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PRIMEIROS PASSOS

Programa de Enriquecimento Familiar

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS
Caros participantes neste Curso de Enriquecimento Familiar:

Temos o gosto de vos fazer chegar o material que ireis utilizar nas diferentes sessões deste
Curso. Nele encontrareis alguns casos práticos de situações familiares que ireis estudar e
debater e algumas notas técnicas que vos servirão para aprofundar questões educativas da vida
familiar.

Para que o Curso vos possa efetivamente ajudar a melhorar a vossa tarefa educativa, é
fundamental que cada um prepare bem os casos; por isso, nesta primeira sessão, propomos-vos
um plano de trabalho exigente.

Convirá começar com uma leitura individual, imediatamente seguida de um debate em casal.
Nesta fase já será possível comentar e questionar-se sobre os problemas que se colocam em
cada caso e também, sobre aquilo que chama particularmente a atenção. Isto pode demorar
entre 20 a 30 minutos. Se conseguirem fazer isso bem, no final, esta parte poderá ser
considerada a fase mais construtiva do Curso.

Depois, pediremos que façam umas reuniões de grupo com mais quatro ou cinco casais, para
discutirdes esses problemas que cada caso apresenta, contribuindo para isso o que foi discutido
entre vós. É conveniente que essa reunião se realize uns dias antes da sessão geral, se possível
de forma rotativa em casa dos que integram o grupo de trabalho e procurando especialmente
que sejam reuniões sóbrias e de discussão eficaz, que não demorem mais de 60 minutos.

As reuniões de grupo são parte essencial da nossa metodologia. Não se tira proveito do Curso
se não se realizam bem. Nelas são trabalhados os casos, complementando o debate com os
guiões de perguntas facultados pelos chefes de equipa. No Entanto, essas reuniões não
substituem o estudo pessoal ou em casal. Não devem ser utilizadas para tentar resolver os casos
nem para procurar respostas coletivas.

Cada tema do Curso conclui com uma sessão geral, em que as diferentes equipas se reúnem
para desenvolver o caso. A participação de todos, além de enriquecer consideravelmente a
discussão, ajuda a aprofundar todas as questões educativas que cada caso apresenta. Esta
sessão geral será dirigida por um moderador (sempre pai ou mãe de família), que ajudará os
participantes a ordenar e a encontrar as possíveis soluções de cada caso. Terminará a sua sessão
tecendo algumas conclusões globais e facilitando alguns critérios básicos sobre o tema em
estudo.

A riqueza desta metodologia justifica e apoia-se na conveniência de que, desde o princípio, cada
um dos cônjuges inscritos no Curso considere os temas na sua perspetiva pessoal: que leia,
pense, escute, diga, se sensibilize, discuta, pergunte, sugira e, sobretudo, elabore e aprenda.

Para o bom funcionamento do Curso, os moderadores/as das sessões gerais começarão e


terminarão pontualmente a sessão, seguindo o temário indicado no plano do Curso e tentando
não ultrapassar os 90 minutos na sua sessão.

Bem Vindos!

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS

SESSÃO 1 SESSÃO 2

Tema: Tema:
Introdução ao programa Pontos-chave para uma educação integral

Caso: Caso:
Uma tarde no parque Uma família normal

Nota Técnica: Nota Técnica:


Os primeiros passos na educação As etapas do desenvolvimento infantil

SESSÃO 3 SESSÃO 4

Tema: Tema:
O ambiente familiar Hereditariedade e caracteres

Caso: Caso:
As três amigas O José não é o David

Nota Técnica: Nota Técnica:


A criança e o ambiente que a rodeia Os pais como modelo de amor. O tratamento
personalizado

SESSÃO 5 SESSÃO 6

Tema: Tema:
Brincar com os filhos Pais com autoridade

Caso: Caso:
Parabéns António! A lista do Tomás!

Nota Técnica: Nota Técnica:


A necessidade de brincar na vida da Autoridade: Regras e obediência
criança

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS

TEMA 1 Introdução ao programa

Caso: Uma tarde no parque


Nota Técnica: Os primeiros passos na educação

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CASO UMA TARDE NO PARQUE

CASO UMA TARDE NO PARQUE

Esta tarde, como sempre, encontraram-se no Jardim da Estrela, a Maria de 58 anos e a Teresa,
que faz 70 este ano, com as respetivas netas, de 15 e 10 meses. Enquanto as crianças brincam
nos seus carrinhos, as duas amigas falam das suas famílias, de como a vida está cara, da moda
esperada, mas acima de tudo, das suas netas.

MARIA: Reparaste no número de avós e avôs que estão no parque? Temos de admitir que somos
uma boa solução para os pais «super ocupados». O meu filho e a minha nora foram para o
estrangeiro durante dez dias, numa viagem de negócios; parece-me bem: têm de aproveitar
agora que são novos. Enquanto esta linda menina tiver uma avó, por mim, podem sair sempre
que precisem...

TERESA: Sabes, a minha filha e o meu genro não estão a viajar, contudo, aqui estou eu todos os
dias com este diabinho que não para nem por um segundo. Temo o dia em que a pequena
começar a andar, afinal já não sou uma avó tão jovem como tu. E, além disso, quando chegar a
casa, a minha filha vai submeter-me ao exame diário: a Mãe deu-lhe as papas na altura certa?
Deixou-a gatinhar durante um bocado? Fez a sesta fora de horas? A Mãe voltou para casa cedo
para ela dormir as horas necessárias?

Garanto-te, Maria, que estas mães muito organizadinhas que leem e que anotam tudo são
tremendas. Mas, como estou com a pirralha tantas horas por dia, aproveito para deixá-la fazer
o que ela quiser, que tempo haverá para a educar quando ela já tiver um pouco mais de
discernimento.

A pequena quer dormir? Que durma à vontade! Tem fome? Pois que coma à hora que lhe
apetecer! E quanto à higiene, com estas fraldas que agora há, pode perfeitamente passar meio
dia sem haver necessidade de a aborrecer...

MARIA: Bem, Teresa, como a mãe da minha neta não é minha filha, mas minha nora, eu tenho
de a ouvir para evitar qualquer conflito. Afinal de contas, a criança é deles. Os filhos não são um
adorno do casamento e além disso eles são: primeiro filhos do que netos. Percebes, Teresa?
Tento não contradizer os pais, porque são eles que têm de educar os filhos, não nós, os avós.

TERESA: Mas Maria, tens de aceitar que nestas idades não há propriamente educação, mas sim
um processo de desenvolvimento, e o mais importante é que eles sintam amor na maneira como
os tratamos. Outra coisa bem diferente é quando eles já são crescidos. Nem imaginas o quão
rígida me torno cada vez que a pequenada, do meu outro filho Sérgio, vem cá! Um dos rapazes
que já tem cinco anos vira-me a casa toda de cabeça para baixo, não deixa um boneco com
cabeça. Além disso, assim que chega, a primeira coisa que faz é colocar a mão na minha mala e
perguntar-me: - O que é que nos trouxeste hoje, avó?

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CASO UMA TARDE NO PARQUE

MARIA: O mesmo acontece-me com meu filho Xavier, embora a pequena seja calma é bastante
teimosa e quando se irrita, simplesmente porque não lhe dou o que ela quer, a primeira coisa
que me diz é «já não gosto mais de ti, avó». É claro que as crianças de hoje não são como as de
antigamente, além do mais os nossos pais certamente que não leram assim tantos livros sobre
pedagogia para saber como nos educar, e vês, estamos aqui e não correu assim tão mal.

TERESA: Estes preceitos que os livros falam podem ser bons para muitas coisas, mas eu não os
quero nem pintados, porque o meu amor pela minha neta pede-me tudo menos «regras». Às
vezes, quando ela chora à noite e os pais não estão, como eu tenho o sono muito leve, trago-a
para a minha cama e divertimo-nos muito. É tão feliz com a avó!...

As duas avós apanham os brinquedos do chão, sacodem a chupeta de uma das meninas - da
neta da Teresa - que caiu no chão, e penduram-na no vestido.

Um pouco mais à frente, uma empregada bate num menino com cerca de um ano e meio porque
fugiu a correr para o lago. A Teresa, enquanto acaricia a neta, murmura: coitados dos pais, que
deixam os filhos com qualquer uma!

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NOTA

OS PRIMEIROS PASSOS NA
EDUCAÇÃO

Princípios Pedagógicos relevantes desta impressionante etapa do


desenvolvimento humano.
Este Curso é orientado seguindo o Sistema
«Família», que se baseia na participação É aconselhável iniciar o Programa Primeiros
contínua dos casais integrantes através do Passos sem nenhum outro preconceito a
«método de caso», geralmente conhecido não ser usá-lo para benefício dos filhos
pela sua eficácia pedagógica e praticado nas pequenos, rejeitando qualquer apreciação
faculdades de administração e gestão de infundada sobre a eficácia do Curso. As
empresas. frases estereotipadas «o que é que me vão
ensinar», «fui educado sem tanta
Como poderão ver pelo que se inicia hoje, é literatura», «não quero um filho brilhante,
um Curso que, de forma simples, se mas um filho feliz», só servem para ofuscar
preocupa mais com a reflexão e as uma realidade luminosa que está ao alcance
abordagens pessoais do que com o de todos os pais do mundo.
conteúdo pedagógico do mesmo. Estes
conteúdos, apesar de acreditarmos que Este Curso visa fornecer um método
estão de acordo com as necessidades de pedagógico de lidar com todo e
informação que os pais têm atualmente qualquer problema educativo que
para poderem dar os primeiros passos na possa surgir com os filhos
educação dos seus filhos, não são a chave
do sucesso: a eficácia virá do envolvimento Este Curso visa preparar os pais para iniciar
e atuação dos participantes em todas as a tarefa educativa que lhes corresponde
fases do Curso. como pais a partir do momento em que
esperam o seu primeiro filho.
Na verdade, o leque de temas que podem
ser estudados num programa de formação E, não se contenta com a simples
como este é muito amplo, contudo transmissão de várias ideias educativas aos
pensamos ter conseguido criar um Curso pais, pretende antes, criar neles uma
que consegue abranger os aspetos mais sensibilidade especial para a educação,

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NOTA TÉCNICA OS PRIMEIROS PASSOS NA EDUCAÇÃO

ajudá-los a ultrapassar as limitações e a desenvolvimento e, acima de tudo,


falta de conhecimento que têm como pais as suas necessidades de afeto.
e proporcionar-lhes um método
pedagógico de lidar com todo e qualquer ⎯ Vertente Pedagógica ou de
problema educativo que possa surgir com motivação e estímulo interior, em
os filhos. que são estabelecidos limites,
regras e motivações que servirão de
Algum pai pode se questionar se se trata de referência e estímulo para o
«profissionalizar a educação familiar». Pois comportamento individual
na realidade, é isso mesmo! É uma questão subsequente.
de dar aos pais o papel de educadores
eficazes dos seus filhos, e entende-se que ⎯ Vertente Neurológica ou
«profissionalizar» requer conhecer, saber e, organização cerebral, sensorial e
sobretudo, saber como resolver... E, para motora apropriada, na qual se trata
isso, será necessário estudar, observar, de estabelecer uma grande parte
falar, esforçar-se e viver para e com os filhos dos estímulos educativos
- por mais pequenos que sejam -, tornando- necessários para o processo de
se uma constante demonstração de afeto e desenvolvimento correto e
desprendimento mútuo no casamento. harmonioso dos filhos.
Com tudo isto, poderemos ajudar-vos a
serem verdadeiros profissionais no amor
familiar e, claro, na educação dos vossos
filhos. Um segundo princípio é que se entenda que
se consegue obter uma boa organização
Vertentes de ação cerebral, durante os primeiros anos de vida,
especialmente quando ao longo da tarefa
Neste Curso, no qual todos estamos a dar os educativa se consegue que as crianças
primeiros passos é conveniente estabelecer adquiram alguns bons hábitos básicos,
alguns princípios básicos que apoiem as como por exemplo:
abordagens educativas que nele são
transmitidas. ✓ A ordem
✓ O sono
O primeiro é que a educação e o
desenvolvimento integral da criança podem ✓ A alimentação
ser enquadrados, principalmente, em ✓ A higiene
quatro vertentes:

⎯ Vertente Antropológica ou Um terceiro princípio é que todas as tarefas


modelo familiar e âmbito humano, e ações educativas empreendidas pelos pais
através da qual a criança descobre de família devem ter como princípio e fim o
as interações diferentes que tem amor que têm pelos filhos. Amor que cada
com o ambiente e as relações que filho deve perceber, sentir e valorizar.
tem com as pessoas que a
completam. Ao longo de todo o Curso, será feita
referência frequente a todos estes
⎯ Vertente Psicológica ou de princípios, pois são como as coordenadas de
comportamento equilibrado e feliz, GPS com todos os ensinamentos para os
em que é necessário conhecer o pais que procuram, através do amor e do
«material» com que se conta, as estímulo, um desenvolvimento bom e um
suas possibilidades de crescimento geral dos seus filhos pequenos.

