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MÁ
GÊNERO DISTÓPICO INTERNACIONAL
RIO
10 Submissão, Michel Houellebecq 58 Cândido ou o Otimismo, de Voltaire
11 Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley 59 Um conto de Natal, de Charles Dickens
60 Bartleby, o Escriturário, de Herman Melville
GÊNERO FANTASIA 62 Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
64 O Estrangeiro, de Albert Camus
13 Deuses Americanos, de Neil Gaiman 65 Jane Eyre, de Charlotte Brontë
14 O Livro da Selva, de Rudyard Kypling 67 Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez
15 Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll 69 A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera
16 O Hobbit, de J. R. R. Tolkien 71 Grandes Esperanças, de Charles Dickens
17 As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis 72 O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas
73 O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger
GÊNERO TEATRO 75 O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
76 Lolita, de Vladimir Nabokov
19 O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna 77 O Processo, de Kafka
20 Lisbela e o Prisioneiro, de Osman Lins 78 Crime e Castigo, de Dostoiévski
21 Lisístrata: A Greve dos Sexos, de Aristófanes 80 O Vermelho e o Negro, de Stendhal
22 Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues 81 A Letra Escarlate, de Nathaniel Hawthorne
23 Édipo Rei, de Sófocles 83 Madame Bovary, de Flaubert
24 À Espera de Godot, de Samuel Beckett 85 Anna Kariênina, de Tolstói
26 Hamlet, de William Shakespeare 86 Nosso Homem em Havana, de Graham Greene
28 A Megera Domada, de William Shakespeare 89 Persuasão, de Jane Austen
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01.A Fazenda dos Animais
(ou A Revolução dos
Bichos), de George Orwell
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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02.Fahrenheit 451,
de Ray Bradbury
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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03.O Senhor das Moscas,
de William Golding
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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04.A Máquina do Tempo,
de H. G. Wells
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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05.A Estrada,
de Cormac McCarthy
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Inclusive humana.
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06.1984,
de George Orwell
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
A mais famosa distopia de todos os tempos; o Big É uma sanha total, uma fome demoníaca de
Brother original. controle que nunca se farta e, na verdade,
como um círculo vicioso saído do inferno, fica
Winston Smith vive numa Londres… diferente. Pode com mais fome quanto mais come.
esquecer aquelas roupas vermelhas exuberantes e
aqueles chapéus iguaizinhos ao cabelo da Margie "1984" é o retrato sufocante e horrendo da
dos Simpsons. Pode esquecer as icônicas cabines de União Soviética. Não com descrições abstratas,
telefone ou aqueles táxis charmosos. genéricas, como alguém de fora fazendo uma
reportagem ou exposição científica. Mas como
A Londres de Winston Smith é caída, suja, cinzenta, alguém de dentro. Na pele de Winston Smith,
miserável. Falta comida. Faltam roupas. Falta tinta sentimos o gostinho do horror de uma vida
nas paredes carcomidas. Falta lógica, derrubada pela completamente sem liberdade. Uma vida sem
repetição infinita de slogans do duplipensar e da espaço para novas ideias, relacionamentos ou
novilíngua: qualquer confiança no próximo. Uma vida sob
o medo ininterrupto e onipresente.
"GUERRA É PAZ. LIBERDADE É ESCRAVIDÃO. IGNOR
NCIA É FORÇA." O inferno na terra.
Trama: o livro pode ser lido sem que você saiba Editora Penguin. Tradução de Alexandre
exatamente quais instituições ou práticas do mundo Hubner. 2020
real Orwell está recriando na sua história.
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07.Submissão,
de Michel Houellebecq
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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08 Admirável Mundo Novo,
de Aldous Huxley
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Imagine o nosso mundo, muitos séculos à frente, da pelo Estado perfeito e distribuída gostosa-
com paz e estabilidade perfeitas. Digo, REALMENTE mente à população para acalmar-lhe os
perfeitas. Um mundo em que não há inveja, mesqui- nervos e deixar todo mundo outra vez… feliz.
nharias, ciúmes, crimes, brigas, estranhamentos, Em paz. Com perfeita estabilidade.
ansiedade, abalos, revoluções, tédio, pavor, devoção,
êxtases, repulsa… imaginou? Porque, sim: os dois mundos são o mesmo.
Agora imagine um mundo no qual os bebês não têm E assim caminha o mundo, sob um controle
mais pais e mães. Que, na verdade, não nascem. São apavorante, até que dois sujeitos começam a
criados em laboratório, submetidos a mini-torturas e sentir um comichão de desajuste: Bernard
colocados para alimentar-se de pseudossangue. Um Marx e Helmholtz Watson, dois alphas que já
mundo em que crianças são eletrocutadas para que não se sentem assim tão perfeitamente
"aprendam" o que é *certo* e forçadas a brincadeiras estáveis e felizes…
sexuais entre si.
Se George Orwell acertou em cheio com seu
Crianças às quais dizem que tudo tem de ser satisfei- "1984" em relação ao regime soviético, Aldous
to porque qualquer repressão pode dar abertura às Huxley acertou ainda mais em cheio com seu
emoções. E as emoções são más porque podem "Admirável Mundo Novo" em relação ao regime
trazer instabilidade. Intimidade? Família? Religião? democrático ocidental. Ou seja: em relação ao
Monogamia? Esqueça. Tudo muito instável. nosso mundo.
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Gênero
Fantasia
Aqui não existe muito segredo: tem magia? Seres fantás-
ticos (unicórnio, centauro, fada, bruxa, duende, dragão,
etc.)? Um outro mundo dentro, embaixo ou para além
deste nosso? Então é fantasia.
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09.
Deuses Americanos,
de Neil Gaiman
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Shadow, um bandidinho de quinta categoria, logo Techboy, o deus da tecnologia. Media, a deusa
que sai da prisão é convocado por um certo Sr. da mídia. Mr. World, o deus da globalização. Os
Wednesday para levá-lo de carro por uma viagem Intangíveis, as divindades do livre mercado.
aos Estados Unidos. E até aí tudo estaria muito bem e
muito normal. Os novos deuses, modernosos, são arrogan-
tes. Folgados. Desprezam os deuses antigos e
Se o Sr. Wednesday não fosse Odin. querem exterminá-los. Só que os deuses
antigos não estão a fim de sumir do mapa. O
A ideia de "Deuses Americanos" é simples. Primeiro, único resultado possível?
deuses existem. Assim mesmo, no plural.
Guerra.
Sabe aquela deusaiada das antigas mitologias? Thor,
Odin e Loki, deuses nórdicos? Pois é. Existem. Mas Neil Gaiman mistura fantasia com mitologia
também existem leprechauns (duendes) dos celtas. com crítica social com uma história de viagem
Anubis e Toth, da mitologia egípcia? Vivinhos. O djin, com sei lá mais o quê e sai com, talvez, seu
espírito sutil da mitologia árabe? Ali continua sutil, livro mais aclamado. No mínimo, de tédio você
mas anda entre nós. Vulcano e Hefesto, da mitologia não vai dormir lendo isso aqui.
romana; a Rainha de Sabá; Anansi, um deus africa-
no… o rolê mitológico está completo.
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10.O Livro da Selva,
de Rudyard Kypling
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Está na hora de você conhecer o Mogli original. Não, –, mas vou dizer só uma coisa: o que torna o
ele não foi criado pela Disney. protagonista
Rudyard Kipling, um dos mais populares escritores O livro, admito, aqui e ali exagera na história do
ingleses de todos os tempos, não era bem… inglês. "homem branco e civilizado é mau e a nature-
Na verdade, nasceu na Índia Britânica e ali morou até za é pura". Mas as partes boas superam, e
os seis anos de idade, aliás falando hindi. muito, os exageros moralistas clichês: Kipling
era um maravilhoso contador de histórias.
Mas o que isso tem a ver com o livro? Tudo. "O Livro
da Selva" é, na verdade, uma coletânea de contos Os contos têm aquele ar gostoso de "história
que Kipling foi escrevendo ao longo dos anos em contada ao redor da fogueira." A linguagem é
várias revistas diferentes, todos unidos em torno de fácil, fluida; os personagens são marcantes e o
uma ideia: histórias que acontecem longe da cidade. autor não perde tempo com digressões ou
Nos cantos e recantos inexplorados da terra. Ou, em blá-blá-blás. Um ponto forte são suas descri-
linguagem mais chucra e abrasileirada: "no ** do ções. Kipling é absurdamente VISUAL. Você lê
Judas." e enxerga tudo, como se estivesse ali. Por
outro lado, as histórias nada têm de simplórias.
A inspiração de boa parte das histórias Kipling foi Não são historiazinhas bobocas, clichês.
buscar nos mitos e folclore hindu, na filosofia oriental
e nas memórias dos anos que vivera na Índia. E foi a Bora descobrir a versão original da história que
combinação única de sua posição quase estrangeira, a Disney gravou no seu coração? Versão muito
uma criatividade exuberante e a educação de mais detalhada, complicada e rica?
gentleman inglês que nos deu a lenda do menino
encontrado pelo Pai Lobo e criado entre os bichos da
selva: Mowgli.
EDIÇÃO RECOMENDADA
Vocabulário: muito, muito tranquilo. Kipling é mais
um dos autores que me parecem servir Editora Zahar. Versão de bolso de luxo.
maravilhosamente como transição de livros ruins, Tradução de Alexandre Barbosa de Souza.
pobres, mal escritos, para livros BONS e acessíveis. 2021
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11.Alice no País das
Maravilhas,
de Lewis Carroll
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
No sonho, vê um coelho branco que está fazendo A ideia é pegar a lógica com as calças curtas.
duas coisas especialmente humanas: 1) andando Dar um susto na razão. Chacoalhar o cérebro.
com duas patas; 2) xingando Deus e o mundo por Pegar a inteligência, essa coisa frígida, e
estar atrasado. A guria, curiosa, em vez de entrar em jogá-la numa rave do séc. XX.
pânico, segue o bicho à paisana e o vê entrar numa
toca (ainda xingando). É Lagarta fumando narguilé em cima de um
cogumelo; é Alice fazendo cosplay de Godzilla
E à menina, que talvez nunca houvesse levado um ficando gigantesca ou, inversamente, ficando
sermão dos pais sobre não falar com estranhos, minúscula tomando a pílula de nanicolina do
ocorre a bela ideia de seguir um coelho duplamente Chapolin; é um Gato voador com um sorriso
estranho (que ela não conhece e não age como macabro de Coringa; é um Chapeleiro biruta
outros coelhos) e PULAR DENTRO DE UM BURACO tirando uma com a cara da guria; é bebê que
atrás do bicho. espirra até virar um porquinho e uma Rainha
de Copas com a cabeça de pichorra.
A partir daí, meu povo, é o famoso "festa estranha
cheia de gente esquisita." Importante: não leia o livro tentando caçar
algum *simbolismo* ou mensagem
"Alice no País das Maravilhas" é tipo uma balinha criptografada ou sei lá o quê escondido nas
literária. É um trago livresco. LSD tipográfico. Drogas entrelinhas. Faça como Alice: zero perguntas e
– só que sem o inconveniente de deixar você viciado pura atitude. A toca de coelho está esperando
e transformá-lo num mendigo que vagueia pela vossa senhoria.
cracolândia como um zumbi.
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12.O Hobbit,
de J. R. R. Tolkien
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Harper Collins. Tradução de Reinaldo
José Lopes. 2019.
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13.As Crônicas de
Nárnia,
de C. S. Lewis
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora WMF. Tradução de Paulo Mendes
Campos. 2009.
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TEA-
TRO
Gênero
Teatro
Poderia haver arte mais antiga, mais sólida, mais
entranhada no espírito humano do que a gloriosa arte de
fingir? Eis o teatro. Fingimento transformado em arte.
Claro: o ideal é você sentar o popô numa cadeira e ver
atores e atrizes dando vida às falas, aos trejeitos e
personalidades imaginados pelo dramaturgo. Com as
luzes, o cenário, o vestuário, a música.
