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FIM DE SEMANA ESTAVA PACATO, MAS A GARGANTA ARRANHAVA UM POUCO, LOGO VEIO A
FEBRE E UMA DOR NO CORPO. TODOS EM CASA SENTÍAMOS ESSES SINTOMAS E SABÍAMOS
QUE INEVITAVELMENTE TERÍAMOS DE TESTAR, PARA A TEMÍVEL COVID. TANTO OUVÍAMOS
SOBRE ELA E SEU RASTRO DE MORTE QUE ELA TEM DEIXADO NESTE MUNDO, MESMO ASSIM,
AINDA NÃO SENTÍAMOS TODA SUA GRAVIDADE E SENSAÇÃO DE DÚVIDA. TOMÁVAMOS CUI-
DADOS MAS CONFESSO QUE JÁ ESTAVA MUITO DISPLICENTE EM PROTOCOLOS. UM SAUDADE
DE AGLOMERAR, DE TER DE VOLTA NOSSA CASA CHEIA DE PESSOAS, ENFIM TER NOSSA VIDA
DE VOLTA.
CHEGAMOS NA UNIMED E LOGO FOMOS ATENDIDOS, FIZEMOS O TESTE PCR RÁPIDO. O RESUL-
TADO ERA POSITIVO PARA MIM E MEU FILHO. VOLTAMOS PARA A CASA COM UMA RECEITA E
UMA ESPERANÇA DE QUE TODOS NOSSOS PROBLEMAS SERIAM RESOLVIDOS COMO UM PASSE
DE MÁGICA. DE TARDE, ALEXANDRA MINHA ESPOSA, SENTIA SINTOMAS TAMBÉM E COM MIN-
HA NORA FOI FAZER O BENDITO TESTE. SEU EXAME DEU NEGATIVO, MAS COM CARA DE FALSO
NEGATIVO. REALMENTE ESTAVA COM COVID E CONFIRMOU APÓS O TERCEIRO EXAME.
NO DIA SEGUINTE TUDO ESTAVA PIOR, SINTOMAS MAIS INTENSOS E A FEBRE VINDO, ALÉM DA
FALTA DE AR QUANDO TOSSIA. LÁ FOMOS NOS DE NOVO PARA UNIMED, SÓ QUE AGORA TUDO
PARECIA TER PIORADO, ESTAVA COM OXIGÊNIO E COM UMA SATURAÇÃO RUIM. MINHA PRI-
MEIRA GASOMETRIA ERA FEITA E JÁ INDICAVA A INSUFICIÊNCIA DE OXIGÊNIO NO SANGUE.
ESSE EXAME POR SINAL, NÃO É FÁCIL, UMA PUNÇÃO NA SUA ARTÉRIA, PARA IDENTIFICAR ESSA
CONCENTRAÇÃO, MAL SABIA DE QUANTAS AINDA TERIA DE FAZER. VEIO ENTÃO A NOTÍCIA,
QUE PRECISARIA SER INTERNADO E QUE FICARIA EM ISOLAMENTO NO HOSPITAL SÃO JOSÉ,
PARA SER ACOMPANHADO, INCLUSIVE TERIA DE IR PARA LÁ DE AMBULÂNCIA, POIS PRECISARIA
ESTAR COM OXIGÊNIO. DE UMA HORA PARA OUTRA, ESTAVA EM UMA AMBULÂNCIA, SÓ COM
A ROUPA DO CORPO, SEM CHINELOS A CAMINHO DO HOSPITAL E SEM TER A MINHA ALE DO
MEU LADO. UM SENTIMENTO DE INSEGURANÇA BATIA E IA OUVINDO RELATOS DO PESSOAL
DA AMBULÂNCIA, SOBRE CASOS E COMO O HOSPITAL ESTAVA CHEIO.
CHEGANDO AO HOSPITAL SÃO JOSÉ, FUI LEVADO DIRETO PARA O QUARTO, UM LEITO QUE
AINDA NÃO TINHA SIDO DEVIDAMENTE LIMPO E ARRUMADO, MAS ERA ALI QUE FICARIA NO
TAL ISOLAMENTO E GLÓRIA A DEUS POR TER UMA VAGA. FUI COLOCADO NA CAMA, COM UMA
MÁSCARA COM RESERVATÓRIO, PARA RECEBER OXIGÊNIO E LOGO EM SEGUIDA RECEBI UMA
MANGUEIRA DE LÁTEX, QUE SERIA A EXTENSÃO PARA EU PODER IR AO BANHEIRO. NESTAS AL-
TURAS DO CAMPEONATO, PROCURAVA IDENTIFICAR QUAIS SERIAM MINHAS NECESSIDADES
BÁSICAS E COMO PODERIA ME VIRAR PARA FAZER ALGUMAS DESTAS ATIVIDADES. LOGO COM-
EÇARAM AS MEDICAÇÕES INJETÁVEIS E LOGO AS RECLAMAÇÕES DO MEU ACESSO VENOSO E
QUE PRECISARIA SER REFEITO. DESDE QUE PASSEI PELO CÂNCER E PELA QUIMIOTERAPIA, AS
VEIAS QUE JÁ NÃO ERAM AQUELA COISA, SUMIRAM DE VEZ. SEMPRE UMA LUTA PARA ACHAR
AS TÃO NECESSÁRIAS VEIAS. JÁ SENTIA UM CANSAÇO MAIOR E TUDO COMEÇAVA SER MAIS
DIFÍCIL QUE O NORMAL. IR AO BANHEIRO PASSOU A SER UM SUPLÍCIO, POIS TINHA DE LEVAN-
TAR, TROCAR A MANGUEIRA, COLOCANDO A EXTENSÃO, IR ATÉ O BANHEIRO E TER DE DRIBLAR
O CHÃO SEMPRE MOLHADO EM VOLTA DO VASO. A DIARREIA ME PERSEGUIA, POR EFEITO DA
COVID E DOS ANTIBIÓTICOS. DIA A DIA ISSO IA SE TORNANDO MUITO DIFÍCIL, CANSATIVO E
COM TODO ESSE CONTEXTO MINHA HIGIENE IA DECAINDO. USAVA A MESMA ROUPA, NÃO
HAVIA BANHO E COMO O ESGOTAMENTO IA AUMENTANDO. ESSAS ATIVIDADES IAM SE TOR-
NANDO CADA VEZ MAIS DISTANTES.
COMO ERA BOM FALAR COM A ALE, O FELIPE, MEU FILHO E A LOLO, MINHA NORA. TÃO RE-
CONFORTANTE MAS AO MESMO TEMPO DISTANTE, ASSUSTADOR, PORQUE O QUE EU QUERIA
MESMO DIZER PARA ELES É...ME TIRA DAQUI. AS NOTÍCIA PARA CASA ERAM ASSIM, OU PELO
MÉDICO OU PELO TELEFONE ATRAVÉS DA VÍDEO CHAMADA. UM DIA FUI APRESENTADO A
MÁSCARA VNI E ATÉ TIREI FOTO COM ELA, TENTEI SER "AMIGO" DELA, POIS MINHA SATU-
RAÇÃO E PULMÕES DEPENDIAM AGORA DESSA TERAPIA. ELA CONSISTIA EM UMA MÁSCARA
COM PRESSÃO POSITIVA DE OXIGÊNIO, QUE ERA FIXADA EM SEU ROSTO E ATRAVÉS DESTE
APARELHO, SUA RESPIRAÇÃO E PULMÕES ERAM ESTIMULADOS. ATÉ AÍ TUDO BEM, A CLAUS-
TROFOBIA ERA ATÉ CONTROLÁVEL, MAS O DESCONFORTO ERA ENORME, SEM CONTAR O TEM-
PO QUE TINHA DE FICAR COM ESSA APARELHO, ENTRE DUAS A TRÊS HORAS CONTÍNUAS. EN-
TENDIA QUE SE AQUILO DESSE CERTO, NÃO SERIA ENTUBADO E TALVEZ LOGO PODERIA IR PA-
RA CASA, MAS UM DIA ME ESQUECERAM COM ELA E O DESESPERO FOI TÃO GRANDE AO PON-
TO DE NÃO CONSEGUIR FAZER MAIS POR ALGUNS DIAS. A SALVAÇÃO ERA UM MODELO QUE
NÃO FECHAVA NO ROSTO TODO MAS TINHA TODAS AS DIFICULDADES DA ANTECESSORA.
