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Resumo:
Este artigo trata da territorialização1 da cana-de-açúcar no Estado de Mato Grosso
do Sul, que se mostra um tanto voraz, diante dos incentivos ficais e outros, por
parte do governo federal bem como por parte do governo estadual e municipal.
Nesse cenário, alguns municípios tradicionalmente ligados à pecuária e à
produção de alimentos deixam de produzir para conceder espaço à cultura
canavieira. Portanto, há um reordenamento espacial e territorial da atividade
agroindustrial canavieira no contexto sul-mato-grossense.
Abstract:
This article is about the territorialization of cane sugar in the Mato Grosso do Sul
State, which shows a bit greedy, before tax breaks and other from the federal,
state and municipal administration. In this scenario, some municipalities
traditionally associated with farming and food production should cease to have
space to give the sugarcane cultivation. So there, is a spatial and territorial
reorganization of sugarcane agro-industrial activity in the context of Mato Grosso
do Sul.
1
O território, para ter sentido a sua existência, possui alguns elementos que são a sociedade, o espaço e
o tempo. “[...] o território se apóia no espaço, mas não é espaço. É uma produção a partir do espaço [...]”
(RAFFESTIN, 1993, p.144).
A territorialização da cana-de-açúcar no Mato Grosso do Sul – Alex Torres Domingues.
INTRODUÇÃO
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Entendemos como divisão internacional do trabalho, a especialização das
atividades produtivas das regiões, que foram intensificadas com a globalização da
economia, ou seja, cada região ou país fica designado a produzir certo tipo de produto
– de acordo com o clima, relevo, precipitação de cada país.
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Terceiro levantamento realizado pela CONAB, em dezembro de 2009.
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Para maiores informações sobre o papel da erva-mate no contexto sul-mato-grossense, ver a tese de
doutorado de Figueiredo (1968), com o título A presença geoeconômica da atividade ervateira. O autor
discorre sobre a atividade ervateira desenvolvida pelos espanhóis em Asunción (PY), Guairá (noroeste do
Paraná) e Maracaju (sul de Mato Grosso do Sul) e a posse das terras nas regiões citadas acima pelos
castelhanos.
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Essas doações ficaram conhecida como Sesmarias, ou seja, quando houve a conquista do território
brasileiro, por Portugal em 1530, implantou-se o mesmo sistema que vinha acontecendo em Portugal, no
qual distribuía-se terras aos Sesmeiros para a produção de alimentos. Na verdade esse sistema foi quem
instalou no Brasil o sistema plantation açucareiro.
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No sul de Mato Grosso (MT)6, a ocupação das terras pelos não índios teve
início a partir do século XIX com a delimitação das posses de terras pelos portugueses
e espanhóis. Mais tarde, a Região Sul de MT passou a ser atrativa para as atividades
de agricultura e pecuária desenvolvidas por gaúchos, paranaenses, paulistas da
Região Noroeste de São Paulo, paraguaios e imigrantes estrangeiros.
Desde a sua ocupação, o Sul de Mato Grosso tem sua base na agricultura.
Em 1943, a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND) foi criada pelo Ministério
da Agricultura, que distribuiu em torno de 6.500 lotes de 20 a 50 hectares a
trabalhadores brasileiros que não eram proprietários de terras. Para compreendermos
a dinâmica agrária atual do Estado de MS, precisamos analisar suas condições
históricas, a apropriação capitalista da terra, como condição preliminar (FABRINI,
1996).
Segundo Andrade (1994, p. 139-140), o crescimento da cana, “só se
tornaria exponencial a partir de 1979, quando o Pró-Álcool passou a financiar a
implantação de destilarias de álcool em todo o país”, e é nesse momento que o sul de
Mato Grosso se tornaria centro de atrações do capital agroindustrial canavieiro.
O atual Mato Grosso do Sul intensificou o seu crescimento em decorrência
da Ferrovia Noroeste do Brasil, que passou a interligar a Região Noroeste Paulista
com o Sul do estado, surgindo os núcleos urbanos e cidades, como: Aquidauana,
Maracaju, Campo Grande, Coxim. Com a vinda dessa ferrovia, ocorreu a expansão
econômica gerando um aumento significativo na produção, no comércio e na vida
socioeconômica desse estado, atraindo mais migrantes do Rio Grande do Sul e do
Paraná.
A partir dessa migração, a atividade da pecuária se expandiu. O sistema
de produção foi realizado de forma extensiva em grandes áreas e o MS se destacou
cada vez mais na agricultura e pecuária brasileiras, atraindo migrantes de outras
regiões.