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14.O Auto da
Compadecida,
de Ariano Suassuna
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
"Não sei, só sei que foi assim." comovi com o final sendo um evangélico do
reteté.
Se, ao ler a frase aqui em cima, na sua boca não
surgiu um sorrisinho involuntário, faceiro, Qual não foi a surpresa quando o moleque
sambando-lhe no rosto como se convocado à boca ignorante descobriu, anos mais tarde, que o
pela memória de um amigo querido… você está filme viera da peça de um dos nossos maiores
vivendo errado. artistas de todos os tempos?
Ou nunca conheceu a história de Ariano Suassuna. Em "O Auto da Compadecida" Ariano Suassuna
pega três histórias já muito faladas no sertão
Eu nunca me esqueço da experiência absolutamente nordestino – um padre que enterrou uma
FANTÁSTICA que foi, num dia qualquer, sei lá por qual cachorra; um cavalo que descomia dinheiro e
razão, estar mudando os canais da tevê feito um um sujeito que ressuscitou – e as junta todas
zumbi e resolver dar uma chance a um filme na história mais viva e charmosa de toda
aleatório que estava passando na Globo. nossa literatura.
No meio de algum sertão, com uma porção de Histórica que mostra a raça, o fervor e a vida
casinhas miseráveis ao fundo, dois nordestinos exuberante da gente simples do sertão. Peça
batiam boca. E aí veio o impensável, o inesperado: eu de arrancar gargalhadas e lágrimas em igual e
gostei daquele diálogo! MUITO. sobeja medida.
Ri para um cacete. Chicó, um aloprado cuja rapidez
vertiginosa das frases rivalizava com Eminem no
auge cocainômano, defendia-se ressabiado da lábia
molenga e espantosamente sagaz de João Grilo.
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15.Lisbela e o
Prisioneiro,
de Osman Lins
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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16.Lisístrata: A Greve
dos Sexos,
de Aristófanes
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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17.Beijo no Asfalto,
de Nelson Rodrigues
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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18.Édipo Rei,
de Sófocles
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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19.À Espera de Godot,
de Samuel Beckett
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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19.À Espera de Godot,
de Samuel Beckett
EDIÇÃO RECOMENDADA
Esperando Godot. Samuel Beckett. Tradução
de Fábio de Souza Andrade. Editora
Companhia das Letras. 2017.
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20.Hamlet,
de William
Shakespeare
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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20.Hamlet,
de William
Shakespeare
EDIÇÃO RECOMENDADA
Hamlet. William Shakespeare. Tradução de
Lawerence Flores Pereira. Editora
Penguin-Companhia. 2015.
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21.A Megera Domada,
de William
Shakespeare
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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21.A Megera Domada,
de William
Shakespeare
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora L&PM Pocket, tradução de Millôr
Fernandes
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NA
CIO-
NAIS
Nacionais
Já passou pela sua cabeça, pelo menos alguma vez, que
a literatura brasileira é um PORRE. Admita. E nem vou
dizer "olha, que pensamento ignorante, que síndrome de
vira-lata" e blá-blá. Tem muita coisa ruim mesmo por
aqui. Muito livro superestimado, muita lambição em
autores medíocres.
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22.O Alienista,
de Machado de
Assis
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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23.Vidas Secas,
de Graciliano
Ramos
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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24.O Quinze,
de Rachel de
Queiroz
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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25.Memórias de um
Sargento de
Milícias, de Manuel
Antônio de Almeida
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Diga-se de uma vez: livro escrito por um sujeito cujo livro, tampouco aparece a Corte Real. Quem aparece,
apelido era MANECO não pode ser ruim. Simples- então?
mente não pode.
Soldados, barbeiros, ciganos, marujos, boticários,
Sabe aqueles livros que obrigaram você a ler na professores, agiotas, vadios, valentões, burocratas e
escola e eram um PORRE? Então: Manuel Antônio de toda a fina flor do povão: juntos, misturados e
Almeida escreveu o livro antiporre. possivelmente suados.
Maneco foi um carioca e cariocamente escreveu seu O herói do livro é um tal Leonardo, cujo nome só
livro: no meio de batucadas, churrascões (perdoe o vamos descobrir depois de sei lá quantas páginas.
anacronismo) e rodas de viola. Frequentemente no Entre o começo e o final do livro, acontece de tudo: o
trabalho e, às vezes, até mesmo em casa. O sujeito moleque já nasce com satanás no corpo, só faz
foi usando exemplos que surgiam a esmo na sua presepada enquanto cresce, é abandonado pela
cabeça meio distraída e mais de uma vez escreveu, mãe, acolhido por um barbeiro enquanto o pai
no trabalho, com PRESSA – vigiado por um funcioná- recorre à macumba para reaver o amor duma cigana
rio do jornal, que dali a poucos minutos precisaria pôr é roubada dos seus braços na crocodilagem – por
a desgraça do capítulo para rodar. um padre.
O resultado é um livro quase inclassificável. Que não Acha que acabou? Nada! No livro tem muito, muito
se leva muito a sério e nem gasta saliva (ou tinta) mais.
com grandiloquências *literárias*. Um livro que
milagrosamente não é amargo, não é ideológico, não
é panfletário. Que parece ter dado prazer a quem o
escreveu e até hoje dá prazer a quem o lê. Memórias
é o retrato vivo, engraçadíssimo, esculhambado,
colorido e dançante da fauna carioca novecentista
que, aparentemente, não era "digna" das melosas
viajadas na maionese dos românticos.
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26.A Estrela Sobe,
de Marques Rebelo
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Leniza, filha de Dona Manuela e Seu Martin, vai morar cujo olhar a gente vê uma mulher adulta antes de ela
com a mãe num cortiço depois que o pai morre e as própria se dar conta.
deixa no zero a zero, sem prumo na vida e a dois
passos da miséria. A Estrela Sobe é a história de uma onça. A história da
ambição e força de Leniza, uma bonita menina
Menina inteligente, sagaz e muito bonita. Saudável, carioca com sonhos de estrelato no rádio. Também
com as curvas irrompendo fartas e robustas com ela história de como sua ambição podia ser trauma e
já novinha. Desde novinha, Leniza apresentara um sua força era manipulação sexual. História sem preto
gênio esquisito. Segundo uma professora, até no branco. Sem vilões ou mocinhos cristalinos. Sem
inexplicável às vezes. moralismo catequizante ou amoralismo brega.
Talvez, claro, alguma ligação houvesse entre o tal É a vida real. A vida de uma Leniza pronta a tudo para
gênio estranho e inexplicável e o fato de Leniza realizar o sonho de fama. Mulher cruel e amorosa,
presenciar de forma desavergonhada, todo santo dia, interesseira e piedosa, tímida e maliciosa.
antes de chegar à primeira menstruação, todos os
segredos da vida que normalmente se vão nos Também, claro, um livro absurdamente atual.
apresentando aos poucos e de forma homeopática. Especialmente nesta era de influencers, de tiktokers
que num piscar de olhos abrem uma conta no
Leia-se: Leniza via homens pelados. De vez em Onlyfans e largam tudo com o mesmo olhar de onça
quando, às vezes sem querer. Mas era inevitável. da Leniza. A estrela sobe. Mas será que fica no topo?
Imagine o seguinte, leitor: um AirBnb em que
morassem uma mãe, sua filha de treze, catorze anos
de idade e mais dois ou três machos desconhecidos,
saídos da rua.
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27.A Morte e a morte de
Quincas Berro
d'água,
de Jorge Amado
DIFICULTÔMETRO
DESCRIÇÃO
Vocabulário: o vocabulário e estilo de Memórias
Quando Vinícius de Moraes diz que um livro é Póstumas já são um pouco mais avançados e
"obra-prima", não é má ideia prestar-lhe uma <rebuscados> do que os de outros livros e autores que
atençãozinha. pus aqui na lista. Mas não digo "rebuscado" no mau
sentido. No sentido de coisa prolixa,
Aqui se conta a história de um funcionário público desnecessariamente complicada. O estilo de Machado é
que, já tiozão e cansado da vidinha burocrática e RICO. Aqui e ali, é verdade, de vez em quando Machado
pacata de sempre, resolve ligar o f*da-se: vida podia exagerar nas alusões ou esticar demais piadas ou
histórias paralelas. Mas ninguém tinha um estilo tão
boêmia, aí vai ele! Porres intermináveis,
engenhoso e memorável como o dele. Então, leitor, já
desavergonhações de toda espécie e um eterno saiba de uma coisa agora: se você "não gostar" do estilo
carnaval. O velho festeja tão hard que logo se de Machado, a culpa é sua. Leia de novo até entender e
transforma num ser lendário, folclórico: o mítico gostar.
Quincas Berro D'água.
O velho druida que vira um copo inteiro crendo ser Trama: os oito ou nove primeiros capítulos podem
pinga e, horrorizado, grita desesperadamente aos parecer, aos apressados, não ter nada a ver com a
quatro ventos quando percebe que era só água. história. Têm sim. Têm tudo a ver com a construção do
personagem principal. Especialmente o capítulo sete,
No começo do livro, Quincas é encontrado morto por do delírio. A chave de leitura aqui é: tente descobrir o
uma de suas amigas, jogado num quartinho imundo. que cada um daqueles capítulos sugerem sobre a
personalidade e o caráter de Brás Cubas.
Só que antes ele já tinha morrido para a família,
moralmente. Assim que se tornou o velho vadio, sua
família passou a fingir que ele não existia.
EDIÇÃO RECOMENDADA
A Morte e a Morte de Quincas Berro D'água.
Jorge Amado. Companhia das Letras. 2008.
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28.O Cobrador,
de Rubem Fonseca
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Agora, só cobrava.
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29.A Alma da Festa,
de Alexandre Soares
Silva
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
"A alma da festa" é um livro sui generis – e eu só usei origem inexplicada; que era amigo de literalmente
o latim de sacanagem. Por quê? Porque, sim: o livro é metade de todas as pessoas do mundo; e que era,
único. Singular. Diferente dos outros (mesmo). Mas enfim, a reencarnação de um antigo Deus Egípcio do
também é de uma leitura quase inacreditavelmente Charme.
fácil, gostosa, leve e engraçada.
O Barão apura que Orlando renasceu em São Paulo,
Alexandre Soares Silva é um roteirista, escritor, que agora se chama César, e que ele não tem
colunista e tradutor brasileiro. E ainda por cima vivo! memória nenhuma do Barão, nem de quem ele
E ainda por cima paulista (!!!). E ainda por cima do próprio foi ou do que fez. Pior que isso tudo, não tem
que já estava em cima, numa tripla camada de nada do charme de antes. É uma criatura triste,
absurdos: está vivo, é paulista e bom escritor (!!!!!!!!). tímida e desajeitada – como o próprio Barão. Saudo-
Alexandre é fã incondicional de P. G. Wodehouse, so do amigo, o Barão insiste em fazer com que César
segundo alguns sábios o escritor mais engraçado de recupere a memória do charme."
todos os tempos. Eu sou fã do Alexandre.
Sim. É isso mesmo que você leu. O Deus Egípcio do
O Alexandre é um dos poucos sujeitos, no mundo, Charme tinha reencarnado no Brasil, chamava-se
que conseguem fazer eu gargalhar lendo um livro. E Orlando e tinha cativado profundamente o Barão
não estou com hipérboles, tá? É gargalhar mesmo. Juquinha. Agora, renasceu em São Paulo e se chama
Rir alto. LOL, como diriam os americanos. "César".
A trama do livro quaaaase cai no nonsense (vide a O resto, como dizem, é história. Literalmente. Leia o
nota sobre Alice no País das Maravilhas), mas no livro. É hilário.
último segundo retoma o equilíbrio e o livro sai uma
espécie de… comédia afetiva. Eu sei, soa brocha. Mas
a culpa é minha, que já estou cansado e agora não
consigo classificar o inclassificável. Então vamos à
sinopse:
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30.
DIFICULTÔMETRO
A Casa dos Budas
Ditosos,
de João Ubaldo
+18
ATENÇÃO: neste livro há
sacanagem explícita. Não o
Ribeiro recomendo para menores.
