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Resumo
A agricultura camponesa que busca uma base agroecológica tem se destacado cada vez mais
por ter seu processo e práticas cotidianas sustentáveis e emancipadoras, ao passo que a
economia solidária traz em seus princípios propostas organizativas alternativas ao sistema
capitalista. O presente trabalho tem como objetivo discutir sobre as ações espaciais que os
agricultores e agricultoras do Pré Assentamento Emiliano Zapata juntos com a IESol
(Incubadora de Empreendimentos Solidários - UEPG) têm buscado no sentido de apoiar os
processos de autonomia das famílias da comunidade. A problemática da produção e
comercialização dos alimentos e consequentemente o acesso à renda é abordada apontando os
primeiros passos como acesso a programas federais, a organização solidária e associativa,
chegando a consolidar uma rede solidária de produtores e consumidores na cidade de Ponta
Grossa – PR. Nosso trabalho é composto de um resgate histórico-espacial, observações,
problematização e discussão conceitual da atuação em rede, descrições de ações em conjunto
e articulações para efetivar os anseios dos agricultores e agricultoras, assim como, da
propagação dos alimentos orgânicos.
Palavras Chave: Economia Solidária; Agroecologia; Redes consumidores, Assentamento
Rural, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST.
Resumen
La agricultura campesina que busca una base agroecológica se he destacado cada vez más por
tener su proceso y práctica cotidiana sustentables y emancipadores, al tiempo en que la
economía solidaria trae en sus principios, propuestas organizativas alternativas al sistema
capitalista. Este trabajo tiene como objetivo discutir sobre las acciones espaciales que
agricultores y agricultoras del Pre-Asentamiento Emiliano Zapata juntos con la IESol
(Incubadora de Emprendimientos Solidarios – UEPG) he buscado, en el sentido de apoyar los
procesos de autonomía de las familias de la comunidad. La problemática de la producción y
comercialización de los alimentos, y consecuentemente el acceso al ingreso es abordada
discutiendo los primeros pasos como acceso a los programas federales, a la organización
solidaria y asociativa, llegando a consolidar una red solidaria de productores y consumidores
en la ciudad de Ponta Grossa – PR. Nuestro trabajo es compuesto por un rescate histórico-
espacial, observaciones, problematización y discusión conceptual de la actuación en red,
descripciones de acciones en conjunto y articulaciones para construir los deseos de los
agricultores y agricultoras, así como de la propagación de los alimentos orgánicos.
Palabras Clave: Economía Solidaria, Agroecología, Redes, Asentamiento rural, Movimiento
de los Trabajadores Rurales Sin Tierra - MST
O município de Ponta Grossa faz parte de uma região denominada Paraná Tradicional,
composta por diversos processos geográficos e históricos como salienta Cunha (2003) e,
apesar da área de 2.011,99 km² (ITCGEO, 2011) possui atualmente apenas 2,21% de sua
população morando na área rural (IBGE, 2010). Também como em muitas outras cidades do
Brasil, em períodos de abertura econômica passou por momentos de modernização em sua
economia, onde Complexos Agroindustriais foram solidificados, tornando a cidade um pólo
de processamento de soja. Luiz Alexandre Gonçalves Cunha delineia sobre o assunto:
A modernização correspondeu, na verdade, à expansão das culturas adaptadas a um
padrão tecnológico que permita a dinamização de alguns setores industriais, como,
por exemplo, os produtores de insumos químicos, máquinas e equipamentos
agrícolas e processadores de matérias-primas agropecuárias. Destacou-se,
principalmente, a cultura da soja, que se expandiu de uma forma bastante acentuada
na região centro-sul do Brasil. Formou-se, então, um verdadeiro Complexo Soja no
qual as empresas processadoras de soja destacavam-se pelo seu porte e importância
econômica (2001, p. 81).