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NOTA TÉCNICA OS PRIMEIROS PASSOS NA EDUCAÇÃO

Os pais perante a primeira infância dos Uma criança cuja inteligência tenha
filhos sido altamente e bem estimulada,
com bons hábitos comportamentais e
Desde o início da gravidez, que os filhos que tenha crescido com um carinho
exigem dos pais um empenho total, bondoso dos pais, estará
consciente, inteligente e exemplar. É por perfeitamente preparada para ser um
isso, que na nossa abordagem não tem bom cidadão e alcançar a felicidade.
cabimento nenhum uma atitude de
passividade, bem pelo contrário. Uns pais
que deixem passar o tempo para «ir Quando a sabedoria popular fala da
educando» só quando a criança puder qualidade dos «primeiros alimentos» como
entender as exigências educativas não terão importantes no crescimento futuro da
percebido nada sobre os critérios criança, refere-se ao facto de que uma
educativos aqui apresentados. educação atempada, plena e proporcionada
na alegria de um lar onde impere o amor,
ajuda o pequeno a ser aquilo que é
A primeira infância não é uma sala de realmente chamado a ser:
espera, mas uma escola intensiva de
descobertas, repleta de necessidades Um bom filho, um irmão exemplar,
intelectuais e emocionais que devem um colega cordial, um profissional
ser satisfeitas e estimuladas. pleno e um cidadão inteligente e
prestável que certamente colaborará
no progresso da humanidade
Se um pai e uma mãe não colocassem o
filho, de forma assídua, perante a Para terminar esta primeira nota técnica do
possibilidade de aprender muitas e variadas Curso, reiteramos que a sua utilização não
coisas, estariam a deixar que se perdesse o reside tanto nos critérios e perspetivas
seu melhor e mais rico período de educacionais que são expostos ao longo do
aprendizagem. Curso, mas sim no esforço pessoal de
refletir, debater e elaborar princípios
Do ponto de vista do desenvolvimento educativos que permitam a cada um dos
cerebral, o objetivo da educação baseia-se cônjuges realizar coerentemente o seu
em promover a quantidade e a qualidade próprio projeto e modelo familiar.
das ligações neuronais das células que
existem no cérebro. E, aqui é necessário ter
bem presente que os estímulos do
ambiente desempenham um papel
fundamental no estabelecimento e
manutenção destas conexões, e que é
precisamente durante a primeira infância
que o corpo humano está melhor preparado
para as estabelecer.

Por todas estas razões, este Curso vem,


precisamente, contribuir para o entusiasmo
dos jovens casais que dão agora os
primeiros passos num projeto educativo
familiar e que estão confiantes nas imensas
possibilidades de desenvolvimento dos seus
filhos.

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS
Introdução ao programa

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FOLHA DE TRABALHO PESSOAL

Programa: Sessão:
Esquema do caso:

Ideias retiradas da leitura individual da nota técnica:

Considerações retiradas após ter comentado com o meu marido/mulher:

Principais considerações da reunião de grupo:

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Sessão Geral:
Factos:

Problemas:

Soluções:

Critérios retirados na sessão geral:

Plano de ação – aplicar o aprendido na minha vida:

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS

TEMA 2 Pontos-chave para uma educação integral

Caso: Uma família normal


Nota Técnica: As etapas do desenvolvimento infantil

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CASO UMA FAMÍLIA NORMAL

CASO UMA FAMÍLIA NORMAL

O João e a Margarida são pais de duas crianças: a Cristina, de 3 anos e o Francisco, de 18 meses.
Estão convencidos de que os estão a educar muito bem, pois, como diz o João: «até agora não
tivemos nenhum problema, só o normal nas crianças». Segundo eles, há uma perfeita harmonia
no casal, embora discutam sobre algumas questões educativas, mas que mais tarde consideram
de pouca importância.

As insónias do Francisco são talvez o único «problemazito» que os preocupa, embora se


consolem pensarem que é normal numa família haver um filho com problemas de sono: «isto
acontece com muitos dos nossos amigos».

Há alguns meses atrás, o João e a Margarida passaram por uma verdadeira crise de cansaço e
esgotamento por causa desta situação. Por fim, exaustos por se levantarem 5 e 6 vezes todas as
noites, experimentaram levá-lo para a cama deles e resultou: o Francisco dormiu!

Custou-lhes a habituarem-se, especialmente ao João, pois o filho não parava de se mexer, mas
só o facto de não o ouvir chorar compensava o desconforto. Agora, passado oito meses, dormem
habitualmente os três juntos. O João experimenta algumas vezes passar o Francisco para a cama
dele quando já está a dormir, mas não demora muito para acordar de novo.

Hoje, sábado, por volta das seis horas da tarde, dois dos irmãos solteiros do João vieram ver os
únicos sobrinhos que têm e houve, apesar da tímida oposição da Margarida, distribuição de
guloseimas.

É claro, que a noite foi muito agitada, porque além do Francisco, também a Cristina acordou,
como não quis jantar por ter comido tantos doces, fez tanto barulho na cozinha que toda a
família teve de se levantar.

- Mas o que é que procuras a esta hora? - perguntou-lhe o João.

- Estou com fome.

A Margarida e o João olharam um para o outro e, enchendo-se de paciência, concordaram em


dar-lhe um copo de leite com cacau e umas bolachas. Entre uma coisa e outra, passou-se uma
hora.

A manhã seguinte ficou mais curta e com o tempo contado, pois tinham combinado passar o dia
em casa dos avós, fora da cidade. Começa, então, outra das lutas diárias da Margarida: vesti-los
e lavá-los. Para se despacharem, o João trata da Cristina e a Margarida do Francisco, mas
nenhuma das crianças gosta de colaborar. Há pressas, tensões, teimosias e amuos:

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CASO UMA FAMÍLIA NORMAL

- Parece mentira que nem as cuecas consigas vestir direitas! Dá-mas que agora quem te veste
sou eu! – protesta o João.

- Vá lá, Francisco, deixa a bola e vem cá imediatamente! – ordena a Margarida.

- Se não se vestirem, não vamos a casa dos avós! – ameaça o João.

- João, não te esqueças de lhe lavar os dentes quando lhe lavares a cara! – Recorda a Margarida.

- Margarida, querida, ela só tem três anos! Lava-os quando for mais crescida! Estes dentes de
leite até lhe vão cair!

Porém, a Margarida tem de recorrer ao seu método infalível dos dias de «colégio»: liga a
televisão e as crianças acabam de se vestir enquanto veem o programa que está a dar no
momento.

A verdade é que chegaram a casa dos avós em boa hora, graças ao facto da Margarida ter
amontoado os brinquedos no armário enquanto o João descia com as crianças, «porque, se
tivéssemos de os arrumar todos direitinhos, nem sequer sairíamos amanhã...».

A terceira batalha diária que a Margarida tem com os filhos sucedeu já em casa dos avós: a
refeição.

A avó deu a comida à Cristina, e a Margarida ao Francisco. Só faltou mesmo fazerem o pino só
com uma mão, já que as crianças fizeram de tudo. Finalmente, após uma longo hora de luta,
conseguiram que elas comessem.

- A Cristina vai ter de ser presa à cadeira, ela não para um minuto! – comenta a Margarida com
a mãe.

- Não exageres, filha! - Todos vocês já passaram por isso!

- Mas mãe, já reparou como é que ela se porta? Não há babete que resista. Além disso, passa o
tempo todo a pôr os dedos no prato. Uma porquita, não sei a quem é que sai...

Já de volta a casa, com as crianças a dormir no carro, a Margarida comenta com o marido:
«Tirando a hora da refeição, até que as crianças acabaram por não se portar muito mal, não
achas? A propósito, temos de responder à minha irmã se queremos frequentar o curso de pais
sobre a educação de crianças pequenas, para o qual ela nos convidou...».

- Eu acho que estamos a fazer tudo bem - respondeu o João, - e não precisamos de mais nenhum
curso além do nosso bom senso. Ninguém ensinou os nossos pais e nós não nos saímos assim tão
mal.

- Ó João, se me explicares como podemos ensinar a Cristina a ser mais limpinha e ao Francisco a
dormir a noite toda no quarto... - mas cada criança é como é.

- Bem, concluiu o João – na verdade cada casal tem o seu estilo próprio, e a mim parece-me que
somos uma família normal. Esperemos que continuemos assim por mais setenta anos!

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NOTA

AS ETAPAS DO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Todo o desenvolvimento infantil integral sua própria cama (não na cama dos pais
que desejamos para os nossos filhos pode e ou dos irmãos).
deve realizar-se a partir daquilo a que se
tem vindo a chamar de abordagens c) Ordem: a ordem nos horários é
educativas, que não são mais do que os fundamental, a criança quer saber o
diferentes aspetos nos quais a ação que tem de fazer em cada momento e
educativa deve incidir, e como deve incidir. não deve depender dos caprichos dos
adultos. Por outro lado, faz parte da
Na presente Nota Técnica, faz-se uma breve ordem transmitir e ensinar à criança o
descrição de cada uma destas abordagens e respeito pelas pessoas e pelas coisas.
propõem-se, a título de exemplo, alguns
comportamentos adequados que poderão d) Higiene: começa com o controlo dos
melhorar o desenvolvimento de cada um esfíncteres e continua com o asseio
dos filhos. pessoal. A criança deve aprender a
sentir-se confortável e a apreciar o
Vertente Antropológica: os quatro asseio.
hábitos básicos
Para terem sucesso nestes quatro hábitos
O cuidado com os quatro hábitos básicos básicos, que ousamos dizer que são os
deve ser uma constante a partir do pilares da «paz familiar» nos primeiros anos
nascimento da criança. São eles: de vida dos vossos filhos, cada família deve
tentar obter o seu próprio estilo, mas como
a) Alimentação: a criança deve comer conselho universal propomos:
bem, de tudo, à sua hora e num tempo
determinado. Comecem o mais cedo possível e sigam
uma estratégia conjunta firme entre pai
b) Sono: a criança deve ter as suas horas e mãe. Isto não significa ficarem de mau
de sono, sempre as mesmas, deitar e humor para os alcançar ou zangados se
levantar-se à hora prevista, dormir na não conseguirem adquiri-los logo no

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NOTA TÉCNICA OS PRIMEIROS PASSOS NA EDUCAÇÃO

início, mas estarem convencidos de em família.


que, com perseverança, eles possam ser
alcançados. ✓ Cuidado com os amuos e os ciúmes das
crianças. Normalmente, são
Vertente Psicológica: ter sucesso ultrapassados com a nossa alegria,
naturalidade e por um tratamento mais
Tanto à criança, como ao adulto, faz-lhe personalizado.
falta ter sucesso, a vida não pode ser um
fracasso contínuo. Este sentimento explica ✓ Incentivar a coragem: no parque infantil
muitas das possíveis más reações que os e nos passeios pelos jardins e pelos
filhos têm. campos; que se atrevam a mexerem-se.
Dêem-lhes o exemplo com
Devemos tentar partilhar os seus pequenos naturalidade, sem se preocuparem se
e grandes sucessos e tratá-los com a eles fazem bem ou mal. Mais cedo ou
delicadeza que merecem. mais tarde eles o aperfeiçoarão.

Por cada correção, será necessário Vertente Neurológica: o movimento


reforçar cinco vezes por dia as suas
conquistas O que a criança mais gosta é de se mexer...
e livremente.
Propomos as seguintes considerações:
Quanto mais oportunidades de
✓ Por cada correção, será necessário movimento tiver, melhor irá
reforçar cinco vezes ao dia as suas organizar os seus sentidos, conhecer
conquistas. e assimilar o mundo à sua volta e
desenvolver mais intensamente a
✓ Levá-los sempre a sério, eles notam. sua capacidade intelectual.

✓ Ser um exemplo vivo: evitar fazer troça É por isso que podemos aconselhar:
com as fragilidades da criança. Elogiar
as suas conquistas. ✓ Proporcionar amplas oportunidades de
exercício físico antes dos oito anos e,
✓ É preciso saber pedir desculpa e em especial, antes dos quatro anos.
agradecer. Todos o devem fazer.
✓ O que mais conta são os estímulos do
✓ Os avós representam uma grande fonte meio envolvente e não tanto a genética
de estímulos e informação para os (embora esta também tenha
netos. influência). Na realidade, o que a
criança quer e precisa é que seja
✓ É importante o contacto com outros estimulada e que se lhe dê liberdade o
bebés, mas sem os deixar sozinhos. quanto antes.

✓ É bom falar com eles de forma correta. ✓ Mas, atenção, a falta de estimulação é
Não devemos rir da sua incipiente tão prejudicial como um excesso de
locução, mas antes, explicar-lhes como estímulos desordenados.
se devem pronunciar as palavras de
forma correta. O melhor ✓ Proporcionar-lhes uma dieta
enriquecimento linguístico que se pode equilibrada. É muito importante, neste
dar às crianças é através das conversas sentido, a ajuda que o pediatra e a

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NOTA TÉCNICA OS PRIMEIROS PASSOS NA EDUCAÇÃO

escola podem e devem dar. Deixe que facilidade tanto a nadar como a
estes profissionais o aconselhem. reconhecer e a acompanhar uma peça
de Mozart, a designar um sem número
✓ Permita que conheçam os objetos de objetos seja em que língua for, a
usando todos os sentidos. Aprende-se tocar um instrumento, a identificar
com a experiência. conjuntos matemáticos, etc.

Vertente Pedagógica: uma educação • A criança só se recorda daquilo que a


positiva agrada, o que lhe foi apresentado de
uma forma interessante.
A vertente pedagógica abarca todas as
ações educativas que são realizadas com a • Um horário claro e fixo agrada a
criança de forma a alcançar o sucesso, criança. Já, as mudanças desorientam-
dando-lhe a preparação que necessita e que na e atrasam a sua aprendizagem.
exige para o desenvolvimento integral de
todas as suas capacidades. • Tente evitar situações inesperadas.

Para o adequado progresso educativo, • O melhor para o bebé - antes dos dois
convém fazer e dizer tudo «pela anos - é comunicar amorosamente
positiva», estimulando, encorajando e com ele.
facilitando os meios adequados no
momento oportuno, não • Para aprender a falar, cantar e
desesperando, nem sendo demasiado desenvolver bons sentimentos, utilize
exigente ou negativo. áudios, vídeos ou filmes selecionados,
em vez da televisão.
• Tire partido dos seus tempos livres.
Faça uma lista com opções • Incentivar audições de música erudita,
alternativas à televisão. Coloque-as se possível através da seleção de
em prática. obras adequadas.

• Não aceite qualquer chantagem de • Aprender a tocar um instrumento


uma criança, por mais pequena que desenvolve a capacidade de
seja o filho ou a chantagem. concentração.

• Divirtam-se juntos, mas sem ceder nos • Deixe que a criança memorize versos
limites estabelecidos. e lengalengas desde o momento em
que começa a falar.
• Seja firme com a criança antes dos
dois anos; nunca ceda no campo dos • Utilize cartões de memória, postais,
quatro hábitos básicos (alimentação, etiquetas. Desenvolve o hábito de
sono, ordem e higiene). memorizar e pensar.

