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CAMPINAS
2017
SHIRLEY ALEXANDRA GARCIA RUANO
...............................................................
ASSINATURA DO ORIENTADOR
CAMPINAS
2017
Agência(s) de fomento e no (s) de processo(s): Não se aplica.
ORCID: http://orcid.org/http://orcid.org/00
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura
Luciana Peitrosanto Milla - CRB 8/8129
Título em outro idioma: Residual stress evaluation of 7050 aluminum FSW welds using
acoustoelasticity
Palavras-chave em inglês:
Non-destructive testing
Ultrasonic waves
Residual stresses
Friction stir welding
Aluminum alloys
Área de concentração: Mecânica dos Sólidos e Projeto Mecânico
Titulação: Mestra em Engenharia Mecânica
Banca examinadora:
Auteliano Antunes dos Santos Junior [Orientador]
Freddy Armando Franco Grijalba
Raquel Gonçalves
Data da defesa: 10-02-2017
Programa de Pós-Graduação: Engenharia Mecânica
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA
COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA
DEPARTAMENTO DE SISTEMAS INTEGRADOS
A David e a Leila, que formam a família que sempre quis ter. Eles fazem um verdadeiro lar
aonde quer que eu esteja.
Ao Eng. Miguel Villacrés, quem me iniciou na área dos Ensaios Não Destrutivos.
Agradeço a Deus pela vida, saúde e força para realizar todos os meus objetivos.
A minha família pelo amor e apoio incondicional, especialmente aos meus pais e a minha irmã.
A meu esposo David por ser o meu maior suporte. Obrigada por fazer parte da minha vida
superando qualquer dificuldade e por compartilhar esse sucesso comigo.
Ao Professor Dr. Auteliano Antunes dos Santos Junior, pela orientação neste trabalho, pela
paciência e confiança depositada em mim.
Aos colegas equatorianos na UNICAMP, obrigada pela amizade durante esse tempo de estudo.
Ru Paul
Resumo
Palavras-chave: métodos não destrutivos, método ultrassônico, ondas LCR , medição de tensão,
tensão residual, Friction Stir Welding, liga de alumínio.
Abstract
The 7050-T7451 aluminum alloy has been widely used in the fabrication of aircraft
structural components due to its low weight and high mechanical strength. The chemical
composition and the formation process of this alloy confer it a high level of mechanical
properties. By the other hand, these properties can be affected by manufacturing processes
which involve heat, because the structural transformation mechanisms employed are sensitive
to the temperature variation. Therefore, introducing a conventional welding process that
involves high temperature gradients could be almost impossible in these alloys. Nowadays, the
solid state welding process Friction Stir Welding (FSW), has been shown to be a technological
alternative to achieve welded joints of apparently non-weldable alloys. In order to evaluate
this process, the knowledge of the magnitude and distribution of residual stresses in the weld
is important. Since residual stresses may become high enough to cause serious distortions
in aircraft components, the determination of the residual stresses produced by the welding
process is indispensable to evaluate the behavior and durability of the friction-stir welding of
7050-T7451 aluminum. The present work attempts to determine the profile of longitudinal
residual stresses of plates welded by the FSW process using the ultrasonic method through
critically refracted longitudinal waves (LCR ). The stress measurement using ultrasound is based
on the relation of ultrasonic wave velocity variation with the change of the stresses patterns
in the material. This relationship is known as acustoelastic effect. The wave velocity variation
is obtained by measuring the time-of-flight (TOF) within the material. In the experiments,
were used LCR ultrasonic waves produced at two frequencies: 3,5 MHz and 5 MHz. The
measurements were made in the longitudinal direction of the weld at different distances from
the center line of the weld. The temperature influence on the result of the measurement and the
determination method of the time-of-flight were also evaluated. The results allowed to obtain
a residual stress profile consistent with the literature, showing a traction zone in the welded
region and a decrease of stress values tending to zero at the far ends of the weld.
