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Apresentação
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O programa Polos Audiovisuais Tecnológicos foi uma das políticas públicas levada a Cabo pelo
Conselho Assessor do Sistema Argentino da TV digital Aberta, buscando instalar e fortalecer as
capacidades de produção de conteúdos para a TV digital promovendo a igualdade de oportunidades
e diminuição de assimetrias entre provincias e regiões. A partir da divisão do país em nove regiões
(polos) se constitui um sistema federal em rede onde as Universidades nacionais nucleam os atores
do setor audiovisual conformando núcleos. ‘Los Nodos Audiovisuales son sistemas productivos
locales integrados por cooperativas, organizaciones sociales afines al sector audiovisual, PYMES,
productores independientes, televisoras y organismos públicos locales’ (Informação disponível em
http://www.unpa.edu.ar/contenido/polos-audiovisuales-tecnologicos, entre outros sites de
universidades argentinas)
Diante deste cenário, e a partir do entendimento da importância da
descentralização de políticas públicas para produção em audiovisual, ainda
frente à necessidade de novos espaços de ensino e circulação do cinema
realizado em regiões periféricas, foi que em 2010, um grupo de
realizadores reunidos nos festivais Santa Maria Vídeo e Cinema (SMVC),
Festival Internacional Oberá en Cortos, da Argentina, Festival Internacional
de Cine Lapacho, de Resistência no Chaco e realizadores da região de
Formosa (fronteira da Argentina com Paraguai) e paraguaios criaram o
Fórum Entre Fronteras. Um fórum itinerante que se propôs a atuar em
ações que pudessem descentralizar os meios de produção, mas também
alavancar espaços de formação e realizar projetos de co-produção.
Tive a oportunidade, neste momento, de fazer parte deste grupo de
realizadores, docentes e gestores interessados/as na efetiva articulação
desde as regiões da fronteira dos nossos países. A partir deste encontro,
buscamos fortalecer espaços de formação que surgiram junto com os
festivais de cinema, como por exemplo, o Laboratório Guayrá3 em
Misiones, na Argentina, que até hoje oferece cursos de curta duração para
os profissionais e não-profissionais; estivemos atuando em espaços de
discussão e formação no TESAPE - Encuentro del Audiovisual de Paraguai 4,
e articulando junto com a Universidade Federal da Integração Latino-
Americana, um marco de troca de experiências entre estudantes da Unila,
da Universidade Nacional de Misiones (UNaM) e estudantes da Universidad
del Pacifico do Paraguai, por meio do projeto ‘Intercâmbios Audivisuales’
que aconteceram durante os anos de 2014, 2015, 2016 e 2017, no
Festival Internacional Oberá en Cortos.
Neste intercâmbio, os estudantes da UNILA, de UNaM/FAU 5 e do
Paraguai, durante uma semana, puderam participar de oficinas formativas,
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O laboratório Guayrá surge da demanda evidente da falta de formação específica e técnica para o
cinema e audiovisual na região de Misiones. Muitos jovens nas décadas de 80, 90 e nos anos 2000
tiveram que migrar para Buenos Aires para estudar e se profissionalizar, mas com o fortalecimento
das políticas públicas de implementação da Televisão Digital na Argentina se fez urgente e
necessária a formação técnica especializada nas regiões perféricas do país.
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O encontro acontece todos os anos na cidade de Assuncion e é organizado pela Organização dos
Profissionais do Audiovisual Paraguaio e conta com atividades de formação técnica, mostras e
debates para fortalecimento do setor.
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realização de curta-metragem em co-produção, além de participar das
mostras e debates do Festival Internacional Oberá en Cortos. Do mesmo
modo, no ano de 2015, nós, professores/as e os/as estudantes da Unila
recebemos em Foz do Iguaçu, o curso Técnico em Audiovisual da
Faculdade de Artes e Desenho de Misiones (FAyD 6/UNaM) para um
encontro na qual foram debatidos os currículos e percursos formativos de
ambos os cursos. Esses espaços de integração regional ‘entre fronteras’
foram fundamentais para pautar entre estudantes e professores/as das
universidades, realizadores audiovisuais e gestores culturais da região, de
que, ao estarmos em uma região de fronteira, nos é possível
concretizarmos projetos comuns que tenham no horizonte a perspectiva de
um cinema transnacional em todas as suas dimensões: artística, técnica,
profissional e de novas formas de representação sobre nossos territórios,
identidades e memórias.