Um horário claro e fixo agrada a • Ofereça poucos brinquedos, e troque-


criança. Já, as mudanças desorientam- os duas ou três vezes por ano.
na e atrasam a sua aprendizagem
• Privilegie a utilização de grandes
• O que é difícil e o que é fácil para uma folhas de papel e quadros fixos na
criança não é a mesma coisa para o parede numa determinada divisão da
adulto: ela aprende com incrível casa.

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NOTA TÉCNICA OS PRIMEIROS PASSOS NA EDUCAÇÃO

• Qualquer jogo de construção e a


utilização de carrinhos ou bonecos
facilita de forma natural o jogo
simbólico.

«O sucesso na educação da criança


dependerá de um crescimento harmonioso
e equilibrado em todos os ambientes,
concretizado de forma pessoal e positiva».

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS
Pontos-chave para uma educação integral

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FOLHA DE TRABALHO PESSOAL

Programa: Sessão:
Esquema do caso:

Ideias retiradas da leitura individual da nota técnica:

Considerações retiradas após ter comentado com o meu marido/mulher:

Principais considerações da reunião de grupo:

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Sessão Geral:
Factos:

Problemas:

Soluções:

Critérios retirados na sessão geral:

Plano de ação – aplicar o aprendido na minha vida:

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS

TEMA 3 O ambiente familiar

Caso: As três amigas


Nota Técnica: A criança e o ambiente que a rodeia

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CASO AS TRÊS AMIGAS

CASO AS TRÊS AMIGAS

Aproveitando uma viagem de trabalho do meu marido e o facto dos quatro filhos mais velhos
estarem em casa dos avós, telefonei às minhas amigas Ana e Júlia para nos encontrarmos cá em
casa para conversarmos um pouco sobre o pequeno negócio doméstico que partilhamos, em
part-time e em teletrabalho. Numa hora acabaríamos as nossas tarefas. Assim, combinámos às
quatro horas e ambas traziam os respetivos filhos: o Lucas de vinte meses e o Nuno de dois anos.

Enquanto estavam para chegar, preparei a sala de estar com a «ajuda» da minha filha Luísa, de
três anos, para que as crianças que viessem pudessem sentir-se à vontade: tirei do armário dois
ou três brinquedos com os quais os mais velhos já não brincavam, verifiquei se a janela estava
bem fechada e encaminhei-me até à Luísa, que estava a brincar com o André, de seis meses:

- Vão chegar dois meninos, o Lucas e o Nuno, que vêm com as suas mamãs. Empresta-lhes os
teus brinquedos Luísa, brinca com eles e chama-me sempre que precisares, nós vamos ficar a
trabalhar. Vamos pôr o André no parque grande que o avô deu, para não teres de ficar aqui com
ele e poderes ir brincar com os novos amiguinhos que estão quase a chegar.

Dei-lhe um beijo e disse-lhe a sorrir: «Muito obrigada pela tua ajuda, Luísa».

A Júlia e o seu filho Nuno chegaram pontualmente no autocarro que fica a três minutos de casa.
Assim que me cumprimentou, pegou no Nuno pela mão, disse-lhe quem eu era e fomos ter com
a Luísa e o André. Mostrei-lhes onde era a sala de estar, o quarto de banho e a cozinha. A Júlia
entregou ao filho alguns livros de histórias, um brinquedo, e baixando-se, olhou-o nos olhos e
disse-lhe:

- Enquanto eu e a Helena conversamos, tu ficas aqui a brincar com a Luísa. A Luísa vai brincar
contigo e tu vais partilhar os brinquedos. Se precisares de alguma coisa, pede-me, mesmo que
esteja a falar com a Helena e com a Ana, que também virá com outro menino, que se chama
Lucas. Vou-te dizer uma coisa, Nuno: Estou muito contente que tenhas vindo comigo, a
acompanhar-me para eu trabalhar com as minhas amigas!

A Júlia estranhou ver o André no parque. Olhou para ele com pena, e disse-me com alguma
diplomacia:

- O André não estaria melhor a brincar com os outros, Helena? O parque, mesmo grande como
este, limita o espaço dos bebés...

Disse-lhe simplesmente «talvez tenhas razão», e passámos às nossas coisas.

Estávamos a trabalhar há meia hora, quando a Ana chegou, toda afogueada, a puxar

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CASO AS TRÊS AMIGAS

literalmente pelo Lucas, que choramingava e se arrastava pelo chão do patamar da escada.
Assim que lhe abri a porta, cumprimentei-a e ela começou a gritar:

- Este pestinha!! Tive de sair do autocarro para não dar espetáculo e vir de táxi. Anda, filho, vai
brincar com os outros e deixa-nos uns momentos em paz.

Entre muitos soluços, o Lucas tentou dizer algo à mãe, mas, perante o seu desinteresse, ele
relutantemente juntou-se às outras crianças.

Após alguns minutos, as três mães tiveram de intervir numa luta, que parece ter sido provocada
pelo Lucas, destruiu um castelo e arrancou a cabeça a uma boneca. A Ana berra com ele, dá-lhe
dois açoites e ameaça-o:

- É a última vez que te trago a casa de alguém. Se não fosse termos ainda de trabalhar, íamos já
embora. Que belo espetáculo o teu, filho!

A criança parecia querer justificar-se, mas não conseguiu…

Tranquilizámos os miúdos e voltámos ao trabalho, mas a Ana estava prestes a descontrolar-se.


Apaziguamo-la também. Numa altura em que a Júlia saiu, a Ana acabou por desabafar comigo:

- É que me sinto muito sozinha, Helena. O João não para em casa com tanto trabalho que tem.
Às vezes deixo o Lucas a brincar e vou até à rua falar com alguém… em minha casa há demasiado
silêncio. E tu vês como este macaquinho me obedece, nunca para. Vou falar com o João,
sinceramente penso que este meu filho precisa de um psicólogo: não obedece nem com ameaças
nem com castigos. Que sorte a vossa! E tu Helena, como é que consegues ter a casa tão
arrumada com seis filhos? Tenho tanta inveja de ti! Calharam-te uns anjinhos, na distribuição
dos filhos...!

Terminámos o trabalho o melhor que pudemos e aproximámo-nos do quarto dos brinquedos.


Encontrámos os quatro um pouco sujos, com as mãos todas pegajosas e o chão cheio de papeis
coloridos de doces.

- Esqueci-me de dizer ao Lucas que guardasse os doces que lhe comprei para ir sossegado no
táxi. Olha como este porquito te pôs a casa! Desculpa Helena, mas tu sabes como são as crianças
nestas idades...

E depois, mudando de tom, disse-me:

- Por falar nisso, tens de me ajudar a ter a minha casa tão arrumada como a tua. Acho que tenho
demasiados móveis e o miúdo não tem espaço para brincar. O João diz que temos de levantar
meio metro do chão, todos os bibelots que estão na mesa de apoio e nas estantes da biblioteca,
para que o Lucas não os parta… Além disso, num ataque de impulsividade, já me disse que atira
pela janela todos os vasos que estão no terraço para que o Lucas tenha mais espaço para brincar.
Na realidade, seria uma pena, porque o terraço parece mesmo um jardim. Para mais, precisamos
do quarto de hóspedes, mesmo que só se utilize de vez em quando, quando vêm os meus pais.
Complicações da nossa vida!

Quando a Ana saiu, a Júlia, um pouco nervosa, confessou-me:

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CASO AS TRÊS AMIGAS

- Olha, Helena, infelizmente penso que estamos a perder o nosso tempo, em vez de estarmos a
trabalhar. O que é que fizemos hoje? Assistimos a um espetáculo lastimável e desagradável de
choro e ranger de dentes.

Tentei convencer a Júlia de que a Ana está verdadeiramente desorientada, que não sabe que
atitude deve tomar em relação ao trabalho e cria até para ela própria, imensas dificuldades
devido à sua falta de organização:

- A Ana tem hábitos que devia mudar, mas isso não se consegue de um dia para o outro. Se nós
trabalharmos de forma adequada, ou seja: bem, ela vai-se entusiasmando, pouco a pouco, com
o bom ambiente que desejamos para as nossas reuniões...

- Acreditas que vai mesmo mudar por nos ver a agir de uma outra forma? – objetou a Júlia.

- O importante é que ela se aperceba de que a educação requer empenhamento, que a ordem
requer esforço e que a organização da casa dá trabalho... temos de ter paciência. Um dia
também descobrirá o gosto de fazer as coisas melhor, vais ver. Eu acredito nisso.

Combinámos nova reunião para quarta-feira à mesma hora. Entretanto, a Maria ajudou-me a
limpar «o campo de batalha» sem fazer grande alarido. Para que ela não desanimasse,
cantámos, dissemos lengalengas, e jogámos às adivinhas...

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NOTA

A CRIANÇA E O
AMBIENTE QUE A RODEIA

O ambiente, as referências em torno da vida O registo dos estímulos cresce com a


da criança, é definido como o conjunto de repetição, o que facilita a realização do
situações e ações que a afetam diretamente hábito.
ao longo de todo o seu desenvolvimento. A
criança, desde o momento da conceção, Qualquer estimulação produzida pelo
necessita de uma série de estímulos que a ambiente, para ser eficaz, deve ser
ajudem a crescer enquanto pessoa e a sensorial, racional e afetiva.
desenvolver todo o seu potencial humano.
Devemos estar conscientes de que, para
A missão dos pais conscienciosos será que o desenvolvimento seja completo,
apoiar estas ações para que o todos os sentidos são importantes, mas,
desenvolvimento se faça de uma forma acima de tudo, a visão, a audição e o tato
integral, nos momentos certos e de uma devem ser estimulados. Quanto maior for a
maneira adequada. sensibilidade de cada um deles, maior será
o desenvolvimento cerebral.
A primeira condição para que a criança
desenvolva corretamente todas as suas 1. O ambiente físico e material
capacidades é que receba uma
As famílias onde as crianças
multiplicidade de estímulos e, para isso, é desenvolvem as suas capacidades
importante que o ambiente em que se psicomotoras e intelectuais em
encontra lhe facilite todo o tipo de ações e condições ideais são aquelas cujos pais
efeitos sensoriais. não restringem o espaço disponível,
mas, pelo contrário, redesenham o lar,
Não existe um bom desenvolvimento se contando com o novo habitante que
não houver estímulos. mexe em tudo e quer estar em todo o
lado, deixando a maior parte da casa
O desenvolvimento responde aos livre e segura para que ele possa usar de
estímulos mais eficazes. acordo com as suas necessidades de

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NOTA TÉCNICA A CRIANÇA E O AMBIENTE QUE A RODEIA

desenvolvimento. o Arrastar, rastejar, rebolar, andar para a


frente, para trás e de lado, correr,
Um espaço vital preparado desta forma saltar, dar cambalhotas.
permite às crianças desfrutar de um
ambiente amplo, estimulante e sem riscos, o Jogos que exijam o desenvolvimento
no qual podem receber todo o tipo de das habilidades motoras: bicicleta,
estímulos, onde podem experimentar, bowling, jogos de bola, saltos de
explorar e investigar um grande número de obstáculos, natação (para aprender e
espaços e objetos interessantes e variados, ganhar confiança dentro de água).
que encorajam e facilitam o seu processo de
aprendizagem. o Construções com peças de diferentes
tamanhos, cores e formas. Construções
A experiência confirma que um elevado com areia.
número de insucessos escolares está,
frequentemente, relacionado com o Amassar com barro, areia, farinha e
perturbações psicomotoras ou com défices água.
percepto-motores. Estudos recentes
sugerem que a causa de muitas destas A ideia é propor aos filhos diferentes
perturbações reside na falta de exercícios e de uma forma gradual, passar
desenvolvimento e maturidade do sistema ao exercício seguinte aumentando o grau de
nervoso de muitas crianças. dificuldade, mas só se a criança já tenha
assimilado o anterior e brincar com ela sem
Ficou assim, demonstrado que em certas exigir resultados rápidos, de tal forma que
idades, especialmente em idades mais se evitem situações de inabilidade.
precoces, um aprimoramento da
coordenação psicomotora, conduz a Uma forma fácil de realizar os exercícios
resultados intelectuais melhores. descritos é através da construção de
circuitos em casa; com cadeiras, mesas e
A estimulação da psicomotricidade almofadas. Podem-se ter aventuras
fascinantes, onde as crianças praticam de
Para conseguir uma boa coordenação de forma divertida as habilidades até se
movimentos das crianças, os pais devem cansarem. Todavia, vão ajudá-las a
encorajar o exercício, quer seja executando- conhecer o seu corpo, a dominá-lo e a
o diretamente com a própria criança descobrir as diferentes possibilidades dos
durante os primeiros meses de vida, quer seus movimentos.
criando um ambiente que seja favorável à
motricidade, encorajando-a ativamente e A estimulação no jogo e com os brinquedos
estimulando todos os tipos de exercícios.