Abreviações
Lista de Ilustrações
Lista de Tabelas
Sumário
1 INTRODUÇÃO 21
1.1 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.2 Descrição do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2 CONCEITOS BÁSICOS 25
2.1 Alumínio e suas ligas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.1.1 Classificação das ligas de alumínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.1.2 Tratamentos térmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Endurecimento por precipitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Classificação dos Tratamentos Térmicos . . . . . . . . . . . . . . 29
2.1.3 Liga de Alumínio 7050-T7451 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.1.4 Soldabilidade das ligas de alumínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2 Soldagem por fricção-mistura (Friction Stir Welding - FSW) . . . . . . . . . . 33
2.2.1 Descrição do processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.2.2 Parâmetros do processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.2.3 Metalurgia da solda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.3 Tensão Residual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.3.1 Tensões residuais em soldas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.3.2 Métodos de Medição de Tensões Residuais . . . . . . . . . . . . . . . 46
Métodos destrutivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Métodos não-destrutivos (Non-destructive testing - NDT) . . . . . 48
Difração de Raios-x . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Difração de Nêutrons . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Métodos magnéticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Métodos óticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.4 Método ultrassônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.4.1 Teoria das ondas ultrassônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Propriedades e tipos de onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Incidência da onda ultrassônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Onda LCR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.4.2 Teoria acustoelástica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Elasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Determinação de tensões através de ondas mecânicas . . . . . . . 58
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 63
4 MATERIAIS E MÉTODOS 73
4.1 Corpo de prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.2 Processo de soldagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.3 Equipamentos de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.3.1 Transdutores e cunhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Ângulo de incidência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Profundidade de penetração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Equipamento para geração e recepção de ondas LCR . . . . . . . . 79
4.3.2 Gerador e receptor de pulsos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.3.3 Monitoramento de temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
4.4 Sistema de adquisição de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.4.1 Determinação do tempo de percurso TOF . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.4.2 Programa para adquisição de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4.5 Procedimentos experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.5.1 Experimentos preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Influência da temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Verificações do programa de adquisição de dados . . . . . . . . . 88
4.5.2 Avaliação da soldagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
4.5.3 Determinação da tensão residual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
4.5.4 Parâmetros considerados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Metodologia de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 91
5.1 Sensibilidade da técnica de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
5.2 Influência da temperatura na velocidade de propagação das ondas LCR . . . . . 92
5.3 Verificação do controle de osciloscópio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
5.4 Avaliação da soldagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
5.4.1 Metalografias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
5.4.2 Ensaio de dureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
5.5 Determinação do perfil de tensões residuais para soldas FSW em Alumínio
7050-T7451 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
5.5.1 Resultados obtidos com frequência de 3,5 MHz . . . . . . . . . . . . . 103
Resultados obtidos com frequência de 5 MHz . . . . . . . . . . . 107
5.5.2 Comparações e discussões dos resultados . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Referências 119
21
1 INTRODUÇÃO
Dentre as ligas de alumínio, a liga 7050-T7451 tem aplicação nos componentes estruturais
das aeronaves tais como: longarinas e reforçadores das asas, trem de pouse e estabilizadores. As
ligas da serie 7xxx, endurecidas por precipitação, apresentam alguns problemas metalúrgicos
de soldabilidade como a perda de resistência mecânica, formação de porosidade e formação de
trincas a alta temperatura (principalmente de solidificação). Essas dificuldades fazem que os
processos de soldagem convencionais (por fusão) sejam praticamente inviáveis para aplicações
aeronáuticas, e consequentemente o processo FSW torna-se uma opção atraente. Na crescente
aplicação do FSW na indústria, a determinação das propriedades mecânicas e distorções nas
juntas soldadas para avaliar a qualidade da soldagem tem sido objeto de diversas pesquisas.
A medição de tensões residuais não pode ser feita de forma direta, o que a torna
particularmente difícil. As técnicas tradicionais de medição experimental de tensões em geral
se baseiam na mudança de determinadas propriedades antes e depois da aplicação de um
22
carregamento e, portanto, não podem perceber as tensões residuais. Nas últimas décadas,
diversas técnicas de medição têm sido testadas para a avaliação das tensões residuais, as quais
podem ser classificadas em métodos destrutivos, baseados na relaxação da tensão mecânica,
e métodos não-destrutivos (non-destructive testing NDT), que relacionam diversos parâmetros
físicos ou cristalográficos do material com o estado de tensões internas. Uma das referencias
conceituais mais utilizadas na medição de tensões residuais é o Handbook of Measurement of
Residual Stresses (Lu, 1996), que fornece a base teórica e experimental das principais técnicas:
furo-cego, remoção de camadas, seccionamento, difração de raios-x, difração de nêutrons,
técnicas de ultrassom e técnicas magnéticas.
Métodos não-destrutivos geralmente oferecem uma avaliação rápida, simples e barata, que
pode ser feita sem interferir na utilização dos componentes. Embora a maior aplicação destes
métodos centre-se na detecção de falhas, seu uso na caracterização de propriedades físicas e
mecânicas nos materiais vem avançando significativamente. Dentre os métodos não-destrutivos
utilizados na medição de tensões residuais, a técnica de difração raios-x tem sido amplamente
empregada, mas é limitada pela profundidade de avaliação que apenas alcança dezenas de
micrômetros. A difração de nêutrons requer um equipamento caro e sofisticado, o que limita
a sua aplicação ao campo. Técnicas magnéticas e fotoelásticas ainda estão sendo testadas e
possuem aplicação limitada. O método ultrassônico baseia-se na indução de ondas mecânicas e
o registo da variação da velocidade de propagação das ondas devido à presença de tensões no
meio.
velocidade das ondas no interior dos materiais é função de outras características como a textura,
tamanho de grão ou inclusões, e a sua variação pode sofrer influência da temperatura do meio.
Separar o efeito das características do material do estado de tensões internas na variação da
velocidade de propagação da onda é uma das principais dificuldades do método ainda por ser
resolvido.
