração


(em metros cúbicos) e a duração do ciclo de corte (em anos) não ultrapasse
o valor de 0,86.

Ou seja, se o produtor optar por um ciclo de corte de 30 anos, sua intensidade


de exploração não pode ser maior que 25,8 m por hectare a cada ano.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 66 MÓDULO 3


A Instrução Normativa nº 5, de 2006, do Ministério do Meio Ambiente,
definiu a intensidade máxima de 30 metros cúbicos por hectare com um
ciclo de corte variando de 25 a 35 anos. Em uma exploração de menos de
10 metros cúbicos por hectare (sem a utilização de máquinas de arraste de
toras no manejo), esta legislação permite um ciclo de corte de no mínimo
10 anos, sempre respeitando a relação de 0,86. Dessa forma, em um ciclo
de 10 anos a intensidade máxima de corte deverá ser de 8,6 metros cúbicos
por hectare a cada ano.

Relação
Intensidade
Diâmentro mínimo Intensidade de
máxima de Ciclo de corte10
de corte9 exploração/Ciclo
exploração
de corte

menor ou igual a
menor ou igual a
maior que 50 cm entre 25 a 35 anos 0,86 m3,ha-1.
30 m3/ha
ano-1

9
Diâmetro da árvore medido à 1,3 metro do solo.
10
Ciclo de corte para manejo com máquinas de arraste.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 67 MÓDULO 3


3.4.3 Etapas da execução do manejo

Exploração de impacto reduzido (EIR)

As atividades do manejo
florestal sustentável devem
estar de acordo com as
técnicas de exploração de
impacto reduzido (EIR), como
o planejamento da direção
da queda das árvores
quando forem cortadas e o
planejamento das estradas
por onde as toras serão
escoadas.

Estes e outros procedimentos


visam:
─ diminuir o impacto da
exploração florestal na
estrutura da floresta;
─ reduzindo a intensidade
de abertura de clareiras;
─ danos às outras árvores
que não serão exploradas;
─ danos à regeneração
florestal, alterações em
APPs e
─ compactação e erosão
dos solos.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 68 MÓDULO 3


Vamos conhecer melhor cada uma das etapas?

a) MICROPLANEJAMENTO

Consiste nas atividades antes da exploração


ocorrer. Nessa etapa, é feito o inventário florestal
100%, que consiste no mapeamento e medição
de todos os indivíduos das espécies a serem
exploradas, com DAP acima de 30 cm.

Cada árvore medida recebe


uma placa, onde deve
constar o número da árvore
e seu local. Devem ser
anotados também alguns
detalhes da árvore, como a
presença de ocos ou ninhos
na folha de campo.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 69 MÓDULO 3


Estes dados são usados para a elaboração do mapa de exploração. As árvores a serem
abatidas são selecionadas levando em consideração o volume máximo autorizado e as outras
exigências legais (como deixar porta sementes, respeito às APPs e outras áreas protegidas
e número mínimo de indivíduos da espécie a serem deixados por hectare).

─ Deixar porta sementes;


─ Respeito às APPs e outras
áreas protegidas e
─ Número mínimo de
indivíduos da espécie a
serem deixados por hectare.

A partir da seleção dessas árvores, são definidas as trilhas de arraste, de forma que se tenha
a menor abertura de estradas possível.

TRILHAS DE ARRASTE

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 70 MÓDULO 3


A área total a ser manejada se chama Unidade de Manejo florestal (UMF), e é dividida em
Unidades de Produção Anual (UPA).

Unidade de Manejo florestal (UMF)


Unidades de Produção Anual (UPA)

Uma área de manejo deve ter um tamanho grande o suficiente para que cada UPA seja
explorada em um dado ano de forma que volte a ser explorada novamente apenas
quando completado o ciclo de corte.

Isto permite que o processo de


sucessão florestal ocorra nas clareiras
de exploração e que as espécies
exploradas possam se recuperar
antes da próxima intervenção na
floresta. O número de Unidades de
Trabalho (UT) exploradas por UPA,
ou seja, anualmente, varia de acordo
com a capacidade operacional
do empreendimento, da área de
efetivo manejo, do planejamento de
exploração, entre outros fatores.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 71 MÓDULO 3


b) ATIVIDADES PRÉ-EXPLORATÓRIAS

Após a coleta dos dados, são iniciados os procedimentos pré-exploratórios. Alguns deles
podem ter sido realizados bem antes.

Esses procedimentos visam


permitir a exploração da
forma mais segura e com o
mínimo de danos à floresta.

Os mais comuns são: corte de cipós (no ano anterior à exploração), limpeza ao redor do
tronco das árvores a serem derrubadas, abertura de estradas e trilhas de arraste, além da
construção de pátios de estocagem. O número e tamanho são dimensionados conforme as
necessidades pontuais do empreendimento.

PROCEDIMENTOS
PRÉ-EXPLORATÓRIOS

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 72 MÓDULO 3


c) CORTE DIRECIONAL

Antes do corte, a direção


de queda da árvore deve
ser definida, de modo
que minimize os danos
à àrvores adjacentes.
Uma rota de fuga para os
trabalhadores deve ser
escolhida, e uma limpeza
ao redor da árvore é
realizada para evitar a
presença de cobras e
melhorar a visibilidade.

Técnicas de corte direcionado devem ser usadas nessa operação, que é realizada quase
que exclusivamente com motosserra. Uma vez derrubada a árvore, a placa colocada na
mesma durante o inventário 100% deve ser afixada no toco, e o número da UT e da árvore
devem ser pintados no tronco, com tinta permanente à prova d’água.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 73 MÓDULO 3


D) ARRASTE O arraste das toras pode ser feito por máquinas, sendo que o skidder é
a mais comum, ou por outros meios. O arraste por tração animal é uma
alternativa, embora raramente usado. Caso não haja o uso de máquinas,
é comum que a tora seja desdobrada no próprio local da queda da árvore,
com motosserra, para diminuir o peso e o volume a serem carregadas.

Se houver desdobro no local, os pranchões devem


também serem numerados, de forma que se possa
rastrear exatamente de que árvore vieram.

E) ARMAZENAMENTO
A madeira, seja em tora, seja em pranchões, é então levada para os pátios secundários
(menores, em maior número e mais próximos das árvores abatidas), e depois para os pátios
primários (maiores, em menor número e próximos da estrada principal de escoamento),
onde é medida antes da venda.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 74 MÓDULO 3


F) ATIVIDADES PÓS-EXPLORATÓRIAS

Consistem em tratamentos
silviculturais (Incluem
a liberação de árvores
comerciais através do corte
de ou anelamento (processo
que retira a casca da árvore
numa forma de anel, o que
impede que o transporte de
seiva causando sua morte)
de árvores competidoras,
corte de cipós, plantio de
enriquecimento (árvores de
valor comercial) em clareiras,
entre outros.

A maioria destes tratamentos visa aumentar o valor futuro de florestas de produção,


ao mesmo tempo em que gera benefícios ecológicos para as espécies comerciais que
porventura tenham sido afetadas pela exploração.

INVENTÁRIO CONTÍNUO

O inventário contínuo é o
monitoramento da floresta desde
a fase pré-exploratória e após a
atividade ocorrer para saber como
ela está crescendo e os impactos
decorrentes da exploração sobre as
espécies comerciais. É importante
também zelar pela manutenção da
infraestrutura e as atividades de
proteção florestal, principalmente
contra incêndios.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 75 MÓDULO 3


3.4.4 Saúde e segurança no trabalho

Como segurança do trabalho em atividades de manejo,


posso afirmar que esta atividade, assim como várias
outras, pode trazer riscos relativos à saúde e segurança
dos trabalhadores. Principalmente no momento do
corte das árvores podem ocorrer acidentes, por isto
devem ser adotados os procedimentos de segurança.
Esses riscos são minimizados com o planejamento
das atividades, como discutido anteriormente, e com
ações e equipamentos de segurança.