SENTIA QUE NÃO MELHORAVA E PARECIA MAIS CANSADO, PRECISANDO MAIS DE OXIGÊNIO E
CADA VEZ MAIS INQUIETO. NO MEIO DISSO TUDO AS COISAS PEQUENAS IAM FICANDO
GRANDES, A ALIMENTAÇÃO CHEGAVA NO CORREDOR E MINHA MANGUEIRA NÃO ALCANÇAVA,
TINHA DE CHAMAR TODA VEZ AS ENFERMEIRAS PARA COLOCAR A COMIDA PARA DENTRO E
DEVIDO A CORRERIA QUE ESTAVA, NEM SEMPRE CHEGAVA LOGO, ALÉM DO HUMOR DE QUEM
TRAZIA A BANDEJA NÃO ESTAR MUITO LEGAL. SABIA QUE TINHA DE ME ALIMENTAR, MAS SA-
BIA TAMBÉM QUE PRECISAVA TIRAR A MÁSCARA DE OXIGÊNIO PARA COMER E ACABAVA SEM-
PRE COM A SATURAÇÃO CAINDO. AS INTERMINÁVEIS MEDICAÇÕES ERAM SEMPRE NO MEIO
DA NOITE, SENDO ACORDADO COM AS LUZES E AS VEZES ALGUMA DOR PELA VELOCIDADE DAS
INJEÇÕES NO ACESSO. INDEPENDENTE DO QUE ACONTECIA, NUNCA DEIXEI DE AGRADECER,
MESMO SENTINDO ALGUM TIPO DE DESCONFORTO OU DOR, SIMPLESMENTE SENTIA UM NÍVEL
DE VULNERABILIDADE E DEPENDÊNCIA CRESCENDO A CADA DIA.
NO MEIO DISSO TUDO UMA BOA NOTÍCIA, A ALE PODERIA FICAR COMIGO EM UM ISOLAMEN-
TO, UM APARTAMENTO, MAS AGORA COM ACOMPANHANTE. DEI A NOTÍCIA PARA A ALE E FOI
UMA FESTA, PODERÍAMOS ESTAR JUNTOS. A CHEGADA DELA FOI UM ALÍVIO, MAS NÃO DUROU
MUITO A ALEGRIA, HAVIA VAGADO UM LEITO DE UTI NO HOSPITAL JARAGUÁ E TERIA DE SER
TRANSFERIDO PARA LÁ DEVIDO MINHAS CONDIÇÕES. LOGO EM SEGUIDA FUI COLOCADO EM
UMA AMBULÂNCIA E LEVADO PARA O HOSPITAL JARAGUÁ.
NOVAMENTE UM PROCESSO DE DÚVIDAS ME TOMAVA E O MEDO ME ASSOMBRAVA. TANTAS
PERGUNTAS QUE TINHA NA CABEÇA, QUANTO TEMOR DE PRECISAR DE UMA UTI, QUANDO
PODEREI VER MINHA ALE NOVAMENTE E O PAVOR DA TEMIDA ENTUBAÇÃO. UMA CERTEZA
SEMPRE EU TIVE, DEUS ESTAVA COMIGO E NUNCA DEIXARIA DE ME AMAR. CHEGUEI NA UTI
COVID, UM SETOR NOVO QUE RECEBIA OS PACIENTES GRAVES DE COVID E REUNIA TODOS EM
UM MESMO SETOR. FUI INSTALADO EM UM LEITO, LOGO LIGADO A TODO TIPO DE DISPOSITI-
VOS, SONDA PARA URINA, SONDA NASOGÁSTRICA, ACESSO CENTRAL, NOVO ACESSO VENOSO
E SENSORES PARA OS MONITORES DE CONTROLE ALÉM DA JÁ CONHECIDA MÁSCARA DE RE-
SERVATÓRIO PARA O OXIGÊNIO. COMEÇAVA A MINHA JORNADA NA UTI E A BATALHA ESTAVA
INICIADA, SENTIA O ESPÍRITO DE MORTE NAQUELE LUGAR, AO MESMO TEMPO QUE SENTIA
DEUS. TODAS AS PRIORIDADES ESTAVAM EM RESPIRAR E SOBREVIVER, BANHO NEM PENSAR E
VISITAS MUITO MENOS.
2 - UTI COVID 1
JÁ NA UTI COVID E DEVIDAMENTE INSTALADO, COMECEI A PERCEBER TODA A LUTA QUE TERIA
PELA FRENTE. COMECEI A PERCEBER O QUANTO SOMOS PEQUENOS, ESTAVA ALI SEMINU,
APENAS DE FRALDA, SEM NEM SABER COMO FIQUEI ASSIM. SE VOCÊ ACHA QUE VAI CHEGAR
LÁ E DEITAR EM UMA CAMA E FICAR SE RECUPERANDO, VOCÊ ESTÁ BEM ENGANADO. ALÉM DA
MONITORAÇÃO, QUE DEIXA VOCÊ LIGADO A SENSORES, VOCÊ TEM DE USAR NO BRAÇO O
APARELHO DE PRESSÃO, QUE TE APERTA DURANTE O DIA E A NOITE TODA. O APITO NÃO NÃO
PARA. EXAMES SÃO COLETADOS E NUMA LOGÍSTICA INIMAGINÁVEL, ACONTECE DURANTE AS
24 HORAS DO DIA. TODOS AQUELES TÉCNICOS E ENFERMEIROS SE ORGANIZAM ATRAVÉS DOS
TURNOS PARA NÃO DEIXAR FALTAR MEDICAÇÃO ALGUMA E TAMBÉM ESTAR SEMPRE DE OLHO
EM SEU ESTADO. FUI APRESENTADO A UMA NOVA POSIÇÃO, QUE TERIA DE FICAR POR UM
BOM TEMPO, ERA A CHAMADA POSIÇÃO DE PRONA, OU MELHOR FALANDO, DE BRUÇOS. COM
TODA A SORTE DE FIOS LIGADOS A VOCÊ, ESSA VIRADA PARECE SER QUASE UMA OPERAÇÃO
DE GUERRA. DEPOIS DE TODA ESSA LUTA, ADIVINHA QUEM CHEGOU AO MEU LEITO, NOVA-
MENTE A TEMÍVEL VNI. NÃO QUEIRA TER FEBRE NA UTI, POIS SUA COBERTA É RETIRADA NA
MESMA HORA E COMO VOCÊ FICA APENAS DE FRALDA, O FRIO É UMA COISA DE LOUCO. SEM-
PRE FRIO E O AR CONDICIONADO CENTRAL SEMPRE ATIVO.
NÃO RECORDO DA MINHA EXTUBAÇÃO, MAS LEMBRO QUE LOGO COMECEI A RECONHECER OS
ENFERMEIROS, MÉDICO E TÉCNICOS QUE CUIDAVAM DE MIM, UM ENFERMEIRO VEIO AOS
MEUS OUVIDOS E ME INFORMOU QUE TE E DE CORTAR MINHA BARBA. CHEGUEI COM CARA
DE MOTOQUEIRO E AGORA SÓ ME RESTAVA O BIGODE. NA PRIMEIRA OBSERVAÇÃO QUE PA-
RECIA O FREDY MERCURY, MANDEI CORTAR TUDO, LOGO IMAGINEI QUE PODIA GANHAR UM
APELIDO. NÃO SENTI NENHUMA DOR E NÃO TINHA NENHUMA LESÃO E LOGO COMECEI A FA-
LAR. TINHA NOVOS DISPOSITIVOS LIGADOS EM MEU CORPO, O ACESSO VENOSO NA MÃO, FOI
SUBSTITUÍDO POR UM ACESSO FEMURAL E NA OUTRA MÃO RECEBI UM ACESSO COM DUAS
TORNEIRINHAS, PARA AS COLETAS DE SANGUE ARTERIAL E VENOSO. A MÁ NOTÍCIA FOI RECE-
BER AS SEGUINTES RECOMENDAÇÕES, QUE SE ACONTECE DE ARRANCAR O ACESSO FEMURAL E
O DA MÃO, HAVERIA UM SANGRAMENTO MUITO GRANDE E TAMBÉM PODERIA OCORRER UMA
FORTE HEMORRAGIA. ALÉM DE TUDO QUE JÁ TINHA LIGADO NO CORPO, ESSAS ÚLTIMAS RE-
COMENDAÇÕES ME DEIXARAM SIMPLESMENTE PERPLEXO E COM MEDO ATÉ DE ME MEXER NA
CAMA, DORMIA IMÓVEL.