Egle e Bray (1976) testaram a sensibilidade à tensão dos diferentes tipos de ondas
ultrassônicas e mostraram que a onda que se propaga na direção paralela e logo abaixo
da superfície, conhecida como onda longitudinal criticamente refratada (LCR ), tem maior
sensibilidade. Desde então, a onda LCR tem sido amplamente testada na medição de tensões
residuais. Esse tipo de onda será utilizada neste trabalho.
1.1 Objetivos
Comprovando-se a efetividade do método, tal técnica pode ser desenvolvida para ser
empregada como uma das ferramentas para a avaliação da qualidade das juntas soldadas,
permitindo também a ampliação da gama de aplicações deste processo de soldagem.
24
O capítulo 3 apresenta uma revisão bibliográfica que aborda uma breve compilação dos
estudos referentes à acustoelasticidade e ao método ultrassônico utilizando esse efeito. Esse
capítulo inclui também uma revisão de trabalhos focados na avaliação do processo de soldagem
FSW aplicado às ligas de alumínio. Destacam-se alguns estudos referentes à determinação de
tensões residuais na soldagem aplicando diferentes técnicas, incluindo a aplicação das ondas
LCR . No capítulo 4 é apresentada a metodologia para a realização dos experimentos, descrição
do corpo de prova, parâmetros de soldagem e equipamentos utilizados.
2 CONCEITOS BÁSICOS
Desde o final da década de 1920, quando o primeiro avião comercial foi fabricado, o
alumínio vem marcando presença na configuração das aeronaves. Sua aplicação tem aumentado
quase de forma exponencial, sendo atualmente o material mais importante no setor aeronáutico
e aerospacial. O surgimento de novos materiais não metálicos e que oferecem menor custo
ou outras vantagens competitivas obriga aos fabricantes de alumínio a continuar inovando para
oferecer aos clientes materiais superiores com propriedades únicas. A indústria do alumínio está
explorando novas tecnologias para reduzir os custos de produção e tem investido em pesquisas
26
para o desenvolvimento de ligas que permitam ao metal continuar na liderança como material
principal para indústria aeronáutica e aerospacial.
Para ligas trabalháveis, é usado um sistema de quatro dígitos para produzir uma lista de
famílias de composições da seguinte maneira (ASM International, 1990):
2xxx Ligas nas quais o cobre é o principal elemento ligante, além de outros elementos,
como o magnésio principalmente. As ligas da série 2xxx são comumente usadas em
aplicações aeronáuticas.
3xxx Ligas nas quais o manganês é o principal elemento ligante. Ligas de uso geral para
aplicações arquitetônicas e vários produtos.
4xxx Ligas nas quais o silício é o principal elemento ligante. Usado em varetas de solda e
folha de brasagem.
5xxx Ligas nas quais o magnésio é o principal elemento ligante. Usado em cascos de barcos,
pranchas e outros produtos expostos a ambientes marítimos
6xxx Ligas nas quais o magnésio e o silício são os principais elementos ligantes. Usadas
geralmente para extrusão.
7xxx Ligas nas quais o zinco é o principal elemento ligante, outros elementos como
cobre, magnésio, cromo e zircônio podem ser especificados. Usados em estruturas
aeronáuticas e outras aplicações de alta resistência.
8xxx Ligas que incluem algumas composições com estanho e lítio, caracterizando
composições diversas.
Tanto para as ligas trabalháveis como para as ligas fundidas, uma diferenciação adicional
para cada categoria está baseada no mecanismo primário de desenvolvimento de propriedades.
Algumas ligas são endurecidas mediante tratamentos térmicos baseados em solubilidades
das fases como: solubilização, têmpera e precipitação ou envelhecimento. Essas ligas são
denominadas ligas de alumínio tratáveis termicamente, usualmente as ligas da série 2xxx, 6xxx
e 7xxx correspondem a esse grupo.
Para uma liga susceptível a ser endurecida por precipitação, a condição de solução sólida
supersaturada encontra-se em um estado de alta energia relativamente instável, pelo qual a liga
28
F: Como fabricado.
O: Recozido.
T: Termicamente tratado.
“T” aplica-se aos produtos que são termicamente tratados, com ou sem deformação
suplementar, para produzir têmperas estáveis. A letra T é sempre seguida por um numeral de 1
a 10, cada um indicando uma sequencia especifica de tratamentos básicos a seguir:
Outras cifras diferentes de zero podem ser adicionados para indicar uma variação de
tratamento que altere significativamente as propriedades do produto (Conserva e outros, 1992).
solução sólida após tais tratamentos (ASM International, 1991). Por essa razão, a maioria de
ligas comerciais termicamente tratáveis são aliviadas mediante estiramento.
Os principais elementos de liga para as ligas de alumínio da série 7xxx são zinco,
magnésio e cobre. O zinco e o magnésio são combinados para formar um composto
intermetálico MgZn2 , que é o precipitado básico para aumentar a dureza da liga após o
tratamento térmico. A solubilidade relativamente elevada do zinco e do magnésio na matriz
de alumínio permite obter uma alta densidade de precipitados e consequentemente produzir
grandes aumentos de dureza.