A ideia é propor às crianças muitos e Os pais que se preocupam com estes


variados exercícios, brincando com aspetos da vida dos filhos também estão
elas, sem lhes exigir resultados rápidos dispostos e desejosos de lhes proporcionar
oportunidades de aprendizagem novas,
A idade e o desenvolvimento de cada sem ter de recorrer sempre a brinquedos
criança indicarão o tipo de exercícios que caros ou jogos exclusivos, mas permitindo
são apropriados para fazer com elas, sem as que as crianças os ajudem a fazer certas
forçar e sem qualquer perigo. Logo que a coisas em casa, e os acompanhem nas suas
criança tenha um certo domínio do seu idas às compras, etc. Isto proporciona-lhes
corpo, deve ser estimulada a realizar um ambiente interessante, permitindo que
exercícios do tipo: se mexam de acordo com a sua curiosidade

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NOTA TÉCNICA A CRIANÇA E O AMBIENTE QUE A RODEIA

natural e de forma a seguirem as suas partilhá-lo com o pai, com a mãe ou


tendências. com outro irmão, a ter cuidado para não
o estragar, etc.
É importante, portanto, que a criança faça
experiências com todo o tipo de objetos, Ao longo desta sessão vamos tecer algumas
desenvolvendo todos os sentidos de uma considerações relativamente à utilização
forma lúdica. Podemos passar e fazê-las dos televisores e dos ecrãs. As estatísticas
passar um bom bocado tapando-lhes os mostram que as crianças passam várias
olhos com uma venda e pedir-lhes para horas por dia em frente a um qualquer tipo
adivinharem objetos diferentes através do de ecrã, sem que os pais se apercebam dos
toque (formas, temperaturas, texturas, riscos envolvidos. Dizemos isto não só
etc.), ou através do sabor (de líquidos, devido às mensagens negativas que
açúcar, chocolate, sal, etc.), ou através do recebem através destes meios de
cheiro (de frutas, flores, plantas, etc.). comunicação, tais como a violência, uma
sexualidade mal compreendida ou todo o
No entanto, por vezes, em certos tipo de linguagem rude e grosseira, mas
momentos do dia, teremos de recorrer aos também devido à passividade que isso
brinquedos e à televisão, ou talvez numa implica, sendo a atividade uma prática
idade já mais avançada, aos tablets ou aos muito importante nesta fase de
smartphones, para as manter entretidas. Ao desenvolvimento da criança. A exposição,
longo deste Curso este tema irá ser tratado ou sobre-exposição a ecrãs faz com que a
de forma mais abrangente numa outra Nota criança não se mexa: mantém-na imóvel,
Técnica, aqui limitar-nos-emos a assinalar totalmente passiva. No entanto, também se
que, embora seja favorável oferecer à pode tirar algum proveito deles, se o seu
criança o maior número possível de uso consistir em passar, com alguma
oportunidades de aprendizagem, deve-se a frequência, um determinado vídeo, bem
todo o custo, evitar o erro de lhes dar em selecionado, de curta duração, ou um
excesso coisas materiais e todo o tipo de programa com jogos de aprendizagem: será
brinquedos. Essa overdose impedi-las-ia de um bom exercício para o desenvolvimento
usufruir, de gastar o tempo necessário e de da memória, para a compreensão
esgotar todas as possibilidades de intelectual e para a aprendizagem de
aprendizagem com esse mesmo brinquedo. línguas.

Os brinquedos em demasia deixam de 2. O ambiente intelectual


apresentar grande valor e satisfação para as
crianças, normalmente acabam partidos e A estimulação linguística
perdidos por toda a casa.
A maioria dos conhecimentos linguísticos é
Através de jogos podemos ensinar à adquirida entre os seis e os trinta e seis
criança hábitos de vida que, ao chegar meses de idade. No terceiro aniversário,
ao uso da razão, se tornarão em mais de 75% das atividades linguísticas de
virtudes, como a perseverança, a base da criança já estão presentes. De
ordem, o cuidado com as coisas pouco serve ser muito inteligente se depois
pequenas, etc. Desde tenra idade temos não se souber expressar as ideias com um
de as habituar a brincar com um correto uso das palavras. A importância da
brinquedo só, a guardá-lo sempre que linguagem para o desenvolvimento
acabe de brincar e antes de ir buscar intelectual é fundamental, e sabemos que o
outro, a entreter-se com ele, esgotando período em que o cérebro está mais
todas as possibilidades, a disposto a adquiri-la é durante os primeiros
três anos de vida.

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NOTA TÉCNICA A CRIANÇA E O AMBIENTE QUE A RODEIA

A importância da linguagem para o aconselhável fazer da diversão uma


desenvolvimento intelectual é constante avaliação, pois isso pode retrair a
fundamental, e sabemos que o período criança: tudo se deve fazer com
em que o cérebro está mais disposto a espontaneidade e liberdade.
adquiri-la é durante os primeiros três
anos de vida A estimulação da audição

Para desenvolver a linguagem, que se As crianças desenvolvem a audição já


aprende por imitação auditiva e visual, o desde os quatro meses antes do seu
melhor a fazer é falar muito, claramente, nascimento. Ouvem e são
com ligeiras, mas contínuas inflexões de especialmente dotadas e inclinadas
tom e com uma grande riqueza na utilização para a aprendizagem auditiva até aos
das palavras, desde o primeiro momento. dois ou três anos de idade. A partir
desta idade, o esforço para aprender a
Alguns exemplos podem ser: mesma coisa torna-se muito maior.

✓ Conversar muito com elas todos os dias. Convém ir habituando o ouvido, pondo
música adequada desde que nascem, e
✓ Usar uma linguagem correta, sem mesmo antes, não só para cultivar neles o
repetir os erros da criança. gosto pela música, mas também porque isso
favorece o desenvolvimento global da
✓ Ler e contar-lhes histórias. inteligência e das diversas aprendizagens.

✓ Mostrar-lhes as palavras escritas. Ouvir música:

✓ Fazer as refeições juntos, num ✓ Desenvolve o sentido da audição.


ambiente descontraído e comunicativo.
✓ Facilita a aprendizagem de línguas.
✓ Ensinar-lhes poesia, canções, trava-
✓ Promove a capacidade de ouvir e a
línguas, lengalengas...
distinção auditiva.
✓ Dar-lhes informação abundante e ✓ Cultiva a sensibilidade estética das
precisa sobre objetos, imagens e crianças e o gosto pela música.
palavras.
✓ Cria-se um ambiente adequado para a
✓ Fazer com elas passeios educativos. interpretação musical, a expressão
pessoal e a criatividade.
Esta última sugestão merece uma
explicação. Entendemos por «passeio É bom ir ouvindo a mesma peça musical
educativo» aquele onde «se anda a durante um certo período de tempo.
aprender e se aprende a andar». Consiste
em aproveitar os passeios, as idas e vindas 3. O ambiente afetivo
(pela casa, na rua, no jardim) para designar
tudo o que pode ser visto, pelo seu nome Estaremos a criar um ambiente afetivo,
preciso: choupo, cipreste, pinheiro, bom e enriquecedor à volta do nosso filho
carvalho; e chamar a atenção da criança quando ele perceber que o amor que lhe
para os vários objetos, desenvolvendo estamos a transmitir, com os seus vínculos
assim não só a linguagem, mas também a afetivos e as demais exigências no exercício
sua curiosidade intelectual e a sua da autoridade, são ambos para o seu
capacidade de observação. Mas não é benefício e não tanto para satisfazer os seus

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NOTA TÉCNICA A CRIANÇA E O AMBIENTE QUE A RODEIA

caprichos ou só para o aborrecer. material (como doces, presentes, etc.) é


totalmente contraproducente, uma vez
O carinho não pode ser confundido com o que os introduz num consumismo
mimo, ou seja, confundir aquelas ações que excessivo que, a longo prazo, se poderá
é necessário proporcionar ao nosso filho voltar contra nós além de os tornar
para que se sinta protegido, amado e dependentes e pouco generosos.
seguro, com as que tornam a criança
caprichosa ou mal-educada, por outras Em resumo, podemos dizer que, para criar
palavras: «mimada». um bom ambiente familiar, que permita a
educação dos sentimentos, devemos ter
O carinho exige, frequentemente, contacto bem claro o seguinte:
físico, uma festa, uma careta, um abraço ou
um reconhecimento autêntico e visível, e 1. A educação deve fazer-se pela positiva,
outras vezes, a exigência e a zanga, mas em fixando-nos sobretudo no bem que eles
ambas as situações há que, também saber fazem, em vez de constantemente
ser prudente, pois o abuso destas práticas recriminarmos o que fazem mal.
tão edificantes para as crianças, pode fazê-
las perder o sentido claro dos abraços, dos 2. É necessário promover a autoestima da
limites e das exigências que tão bem lhes criança, estabelecendo objetivos
fazem. exequíveis que exijam um certo esforço
e depois reconhecer os seus pequenos
É necessário promover a autoestima êxitos.
da criança, estabelecendo objetivos
exequíveis que exijam um certo 3. Teremos de os tornar cada vez mais
esforço e depois reconhecer os seus responsáveis pela qualidade das suas
pequenos êxitos respostas, pelas pequenas tarefas
familiares e por todo o tipo de
A exigência que deve existir por parte dos colaboração em casa, correspondendo
pais em relação aos filhos não é de modo assim ao desejo normal de ajudar.
nenhum incompatível com o carinho, nem
significa amá-los menos…, porém deve ser 4. Devemos ouvi-los e responder-lhes na
clara, suave e firme. medida das suas necessidades para que
compreendam o que lhes queremos
Quando se trata de castigar, devemos transmitir. Desta forma, poderão
procurar analisar os factos ao pormenor, alcançar muitas mais coisas porque,
avisá-los duas ou três vezes face às novas embora possa não parecer, eles
circunstâncias e, de um modo geral, não entendem muito mais do que aquilo
bater, mas procurar um castigo que seja que pensamos. Não há necessidade de
proporcional à transgressão e que esteja recorrer à mentira para explicar o que
relacionada com a mesma, algo que os quer que seja.
aborreça verdadeiramente e os obrigue a
mudar de atitude. 5. Será essencial estabelecer regras e
limites que orientem o seu
Para finalizar, temos de evitar motivar comportamento, fazendo-os ver que a
com prémios materiais, uma vez que sua razão de ser é facilitar-lhes a vida e
eles têm de conseguir fazer as coisas que, se não os cumprirem, poderão ser
bem feitas pelo prazer de as fazer, pela castigados.
felicidade que nos dão, a nós pais e, no
fim, porque realmente lhes apetece. 6. Os nossos filhos precisam que lhes
Recompensar uma boa ação com algo dediquemos tempo, e tempo de

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NOTA TÉCNICA A CRIANÇA E O AMBIENTE QUE A RODEIA

qualidade claro está, mas também um


mínimo de quantidade. Precisamos de
brincar muito, porque a vida deles, por
agora, é uma brincadeira e é disso que
eles gostam mais, e brincar é o melhor
meio que temos à nossa disposição para
os ajudar a formar a sua incipiente
personalidade.

Alguns sucessos pequenos que se alcançam


com os filhos quando o ambiente afetivo,
intelectual e material é bem cuidado pelos
pais, podem ser:

✓ Aos dois anos a criança come de


tudo, controla os esfíncteres e sabe
ouvir.

✓ Fala com clareza e faz-se


entender na maioria das situações.

✓ Nesta idade não deve usar


chupeta nem o polegar para dormir.
Costuma dormir toda a noite e
acordar seca. Também já não pede
para se deitar na cama dos pais
durante a noite.

✓ Geralmente já não faz birras,


porque nunca se lhe prestou muita
atenção quando as tentou fazer.

✓ Mexe-se com facilidade e domina


o espaço de toda a casa, sabendo
quais são os espaços que pode usar
para brincar e ter os seus jogos.

✓ Diverte-se com os jogos e esgota


muitas das suas possibilidades e,
embora lhe custe, arruma algumas
coisas no fim...

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS
O ambiente familiar

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FOLHA DE TRABALHO PESSOAL

Programa: Sessão:
Esquema do caso:

Ideias retiradas da leitura individual da nota técnica:

Considerações retiradas após ter comentado com o meu marido/mulher:

Principais considerações da reunião de grupo:

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Sessão Geral:
Factos:

Problemas:

Soluções:

Critérios retirados na sessão geral:

Plano de ação – aplicar o aprendido na minha vida:

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS

TEMA 4 Hereditariedade e carateres

Caso: O José não é o David


Nota Técnica: Os pais como modelo de amor. O tratamento
personalizado

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CASO O JOSÉ NÃO É O DAVID

CASO O JOSÉ NÃO É O DAVID

A Joana e o Mário têm três filhos, o David, de cinco anos, o José de três e a Carolina com pouco
mais de um ano. O Mário trabalha em artes gráficas e a Joana numa empresa multinacional,
embora, desde o nascimento da Carolina, e tendo ponderado com o Mário, tenha ficado de
licença.

O David é um rapaz organizado, calculador, aplicado, obediente e calmo. A mãe educou-o desde
pequeno segundo o ideal que ela tinha, também pelo que leu sobre educação, puericultura,
pedagogia, etc. O Mário sempre disse que ela exagerava, que as crianças tinham de desenvolver
a sua personalidade sem demasiadas regras ou limites.

- Tu és um desorganizado e um sonhador - contrapunha a Joana, as crianças têm de ser educadas


com método... Não são os filhos a nossa principal tarefa? E esta, não deve ser gerida com ordem?

A verdade é que, perante os bons resultados educativos que a Joana tinha tido com o David, o
Mário nunca se preocupou muito com o tema da educação e limitava-se a apoiar a mulher, a
quem via como uma autêntica profissional na matéria. «Ao fim e ao cabo, até eles chegarem ao
uso da razão, o pai tem muito pouco que fazer». E, limitava-se a «desfrutar dos seus filhos», nos
poucos tempos livres em que os via.

Efetivamente, este era outro problema que os preocupava e que provocava algumas discussões,
porque quando o Mário chegava do trabalho, já as crianças dormiam, e a joana proibia-o de as
acordar. Assim o pai, praticamente, só as via ao fim-de-semana.

À medida que o filho do meio ia crescendo, os problemas começaram a piorar e, presentemente


a Joana está realmente preocupada: o José é indisciplinado, desorganizado, pouco asseado, não
responde a nenhum tipo de estímulo...; porém temos de admitir que é uma criança feliz, com
um caráter muito bom, imaginativo e destemido nas decisões que toma. Passa grandes
intervalos de tempo com a irmã Carolina, a pintar e a contar-lhe as «suas historietas», que
parece que só ela entende. Esta interação põe a Joana nervosa, pois só repara nas mãos da
pequena todas sujas de tinta dos marcadores e teme que ela se torne tão nervosa quanto o
irmão.

«Mas que sujidade que está aqui, olha me só esta confusão! O que é que vamos fazer contigo!
Já viste como é que puseste a tua irmã? Deixa-a em paz, porque é que a excitas tanto? Depois
não dorme! Porque é que não fazes como o teu irmão? São as «recomendações» habituais que
o José ouve da mãe.