Conforme ORTEGA (2012) é preciso pensar em um projeto de cinema
transnacional que rejeita as zonas de conforto cânones e que busca outras
formas de produção cinematográfica não programáticas e/ou controladas
pelas perspeciva do cinema nacional. Ou seja,
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FAyD se trata da Facultad de Artes y Deseño da Universidade Nacional de Misiones e está com o
campus localizado na cidade de Oberá, na Argentina. Mesma cidade onde acontece o Festival
Internacional de Cinema Oberá en Cortos.
latino-americana. É preciso rever nossos mapas e apostar em outros
territórios de formação e realização cinematográfica.
Por falar em mapa, Mellendi (2017) lança um olhar sobre diferentes
expressções do mesmo desde os artistas Marcel Duchamp (Adieu à Florine,
1918) e Joaquim Torres García (Mapa invertido, 1946) para nos provocar a
um possível reposicionamento da arte da América Latina diante do global.
Duchamp que neste momento (1918) vivia em Nova York, viajou para a
Argentina fugindo da guerra, antes de fazer o percurso desenhou o mapa
da América Latina colocando um ponto de interrogação sobre a América do
Sul. Persiste na sua perspectiva o olhar do estrangeiro e da dúvida sobre
que expressões se encontram neste pedaço de mapa bastante
desconhecido. Já Torres Garcia - pintor uruguaio -, depois de muitos anos
vivendo na Europa e também EUA, retornou para o Uruguai e decidiu ali
em 1936 fundar uma nova escola de arte latino-americana, e foi assim que
invertou o mapa da América apontando o norte para o sul e o sul para o
norte, ou seja, ele propõe uma reconfiguração epistemológica da
representação cartográfica, mas também, estimulando a pensar a arte
latino-americana sobre novos olhares que não só os eurocentrados. Para
Mellendi, a Escuela del Sur, criada por Torres Garcia, ‘representa a
primeira tentativa sistemática e coerente de construção de uma tradição
artística autônoma na América Latina a partir da perspectiva das artes
visuais’ (Mellendi, 2017, p. 49).
Considerando este papel histórico das diferentes tentativas de
criação de novos processos de integração e olhares sobre a realidade
social da América Latina, preciso mecionar que na área do Cinema tivemos
movimentos recentes e importantes - no final da década de 50 e nas
décadas de 60 e 70 -, de retorno de jovens cineastas latino-americanos,
que depois de estudar e beber da fonte das vaguardas européias no pós-
guerra, especialmente o Neo-realimo Italiano7, chegaram em seus países
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Surgido na Itália no final dos anos 40, o neo-realismo pode ser entendido como um dos primeiros
cinemas nacionais a propor um modelo que aproxima o autor da realidade e pretende colocar na
tela o povo e a paisagem como protagonistas. Propõe um olhar reflexivo sobre a realidade para
além de paradigmas a aparatos técnicos impostos pela indústria cinematográfica (STECZ,
Solange. Movimentos Cinematográficos na América Latina. R.cient./FAP, Curitiba, v.4, n.2 p.196-
com a intenção de repensar a produção cinematográfica do continente,
criando assim o movimento conhecido como Nuevos Cines latino-
americanos. Neste período cineastas de todo o continente buscaram
formas de expressão, que, passando por uma nova estética,
incorporassem a história, a luta e as manifestações culturais do povo
latino-americano,
Conclusão
Bibliografia
Comissão de Implantação da Universidade Federal da Integração Latino-
Americana: A UNILA em construção: um projeto universitário para a
América Latina. Foz do Iguaçu: Instituto Mercosul de Estudos Avançados
– IMEA, 2009.
CORAZZA, Gentil. A Unila e a integração Latino-Americana. Boletim de
Economia e Política Internacional. IPEA, 2011.
MELLENDI, Maria Angélica. Estratégias da arte em uma era de
catástrofe. 1º edição - Rio de Janeiro: Cobogó, 2017.
ORTEGA, Vicente Rodríguez. La ciudad Global en el cine
contemporáneo. Una perspectiva transnacional. Santander -
Cantabria: Contracampo, 2012.
PETZOLDT, Bruno López. Cine y Audiovisual en la Universidad Federal
de Integración Latinoamericana: desafíos de construcción y
horizontes interdisciplinarios in Cinema e universidade : diferentes
convergências [recurso eletrônico] / Laécio Ricardo, Thaís Vidal, Txai
Ferraz, Organizadores. – Recife : Ed. UFPE, 2017.