DESCRIÇÃO
Sumário relâmpago (e sem graça): uma velha dos, em mulher e padre e bicho – é cousa muito mais
sessentona, à beira da morte por um aneurisma saudável e digo mais: divina.
comendo-lhe o cérebro, resolve ligar o f*da-se e
contar o que resultou do inextinguível fogo na sua A Casa dos Budas Ditosos não é um soft-porn
xereca – toda sorte de putarias, bacanais, lambições comercial e domesticado.
e metelanças possíveis e imagináveis.
A sacanagem é consequência de uma personagem
Existem duas formas de ler o livro. Primeiro, existe a central. Ou seja: existe putaria porque existe alguma
leitura juvenil. personalidade. A mulher tem uma filosofia de vida e
uma voz para defendê-la com sinceridade.
A leitura deslumbrada de quem arreganha o c*
contra o capital. É quem lê o livro como um manifes- Aí podemos aprender alguma coisa.
to, jurando que sua cabeça oca penetrou a realidade
última das coisas com cada estocada, lambida, "Como seria a vida de uma mulher rica que só
cheirada e dedada da protagonista infinitamente vivesse para transar?"
rampeira. Como quem topasse com uma revelação
de última magnitude filosófica: o mundo só é triste Muito bem escrito, hilário, absurdo e realista em igual
porque as pessoas não enrabam a mãe na pia! medida. *EXPLÍCITO* e vazio.
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31.Milagre em Paraisópolis,
de Fábio Gonçalves
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Josenildo é o pastor (ou, para ficar mais claro, paxtô) família o conforto que ele sempre sonhou. Silvana, a
duma igrejinha lá em Paraisópolis. Sujeito renhido, irmã sem graça que se apaga e quase some perante
cabra macho, com a testa curtida pelo sol nordestino a exuberância da irmã mais nova. Saulo, o menino
e o lombo adensado pelas chicotadas da vida. caçula, misterioso, orgulhoso, com aspirações
Josenildo viera do Nordeste, fazia vinte anos, em intelectuais que os outros não entendem e forçado à
busca de uma existência menos miserável em São vida de todos pelo pai.
Paulo.
Já abrimos o livro com um Josenildo trêmulo,
Trouxera consigo Lindalva, prenha, e desde aquela desesperado, que desmaia logo após uma pregação
época lhe fizera mais dois filhos. Trabalharam feito histérica no púlpito de sua igrejinha. Aos poucos,
duas mulas, deram aos filhos o que podiam e não tramoias cabeludas vão se desenrolando. Josenildo
podiam. Josenildo, coitado, criado na filosofia estóica tem segredos. Lindalva tem segredos. Glauber tem lá
da roça, sem reclamar ou afrouxar, obrigado a ser a suas esquisitices. Vídeos começam a circular.
firme coluna da família, foi procurar um terapeuta… Histórias bisonhas. Desconfianças absurdas. Corrup-
ção, mentiras, vingança.
A pinga.
A chapa começa a esquentar, as motivações come-
E tudo ia mal, desencaminhando-se, até que, labaxu- çam a se cruzar e enroscar e os personagens vão
rias! Josenildo converteu-se. Virou o famoso BÍBLIA. derrubando a máscara uns dos outros e deixando a
Sujeito que faria sapatinhos de reteté numa usina em própria cair e, quando você menos espera, o livro
Chernobyl usando terno e nunca, nunquinha, desar- estoura num clímax COMPLETAMENTE INESPERADO
vora a Bíblia do sovaco ensopado de suor. e tão absurdo quanto realista – porque o Brasil é um
absurdo inesperado que se repete todos os dias, com
Josenildo, antes já chucro e de espírito militar, obstinação sádica.
transforma o evangelho num porrete e sai vociferan-
do versículos de perdição a todos, com a fúria de O retrato complexo e fiel de um povo tão rico, forte,
Moisés do agreste. Homem bom, difícil, limitado, com frágil e incompreendido: os evangélicos pentecos-
uma fé torta, porém real. Com amor pela família tais. Livraço.
misturado a um orgulho de roça. Um antigo zé-nin-
guém transformado em líder espiritual de uns
irmãozinhos e irmãzinhas na favela.
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32.Dom Casmurro,
de Machado de Assis
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Bento Santiago, filho único (e mimado) de uma mulher escolhe um moleque pobre qualquer e
endinheirada viúva, desde pivetinho brinca todo o manda para o seminário em lugar de
santo dia com a moçoila da casa vizinha: Capitu. Bentinho.
Certo dia, quando tem lá seus doze anos de idade, Livres, enfim, dali a alguns anos Bento
Bento se embioca atrás de uma porta quando escuta Santiago e Capitolina se casam. Escobar, por
seu nome e espia com as orelhas uma conversa sua vez, vira o feliz maridão de uma antiga
sobre ele e Capitu. José Dias, o agregado, estava colega de Capitu, Sancha. Os casais viram
dizendo a Dona Glória que já era tempo de enviar o unha e carne.
moleque para o seminário. Tinham de apressar a
batina. Escobar e Sancha têm uma menina e lhe dão
o nome de… Capitolina.
Por que batina? Porque Dona Glória, que, antes de
Bento, já tinha perdido um filho no ventre, resolvera Quando Bento e Capitu têm o seu moleque,
fazer uma promessa a Deus: se o próximo filho naturalmente retribuem a gentileza e o
viesse com um pacotinho entre as pernas, a mulher batizam… Ezequiel.
faria dele um padre.
Até que Bento começa a enxergar no guri a
E por que tinham de apressar a batina? cara todinha do Escobar. Olhar, jeitão de andar,
gestos… tudo, tudo no menino parecia
Ah, essa é outra história. Porque Bento vinha se desenhar um par de belos chifres atolados
engraçando com uma certa moçoila da casa fundamente no crânio de um certo Bento
vizinha… Santiago…
Bento, àquelas tantas um moleque desmiolado, fica E assim chegamos ao Hamlet à moda
brabinho com José Dias e vai contar tudo para Capitu brasileira: ser ou não ser chifrudo, eis a
— o famoso levar a farinha para quem já fez o bolo, questão…
comeu tudo e lavou a louça. No meio do caminho,
sua memória juvenil começa a evocar imagens de Dom Casmurro é, seguramente, o maior livro
Capitu e a inteligência, à luz da revelação de José que Machado de Assis já escreveu. Uma obra
Dias, liga os pontos: CACETADA, A MULHER GOSTA que não perde em NADA para os maiores
MESMO DE MIM. clássicos europeus, russos e americanos. Que
tantos e grandes brasileiros tenham querido
Assim pensou Bento, de si para si. Compenetrada, bater o martelo em favor de Capitu ou Bento,
com o olhar vivo, a menina sagaz escuta e pesa com só prova o quanto é perfeita a ambiguidade
cuidado cada palavra que lhe sai da boca. machadiana e como a sombra do seu sorriso
sarcástico nunca haverá de deixar o Brasil – e
A partir daí, bolam mil e um planos para ele escapar o mundo.
do seminário. Todos falham. Desolado e vencido pela
mãe, o rapazola vê-se obrigado a ir para o seminário
de qualquer jeito — mas não antes de tascar um beijo
em Capitu e prometer-lhe que se casaria com ela.
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32.Dom Casmurro,
de Machado de Assis
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Panda Books. 2019.
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33.Incidente em Antares,
de Érico Veríssimo
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Sejamos sinceros: a literatura brasileira às vezes soa Com o tanto de merda que encontram nas
amarga demais. Com o devido respeito aos mestres, distintas vidas privadas. Com as circunstâncias
e fazendo justiça às mil e uma amarguras que já duvidosas, esdrúxulas, sacanas, que cercavam
brotaram e continuam brotando neste solo, de vez suas mortes. E começa a subir um cheiro de
em quando não seria mal… rir um pouco. Ainda que carniça insuportável. Alguns dizem que veio de
seja rir das nossas desgraças. Ou, pelo menos, cadáveres apodrecidos sentados numa sala de
escolher alguma luzinha mais colorida para jogar- estar.
mos sobre as tais *mazelas da sociedade*.
Outros dizem que, talvez, tenha vindo da
Aqui faz falta um gótico, um fantástico, um sobrena- podridão moral dos vivos…
tural que seja levado a sério – literariamente falando.
Até porque, bicho, existe país mais absurdo que o
Brasil? Existe história mais fantástica, trajetória mais
esculhambada, fauna social mais unicórnica do que Vocabulário: Érico Veríssimo é um escritor muito
a tupiniquim? gostoso de ler. Não é prolixo, nem verborrágico. Não se
perde com retórica. Descreve tudo de forma econômica.
Pois muito bem. Érico Veríssimo pegou a mão da Mas, aqui e ali, usa alguns regionalismos que podem
sátira fantástica, juntou-a com uma das mãos dum causar um tropeçozinho mínimo. No mais, não creio
espírito meio gótico e pôs os dois para montar que o livro apresente dificuldade real a qualquer leitor
um pouquinho mais acostumado com a leitura.
coladinhos no alado pangaré do bom humor.
A história é mais ou menos a seguinte: Quitéria Trama: pode-se entender e acompanhar a história
sem que sejam necessárias fontes externas de estudo.
Campolargo, respeitável e falecida matrona, arregala
os olhos numa sexta-feira 13 do ano de 1963. Sim.
Falecida. Quitéria acorda na sua tumba, espavorida, e
logo descobre que lhe fizeram o desfavor de não
enterrá-la dentro do cemitério da cidade de Antares.
Ela e outros seis mortos-vivos jaziam ali, insepultos,
do lado de fora do cemitério.
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34.Angústia,
de Graciliano Ramos
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Só que Luís não contava com uma coisa. Ou melhor: Trama: a história não é contada linearmente. Além
não contava com alguém. de ter flashbacks, o livro é quase um looping. O final do
livro é o começo da história. É preciso ficar atento aos
pulos temporais e vaivéns da obra.
Surge em cena um certo Julião Tavares. Que não era
só um funcionário público. Era rico. Rico, poderoso e
petulante como convinha a alguém tão endinheirado.
Num piscar de olhos, Marina faz um recálculo, larga
Luís e se joga nos braços de Julião.
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35.O triste fim de Policarpo
Quaresma,
de Lima Barreto
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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36.Menino de Engenho,
de José Lins do Rego
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
EDIÇÃO RECOMENDADA
Trama: A história é cronológica e contada em 40 Menino de Engenho. José Lins do Rego.
capítulos curtinhos. Ou seja: nenhuma dificuldade. Editora Global. 2020.
Mesmo. A cada novo capítulo curtinho, a história
avança dois passos à frente.
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37.Relíquia,
de Eça de Queiroz
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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38.O Encontro Marcado,
de Fernando Sabino
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Eduardo Marciano em tudo é como nós: um sujeito Acima de tudo, porém, o livro é sobre o sentido
comum que só quer se encontrar. Talvez o que ele da existência. Porque é muito fácil a gente se
tenha e nos falte é querer de verdade. atolar de obrigações e fingir que está tudo bem.
Empurrar com a barriga o vazio, as perguntas
"O Encontro Marcado" é dividido em duas partes. "A incômodas. A história de Eduardo é a história
Procura" e "O Encontro". Nas duas, Fernando Sabino que pode ser a de todos nós – se, como ele,
conta justamente a história de Eduardo desde a também procurarmos a sério.
infância até a vida adulta. É um percurso pela vida do
protagonista. Uma excursão poética pela sua biogra-
fia. O resumo de uma existência.
Vocabulário: A linguagem do livro é leve e muito
Birrento, cabeça-dura e mimado, o guri nasceu e tranquila. Realmente não existem palavras difíceis ou
cresceu em Minas Gerais, fazendo dos pais gato e desconhecidas. Fernando Sabino é um escritor sóbrio,
sapato com suas manipulações de criança moderna. elegante e acessível.