Esta atividade econômica, como analisa ainda o autor, avança outros territórios do
nordeste, além do que é reduzido o trabalho impregnado no município:
1
Apesar de o site da Embrapa apresentar que sua missão seria viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento
e inovação para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira, grande parte da área da
fazenda estava destinada a atividades estranhas às finalidades apontadas. Recentemente, noticiou-se uma
derrota judicial da empresa transnacional Monsanto, que havia processado cinco militantes presentes em uma
manifestação com 600 participantes da II Jornada de Agroecologia, na estação experimental da empresa, em
Ponta Grossa, no ano de 2003 (TERRA DE DIREITOS, 2013).
capacidade para instalação de até 58 famílias. Entretanto, problemas com a documentação da
área e conflitos com vizinhos que não concordaram com a realização de serviços de medição,
além da morosidade burocrática, têm sistematicamente impedido a concretização do
assentamento. A área (Figura 01) destinada ao Programa de Reforma Agrária ainda se
configura como um pré-assentamento, (apesar das famílias já estarem morando e produzindo
no local há dez anos), principalmente devido aos trâmites burocráticos que impedem sua
concretização legal, ainda que exista decisão política e comprometimento por parte do
governo com sua implantação.
A fase de pré-assentamento pode durar pouco tempo ou muitos anos (como no caso
da Comunidade Emiliano Zapata), impedindo, desta forma, o acesso pelas famílias a maior
parte das políticas públicas destinadas aos assentamentos e a agricultura familiar. Estas
famílias não têm condições de acesso, por exemplo, ao PRONAF - Programa Nacional da
Agricultura Familiar, ou mesmo à luz elétrica2. Ainda no caso da Comunidade Emiliano
Zapata, já foi realizado o depósito do valor da área pelo INCRA em favor da Embrapa desde o
ano de 2005.
2
Somente cerca de 5 famílias tem acesso precário à luz elétrica que é ligada em um ponto da sede da
comunidade, mas com grandes limitações. Só no mês de abril deste ano pós anos de pressão sobre os órgãos
competentes e de fiscalização e com interferência do Ministério Público é que iniciou a instalação de energia
elétrica para as famílias e que no momento de elaboração deste trabalho está em seus momentos iniciais.
Apesar das diversas dificuldades, a comunidade conseguiu acessar o PAA – Programa
de Aquisição de Alimentos3. Através deste programa, os alimentos produzidos pela
comunidade são adquiridos pela Conab – Companhia Nacional de Abastecimento e doados a
instituições assistenciais. Este programa representa a principal renda agrícola desta
comunidade e também auxilia na segurança alimentar destas famílias. A renda média mensal
gira em torno de R$ 375,00 ao mês, variando conforme as safras e produtos produzidos, mas
sempre com o valor máximo de R$ 4500,00 ao ano.
As famílias da comunidade Emiliano Zapata, ainda optaram pela produção com base
na agroecologia4. Discussão que ganhou força no MST a partir do seu IV Congresso Nacional
realizado em Brasília no ano de 2000 (VALADÃO, 2005; BORGES, 2007). Como produtores
de alimentos orgânicos também participam da Rede Ecovida de Agroecologia que tem como
objetivo desenvolver e multiplicar as iniciativas em agroecologia e de possuir um selo próprio
de certificação dos produtos orgânicos. A Rede Ecovida realiza a certificação dos produtos
orgânicos/agroecológicos através de um sistema solidário onde os agricultores e
consumidores participam da elaboração e verificação das normas de produção agroecológica
(PEREZ-CASSARINO, 2012).
Com a dificuldade de geração de renda agrícola no local e falta de perspectivas de
curto prazo, membros de algumas famílias tem buscado empregos temporários na área urbana
principalmente na construção civil devido ao aquecimento deste segmento econômico O que
leve em alguns casos a relegar a produção agrícola para um segundo plano, sendo que em
alguns casos, o trabalho nas hortas fica sob a responsabilidade das mulheres.
Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo discutir sobre as ações espaciais
que os agricultores e agricultoras do Pré Assentamento Emiliano Zapata, através do apoio
realizado pela IESol (Incubadora de Empreendimentos Solidários - UEPG) têm de forma a
viabilizar os processos de autonomia e geração de renda das famílias desta comunidade.
3
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é uma ação do Governo Federal que tem como objetivo
colaborar para o enfrentamento da fome e da pobreza no Brasil e igualmente fortalecer a agricultura familiar. O
programa se baseia no estabelecimento de mecanismos de comercialização, agregação de valor e organização
social. (MDA, 2012) O PAA prevê a aquisição de até R$ 4500,00 (quatro mil e quinhentos reais) por
família/ano.
4
A agroecologia que pode ser compreendida como uma ciência ou campo de conhecimento interdisciplinar
(ALTIERI, 2001) ligado aos contextos socioeconômicos locais e globais que as práticas agroecológica são
desenvolvidas e os processos de ação coletiva (SEVILLA-GUZMANN, 2000) e que dialogam com os
conhecimentos e saberes populares dos agricultores. Destaca-se ainda uma dimensão subversiva e crítica ao
questionar a destruição das culturas camponesas com base no mito da superioridade do mundo urbano sobre o
rural (SEVILLA GUZMANN e LÓPEZ CALVO, 1993).
A atuação da IESol junto a Comunidade Emiliano Zapata : possibilidades e limites
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Atualmente duas organizações de trabalhadores participam diretamente na feira, a AFESOL – Associação dos
Feirantes da Economia Solidária, que trabalha com artesanato e alimentação e o Grupo Chão e Vida de
hortiecológicos, pertencente a ATERRA, Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Reforma
Agrária da Comunidade Emiliano Zapata.
FIGURA 04 – Gráfico sobre os principais motivos da desistência pelas famílias do projeto coletivo.
FONTE: GOMES (2012).
Assim como bem coloca Cláudia Schmitt (2010), diversos eventos que colocam em
cheque a organização capitalista contemporânea tem possibilitado, em diversas escalas
territoriais, articulações entre processos econômicos, ecológicos, políticos e sociais. Não
diferente a Agroecologia e a Economia Solidária se inserem como estes eventos alternativos,
pois,
Nesse cenário de consolidação das feiras semanais pela associação, surgiram novos
agricultores e agricultoras que também estavam com uma produção em transição
agroecológica e diversificada. Através de contatos com outras organizações como o sindicato
de professores (SINDUEPG), organizaram-se para comercializar seus alimentos.
A IESol colaborou propagando a ideia de uma rede de produtores e consumidores,
aproximando possíveis consumidores e refletindo sobre qual a forma mais adequada seria o
contato dos produtores com os consumidores. Foi escolhido um modelo em que os
agricultores indicassem quais os produtos que disporiam para a próxima semana e os
consumidores informavam quais desejavam. Considerando algumas dificuldades de
comunicação, foi escolhido que a comunicação dos produtos disponíveis seria via e-mails. A
comunidade conseguiu um acesso à internet e assim têm articulado a rede de consumidores.
Assim foi constituída a Rede Solidária de Produtores e Consumidores Agroecológicos
Emiliano Zapata que iniciou suas atividades em fevereiro de 2013 e em três meses de
funcionamento já contava com cerca de 40 consumidores. A produção de alimentos
agroecológicos destas famílias é feita por cinco famílias da Comunidade Emiliano Zapata.
Com o crescimento da rede outras famílias vão sendo incorporadas (Figura 05).
FIGURA 05: Esquema da Rede Solidária de Consumidores e Produtores Agroecológicos – Emiliano Zapata.
FONTE: Os autores
Referências
MANCE, E.A. Redes de colaboração solidária. In: HESPANHA, P. [et al] (Org.) Dicionário
Internacional da Outra Economia. Coimbra: Editora Almedina, 2009.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. Edusp. São
Paulo. 4 ed. São Paulo. 2006.