A liga 7050 é utilizada em partes estruturais de aeronaves por apresentar alta tenacidade
à fratura, alta resistência à fadiga, excelente resistência à corrosão por esfoliação e à corrosão
31
sob tensão (Staley e Hunt Jr, 1998). Algumas aplicações típicas da serie 7xxx nas aeronaves são
apresentadas na Figura 2.2.
Figura 2.2: Aplicações das principais ligas de alumínio nas estruturas aeronáuticas padrão
(Rosato Jr, 2003).
.
Figura 2.3: Comparativo das ligas de alumínio soldáveis. Adaptado de (Rosato Jr, 2003)
Algumas ligas são também sensíveis à fissuração por corrosão sob tensão. A fissuração
na solidificação é favorecida pela presença de certos elementos de liga como Si, Cu e Mg. No
caso das ligas 5xxx ou 7xxx, os precipitados de limite de grão são observados como anódicos
relativamente às suas zonas adjacentes livres de precipitados. Assim, quando expostos a um
electrólito, os precipitados de limite de grão irão corroer.
Na soldagem por fusão, as ligas da série 7xxx são mais fracas na zona fundida. Vários
esforços têm sido gastos a fim de resolver o problema. Atualmente, modelos de dissolução e
crescimento de precipitados na zona afetada pelo calor permitem a previsão e otimização do
comportamento mecânico. Além disso, o desenvolvimento de novos procedimentos e processos
de soldagem, tem trazido significativas melhoras na aplicação da soldagem para ligas de
alumínio.
O processo de soldagem por fricção, Friction Stir Welding (FSW), foi desenvolvido e
patenteado em 1991 pela TWI The Welding Institute, na Inglaterra. Desde sua invenção, o
processo vem sendo amplamente estudado em centros de pesquisa do mundo e já é utilizado em
muitas companhias mundiais, principalmente para junção de ligas de alumínio (Kallee, 2002).
de substituição do processo de rebitagem. Estudos recentes revelam que essa nova técnica de
junção no estado sólido possui os melhores valores de vida em fadiga de junção (John e outros,
2003), tornando o processo ainda mais atrativo aos projetos aeronáuticos que necessitam de
elevada resistência estrutural, alta durabilidade em fadiga e baixo peso.
Nesse processo, uma ferramenta não consumível gira rapidamente entre duas chapas
posicionadas topo a topo fazendo com que o material de ambas chapas seja misturado,
destruindo a interface de separação entre elas e consolidando a união (Fig. 2.4). As chapas
a serem soldadas devem ser fixadas de forma que não se separarem durante a realização do
processo.
para trás, enquanto aplica-se uma força intensa que consolida o material de solda. A soldagem
é ainda ajudada pela severa deformação plástica no estado sólido, envolvendo recristalização
dinâmica do material base (Cerveira, 2008). A sequencia pode ser observada esquematicamente
na Figura 2.5.
Figura 2.5: Etapas do processo de solda por FSW (Rosato Jr, 2003).
A ferramenta possui uma região plana que gera o atrito na superfície externa da junta
conhecida como ombro, e um pino (usualmente rosqueado). Na Figura 2.6 é possível notar as
superfícies do ombro e do pino da ferramenta para FSW. O comprimento do pino utilizado
no processo é normalmente um pouco menor do que a espessura da superfície a ser soldada, de
forma a garantir que a base da ferramenta fique em constante contato com a região a ser soldada.
Figura 2.6: Protótipo de ferramenta para o processo de solda por FSW em junção de uma placa
de 75 mm de AA6082. Adaptado de (Nicholas e Kallee, 2000)
vertical chamado de ângulo de inclinação (tilt angle) conforme pode ser visto na Figura 2.7.
Figura 2.7: Posição da ferramenta no processo de solda por FSW. Adaptado de (Cao e Kou,
2005).
1. Metal de solda (nugget): é a zona de recristalização dinâmica, onde está o material mais
deformado durante o processo. Sofre severa deformação plástica e recebe intenso fluxo de
calor. A região presenta grãos finos usualmente equiaxiais, de tamanho 10 vezes menor
aos grãos do material base.
Figura 2.9: Zonas típicas do processo de soldagem Friction Stir Welding–FSW. Adaptado de
(Mishra e outros, 1999).
39
Uma maneira de distinguir a largura das diferentes zonas é pela medição de dureza. Na
Figura 2.10 pode-se observar a distribuição de dureza em relação a distância ao centro da
ferramenta que coincide com a região do nugget.
Figura 2.10: Perfil de microdureza da seção transversal de uma junta de topo Friction Stir
Welding com as suas respectivas microestruturas típicas indicadas. (Rosato Jr, 2003).