Assim, para garantir a segurança das atividades de manejo, é necessário o cumprimento de quatro
pontos:

1. equipamentos adequados e com a manutenção


em dia para as atividades de manejo;
2. conhecimento e correta aplicação das técnicas de
manejo;
3. estrutura de vivência e conforto mínimos para os
trabalhadores; e
4. equipamentos e procedimentos de saúde e
segurança no trabalho.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 76 MÓDULO 3


EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL - EPI
PARA OPERAÇÕES FLORESTAIS

Operações de derruba de árvores:


• Calça;
• Camisa/camiseta de manga longa com coloração de
destaque;
• Bota com bico de aço;
• Capacete completo, com abafador e viseira;
• Perneira;
• Luva de raspa em couro;
• Motosserra equipada com os dispositivos de segurança
(freio manual da corrente, pino pega-corrente, protetor
de mão direita, protetor de mão esquerda, trava de
segurança do acelerador);
• Bainha;
• Apito;
• Óculos de acrílico;
• Protetor auricular.

Demais operações em campo:


• Calça;
• Camisa/camiseta de manga longa com
coloração de destaque;
• Bota;
• Capacete;
• Perneira;
• Luva;
• Bainha.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 77 MÓDULO 3


3.5 Importância do manejo florestal para a
comunidade e para a floresta

Pessoal, todas essas etapas


são necessárias e importantes
para garantir a conservação
da floresta.

Importância
Exatamente, Bruna! Como já foi do manejo
florestal para a
visto durante esse curso, a floresta comunidade e
é uma fonte enorme de alimentos, para a floresta
produtos e serviços ambientais.

Assim, é importante desenvolver práticas que permitam o uso econômico


da floresta sem causar degradação e desmatamento, como o manejo
florestal sustentável. Só assim permitiremos que a floresta cumpra seu
papel ambiental e social para os povos e comunidades que vivem nela e
para a sociedade em geral ao longo das futuras gerações.

Encerramento do módulo 3

Encerramos mais um módulo. Esperamos que


tenham compreendido a importância de cada
etapa para o manejo florestal sustentável.

Com certeza! E vamos aplicar esse aprendizado


em nossas jornadas diárias.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 78 MÓDULO 3


MÓDULO 4
LICENCIAMENTO DO
MANEJO FLORESTAL
4. Licenciamento do Manejo Florestal

Licenciamento
do Manejo
Florestal

A partir de agora, vamos abordar o


Licenciamento do Manejo Florestal.

O manejo florestal tem como um de seus produtos a madeira,


assim, as exigências legais são maiores que de não-madeireiros.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 80 MÓDULO 4


4.1 Etapas de licenciamento

A atividade precisa ser licenciada, através de três etapas: A


Autorização Prévia à Análise Técnica – APAT, o Plano de Manejo
Florestal Sustentável – PMFS e a Autorização de Exploração –
AUTEX. Alguns produtos florestais não-madeireiros também
necessitam de aprovação prévia à exploração.

O que é APAT?

Etapas do
licenciamento

A sigla APAT é Autorização Prévia à Análise Técnica. Essa etapa tem como objetivo
verificar se a pessoa – física ou jurídica – que deseja realizar o manejo, em
determinada área, tem direito legal àquela área, e se a área pode ser manejada
– tem florestas, está regular com os órgãos ambientais, não foi objeto de outro
plano de manejo anteriormente, dentre outros.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 81 MÓDULO 4


Entendi! O processo só pode continuar
em caso de aprovação da APAT?
Exato.

Etapas do
licenciamento

E como é feito o Plano de Manejo


Florestal Sustentável?

O PMFS deve conter um estudo físico da área


(macrozoneamento), que engloba um mapa do local,
estradas existentes, cursos d’água, dentre outras
informações da floresta (inventário amostral), onde
se estuda aquela floresta, que espécies existem ali,
em que quantidades, se elas estão se reproduzindo
satisfatoriamente, através da verificação da presença
de indivíduos jovens, e outros aspectos da área, como
a presença de unidades de conservação.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 82 MÓDULO 4


Esse documento deve ser elaborado para cada floresta
em que se fará exploração florestal e utilização
de produtos e serviços, detalhando como ela será
explorada e quais os passos para que essa exploração
ocorra de forma sustentável. Esse documento se
refere à área a ser manejada como um todo, e deve ser
elaborado por um Engenheiro Florestal – o Responsável
Técnico.

A Autex é a autorização para exploração. O detentor


do PMFS submete ao órgão ambiental competente
um Plano Operacional Anual – POA. Este documento
também tem um inventário florestal, o inventário a
100% neste caso, que detalha apenas as espécies
que serão utilizadas, e no diâmetro comercial, o mapa
da área com a localização das árvores e as trilhas e
pátios planejados e outros dados que são necessários
para a exploração propriamente dita da área.

Este documento se aplica apenas à área a ser


explorada em um determinado ano, e precisa
ser elaborado por um Engenheiro Florestal,
que será o Responsável Técnico pelo Plano
Operacional Anual.

Etapas do
licenciamento

Importante
Os passos para o licenciamento do Manejo aqui descritos são os da legislação Federal, ou
seja, quando o Manejo Florestal ocorre em áreas da União, nas Unidades de Conservação de
Uso Sustentável, e para a Amazônia. Os estados têm suas próprias exigências e, às vezes, até
modalidades de manejo diferentes. É imprescindível consultar a legislação aplicável à área
a ser manejada ANTES de qualquer atividade de manejo para saber que passos se tem de
cumprir, ou mesmo, se o manejo florestal é permitido naquela área em particular. Os custos
do manejo dependem em parte disso.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 83 MÓDULO 4


Quem aprova o PMFS?

São os órgãos vinculados ao Sisnama.

Etapas do
licenciamento

No caso de áreas da União, é o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais


Renováveis – Ibama. No caso de Manejo Florestal Comunitário em Reservas Extrativistas e
Florestas Nacionais, é o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio.
Assentamentos da Reforma Agrária não emancipados, ou assentamentos ambientalmente
diferenciados, são licenciados pela unidade Estadual do Ibama. Os outros casos são
licenciados pelas Secretarias Estaduais de Meio Ambiente, ou as municipais, quando
existirem.

Marco legal: Segundo a Resolução CONAMA 01/86 e o Código Florestal, tanto o novo quanto
o antigo, Manejo Florestal é atividade sujeita a licenciamento. Assim, a atividade começou
a ser regulamentada pelo Ibama apenas em 1991. Atualmente, as principais normativas
federais incidentes sobre a atividade são as IN MMA 04, que trata da APAT, e 05 de 2006, que
trata da apresentação do PMFS e POA, a Resolução CONAMA 406 (Amazônia apenas) e a
Instrução Normativa do Ministério do Meio Ambiente n° 1, de 25 de junho de 2009, que trata
do manejo florestal na Caatinga.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 84 MÓDULO 4


A APAT foi criada pela Instrução
Normativa do Ministério do Meio
Ambiente n° 04, de 11 de dezembro
de 2005. Para solicitar a APAT, o
proponente deve apresentar um
documento de acordo com cada
situação.

1) Documentos de identificação do proponente.

Se pessoa física, cópia autenticada da identidade e CPF, e se pessoa jurídica, empresa,


o formulário anexo à IN, com a assinatura do representante legal da empresa, e cópia
autenticada da identidade e CPF do representante legal.

Empresas também precisam apresentar o CNPJ, o ato de criação, o estatuto ou contrato


social em vigor, devidamente registrados em cartório no caso de sociedade comercial
e, no caso de sociedade por ações, os documentos de eleição e termos de posse de seus
administradores.

As pessoas jurídicas associação, cooperativas ou entidades similares precisam apresentar


o formulário anexo à Instrução Normativa, com assinatura do presidente ou de todos os
membros do colegiado da associação ou cooperativa, conforme estatuto e suas alterações;
cópia autenticada da cédula de identidade e do CPF junto à Secretaria da Receita Federal
do presidente ou dos membros do colegiado da associação ou cooperativa; CNPJ; Cópia
autenticada do Estatuto Social, devidamente registrado em cartório ou cópia da sua
publicação em Diário Oficial; ata da Assembleia que elegeu a diretoria, registrada em
cartório ou cópia da sua publicação em Diário Oficial;

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 85 MÓDULO 4


2) número no Cadastro Técnico Federal – CTF.

O CTF11 – Cadastro Técnico Federal, previsto na Política Nacional de Meio Ambiente (Lei
6.939/1981), é realizado no Ibama. O cadastro é obrigatório para pessoas físicas e jurídicas
que exercem atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais e/
ou se dedicam a atividades e instrumentos de defesa ambiental.