Por isso, o Mato Grosso do Sul vem ganhando maior destaque no mercado
do agronegócio, sendo que a pecuária é uma das atividades de maior importância
para a economia do estado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), em 2009, foi destaque em vários produtos agropecuários no ranking nacional,
como a pecuária e o bicho da seda em 3º lugar; a produção de lã e algodão em 4º
lugar; a soja em 5º lugar; e a cana-de-açúcar em 6º lugar.
6
Assim era chamado o atual Estado de Mato Grosso do Sul antes de sua divisão, que aconteceu em 01
de janeiro de 1979, instituída pela Lei Complementar nº 31, de 11 de outubro de 1977.
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35.000
30.000
25.000
20.000
15.000
10.000
5.000
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Cana-de-açúcar
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Segundo o Terceiro Levantamento da safra 2010/2011, realizado pela CONAB em janeiro de 2011.
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O Pró-Álcool foi criado em 14 de novembro de 1975 pelo Decreto nº 76.593, e segundo Thomaz Jr
(2002, p. 76), foi “[...] com o propósito de produzir internamente uma alternativa energética própria,
contrapondo-se à dependência do petróleo”, visando ao atendimento do mercado interno e externo e da
política de combustíveis automotivos. O Programa não se estruturou apenas de objetivos „oficiais‟, não se
limitando apenas às questões ditas econômicas, como também „livrar o país dos gastos crescentes com a
importação de petróleo‟. Buscando apoio de vários outros setores da sociedade, „previa-se‟, fazer uma
articulação com algumas questões estruturais, como a diminuição das desigualdades regionais de renda,
o processo de internalização do desenvolvimento com a desconcentração da propriedade da terra, o
crescimento da renda interna brasileira, a aumento da produção de bens de capital e geração de
empregos. Na verdade este Programa foi uma substituição em larga escala dos derivados de petróleo,
pois o país pretendia evitar a dependência do mercado externo, principalmente, quando dos choques de
preço de petróleo. Neste Programa, destacam-se cinco fases distintas: a primeira fase, chamada de fase
inicial, compreende os anos de 1975 a 1979. Nesta fase, havia um esforço muito grande por parte do
governo para a produção de álcool anidro para a mistura com a gasolina. A segunda fase – ou fase de
afirmação – abrange desde o ano de 1980 até 1986. Neste período, o governo brasileiro intensificou a
implementação do Programa e criou organismos para facilitar tal implantação como o: Conselho Nacional
do Álcool (CNAL) a Comissão Executiva Nacional do Álcool (CENAL), por conta do segundo “choque do
petróleo” (1979-1980), no qual o preço do barril praticamente triplicou. Já a terceira fase ou fase de
estagnação, estende-se de 1986 a 1995. Na quarta fase – ou fase de redefinição – (período de 1995 a
2000), os mercados de álcool combustível, encontram-se liberados em todas as suas fases de produção,
distribuição e revenda sendo os seus preços determinados pelas condições de oferta e procura. A última
fase ou fase atual compreende desde 2000 até os dias atuais. Hoje, trinta e quatro anos após o início do
Proálcool, o Brasil vive uma nova realidade com expansão do setor agro-sucro-energético e das
exportações de açúcar e álcool em grande escala.
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FONTES: Diversas.
NOTA: *Atual cidade de Sonora. ** Atual cidade de Nova Alvorada do Sul
ORG.: DOMINGUES, A. T., (2010).
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Quantificamos a produção bovina por cabeças, pois o IBGE não disponibiliza a quantidade de hectares
ocupados pela criação de gados.
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Foi instituído o Decreto nº 6.961, de 17 de setembro de 2009, que aprova o Zoneamento Agroecológico
da Cana-de-Açúcar (ZAE Cana). Estudo coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) a fim de estabelecer
normas para o crescimento e ordenamento do setor agro-sucro-energético e determinar ao Conselho
Monetário Nacional (CMN) regras para o financiamento de tal setor. Tem como objetivo principal indicar e
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espacializar o potencial das terras para a expansão da produção da cana-de-açúcar no país planejando o
uso sustentável das terras e em harmonia com a biodiversidade. Baseia-se em algumas diretrizes que
permitirão a expansão da produção, que são: (a) indicação de áreas com potencial agrícola para o cultivo
da cana-de-açúcar sem restrições ambientais; (b) exclusão de áreas com vegetação original e indicação
de áreas atualmente sob uso antrópico; (c) exclusão de áreas para cultivo nos biomas Amazônia,
Pantanal e na Bacia do Alto Paraguai; (d) diminuição da competição direta com áreas de produção de
alimentos, e (e) indicação de áreas com potencial agrícola (solo e clima) para o cultivo da cana-de-açúcar
em terras com declividade inferior a 12%, propiciando produção ambientalmente adequada com colheita
mecânica.
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Recentemente, em 2009, foi emancipado o município de Paraíso das Águas.