O livro começa na casa de Eduardo. Numa espécie de Trama: o livro é estruturado em duas partes (“A
procura” e “O encontro”), divididas em três subpartes
lista afetiva das coisas que lhe tinham marcado a
(Em “A procura”: “O ponto de partida”, “A geração
consciência: um pé de manga, um barquinho de espontânea”, “O escolhido”; em “O encontro”:
papel na poça d'água barrenta no quintal. A trilha das “Movimentos simulados”, “O afogado”, “A viagem”). O
formigas. narrador oscila entre a terceira e a primeira pessoas.
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39.Memórias Póstumas de
Brás Cubas,
de Machado de Assis
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Machado de Assis nunca tivera uma saúde lá muito Na teoria, sinceridade brutal. Sem verniz ou
boa. Franzino, de constituição naturalmente frágil, meias palavras. Brás Cubas não precisa mentir
Machado de vez em quando sofria ataques para os outros, já que está morto. Porém, ainda
selvagens de epilepsia e por conta deles nunca existe uma pessoa a quem pode mentir. Ele
conseguia ter uma saúde robusta. Só que em 1897 mesmo.
algo pior aconteceu.
"Memórias Póstumas de Brás Cubas" é de um
Depois de uma crise nervosa especialmente aguda, estilo marcante, absolutamente genial. Aqui
Machado ficou cego. você vai encontrar, leitor, páginas que fariam
inveja aos maiores escritores de todos os
Não estou falando metaforicamente cego. Não estou tempos. Páginas que se elevam às alturas de
dizendo que "Machado perdeu o dom do olhar um Shakespeare, de um Cervantes.
poético" ou sei lá o quê. A coisa é literal: Machado de
Assis não conseguia ver porcaria nenhuma. E isto sem falar na crueza, no cinismo, no vazio
quase niilista que antecipa tanto do que viria na
A metáfora entra agora: sem conseguir enxergar o arte moderna. É um livro à frente do seu tempo,
mundo exterior, Machado se viu obrigado a olhar o uma joia de estilo e glória eterna das nossas
mundo interior. Arregalou os olhos da inteligência o letras.
quanto pôde e vasculhou com uma crueza, uma
clareza inéditas tanto sua alma quanto as almas
alheias.
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39.Memórias Póstumas de
Brás Cubas,
de Machado de Assis
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Panda Books. 2018
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IN
TER
Inter-
nacionais
NA-
Isso aqui ixquéci, né? Tamo falando da elite. Da alta-roda.
Da nata.
CIO-
Você vai encontrar de tudo um pouco: loucura, chicota-
das no lombo e uivos selvagens? Temos. Histórias que se
arrastam como um pesadelo? Check. Russos com aque-
las análises psicológicas medonhas de tão exatas? Of
course. Histórias comoventes? Já prepare os lenços, faz
favor.
NAIS
cara e beijos apaixonados?
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40.A Metamorfose,
de Franz Kafka
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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41.O Velho e o Mar,
de Ernest Hemingway
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
É que fazia oitenta e quatro dias que o velho não Será que o velho conseguirá vencer o espadarte
conseguia pegar um mísero peixe. gigante? "O velho e o mar" é uma história de
coragem, resiliência, amor entre amigos muito
A sorte, os anos, o corpo e até os outros pescadores diferentes e a complicada – e violenta, e linda, e
da vila pareciam acumular-se, juntar-se numa poética – relação entre o homem e a natureza.
conspiração para destruí-lo. Sua carcaça era quase
um talismã de azar. O sujeito já não sabia pescar. Seu
corpo arruinado não lhe servia de mais nada. O velho,
experiente, fora reduzido a um mendigo inútil; um
saco inútil de carnes frágeis e pele solta que só
atrapalhava os mais novos e fortes. Talvez o melhor
fosse morrer de uma vez. Afinal de contas, ninguém
sentiria sua falta.
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42.O Morro dos Ventos
Uivantes,
de Emily Brontë
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
"O Morro dos Ventos Uivantes" não é uma historinha Trama: um detalhe merece atenção especial. Emily
de amor convencional. Esqueça os filmes de Brontë usa, aqui, aliás de forma pioneira, a mesma
Hollywood. Aqui o bagulho é mais embaixo. técnica que George Martin usa em Guerra dos Tronos:
múltiplos narradores. Ou seja, são várias pessoas
Por cima, a trama é a seguinte: certo dia, o pai de diferentes contando a história, todas em tempos
diferentes. Então é bom você ficar esperto e manter
Catherine chega de uma viagem com um moleque.
sempre uma saudável pulga atrás da orelha. Não dá
Do nada. Sem explicações ou justificativas. Um para confiar completamente em tudo o que lhe dizem.
moleque que parece ser cigano, com o cabelo
esgrouviado e as roupas esfarrapadas. Mórbido e
violento, parecia um bicho. Seu nome: Heathcliff.
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43.Primeiro Amor,
de Ivan Turguêniev
DESCRIÇÃO
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44.A morte de Ivan Ilitch,
de Lev Tolstói
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Ivan Ilitch é um alto oficial da Corte de Justiça da Vocabulário: a linguagem é muitíssimo simples.
Tolstói talvez seja o autor mais capaz de combinar
Rússia – um figurão. O funcionário público que deu
simplicidade com profundidade. Um mestre. O mestre.
(muito) certo na vida. Agradável, inteligente, O único porém que pode atrapalhar um pouco sua
profundamente responsável e eficiente, Ivan não é o leitura são alguns nomes e apelidos russos (sempre é
estereótipo do "pai de família que esconde um meio bagunçado ler os russos).
segredo terrível" ou tem fetiches sexuais bizarros por
trás de sua máscara de respeitabilidade.
Trama: a história já começa com o enterro de Ivan
(sim, ele morre). Sua vida, portanto, é contada como se
Não. Tolstói não cai nessas críticas hollywoodianas fosse num flashback. Zero dificuldades em relação à
trama.
bobas, simplistas.
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45.O Jogador,
de Dostoiévski
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Ironia das ironias: Dostoiévski andava (para não Até descobrirmos o seguinte: Alexei estava
variar) sem dinheiro. Mais liso que bagre ensaboado. loucamente apaixonado pela enteada general. A
O motivo? Jogo. O velho russo tinha alma de bicheiro mulher, porém, gosta de brincar com os corações
e amaaaava uma jogatina. Na real, era um viciado. alheios, fazendo um eterno e infernal joguinho de
vaivém: ora despreza Alexei, fria como gelo; ora se
Que faz, então, o gênio Dostoiévski? Desce o derrete todinha e soa meiga, melíflua, quase
machado no meio do crânio de uma velha usurária e apaixonada.
lhe rouba o dinheiro? Comete 171 na vendinha da
esquina? Escreve uma fanfic hot de alguma história Um dia, a mulher se achega de Alexei e lhe conta um
do Gógol? Ou desce ao fundo do poço e vira um segredo, no pezinho do ouvido: ela estava
influenciador de Instagram, como este que vos endividada. Agora cabia a Alexei, claro, arranjar-lhe o
escreve? máximo de dinheiro possível. Ele que se virasse nos
trinta.
Nada disso.
Eis, então, o príncipe enfiado numa sinuca de bico: o
Dostoiévski, sem dinheiro porque era um viciado em amor pela mulher queria jogá-lo de volta no amor
jogo, resolve escrever às pressas um livro sobre… pelo jogo – e ambos pareciam querer desgraçá-lo de
um sujeito viciado em jogo. vez.
O Jogador é um livro sobre vícios. Dependência, Dostoiévski foi, talvez, o mais agudo e
adição, compulsão… you name it. O que o vício pode impressionante conhecedor da alma humana a
fazer ao ser humano? Mesmo aos melhores, mais escrever literatura. E "O Jogador" não fica atrás de
inteligentes e generosos entre nós? Quais são as suas obras-primas.
justificativas, as meias-verdades e as mentiras que o
viciado conta para si e alardeia aos outros? Como
funciona a longa espiral de desgraças em que se
afunda um viciado em jogo, sim. Mas também um
alcoólatra, um cocainômano, um viciado em putaria
hardcore?
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46.Cândido ou o Otimismo,
de Voltaire
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Voltaire era um belo dum sacana. Escritor e jornalis- jardim), SÓ SE LASCA. Sofre um naufrágio, escapa do
ta, na época da escola Voltaire devia ter sido um naufrágio para cair no meio de um terremoto, foge do
daqueles moleques populares, ovacionados pela terremoto e cai no colo da Inquisição, levando
geral. Porque fosse bombadão, com os bíceps gostosas chibatadas no lombo. Depois, parte rumo a
rasgando-lhe a camisola afrescalhada? Porque fosse Buenos Aires logo depois de esfaquear um judeu e
um baita centroavante (perdoe o anacronismo)? um inquisidor, escapole de Buenos Aires para o
Talvez um galã – precoce ou tardio? Paraguai e dali precisa fugir outra vez…
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47.Um conto de Natal,
de Charles Dickens
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Pense em todos os velhos rabugentos que você já vez, a atmosfera gótica do terror (algumas
conheceu na sua vida. De ambos os sexos e descrições de fantasmas botam muito mais medo
quaisquer orientações políticas ou ideológicas do que senti em livros como "Drácula" ou
imagináveis. De (quase) todas as idades. "Frankenstein"), o humor escrachado com o
azedume do velho e o quentinho no coração com a
Mas pense com cuidado, pô. Invoque os resmungos, família e destino do pequeno Tim.
grunhidos com azedume entre dentes amarelados.
Lembre-se dos olhares, os olhares! Ora arregalados, Noutras palavras, é livreto para dar medo, causar
injetados, saltando de um lado da órbita ao outro gargalhadas e fazer chorar. Um dos maiores
com uma raiva explosiva; ora semicerrados com o clássicos de todos os tempos, escritos pelo sujeito
cálculo malicioso de uma víbora acuada. que foi talvez o maior contador de causos de todos
os tempos.
E o cheiro? Todo velho ranzinza, rabugento, tem o
mesmo cheiro azedo. Aquele cheiro acre que entra Preciso dizer mais?
picante pelas narinas; que faz até os pelinhos d'alma
ficarem ouriçados.
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48.Bartleby, o Escriturário,
de Herman Melville
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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48.Bartleby, o Escriturário,
de Herman Melville
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora José Olympio. Tradução de A. B.
Pinheiro de Lemos. 2017
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49.Orgulho e Preconceito,
de Jane Austen
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Com certeza absoluta, um dos livros mais amados verbais. Até aqui, Lizzie se parece com as insuportá-
de todos os tempos. Fácil, fácil, chega ao top 10 de veis protagonistas de filmes e séries modernos.
livros mais relidos, treslidos e guardados a sete Errou.
chaves dentro do mais íntimo coração pulsante de
leitores jovens e velhos ao redor do mundão inteiro – Porque Lizzie não é amarga. Sua inteligência e
e, talvez, até noutros planetas. sarcasmo eram usados para duas coisas: 1) defender
o que era bom e 2) afastar homens que não fossem
Talvez, também, o livro mais copiado de todos os dignos dela.
tempos. O livro que deu origem a todas as comédias
românticas de Hollywood e até hoje é (porcamente) É aí que entra o Sr. Darcy: um aristocrata podre de
imitado por fenômenos de venda como a Julia Quinn rico que tem de dinheiro o mesmo que tem de
e sua série (horrivelmente horrível) "Bridgerton". O orgulhoso, acanhado, arrogante, nobre e virjão. Tudo
livro atualizado para o século XXI por "Bridget Jones". ao mesmo tempo e misturado. Exteriormente, só um
babacão que não gosta de pobres. Interiormente,
O livro no qual estão dois dos personagens mais ainda um babacão que não gosta de pobres – e
adoráveis e marcantes de todos os tempos, dos muito, muito mais.
quais nos despedimos no final da obra como se
estivéssemos abraçando algum amigo de infância: Por ser inteligente, Lizzie tem lá seus preconceitos
Elizabeth Bennett e sr. Darcy. com a gentalha da aristocracia e jura que já entendeu
Darcy todinho. Darcy, por sua vez, um legítimo
A sinopse de gente burra é esta: "um monte de gente sangue-azul, tem lá seu orgulho de classe e jura que
rica visitando a casa uns dos outros". Lizzie nunca poderia causar nada ao seu frio coração.