3) Certificado de Cadastramento de Imóvel Rural – CCIR no Cadastro Nacional de Imóvel


Rural – CNIR, no caso de propriedades privadas.

4) Documentação fundiária do imóvel, conforme o anexo II da Instrução Normativa.

5) Autorização expressa do proprietário, quando esse não for o proponente.

6) Mapa da área total do imóvel, indicando as coordenadas dos pontos de amarração e dos
vértices definidores dos limites do imóvel rural.

O órgão competente sobre o imóvel rural onde será realizado o Manejo Florestal vai analisar
a documentação apresentada, em relação à adequada identificação do proponente do plano
de manejo, da comprovação de regularidade do título do imóvel, se não existe sobreposição
da área com terras indígenas, unidades de conservação e áreas militares. No caso de ter
sobreposição do local com zona de amortecimento de unidades de conservação, o órgão
ambiental competente tem de pedir a manifestação do órgão gestor da Unidade. Também
vai analisar a existência de floresta no local, por meio de imagens de satélite.

11
Legalmente, enquanto o plano de manejo não for aprovado, a pessoa que está
tentando obter a APAT é chamada de proponente. Depois do PMFS aprovado, a pessoa
física ou jurídica que é o responsável legal pelo PMFS é chamado de detentor.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 86 MÓDULO 4


A APAT tem validade de 24 meses. O PMFS deve ser submetido à
análise do órgão dentro deste prazo. Essa fase, a da autorização
prévia, pode ser complicada para o manejo comunitário. Além
de muitas vezes necessitar de mais uma aprovação, a do ICMBio
ou do Incra, caso a área que se quer manejar esteja em Unidade
de Conservação ou Assentamento, muitas vezes os agricultores
familiares não detêm a titularidade da terra, mas sim declaração de
posse, declaração de cessão de uso e outras formas mais frágeis de
posse da terra. Assim sendo, antes de se pensar em manejar e fazer
o investimento necessário para começar a atividade, é bom verificar
se o órgão que licencia a atividade aceita o tipo de domínio da terra
existente, e se existem outras exigências.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 87 MÓDULO 4


4.2 O Plano de Manejo Florestal Sustentável

No Plano de Manejo Florestal Sustentável é preciso detalhar como será


o manejo realizado na área. Deve incluir ainda o tipo de madeira que
será retirada, em que quantidade, depois de quanto tempo se voltará
ao talhão, que tipo de atividades silviculturais serão realizadas, como se
dará a retirada da madeira do local, etc.

Vamos então reforçar alguns conceitos?

Ciclo de corte ou rotação: é o tempo que se volta para retirar mais


madeira do mesmo local. A área é dividida em unidades de exploração
anual, que serão exploradas sequencialmente, até que se volte à
primeira área novamente. Ciclo de corte é o tempo que demorará para
voltar a cortar na primeira área. Na Amazônia, pode ser de dez anos, em

Uma das modalidade de manejo (de baixa intensidade), mas geralmente está entre 25-30
anos. Na Caatinga varia de 10 a 15 anos.

Intensidade de exploração: A intensidade de exploração se refere a quanto de madeira vai


ser retirado em cada corte, em cada área de operação anual. Por exemplo, na Amazônia o
limite para se retirar é 30 mꢃ por hectare, a cada ciclo. Na Caatinga é de 11 m /ha.

Lista de espécies: é a lista de espécies que foram escolhidas para serem exploradas
excluindo as que são proibidas de corte pela legislação, que são a castanheira, o mogno
e a seringueira. Elas são decididas em função das espécies que existem na área, que tem
indivíduos jovens, adultos e plântulas, e que existam acima de determinada quantidade
– esses dados são fornecidos pelo inventário amostral e pelo uso comercial das espécies.

Uso de máquinas: especificamente no arraste de toras. O skidder é usado para arrastar


toras na Amazônia, e por exigir trilhas abertas e por seu peso, tem um potencial de causar
danos ambientais significativos.

Estradas, trilhas e ramais: as áreas de manejo tendem a ser áreas de floresta relativamente
intocadas. Desta forma, é preciso construir estradas para se chegar até elas e escoar a
produção. Os ramais são estradas secundárias, e as trilhas de arraste são abertas para se
chegar até as árvores exploradas. O planejamento dessas estruturas é muito importante,
porque além de serem parte relevante do impacto ambiental do manejo, são de alto
custocaras.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 88 MÓDULO 4


Pátios: são os locais onde a madeira ficará armazenada até a sua retirada do local da
exploração. Como também envolvem a retirada de vegetação, devem ser bem planejados.

Modalidades de PMFS: as legislações, federais e estaduais, preveem algumas modalidades


distintas de manejo, em relação ao tamanho da área a ser manejada, a intensidade de
exploração e o uso de máquinas no arraste de toras. É bom conhecer a legislação que se
aplica ao manejo na sua localidade.

Inventário Amostral: é o estudo da floresta como um todo, feito para a elaboração do


PMFS. É feito em algumas parcelas, sem medir a floresta toda, e registra dados de boa
parte das espécies que ocorrem na área que será manejada, e de vários tamanhos. Esse
inventário fornece o conhecimento da floresta necessário para a elaboração de um bom
Plano de Manejo.

Inventário a 100%: é realizado na área que vai ser cortada, e mede todas as espécies que
vão ser comercializadas, já adultas. Ele vai determinar que árvores serão colhidas.

Para a elaboração dos Planos de Manejo Florestal Sustentáveis comunitários, é importante


que o técnico que vai elaborar este documento trabalhe em conjunto com os manejadores,
e que questões como a definição da área a ser manejada, a intensidade de exploração,
tipo de manejo a ser realizado, as responsabilidades de cada um para com a atividade e a
repartição de possíveis lucros estejam claras para todos os envolvidos. Isso evita conflitos
entre os manejadores e também impede que a comunidade assuma a responsabilidade
por um PMFS que não conhece e de cuja elaboração não participou.

É importante lembrar que o detentor de um Plano de Manejo (a pessoa física ou jurídica


que detém a aprovação do plano em seu nome) assume várias responsabilidades para com
a área de manejo, como protegê-la do fogo, que as operações realizadas na área estejam
de acordo com a licença e com as leis trabalhistas e de segurança do trabalho (a atividade
florestal é perigosa, e não deve ser realizada por gente sem capacitação!).

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 89 MÓDULO 4


4.2.1 Apresentação do Plano de Manejo Florestal
Aspectos gerais

Vimos no módulo anterior algumas categorias de plano de manejo que são


previstas legalmente, em relação ao tipo de pessoa que é detentor e ao
tipo de floresta em que se pretende realizar o manejo etc., mas quais são
as definições que realmente afetam a realização da atividade?

Muito bem, Dona Bené! As definições são: Aspectos


PMFS de baixa intensidade e PMFS pleno. gerais

O PMFS de baixa intensidade foi pensado de


forma a legalizar a atividade como usualmente
realizada por populações tradicionais.
Permite o corte máximo de 10 mꢃ/ha, uma
rotação mínima de 10 anos e não pode usar
máquinas no arraste de toras. Tem exigências
muito menores que o PMFS pleno, também Aspectos
chamado de empresarial, em relação a mapas, gerais
planejamento e legislação trabalhista.

O PMFS pleno permite o corte máximo de 30


mꢃ/ha, com rotação mínima de 30 anos (esse
valor é alterado pela Resolução Conama, para
0,876 mꢃ/ha/ano de rotação). Permite o uso
de máquinas no arraste de toras e é bem mais
exigente na elaboração do PMFS.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 90 MÓDULO 4


O Plano de Manejo Florestal deve detalhar os seguintes aspectos:
uma caracterização da área; de vegetação, inclusive as espécies não
comerciais, outros aspectos bióticos, geográficos e econômicos.
Também deve incluir os aspectos básicos da exploração a ser
desenvolvida: ciclo de corte, quantidade de madeira prevista para
ser retirada e de quais espécies, como se dará o corte e o arraste da
madeira, a abertura de pátios e ramais, tratamentos silviculturais,
inclusive os realizados fora da época de exploração, dentre outras.