Hoje, sábado, como a Carolina apareceu com muita febre, o Mário levou os mais velhos ao
parque de diversões. «O que estes miúdos precisam é de mais distração», resmungou
interiormente, enquanto descia o elevador.

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CASO O JOSÉ NÃO É O DAVID

Acabaram por se divertir bastante no parque de diversões, especialmente o Mário e o José, pois
este quis andar em tudo o que eram atrações, fazendo as delícias do pai.

Já o David passou por alguns maus bocados uma vez que concordou em andar em algumas
atrações só para não dar parte de fraco, por puro amor-próprio.

- Vamos lá David, tens de te fazer um homem! Olha para o teu irmão como ele sobe, já viste que
valente que é? E pegando-lhe pelos braços, sentou-o num comboio aquático com ondas – Mas,
será possível que tu, com cinco anos ainda chores por causa disto, se o José, só com três, se está
a rir? Vamos lá!

Logo de seguida tomaram um refrigerante «de Cola-Cola!», como gritou o José


expressivamente. - Papá, a mamã não nos deixa beber «Cola-Cola» - lembrou o David a Mário.

- Podem beber o que quiserem hoje, mas não digam nada à mamã - respondeu, e depois
acrescentou em voz alta e para si mesmo: «A vossa mãe é um sargento de infantaria».

Quando chegaram a casa, muito para além da hora habitual do almoço, houve logo uma zanga.
Os miúdos chegaram com alguns arranhões e sujíssimos. O José com a pressa de contar tudo à
sua confidente, Carolina acordou a rapariga. O David queixou-se enquanto explicava à mãe que
tinha tido medo e, para cúmulo, contou-lhe da «Cola-Cola».

A Joana leu a cartilha ao Mário: sujos, comerem fora de horas, mortos de cansaço, botões
perdidos, David assustado...

O Mário recuou, no entanto, estava convencido de que toda aquela aventura devia ser repetida:
«a esta criança fazem-lhe falta muitos dias assim», pensou ele, referindo-se a David.

Já na sala ao lado, fechou os olhos e pressionou as pálpebras quando ouviu a última pergunta
do David à mãe:

- Mamã, o que é um sargento de infantaria?

O José acabou por adormecer no chão do quarto. Entretanto, a comida ficou à espera em cima
da mesa...

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NOTA

OS PAIS COMO MODELO DE AMOR


O TRATAMENTO PERSONALIZADO

Dizer que todos os filhos são diferentes é competência, quanto mais os ótimos, a
uma verdade que qualquer mãe ou pai tem menos que tenha certas experiências de
a oportunidade de comprovar ao longo da estimulação e aprendizagem.
vida. Talvez por isso se tenha dito que «a
verdadeira igualdade consiste em tratar E aqui, entra o papel fundamental dos pais,
desigualmente os desiguais». E, de certa pois são eles que devem fornecer-lhes os
forma, assim é. complementos – e não os suplementos -
que são necessários (pré-escolar, familiares,
Devemos transmitir a todos os filhos os especialistas, terapeutas, etc.).
mesmos princípios e propor as mesmas
metas essenciais, contudo de forma Esta é a responsabilidade e a alegria
diferente, porque não se educa no «geral», daqueles que têm o direito de educar os
a educação de cada filho deve ser sim seus filhos: proporcionar-lhes as melhores
concretizada e personalizada. experiências, sobretudo nos primeiros anos
de vida, independentemente do potencial
A herança genética e a criança que a criança possa ter herdado.

Podemos dizer que a criança ao nascer traz A tabela na página seguinte mostra, com a
consigo um dote: a sua herança genética é cautela que exige, todo o cálculo percentual
o limite das suas potencialidades, mas não que diz respeito ao comportamento
garante um determinado nível para elas. humano, à influência que o ambiente e à
Uma criança que nasce com uma lesão experiência que podem ter sobre o
cerebral não pode, logicamente, atingir o desenvolvimento de uma criança.
mesmo nível de outra cujo sistema nervoso
central está ileso.
Tabela 1
O que é certo é que a criança que não tem
condições físicas e/ou neurológicas não Influência da genética e aprendizagem nos
será capaz de atingir os níveis de diferentes âmbitos da pessoa:

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NOTA TÉCNICA OS PAIS COMO MODELO DE AMOR. O TRATAMENTO PERSONALIZADO

Âmbito Formação Ações possíveis Influência da Influência da


pessoal genética aprendizagem

Desporto e exercício
Material Gerir 78% 22%
físico

Aprendizagem e
Intelectual Instruir 52% 48%
conhecimentos

Da vontade Educar Hábitos e virtudes 29% 71%

Aceitar os filhos tal como eles são que não recebeu.

A primeira condição para a implementação E mais ainda, as raízes desta aceitação e


bem-sucedida de uma educação amor incondicional devem estar imersas na
personalizada é aceitar os nossos filhos tal profunda convicção de que ele é uma
como eles são. Quantas vezes nos pessoa única, um ser irrepetível,
desgastamos a tentar que os filhos sejam independentemente de ser mais ou menos
como gostaríamos que fossem, «à nossa inteligente, mais simpático ou mais
maneira»? Não devemos estranhar que não introvertido, alto ou baixo...
correspondam à imagem que fizemos deles.
Os pais devem resistir à tentação de se Arranjar tempo para conhecer os
quererem projetar indevidamente nos nossos filhos
filhos.
Não há outra forma de conhecer os nossos
Portanto, a relação com os filhos, o filhos, senão dedicando-lhes o maior tempo
entendimento com eles deve ser baseado possível e, se não dispusermos de muito,
no pilar firme e inabalável de uma aceitação dedicar-lhes o que é praticável com a maior
geral e incondicional. Para isso, é preciso intensidade de que formos capazes. Mas
descobrir os talentos, a sua forma única de não nos enganemos, a «qualidade do
ser, bem como as suas limitações e possíveis tempo» - tão na moda - não basta, faz falta
defeitos. também a «quantidade de tempo».

Aceitá-los não é resignarmo-nos, mas sim A criança de zero aos três anos de
saber de onde partimos, para fixar com idade precisa da presença do pai e da
clareza a meta até onde podemos chegar. É mãe, do seu contacto físico. Na maior
importante que conheçamos como é cada parte das ocasiões não é necessário
filho para que, ao encorajá-lo no que é bom, estar sempre em cima da criança, pois
não o enganemos, fazendo-o crer que tem ela precisa de tempo para desenvolver
umas qualidades diferentes, ou talentos a imaginação e brincar sozinha; mas,

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NOTA TÉCNICA OS PAIS COMO MODELO DE AMOR. O TRATAMENTO PERSONALIZADO

mesmo assim, precisa de saber que a ✓ Evitar as pressas: a criança não tem a
mãe ou o pai estão por perto, a noção do tempo.
trabalhar em casa, a ler ou a conversar
com os amigos, que estão lá. ✓ Respeitar a sesta dos bebés para que se
comportem depois como queremos.
E somos nós, pais, que temos de ultrapassar
a tentação de pensar: «para estarem aqui ✓ Ouvir atentamente os nossos filhos,
sozinhos ou sem me prestarem atenção, desde que começam a balbuciar
mais vale deixá-los com uma palavras.
ama/empregada/baby-sitter». Não, as
crianças brincam bem, felizes e seguras, Não é suficiente apenas estar com os
precisamente porque a mãe ou o pai estão filhos. É importante saber estar e
lá. saber ouvi-los. Os filhos confiam nos
pais quando eles estão próximos,
Aqui não há espaço para receitas, cada acessíveis, dispostos a interessarem-
família tem a sua própria personalidade, se pelo que lhes está a acontecer
mas atrevemo-nos a fazer algumas
sugestões: A preocupação com os filhos requer esforço
e deve englobar todos os seus aspetos. Não
✓ Se não podemos chegar a casa mais podemos só nos preocupar com a saúde
cedo e estar com os filhos à noite, deles. Temos de descobrir esse outro
podemos sempre levantar-nos mais mundo mais egocêntrico. E devemos fazê-lo
cedo de manhã e tomar o pequeno- escutando os silêncios interiores dos nossos
almoço com eles. filhos, tudo o que eles expressam sem
palavras: um olhar questionador, um sorriso
✓ Levá-los à creche ou ir buscá-los, pelo de conforto, uma simples palavra de
menos um dia por semana. desapontamento. Os filhos confiam nos pais
quando eles estão próximos, acessíveis,
✓ Em vez de praticar desporto aos dispostos a interessarem-se pelo que lhes
sábados às onze horas, experimentar às está a acontecer.
nove… ou às oito, para poder dedicar
toda a manhã à família. Não basta, embora seja um pressuposto
necessário, estar com os filhos. Precisamos
✓ Dar banho aos bebés, tanto o pai como de saber estar e, sobretudo, de saber
a mãe. escutar. Se queres mesmo saber o que
realmente sente e pensa o teu filho, não
✓ Em vez de ler o jornal de manhã/livro,
fales muito: escuta-o.
quando os filhos estão cheios de
energia e vontade de brincar, lê-lo à Como é que devemos escutar os nossos
noite. filhos?

✓ Respeitar o horário e os gostos da Bem, rejeitando qualquer coisa que possa


criança ao fazer um plano familiar. As implicar uma escuta negativa, como por
crianças não se divertem com as exemplo:
mesmas coisas que nós adultos (como
passear de carro, ir às compras, tomar • A escuta excessivamente emotiva (por
excitação, raiva, desilusão), que acaba
um aperitivo…).
por ser uma surdez interior.

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NOTA TÉCNICA OS PAIS COMO MODELO DE AMOR. O TRATAMENTO PERSONALIZADO

• Rejeitar ouvir (quando já decidimos, de preocupes», mas encoraja-a a falar e a


antemão, que não vale a pena escutar o olhar serenamente para aquele
que nos dizem: «não digas tolices»). problema (que será para a criança «o
único problema»).
• A escuta crítica (quando o que
queremos é ditar um veredito sobre o • Enquanto ouves, utiliza a
que o filho diz: «não foi sem querer, linguagem corporal para a encorajar a
fazes sempre o mesmo!»). continuar, acena com a cabeça, sorri,
faz contacto visual…
• A escuta distraída (quando se tenta
ouvir e fazer outra coisa ao mesmo Com uma escuta positiva, nenhum tempo é
tempo. Temos de decidir: ou é mais desperdiçado. Precisamos de passar tempo
importante o que nos conta o nosso com eles para partilhar (ou simplesmente
filho, e abandonamos o que estamos a conhecer) os seus gostos e interesses. Usar
fazer, ou não é, e explicamos-lhe que uma linguagem simples, acessível, que una
nesse momento não o podemos ouvir. e não separe, brincar com eles, com cada
A indiferença é o pior). um deles, procurar situações «à parte» para
conhecê-los um a um, rir com as suas
A escuta positiva tem características bem graças, pregar-lhes partidas… e tudo com os
diferentes: cinco sentidos em alerta para captar o
mínimo gesto.
• Abstém-te de toda a crítica, pelo
menos até teres compreendido
Em resumo: tratamento personalizado
perfeitamente o que a criança queria
dizer e depois de a ter deixado
«A Verdade e a bondade é mais difícil de
explicar-se bem. Se a interrompemos
transmitir e aceitar porque envolve, e exige
de forma crítica, ela inibir-se-á de
esforço, sacrifício, abnegação, disciplina,
falar.
doação de si próprio. O negativo, por outro
lado, só requer deixar-se ir. Personalizar,
• Os silêncios não a incomodam. O
educar as pessoas: esse é o antídoto»1.
silêncio atento, sem pressa em
preenchê-lo, com o contacto ocular e
Uma vez observada a personalidade de cada
uma expressão carinhosa, transmite e
filho e o seu temperamento, as suas crises,
proporciona a tranquilidade e o
os problemas que o afligem nesse
tempo suficientes para que se exprima
momento, etc., trata-se agora de dedicar
bem.
algum tempo – pai e mãe sentados, com
papel e lápis – a estudar e a analisar a ação
• Observa a expressão da criança, a
educativa que devem empreender com o
direção do seu olhar, os seus gestos, a
filho em questão. E, depois com todos os
sua postura.
outros filhos.

• Aceita de bom grado os erros (os


Um a um, distinguindo-o dos seus irmãos,
alheios e os próprios).
porque umas são as suas necessidades e
outros os seus desejos, também porque
• Reconhece os sentimentos da
têm direito que as reconheçamos como
criança e não os tentes sempre
únicas e próprias daquele filho em
resolver logo, retirando-lhes
particular.
importância, com um «não te

1 Cardona, C. (2001), Ética del que hacer educativo.

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NOTA TÉCNICA OS PAIS COMO MODELO DE AMOR. O TRATAMENTO PERSONALIZADO

Convém fixar objetivos para cada filho, valorização, que a criança construirá
pequenos, simples e fáceis, que não se com os elementos que tem mais à
prolonguem demasiado no tempo, sem mão: palavras, linguagem corporal e a
tentar corrigir tudo, mas que se vão relação com as pessoas ao seu redor
revendo e implementando eficazmente.
A autoimagem é o conceito da sua própria
Estes devem ser objetivos que podemos valia, que a criança construirá com os
reter na cabeça sem grande esforço, que elementos que tem mais à mão: palavras,
nos saíam naturalmente quando agimos, linguagem corporal e a relação com as
porque estamos convencidos de que são pessoas ao seu redor. Se as mensagens e as
aqueles que queremos e acreditamos que impressões que recebe são negativas, a sua
aquele filho precisa. autoimagem e, portanto, a sua autoestima
será também negativa.
Para conseguir um tratamento
personalizado não devemos impor os «Modifica a tua autoimagem e modificarás
nossos caprichos às suas brincadeiras: as tuas faculdades». Uma criança com boa
autoimagem será ativa, curiosa, com bom
o A criança está deitada no chão, e a mãe humor, confiante e flexível. Terá a energia e
interrompe-a para brincar a algo mais a confiança necessárias para colocar, a si
educativo. própria, desafios e tentar alcançá-los:
sentir-se-á incondicionalmente amada e
o A criança está a olhar para as formigas valorizada como pessoa. A cada novo
no chão, muito concentrada, e o pai sucesso a sua confiança será fortalecida, e
vem por trás e levanta-a no ar. uma rede de conexões neurais boa será
criada.
o Respeitar o seu estado de humor: por
exemplo, à criança que acabou de se
A criança que acredita, ou melhor, que foi
levantar depois da sesta, não lhe
levada a acreditar, de que é inútil ou
costuma apetecer fazer grandes
incapaz, fará escolhas que a conduzirão ao
brincadeiras, nem responder a muitas
fracasso, reforçando assim as suas
perguntas.
convicções negativas. Ninguém a quem
tenha sido repetidamente dito o quão
o Adaptar a casa de forma a terem
inepto, desajeitado e feio ele é pode ter
liberdade para brincar e poder explorar,
energia suficiente para se lançar com
ir à descoberta. Também é a sua casa!
sucesso no caminho da vida, porque nem
Não o ajudar de cada vez que tenha um sequer será feliz consigo mesmo. Será
problema: é melhor dedicar uns momentos sempre uma criança inativa, tímida,
a explicar-lhe e a sugerir-lhe o que pode retraída, hipersensível e carregada de «não
fazer para o resolver sozinho. posso».