De fato: em Orgulho e Preconceito você não vai O orgulho de um vai se chocar com o preconceito da
encontrar aqueles barracos de comédias românti- outra e, entre as MELHORES TIRADAS ROMÂNTICAS
cas. Não vai ter mulher de vestido levando voadora DE TODOS OS TEMPOS, você vai se afeiçoar terrivel-
de um cachorro e caindo num lago. A Lizzie não vai mente aos personagens e torcer pelos dois como se
ficar com diarréia no meio de um jantar. O sr. Darcy estivesse shipando como casal os dois melhores
não vai sair no soco com algum desafeto e levar um amigos de toda sua vida – tudo enquanto aprende,
chute no saco da cunhada. num curso intensivo de psicologia, como ser alguém
menos sem-vergonha e os milagres que um pouco
Orgulho e Preconceito é sobre… orgulho. E preconcei- de humildade são capazes de realizar.
to. Duas pessoas diferentes que aprendem a se amar
APESAR das diferenças, e POR MEIO das diferenças
aprendem a enxergar seus próprios erros, com
humildade e vontade de fazer aquilo dar certo.
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49.Orgulho e Preconceito,
de Jane Austen
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora José Olympio. Tradução de Lúcio
Cardoso. 2019
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50.O Estrangeiro,
de Albert Camus
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Meursault é um sujeito para o qual a vida não faz tentação moderna. É a confusão, a letargia moder-
sentido. Tanto não lhe faz sentido que Meursault nas. Mas também é o que pode ser a sinceridade
parece descolado de si mesmo. Alheio, com supre- moderna.
ma indiferença a tudo, o anti-herói começa o livro
narrando com ar de quem caga e anda a morte da Afinal de contas: será que a vida faz sentido?
própria mãe.
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51.Jane Eyre,
de Charlotte Brontë
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Charlotte Brontë foi a irmã mais velha de Emily que, aliás, só para avisar, Jane tinha um tio que a
Brontë – a escritora que também está nesta lista vinha procurando fazia anos para deixar-lhe sua
com seu "O Morro dos Ventos Uivantes". fortuna – e só não o tinha feito porque Reed, a
tia-capeta, tinha lhe contado uma mentirinha de
E vou lhe dizer, viu: Jane Eyre não perde em nada nada sobre Jane estar morta.
para o livro da irmã. O mesmo redemoinho, a mesma
intensidade desvairada, a mesma paixão consumi- Só que a maluquice ainda nem começou. Porque
dora, a mesma atmosfera gótica e trevosa, a mesma Jane, volto a dizer, apaixona-se. Por um certo sr.
PROTAGONISTA PORRADEIRA… está tudo aqui Rochester. E, depois de alguns vaivéns, consegue
também. Só que, talvez, ainda melhor. levá-lo para o altar e os dois são felizes para todo o
sempr… epa, espera. Alguém se levanta no meio da
Jane Eyre começa com uma Jane pequerrucha, igreja e grita ROCHESTER JÁ É CASADO!
ainda com dez anos de idade. Órfã, a menina mora
com uma tia que a inferniza e primos que haviam E pior que era mesmo. Com uma louca. Que ele
puxado a mãe – if you know what I mean. A tia lhe dá mantinha presa no sótão de casa. O resto, você que
o tratamento que daria a um cachorro com lepra descubra (vale a pena).
enquanto exige que a menina seja doce, alegre e –
acima de tudo – respeitadora dos mais velhos. "Jane Eyre" caiu feito uma BOMBA na época. Àquela
altura, quase todos os livros escritos por mulheres
Seu primo mais velho, na época contando quatorze eram umas coisas abestalhadas, sentimentalóides,
anos, logo na segunda página lhe dá um tapão e com exageros românticos bregas e ilusórios. Água
depois joga um pesado livro na cara da menina, que com açúcar. Acima de tudo: domesticados. Seguros.
rasga a cabeça numa batida contra a quina da porta. Nicholas Sparks antes de haver Nicholas Sparks.
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51.Jane Eyre,
de Charlotte Brontë
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Zahar. Tradução de Adriana Lisboa.
2018
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52.Cem Anos de Solidão,
de Gabriel García Márquez
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Prepare-se para uma das histórias mais psicodéli- Ao ver o gelo, o patriarca Buendía fica maravilhado e
cas, doidas, mágicas, sem noção, poéticas e encan- se lembra de um sonho que tivera sobre Macondo:
tadoras de sua vida. era uma cidade de espelhos. Depois, uma mulher
local fica apaixonada pelo seu filho ao ver o tamanho
Cem Anos de Solidão é uma viagem. Não no sentido mastodôntico que ele tinha entre as pernas, seduz o
dicionarizado, de "vou viajar para a Praia Grande no guri e fica prenha. O guri jirombudo, por sua vez,
fds". Mais no sentido dos xófens: "bicho, que viagem." apaixona-se por uma cigana e foge com ela. A mãe
fica doida de tristeza pelo filho e foge junto, largado
Resumão resumidíssimo, absolutamente incomple- uma outra filha para trás, Amaranta.
to e francamente broxante: Cem Anos de Solidão é a
história da cidade ficcional de Macondo e das sete E… pronto. Eu resumi os dois primeiros capítulos.
gerações da família que a construiu, os Buendía.
Cem Anos de Solidão é o exemplo máximo do
Bléh. Deu sono só de escrever isso. Vamos tentar de "realismo mágico": um subgênero de literatura em
novo. que coisas fantásticas acontecem no meio da vida
ordinária como se fossem coisas perfeitamente
Cem Anos de Solidão é uma espécie de alegoria ou comuns. E é com esse tom normal, nada espantado,
símbolo de toda a história da humanidade. Macondo, que o narrador do livro conta as tragédias, os
uma cidade ficcional enfiada no meio da selva e amores, as obsessões e valentias e fraquezas e
isolada do resto do mundo. Seu fundador, José safadezas e genialidades das sete gerações míticas
Arcadio Buendía, resolvera fundá-la após ter fugido de Macondo – e como, cada um à sua maneira, todos
de casa com a mulher grávida. Por quê? acabam na solidão.
Porque sua mulher calhava de ser… sua prima. E A brevidade da vida, a inevitabilidade do destino, a
durante muito tempo Úrsula Iguarán tinha negado repetição macabra dos erros ancestrais, os pecados
fogo ao maridão patriarcal. Tanto tempo, a bem dizer, da civilização, as fraquezas da carne frágil, as conse-
que um dia alguém resolve tirar sarro de José numa quências da violência… está tudo ali. Cem anos nos
rinha de galos. Era um meia-bomba. Um frouxo. A quais o autor enfiou milênios, milhões de anos. Sete
barraca não subia. gerações que simbolizam as infinitas gerações que
já existiram ou vão existir. Uma obra única.
Ah, meu filho, José Arcadio Buendía lá era homem de
levar desaforo pra casa? Passa o facão no sujeito, Como o mundo é único.
volta pro lar e passa na esposa… uma outra coisa.
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52.Cem Anos de Solidão,
de Gabriel García Márquez
EDIÇÃO RECOMENDADA
Só temos uma tradução. Editora Record..
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53.A Insustentável Leveza
do Ser,
de Milan Kundera
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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53.A Insustentável Leveza
do Ser,
de Milan Kundera
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Companhia das Letras. Tradução de
Tereza Bulhões. 2008
COMPRE AQUI!
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54.Grandes Esperanças,
de Charles Dickens
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Pip, um órfãozinho que vive com o tio Joe e sua irmã imaginar: drama, suspense, cenas góticas,
megera, certa noite está sentado diante do túmulo personagens exuberantes e inesquecíveis;
dos pais, sozinho, quando emerge das trevas um descrições absolutamente maravilhosas; diálogos de
condenado fugido da prisão, agarra-lhe o pescocinho fazer gargalhar ou revirar o estômago ou fechar a
frágil e ameaça esganá-lo se o guri não lhe trouxer garganta com choro; crime e redenção; malignidade,
uma lima e algum punhado de comida. mesquinharias, amizade e sacrifício.
Pip, coitado, entre um cagaço horrível de ser morto e Acima de tudo, tem Pip. Um protagonista tão
alguma misericórdia empática pelo condenado – os humano, tão gente como a gente, tão cheio de
párias, afinal, se reconhecem –, volta correndo até virtudes e mesquinharias misturadas numa salada
sua casa e rouba comida das panelas da tia. Volta ao psicológica, que será quase inevitável você não
condenado e lhe entrega a comida e a lima, só que a transformá-lo logo num amigo.
polícia surge e consegue prendê-lo outra vez.
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55.O conde de Monte Cristo,
de Alexandre Dumas
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Edmond Dantès é um marujo que parece ter a vida cultíssimo, poliglota e dono de uma resiliência
perfeita, bicho. Sujeito humilde, perfeitamente estóica. Ambos ficam amigos, o padre toma Edmond
satisfeito com a existência à beira-mar que estava como afilhado e lhe ensina tudo o que sabe –
prestes a receber um upgrade: Edmond iria virar o inclusive a localização de um tesouro escondido, que
capitão de um navio! ambos iriam resgatar assim que escapassem juntos
da prisão.
E tudo ao lado dum verdadeiro avião: Mercédès
Herrera. O dócil mulherão local e sua noiva. Edmond Porque eles têm um plano… e Edmond quer
é trabalhador, querido por todos. vingança.
Ou quase todos. O sucesso deixa rastros – mas "O Conde de Monte Cristo" é um épico aventuroso de
também ressentimentos. quase mil e quinhentas páginas que você consegue
ler inteirinho como se fossem duzentas. É uma
Danglars, um dos tripulantes do navio, inveja-lhe o narrativa cheia de traições, fugas cinematográficas,
sucesso profissional. Fernand Mondego está perigos de gelar a espinha, tesouros
apaixonado por Mercédès e inveja-lhe a noiva. Seu resplandecentes, complôs de tudo quanto é lado,
vizinho Caderousse inveja-lhe a vida inteira de uma duelos até a morte, reviravoltas sensacionais e um
vez: por que Edmond era tão sortudo e ele tão dos mais elaborados planos de vingança de todos os
azarado? tempos.
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56.O Apanhador no Campo
de Centeio,
de J. D. Salinger
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Vou ser sincero com você. Eu MORRIA DE MEDO de adiando o fatídico encontro parental até que outra
"O Apanhador no Campo de Centeio". pessoa lhes contasse sobre a expulsão.
Tá, exagerei um pouco. "Morrer de medo" foi um O livro – ou melhor, Holden – conta a história de suas
exagero retórico. Voltemos atrás: eu tinha lá um pé andanças novaiorquinhas. Raivoso, cheio das gírias e
atrás com esse livro. Jurava que nele havia algum idealista, o adolescente vai topando com gente
segredo esotérico da mística de Belzebu. Alguma esquisita, fazendo a irmã de terapeuta, encontrando
chave cabalística; alguma mensagem subliminar ex-namoradas, aqui e ali criando alguma relação
escrita nas entrelinhas pelo dedo longo e enrugado comovente e de vez em quando, já que ninguém é de
de um demônio. Alguma força. Uma presença. Uma ferro, saindo na mão com alguém. Holden, enfim,
intenção maligna. transforma três dias de vadiagem numa jornada de
autodescoberta lotada de raivinha juvenil, filosofadas
É que eu tinha ficado sabendo, quando mais novo, vertidas em gíria, insegurança, bravatas e humor –
que o matador de John Lennon – o sujeito que surgiu se voluntário ou involuntário, QUEM LIGA, HEIN?
absolutamente do nada e meteu bala no astro – (liguei o modo Holden)
carregava consigo esse livro. Minha imaginação
juvenil, tanto fértil quanto covarde, logo imaginou "O Apanhador no Campo de Centeio" é um clássico
que o livro contava alguma história sinistra de um por capturar o arisco, contraditório e idealista (para
espírito trevoso ceifando centeio com aqueles facões não dizer idiota) espírito dos xófens. Impossível não
da Morte. sentir pelo menos uma pontinha de simpatia pelo
nosso Holden e nos perguntarmos, como ele: "pra
E eu… estava hilariamente errado. que car4lh* serve a vida?"