Osmanejadores(equipe)tambémdevemestardetalhadosnestafase:
quem, quantos, que tipo de equipamentos e treinamentos receberão.
Adicionalmente, deve conter a Anotação de Responsabilidade
Técnica – ART de quem elaborou o Plano. O Responsável Técnico
pela elaboração do PMFS pode ou não ser o mesmo responsável por
sua execução. Sendo ou não, cada POA tem de apresentar a ART do
responsável pela execução.

Relembrando, a elaboração do plano inclui:

Seleção das áreas aptas ao manejo

Quantificação do potencial da floresta

Elaboração do Plano de Manejo

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 91 MÓDULO 4


a) Seleção das áreas aptas ao manejo

É exatamente o que o nome diz. Uma área com situação fundiária definida, com cobertura
florestal apta à produção de madeira e topografia favorável deve ser selecionada, e
mapeada, inclusive rios, igarapés, estradas existentes, infraestrutura etc.

b) Quantificação do potencial da floresta

Quantificação do potencial da floresta. Esta etapa é o inventário amostral. Faz-se uma


amostragem da floresta, em relação a número de espécies, volume madeirável existente,
tipologia florestal, presença de regeneração, dentre outros dados. Isso dará uma ideia do
tipo de exploração possível, sustentável e rentável da floresta em questão.

c) Elaboração do Plano de Manejo

Elaboração do Plano de Manejo: a partir dos dados do mapeamento e do inventário


florestal – IF, se faz o planejamento do manejo propriamente dito, inclusive a avaliação
econômica. A área deve ser dividida em Unidades de Exploração Anual –UPAS. Devem ser
definidas as espécies a serem exploradas, a volumetria proposta, as técnicas de exploração
selecionadas, o traçado das estradas, pontes, pátios de exploração, alojamentos e outras
obras necessárias definidas, recursos humanos, financeiros e instrumentais necessários,
bem como medidas mitigatórias de impacto e de proteção da área de manejo escolhidas.
Tudo isso deve compor o documento a ser enviado para o órgão licenciador.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 92 MÓDULO 4


E existe algum roteiro para orientar as
apresentações dos PMFS?

Aspectos
gerais

Sim. A Instrução Normativa n°05 de 2006,


do Ministério do Meio Ambiente, em seus
anexos, oferece um roteiro detalhado
para a apresentação dos PMFS.

O que deve ser apresentado ao órgão


licenciador?

Aspectos
gerais

A primeira parte, após a identificação do proponente e da APAT correspondente à esta área,


é a classificação do Plano. Essa classificação se dá em relação à dominialidade da floresta, se
pública ou se privada; em relação ao detentor, se é um Plano Empresarial ou Comunitário (a
diferença aqui é se o detentor é uma cooperativa ou associação, ou empresa ou pessoa física).
Outros pontos importantes para categorizar os PMFS são: PMFS em floresta pública,
executado pelo concessionário em contratos de concessão florestal e PMFS em Floresta
Nacional, Estadual ou Municipal, executado pelo órgão ambiental competente.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 93 MÓDULO 4


Em relação aos produtos do manejo, o PMFS pode ser para
a produção madeireira, não-madeireira ou de múltiplos
produtos. A intensidade de exploração pode ser de baixa
intensidade ou pleno. Essa classificação é a que realmente
faz diferença no tipo de manejo a ser realizado.

Outra classificação do PMFS é em relação ao ambiente


predominante, se em terra firme ou várzea. A legislação
federal é omissa em relação ao manejo florestal em florestas
de várzea, mencionando apenas que, para os PMFS de
Baixa Intensidade em áreas de várzea, o órgão ambiental
competente poderá autorizar a intensidade de corte acima
de 10 mꢃ/ha, limitada a três árvores por hectare. Ainda em
relação à floresta, o manejo pode ser realizado em floresta
primária ou secundária.

Aspectos
gerais

O PMFS de Baixa Intensidade para a produção de madeira não utiliza maquinário (skidder)
para o arraste de toras, tem um ciclo de corte de 10 anos e uma intensidade máxima de
exploração de 10 mꢃ/ha/ano. O PMFS pleno para a produção de madeira prevê a utilização de
máquinas para o arraste de toras, tem um ciclo de corte mínimo de 30 anos e uma extração
máxima de 0,86 mꢃ/ha/ano.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 94 MÓDULO 4


O PMFS deve identificar a área de execução da atividade, estado, município, área com
coordenadas, vias de acesso, referências e outros dados necessários para se identificar e chegar
na área de manejo. O ambiente também deve ser descrito, incluindo vegetação, solos, uso atual
da terra e o macrozoneamento da propriedade onde está localizada a AMF: áreas produtivas
para fins de manejo florestal, áreas de preservação permanente (APP), área de reserva legal e a
localização das UPAS. Isso é tudo o que é exigido para PMFS em pequena escala.

O PMFS Pleno tem mais exigências, descritas abaixo:

O macrozoneamento pedido para o plano de manejo pleno é um pouco mais complexo: Áreas
produtivas para fins de manejo florestal;

Áreas não produtivas ou destinadas a outros usos;

Área de Preservação Permanente-APP;

Áreas reservadas (por exemplo: Áreas de Alto Valor para Conservação; reserva absoluta);

Área de reserva legal;

Tipologias florestais;

Localização das UPAS; e

Estradas permanentes e de acesso.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 95 MÓDULO 4


A descrição dos recursos florestais para os planos
de manejo pleno precisa ainda detalhar os métodos
utilizados no inventário, a composição florística,
distribuição diamétrica das espécies para as variáveis
número de árvores, área basal e volume, classe de
qualidade de fuste, bem como a estimativa da
capacidade produtiva da floresta (análise estatística).

A Instrução Normativa (IN) 05/2006 estabelece o


volume máximo e o ciclo de corte mínimo para
as duas modalidades de PMFS. No entanto, eles
podem variar, regulando a produção florestal
de forma a garantir sua sustentabilidade.

O que é preciso para definir exatamente


estas variáveis?

Para uma determinada área, deve-se levar em consideração a estimativa da produtividade anual
da floresta manejada (m3/ha/ano), para o grupo de espécies comerciais, com base em estudos
disponíveis na região; o ciclo de corte inicial de no mínimo 25 anos e de no máximo 35 anos para o
PMFS Pleno e de, no mínimo, 10 anos para o PMFS de Baixa Intensidade; a estimativa da capacidade
produtiva da floresta, definida pelo estoque comercial disponível (m3/ha), baseado nos resultados
do inventário florestal da UMF, dos critérios de seleção de árvores para o corte, previstos no PMFS
e de como será definido um número mínimo de árvores adultas deixadas no campo para cada
espécie, de modo a garantir a reprodução das espécies exploradas e a integridade das áreas de APP.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 96 MÓDULO 4


O que o órgão licenciador costuma
analisar?

O órgão licenciador deve analisar a intensidade de corte proposta no PMFS Pleno, considerando
a capacidade do detentor de manter uma equipe treinada e em número adequado para a
execução de todas as atividades previstas do PMFS e POA, bem como a capacidade de utilizar o
maquinário necessário para a execução do manejo.

A IN ainda determina que o diâmetro mínimo de


corte – DMC será estabelecido por espécie explorada,
baseado em estudos e diretrizes técnicas disponíveis
que observam a distribuição diamétrica do número
de árvores por unidade de área (n/ha), a partir de 10
cm de diâmetro à altura do peito - DAP, resultado do
inventário florestal da UMF; outras características
ecológicas que sejam relevantes para a sua
regeneração natural e o uso que a se destinam.

Pela ausência de dados e/ou análise da informação já disponível, o diâmetro mínimo de corte
continua sendo o padrão de 50 cm ou maior.

https://www.hnt.com.br/agrohiper/93-das-areas-exploradas-legalmente-em-mt-sao-com-
planos-de-manejo/90350

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 97 MÓDULO 4


A determinação da intensidade de corte, na prática, quando do planejamento da exploração de
cada UPA, além do diâmetro mínimo de corte deve levar em consideração também as seguintes
exigências legais: devem ser mantidas pelo menos 3 árvores de cada espécie a cada 100 ha,
dentro do padrão comercial, e 10% do número de árvores por espécie.