EU ESTAVA LÚCIDO E NA UTI, ENTENDIA TUDO QUE ACONTECIA MAS JÁ SENTIA UMA DESO-
RIENTAÇÃO TEMPORAL. COMEÇARAM AS ROTINAS MÉDICAS E PARA MANTER MINHA MENTE
SÃ, COMECEI A OBSERVAR E GRAVAR OS PROCEDIMENTOS, MEDICAÇÕES QUE RECEBIA,
NOMES DOS TÉCNICOS, ENFERMEIROS, MÉDICOS E QUEM ERA DE QUAL TURNO. TUDO PARE-
CIA ESTAR INDO BEM QUANDO OUVI DO CHEFE DOS INTENSIVISTAS, POR SINAL UM ANJO QUE
DEUS COLOCOU NAQUELE LUGAR E COM CERTEZA FEZ A DIFERENÇA NA MINHA VIDA, COMEN-
TANDO QUE DEVERIA SER ENTUBADO NOVAMENTE.
MINHA PRIMEIRA EXTUBAÇÃO FOI NO LIMITE PARA QUE AS SEQUELAS NÃO SE AMPLIASSEM,
MAS AGORA ACABAVA DE ENTENDER QUE SERIA ENTUBADO NOVAMENTE. ACORDEI EM MEIO
A SEDAÇÃO E ESTAVA ENTUBADO NOVAMENTE, ATÉ DEI TCHAU PARA A ALE PELO TELEFONE.
DURANTE ESSE PROCESSO, ERA DE MANHÃ E O MÉDICO ME PERGUNTOU SE QUERIA RETIRAR
O TUBO. NAQUELE MOMENTO SÓ PODIA PENSAR QUE SE TIVE QUE PASSAR POR ISSO DE NO-
VO, PORQUE JÁ TIRAR? INCRIVELMENTE NEGUEI A RETIRADA E AGUENTEI AS PONTAS COM
AQUELE DESCONFORTO TODO. CHEGANDO A TARDE, NOVAMENTE A PERGUNTA DO DOUTOR,
SÓ QUE AGORA O FATO DE CONHECER AS ROTINAS ME FIZERAM REFLETIR POR SEGUNDOS, SE
O CHEFE ESTÁ NO PLANTÃO, E A MESMA PESSOA QUE ME ENTUBOU ESTÁ PERGUNTANDO SE
PODE FAZER A EXTUBAÇÃO, CASO NÃO TIRE AGORA E TROCAR O MÉDICO DO PLANTÃO, PRO-
VAVELMENTE FICAREI ENTUBADO POR MAIS TEMPO. DAÍ MAIS RÁPIDO DO QUE NUNCA, CON-
CORDEI EM TIRAR E SER LIBERADO DAQUELE SUPLÍCIO.
ESTAVA SEM O TUBO MAS NÃO CONSEGUIA FALAR E ACABEI ESCUTANDO QUE A MINHA SA-
TURAÇÃO ESTAVA BAIXA. DURANTE A NOITE, ESCUTEI AS ENFERMEIRAS COMENTANDO QUE SE
AS MÃOS ESTIVESSEM FRIAS, PODERIA TER VARIAÇÃO NO SENSOR. MINHA AGONIA ERA NÃO
PODER FALAR PARA EXPLICAR ISSO, ATÉ QUE VI A TÁBUA DE LETRAS E PEDI PARA MOSTRAR O
QUE QUERIA. EM MOVIMENTOS LENTOS APONTEI LETRA A LETRA ATÉ PODER ME FAZER EN-
TENDER, "MÃO FRIA, SATURAÇÃO BAIXA". A FISIOTERAPEUTA ENTENDEU E MAIS DO QUE
RÁPIDO CORRIGIMOS A SITUAÇÃO E PUDE FICAR UM POUCO EM PAZ.
EM FALAR EM PRIORIDADE, TINHA UMA AMIGA CHAMADA VANESSA, UMA TÉCNICA EM EN-
FERMAGEM QUE JÁ ESTEVE COMIGO EM OUTRAS SITUAÇÕES, NOVAMENTE ESTAVA ALI,
ORANDO PELA MINHA VIDA E A CADA DIA OBSERVANDO SEMPRE COMO ESTAVA A MINHA DI-
URESE, POIS ALGUNS SINAIS LÁ NA UTI FALAVAM COMO VOCÊ REALMENTE ESTAVA E O BOM
FUNCIONAMENTO DO RIM ERA UM ÓTIMO SINAL DE MENOS UM PROBLEMA.
A LUCIDEZ ME FAZIA ESTAR ATENTO A TUDO QUE ACONTECIA, MAS MINHA MENTE ACABAVA
NÃO DESLIGANDO, POIS ERA UMA ANSIEDADE ENORME EM TENTAR DESCOBRIR SE TINHA AL-
GUM PROGRESSO, QUANDO EVOLUIRIA OU SAIRIA DALI. SABIA QUE TINHA DOIS CAMINHOS,
PODERIA SAIR DALI EM UM "SACO", OU SER TRANSFERIDO PARA A UTI PÓS-COVID OU ATÉ O
SONHADO APARTAMENTO. MUITAS VEZES RECEBIA MORFINA PARA PODER DESLIGAR, TANTO
NO PROCESSO DE UTILIZAR A MÁSCARA VNI, COMO EM NOITES QUE PASSAVA ACORDADO NA
UTI. VOCÊ ACABA FICANDO EM UM ESTADO DE ALERTA PERMANENTE E TUDO AQUILO API-
TANDO A SUA VOLTA, TE MANTÉM ASSIM.
ENFIM COMEÇO A VER UMA MOVIMENTAÇÃO DIFERENTE E ESCUTEI QUE REALMENTE HAVIA
UMA UTI PÓS-COVID E NA EVOLUÇÃO OS PACIENTES IAM PARA LÁ. JÁ COMEÇAVA A SONHAR
COM ESSE MOMENTO E VER UM NOVO HORIZONTE, APESAR DE SABER QUE CONTINUARIA FE-
CHADO NO HOSPITAL. A PARTE BOA DE SAIR DALI É QUE ENFIM PODERIA RECEBER VISITAS E
PODERIA VER A MINHA AMADA ALE, O MEU FILHO FELIPE E A MINHA NORA LOLO.
É FIM DE TARDE E RECEBO A TÃO ESPERADA NOTÍCIA, QUE SERIA TRANSFERIDO PARA A UTI
PÓS-COVID. MINHA AGONIA ERA EM AVISAR MINHA FAMÍLIA E FAZER COM QUE ELES VENHAM
ME VISITAR. ERA TANTA SAUDADE QUE DOIA O MEU PEITO SÓ DE PENSAR NESSA POSSIBILI-
DADE. A MINHA CAMA COMEÇAVA A SER ARRUMADA PARA O TRANSPORTE O CILINDRO ESTA-
VA CONECTADO E LÁ IA EU PARA UM NOVO LUGAR, ERA UTI AINDA MAS NÃO ERA MAIS A
MAIS CRÍTICA. VAMOS VER O QUE ME AGUARDA E NO MESMO ESPÍRITO, SEMPRE PRONTO
PARA PROGREDIR.
4 - CHEGUEI A UTI PÓS-COVID
ARRUMADO EM MINHA NOVA CAMA, UMA TÉCNICA APARECE NO MEU LEITO E FECHA A COR-
TINA EM VOLTA E JÁ ME AVISA, QUE DEIXARIA MINHA ESPOSA E FILHO ME VER. O CORAÇÃO
QUASE NÃO CABIA NO PEITO, FORAM TODOS ESSES DIAS DE ISOLAMENTO, DA FALTA DE ESTAR
COM ELES E DE UMA DISTÂNCIA QUE NUNCA PROVAMOS. LOGO APARECEM OS TRÊS, ALE, FE-
LIPE E LOLÔ, CHOREI DE TANTA SAUDADES QUE SENTIA DELES, QUERIA ABRAÇA-LOS, FALAR
TANTAS COISAS QUE MAL PODIA SEGURAR MEU AGITO. FELIZ DEMAIS E AO MESMO TEMPO,
PREOCUPADO POR ESTAREM ALI FORA DO HORÁRIO DE VISITA E OS TRÊS, MAS LOGO A ALE-
GRIA ACABOU E FORAM CHAMADOS A DEIXAR A UTI. FOI BOM DEMAIS JÁ ME SENTIA RENO-
VADO E NA CERTEZA DE UM NOVO TEMPO QUE INICIAVA.
