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Cuidado seu moço!

Quando eu nasci, seu moço, não era momento de eu nascer, nem esperado eu era. Nasci
com cara de fome, pois minha mãe quase nunca tinha comida para se alimentar. Como
tinha tanta coisa pra pensar, não sobrava espaço para bolar um nome para mim e como
ela não tinha um marido para me dar um sobrenome, me chamou de Guri. A vida foi
passando, eu a crescer no tamanho e minha mãe a crescer na estima e amor para
comigo e sendo mãe passou a viver por mim. Um dia indignado com nossa situação de
pobreza, prometi à minha mãe que um dia eu mudaria de vida ficaria famoso. Como
minha mãe era devota de muitos Santos, comecei, seu moço, a perceber a grande fama
deles, como os mais famosos e bravos heróis, então fiz firme resolução de também me
tornar um santo, para assim ficar famoso. Quando minha minha mãe soube, ficou
muito contente e disse "olha aí, olha aí o meu Guri". Porém eu vendo os inúmeros
espinhos em que deveria pisar, para subir como que em degraus rumo à santidade,
sem perceber as rosas que estavam ligadas e eles, desisti, e decidi me tornar um
"espinho". Deixei-me vencer pela tentação de pegar um atalho para ficar famoso.
Decidi começar a fazer pequenos furtos, para assim mais rapidamente "mudar de
vida". Sempre dava, a partir desses "roubinhos" presentes para minha querida mãe.
Como ela não descobriu? Simples, ceguei-a com o brilho das jóias e pedras preciosas
que ia roubando, e como ela não tinha firmado diante dos olhos o brilho da verdadeira
Luz, foi fácil enganá-la. Nunca suspeitou porque chegava suado e veloz do meu
batente. E um dia seu moço, lhe dei uma bolsa com tudo dentro, mas quando ela viu a
penca de documentos, nem te conto seu moço como ela ficou feliz… pois poderia agora
se identificar, chegou a exclamar "olha aí, olha aí o meu Guri". Com o andor da
carruagem, passei de "furtinhos" a grandes roubos, roubava de tudo e de todos, e agora
roubava já não mais por fraqueza, em ceder à tentação, mas por gosto. Tinha que ver,
seu moço, a onda de assaltos que estava no alto do morro. Minha mãe, preocupada,
rezava até eu chegar e me advertida para que tivesse cuidado. Eu consolava minha
mãe dizendo que não se preocupasse, que teria cuidado e que um dia eu chegava lá e
ficava rico e famoso, ela por sua vez me consolava dizendo que acreditava em mim e
que rezaria mais por mim. Nessas horas, seu moço, a consciência pesava, lembrava-
me que existia inferno e Céu, me lembrava do meu antigo desejo de ser santo, e via
como agora estava indo rumo ao inferno. Mas logo desviava o pensamento com a
justificativa de que eu deveria ser "feliz" aqui na Terra e que precisava ser rico para
isso. Mamãe sentia consolo em cuidar de mim. Como ela me dizia que ficava feliz, seu
moço, quando de manhãzinha me via ir "trabalhar", dizia "olha aí, olha aí o meu Guri''.
Mal sabia que meu trabalho era roubar dos que trabalham, não gostava muito de
roubar dos outros ladrões, pois eles tem armas. Mas um dia decidi superar meu medo,
roubei-lhes uma carga toda de droga, seu moço. Foi uma má ideia, todos os traficantes
da região vieram atrás de mim, seria perigoso voltar para casa, os bandidos e minha
mãe me achariam… então fugi para o mato, morro acima, naquela mata densa e escura.
Me perdi e os traficantes me acharam… me assassinaram sem dó nem piedade… em
uma busca os policiais me encontraram, daí já sabe, seu moço, virei manchete. Minha
mãe, que já estava preocupadíssima, quando me viu nos jornais ficou muito feliz,
achou que finalmente eu havia chegado lá, quando me viu com uma venda nos olhos e
de "papo pro ar" achou que estava de férias no mato. Dizia "olha aí, olha aí o meu Guri,
ele disse que chegava lá!" Ela não entendia o motivo do alvoroço das pessoas em me
ver, se bem que ela deve ter descoberto quando nunca mais me viu chegar, suado e
veloz… achas seu moço que fui para o céu? Longe disso, fui condenado, um dia nasci e
nunca mais morrerei, mesmo o corpo morrendo… e agora, passarei toda a eternidade
no INFERNO, poderia ter sido diferente se tivesse me arrependido antes de morrer.
Aqui odeio tudo! Me causa grande raiva saber que até aqui se manifesta a misericórdia
de Deus, pois se tivesse vivido mais, aumentaria minhas penas e sofreria mais. Não
queria dizer, seu moço, mas sou obrigado por Deus e sua Mãe: o inferno e o céu
existem; nosso distinto será eterno!; por isso não faça como eu! Busque sempre a
santidade, alguns dos degraus para alcançá-la são as cruzes, sobe-se por eles sofrendo
com amor e paciência; não deixe, seu moço, o brilho das coisas deste mundo, ofuscar
a luz de Deus; tenha diante dos olhos o Céu, para o qual foi criado! rrrrrrrrrrrr!

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