A IN estabelece que podem ser


apresentados estudos técnicos para a
alteração destes parâmetros, no geral ou
de forma avulsa, mediante justificativas
elaboradas pelo responsável técnico do
PMFS, baseados nos dados da floresta
e nas melhores técnicas de exploração.
Estas justificativas devem apresentar
o fundamento científico nas quais se
basearam.

O PMFS deve prever procedimentos que possibilitem a rastreabilidade dos produtos extraídos,
inclusive dos resíduos, quando for o caso, e as medidas de proteção da área de manejo, contra
incêndios, invasões e outras ocorrências danosas.

Cada órgão licenciador tem exigências próprias para a entrega dos documentos relativos tanto ao
PMFS e ao POA. Para o Ibama, estes documentos devem ser entregues em via digital (CD-ROM) e
impressa (com exceção das planilhas com os dados de campo dos inventários florestais). Caso o
órgão ofereça sistema para a entrega do PMFS pela internet, pode fazê-lo.

Importante
É importante notar que, assim que o PMFS for aprovado, e antes de qualquer ação de
execução do mesmo, o detentor deve apresentar ao órgão ambiental competente o
Termo de Responsabilidade de Manutenção da Floresta, que está disponível no Anexo
III da IN n°06.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 98 MÓDULO 4


4.2.2 Exigências para PMFS Plenos

As informações a serem apresentadas para o manejo florestal, no caso de apresentação do


PMFS pleno, também são mais detalhadas: o sistema silvicultural, incluindo a cronologia das
principais atividades do manejo florestal; as espécies florestais a manejar e a proteger, a lista
de espécies e grupos de uso, o método de identificação botânica das espécies, os diâmetros
mínimos de corte, as espécies com características ecológicas especiais e a lista de espécies
protegidas, a regulação da produção: ciclo de corte, intensidade de corte prevista (m3/ha) e
estimativa de produção anual (m3).

Descrição das atividades pré-exploratórias em cada UPA:


• delimitação permanente da UPA;
• a subdivisão da UPA em UT (Unidade de Trabalho);
• o Inventário florestal a 100%, o microzoneamento;
• corte de cipós;
• os critérios de seleção de árvores para corte e manutenção e o planejamento
da rede viária.

Descrição das atividades de exploração:


• Métodos de corte e derrubada;
• Método de extração da madeira;
• Equipamentos utilizados na extração;
• Carregamento e transporte;
• Descarregamento;
• Procedimentos de controle da origem da madeira; e
• Métodos de extração de resíduos florestais (quando previsto).

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 99 MÓDULO 4


Descrição das atividades pós-exploratórias:
• Avaliação de danos (quando previsto);
• Tratamentos silviculturais pós-colheita (quando previsto);
• Monitoramento do crescimento e produção (quanto previsto).

Como informações complementares, os PMFS Plenos devem trazer:

1) Relações de dendrométricas utilizadas;


1 • Equações de volume utilizadas;
• Outras equações; e
• Ajuste de equações de volume com dados locais.

2) Dimensionamento da Equipe Técnica em relação ao tamanho da UPA


2 (número, composição, funções, estrutura organizacional e hierárquica);
• Relação ao inventário florestal a 100%;
• Corte;
• Extração florestal;
• Outras equipes;
• Diretrizes de segurança no trabalho;
• Critérios de remuneração da produtividade das equipes também devem
estar detalhados.

3) Dimensionamento de máquinas e equipamentos em relação ao tamanho da


3 UPA;
• Operações de corte;
• extração florestal;
• carregamento e transporte também fazem parte dos dados exigidos.

4) O PMFS Pleno deve descrever os investimentos financeiros e custos para a


4 execução do manejo florestal;
• Máquinas e equipamentos;
• Para a execução da infraestrutura;
• Para pagamento da equipe técnica permanente e temporária;
• Terceirização de atividades;
• Quando houver, treinamento e capacitação (situação atual e previsão para
os próximos 5 anos);
• Estimativa de custos e receitas anuais do manejo florestal.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 100 MÓDULO 4


5) O PMFS pleno deve detalhar as diretrizes para redução de impactos.
5 • Na floresta;
• No solo;
• Na água;
• Na fauna;
• Bem como prever mecanismos de comunicação e gerenciamento de
conflitos com vizinhos;

6) As medidas de proteção na floresta.


6 • Como a manutenção das UPAs em pousio;
• A prevenção e combate a incêndios;
• A prevenção contra invasões.

7) O acampamento, alojamento e demais infraestruturas.


7 • Os critérios de sua localização;
• As medidas de destinação de resíduos orgânicos e inorgânicos;
• A organização e higiene do acampamento devem ser relatadas.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 101 MÓDULO 4


4.2.3 Plano Operacional Anual

Depois de aprovado o Plano de


Manejo, o que acontece?

Plano
Operacional
Anual

Uma vez aprovado o Plano de Manejo, que vai guiar todo o processo de exploração, durante
todo o tempo do manejo, o Plano Operacional Anual – POA deve ser elaborado e aprovado. O
POA é feito a partir do mapa da área de exploração anual e do inventário amostral, definindo a
área total que vai ser explorada naquele ano, qual o volume de madeira ou lenha esperado, o
mapa da área de exploração, com todas as atividades previstas, como abertura de estradas etc.
Somente com a aprovação dele no órgão ambiental competente – a Emissão da Autorização de
Exploração – AUTEX exploração pode começar.

A AUTEX também gera os créditos no sistema de controle. O


Documento de Origem Florestal – DOF é o federal, gerido
pelo Ibama, e usado pela maior parte dos estados, com
exceção de Mato Grosso, Maranhão e Pará, que usam o
SISFLORA. A cada transporte de madeira, se abate do total
DOF de créditos o volume e espécie a serem transportados, e é
ilegal transportar madeira sem a guia de transporte.

O SISFLORA - Sistema de Comercialização e Transporte de


Produtos Florestais já está em vigor, e o DOF é emitido por
este sistema. Há planilhas padrão para a submissão de
dados de inventário a 100%, bem como outros
recursos. http://www.ibama.gov.br/sinaflor

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 102 MÓDULO 4


O POA, além das informações de identificação do detentor, do tipo de manejo e da área a
ser manejada, que são idênticas às do PMFS, deve trazer informações adicionais: o sistema
silvicultural, as espécies florestais a manejar e a proteger, a lista de espécies e grupos de uso.

As demais informações são mais específicas para a área da UPA


e as atividades previstas: intensidade de corte, o tamanho das
UPAs e a produção anual programada, em metros cúbicos, a
descrição das atividades pré-exploratórias em cada UPA, como
se dará a delimitação permanente da UPA, o corte de cipós, se
aplicável, o inventário a 100% e os critérios de seleção de árvores.
Após a identificação do POA, incluindo a que PMFS se refere, o
documento deve identificar e caracterizar a UPA: coordenadas
geográficas dos limites, as subdivisões em UTs (quando previsto),
e os resultados do microzoneamento.

O que deve conter nesse


documento?

Este documento deve descrever os métodos de


corte e derrubada, métodos de extração da madeira,
procedimentos de controle da origem da madeira e
métodos de extração de resíduos florestais (quando
previsto).

A legislação ainda pede informações complementares,


a saber: as relações dendrométricas12 utilizadas, a
equação de volume13 utilizada, o mapa de localização da
propriedade e o macrozoneamento da propriedade.

12
Relações dendrométricas são as relações entre as medidas de uma árvore, neste caso, a
principal é a medida entre o comprimento do tronco e o diâmetro da árvore.

13
São as fórmulas para calcular o volume de madeira extraído.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 103 MÓDULO 4


E qual é o próximo passo?

Plano
Operacional
Anual

A seguir, o POA deve detalhar a especificação da produção pretendida: potencial de produção


por espécie, indicando o nome, o DMC considerado, o volume e número de árvores acima do
DMC da espécie que atendam critérios de seleção para corte, a porcentagem do número de
árvores a serem mantidas na área de efetiva exploração, o número de árvores e volume de
árvores de espécies com baixa densidade, o volume e número de árvores passíveis de serem
exploradas, e, caso previsto, o volume de resíduos florestais a serem explorados.

O POA também deve especificar todas as


atividades previstas para o ano?