LOGO PASSADO A ALEGRIA VEIO UMA NOTÍCIA NÃO TÃO BOA, QUE TERIA DE RECOLOCAR A
SONDA NASOGÁSTRICA, POR ONDE VINHA MINHA ALIMENTAÇÃO. ESSA SONDA ELA ENTRA
PELO NARIZ E VAI ATÉ O ESTÔMAGO, PROVÁVEL EM UMA NOITE DESSAS DEVO TER PUXADO
SEM QUERER E ELA SAIU DO LUGAR. A TÉCNICA CHEGOU E JÁ ME AVISOU QUE PASSARÍAMOS
A SONDA. FIQUEI APREENSIVO SÓ DE PENSAR COMO SERIA ISSO E LOGO COMEÇOU O PROCE-
DIMENTO. FORAM CINCO TENTATIVAS MAS INFELIZMENTE SEM SUCESSO, DESCOBRI QUE
TENHO DESVIO DE SEPTO E FUI BEM MACHUCADO. NO DIA SEGUINTE VERIA O QUE IAM FAZER
MAS ESTAVA MUITO DECIDIDO DE AVISAR AO MÉDICO QUE CASO FOSSE PASSAR A SONDA,
QUE ME SEDASSEM.
AMANHECEU E VIA A MOVIMENTAÇÃO ATÉ QUE RECEBI A NOTÍCIA QUE RECEBERIA MEU PRI-
MEIRO BANHO DE LEITO. NÃO IMAGINAVA COMO SERIA ISSO, MAS SABIA QUE MUDARIA MEU
ESTADO E TAMBÉM MINHA MORAL, POIS FICAR TEMPO SEM BANHO VAI TE DERRUBANDO.
VIERAM DOIS TÉCNICOS E COM COMPRESSAS, SABÃO LÍQUIDO E BACIAS COMEÇARAM A ME
LAVAR NA CAMA. A HABILIDADE DELES ERA INCRÍVEL, NESSE PROCESSO ERA LAVADO, MEUS
LENÇÓIS ERAM TROCADOS E EM DUAS VIRADAS ESTAVA TUDO RESOLVIDO. SENTI COMO SE
TIVESSE SENDO LAVADOS POR FILHOS, UM RESPEITO, CUIDADO E HUMANIDADE QUE DEIXAM
TUDO QUE PODERIA SER CONSTRANGEDOR, COMO ALGO NATURAL. ERA DEUS USANDO ESSES
TÉCNICOS DE MANEIRA SOBRENATURAL. SÓ SEI QUE DEPOIS DESSE BANHO ESTOU PRONTO
PARA RECEBER MINHA AMADA
SENTADO EM MINHA CAMA, ESTAVA PREOCUPADO AINDA COMO SERIA O SUPLÍCIO DA SON-
DA, QUE NAO ESTAVA RESOLVIDO. QUANDO ESCUTEI O MÉDICO FALANDO COM A NUTRICIO-
NISTA, QUE SE ME ALIMENTASSE VIA ORAL, PODERIA SER DISPENSADA A SONDA E O MÉDICO
ARGUMENTAVA NA QUESTÃO DA MINHA QUEDA DE SATURAÇÃO QUANDO TIRAVA A MÁSCA-
RA. RAPIDAMENTE FIZ SINAL PARA O MÉDICO E ME PROPUS A FAZER A DIETA VIA ORAL. SUGE-
RI PARA AMBOS FAZER UMA DIETA LÍQUIDA E UTILIZANDO UM CANUDO, POR BAIXO DA
MÁSCARA DE OXIGÊNIO, PARA ME ALIMENTAR. OLHARAM PARA MIM E TOPARAM A SU-
GESTÃO. DE TABELA ME LIVREI DA SONDA E TINHA A CHANCE DE REGULAR DE VEZ A DIETA E A
EVACUAÇÃO, POIS A OPERAÇÃO DA FRALDA NÃO ERA FÁCIL.
ESTAVA QUASE NA HORA DA MINHA PRIMEIRA VISITA, ERA PERTO DO MEIO DIA E TODO O
AMBIENTE SE MODIFICAVA PARA ESTE MOMENTO. TODOS OS LEITOS ARRUMADOS, COM SUAS
CORTINAS PUXADAS E OS PACIENTES NA ESPECTATIVA DE SUAS VISITAS. ERA O TURNO DA
TARDE QUE ESTAVA ASSUMINDO, DE CARA VI UM ENFERMEIRO DE TOCA COLORIDA, FELIZ DA
VIDA, FALANDO COM CADA PACIENTE, INDEPENDENTE DE ESTAREM SEDADOS OU NÃO, SEU
NOME ERA DAVID E ELE DAVA O TOM E O ASTRAL DAQUELA EWUIPE. LÁ VEM A ALE, QUE ALE-
GRIA VER ELA CHEGANDO E QUE CONFORTO PODER TRANSMITIR PARA ELA TUDO QUE PASSA-
VA DE MANEIRA DIRETA. CONVERSAMOS, FICAMOS ABRAÇADOS E NOS OLHAMOS MUITO,
NUNCA PASSAMOS TANTO TEMPO SEPARADOS E NUNCA FICAMOS NA EMINÊNCIA DE TER
NOSSA HISTÓRIA INTERROMPIDA. LOGO VEIO UM PEDIDO PARA A ALE, DESEJAVA MUITO TO-
MAR UM GATORADE, CHEGUEI A SONHAR COM O SABOR E A COR DAQUELE LÍQUIDO.
ACABADA A VISITA, LOGO APARECE NO MEU LEITO A FISIOTERAPEUTA THAÍS, LEMBRAVA MUI-
TO MINHA PRIMA FERNANDA FISICAMENTE. PERCEBI SUA MOVIMENTAÇÃO DE FORMA DIFE-
RENTE, VIA UMA AÇÃO SOBRE OS PACIENTES, DE UMA FORMA EFETIVA. ELA CUMPRIMENTAVA
TODOS, LEITO POR LEITO, CONVERSAVA E OS COLOCAVA EM NOVAS POSIÇÕES, FAZIA EX-
ERCÍCIOS E POR VEZES COLOCAVA NA POLTRONA. TANTO OS SEDADOS COMO OS ENTUBADOS
E OS QUE ESTAVAM ACORDADOS, QUE NO CASO ERAM POUCOS.
BOM CHEGOU MINHA VEZ E DE CARA A THAÍS JÁ PROPÔS, VAMOS FICAR DE PÉ? EM UMA
FRAÇÃO DE SEGUNDOS TIVE MEDO, POIS SENTIA MEU CORPO QUASE SEM RESPOSTAS E AINDA
NÃO TINHA SAÍDO DA CAMA, MAS DE CARA TIVE MUITA CONFIANÇA. LOGO DE PRONTO, TOPEI
E JÁ DIZENDO PARA ELA, SE IA ME AJUDAR EU TOPAVA. COM MUITO ESFORÇO, FIQUEI DE PÉ,
AINDA SENTINDO TONTURA, FRAQUEZA NAS PERNAS E MEU CORAÇÃO QUASE EXPLODINDO
PELAS PULSAÇÕES, MAS CONFIANTE QUE PODIA E QUE QUERIA. NESSES MOMENTOS O MEDO
ERA SUBSTITUÍDO POR UMA FORÇA, SABIA QUE ERA DE DEUS E TAMBÉM LEMBRAVA DA MIN-
HA FAMÍLIA. PASSEI NO PRIMEIRO DESAFIO E A FORMA QUE A THAÍS INCENTIVAVA, AGUÇAVA
PARA VENCER E ANSIAR PELO PRÓXIMO DESAFIO. TINHA AGORA UMA NOVIDADE PARA CON-
TAR A ALE E CONSISTIA EM UM NOVO PROGRESSO.
CHEGOU A NOITE E UMA NOVA EQUIPE CHEGA, COM TODA SUA LOGÍSTICA E AGITAÇÃO. SENTI
QUE PRECISAVA EVACUAR, MAS AINDA ESTAVA NO SISTEMA DA FRALDA. PEDI A UM TÉCNICO
ME TROCAR E DE CARA ELE ME PERGUNTOU SE JÁ HAVIA USADO UMA COMADRE E COMO ERA
MELHOR PARA NÃO DAR ASSADURAS. NUNCA USEI, MAS JÁ DE CARA FALEI PARA ELE: - SE ME
ENSINAR POSSO USAR... REALMENTE NAS PEQUENAS COISAS MORAM AS ALEGRIAS, QUE BOM
SE LIBERTAR DAS FRALDAS E DAS ASSADURAS E PODER DE ALGUMA FORMA ESTAR MELHOR.