As tensões residuais são definidas como tensões que existem em um corpo elástico mesmo
na ausência de solicitações externas mecânicas e/ou térmicas. O estado de tensões residuais em
um corpo é auto-equilibrante, ou seja, as resultantes de todas as forças e momentos resultantes
dessas tensões são zero. No entanto, as tensões residuais não podem de modo algum ser
desprezadas, pois elas se somam às tensões aplicadas externamente. Por exemplo, se as tensões
residuais são compressivas e a tensão aplicada for trativa, a tensão resultante será diminuída
na superfície. Pelo contrario, se o carregamento aplicado for compressivo, este será aumentado
pela presença das tensões residuais compressivas (Fig. 2.11).
Figura 2.12: Representação esquemática da Tensão Residual como um desajuste entre diferentes
regiões sobre diferentes condições de processamento termomecânico. Adaptado de (Withers e
Bhadeshia, 2001).
As tensões residuais podem ser agrupadas em função da extensão de material na qual elas
agem. Assim, pode-se citar três tipos (Dieter e Bacon, 1986):
Figura 2.13: (a) Componente submetido a trabalho a frio, (b) distribuição das tensões residuais.
Adaptado de (Lu, 1996).
A remoção completa das tensões residuais pode não ser possível. No entanto, seguindo
as técnicas de fabricação adequadas, podem ser diminuídas em grande medida. Assim, o
conhecimento dos fatores que influenciam o estado das tensões residuais é muito importante
para o seu manejo.
Na soldagem por fusão, começando no estado livre de tensões da poça, tensões de tração
são formadas durante o resfriamento as quais atingem limite de elasticidade em função da
temperatura do material. Consequentemente, essas tensões permanecem no cordão da solda
após o final do processo. Se a quantidade de contração restrita é suficientemente alta, as tensões
podem atingir o limite de escoamento do material na zona fundida. As regiões que estão a
uma certa distância do cordão de solda e não foram fundidas durante o processo de soldagem
também sofrem deformações térmicas restringidas durante o período de resfriamento o que gera
também tensões residuais internas. Por razões de equilíbrio, as tensões residuais longitudinais
mudam de sinal ao longo da largura da chapa, resultando em uma distribuição não uniforme de
tensões residuais longitudinais (Fig. 2.14).
Como consequência das tensões longitudinais não uniformes, a contração não homogênea
43
também resulta no sentido transversal da solda. Uma vez que a contração não homogênea
significa também impedimento de contração, tensões residuais aparecem também no sentido
transversal mesmo se não há forças externas para impedir a deformação no sentido transversal.
As magnitudes da tensão residual na direção transversal atingem apenas um terço dos valores
das tensões na direção longitudinal.
Por outro lado, o sinal algébrico e a magnitude das tensões residuais na zona fundida e na
zona termicamente afetada, dependerá também da temperatura de transformação determinada
pelo diagrama tempo-temperatura-transformação dos materiais e da velocidade de resfriamento.
O diagrama esquematizado na Figura 2.15 mostra a influência do aumento crescente do
aporte térmico (heat imput) na distribuição de tensões residuais transversais ao longo de uma
linha perpendicular ao cordão de solda. Aportes térmicos baixos (curva 3), levam a uma
diminuição das tensões residuais de tração e de compressão, resultando em uma distribuição
de tensões residuais tipo “W”. No caso de aporte térmico elevado (curva 1), pode-se esperar
uma distribuição com tensões de compressão na zona termicamente afetada e tensões de tração
elevadas em todo o cordão de soldadura, como resultado do resfriamento até temperatura
ambiente.
44
Figura 2.16: Distribuição típica de tensões residuais longitudinais devido à soldagem para (a)
aço e (b) alumínio. (Mackenzie e Totten, 2003).
45
Algumas ligas de alumínio da série 7XXX soldadas por FSW têm sido submetidas a
estudos de tensão residual, devido a sua ampla utilização nas indústrias aeroespacial, militar,
marítima, automobilística e da construção. As tensões residuais de tração e compressão mais
elevadas descritas nos estudos referentes à soldagem de ligas de alumínio pertencem às ligas da
série 7xxx (Kumar e outros, 2013). As tensões longitudinais de tração variam de 18% (Buffa
e outros, 2008) a 50% (K. Lemmen e outros, 2010) do limite de escoamento do material
base à temperatura ambiente. No metal de solda nugget, os valores maiores correspondem as
tensões residuais de tração longitudinais, valores tão altos quanto 38% (K. Lemmen e outros,
2010) do limite de escoamento do material base à temperatura ambiente foram relatados em
pesquisas anteriores. O perfil de distribuição de tensões residuais foi semelhante àquele descrito
na literatura.