Plano
Operacional
Anual

Sim, juntamente com o cronograma, inclusive as atividades que serão realizadas na UMF, como
manutenção de estradas principais e secundárias, indicação de equipe e equipamentos.
Essas atividades devem estar agrupadas em atividades pré-exploração, atividades de
exploração e atividades pós-exploração florestal. Quando previsto no PMFS, as atividades
complementares, como avaliação de danos e outros estudos técnicos, treinamentos e ações de
melhoria de logística e segurança do trabalho também devem estar descritas.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 104 MÓDULO 4


Anexos ao POA devem estar os mapas florestais, a saber:

a. os mapas de uso de solo atual na UPA, com escala mínima de 1:10.000 para áreas
de até 5.000 ha, contendo os limites da UPA, tipologias florestais, rede hidrográfica,
rede viária e infraestrutura, áreas reservadas, áreas inacessíveis e áreas de
preservação permanente;

b. mapa(s) de localização das árvores (mapa de exploração) em cada UT da UPA,


com escala de no mínimo 1:25.500 para áreas de até 100 ha, contendo os limites
da UT, rede hidrográfica, rede viária e infraestrutura atual e planejada, áreas
reservadas, áreas inacessíveis e áreas de preservação permanente e os resultados
do inventário a 100%, na forma de tabela e resumo contendo o número de árvores,
área basal e volume comercial por espécie inventariada, por classe de DAP de 10
cm de amplitude e por classe de qualidade de fuste.

Os arquivos digitais do POA devem apresentar a


tabela com os dados primários coletados durante
Plano
o inventário a 100%, tratados conforme diretrizes Operacional
técnicas. Qualquer uma das modalidades de PMFS Anual
deve apresentar a ART do responsável técnico pela
realização do manejo para este POA.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 105 MÓDULO 4


Relatório de Exploração

O relatório de exploração precisa conter o resumo dos resultados da exploração para cada
UT, contendo as seguintes informações: área de efetiva exploração (ha), volume explorado
(mꢃ e mꢃ/ha), número de árvores exploradas(n e n/ha), volume romaneiado (mꢃ e mꢃ/ha),
volume selecionado para corte (VS) e volume explorado (VE).

Nas Exigências específicas para o PMFS Pleno, também devem constar: o volume e o número
de árvores autorizadas (mꢃ), volume e número de árvores exploradas (mꢃ), e respectivos
saldos em pé (mꢃ), o volume e número de árvores derrubadas e não arrastadas, o volume e
número de toras arrastadas mas não transportadas, deixadas em pátios ou na floresta, um
resumo da produção da madeira explorada e transportada à indústria, contendo espécie,
número de árvores exploradas e número e volume de toras transportados. Caso o POA tenha
atividades complementares previstas, a execução ou não das mesmas também deve constar
aqui.
Para se conseguir a renovação do POA no ano seguinte, é necessário apresentar ao órgão
licenciador o relatório de exploração. Este relatório deve conter os mesmos dados de
identificação do POA. Além disso, deve conter o resumo das atividades planejadas e
executadas no ano a que o relatório se refere, pré-exploração, de exploração e pós-exploração
florestal.

A área que foi efetivamente explorada, o volume efetivamente retirado e o volume


efetivamente romaneado, e as informações por espécie, como o volume autorizado e o
volume retirado, e o volume transportado devem constar deste relatório, bem como qualquer
atividade complementar que tenha sido realizada.

Manejo da Caatinga
O manejo florestal na Amazônia é geralmente feito para a retirada de madeira em tora, de
árvores muito grandes, com um tronco reto, maciço, e que não têm a capacidade de rebrotar
depois de cortadas. Na Caatinga, a madeira é retirada principalmente para o fornecimento de
lenha, de árvores pequenas e de tronco mais fino, podendo ser cortadas até com machado.

Essas árvores geralmente rebrotam. Na Mata Atlântica, é proibido mexer em florestas


primárias, assim sendo não se faz manejo neste Bioma. Este curso tem foco no Manejo
Florestal na Amazônia. O Manejo da Caatinga é disciplinado pela Instrução Normativa IBAMA
n° 01 de 25 de junho de 2009, e se for em Assentamentos da Reforma Agrária, aplica-se a
Instrução Normativa Incra n° 65 de 27 de dezembro de 2010.

Talhadia: é o sistema de corte da Caatinga, onde se corta quase todas as árvores a 30 cm do


solo na área a ser explorada anualmente, para que rebrotem.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 106 MÓDULO 4


Manejo de não-madeireiros

O manejo de Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNMs) merece uma atenção especial,


pois além de tornar as florestas uma fonte de renda e sobrevivência para as comunidades,
pois são vários os produtos que podem ser explorados, podem ajudar a manter a
biodiversidade e estrutura dessas florestas de forma quase que natural, desde que feito da
maneira correta.

O manejo de produtos não-madeireiros é difundido em todo o país, e vários produtos


extrativistas compõem a alimentação, a economia e por vezes a cultura de cada região.
Como exemplos, temos o açaí, a borracha, a copaíba e a andiroba no Norte, o umbu, o caju
e a imburana-de-cheiro no Nordeste, o pequi, a mangaba, o velame e o licuri na região
Centro-Oeste, o pinhão e a erva-mate no Sul, a jussara no Sudeste.

O Manejo Florestal Comunitário

Apesar deste crescimento, as experiências vivenciadas na Amazônia brasileira mostraram


que o MFC ainda enfrenta muitas dificuldades, como a ausência de regularização fundiária,
excesso de exigências legais, inexperiência em trabalhos coletivos e falta de infraestrutura;
a complexidade técnica que envolve as atividades do manejo florestal sustentável (em
especial o madeireiro); falta de recursos, inabilidade de gestão de empreendimentos, falta
de assistência técnica capacitada, entre outros.

Na Caatinga, onde a lenha é muito importante para a matriz energética e na economia, por
ser usada na produção de gesso e cerâmica, o manejo para este fim tem tido mais sucesso. É
um bioma diferente, e as árvores dele possuem a capacidade de rebrotar depois que forem
cortadas. A legislação reflete isso, sendo mais simples, e a produção de lenha manejada
tem gerado renda para muitas comunidades rurais.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 107 MÓDULO 4


Manejo Florestal Comunitário em Florestas Públicas

Parte das florestas brasileiras são públicas, isto é, pertencem à União, aos estados e/ou aos
municípios. As Unidades de Conservação são um exemplo de florestas públicas. Das florestas
públicas, algumas são cedidas para uso das populações que residem no local, por vezes,
sendo criadas exclusivamente em função delas. Esse é o caso das Reservas Extrativistas
(RESEX), algumas Florestas Nacionais (FLONAS), Terras Indígenas (TI) e Assentamentos da
Reforma Agrária (alguns assentamentos são florestais por vocação, e não agrícolas, como os
Projetos de Assentamento Agroextrativistas e Projetos de Assentamentos Florestais). Ainda
existem as terras tituladas pela Secretaria de Patrimônio da União em nome de ribeirinhos.
As Terras Quilombolas, embora sejam privadas, são de uso comunitário também.

Atualmente, as florestas comunitárias somam 49,7% da área de florestas públicas federais


(Levantamento SFB ano 2013 – Dados do Cadastro Nacional de Florestas Públicas), que
correspondem a 153 milhões de hectares.

Quando o Manejo Florestal é praticado de forma comunitária, pelos povos e comunidades


tradicionais dessas florestas, é chamado de Manejo Florestal Comunitário. Às vezes é
praticado no lote familiar apenas, de forma individual, sendo denominado Manejo Florestal
Familiar.

As terras indígenas são aquelas áreas ocupadas pelos povos indígenas do Brasil, habitadas
em caráter permanente e utilizadas para as suas atividades produtivas. São imprescindíveis
para a reprodução física e da cultura destes povos, de seus costumes e tradições, pois
dependem intimamente dos recursos naturais.

Existe um tipo de Unidade de Conservação, chamada de Uso Sustentável, que permite a


utilização dos seus recursos naturais. Dentre elas, as RESEX, as FLONAS e as RDS englobam
áreas de florestas comunitárias.