COM A DIETA BEM CALIBRADA, TUDO DEU CERTO E EVACUAVA UM DIA SIM OUTRO NÃO, TU-
DO DENTRO DA NORMALIDADE E AGORA DE UMA NOVA FORMA. GLÓRIAS A DEUS POR ESSES
ANJOS, QUE ESTÃO SEMPRE DISPOSTOS A NOS ATENDER E MELHORAR NOSSA CONDIÇÃO.
MEU VIZINHO DO LEITO A MINHA DIREITA SAIU DE ALTA E MAIS DO RÁPIDO REQUISITEI A ÚNI-
CA TV DA UTI. VIA A POSSIBILIDADE DE ME DISTRAIR E MANTER A MENTE ATIVA, ALÉM DE ME
ATUALIZAR ATRAVÉS DOS NOTICIÁRIOS. ERA NO MOMENTO O ÚNICO PACIENTE LÚCIDO NA
UTI E SEM SEDAÇÃO, POR ISSO ACABEI RECEBENDO A TV. SÓ PEGAVA A RECORD E PRECISAVA
ESTAR EM UM DETERMINADO LUGAR, RAPIDAMENTE APRENDI AS MANHAS DELA E QUE NÃO
TERIA CONTROLE REMOTO. ASSISTIA TV DURANTE O DIA TODO, VIA A TODA A PROGRAMAÇÃO
DA RECORD E LOGO ME INTEIRAVA DAS NOTÍCIAS. GANHAVA UMA ROTINA NOVAMENTE E
COMO ERA BOM REESTABELECER OS HORÁRIOS, PROGRAMAS E DE ALGUMA FORMA, NÃO ES-
TAR MAIS SUJEITO A DESORIENTAÇÃO, QUE ERA EMINENTE. DURANTE A FISIOTERAPIA COM A
MÁSCARA VNI, FOI UMA AJUDA PARA ME MANTER SOB CONTROLE, FAZENDO OS EXERCÍCIOS
RESPIRATÓRIOS.
NOVAMENTE ESTAVA NA HORA DA VISITA E A ALE VEM TRAZENDO UM MIMO, UMA GARRA-
FINHA DE GATORADE, ALÉM DE SUA PRESENÇA ME ILUMINAR E ME DAR MAIS FORÇA PARA
LUTAR ERA O MOMENTO MAIS ESPERADO POR MIM. CONTAVA AS HORAS ATRAVÉS DA TV E
DO RELÓGIO DE PAREDE QUE TINHA NA MINHA FRENTE. POR SINAL, ESSE RELÓGIO FOI UMA
AJUDA PARA QUE NÃO FICASSE PERDIDO E TAMBÉM UM SUPLÍCIO PARA O SETOR, POIS SABIA
A HORA DE TUDO E ESTAVA SEMPRE DE OLHO.
5 - O TEMPO PASSA E EU AINDA ESTOU AQUI
HOJE ACORDEI MELHOR, SEMPRE MELHOR DO QUE NO DIA ANTERIOR. ESTAVA ANSIOSO EM
SABER QUAL SERIA O NOVO DESAFIO QUE A THAÍS TRARIA. QUANDO ELA APARECEU, LOGO
VEIO ANIMADA E ME DEU UMA NOTÍCIA, QUE EU TOMARIA BANHO DE CHUVEIRO. NEM IM-
AGINAVA COMO SERIA ISSO. DAQUI A POUCO VEJO ELA CHEGAR COM A EDITE, COM UMA CA-
DEIRA DE RODAS, E UM RESPIRADOR PORTÁTIL TIPO "BIP BAP". MONTAMOS AQUELA PARA-
FERNALHA TODA, DEI OS MEUS PRIMEIROS PASSOS, DEPOIS SENTEI NA CADEIRA DE RODAS E
FUI ATÉ O BANHEIRO PARA TOMAR BANHO. LÁ SENTEI EM UMA CADEIRA DE PLÁSTICO JUNTO
COM O RESPIRADOR E CLARO COM A EDITE A POSTOS, ACONTECEU O BANHO. FOI MARAVIL-
HOSO VER QUE ERA POSSÍVEL E QUE SUPORTAVA. PARA MIM ESSE DIA FOI O MARCO E SE JÁ
ACREDITAVA NA FISIOTERAPIA, AGORA VIRAVA FÃ. SEM OS PROGRESSOS E TODO INCENTIVO
NÃO CONSEGUIRIA MUDAR MINHA CONDIÇÃO E SAIR DA CAMA. COM O PERÍODO QUE FIQUEI
ENTUBADO E SEDADO, HAVIA PERDIDO MUITO MÚSCULO, PRINCIPALMENTE POR CAUSA DOS
BLOQUEADORES MUSCULARES E O MEU CORPO JÁ SOFRIA POR ESSA PERDA. AGORA ERA COR-
RER CONTRA O TEMPO E RECUPERAR, ESSA ERA A PALAVRA DE ORDEM.
6 - FAZENDO AMIGOS
SEMPRE ACABO FAZENDO AMIGOS POR AONDE ANDO E NÃO SERIA DIFERENTE AQUI NA UTI.
QUANDO SE PASSA MUITO TEMPO EM UM LUGAR, VOCÊ ACABA FAZENDO PARTE DO LUGAR,
NÃO QUE EU QUISESSE PASSAR MAIS TEMPO NA UTI, MAS VOCÊ VAI SE RELACIONANDO COM
AS PESSOAS E NATURALMENTE SE CRIAM LAÇOS. OS TRAÇOS DA HUMANIDADE PODEM ROM-
PER A FRIEZA, MUITAS VEZES NECESSÁRIAS EM LUGARES ASSIM E DEIXAR TUDO MAIS LEVE
APESAR DE TUDO. MESMO VOCÊ ENCONTRANDO AS PESSOAS POR TURNOS É ENGRAÇADO
QUE VOCÊ SABE QUANDO ENCONTRARÁ ELAS DE NOVO E AONDE AS ENCON-
TRARÁ.&NBSP;<DIV>OS MÉDICOS INTENSIVISTAS SÃO SEMPRE MUITO ATENCIOSOS E ATIVOS
NA UTI. O DR. ANDRÉ SEMPRE ME DAVA CORDA E SEMPRE ME OBSERVAVA, PORQUE ELE ES-
CUTAVA MINHAS SOLICITAÇÕES E ANTES DE ACEITAR, AVALIAVA. SEMPRE SOLICITAVA MUITOS
EXAMES E CONSTANTEMENTE ANALISAVA VÁRIAS POSSIBILIDADES. TUDO PARECIA BEM, MAS
UM DIA O DR. ANDRÉ ME AVISOU QUE IRIA RETIRAR OS MEUS ACESSOS, POR CAUSA DAS IN-
FECÇÕES QUE ESTAVAM ACONTECENDO NA UTI. ERA BOM E RUIM AO MESMO TEMPO, FICA-
RIA MAIS LIVRE NAS MÃOS E NO FÊMUR, MAS EM COMPENSAÇÃO TERIA DE FAZER NOVO
ACESSO E A GASOMETRIA VOTARIA A SER NA AGULHA. ACABEI FICANDO SÓ COM O ACESSO
CENTRAL. OUTROS MÉDICOS QUE SEMPRE ME LEMBRO ERAM O DR. TALES, DR. MICHAEL E DR.