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57.O Retrato de Dorian Gray,
de Oscar Wilde
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
E se você pudesse jogar num quadro todas as tirem o cavalinho da chuva. O que Dorian faz nunca é
merdas que fizer na vida? dito às claras. Drogas? Sacanagens sexuais de toda
sorte? Vilanias? Terrores ocultos? Candidatar-se a
Dorian Gray é um rapazola rico, ingênuo e virjão da um cargo político? Não sabemos.
alta sociedade inglesa. Belo, recatado e do lar. Um
cordeirinho vitoriano; de inexperiência bucólica e O que acompanhamos é sua progressiva degrada-
quase angelical. Uma alma pura. Com o rostinho livre ção e como a vida desenfreada do hedonista que só
das rugas e marcas da preocupação ou safadeza. pensa em prazer só pode levar a um fim que… bem,
aí você vai ter de ler o livro.
Até encontrar Lorde Henry Wotton. O mais perfeito e Um comentário: existem duas versões de O Retrato
eloquente cínico de sua época. de Dorian Gray. A primeira, original. E a segunda,
censurada. Na primeira versão, havia uma sugestão
Henry fica embasbacado com aquele espécime de homossexual óbvia demais entre Dorian, Basil e
macho, enfia várias e sofisticadas abobrinhas na Henry. Nada de explícito, sim? Só que naquela época
cabeça do coitado e logo faz o jovem ficar depressivo. ser gay era, literalmente, um crime.
Dorian era um pitel? Sim. Era um Adônis, um magní-
fico Apolo? Certeza. Era uma mistura de Henry Cavill Os editores disseram a Wilde que não daria para
com Brad Pitt? Era! lançar aquilo. O autor pegou o livro de volta, suavizou
as partes mais abertamente gays (Basil, por exem-
Mas um dia aquela beleza toda iria pro saco. E na plo, transforma sua adoração por Dorian em algo
época nem botox havia, bicho. mais "platônico") e acrescentou vários capítulos a
mais. A versão que 99,9% das pessoas conhecem é
Ora, aconteceu que havia mais um sujeito naquela a censurada.
história: Basil, o pintor que tinha apresentado Dorian
ao Lorde e tinha acabado de finalizar seu mais Aqui no Brasil, só a Biblioteca Azul lançou a versão
perfeito retrato. Uma pintura que havia capturado a original.
beleza estonteante do rapaz.
Dá certo.
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57.O Retrato de Dorian Gray,
de Oscar Wilde
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Penguin. Tradução de Paulo Schiller.
2012
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58.Lolita,
de Vladimir Nabokov
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Sabe aquelas conversas desconfortáveis? Uns comprar remédios para fazer mãe e filha dormirem e
papos estranhos, que deixam todo mundo na conseguir molestar a menina.
rodinha sem jeito e jogam no ar um incômodo, um
negócio desagradável que beira o insultuoso? E o auge da desgraça é que Lolita gosta do sujeito. E
Humbert, de forma profundamente doentia, também
Pois bem. Seja bem-vindo a Lolita. O livro que *gosta* dela.
Vladimir Nabokov chegou a jogar numa fogueira (e
só não queimou de uma vez porque foi salvo pela O livro é um relato honesto, cru, desagradável,
sua esposa). escroto, eloquente sempre e às vezes até lírico de
um tarado altamente inteligente, poderosamente
Humbert Humbert é um professor universitário de argumentativo e seu <<<caso de amor>>> com uma
literatura. Trintão, culto e eloquente que só o diabo, criança.
Humbert fica absolutamente apaixonado por… uma
menina de doze anos de idade. Por que ler o livro? Porque ele vai mexer com você.
Pura e simplesmente.
Sim. Doze anos. Apaixonado. Mais de trinta anos. É
isso aí mesmo que você leu, e ainda vai ler muito
mais. Vocabulário: o narrador é um sujeito
excepcionalmente inteligente e talentoso.
O objeto impúbere de sua devoção escrota se Literariamente talentoso. Daí que o livro tenha um estilo
forte, poético, com vocabulário que fica ali no nível
chama Dolores Haze. Ou, como Humbert Humbert
mediano.
gosta de chamá-la: Lolita.
Sua história – o livro – é contada por um editor Trama: o livro se passa nos Estados Unidos
relativamente modernos. A sequência é cronológica e
fictício, que nos diz ter recebido o manuscrito do
não é preciso ter nenhum conhecimento especial para
advogado de Humbert e conta que o sujeito tinha acompanhar a história.
morrido na prisão, antes de seu julgamento sair.
Lolita, por sua vez, também estava morta. Tinha
perdido a vida ao dar à luz.
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59.O Processo,
de Kafka
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Antes de tudo, saiba: ler Kafka é como entrar num absurda quanto a burocracia que julgou K. E quanto
pesadelo. Se você quiser explicações, relações de aos julgamentos comunistas? Aquelas farsas
causa e efeito perfeitamente razoáveis e grotescas da justiça? E quanto às desgraças da
mastigadinhas, bom senso e lógica, porquês política de hoje? Será que os escândalos, a putaria e
cristalinos… não leia Kafka. sem vergonhice, a inacreditável cara de pau e a
quase onipotência do Estado são assim tão
Só que não ler Kafka é uma burrice. Então aquiete o diferentes do pesadelo de Kafka? Será que nós
facho, abra sua cabeça e leia a sinopse – depois, estamos mais seguros do que K.?
leia "O Processo".
Ou será que algum ministro, algum presidente,
Joseph K. acorda, num dia como qualquer outro, e algum político não pode fazer o que lhe der na telha e
topa com um sujeito que nunca tinha visto na vida. com alguma firula jurídica um belo dia enviar dois
Um fulano esguio, forte, todo vestido de preto e oficiais anônimos à sua casa, dizendo-lhe, sem
exalando um ar oficial, que imediatamente começa qualquer explicação, "você está preso"?
a lhe dar ordens e o leva a um segundo sujeito,
com pinta igualmente burocrática, que num tom de Vocabulário: é maravilhoso ler Kafka. Sério. Repito e
aviso simplesmente lhe diz, sem explicação reforço o que disse em relação à Metamorfose: a
nenhuma e DO NADA: "você está preso". linguagem é simples e absolutamente precisa. Kafka é
econômico, imersivo e exato. Zero rebarbas ou
Joseph K., coitado, obviamente começa a lhes fazer prolixidade. Frases curtas.
perguntas. Preso por quê? Do que o estavam
acusando? O que ele tinha feito? Trama: aqui, Kafka escreve de uma forma mais seca,
"sem graça". Sua ideia é espelhar o mundo sufocante e
Cada pergunta (justíssima, digassi di passagi) é ou burocrático do livro. Como diria o Chapolin: seus
ignorada, ou respondida com um "não sei" ou movimentos são friamente calculados. Daí que eu
ensaboada e invertida, e K. vai sendo empurrado a tenha colocado esse nível de dificuldade. Leitores
menos acostumados com histórias mais "soltas", mais
situações cada vez piores e mais violentas por uma
abertas à interpretação individual e mais exigentes
força burocrática tão onipotente quanto fria e quanto à concentração, talvez sintam um pouquinho
anônima. É o mundo fechado e claustrofóbico de de dificuldade. Mas é coisa pouca, facilmente
um pesadelo. Aquela estranha mistura de reversível.
verossimilhança com absurdo; de detalhes reais
com um todo irreal – mas que sugere algo a partes
profundas e (quase sempre) inatingíveis da alma.
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60.Crime e Castigo,
de Dostoiévski
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Raskolnikóv é um estudante lascado, absolutamente bem na testa da velha e rouba seu dinheiro. Não sem
liso e já devendo até as cuecas quando se trata do antes, de forma imprevisível e quase no susto, ver-se
seu aluguel na pensão caindo aos pedaços de uma obrigado a matar também… a meia-irmã dela.
velha agiota. Oscilando febrilmente entre o mais
abjeto autodesprezo e a mais megalômana Que não era uma agiota, nem tinha entrado nos seus
autoexaltação, Raskonikóv começa a pensar num… cálculos racionais.
projetinho.
"Crime e Castigo" vai se desenrolando, então, como a
Uma ideia brota-lhe no espírito confuso, sufocado história mórbida de um Raskolnikóv que tanto quer
pelos intermináveis diálogos internos daquela ser pego como não quer confessar o que fez. É um
cabeça perturbada. livro cheio de cortes e frases entrecortadas, de
bate-bocas intelectuais, mergulhado numa
E se ele matasse aquela velha? atmosfera neurastênica, que atiça os nervos do leitor
e de alguma forma parece entrar-lhe por debaixo da
Afinal de contas, o que ela fazia era errado. Ganhar pele. Revirar-lhe o estômago. É um desconforto que
dinheiro à custa da miséria alheia, enfiando juros em surge no centro do seu ser. Como se Dostoiévski
quem já não podia pagar o valor original… aquilo não chacoalhasse algo que você nem sabia que estava aí
era uma imoralidade, uma safadeza? Pior que era. A dentro.
velha realmente ferrava os outros.
É um livro sobre orgulho. Sobre culpa. Sobre o
E ele, Raskolnikóv, com tão brilhante intelecto ímpeto revolucionário aplicado à vida cotidiana.
(dizia-se), deveria estar sendo sujeito àquele Sobre as últimas consequências de ideias com as
papelão? Aquilo fazia sentido? Era justo? Com medo quais brincamos ou até repetimos. Sobre perdão e
de uma velha? Humilhando-se diante de uma imoral, baixeza moral. Sobre as consequências da pobreza.
uma usurária? Mais: sua querida irmã e sua mãe O alcoolismo. O efeito sufocante das condições
estavam quase passando fome, e tinham depositado miseráveis.
sobre os ombros dele toda a esperança. Sua irmã,
que o amava terrivelmente, estava prestes a se casar É análise psicológica e romance policial. É filosofia
obrigada só para não mendigar ou se prostituir. encarnada. Teologia aplicada. É castigo que pode
levar à luz. Perder a vida para encontrá-la. É febril,
E o nosso garotão? Não poderia fazer nada. Era certo poderoso, inesquecível.
que não pudesse fazer nada? Seria tão errado assim
matar uma velha, que daqui a pouco já iria morrer e É Dostoiévski. Preciso dizer mais alguma coisa?
explorava os outros, para garantir a vida de pessoas
muito melhores do que ela?
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60.Crime e Castigo,
de Dostoiévski
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Todavia. Tradução de Rubens
Figueiredo. 2019
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61.O Vermelho e o Negro,
de Stendhal
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
E herói de Julien.
L I S TA D E F I N I T I VA D O S 7 7 M A I O R E S L I V R O S D A H U M A N I D A D E PA R A L E R S E M M E D O 80
62.A Letra Escarlate,
de Nathaniel Hawthorne
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Nathaniel Hawthorne foi um escritor americano ameaça de alguma força demoníaca. O que havia de
AMBICIOSO, bicho. Nascido em Salém e pior nos puritanos é trazido à tona com tintas negras:
descendente direto dos juízes das bruxas de Salém, sua rigidez inflexível e cruel, um certo sadismo mal
Nathaniel herdou uma raiva anti-puritana que escondido nas chicotadas e humilhações públicas. A
carregou vida afora e despejou, de mãos abertas e completa falta de compaixão. A solenidade
sem dó, na sua ficção. carrancuda e sinistra…
O ano é algum do século XVII. Estamos em Boston, Mas Hawthorne é mais do que um escritor de terror,
nos Estados Unidos. Hester Prynne é uma mulher… e o livro não é uma novela mexicana. Por baixo da
lascada. É que, vivendo numa comunidade puritana, situação complicada, do emaranhado de motivações
ela acabou de ser condenada por adultério. E o pior é contrárias e mentiras, Hawthorne faz com que nos
que não tinha sido injustamente. Digo: ela realmente perguntemos qual é a relação entre a justiça e o
tinha pulado a cerca. pecado. Que nos perguntemos o que é o pecado,
afinal de contas. Que raios é a misericórdia. Como se
A injustiça vinha depois, no duplamente pior: Hester, apresenta o perdão. Se existe redenção. Se somos
descoberta e julgada pela comunidade, é forçada a livres ou pré-determinados. "Um conto de fraqueza e
usar a "letra escarlate" do título – um "A" enorme dor humanas", segundo o autor.
costurado-lhe nas roupas, para que seu pecado a
seguisse por onde ela fosse e ninguém deixasse de Um gótico psicológico de alto nível e, talvez, o
saber a quem poderiam apontar os dedos e chamar primeiro grande romance da literatura americana, "A
de PECADORA. Algo bem no espírito cristão, mesmo, Letra Escarlate" é um clássico indispensável.
de humildade e perdão. Só que não.