As RESEX são áreas onde habitam populações tradicionais que já moravam há alguns anos
neste local e utilizam da floresta, dos rios e demais recursos o seu sustento. Os proprietários
particulares que estiverem dentro de uma RESEXs deverão sair da área, com direito à
indenização do governo. As Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) são áreas
onde a população tradicional tem o direito de residir. A diferença entre RESEX e RDS é que
quando existir alguma terra particular legalizada dentro de uma RDS, esse proprietário não
precisa deixar a área, desde que o mesmo garanta que a terra e as atividades dele não irão
prejudicar os moradores da RDS nem seus bens e se comprometer a respeitar o PLANO DE
MANEJO da Unidade. Se o proprietário não colaborar, ele deve se retirar, com recebimento
de indenização do governo. As FLONAS também não permitem terras privadas, mas as

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 108 MÓDULO 4


populações tradicionais que residiam no local quando a UC foi criada têm o direito de
permanecer e usufruir dos recursos naturais que forem necessários para seu modo de vida.

Existem alguns tipos de assentamentos da reforma agrária chamados de ambientalmente


diferenciados, que são voltados para populações tradicionais que praticam o extrativismo
em complemento com a agricultura. O Projeto Agroextrativista (PAE) serve para regularizar
a terra de populações tradicionais, extrativistas e ribeirinhas que já moram em uma área
e que usam a floresta como sobrevivência, sendo a principal atividade o extrativismo de
produtos da floresta (castanha, frutos, essências, etc). O Projeto de Desenvolvimento
Sustentável (PDS) é semelhante ao PAE, com a diferença de que os moradores da PDS
podem estar na área há poucas gerações e não precisam ser extrativistas, ou seja, além de
usarem a floresta para sua sobrevivência, podem praticar agricultura.

Existem florestas de uso comunitário em todas as regiões e biomas do país, mas observa-se
que estão principalmente na região Norte, com participação de 89% na distribuição total
das florestas por regiões. As florestas públicas municipais têm crescido recentemente. Entre
os anos de 2012 e 2013, a presença de florestas públicas municipais passou de quatro para
quatorze estados.

As comunidades, tanto as que englobam áreas públicas tanto as que envolvem as áreas
particulares, podem se organizar na forma de associações e cooperativas. Essa forma de
se organizar permite que as comunidades e produtores familiares realizem um manejo
de acordo com suas necessidades e sua realidade, onde serão participantes de todo o
processo, definindo a melhor forma de executar o manejo florestal sustentável.

Encerramento do módulo 4

Muito bom saber das exigências e os processos para


obter o licenciamento de manejo florestal. Cada detalhe
é importante para elaborar o documento para ser
entregue ao respectivo responsável.

Isso mesmo! Esperamos que tenha compreendido


cada passo que deverá ser dado para a adquirir o
seu licenciamento.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 109 MÓDULO 4


MÓDULO 5
COMERCIALIZAÇÃO
DE PRODUTOS FLORESTAIS
5. Comercialização de produtos florestais

Olá! Retomamos o estudo. Vamos abordar nesse módulo


a cadeia produtiva do manejo florestal com ênfase na
madeira e como acessar o mercado de produtos florestais e
agregar valor a esses produtos.

Muito bom. Vamos começar!

Cadeia produtiva de um bem é o conjunto de todas as etapas da


produção ou serviço, desde o seu planejamento até que ele seja
entregue ao consumidor. Logo, as cadeias produtivas florestais
correspondem a todas as atividades que permitem que um
produto da floresta chegue até o usuário deste bem.

Estes produtos e serviços florestais são de variados tipos, mas


uma divisão comum é a de produtos florestais madeireiros –
madeira, em todos os seus usos, seja para móveis, construção
civil, laminados, papel, MDF, mourões, carvão e vários outros
usos, e os produtos florestais não-madeireiros, como resinas,
gomas, plantas medicinais, frutas, sementes, dentre outros.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 111 MÓDULO 5


Estes produtos e serviços
florestais são de variados tipos,
mas uma divisão comum é a de
produtos florestais madeireiros –
madeira, em todos os seus usos,
seja para móveis, construção
civil, laminados, papel, MDF,
mourões, carvão e vários outros
usos, e os produtos florestais não
madeireiros, como resinas,
gomas, plantas medicinais, frutas,
sementes, dentre outros.

Estes produtos e serviços florestais são de variados tipos, mas uma


divisão comum é a de:

Produtos florestais Produtos florestais


madeireiros não-madeireiros
Madeira, em todos os Como resinas, gomas,
seus usos, seja para plantas medicinais,
móveis, construção frutas, sementes,
civil, laminados, dentre outros.
papel, MDF,
mourões, carvão e
vários outros usos.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 112 MÓDULO 5


1. Floresta 2. Extração 3. Transporte

Manejo
1. Floresta – a cadeia produtiva da madeira na Amazônia se
inicia pela floresta. Nela são demarcadas as áreas de manejo e 4. Unidade de processamento
feito o planejamento para a retirada da madeira com o menor
impacto possível.

2. Extração – as árvores são colhidas com o uso de máquinas e


técnicas adequadas visando a segurança e bem-estar dos
trabalhadores.

3. Transporte – após a extração da árvore da floresta, ela é


transportada em toras para uma unidade de processamento.

Processamento/Industrialização
1. Processamento primário – As toras podem ser destinadas para serrarias ou
laminadoras. Nas serrarias as toras são transformadas em pranchas, ripas, tábuas
e outras formas de dimensões variadas. Nas laminadoras as toras são
“desenroladas” em lâminas para montar chapas laminadas, como compensados.

1. Processamento primário

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 113 MÓDULO 5


2. Processamento secundário – A madeira serrada ou laminada passa por
processos que a transformam em pisos, decks, tacos, rodapés, esquadrias, painéis,
entre outros que irão servir de insumos, principalmente, para a construção civil e
movelaria.

2. Processamento secundário

Comercialização

1. Consumidor 1. Consumidor intermediário


intermediário – é a
comercialização dos
produtos entre as etapas da
cadeia produtiva do manejo
florestal.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 114 MÓDULO 5


2. Consumidor final - grande parte da madeira beneficiada é comercializada
nos centros urbanos e exportada ao mercado externo. Uma pequena parte é
consumida no mercado regional. A maior parte dos compradores são
revendas, depósitos e lojas de materiais para construção.

2. Consumidor final

Os mercados podem ser locais, estaduais, nacionais ou


internacionais. Antes mesmo de se iniciar as atividades
de manejo, até mesmo as do licenciamento da atividade,
é importante definir qual mercado se deseja acessar com
os produtos do manejo. Os mercados pagam preços
diferentes, têm exigências e demandas diferentes, e o
transporte de um produto pesado e volumoso como
madeira é um dos principais componentes do custo final
do produto.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 115 MÓDULO 5


Por exemplo, a madeira de itaúba (Mezilaurus itauba) é muito
valorizada na maior parte dos mercados locais amazônicos, para
fazer barcos e píeres, por sua alta resistência ao apodrecimento
em condições externas. Por ser muito pesada e moderadamente
difícil de trabalhar, não é tão apreciada fora da Amazônia. Então
até mesmo as espécies que serão consideradas comerciais em
determinado plano de manejo dependem de que mercado se
pretende alcançar. Contudo, um PMFS pode atender a mais de um
mercado simultaneamente.

A principal dificuldade para que os produtores florestais


comunitários, familiares e PMFS pequenos acessem o
mercado tem sido a escala.

Para conseguir superar essa barreira, alianças


estratégicas entre associações e produtores, com
o objetivo de organizar a produção e aumentar
a escala e a qualidade dos produtos oferecidos
no mercado tem sido uma saída. Além disso,
as organizações de apoio têm fomentado a
certificaçãoflorestal e alianças comempresas para
realizar negócios sob perspectiva de comércio
justo. Éimportantenotarqueacertificaçãoimplica
em custos e trabalho extra, sendo importante
principalmente para o mercado internacional.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 116 MÓDULO 5


As principais motivações para o estabelecimento destes
mecanismos para acesso a mercado têm sido:

1. Aumento da demanda e escassez de madeira,


ocasionando maior valorização dos recursos florestais;

2. Abertura de mercados, fruto do fenômeno da globalização;

3. Democratização do acesso aos recursos florestais.

Carlos, você tem recomendações sobre como


agregar valor ao produto?

