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Parte 20

A menina borboleteira estava eufórica. Desceu as escadas pisando forte e falando


alto, numa alegria só!. Abuelo, que vinha logo atrás, achou estranho quando, de
repente, Dália se calou e paralisou, feito estátua.
- MInha querida, está tudo be….
- Shhhhh! - Fez Dália interrompendo seu avô, pedindo para que ele fizesse silêncio.
- Olha alí! - disse sussurrando a menina borboleteira.
Abuelo olhou na direção em que Dália apontava e descobriu o motivo de sua
admiração: no cantinho do aconchego, sentada na cadeira de balanço e com um
livro em suas mãos, lá estava Rosa. Totalmente compenetrada em sua leitura, nem
percebeu que a água para fazer o chá já havia fervido e borbulhava no fogão a
lenha.
E como ela estava bonita naquela manhã! Usava um vestido verde claro que
contrastava com sua pele negra. O sol que entrava pela janela iluminava os seus
cabelos crespos, que estavam presos por um lenço também verde, afinal, esta era
sua cor preferida. Entre os seus cachinhos castanhos, alguns fios brancos se
destacavam. Herança do tempo.
Dália e Iberê foram se aproximando devagarinho, pé ante pé. Não queriam
atrapalhar aquele momento precioso. Mas eis que um estalo no chão de madeira fez
Rosa perceber a presença dos dois visitantes.
- Sinto muito, abuela! Eu não queria perturbar a sua leitura.
- Oh, querida! Você nunca me perturba. Venha cá, sente-se aqui. Quero ler um
poema para você.
Dália aconchegou-se no colo gostoso de sua avó. Seus olhinhos atentos logo
encantaram-se com a belíssima ilustração do livro: num berço quentinho da terra,
uma pequenina semente, que antes dormia, começava a despertar. Em meio a tons
de amarelo, vermelho e laranja, um brotinho verde começava a surgir.
Olhando para aquela imagem tão potente, a menina borboleteira lembrou-se do dia
em que sua abuela lhe contou que, dentro de uma pequenina semente de maçã,
morava uma enorme árvore. Foi neste dia também que Rosa lhe mostrou sua
caixinha de bons guardados: uma caixinha de vidro que ficava no centro da sala,
em cima de uma mesinha de madeira. Dentro dela havia sementes de todos os tipos
e tamanhos. Algumas abuela havia encontrado pela vila, enquanto caminhava.
Outras, recebeu de presente dos amigos que sabiam da sua paixão por sementes.
E havia ainda as que ela trouxera do México, país em que nasceu e morou antes de
conhecer o Brasil. Rosa dizia que a força contida em cada semente fortalecia a casa
e todos os que nela habitavam.
Um aroma delicioso de capim limão fez Dália dispersar seus pensamentos. Era
Iberê, que lhe oferecia uma xícara de chá, quentinho. A menina borboleteira
agradeceu ao seu avö e aconchegou-se ainda mais no colo de sua avó, que com
sua voz suave, recitava o poema de Ruth Salles.
Semente misteriosa,
que da planta cai no chão,
que segredos ela guarda
no fundo do coração?
“Eu sou o menor presente
que foi posto em tua mão,
pois parece não ser nada
este pequenino grão.
Mas dele verás crescer,
numa fecunda estação,
uma árvore frondosa
subindo para a amplidão!
Toda a árvore, guardada
dentro do pequeno grão,
esperava o bom momento
para enfim se erguer do chão.
Vale mais que muita jóia
– como percebes então –
o presente pequenino
que foi posto em sua mão.”

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