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De acordo com Mendonça (2008), a bioenergia demonstra um movimento no sentido da busca de
energias renováveis, consideradas limpas e autônomas, diminuindo a dependência dos combustíveis
fósseis, principalmente o petróleo.
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Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul.
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Palestra ministrada por Roberto Hollanda, com o título “Perspectiva do Setor Sucroalcooleiro em Mato
Grosso do Sul” no “II Simpósio sobre Produção de Cana-de-Açúcar” entre os dias 22 e 23 de novembro
de 2010.
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Dentre outros fatores, destacam-se: - diferentes classes de solos, sendo que o solo de maior expressão
é o do tipo latossolo vermelho escuro. Esse solo é muito fértil e precisa de pouca correção. Ele está
distribuído na porção centro-sul do Estado, ou seja, local onde se encontram Maracaju e Rio Brilhante
(dados do SEPLANCT, “Secretaria de Planejamento, Cultura e Transporte”, 2006); - alto TCH (toneladas
de cana por hectare), apresentado nessa região por conta desse tipo de solo, que segundo o 3º
Levantamento da CONAB realizado em dezembro de 2009, foi de 88 ton./ha; e, - pouca ou nenhuma
representatividade da classe dos trabalhadores, pois não há ainda uma organização solidificada na
região, ou seja, os sindicatos ficam refém do processo, pois não tem apoio maciço da maioria dos
trabalhadores do setor.
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Destacamos que, entre os programas e leis firmadas pelo Estado brasileiro para incentivar a economia
canavieira no século XX, entra em ação a criação do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) na década de
1930 quando iniciou uma fase de planejamento da agroindústria canavieira nacional, tornando
permanente a intervenção federal nesse setor (BARRETO, 2008). O IAA surgiu para cooperar com a
melhoria das condições da agroindústria canavieira, resolvendo o excedente da produção de açúcar como
fomento do álcool combustível, através da estabilização dos preços do açúcar e da construção de novos
equipamentos para as destilarias destinadas à produção do álcool. No entanto, o IAA contribuiu apenas
com os usineiros. Estes se capitalizaram e se aparelharam na insaciedade de crescimento produtivo das
unidades agroprocessadoras através da ampliação da capacidade das moendas. Nos anos de 1940, o
Estatuto da Lavoura Canavieira foi implantado pelo governo de Getúlio Vargas, por meio do Decreto nº.
3.855/41, de 21 de novembro de 1941. Seu objetivo principal era regulamentar as relações entre os
fornecedores de cana-de-açúcar e usineiros, além de estabelecer um salário mínimo ao trabalhador rural
canavieiro.
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As consequências das quais o trecho acima trata estão sendo de toda forma ocultadas pela mídia local,
como exemplo elencamos a seguinte matéria “Posição de MS na Produção de Bioenergia” publicada no
canal da cana. Disponível em: <www.canaldacana.com/novo/view/index/?act=listar&cod_editoria=2185>,
do dia 21/07/09, na qual todos os entrevistados da comissão do CANASUL (Congresso de Tecnologia na
Cadeia Produtiva da Cana-de-Açúcar em Mato Grosso do Sul), defendem a ideia de desenvolvimento a
partir do ampliação do setor canavieiro, desconsiderando todas as características regionais, utilizando-se
do discurso para que se torne uma realidade (SEPROTUR).
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O PROGRAMA MS EMPREENDEDOR foi instituído por meio da Lei Complementar Nº 93/01, cujo
objetivo é fomentar a industrialização no estado de Mato Grosso do Sul. Seus benefícios ou incentivos
fiscais concedidos às indústrias que se instalarem ou ampliarem suas instalações, é de até 67% do ICMS
devido, pelo prazo de até 5 anos, prorrogável por igual período, conforme perfil do empreendimento, com
possibilidade de: dispensa do pagamento do ICMS incidente sobre as entradas interestaduais ou sobre a
importação de máquinas e equipamentos, destinados ao ativo fixo da empresa e diferimento do ICMS
incidente sobre importações de matérias-primas.
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O setor canavieiro vem sendo estimulado cada vez mais pelo Estado
brasileiro e a preocupação fundamental é a manutenção da lógica da reprodução do
capital. Essas ações e discursos que justificam, no Mato Grosso do Sul, a exploração
da força de trabalho (indígenas e migrantes, na sua maioria, nordestinos), pela via da
expansão da monocultura da cana, desmatamento de terras, exploração/depredação
dos recursos naturais locais (principalmente, a terra e a água), coloca para todos os
desafios iminentes, ou seja, quais os impactos na produção de alimentos?