Agregar valor a um produto é torná-lo diferente, de uma forma que faça o produto aumentar
de preço ou se destacar no mercado. No caso da madeira, o processamento é uma forma de
agregarvalor.Noentanto,oprocessamentodemadeirarequertecnologiase/ouequipamentos
que muitas vezes não são muito acessíveis aos pequenos produtores – embora existam alguns
produtores que conseguem fazer o beneficiamento primário com motosserra.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 117 MÓDULO 5


Outras alternativas de valorização dos recursos da
área de manejo podem ser a utilização de galhos
(toretes) e resíduos, fabricação de produtos
madeireiros, como móveis e artesanato etc. No
entanto, é importante verificar se o trabalho e
despesa extras na agregação de valor que se
pretende compensa o que o mercado vai pagar
peloprodutofinal. Às vezes, pode ser maisrentável
vender madeira em tora mesmo.

Outra maneira de agregar valor é através da certificação


florestal. Por este procedimento, instituições respeitadas
no mercado certificam a procedência da madeira e que
ela foi retirada da floresta respeitando as boas práticas
de manejo e a sustentabilidade. A Amazônia brasileira
destaca-se no ranking de área certificada na América
Latina, pelo selo FSC, com aproximadamente 5,2 milhões
de hectares certificados. Para o MFC, 99% (1,6 milhão
de ha) são unidades para produção de produtos não-
madeireiros, enquanto 0,6% (7,3 mil de ha) é para a
produção de madeira. Esses números são inversos em
relação à atividade empresarial, na qual 93% das unidades
certificadas são para a produção de madeira.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 118 MÓDULO 5


A atividade industrial madeireira no Brasil é altamente geradora de resíduos.
Destacam-se entre estes a serragem, cepilho, sólidos de madeira, cascas e
outros que são gerados desde o transporte da madeira em tora à indústria.

Isto é um problema na medida em que apenas uma parcela do volume de resíduos de madeira
gerados tem atualmente algum aproveitamento econômico, social e/ou ambiental. A geração
excessiva de resíduos, associada ao baixo aproveitamento da tora, resulta em danos ambientais,
além de perda significativa de oportunidade para a indústria, comunidades locais, governos e
sociedade em geral, especialmente em regiões remotas, dependentes de fontes energéticas
externas. No entanto, os resíduos de madeira gerados no processamento que não são utilizados
podem deixar de ser um passivo ambiental, sendo processados como matéria-prima para
diversos fins, incluindo o uso energético, gerar lucro para a iniciativa privada e reduzir problemas
ambientais de interesse da sociedade.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 119 MÓDULO 5


Há projetos inovadores para geração de energia elétrica em pequena escala
a partir da combustão direta, como é o caso do uso do fogão BMG (Bio Micro
Gerador) na Reserva Extrativista Chico Mendes, no estado do Acre. A pirólise
(queima) em pequena escala ocorre em fornos artesanais para gerar carvão
em volume considerado artesanal, de subsistência. No entanto, cabe
ressaltar que, apesar de viável, a tecnologia de baixo custo para a pirólise
em fornos artesanais é, geralmente, uma alternativa poluente.

Outra utilização de resíduos de madeira em pequena


escala, mas que não se trata de uma alternativa
tecnológica propriamente dita, mas sim da coleta dos
resíduos lenhosos para venda com fins energéticos a fim
de aumentar a renda familiar. Esta situação é mais comum
próximo a centros geradores de resíduos, principalmente
em polos madeireiros e moveleiros. Adicionalmente,
observa-se tal prática em algumas empresas com florestas
plantadas que liberam a área após o corte da floresta para
a coleta e/ou catação dos resíduos a algumas comunidades
ou grupos com ou sem custo. Em troca, a retirada do
material lenhoso da floresta representa um ganho no
custo da limpeza por parte das empresas florestais.

Parte dos resíduos da indústria madeireira (serraria) é destinada para a produção de PMVA
(produtos de maior valor agregado), como carvão, cabos, briquete, embalagem etc. Na região
Norte, muitas vezes não há sequer o conhecimento sobre produtos como o briquete14 ou pélete15
de madeira, além de informações gerais sobre oportunidades de aproveitamento, o que contribui
para a problemática da utilização de resíduos que muitas vezes ainda é visto apenas como um
problema e não como fonte de renda para a empresa.

14
Briquete é um bloco denso e compacto de materiais
energéticos, geralmente feito a partir de resíduos de
madeira.
15
Pélete de madeira são biocombustíveis sólidos que
usam, como matéria-prima, resíduos de biomassa
vegetal como a serragem, maravalha de madeira,
bagaço de cana-de-açúcar, entre outros. Têm geometria
regular no formato de pequenos cilindros

Pélete e briquetes feitos


com resíduos florestais.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 120 MÓDULO 5


Para fechar, é possível citar quais os maiores desafios
para o Manejo Florestal no Brasil?

A cadeia produtiva do manejo florestal enfrenta vários desafios, não importa a escala do
manejo. Dentre eles estão o elevado grau de ilegalidade na cadeia produtiva de madeira nativa,
dificuldades fundiárias, logística e infraestrutura deficiente, variações cambiais, dificuldades
no licenciamento, baixo aproveitamento da madeira e pouca presença de indústrias de
transformação próximas às áreas de manejo.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 121 MÓDULO 5


O manejo florestal comunitário e familiar, mesmo tendo ganho escala
ao longo das últimas duas décadas, além dos desafios que ocorrem na
cadeia produtiva da madeira em geral, tem dificuldades
particulares, como ausência de regularização fundiária – ou
dificuldades dos órgãos licenciadores acatarem as modalidades de
domínio permitidas em terras coletivas, procedimentos e exigências
pouco adequadas às suas peculiaridades, à própria complexidade
técnica do manejo, em especial o madeireiro, à inabilidade na gestão
do empreendimento e falta de recursos e crédito para financiar sua
execução, entre outros.

Entretanto, a demanda por produtos florestais, dentre eles madeira


nobre, tem crescido de forma significativa, com a China elevando a
demanda. Isso pode representar um cenário promissor para o setor de
madeira nativa no Brasil.Mesmo o manejo florestal estando em processo
de aprimoramento e aprendizado durante as últimas décadas, algumas
lições já foram aprendidas para que se possa incentivar a expansão e
consolidação da atividade de Manejo Florestal:

1. Crédito. Garantir crédito adequado a escala e com prazos compatíveis aos


empreendimentos.
2. Extensão florestal. Criar programas de assistência técnica florestal na região para
atender a demanda de planos de manejo. A assistência técnica deve considerar
as demandas específicas das comunidades e em tempo determinado por elas.
3. Acesso a mercados. Facilitar o acesso a mercados regionais e nacionais. Por
exemplo, reduzir o pagamento de impostos e reduzir os custos de transação. É
importante que sejam reduzidos os custos de transição dos negócios.
4. Segurança fundiária. Promover a regularização fundiária para que os produtores
possam estabelecer garantias em longo prazo.

Em particular para o manejo florestal comunitário e familiar, as lições aprendidas são:

1. Conscientização das populações locais.


2. Aumento no interesse das comunidades em particular do MFC.
3. Avanços na regularização fundiárias e direito de uso de recursos florestais.
4. Forte componente social das organizações de base.
5. Aumento nas oportunidades de negócios para as comunidades.
6. Experiências em diferentes ambientes florestais (terra-firme, várzea, florestas
densas e abertas).
7. Formação de base de informações técnicas e científicas.
8. Aumento de mercados para os produtos florestais.
9. Aumento na organização social das comunidades.
10. Aumento do apoio institucional para o MFC e conservação florestal.

INTRODUÇÃO AO MANEJO FLORESTAL 122 MÓDULO 5


Encerramento do módulo 5

Todas as informações sobre o


manejo das florestas públicas
foram são muito importantes
para a nossa comunidade.

Fico feliz em ter contribuído


para isto!

É importante que busquem


sempre mais informações sobre o
tema. Teremos outros cursos aqui
no portal Saberes da Floresta.

Para finalizar, realize os exercícios


e preencha a avaliação de reação.
Lembre-se de emitir o certificado.

GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS COMUNITÁRIOS 123 MÓDULO 5

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