FÁBIO, CADA UM TINHA SUA CARACTERÍSTICA MAS A UNANIMIDADE ERA ME SEGURAR ATÉ
ESTAR 100%. SEMPRE JUNTOS DE EQUIPES FERAS DEMAIS. O DR. EDUARDO TAMBÉM FICOU
MARCADO PELA EXTREMA COMPETÊNCIA NAS DUAS ENTUBAÇÕES E COMO ESTAVA SEMPRE
DE OLHO EM TUDO. JÁ NOS CONHECÍAMOS MAS NUNCA HAVÍAMOS INTERAGIDO EM AM-
BIENTE HOSPITALAR, SABIA DE SUA CAPACIDADE E COMPETÊNCIA, SIMPLESMENTE CONFIEI E
COMO SEMPRE PEDI QUE DEUS O USASSE. PROSSEGUIA NAS FISIOTERAPIAS E PERCEBIA DIA A
DIA A MINHA EVOLUÇÃO. UM DIA AS CORTINAS ENTRE LEITOS FORAM ABERTAS E VI O MEU
VIZINHO DE LEITO, ERA O JOVINO. ELE PARECIA ESTAR MAIS DEBILITADO, NÃO RESPIRAVA TÃO
BEM E ERA TAMBÉM CASO DE COVID. ELE E OUTROS PACIENTES, PASSARIAM PELA TRAQUEOS-
TOMIA PARA MELHORAR A CONDIÇÃO RESPIRATÓRIA. UMA MANHÃ APARECEU O DR. GIOVANI
E VEZ A TRAQUEOSTOMIA DE VÁRIOS PACIENTES NO MESMO DIA. EU SÓ OLHAVA MEU MONI-
TOR PARA VER SE MEUS PADRÕES ESTAVAM ESTÁVEIS PARA NÃO TER DE PASSAR PELO PRO-
CEDIMENTO. JÁ ERA MUITA COISA ACONTECENDO PARA EU TER MAIS ISSO PARA ME PREOCU-
PAR. TUDO CORREU BEM E TUDO DEU CERTO AQUELA TARDE. MEU VIZINHO DE LEITO ESTAVA
AGORA COM A TRAQUEOSTOMIA E EM RECUPERAÇÃO E DEPOIS DISSO FAZÍAMOS MAIS CON-
TATO E DIVIDIAMOS A TV. ENGRAÇADO COMO UM SIMPLES CONTATO VISUAL COMEÇOU A
DESPERTAR UM SENTIMENTO DE CUIDADO. ESTAVA AGORA SEMPRE OBSERVANDO O JOVINO E
NOTAVA QUE QUANDO ELE NÃO SE SENTIA BEM, OLHAVA PARA MIM. IMAGINO QUE SE VOCÊ
NÃO FALA E TEM UM AMIGO QUE FALA NA UTI, ISSO DEVE TER MUITO VALOR. UMA VEZ MEU
VIZINHO TINHA SIDO COLOCADO NA POLTRONA, MAS POR MAIS QUE AS NOSSAS AMADAS FI-
SIOTERAPEUTAS QUEIRAM NOSSO PROGRESSO, COISAS SIMPLES SE TORNAM DIFÍCEIS EM
NOSSO ESTADO E A FALTA DA MUSCULATURA TORNA UMA SIMPLES POLTRONA EM UMA
"MÁQUINA DE TORTURA". NESSE DIA ELE ESTAVA A ALGUM TEMPO NA POLTRONA E NA COR-
RERIA DA UTI, NINGUÉM ESTAVA PRONTO PARA TIRAR ELE DALI, SÓ QUE ELE COMEÇAVA A
ESCORREGAR E A CÂNULA E TODA A PARAFERNALHA QUE ESTAVA LIGADA A ELE, PARECIA ES-
TAR SAINDO DO LUGAR. SÓ SEI QUE NA SEGUNDA OLHADA QUE ELE DEU, USEI MINHA VOZ
PARA CHAMAR AJUDA, QUE SUSTO. ASSIM COMECEI A ME SENTIR ÚTIL, MESMO EM UMA CA-
MA, MAS COM CERTA CUMPLICIDADE COM MEU VIZINHO DE LEITO. NOSSAS ESPOSAS SE EN-
CONTRAVAM SEMPRE ANTES DA VISITA, TROCARAM TELEFONE E JÁ SE COMUNICAVAM A RES-
PEITO DE TUDO QUE ACONTECIA. UM&NBSP;DIA O JOVINO APRENDEU A FECHAR O ORIFÍCIO
DA TRAQUEOSTOMIA PARA PODER FALAR E ADIVINHA A PÉROLA QUE ELE SOLTOU:&NBSP; "EU
QUERIA MESMO É TOMAR UMA CERVEJA..." FOI MUITO ESPONTÂNEO E ENGRAÇADO ALI DEN-
TRO OUVIR ALGO ASSIM, MUITO BOM, DEMOS UMAS BOAS RISADAS
ALGUMAS PESSOAS FORAM MARCANDO MINHA ESTADA LÁ NA UTI E EM CADA EQUIPE MINHA
INTERAÇÃO AUMENTAVA. DAVID ERA SEMPRE BEM ALEGRE, ALERTA, COM UM HUMOR IN-
VEJÁVEL, O ELDIS ERA OUTRA FIGURA QUE ME DIVERTIA, EDITE, MARIA, DIEZA, ELIANE, PEDRO,
ALEX, EDUARDO, JOSÉ, CLÁUDIA, ELEN, TANTOS NOMES QUE SEMPRE SERÃO LEMBRADOS POR
INÚMEROS JESTOS DE CUIDADOS E PROFISSIONALISMO QUE ME IMPACTARAM DE UMA FOR-
MA TÃO ESPECIAL QUE ME FAZIA OLHAR PARA O MOVER DE DEUS E COMO ELE USAVA AS PES-
SOAS. ERA UMA FORMA INCONTESTÁVEL DE VER UM DEUS QUE AMA E NUNCA NOS ABANDO-
NA. ERAM DETALHES QUE SEMPRE ME REMETIA E ME LEVAVA PARA A VERDADEIRA RAZÃO DE
TUDO. A ELE TODA GLÓRIA E O PODER!
CERTO DIA, ANTES DE ELE ENTRAR DE FÉRIAS, O TÉCNICO ELDIS FEZ UMA DE SUAS PROEZAS,
ENSINOU UMA PACIENTE QUE ESTAVA NA UTI A ASSOBIAR. NO COMEÇO FOI ENGRAÇADO MAS
IMAGINE QUANDO TODOS OS CHAMADOS PASSARAM A SER POR ASSOBIOS E A TODO MO-
MENTO. PODIA ESTAR ACONTECENDO A MAIOR DAS INTERCORRÊNCIAS, MAS O ASSOBIO NÃO
PARAVA. A EQUIPE FEZ ATÉ UM "AGRADECIMENTO ESPECIAL" A QUEM HAVIA ENSINADO A
PACIENTE A ASSOBIAR E VIROU UM CHAMADO ESPECIAL PARA ELE PRÓPRIO. GRAÇAS A DEUS A
PACIENTE TEVE ALTA E O ELDIS ENTROU DE FÉRIAS, TUDO ACALMOU DE NOVO.</DIV><DIV>AS
NOITES PODIAM SER DIFÍCEIS, QUANDO TINHAM COLETAS AS 3:00 HS DA MADRUGADA DE GA-
SOMETRIA. O EXAME ERA DOIDO, MAS AS VEZES TINHA UMA ENFERMEIRA QUE NÃO CONSE-
GUIA ACERTAR E FAZER A COLETA. ERAM AS VEZES TRÊS PUNÇÕES QUE RESULTAVAM EM NA-
DA E UM NOVA PUNÇÃO PELA MANHÃ NOVAMENTE. NÃO QUERIA RECLAMAR, MAS DOÍA
MUITO. COM A MEMÓRIA, FUI GRAVANDO O NOME DE TODOS, SUAS FUNÇÕES, O QUE MEL-
HOR FAZIAM E EM QUE TURNO PERTENCIAM. A DIEZA ERA A ENFERMEIRA CERTA PARA ESTA
PARTE, SEMPRE ACERTAVA E DE FORMA RÁPIDA E EFICIENTE. ISSO ME AJUDOU A NEGOCIAR
COM O MÉDICO O HORÁRIO DA COLETA, PARA FECHAR NO TURNO QUE TINHAM AS ENFER-
MEIRAS QUE TINHAM MAIS PRÁTICA E ÊXITO NO TEMÍVEL EXAME. SEM TER DE APONTAR E
CONSTRANGER ALGUÉM, CONSEGUI AJUSTAR E RESOLVER O PROBLEMA E BENDITA LUCIDEZ. A
CADA VISITA, TÍNHAMOS UM RESUMO MÉDICO DAS NOVAS POSSIBILIDADES QUE MEU QUA-
DRO E EXAMES IAM REVELANDO. OS DOUTORES SEMPRE SÉTICOS, CAUTELOSOS, MAS MUNI-
DOS DE DADOS E DE MUITA OBSERVAÇÃO. UMA CONVERSA QUE ESCUTEI UM DIA, TRATAVA
DA POSSÍVEL ALTA PARA OS TÃO SONHADO APARTAMENTO. ERA UM SONHO PODER ESTAR
FORA DA UTI E A MELHOR DE TODAS AS NOTÍCIAS, SERIA TER A MINHA ALE COMIGO, COMO
MINHA ACOMPANHANTE. PARA ISSO SE CONCRETIZAR ENTENDI QUE ALÉM DO ESTADO CLÍNI-
CO FAVORÁVEL, PRECISARIA DE UMA EVOLUÇÃO NA FISIOTERAPIA E ACIMA DE TUDO, QUE EU
TERIA DE DAR UM PASSO DE OUSADIA E FÉ. BOM, EM MOMENTOS ASSIM, SEMPRE LEMBRO DE
QUE NADA POSSO E QUE MINHA DEPENDÊNCIA DE DEUS É TOTAL E QUE SE TUDO ESTIVER
DENTRO DOS SEUS PROPÓSITOS, ACONTECERÁ. TINHA DE FAZER A MINHA PARTE, QUE SERIA
CRER, MANTER MINHA MENTE SÃ E LUTAR PARA EVOLUIR MEU QUADRO, COM TODOS OS RE-
CURSOS QUE ERAM DISPONIBILIZADOS E ME MANTER COLABORATIVO. COMEÇAVA A ENTEND-
ER QUE MINHA OPORTUNIDADE ERA ÚNICA E QUE ENTRE 10 CASOS COMO O MEU, APENAS 2
SOBREVIVIAM, ERA UM MILAGRE.