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62.A Letra Escarlate,
de Nathaniel Hawthorne
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Penguin. Tradução de Christian
Schwartz. 2011
COMPRE AQUI!
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63.Madame Bovary,
de Flaubert
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Um clássico entre os clássicos. Cornice à francesa. consequências dos seus atos pelo outro. O marido,
Croissant de safadeza. A versão gaulesa de Anna um banana, não percebe o que toda a vizinhança já
Kariênina – ou seria Anna Kariênina a versão gaulesa tinha percebido. Emma é enganada pelo seu amante
de Madame Bovary? Fica aí a cuestão. e cai em dívidas. Quanto mais ela se chacoalha e
debate para fugir do que fez, mais o círculo se fecha e
A única cuestão absolutamente certa é esta: as desgraças vão se amontoando, inevitáveis.
Flaubert, com seu livro sobre a esposa frustrada e Terríveis.
entediada dum médico, fincou seu guarda-sol com
firmeza inabalável ao lado dos maiores gênios da Todas causadas por ela mesma.
literatura of all times. Encontrou seu lugarzinho ao
sol ali no panteão onde estão Tolstói, Shakespeare, "Madame Bovary" é um clássico incontornável pela
Dostoiésvki, Proust… força do estilo de Flaubert. Pela sua agudeza
psicológica. Pela crua clareza com que mostra as
"Madame Bovary" conta a história de Emma Bovary. motivações imbecis de Emma – e nos lembra, por
Educada num convento e criada no interior, a moça tabela, de que nós temos motivações igualmente
passava o dia inteiro lendo bestsellers românticos e imbecis. Pela presença quase real dos personagens.
viajando na maionese sobre o tal do AMOR. Achava Pelo seu tema, cada dia mais válido. Afinal de contas,
que amor eram palpitações febris, ataques epiléticos se Emma foi influenciada por livros exagerados, o
no meio da rua, calcinhas úmidas e peitos piscando à que dizer de nossa época?
simples lembrança do contorno da nuca peluda do
amado. Resumindo: era uma caipirona ingênua. Da Netflix? Das vidas falsificadas e empacotadas de
influenciadores? Dos bestsellers? De 50 Tons de
Simplória, imaginativa, até danadjenha, Emma acaba Cinza e Bridgerton? Emma somos nós. Emma sou
se casando com seu médico. Charles. Um homem… eu. Emma é você.
bom. Só que medíocre e francamente sem graça. Aí
já viu. Rapidinho, a mulher percebe que a vida real
não era como os livros. E tudo ainda piora depois de
nascer sua primeira filha. Cai num tédio mortal. A
rotina, a segurança, a estabilidade duma vida
*comum* começam a envenená-la e sua
imaginação fértil começa a rodar alguns filminhos
naquela cabeça…
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63.Madame Bovary,
de Flaubert
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Penguin. Ótima tradução de Mário
Laranjeira. 2011
COMPRE AQUI!
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64.Anna Kariênina,
de Tolstói
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
"Todas as famílias felizes se parecem, toda família libertinagens suadas sob uma orquestra de
infeliz é infeliz à sua maneira." gemidões do zap…
É ASSIM que se começa um livro, diacho! O que torna E olha que só falamos da Ana!
Tolstói tão inacreditável, tão inigualável, é que o resto
do livro faça justiça à sua primeira frase – e se torne Porque, leitor, o título é um pouco enganoso. O
um dos maiores romances já escritos pela calhamaço de mais de 800 páginas originalmente
humanidade. teria sido chamado de "duas famílias" ou algo assim.
Tolstói só resolveu trocá-lo (especula-se) por
Ana é uma mulher deslumbrante. Linda, exuberante, sugestão do editor. Seria mais fashion. Jogada de
um pitél. Mistura de Gisele Bündchen com Grazi marqueteiro. Funcionou.
Massafera. De parar o trânsito. Só que Ana, como se
não bastasse, é também charmosa. E tem um quê de Mas o que nos interessa é que o livro fala, na
misteriosa. Ou seja: de uma só vez apela ao tesão, verdade, sobre DOIS relacionamentos. O de Ana com
aos sentimentos e à curiosidade dos homens. Quase o esposo banana e o amante tesudo e o de Kitty
uma deusa da sedução. Scherbatsky com o intelectualizado e espiritualizado
Levin.
Só que Ana não é feliz. A mulher com aquele vigor,
aquele corpaço violinil, aquele rostinho de anjo… Tolstói cutuca o vespeiro da religião, gira a faca na
tinha se casado com um nerdola mais velho. Um ferida da família e dá uns pescotapas selvagens nas
sujeito meio palermão, absolutamente sem graça, classes sociais para nos contar a história trágica
com o corpo de tiozão amoldado às poltronas de (mas com várias partes engraçadas) de uma
couro e uma cara de bolacha. Caminhãozinho aristocrata que, ao resolver pular a cerca,
pequeno demais pra toda aquela areia da Ana. experimenta o agridoce de um amor tão apaixonado
quanto sofrido. Nas palavras de Tolstói: "feito de
A mulher não o ama. Tudo lhe parece enfadonho, sombra e de luz".
sem brilho. A vida é monótona. Uma onça algemada
a um jabuti. Um avião sem poder voar.
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64.Anna Kariênina,
de Tolstói
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Companhia das Letras. Tradução de
Rubens Figueiredo. 2017
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65.Nosso Homem em
Havana,
de Graham Greene
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Eu li esse livro quase sem querer, por acaso, depois serviço para complementar a renda. Mais ou menos
de encontrá-lo perdido numa pilha de livros que uma como algumas mães começam a vender Avon.
tia dera à minha mãe quando eu era mais novo (e os
quais ela própria nunca tinha lido). Só tinha um pequeno problema: Jim não tinha nada
a reportar. Não sabia de informação secreta
Numa daquelas edições antigas da editora Abril, com nenhuma. Desesperado, louco para não perder o
a capa vinho, o livro não tinha absolutamente nada bico de James Bond, nosso herói faz algo
sobre a história. Sem sinopse. Sem introdução. Sem absolutamente maravilhoso: começa a… inventar.
orelhas que falassem qualquer coisa quer sobre o
autor, quer sobre a trama. Fui às cegas, coisas que Lê os jornais, inspira-se nas notícias e começa a tirar
nunca fazia. E pior: fui às cegas e não larguei o livro, o da cabeça toda uma intrincada rede de agentes.
que era ainda mais raro. Quanto mais ele mente, mais o governo lhe manda
dinheiro para suas *operações* e mais informações
E não me arrependi. exigem, e mais ele as inventa. Jim vai engambelando
o serviço de inteligência britânica e chega, inclusive,
"Nosso Homem em Havana" é um livro realmente a copiar a planta dum manual de aspirador de pó em
delicioso. É engraçado, solar. Tudo nele exala escala gigantesca para vender-lhes a ideia de que os
bom-humor e esperança. Acima de tudo: leveza. cubanos estavam construindo uma arma secreta.
Coisa infelizmente difícil de encontrar entre livros
bons. Só que aí, meu filho, algo duplamente bizarro
começa a acontecer: os relatórios falsos começam a
A história é a seguinte: Jim Wormold é um inglês que resultar em pistas verdadeiras. Parece que, às cegas,
vive em Cuba. Um sujeito inconspícuo, normalzão, numa brincadeira sem noção, Jim tinha acertado
até medíocre, que virou pai solteiro depois de a bem na veia de uma intriga de espionagem real…
mulher dar um pé na sua bunda e fugir com outro
para Miami. Jim trabalha vendendo aspiradores de
pó e mal anda conseguindo pagar as contas para
sustentar a filha Milly – que acabou de fazer
dezessete anos e virou um mulherão de parar o
trânsito.
Ou seja: está tudo uma merda. Até que num belo dia
surge à porta de Jim um tal de Hawthorne. Um
agente secreto do MI6. Tinha um servicinho para
nosso herói. Ser um espião da coroa inglesa em
terras cubanas.
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65.Nosso Homem em
Havana,
de Graham Greene
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Biblioteca Azul. Tradução de Fábio
Bonillo. 2017
COMPRE AQUI!
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66.Persuasão,
de Jane Austen
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Persuasão é, talvez, o livro mais maduro de Jane que largado a vida de mão. Dali para frente, era só
Austen. No mínimo, com certeza foi um livro escrito para trás.
por uma Jane Austen madura. É o último livro que
recebemos completo antes de sua doença "Persuasão" é um livro absolutamente sutil. Quase
arrancá-la de nós ainda desgraçadamente nova, com não temos aqueles maravilhosos diálogos de Jane
míseros 41 anos de idade. Austen. A ênfase recai inteira sobre o MUNDO
INTERIOR de Anne. Jane pega o seu microscópio e
Se, porém, alguns leitores mais hardocore podem dá um zoom máximo na psicologia da personagem
bater o pé (com justiça) contra o adjetivo "maduro", o principal.
que nenhum leitor de Jane Austen pode negar é que Porque o livro é, no final das contas, a história de
Persuasão é um livro… diferente. como Anne Elliott vai progressivamente tornando-se
a protagonista do seu próprio livro. No começo, ela
Aqui não existe aquela exuberante alegria de Orgulho não move a trama. É carregada por histórias alheias,
e Preconceito, e nem a protagonista expansiva de como uma figurante.
Emma. Faltam-lhe aquele sarcasmo, aquela ironia
quase impossivelmente sutil e risonha de outros "Persuasão" é diferente porque Jane Austen quis
livros. espelhar, com a forma de contar a história, o lento
desabrochar da protagonista desde um inverno frio
"Persuasão" é um livro melancólico. Sobre ele paira para uma primavera cheia de esperança.
uma atmosfera recolhida, taciturna. O livro às vezes
parece sufocar o leitor – porque sua protagonista É a história quase imperceptível, microscópica, dos
também está sufocada. movimentos de uma alma doce e reclusa. O mundo
interior de uma daquelas pessoas tão meigas, tão
Anne Elliott é uma mulher inteligentíssima e doce. passivas, tão apagadas, que a gente se esquece de
Todos confiam nela porque Anne mais de uma vez já que são pessoas e têm sentimentos.
se mostrou capaz de entendê-las melhor do que elas
próprias. A história dos tímidos. Daqueles que ficam nos
cantos. Qual será o destino da voz frágil e meiga de
Só que Anne é uma lascada. Já tinha vinte e sete Anne? Será que Wentworth ainda tem alguma
anos e ainda continuava solteira numa época em que afeição por ela debaixo da raiva que se vê na
isso quase equivalia à morte em vida. Por quê? superfície? Será que ela tem a força suficiente para
Porque, mais nova, *persuadida* pela sua única não ceder? Para deixar de ser passiva e enfrentar os
amiga no mundo e amiga da falecida mãe, Anne outros?
tinha recusado a proposta de casamento de um
certo Wentworth. Na época, Wentworth era um
marujo afoito e não tinha coisa nenhuma. Agora,
porém, oito anos depois… Wentworth tinha virado
capitão e estava podre de rico. E continuava solteiro.
E iria voltar à terrinha em busca de uma esposa. E
odiava Anne.