46
Existem vários métodos e técnicas propostas para a medição de tensões residuais, mas
apenas alguns podem ser aplicados na prática dependo do tipo de componente. A medição de
tensão residual não pode ser feita de maneira direta, precisa-se relacionar a variação de tensões
internas no material com a mudança de certas propriedades físicas susceptíveis a medição. De
forma geral, existem duas formas de obter o valor das tensões residuais:
Métodos destrutivos
Tabela 2.1: Comparação entre as principais técnicas de medição de tensões residuais. Adaptado
de (Lu, 1996)
Tipo de Tipo I Tipo I Tipo I Tipo I, tipo II ou Tipo I e tipo II Tipo I + tipo II +
tensão tipo III tipo III
residual
detectada
Porção 0,5 mm2 1000 mm2 se 100 mm2 0,5 mm2 4 mm2 De 0,1 mm2 ,para
mínima de for medida a técnica com
material deflexão e frequências
analisado 100 mm2 , se altas e 30 mm2 ,
for medida para a técnica
deformação convencional
Custo do 10 mil à 50 mil 1000 15000 100 mil a 200 mil Algumas 40 mil a 200 mil
equipamento centenas de
(US$) milhões
Incerteza ±20 MPa ±30 MPa ±10 MPa ±20 MPa ±30 MPa 10 a 20 MPa
em situações
normais
Difração de Raios-x
A medição de tensão residual por difração de raios-x (DRX) se baseia na alteração das
distâncias interplanares do material cristalino, medidas pela posição angular dos feixes de
raios-x difratados. A tensão atuante no elemento que causa essa alteração, pode ser calculada a
partir da medição de deformação do cristal utilizando as constantes elásticas (Cullity, 1978).
Figura 2.18: (a) Distâncias interplanares de grãos com diferentes orientações (a) de um corpo
isento de tensões, (b) de um corpo sobre um campo de tensões. (François e outros, 1996).
ondas espalhadas que interferem construtivamente entre si podem ser somadas quando a
condição de Bragg (Eq. 2.1) for alcançada:
2dsinϕ = nλ (2.1)
Figura 2.19: Porção de material na qual incide o feixe de raios-x, destacando-se o cone de
difração. (Soares, 2003).
Muitos espécimes metálicos absorvem fortemente aos raios-x, por essa causa a
intensidade do feixe incidente é fortemente reduzida à uma distância muito curta abaixo da
superfície. Consequentemente, a maioria do feixe difratado se origina a partir de uma camada
superficial fina, e as medições de tensões residuais correspondem apenas a essa camada do
material. O feixe de raios-x só consegue penetrar a distância de alguns planos atômicos (1 a
50µm) (Fitzpatrick e outros, 2005). As tensões calculadas pelo método de difração de raios-x
são medidas na superfície da peça de forma que se determina unicamente as duas componentes
do tensor implicando que a terceira seja zero. Além disso, as equações utilizadas no calculo das
tensões residuais geralmente consideram ao material como isotrópico e homogêneo.
Difração de Nêutrons
Métodos magnéticos
Métodos óticos
Figura 2.21: (a) Técnica pulso-eco, (b) Técnica pitch-catch volumétrica (c) Técnica pitch-catch
na superfície (Soares, 2003).
52
Para entender o método ultrassônico é preciso abordar alguns conceitos básicos referentes
as ondas ultrassônicas, a sua incidência em um meio e forma de geração e recepção das mesmas.
Ondas ultrassônicas são ondas acústicas mecânicas que se propagam em meios sólidos,
líquidos e gasosos, vibrando com altas frequências acima de 20kHz. Em aplicações na área de
ensaios não-destrutivos, a frequência das ondas ultrassônicas utilizada situa-se entre 100 kHz e
50 MHz (Olympus, 2006).
c
λ= (2.2)
f
λ = cT (2.3)
onde
λ comprimento de onda,
c velocidade de propagação da onda no meio,
f frequência,
T período.
Os três meios (sólido, liquido e gaseoso) têm forças que ligam as partículas para resistir
esforços de compressão, dessa forma as ondas de pressão podem-se propagar nesses meios.
53
Sólidos, ao contrário de líquidos e gases, têm rigidez que é uma resistência às cargas de
cisalhamento, permitindo a propagação de ondas cisalhantes.
Os quatro modos principais de propagação são: onda de pressão, onda cisalhante e ondas
de superfície. Cada uma delas tem um nome alternativo que às vezes é maiormente usado
(Hellier, 2001):
Quando uma onda passa de um meio para outro encontrando uma interface de separação
de meios distintos, efeitos de reflexão, transmissão, refração e conversão de tipo onda podem
ocorrer.
Figura 2.26. Para ângulos de incidência maiores ao primeiro ângulo crítico, a onda longitudinal
refratada deixa de existir, permanecendo só a onda transversal até o ângulo de incidência atingir
o segundo segundo ângulo crítico. Com ângulos maiores ao segundo ângulo, não existe a onda
refratada, somente a refletida.
Figura 2.26: Incidência oblíqua: (a) primeiro ângulo crítico, (b) segundo ângulo crítico.
Onda LCR
Uma importante característica da onda LCR é que em comparação com as outras ondas,
ela é mais sensível a tensão (Bray e Egle, 1979). As ondas LCR se propagam a uma profundidade
de até dois comprimentos de onda, e por isso, são chamadas ondas sub-superficiais, sendo então
menos afetadas por irregularidades superficiais (Fraga, 2007), o que é uma vantagem adicional.
57
Figura 2.27: Geração da Onda Longitudinal Criticamente Refratada (Pereira Jr, 2011).