7 - ADEUS UTI E OBRIGADO POR TUDO
ESTAVA TUDO INDO BEM E DURANTE UMA TARDE O DR. TALES VEIO CONVERSAR COMIGO E
DE PRONTO JÁ ME DIZIA QUE EU ESTARIA DE ALTA DA UTI E QUE IRIA PARA A INTERNAÇÃO NO
APARTAMENTO. O CORAÇÃO DISPAROU PORQUE SABIA QUE LOGO ESTARIA JUNTO DA ALE E
QUE REALMENTE ESTAVA EVOLUINDO. A LOGÍSTICA É TÃO BOA QUE MAIS DO QUE RÁPIDO,
LOCALIZARAM E INFORMARAM MINHA ESPOSA E DEIXARAM TUDO PREPARADO. LÁ EM CASA
ESTAVAM A MIL, A ALE VEIO AINDA SEM TODAS AS COISAS QUE PRECISAVA PARA O HOSPITAL,
MAS O QUE IMPORTAVA ERA ESTARMOS JUNTOS. ELA CHEGOU E VIERAM ME BUSCAR DE CA-
DEIRA DE RODAS, PREPARARAM O CILINDRO PARA TRANSPORTE E FOMOS PARA MINHA NOVA
INSTALAÇÃO. NA PASSADA POR DENTRO DA UTI DEU TEMPO DE FALAR EM ALTO EM BOM
TOM, "VOCÊS SEMPRE MORARAM EM MEU CORAÇÃO!" DESPEDIDA COM GRATIDÃO, COISA
BOA DEMAIS.<DIV>CHEGAMOS NO APARTAMENTO, A EQUIPE DE LÁ ME RECEBEU E COMO
SEMPRE, SUPER ATENCIOSOS E PRESTATIVOS. MINHA ALEGRIA ERA ENORME, ESTAVA JUNTO
DA MINHA ALE E ME SENTIA MAIS SEGURO AGORA COM ELA. NUNCA FICAMOS TANTO TEMPO
SEPARADOS E SABIA O QUANTO ELA ME FARIA BEM ALÉM DE ME AJUDAR. SAUDADES É UM
NEGÓCIO MALUCO, CHEGA A DOER. NUM INSTANTE ELA ASSUMIU SEU POSTO DE ACOMPAN-
HANTE, ORGANIZOU O ARMÁRIO, CONVERSOU COM AS ENFERMEIRAS, JÁ PEDIU UMA CADEI-
RA PARA EU PODER TOMAR BANHO, ORGANIZOU A MANGUEIRA DE OXIGÊNIO PARA PODER IR
AO BANHEIRO. TUDO ORGANIZADO. ACABARAM MEUS PROBLEMAS DE REGULAR A CAMA, TER
DE ESPERAR O MOMENTO CERTO PARA PEDIR O PAPAGAIO, ENFIM TANTAS COISAS QUE COM
ELA SERIA MUITO MAIS FÁCIL. FALAMOS POR UM BOM TEMPO E DEPOIS DOS AVISOS DA EN-
FERMAGEM DO SETOR, QUE ELA NÃO PODERIA SAIR DO QUARTO PARA NADA O QUE PARECIA
RUIM, PARA NÓS ERA SÓ ALEGRIA.
A PRIMEIRA VEZ QUE FUI NO VASO SANITÁRIO DAVA VONTADE ATÉ DE CHORAR, COISAS SIM-
PLES SENDO RECUPERADAS E A LIBERDADE DE IR AO BANHEIRO SOZINHO. LEMBREI DE TANTO
TRABALHO QUE TIVE NESSA PARTE, EM ME ADAPTAR AO PROCESSO, A TER DE PEDIR PARA AS
PESSOAS PRATICAMENTE TUDO, SER LIMPO E HIGIENIZADO POR PESSOAS DESCONHECIDAS.
NUM DOS DELÍRIOS NA UTI SONHEI QUE IA NO BANHEIRO SOZINHO E CHEGAVA A PENSAR
COMO FARIA PARA DESLIGAR TUDO E IR, SÓ QUE LÁ ERA TEMPO DE COMADRE. O BANHO FOI
DEMAIS, USANDO A CADEIRA DE BANHO FOI TRANQUILO, A ALE NESTE COMEÇO FAZIA TODO
TRABALHO E ATÉ NO LEVANTAR DA CAMA E CADEIRA ERA TRACIONADO, DEIXANDO O CORPO
FIRME PARA QUE ELA ME PUXASSE. COMO CANSAVA ESSES PRIMEIROS BANHOS, JÁ USANDO O
CATÉTER NASAL, SEMPRE IA COM O OXIGÊNIO LIGADO E ME CONCENTRAVA EM RESPEITAR E
OBSERVAR MEUS SINAIS.</DIV><DIV>NO QUARTO TINHA MONITOR, PARECIDO COM O DA UTI
MAIS BEM MAIS SIMPLES, TAMBÉM NO DEDO MAIS SEM TODA AQUELE S SENSORES LIGADOS
EM MIM. O PROBLEMA ERA SE ADAPTAR AO ALARME QUANDO A SATURAÇÃO CAIA A UM CER-
TO LIMITE, A ALE PASSOU A NOITE DE OLHO NO MONITOR. TUDO ERA DIFERENTE, POIS A ES-
TRUTURA E MONITORAMENTO DA UTI SÃO BEM DETALHADOS E AGORA A GENTE TINHA DE
OLHAR. NA NOITE SEGUINTE A ENFERMEIRA NOS AVISOU QUE ESTAVA SENDO MONITORADO
NA CENTRAL E QUE PODIA DESLIGAR O ALARME SE QUISESSE. A NOITE FOI BEM MELHOR E
LOGO A ALE APRENDEU A REGULAR OS LIMITES PARA DO ALARME, DESLIGAR E REGULAR TU-
DO, MAS SEMPRE ESTAVA LIGADA. A ROTINA IA SE ORGANIZANDO, AS TAREFAS DO DIA A DIA,
AS VISITAS DAS TÉCNICAS E ENFERMEIRAS, O MÉDICO E OS FISIOTERAPEUTAS. UMA DAS IN-
FORMAÇÕES MAIS IMPORTANTE NESTA FASE FOI O DR. PAULO QUE TROUXE, PARA NÃO ME
BASEAR SOMENTE NOS NÚMEROS, MAS TER A PERCEPÇÃO DE COMO ESTAVA, SE ME SENTIA
BEM OU MAL MAS INDEPENDENTE DO FAMOSO NÚMERO DA SATURAÇÃO. ALGUMAS PESSOAS
PÓS COVID NÃO TEM OS MESMO PADRÕES DE UMA PESSOA NORMAL, AINDA MAIS EM RECU-
PERAÇÃO. ASSIM SEMPRE PENSAVA QUE PODIA MAIS, MESMO APARENTEMENTE COM OS
NÚMEROS BAIXOS, TENTAVA FAZER SEMPRE MAIS. NOTAVA MAIS TOLERÂNCIA NOS EX-
ERCÍCIOS, NO LEVANTAR E SENTAR. OUTRA COISA QUE COMECEI A ENTENDER É QUE NA SE-
GURANÇA, PRECISAVA REDUZIR O CONSUMO DE OXIGÊNIO, PORQUE NOSSO CORPO SE HABI-
TUA A RECEBER DE BANDEJA O OXIGÊNIO E PRECISAMOS DESMAMAR O CORPO DESSA FACILI-
DADE. ENTREI NO APARTAMENTO USANDO 6L/MIN. E A META DIÁRIA SERIA REDUZIR 1L POR
DIA ATÉ ZERARMOS EM CONJUNTO COM OS EXAMES E TER MINHA ALTA. O MÉDICO PROPÔS A