Vale ressaltar que, além de apoio do governo estatal, as empresas têm
também o forte amparo do governo federal, que financia seus projetos com valores
altos, pagamento em longo prazo e com juros baixos, que, às vezes, acabam por
perdoar a dívida.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é um
exemplo claro disso, pois tomou como sua responsabilidade o projeto de expansão (a
qualquer custo) do agronegócio canavieiro no Brasil, que no governo Lula, somente
em 2008, direcionou R$ 6,7 bilhões ao setor (THOMAZ JUNIOR, 2009). Esse
montante é destinado a projetos relacionados à produção de açúcar e álcool,
instalação de plantas de cogeração de energia a partir do bagaço da cana, e à
expansão de mais canaviais (RB19, 2009).
Além do BNDES, o governo federal está atuando no setor por meio da
Petrobrás Biocombustíveis (subsidiária da empresa estatal brasileira de petróleo). O
objetivo dessa empresa é comprar a participação acionária e se tornar sócia de
empreendimentos ligados ao ramo do etanol. Como exemplo disso, destacamos que,
em 2009, a Petrobrás comprou 40% da Usina Total, localizada em Bambuí (MG). A
Petrobrás Biocombustíveis fechou acordo com a estatal chinesa Petrochina para
estudar projetos conjuntos direcionados à exportação20. Também, utiliza-se de créditos
financeiros através dos seguintes órgãos e políticas fomentadoras: FCO (Fundo
Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste); FINAME (Agência Especial de
Financiamento Industrial); PROGER (Programa de Geração de Emprego e Renda); e
BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Podemos dizer que até mesmo o Zoneamento Agroecológico da Cana-de-
Açúcar é uma forma de apoio estatal, pois direciona a expansão e a partir dela faz o
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A ONG Repórter Brasil, que lançou o relatório “O Brasil dos Agrocombustíveis – Cana 2010: Impacto
das lavouras sobre a terra, o meio e a sociedade”. Disponível em:
<http://www.reporterbrasil.org.br/documentos/o_brasil_dos_agrocombustiveis_v6.pdf>. Acesso em:
27/05/2010.
20
CF. RB, 2010.
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CONCLUSÃO
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ou seja, apenas alguns grupos ou setores abocanham o que deveria ser destinado a
reforma agrária, por exemplo.
Os financiamentos, que na maioria das vezes se tornam subsídios, servem
para alavancar um setor cada vez mais concentracionista tanto de terra quanto de
capital. Isso produz um reordenamento espacial, econômico, cultural e social em todo
o Centro-Sul do Mato Grosso do Sul.
Com esse artigo, analisamos a territorialização da cana-de-açúcar no Mato
Grosso do Sul com destaque para os fatores que têm atraído o capital agroindustrial
canavieiro para essa nova frente de expansão. Para tanto, encontramos alguns
motivos, dentre os quais: o preço da terra cujo valor para arrendamento e compra é
bem menor se comparado ao estado de São Paulo; não ser em terras devolutas; os
elevados incentivos fiscais; as boas condições de infraestrutura; a proximidade com o
mercado consumidor; a topografia plana e o clima propício ao cultivo; os créditos
rurais favoráveis; as pesquisas tecnológicas agropecuárias por parte dos institutos
estatais, Embrapa, principalmente; os trabalhadores sem mobilização por seus
direitos; e, os poucos embates por parte dos movimentos sociais.
Todos esses fatores citados, que propiciam um clima favorável à expansão
canavieira, fez com que essa expansão alcance patamares jamais vistos no Mato
Grosso do Sul no ano de 2011 (34 milhões de toneladas e ocupando uma área de 480
mil hectares21). O fato se deve, também, a um conjunto de forças hegemônicas (capital
agroindustrial canavieiro, políticas incentivadoras do governo estadual e do federal),
que construíram referenciais de apoio junto a população em geral, ou seja, um
sentimento de estar apostando no “combustível limpo” e, mais recentemente, na
“energia limpa”.
Assim, entendemos que o Estado tem um papel crucial na consolidação e
na implementação de políticas voltadas a melhoria da infraestrutura e logística, além
dos incentivos fiscais que valem para os próximos anos.
Finalizamos ratificando que, por conta dessa conjuntura socioeconômica
apresentada, a territorialização da cana-de-açúcar traz novas perspectivas para o
campo sul-mato-grossense, sobretudo, para as questões trabalhistas, ambientais e
econômicas da região, bem como o acirramento na disputa pela terra,
fundamentalmente, de indígenas e camponeses.
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Dados obtidos através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Primeiro Levantamento
de Cana-de-Açúcar (abril – 2012).
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REFERÊNCIAS
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A territorialização da cana-de-açúcar no Mato Grosso do Sul – Alex Torres Domingues.
THOMAZ JÚNIOR, Antônio. Por trás dos canaviais os (nós) da cana. A relação
capital x trabalho e o movimento sindical dos trabalhadores na agroindústria
canavieira paulista. 1. ed. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2002.
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