Elasticidade
onde o termo σij é o tensor de tensões, ekl é o tensor de deformações e Cijkl são componentes
de um tensor de quarta ordem conhecido como tensor de rigidez do material.
As velocidades das ondas planas viajando paralelas à carga (Fig. 2.28) podem ser descritas
pela deformação α dadas pelas seguintes equações (Bray e Stanley, 1996):
1
ρ0 V122 = µ + (λ + m)θ + 4µα1 + 2µα2 − nα3 (2.8)
2
59
1
ρ0 V132 = µ + (λ + m)θ + 4µα1 + 2µα3 − nα2 (2.9)
2
Figura 2.28: Velocidade de ondas planas e campo de tensões para um sistema de coordenadas
ortogonais (Andrino, 2003).
[︂ (︂ )︂]︂
2l
ρ0 V112 = λ + 2µ + 4(λ + 2µ) + 2(µ + 2m) + νµ 1 + ε (2.10)
λ
60
[︁ (︁ n )︁ ]︁
ρ0 V122 = ρ0 V132 = µ + 4µ + ν + m(1 − 2ν) ε (2.11)
2
[︁ nν ]︁
ρ0 V212 = ρ0 V312 = µ + (λ + 2µ + m)(1 − 2ν) + ε (2.13)
2
[︁ n ]︁
ρ0 V232 = ρ0 V322 = µ + (λ + m)(1 − 2ν) − 6νµ − ε (2.14)
2
dV12 /V120 νn m
=2+ + = L112 (2.16)
dε 4µ 2(λ + µ)
dV22 /V220
[︂ ]︂
m − µl/λ
= −2ν 1 + = L122 (2.17)
dε λ + 2µ
dV21 /V210 λ + 2µ + m νn
= + = L121 (2.18)
dε 2(λ + µ) 4µ
dV23 /V230 m − 2λ n
= − = L123 (2.19)
dε 2(λ + µ) 4µ
da onda. No termo das velocidades, o índice superior 0 indica a velocidade das ondas
para deformações axiais nulas. A constante L111 da Equação 2.15 representa a constante
acustoelástica para as ondas longitudinais criticamente refratadas (LCR ).
A Equação 2.20 pode ser usada para outras direções ou ondas, apenas notando que o valor
de L é outro. Essa equação descreve o efeito acustoelástico ao relacionar a variação de tensão
dσ com a variação relativa de velocidade de onda dV /V , utilizando o modulo de elasticidade E
e a constante acustoelástica L para cada tipo de onda.
E(dV11 /V11 ) E
dσ = = dt (2.21)
L11 L11 t0
63
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
ondas LCR , a orientação foi invertida. A orientação da tensão provavelmente foi influenciada
pelo esmerilhamento usado para achatar o cordão de solda. A textura também foi investigada
usando a técnica de difração de nêutrons na textura (001) [110]. Na região do material base e na
solda se verificou que a distribuição era muito semelhante, indicando textura uniforme ao longo
das zonas da solda e do metal original.
A partir dos estudos orientados por Bray, a técnica de determinação de tensões residuais
usando a medição da velocidade ultrassônica tinha sido já varias vezes testada nas pesquisas,
especialmente nas relacionadas as tensões residuais induzidas pela soldagem. No trabalho
de Tanala e outros (1995), um tubo de aço inoxidável soldado e uma placa de liga de
alumínio foram analisados para encontrar a distribuição de tensão residual perto da superfície
usando ondas longitudinais e ondas de Rayleigh. No caso da placa de liga de alumínio, que
apresenta uma textura devido a processos de laminação, os efeitos de uma simetria ligeiramente
ortotrópica nas velocidades das ondas formam investigados.
obter tensão uniaxial após a soldagem na região de medição. Vinte e duas placas foram
testadas para estabelecer um estado livre de tensões, as placas foram inicialmente submetidas
a tratamento térmico de alivio de tensões. Depois foram soldadas, criando o campo de tensão
desejado, e cortadas em diferentes períodos de tempo em relação a data de soldagem. Após
cada etapa, a tensão foi medida utilizando um conjunto para emissão e geração de ondas LCR
com transdutores de 2,25 MHz. As diferenças nas constantes acustoelásticas relacionadas com
a direção de laminação e a variação do módulo de Young foram consideradas. Os resultados
mostraram um claro efeito de relaxamento nas amostras, comprovando a eficiência do método.
Os valores determinados não foram tão pronunciados quanto no caso do aço, mas mantiveram
a mesma relação percentil com o limite de resistência do material.