A autoimagem Felizmente, a autoestima é sempre


alcançável, embora a formada nos
A criança nasce com um temperamento primeiros anos de vida seja sempre de
único, mas carece de uma identidade bem importância vital. A redução das
definida. Isso será formado pouco a pouco, observações nocivas e o aumento das
através das mensagens que irá receber; respostas para melhorar a imagem e a
somáticas, afetivas e intelectuais. estima é um caminho educativo seguro.

A autoimagem é o conceito da própria A base de qualquer sucesso de melhoria da

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NOTA TÉCNICA OS PAIS COMO MODELO DE AMOR. O TRATAMENTO PERSONALIZADO

autoimagem reside no clima emocional Durante os três primeiros anos de vida, a


entre a criança e o adulto. criança assimila todo o amor dos pais e isso
dá-lhe a segurança de que precisa para a
Para melhorar a autoimagem do vosso vida. A criança tem de ver que os seus pais
filho podem: se amam.

✓ Evitar todo o comentário humilhante ou ⎯ Tem de ver que a pessoa mais


trocista, por exemplo: «Chegou o importante em casa para o pai é a mãe,
Joãozinho… Que mal que cheira!» – A e vice-versa.
culpa não é dele.
⎯ Deve aperceber-se de que a mãe gosta
✓ Pedir desculpa ao filho, mesmo que seja de agradar ao pai.
ainda muito pequeno.
⎯ Tem de ver que o pai está atento à mãe
✓ Manifestar a alegria de o ter por perto: e que lhe diz muitas vezes que está
«Que contente estou porque estás aqui lindíssima.
comigo!».
E, por isso, às vezes os pais saem juntos e
✓ Evitar comentários negativos sobre a deixam-nos com uma baby-sitter. Os filhos
criança: «Que grande porcalhão!»; compreendem tudo isto desde muito
«Que maçador!». pequenos, e esse é o seu modelo de amor.

✓ Eliminar toda a ironia, que destrói o


bom relacionamento.

✓ É proibido ser áspero, resmungão,


rabugento e dar sermões. As crianças
não aprendem com sermões, mas sim
com o exemplo.

Modelos de amor

Amar é dar e receber. Ou melhor, receber e


dar. Os nossos filhos aprendem o que é o
amor através do exemplo que lhes
oferecemos e vão amar na mesma medida
em que tenham sido amados. E o nosso
amor é um amor sem condições, que só
acontece no seio da família: amamo-los tal
como são, seres irrepetíveis, imortais, eles
são o nosso mútuo amor de pais plasmado
fisicamente.

Os nossos filhos vão amar na mesma


medida em que tenham sido amados.
A criança assimila todo o amor dos pais
e isso dá-lhe a segurança de que
precisa para a vida. A criança tem de
ver que os seus pais se amam

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS
Hereditariedade e caracteres

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FOLHA DE TRABALHO PESSOAL

Programa: Sessão:
Esquema do caso:

Ideias retiradas da leitura individual da nota técnica:

Considerações retiradas após ter comentado com o meu marido/mulher:

Principais considerações da reunião de grupo:

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Sessão Geral:
Factos:

Problemas:

Soluções:

Critérios retirados na sessão geral:

Plano de ação – aplicar o aprendido na minha vida:

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS

TEMA 5 Brincar com os filhos

Caso: Parabéns António!


Nota Técnica: A necessidade de brincar na vida da criança

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CASO PARABÉNS ANTÓNIO!

CASO PARABÉNS ANTÓNIO!

O António, até agora, era filho único. A mãe, Marta, está à espera de uma menina dentro de
dois meses. Trabalha em full time num banco. O seu marido, Pedro, gere uma pequena empresa
de publicidade à qual dedica grande parte do dia. Desde que a Marta regressou ao trabalho após
a licença de maternidade do António, o pequeno tem ficado ao cuidado dos avós maternos. Eles
chegam muito cedo a casa do neto, e alternam alguns dias com o tio Gabriel, que também está
reformado. Esta é a razão pela qual o Pedro e a Marta não têm pressa em pôr o filho numa
creche.

- Como em casa, não vai estar em mais sítio nenhum – comenta a Marta quando alguém lhe
pergunta – tem uma infinidade de brinquedos e a família que o sabe entreter.

Na verdade, o António tem muitos brinquedos. Regularmente, um dos avós ou tios, sob
qualquer pretexto, compram-lhe alguma coisa. Assim, tem um cesto enorme cheio de mil
brinquedos. De manhã, esvazia-o no tapete da sala: carros, soldados, cavalos, bombas de
gasolina, etc. Muitos deles estão desmontados, porque o António quer ver o mecanismo de cada
um e não para enquanto não o «encontra». À noite recolhem-se, amontoam-se no cesto e assim
ficam até ao dia seguinte.

Quando a Marta se prepara para sair, muitas vezes o António diz-lhe:

- Fica a brincar comigo, mamã. Ao que ela responde, quase automaticamente: - Mas tu tens
todos os brinquedos do mundo!

- Mas já os conheço todos – responde o António, aborrecido, antes de começar a brincar.

O Pedro é de opinião que deviam restringir as Olimpíadas de ofertas de presentes ao filho,


porém, não se atreve a enfrentar tantos familiares. Faz-lhe passarinhos e figuras de papel de
alumínio, soldados, cães, pombas… que o António estraga rapidamente.

- Eles morrem logo, papá...

O Pedro fica zangado porque acha que o filho é demasiado abrutalhado nas suas brincadeiras e
há algumas que são verdadeiras obras de arte.

Desde que a Marta descobriu num livro que as crianças deviam brincar sozinha com as suas
coisas, o António passou a brincar centenas de horas com os seus brinquedos.

Em certos dias o avô ou a avó ou até o tio Gabriel levam o António ao parque. Contudo, os avós
de plantão, dizem que o neto «se porta muito mal» e é por isso que na maioria do tempo

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CASO PARABÉNS ANTÓNIO!

preferem que ele fique em casa a brincar, no grande terraço, que tem sol toda a manhã.

- Vamos ao parque, mas não mexes na areia – avisa-o a avó Rosa.

- O tio Gabriel deixa-me brincar – diz o menino.

- Ora! Ora! O tio Gabriel, o tio Gabriel! Dava-te a lua se lha pedisses – replica-lhe a avó. Se fosse
ele que tivesse de te educar, estávamos bem arranjados! E nem se pode ir aos parques com tanto
cão por lá...

A criança resigna-se e regressa a casa com ar de derrotada.

Mas, hoje no parque aconteceu algo que se vai falar por muito tempo em casa da Marta e do
Pedro: o rapaz trocou o trator teleguiado que o avô António lhe deu no Natal por um balde de
plástico todo velho cheio de areia do parque. Na realidade, nunca se vai saber a verdade, mas o
certo é que o António conta o que aconteceu à sua maneira:

- Dei o trator velho a um menino que vi no parque, para ele me dar a areia e o balde. Toma,
toma, Avó! Vou levar esta areia para casa, para brincar!

Escusado será dizer que nem o balde nem a areia entraram em casa. A avó Rosa fez com que
tudo desaparecesse muito rapidamente, com a promessa de resgatar o trator que tinha sido
objeto de troca.

O avô António está disposto a substituí-lo no próximo aniversário. O Pedro aproveitou a ocasião
para pedir a todos os familiares que fossem o mais modestos possível quanto aos presentes. Ele
acha que o António tem uma «síndrome de saturação» em relação aos brinquedos.

Quando às vezes, a outra avó, Isabel, toma conta do António, tira todos os brinquedos da frente
dele, só lhe dá um de cada vez e brinca com ele a guardar a roupa nos armários, a contar passos
ao longo do corredor, a explicar-lhe o que é uma paisagem e uma natureza morta, a identificar
as pessoas nas fotografias da família e mil e uma outras coisas. A Marta queixa-se que a avó
Isabel, em vez de a ajudar, revolve-lhe a casa toda, muda-lhe as coisas de sítio e deixa o neto
entrar em todas as divisões da casa:

- Ele tem os brinquedos dele, Isabel - faz-lhe ver a Marta. - Não se pode deixar a casa toda à
mercê da criatura.

Passado alguns dias, chegou o dia de aniversário do António, apagaram as velas e cantaram o
«Parabéns a você!». Dos muitos presentes que recebeu, apenas um lhe chamou a atenção: o do
tio Gabriel. Consistia numa caixa de madeira com um metro e meio de comprimento e um palmo
de altura, estava cheia de areia limpa e tinha um balde, uma pá, um ancinho de plástico e alguns
moldes para fazer «bolinhos» no seu interior.

O António passa agora muitas horas a fazer castelos e formas na areia. A Marta protesta
constantemente porque a areia entra na sala de jantar, e porque além disso, o filho convida
sempre dois ou três vizinhos para brincar com o seu novo brinquedo.

Para culminar, no outro dia, uma das crianças descobriu que molhar a areia suporta muito
melhor os bolos e as formas.

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CASO PARABÉNS ANTÓNIO!

- Há areia até à porta! - grita a avó Rosa. - Que grande invenção a do tio Gabriel. É claro que não
é ele que tem de varrer!

O Pedro, contra o desespero da sogra, ficou satisfeito com a desenvoltura e a satisfação do seu
filho. Sem dizer nada, apanha a areia que vem do terraço, enquanto pisca o olho ao António.

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NOTA

A NECESSIDADE DE BRINCAR
NA VIDA DA CRIANÇA
Poder-se-ia dizer que a vida da criança de mãe, a propósito das primeiras brincadeiras
dois ou três anos está dividida entre o sono com o seu bebé, diz: «É a senhora, com o
e a brincadeira, apenas interrompida pelas seu rosto fascinante, os seus olhos
refeições. É igualmente perigoso para uma fulgurantes que falam e o embalam. Os seus
criança desta idade não dormir, não brincar braços quentes, as suas mãos suaves, os
ou não comer, porque tal como o seu corpo seus dedos acariciadores, o seu cheiro
precisa e lhe pede para comer e dormir, a familiar, até só a sua presença singular e
brincadeira contribui para o seu divertida se torna, para o seu filho, o
desenvolvimento cerebral e emocional, que primeiro brinquedo que há no mundo e é,
são a base para uma aprendizagem integral de todos, o mais perfeito».
futura.
A criança precisa de ouvir com frequência a
A brincadeira, que inclui certamente prazer, voz da mãe. Enquanto passa a ferro ou
alegria, ação e aprendizagem, é conjugada, realiza as tarefas da casa, ela pode falar com
ao longo do dia, com situações mais ela e contar-lhe coisas, em linguagem
desconfortáveis, tais como ter fome, estar normal, sem diminutivos disparatados.
molhada, etc. Mas durante a maior parte do Assim, ela vai ouvindo sons que pouco a
dia o bebé brinca, ou seja, está ativo, pouco associa ao amor da mãe, e que com
centrado no que lhe interessa. Em certos o tempo articulará em sílabas e palavras.
momentos, fica mesmo sério e concentra-
se, porque o que faz é muito importante
A criança aprende enquanto observa e
para ele. Está a adquirir capacidades, a
imita e a brincadeira é uma imitação de
descobrir o mundo ao seu redor e a
tudo o que a rodeia
começar a desenvolver a sua personalidade,
através dessas vivências lúdicas.
A inteligência de uma criança exige do
Durante o primeiro ano de vida ambiente constantes novidades, «dados»
adicionais para alimentar o seu cérebro, que
Joanne F. Oppenhein, dirigindo-se a uma se desenvolve a um ritmo vertiginoso.