PRIMEIRA REDUÇÃO E DE CARA JÁ TOPEI. O CORPO SE ADAPTAVA COM A REDUÇÃO E DOIS
DIAS DEPOIS, ESTAVA NORMALIZADO. A GRANDE GUERRA CONFORME O MÉDICO EXPLICAVA
ERA CONTROLAR A ANSIEDADE E PERCEBER O MEU REAL ESTADO. MUITOS RELATOS VINHAM
DAS EQUIPES E DIZIAM COMO O MEDO ALIADO A ANSIEDADE PARALISAVA ALGUNS PA-
CIENTES. FICAVAM SEM PODER ALTERAR SEUS CONSUMOS DE OXIGÊNIO E POR CONSE-
QUÊNCIA, NÃO PERMITIAM SEUS ORGANISMOS REAGIREM.</DIV><DIV>NOSSOS DIAS IAM
PASSANDO E NOS DIVERTÍAMOS MUITO, NOSSO DIA INICIAVA COM UM PAPAGAIO AO AMAN-
HECER, DEPOIS ME AJEITAVA NA CAMA, A ALE TROCAVA DE ROUPA E JÁ LIGÁVAMOS A TV PA-
RA VER O NOTICIÁRIO ENQUANTO NÃO CHEGAVA O CAFÉ. UM MACETE QUE PERCEBEMOS É
QUE QUANDO NOS ATRASÁVAMOS, NOS PREPAROS, AS PRIMEIRAS MEDIÇÕES DA EQUIPE QUE
ASSUMIA O TURNO, VINHA ALTERADA PELA MINHA MOVIMENTAÇÃO. CHEGAVA O CAFÉ, A
GENTE COMIA E DEPOIS JÁ COMEÇAVA A QUERER SAIR DA CAMA. ERA TÃO BOM, QUE FUI NO-
TANDO MINHA DISPOSIÇÃO MUDANDO A CADA DIA. SEGUINDO A ROTINA, APARECIA O MÉDI-
CO E LOGO DEPOIS VINHA A FISIOTERAPIA PARA FAZERMOS OS EXERCÍCIOS. AGORA A ESPERA
JÁ ERA PARA O ALMOÇO, QUE CHEGAVA ÀS 11:00HS, COMIAMOS E GERALMENTE TÍNHAMOS
UM TEMPO PARA UMA SONECA APÓS O ALMOÇO. ERA MUITO BOM ESSE MOMENTO E UM
SONO QUE NOS DERRUBAVA. ACORDÁVAMOS ANTES DAS 14:00 E LOGO JÁ VINHA O CAFÉ DA
TARDE. FICÁVAMOS ASSISTINDO SESSÃO DA TARDE OU QUALQUER PROGRAMA DE TV, MAS
SEMPRE CONVERSANDO MUITO, SOBRE TUDO, TIRANDO O ATRASO E TRANSFORMANDO ESSE
TEMPO EM UM TEMPO BOM, DE RECUPERAÇÃO, DE RESTAURAÇÃO. FECHANDO O DIA, VINHA
O JANTAR AS 17:00H, DEPOIS LÁ PELAS 19:00HS O BANHO E DEPOIS CHEGAVA A CEIA E NOS
PREPARAVANOS PARA DORMIR.</DIV><DIV>TUDO CAMINHAVA E NOS MANTÍNHAMOS BEM
SEGUINDO OS PROTOCOLOS DO HOSPITAL MAS TAMBÉM MANTENDO NOSSA ROTINA DE CAS-
AL, COMO SE ESTIVÉSSEMOS EM UM HOTEL DE FÉRIAS. ABSTRAIAMOS O LUGAR E CHEGÁVA-
MOS A SONHAR COM O MOMENTO QUE ESTARÍAMOS EM CASA NOVAMENTE. PARA CONSTA-
TAR A EVOLUÇÃO, PRECISAMOS SEMPRE DOS EXAMES E COMO SEMPRE, LÁ VEM A GASOME-
TRIA. ERA O NÚMERO MAIS ESPERADO QUE COMPROVARIA UMA MUDANÇA NO PERCENTUAL
DE OXIGÊNIO NO SANGUE E DARIA O REAL AVAL PARA AS REDUÇÕES PROGRESSIVAS DO
OXIGÊNIO NO CATÉTER E UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL PARA A TÃO SONHADA ALTA. COMEÇA-
VA O DRAMA MAS DE CARA, UMA ENFERMEIRA CHAMADA ELEN, FEZ A COLETA COM UMA HA-
BILIDADE E PREVISÃO INCRÍVEIS E TUDO DEU CERTO. OS EXAMES REGISTRARAM PROGRESSO E
UMA MELHORA, SAÍ DE UM PADRÃO DE 32% PARA 88%. ERA UMA PRIMEIRA MELHORA MAIS
AINDA FALTAVA E ISSO SIGNIFICAVA QUE TERIA NOVOS EXAMES PELA FRENTE. NOSSA RETA-
GUARDA ERA MUITO FORTE, FOMOS SUSTENTADOS EM ORAÇÃO POR MUITAS PESSOAS QUE
SE LEVANTARAM PELA NOSSA VIDA, PELA NOSSA CAUSA E PELA NOSSA CASA. NOSSOS FILHOS,
EU DIGO FILHOS PORQUE NOSSA NORA FOI INCORPORADA A FAMÍLIA DE UMA FORMA TÃO
ESPECIAL QUE ELA É COMO UMA FILHA PARA NÓS. ELES SE DESDOBRAVAM PARA MANTER E
CUIDAR DE NOSSA CASA, NOS ABASTECER COM PEQUENOS MIMOS E NECESSIDADES E AS VEZ-
ES ATÉ UNS PEQUENOS CONTRABANDOS DE BESTEIRAS. COM O TEMPO DE RESTRIÇÃO VOCÊ
VAI TENDO DESEJO DE COMER COISAS DIFERENTES E POR MAIS QUE A COMIDA FOSSE ÓTIMA,
SEMPRE QUERÍAMOS UM BISCOITO DIFERENTE, OU ALGUMA COISA QUE LEMBRASSE NOSSO
LAR. O BOM QUE A NUTRICIONISTA TATI, ASSIM QUE A CONHECIA, ERA UMA PROFISSIONAL
EXEMPLAR E FAZIA TUDO PARA ME OFERECER UMA DIETA AGRADÁVEL E FUNCIONAL. SEMPRE
TINHA ÁGUA DE CÔCO E OS IOGURTES SEM LACTOSE ERAM UMA EXPLOSÃO DE SABORES PARA
ESSE TEMPO. ALÉM DESSES CUIDADOS, TOMAVA VITAMINAS COM SUPLEMENTO E AINDA UMA
PROTEÍNA SOLÚVEL PARA APÓS OS EXERCÍCIOS. JÁ ATINGIA 1L/MIN. DE OXIGÊNIO E PERCEBIA
QUE ESTAVA QUASE ZERANDO. ERAM OS SINAIS DO PROGRESSO, APESAR DE AINDA DESSATU-
RAR COM ESFORÇOS, MINHA RECUPERAÇÃO ERA MAIS RÁPIDA, TOLERAVA MELHOR OS EX-
ERCÍCIOS E NÃO PARAVA MAIS NA CAMA. AGORA COMEÇAVA A SER COGITADA MINHA ALTA E
MAL PODÍAMOS NOS CONTER DE TANTA ALEGRIA. PRECISAVA FAZER AGORA O TESTE DE GA-
SOMETRIA, MAS FICANDO UM TEMPO SEM OXIGÊNIO. ERA UM NOVO DESAFIO E EU ESTAVA
PRONTO PARA ENCARAR ESSE NOVO PARÂMETRO E FAZER UM GRANDE TIRA TEIMA.
8 - MINHA DESPEDIDA DO HOSPITAL