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66.Persuasão,
de Jane Austen
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora José Olympio. Tradução de Mariana
Menezes Neumann. 2021
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A-
VEN
TURA
Aventura
Antes de haver Indiana Jones ou Lara Croft, havia "As
Minas do Rei Salomão". Antes de haver Lost e O Náufrago,
havia "Robinson Crusoé." Antes de haver Os Goonies e
Stranger Things, havia "As Aventuras de Tom Sawyer".
Antes de haver Jurassic Park, havia "O Mundo Perdido".
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67.As Minas do Rei Salomão,
Henry Rider Haggard
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Seria imprudente, imbecil e sobretudo injusto não Vocabulário: tranquilíssimo. Não vejo nenhuma
começar as indicações de aventura com o CRIADOR dificuldade que possa surgir quer com o vocabulário,
daquele gênero de histórias que todo mundo ama: quer com o estilo do autor. Um dos melhores livros
possíveis quando o assunto é ser BOM e SIMPLES.
histórias de façanhas e jornadas extravagantes à
caça de artefatos de macumba ou tecnologia
alienígena enfiados em civilizações perdidas nalgum
longínquo deserto, selva amazônica ou fundo do Trama: tão fácil quanto o vocabulário e estilo.
mar…
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Via Leitura. Tradução de Luciana
Pudenzi. 2017.
Editora Todavia. Tradução de Samir Machado
de Machado. 2021
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68.Robinson Crusoé,
de Daniel Defoe
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Se Swift é o godfather da sátira, Daniel Defoe carrega de pensar em transformá-lo num fricassê
um título ainda mais façanhudo. O bichão é ninguém humano, o bichão precisa ligar o modo Macgy-
mais, ninguém menos que o pai do romance inglês – ver e usar as coisas que lhe tinham sobrado –
o pai da literatura mais rica de todos os tempos um canivete, um cachimbo e otras cositas más,
(desculpa aí, França e Rússia). pero no mucho – para sobreviver. E sem perder
a dignidade ou compostura de englishman,
Na televisão e cinema, Lost e O Náufrago foram diacho!
obviamente inspirados por Robinson Crusoé.
Brabo demais, incansável, eficiente, industrioso
O livro, aliás, foi inspirado em fatos reais. Os fatos da e bom cristão, Robinson é o original faz-tudo
vida real do marujo escocês Alexander Selkirk, um daqueles vídeos do YouTube em que um sujeito
sujeito tão rebelde e do contra que resolveu naufra- constrói no meio da selva uma casa com vinte e
gar-se de livre e espontânea vontade, SOZINHO, nove quartos: vira padeiro, soldado, marujo,
numa ilhota ali pelos arredores do Chile no século fazendeiro, you name it.
XVIII.
Até, claro, chegar o fim quase inevitável de sua
Não é tão difícil explicar por que Robinson Crusoé aventura… ou será?
virou um hit tão estrondoso e longevo. A prosa é fácil,
mas não simplória. É uma escrita sóbria, prática.
Quase rústica (para os padrões ingleses, veja lá).
Defoe não era um diferentão que só queria ser lido
pela elite. Queria todo mundo lendo o que escrevia. E Vocabulário: reforçando o que já disse na sinopse,
a linguagem era só metade dos artifícios que usava Daniel Defoe escrevia com linguagem simples e
para capturar os leitores. acessível de caso pensado. No fundo, era menos um
escritor artístico e mais um homem prático, inteligente
e muitíssimo bem vivido. A fórmula de alguém
A história era a outra.
INTERESSANTE.
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Zahar. Tradução de José Roberto
O’Shea. 2021
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69.As Aventuras de Tom
Sawyer,
de Mark Twain
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
EDIÇÃO RECOMENDADA
Editora Autêntica: texto integral. Tradução de
Márcia Soares. 2017.
Editora Via Leitura: texto integral. Tradução de
Paulo Camacho. 2016
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70.O Mundo Perdido,
de Arthur Conan Doyle
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Edward Malone é um repórter xófen e afoito que, Vocabulário: muito bem escrito, o livro tem um
louquinho para impressionar Gladys, a mulher pela estilo claro e elegante. O vocabulário é variado na
qual é apaixonado e que gosta de homens façanhu- medida certa. Acessível a leitores iniciantes,
dos, implora ao seu editor que lhe dê alguma tarefa tranquilamente.
PERIGOSA. Alguma coisa que lhe dê cicatrizes e seja
uma daquelas histórias para as quais todo mundo
paga pau numa rodinha. Trama: simples e tranquila. Desenrola-se como
vários curtos episódios em ordem cronológica.
A tarefa: conseguir uma entrevista com o famoso
Professor Challenger, que faz jus ao nome sugestivo
e odeia a mídia com todas as suas (enormes) forças
e mais de uma vez foi às vias de fato com jornalistas
(espancou os coitados). Malone solta um CHALLEN-
GE ACEPTED e, depois de algumas peripécias e
vaivéns, ambos viram amiguinhos e o professor lhe
conta um segredo.
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71.Os Três Mosqueteiros,
de Alexandre Dumas
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
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72.As Viagens de Gulliver,
de Jonathan Swift
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Eis que vos apresento o Rei do Deboche! O sarro sem apontar o dedinho com aquele tom
undisputed campeão da galhofa literária. O sujeito de adultinho superior. Um clássico da sátira.
que transformou o que seria um textão irônico em
alguma rede social num dos maiores clássicos da Melhor.
literatura – e não menos em tamanho.
O clássico da sátira.
Porque você pode se preparar para mais de 600
páginas do mais fino e puro deboche britânico.
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TER-
ROR
Terror
Calafrios na espinha. Uma gotinha de suor sambando
acima do rego. O estômago embrulhado pelo máximo
cagaço. O coração palpitando. Monstros à espreita, cape-
tas à solta, diabos num bundalelê com sua pobre almi-
nha… MUAAAAAA-RÁ-RÁ-RÁ
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73.Frankenstein,
de Mary Shelley
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Spoiler 1: Frankenstein não é o nome da Criatura. em si: tinha criado um monstro, uma abomina-
Spoiler 2: a Criatura não tem dois pregos no pescoço ção, e precisaria destruí-lo. A Criatura, por sua
e nem marcas de pontos na testa. vez, é rejeitada desde o instante em que abre
Spoiler 3: (quase) tudo que você sabe sobre o os olhos, e ao longo do livro só vai encontrar
Frankenstein não tem nada a ver com o livro. medo e violência. Até que decide…
Zero castelos góticos. Nenhum capanga corcunda Naaaa-na-ni-na-não. Vai ter que ler o livro.
para ajudar o cientista maluco, que gargalha histeri-
camente enquanto a luz dum trovão revela mil e uma
geringonças cercando um cadáver que mexe o dedo
mindinho. Vocabulário: não vou mentir: Mary Shelley
adoooooora umas descrições de paisagens. A-D-O-R-A.
E, às vezes, passa cinco páginas descrevendo um
"Frankenstein" talvez seja a obra de terror mais penhasco e depois gasta uma linha e meia para
influente de todos os tempos. descrever a Criatura. Não é a leitura mais fluida do
mundo. Alguns, porém, amam!
Antes de haver Stephen King e H. P. Lovecraft e
Edgard Allan Poe, havia Frankenstein. Antes dum
Trama: não se assuste com o começo, que parece
conde emergir da Transilvânia (com bigode!) emer- não ter coisa nenhuma a ver com o livro. Leia-o. No
giu a Criatura primeira da literatura gótica de terror; o final, tudo se encaixa. No mais: o livro pula de narrador
monstro arrastado de volta a uma vida antinatural, em narrador. Primeiro, um viajante aleatório que
sacrílega e horrenda. Um monstro sem alma – e encontra a Criatura no começo do livro. Depois, Victor.
talvez eu não esteja falando da criatura. Depois, a própria Criatura. A trama, por sua vez, é
simples e objetiva.
Victor Frankenstein, dizia eu, não é a Criatura. É o
homem que a cria. Quem é ele? Para facilitar as
coisas, poderíamos dizer que é um "cientista". Na
real, era um macumbeiro chique (quase sempre, as
duas coisas são a mesma). Victor era um sujeito
inteligentíssimo que, depois de perder sua mãe, fica
obcecado com o mistério da vida e morte. Estuda
tudo o que lhe cai à mão: desde as ciências naturais
até… otras cositas. Cabala, hermetismo, neoplatonis-
mo, alquimia e tudo quanto é esoterismo e ocultismo
brabo.
Que dá certo.
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74.Assassinatos na Rua
Morgue,
de Edgar Allan Poe
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
"Você me lembra o Dupin de Edgar Allan Poe. Não É o que você vai descobrir, junto com o detetive
imaginava que indivíduos assim pudessem existir original de toda nossa cultura: Dupin.
fora da ficção."
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75.Drácula,
de Bram Stoker
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
TUDO. SAFE.
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76.O Médico e o Monstro,
de Robert Louis
Stevenson
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Definitivamente, um dos meus livros favoritos e forte pensamento sacana brilhou no seu olhar
eleito a posto de MELHOR livro para quem deseja plácido.
fazer a transição de livros mais água com açúcar,
miojinhos, para obras mais substanciosas e Do outro, o Sr. Hyde. Um sujeitinho escroto,
profundas. atarracado, com o corpo desconjuntado de um
chimpanzé. Vagueia pelas ruas sempre
Por que eu digo isso? Porque O Médico e o Monstro molambento, vestindo roupas enormes e se
de forma magistral e quase inigualável junta num só misturando com a pior ralé das ruas. No seu
livro dois aspectos que, no geral, ficam muito rosto, existe algo de… incômodo. É um sorriso
separados. sem alegria, com pura malícia. Todo gesto
parece contar uma ameaça de morte. O olhar é
Por um lado, é uma leitura fácil, envolvente, vazio, oco. A postura é de bicho acuado. Uma
interessante. Fluida. Lê-se o livreto rapidamente, raiva, uma agitação ruim ferve sob aquela
numa única sentada, sem sofrimentos com carcaça repulsiva.
vocabulário ou uma lentidão nos acontecimentos
que poderia desanimar leitores iniciantes. De alguma forma, Jekyll e Hyde estão ligados
um ao outro. Profundamente ligados. O que
Maravilhosamente bem escrito, o livro é visual. Você antes parecia ser uma simples chantagem vai
imerge no mundo sinistro e gótico das noites evoluindo para extorsão, tentativa de
londrinas. A atmosfera pesa sobre nós tanto quanto assassinato e tudo quanto é desgraça até que,
sobre os personagens. enfim, com uma poção a verdade
extraordinária se revela.
É também cheio de suspense. De perguntas sem
resposta que vão se acumulando, acotovelando, até
o que no começo parecia uma simples pulga atrás da
orelha vai tomando a forma de um esdrúxulo
demoníaco – alguma coisa grotesca e maligna está
acontecendo.
Trama: sequência linear, personagens e motivações Editora Penguin. Tradução de Jorio Dauster.
bastante claros. No começo, talvez uma coisinha ou 2015
outra em relação ao testamento e às questiúnculas
legais pode ser um pouco confusa. Só.
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77.Carrie, a Estranha,
de Stephen King
DESCRIÇÃO
DIFICULTÔMETRO
Vamos ser sinceros: que diabos de lista sobre livros grossas, mais ela fica atordoada e mais as
de terror poderia estar completa sem o rei do colegas tiram sarro da sua "burrice". Começam
gênero? Stephen King já se tornou um clássico do a jogar absorventes na menina, a xingá-la de
terror. Ponto final. Quando o assunto é meter cagaço tudo quanto é nome, a gargalhar como hienas
nos outros, King é um nome absolutamente incon- no cio.
tornável. Até que, de repente e sem explicação, uma
lâmpada estoura sozinha.
E absolutamente incontornável na carreira do
próprio King é Carrie, a Estranha. Seu primeiro O que as meninas não sabiam, claro, é que a
estouro verdadeiro. O hit que o transformou num estranha da Carrie era telecinética.
escritor "de verdade".
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L I S TA D E F I N I T I VA D O S 7 7 M A I O R E S L I V R O S D A H U M A N I D A D E PA R A L E R S E M M E D O 103