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NOTA TÉCNICA A NECESSIDADE DE BRINCAR NA VIDA DA CRIANÇA

À medida que a criança cresce, a mãe e o pai interessar-se mais por tudo
veem com alegria que vai compreendendo quanto é palpável. Da «fome visual»
as coisas: podem fazer-lhe caretas passa à «fome manual», e o seu apetite
divertidas, deitar a língua de fora, encher as é insaciável. Vai tentar chegar às coisas,
bochechas de ar e fazer sons engraçados sentir, dar pontapés, manusear tudo o
com a boca. Se a criança espirra, a mãe ou o que estiver ao seu alcance e mover-se
pai podem fazê-lo também, se boceja, para ouvir sons.
podem imitá-la. Estas são brincadeiras
autênticas, que divertem a criança e são, ao A boca do bebé será uma maravilhosa fonte
mesmo tempo, veículo para sentir o amor. de informação. Não poderá resistir ao
impulso de levar tudo à boca: brinquedos,
Algumas atividades lúdicas durante mãos, pés, tudo se converterá em elemento
o primeiro ano de vida: de exploração. Começa a dentição.
Apercebe-se das relações causa-efeito.
PRIMEIRO MÊS: Só espera que o Aprende a associar uma ação particular ao
alimentem, limpem e o ponham a efeito que ela produz. Atira repetidamente
dormir. Gosta que lhe peguem ao colo. com os brinquedos para observar como
Volta a cabeça, e os seus olhos fixam-se caem ou como fazem barulho. Ao concluir
em tudo quanto esteja na sua linha de este primeiro ano de vida, irá exceder os
visão. Os ouvidos escutam e limites do berço.
apercebem-se de todos os sons e o
olfato é muito forte. Durante o segundo e o terceiro ano de
vida
DE UM A DOIS MESES: Interessa-se por
tudo o que tem luz e movimento, Celebrou-se o primeiro aniversário e os pais
compreende que «essa coisa que se estão convencidos de que têm a situação
mexe» é a sua mão. A partir de agora, controlada e de que já aprenderam a cuidar
começa a aprender onde é que ele do novo membro da família. Mas o primeiro
acaba e o mundo começa. Compreende ano de experiência não serve de muito para
que não está completamente os anos seguintes. Começam a observar que
desamparado, porque alguém cuida o filho, até agora sem autonomia, se
dele, fala com ele e ocupa-se dele… converteu numa pequena máquina em
contínuo movimento.
NO TERCEIRO MÊS: Tendo descoberto
as mãos, o bebé fica fascinado. Olha Têm ainda muito presente como era
para elas durante horas. Mas o divertido ver o bebé a brincar, diante do
interesse pelos rostos também está a espelho, nos braços dos seus pais: a
crescer, e este é talvez o momento mais observar as mãos e os pés, a deitar a língua
importante para o encorajar a dar os de fora, a bater palmas…
seus primeiros sorrisos.
Porém, aquele pequeno ser cresceu. Já não
NO QUARTO MÊS: Nos aparentes é aquele bebé que dormia muitas horas,
movimentos ao acaso, aprenderá a tranquilamente, no seu berço. Começa a
selecionar aqueles que satisfazem as andar, a levantar-se e a «conquistar» todos
suas necessidades. Ao abrir os punhos os cantos da casa. Quer conhecer tudo,
começará a usar o sentido do tato e a observar e tocar.
fazer pressão para se agarrar com força
às coisas que o abrem ao mundo. O trabalho dos pais será sempre positivo,
ajudando-o a levar a realizar estas
NOS MESES SEGUINTES: Começa a «investigações», sabendo que primeiro

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NOTA TÉCNICA A NECESSIDADE DE BRINCAR NA VIDA DA CRIANÇA

terão de reforçar todas as medidas de tornar para a criança num grande


segurança: cabos elétricos, tomadas, brinquedo. Lá dentro pode haver objetos de
cozinha, fechaduras… Mas, será preciso dar- plástico de vários tamanhos e cores. Uma
lhe outras coisas que substituam as porta tem muitas «qualidades» divertidas:
proibidas. abre e fecha-se, pode-se encher e esvaziar,
é uma espécie de mistério que se descobre
O seu andar ainda não é firme, mas sente- e redescobre cem vezes ao dia.
se cheio de força e tenta subir escadas,
trepar às cadeiras e mesas, meter-se no Através de tentativa e erro, de imitação, a
sugestivo mistério de um armário… São criança vai aprendendo. Tem de saber subir
sensações de um mundo em plena ao sofá, correndo o risco de cair. E se cair,
descoberta gradual, que não podemos deixar que se levante por si própria. O choro
abafar mas sim controlar. é, muitas vezes, expressão de uma
frustração e não de uma lesão.
Neste SEGUNDO ano de vida, as
meninas deliciam-se com as bonecas, O «portar-se mal» de uma criança é, em
porque é o primeiro ser que «lhes muitas ocasiões, consequência da falta de
obedece cegamente». No esforço de movimento ou de brincadeira, pois ela
imitação, gostam de cozinhar e passar a precisa de um desgaste físico constante.
ferro. Por isso é necessário ter tanto
cuidado com os perigosos Vale a pena frisar novamente que os pais
«brinquedos» da cozinha, como com as têm de ser os primeiros companheiros de
tomadas, portas e janelas. brincadeira dos seus filhos. Se tivermos em
conta que o pai e a mãe têm estilos de
Os meninos jogam à bola e convertem brincar diferentes (não há razão para
em bola qualquer objeto que haja em unificarem critérios), a criança aprenderá
casa. É por isso que é conveniente mais e ampliará o campo da sua liberdade
analisar a qualidade e a segurança dos para brincar.
objetos que estão ao seu alcance.
Uma tarefa delicada dos pais é saber
escolher os brinquedos apropriados para
cada etapa da vida dos seus filhos. Não se
Jogos e brinquedos deve cair na tentação de comprar o
brinquedo «revanche»: aquele que os pais
Durante muito tempo, as crianças irão teriam gostado de ter na sua infância e com
precisar de brinquedos que ocupem alguns o qual, de certo modo, ainda sonham.
momentos do dia. O clássico guizo é algo Também existe o brinquedo «remorso»,
que já existia no antigo Egito. A criança que pretende substituir o carinho que os
gosta de brincar, principalmente, porque pais não podem dar por falta de tempo. Em
quer superar dificuldades e aprender coisas troca deste amor, compram inúmeros
novas. Esforça-se por aperfeiçoar os brinquedos coloridos e inúteis, que
movimentos e, ao ver que é capaz de o inundam a criança e lhe produzem uma
fazer, enche-se de alegria e continua até sensação de puro desencanto.
conseguir alcançar um novo objetivo.
Um brinquedo grande e leve, para ela poder
A criança gosta de brincar, arrastar é uma excelente brincadeira e
principalmente, porque quer superar ajudará a criança a caminhar. É a idade em
dificuldades e aprender coisas novas que um caixote grande de madeira, onde a
criança se pode sentar à vontade, com
Uma porta do armário da cozinha pode-se algum balde de areia no seu interior, é algo

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NOTA TÉCNICA A NECESSIDADE DE BRINCAR NA VIDA DA CRIANÇA

maravilhoso, posto que a sua fantasia materiais mal fabricados, com o tipo de
infantil lhe sugere mil coisas que pode fazer tintas utilizadas em alguns brinquedos, com
com aquilo. Alguns baldes de plástico, o tamanho das peças, etc. Ao comprar
madeira, pás, tachos, colheres e carros brinquedos, é fundamental ler as instruções
podem ser um bom complemento. e recomendações do fabricante. Nem todos
os brinquedos são adequados e seguem as
Quando alguém aconselha brinquedos norma CE.
«baratos», parece que se deprecia a
dignidade do «rei da casa». Longe disso, Partilhamos alguns critérios que podem
umas simples caixas de cartão, embalagens ajudar na escolha de um brinquedo:
de iogurte, garrafas de plástico, rolos de
papel higiénico, retalhos de roupas ✓ Que se adapte aos gostos e
coloridas, etc., podem fazer a delícia dos preferências da criança.
miúdos de dois a três anos, uma vez que
têm potencial, com tudo isso, de criar as ✓ Que seja adequado à sua idade e
suas próprias brincadeiras. ao seu nível de maturidade.

Brincadeira é melhor que brinquedos ✓ Que seja sólido, duradouro e


seguro. Deve satisfazer as diretivas
Há muitos brinquedos, milhares, para esta europeias.
idade, contudo: o importante são as
✓ Que estimule a imaginação e a
brincadeiras.
criatividade.
Uma brincadeira desenvolve mais a
✓ Que não fomente atitudes
personalidade do que um brinquedo,
violentas.
por mais engenhoso ou sofisticado que
este seja ✓ Que inclua instruções claras e
simples.
Qualquer jogo requer participação e relação
ativa, é por isso que uma brincadeira ✓ Que fomente a observação, a
desenvolve mais a personalidade do que um imitação e a repetição.
brinquedo, por mais engenhoso ou
sofisticado que este seja.
Com a brincadeira pode-se encorajar e
Nós, pais, devemos estar satisfeitos por provocar a observação, a imitação e a
sabermos dar aos nossos filhos alimento, repetição: três coisas que a criança põe
sono, ordem, higiene e brincadeira em entusiasticamente em prática. A criança
abundância. Desta forma, estamos a nunca se cansa de nos observar e imitar, ao
contribuir para que eles sejam felizes, contrário do que acontece a nós pais se
otimistas, ativos e com grande imaginação. tentarmos segui-la nos seus «trabalhos».

Quando falamos de observação, podemos


Critérios para escolher brinquedos
sugerir uma excelente brincadeira: levar
frequentemente as crianças até ao campo,
A segurança tem de ser a norma suprema para que possam brincar no maravilhoso
quando se escolhem brincadeiras, elemento natural e assim, entre jogos, os
brinquedos e materiais para as crianças pais podem familiarizá-las com as
entre os 0 e os 4 anos. maravilhas da natureza: os pássaros, as
flores, as borboletas, as formigas, etc. A
Temos de ter muito cuidado com os criança não compreenderá muito, mas

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NOTA TÉCNICA A NECESSIDADE DE BRINCAR NA VIDA DA CRIANÇA

tornar-se-á apaixonada pelos nomes das


coisas e saberá como identificá-las e
incorporá-las na sua vida.

A sua imaginação fá-la-á ver as coisas de


forma diferente e de como nós as vemos. «A
educadora não sabe o que é um elefante»,
disse uma menina à mãe depois de
regressar do jardim-de-infância. «Porque
dizes isso?», perguntou a mãe. «Porque eu
desenhei um e a educadora não sabia o que
era»... Tão simples como isso! Temos de
procurar «compreender» as suas coisas,
que na maior parte das vezes acabam por
nos surpreender.

É essencial brincar com os nossos filhos


se quisermos reforçar os nossos laços
emocionais com eles

As crianças deliciam-se em repetir coisas.


Ao repetirem brincadeiras e
comportamentos, veem que estão a ficar
cada vez melhores naquilo que fazem, e isso
atrai-as. Exercitam a observação e a
memória. Além disso, em termos de
desenvolvimento cerebral, a repetição é
uma ação que reforça as ligações neurais.

Se grande parte da vida dos filhos se reporta


à brincadeira, nós pais temos de nos
preocupar com a sua maneira de brincar, na
maneira como se desenvolvem, e com o
modo como eles interiorizam as
aprendizagens assimiladas por essa via. As
possibilidades da brincadeira são imensas e
é preciso aproveitá-las: permite-nos
estabelecer limites, exigir respostas,
encorajar a participação, harmonizar
comportamentos, desenvolver a
imaginação e ter um bom desempenho no
mundo dos afetos. Oferece possibilidades
de iniciativa e encoraja as relações, pelo que
é essencial brincar com os nossos filhos se
quisermos reforçar os nossos laços
emocionais com eles.

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS
Brincar com os filhos

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FOLHA DE TRABALHO PESSOAL

Programa: Sessão:
Esquema do caso:

Ideias retiradas da leitura individual da nota técnica:

Considerações retiradas após ter comentado com o meu marido/mulher:

Principais considerações da reunião de grupo:

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Sessão Geral:
Factos:

Problemas:

Soluções:

Critérios retirados na sessão geral:

Plano de ação – aplicar o aprendido na minha vida de trabalho:

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS

TEMA 6 Pais com autoridade

Caso: A Lista do Tomás

Nota Técnica: Autoridade: Regras e obediência

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CASO A LISTA DO TOMÁS

CASO A LISTA DO TOMÁS

Era a primeira vez que a Rita e o Tiago confiavam o seu filho Tomás, com pouco mais de um ano
e meio, a alguém que não fosse os avós ou a creche.

Os dois estavam tranquilos, afinal a Lúcia era a madrinha do Tomás e a melhor amiga da Rita, e
assim era meio caminho andado para que o pequeno não estranhasse ao ficar com ela.

- Deixo-te uma lista de coisas que te vão ajudar a lidar com o Tomás. Já sabes que, para além de
irrequieto, está numa idade muito difícil. É teimoso como o pai e faz-nos perder a paciência. Para
não o ouvirmos, às vezes cedemos às suas palermices. Mas ainda é tão pequenino... - disse a
Rita.

E acrescentou:

- Tentamos pensar em todas as situações possíveis. Talvez algumas delas te pareçam estranhas,
imagina que ainda nem sequer nos atrevemos a mencioná-las à educadora, mas no caso do
Tomás estão a resultar.

Ao olhar para a lista, a Lúcia exclamou, bastante surpreendida:

- Mas são onze pontos! Isto não é um pouco exagerado para uma criança tão pequena?

E, leu os primeiros pontos da lista do Tomás:

«A chupeta tem de estar sempre à mão, desta forma não vais ter problemas. Dorme uma hora
de sesta e geralmente adormece a ver os desenhos animados do canal Disney Júnior. Põe-se no
berço. Não faz mal se leva coisas à boca, pois está na fase dos dentes, se o impedires, fica
histérico. Dir-te-á o que quer comer à hora do lanche. Se se portar bem, a sobremesa do jantar
pode ser um gelado ou fruta».

- A propósito, Lúcia - acrescentou a Rita - já está assinalado na lista que a hora do banho é vital,
seguindo claro, as orientações anotadas: tiramos-lhe as roupinhas no quarto, pomos-lhe o
roupão do Sponge Bob e damos-lhe banho na nossa casa de banho, que é algo que ele gosta
muito. Às vezes o problema é precisamente tirá-lo da banheira, porque se entretém na água,
inventando histórias com os bonecos.

A Lúcia parou de ler a lista e comentou:

- Bem, vou acabar de ler o resto dos pontos da lista mais tarde. Agora vão descansados para o
casamento, senão ainda chegam atrasados. Eu cá, fico muito feliz com o meu afilhado.

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CASO A LISTA DO TOMÁS

- Atrasadíssimos! Diz isso ao meu querido marido, que só se lembrou de ir agora lavar o carro,
mesmo antes do casamento…

E não terminou a frase: a porta de entrada fechou-se com um golpe seco, acompanhado por um
«Já cá estou!» do Tiago. A Rita aproveitou para dar um toque na maquilhagem e escolher a
carteira mais adequada para o seu conjunto, deixando a Lúcia e o Tiago na sala, enquanto o
Tomás brincava, ali mesmo, com um carro.

- Tenho a certeza de que a Rita já te deu a lista. Não sei o que ela te disse, mas eu recomendo
que, se ele chorar muito, lhe dês bolachas Oreo. Vais ver como isso o acalma. É o meu «segredo
profissional», que uso quando é a minha vez de ficar com ele.

Estas palavras foram acompanhadas por um olhar de cumplicidade entre o Tiago e o Tomás, que
respondeu com um «papá, bom!».

- Mas se vês que as coisas ficam feias, uma palmadita é linguagem que ele entende muito bem...
O pior é a hora de dormir. Aí é que são elas! Não há maneira: não fiz xixi, tenho sede, não tenho
sono, mas a mãe conta-me sempre uma história, é a luz, é a porta. Enfim, conseguir ficar em paz
nesta casa é uma verdadeira epopeia todos os dias. Vamos ver quando será que ele percebe que
tem de descansar e deixar os outros descansarem!

A Lúcia ouviu o Tiago, embora não concordasse muito com os seus comentários. Antes de
saírem, os pais deram um abraço ao Tomás, dizendo-lhe:

- Agora ficas com a madrinha: queres ficar com ela, não queres?, vais portar-te bem?, vais comer
tudo? Olha, se te portares bem, amanhã, vamos ao parque do baloiço gigante e compramos
«doces».

À meia-noite, a Rita e o Tiago chegaram a casa e não acreditavam no que viam. O Tomás dormia
placidamente na cama de casal e o quarto dele estava arrumado. Ficaram a saber que estava a
dormir desde as 8h, quando o habitual era não adormecer antes das 9h30. Ficaram pasmados.

- Como conseguiste? - perguntaram em uníssono.

- Seguindo as minhas regras e esquecendo a vossa lista. O Tomás é uma criança inteligente e
entende mais do que vocês pensam. Eu acho que ele vos põe à prova… têm de aguentar mais e
aplicar sempre os mesmos critérios. Comeu tudo sem problemas, fizemos uma brincadeira na
hora de arrumar o quarto e a hora do banho foi encantadora, divertimo-nos muito. Ah, da
chupeta não se lembrou até à hora de dormir. Não sei do que se queixam com um filho tão bom.
Podem deixá-lo comigo sempre que quiserem.

Quando ficaram sozinhos, a Rita e o Tiago pegaram na famosa lista e começaram a pensar, se
não seria melhor deitá-la fora. A experiência da Lúcia como baby-sitter ajudou-os a repensar e
a conversar sobre a forma como deveriam educar o seu Tomás.

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NOTA

AUTORIDADE: REGRAS E
OBEDIÊNCIA

Para que os seres humanos, desde muito vontade é ainda algo muito incipiente,
pequenos, aprendam a fazer coisas boas e portanto, se queremos que os nossos filhos
valiosas, é necessário que eles as queiram sejam verdadeiramente bem educados, não
fazer. E para isso é conveniente ensinar-lhes bastará usar estímulos, nem vivências, nem
que são capazes de fazer muitas coisas, que uma linguagem rica, nem sequer amá-los
há coisas boas para fazer e que há outras muito. Teremos que concentrar os nossos
que devem ser evitadas. esforços em proporcionar-lhes os meios
para que tenham a vontade educada, essa
O problema é que a vida humana é capacidade humana que rege o
complicada e complexa. Em muitas ocasiões comportamento da pessoa e graças à qual
a nossa natureza, que não é perfeita, mas podemos escolher o bom, ou o mau, nos mil
sim «tendencialmente desordenada», e um acontecimentos de cada dia.
confunde a nossa compreensão e faz com
que nos apresente como bom aquilo que Nos primeiros anos de vida, as crianças
não é. Isto dá-se com mais frequência com recebem e gravam no cérebro, com
as crianças pequenas. uma absorção incrível, todo o tipo de
estímulos positivos, encorajamentos,
Nós, como pais responsáveis, que felicitações e também normas
queremos educar bem os nossos filhos, não elementares de comportamento,
só deveremos evitar que façam coisas más, compreendendo as coisas que é bom
como deveremos conseguir que façam e fazer, e que satisfazem também os pais,
gostem de fazer coisas boas, que saibam e quais as que lhes aborrecem e
apreciar o bem e o que é bom e que, incomodam.
obviamente, tenham a vontade necessária
para o fazer. Desde o início, os filhos observam e
valorizam o que é importante para a mãe e
Educar a Vontade o que é importante para o pai... e o que não
lhes agrada, nem a um nem ao outro! E
Partimos do facto, de que nesta idade, a assim, vai crescendo neles a vontade de

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NOTA TÉCNICA REGRAS E OBEDIÊNCIA

fazer umas coisas e evitar outras, compreenderam. As primeiras regras


reafirmando, pouco a pouco, bons hábitos devem ser centradas na ordem,
de comportamento que mais tarde serão higiene, sono e alimentação.
um pilar para a sua força de vontade.
Estabelecimento de regras de
Portanto, o que precisamos fazer agora é, comportamento
antes de mais nada, estabelecer objetivos
concretos que os ajudem a criar bons As crianças destas idades precisam que lhes
hábitos (que mais tarde se tornarão em comuniquemos as regras com bastante
virtudes); em segundo lugar, transmitir-lhes frequência e de forma simples e clara, com
o conhecimento das regras, motivando-os uma clareza tal que nos façam compreender
positivamente a cumpri-las (o que lhes que entenderam perfeitamente. Elas
permitirá adquirir os limites éticos das suas sentem uma enorme satisfação em seguir
ações), e, em terceiro lugar, ganhar a sua as regras que aprenderam e
confiança para que apreciem e aceitem a compreenderam. As primeiras regras
autoridade e a supervisão que devem ser centradas na ordem, higiene,
necessariamente teremos de exercer sobre sono e alimentação.
eles. Isto irá moldar, de forma natural, o
contexto da sua crescente liberdade. A criança precisa de clareza, constância
e autoridade para aprender bem os
Os exemplos seguintes podem ajudar a objetivos e as regras que propomos.
fortalecer a vontade da criança: Estas devem ser sempre adequadas à
sua idade e transmitidas através do
Dos 12 aos 24 meses: fomentar a exemplo.
constância e a tenacidade à medida que a
criança começa a fazer determinadas • Educamos os nossos filhos a serem
coisas, nomeadamente na sua higiene, nas ordenados através da nossa própria
refeições, nos seus horários e, acima de organização; no cumprimento de um
tudo, através de brincadeiras, aguentando e horário, na forma como guardamos as
permanecendo naquilo que estiver a fazer; coisas, na maneira como recolhemos e
começar a realizar pequenas atividades guardamos os brinquedos e os
sozinha; confiar-lhe pequenos serviços ou ensinamos a fazer.
tarefas que têm a ver com as suas coisas; ser
capaz de parar de fazer algo sem chorar, etc. • No campo da higiene: se ficou decidido
que tem de lavar as mãos quando chega
A partir dos dois anos: nesta idade já devem do jardim, deve sempre exigi-lo, ou se
ter percebido que são capazes de fazer os papéis dos doces e dos caramelos são
muitas coisas sozinhas, devem no entanto para deitar no caixote do lixo, deve
aprender a assumir alguns deveres e a lembrar-lhe sempre, mesmo que seja
aceitar alguns fracassos (um prato partido, muito mais fácil sermos nós a apanhá-
ir ao quarto de banho à noite, aceitar as los.
regras do jogo, assumir os seus horários
sem queixas, obedecer sem desculpas às • Na questão do sono: a hora de ir para a
ordens recebidas, etc.) e, claro, devem ser cama é sagrada, deve adormecer
capazes de conter certos impulsos ou sozinho, com ou sem luz acesa, e
caprichos. deveremos sempre exigir que o faça.

Elas sentem uma enorme satisfação em • Em relação à alimentação, o mesmo: se


seguir as regras que aprenderam e

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NOTA TÉCNICA REGRAS E OBEDIÊNCIA

come bem, de tudo e no tempo amorosa, sobretudo porque lhes dá


estabelecido. segurança e, com ela, sentem-se bem
acompanhados e intuem que é uma
Um padrão educacional valioso deve exigência fruto do amor
servir para toda a vida.
Contudo, mesmo existindo uma boa
Se a criança for bem cuidada e comunicação conjugal é inevitável que um
acompanhada, os pais não devem ter dos pais tenha de tomar decisões acerca de
problemas em estabelecer limites claros, alguma regra, sem consulta prévia do outro.
mesmo antes do primeiro aniversário do Nestes casos, o que se deve fazer, com
bebé. grande habilidade, é não contradizer o
outro cônjuge, para não minar a sua
A partir dos oito meses, e especialmente autoridade. É preciso saber prevenir
durante a fase natural do «não», quando os situações e reações, porque, para se
pedidos de muitas crianças são conseguir uma boa disciplina, tem de se agir
simplesmente testes para saberem até com rapidez.
onde podem ir, os pais devem reagir com
firmeza, desde o primeiro momento, Será também muito importante fazê-las
dando-lhes a conhecer, de forma coerente, entender que nem todas as regras têm o
quais são as regras que devem cumprir e mesmo grau de importância: não é a mesma
quais devem ser os limites das suas ações. coisa fazer chichi e despejar as gavetas do
que insultar ou bater na mãe. Cada falta
As tentativas de fazerem birras ou amuarem deve ter associada um castigo adequado,
passam à medida que vão crescendo, ou desta forma a criança vai construindo o seu
então agravam-se dependendo da forma suporte ético, o que lhe permitirá utilizar a
como reagimos e da maneira, boa ou má, de vontade com conhecimento de causa.
como lhes transmitimos os limites
comportamentais. As crianças que sabem Por último, diremos que a autoridade não é
bem o que se lhes pede são calmas e felizes. incompatível com a alegria. Para exercer a
É essencial que as normas de atuação sejam autoridade não se pode estar aborrecido,
sempre muito claras, depois, é agir com antes pelo contrário, deve-se saber exigir
amor e com firmeza. com constância, procurando sempre pontos
positivos: «Fizeste o puzzle muito bem.
Exercício da autoridade Agora vamos lá ver se o guardamos tão
depressa como ontem!». Devemos evitar
A realidade é que as crianças mal-educadas dar ordens com tom negativo: «Já te disse
incomodam. Por muito pequenas que sejam mil vezes que guardes o puzzle, arruma-o já
ou por muito que as amemos, precisam, e depressa!». Será absolutamente essencial,
para o seu bem, de autoridade, a qual aplicar sanções quando as regras impostas
muitas vezes é incómoda e desconfortável e forem transgredidas, castigar; mas, castigar
exige dos pais grandes doses de fortaleza, sem exageros e desatinos, com firmeza,
dedicação e generosidade. A verdade é que, fazendo ver que o castigo imposto, sempre
em muitos casos, estas crianças não são de acordo com a falta, é uma forma de a
culpadas pelo seu mau comportamento ou fazer reagir quando não tiver sido capaz de
por serem rejeitadas por alguns adultos, a cumprir o que lhe tinha sido proposto.
culpa é principalmente dos seus pais.
A autoridade não é incompatível com a
alegria. Para exercer a autoridade não
O exercício da autoridade custa, mas as
se pode estar aborrecido, antes pelo
crianças agradecem essa exigência
contrário, deve-se saber exigir com

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NOTA TÉCNICA REGRAS E OBEDIÊNCIA

constância, procurando sempre pontos «Confio em que farás isto que te peço o
positivos melhor possível»

Obedientes A riqueza humana no modo de dizer, de


solicitar, de louvar, de pedir por favor e de
A obediência terá de ser a resposta lógica agradecer aumenta a confiança e prepara,
dos nossos filhos ao nosso bom trabalho no de forma solícita e amável, o exercício da
exercício da autoridade. Poderemos dizer autoridade.
que os nossos filhos adquiriram o hábito da
obediência, se quando lhes damos uma Para que as crianças aceitem os valores que
ordem, na maioria dos casos, eles lhes vamos transmitindo, e estes acabem
respondem com prontidão e sem se por ser referências nas decisões que irão
queixarem. necessariamente tomar no exercício da sua
liberdade, deverá existir esse clima de
O período sensitivo para as crianças se confiança. Só os pais que confiam nos seus
habituarem a obedecer com pouco filhos, que confiam na validade das regras
esforço é entre os dois e os sete anos, que impõem e que confiam que a
daí ser essencial aproveitar esta idade autoridade que exercem é uma atitude de
para criar o hábito da obediência. Em serviço, prestígio e amor por eles, saberão
qualquer outro período custar-nos-á o como ganhar essa mesma confiança.
dobro ou o triplo fazer com que os
nossos filhos cumpram diligentemente
as nossas ordens. Por isso, é tão
pertinente que, nestes primeiros anos,
elas consigam alcançar e consolidar a
sua aquisição.

Ganhar a sua confiança

A confiança deve preparar adequadamente


o ambiente educativo e é o meio ideal para
o desenvolvimento da liberdade pessoal,
que já está latente na criança. Criar um
clima de confiança é indispensável em toda
a ação educativa. Apenas num ambiente de
autêntica confiança os pais são capazes de
dar uma formação de virtudes efetiva e de
ensinar formas de comportamento que os
filhos assumirão livremente como próprias.

Uma forma eficaz de crescer em mútua


confiança com os filhos é trabalhar em
equipa. Prontamente aprendem a combinar
a sua própria responsabilidade com uma
tarefa familiar comum. A distribuição
equilibrada das tarefas no lar pode
contribuir, de uma forma prática, para
crescer em confiança:

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Programa de Enriquecimento Familiar
PRIMEIROS PASSOS
Pais com autoridade

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FOLHA DE TRABALHO PESSOAL

Programa: Sessão:
Esquema do caso:

Ideias retiradas da leitura individual da nota técnica:

Considerações retiradas após ter comentado com o meu marido/mulher:

Principais considerações da reunião de grupo:

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Sessão Geral:
Factos:

Problemas:

Soluções:

Critérios retirados na sessão geral:

Plano de ação – aplicar o aprendido na minha vida de trabalho:

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