Em 2007 Andrino como parte da sua tese de doutorado, desenvolveu uma nova tecnologia
para a medição de tensões mecânicas em dutos baseada na variação da velocidade de ondas
longitudinais criticamente refratadas (LCR ). Foi construído um dispositivo especial para
movimentar o conjunto de transdutores ao longo dos pontos de medição. Além de apresentar
uma correlação satisfatória entre os resultados de tensão da técnica de ondas LCR e as medições
feitas com extensômetros a partir da tensão calculada em função da pressão no interior do
duto, o autor avaliou o método matemático mais adequado para o emprego na determinação do
tempo de percurso da onda. Assim, para o tratamento dos sinais captados pelos transdutores
ultrassônicos foram utilizadas técnicas de reamostragem, correlação cruzada e transformada de
Hilbert. A influência da temperatura e textura nas medições também foram verificadas. O desvio
padrão dos resultados obtidos foi de cerca de 25 MPa, o que corresponde aproximadamente a
5% do valor da tensao de escoamento do material.
Em relação ao estudo da soldagem para ligas de alumínio, Jata e outros (2000) discutiram
os efeitos do processo Friction Stir Welding FSW na microstrutura e fadiga da liga de alumínio
7050-T451. Foram consideradas duas condições: como soldado (as-welded) e condição tratada
termicamente pós-soldagem. Microscopia óptica (Fig. 3.1) e eletrônica de transmissão (TEM)
na região do cordão da solda (weld nugget) mostraram que o processo de soldagem FSW
transforma os grãos iniciais do metal de base (de tamanho milimétrico) em grãos finos
dinamicamente recristalizados de 1µm a 5µm de tamanho. O processo de soldagem FSW
redissolveu os precipitados do cordão da solda. Amostras de tração testadas transversalmente
à solda mostraram que existia de 25 a 30% de redução no nível de esforço e 60% de
redução no alongamento na condição as-welded, a fratura foi na zona termicamente afetada. O
tratamento térmico pós-soldagem de 121 °C durante 24 horas não produziu nenhuma melhoria
tanto na resistência quanto na ductilidade do material soldado. A comparação das taxas de
crescimento de trincas por fadiga mostrou que a resistência do cordão da solda foi diminuída,
70
enquanto a resistência da zona termicamente afetada foi aumentada. As análises sugeriram que
a diminuição da resistência ao crescimento da fissuração por fadiga na região de solda foi devida
a um mecanismo de falha intergranular. Na região termicamente afetada, o efeito das tensões
residuais foi dominante à influência da microestrutura, melhorando a resistência ao crescimento
da fissura por fadiga.
Figura 3.1: (a) Macrofotografia óptica mostrando o cordão da solda (Welded nugget) e a zona
termo-mecanicamente afetada TMAZ na solda FSW da liga 7050-T7451. Micrografias ópticas
de maior ampliação: (b) tamanho de grão fino o cordão da solda e (c) grãos curvos da TMAZ.
(Jata e outros, 2000)
Em 2006, Prime e outros mediram a tensão residual em uma junta dissimilar soldada
por friction stir welding. Placas grossas de 25,4mm das ligas 7050-T7451 e 2024-T351 foram
unidas em uma junta de topo por FSW. Removendo uma amostra da placa original, as tensões
71
Em recentes estudos, a técnica que combina o método de elementos finitos com o método
ultrassônico F ELCR proposto por Javadi, foi aplicada para a avaliação das tensões residuais
em placas de alumínio 5086 soldadas mediante FSW por Sadeghi e outros (2013). Seu trabalho
consistiu na medição ultrassônica de tensões residuais longitudinais ao longo da espessura
usando ondas longitudinais criticamente refratadas LCR e na análise termomecânica 3D por
elementos finitos (FE). O modelo de elementos finitos foi validado pelo método de hole-drilling
(furo cego) e os valores calculados foram comparados com os obtidos a partir da medição
por ultrassom. Foram utilizados quatro conjuntos de transdutores com frequências diferentes:
1 MHz, 2 MHz, 4 MHz e 5 MHz. A profundidade efetiva de penetração da onda LCR foi
determinada usando o mesmo procedimento descrito por Javadi e outros (2013). A constante
acustoelástica foi obtida mediante a extração de amostras da região soldada e do metal base,
e o tempo de percurso no estado livre de tensões foi medido nas amostras após o tratamento
térmico de alivio de tensões.
A comparação foi feita para as tensões residuais longitudinais encontradas por ambos
métodos. Nota-se que o método ultrassônico mede a média de tensões em profundidades
determinadas (em função da frequência usada). Assim, para que os valores calculados pelo
método de elementos finitos sejam comparáveis aos obtidos nas medições ultrassônicas, foi
feita a média de tensões residuais para todos os nós localizados até uma distância específica
abaixo da superfície, essa distância correspondia à profundidade de penetração da onda LCR
encontrada experimentalmente. Os métodos comparados foram bastante compatíveis como
pode ser percebido na Figura 3.2 para a frequência de 1 MHz por exemplo. Os autores
observaram também que a diferença entre os resultados comparados variavam para cada
frequência de teste, baseados neste fato, os autores afirmaram que o uso de frequências de teste
maiores pode levar a menor precisão na medição ultrassônica. Finalmente, concluiu-se que as
tensões longitudinais residuais de placas de alumínio soldadas por atrito podem ser avaliadas
72
Figura 3.2: Resultados relacionado com as tensões residuais longitudinais, obtidos pelo método
de elementos finitos e pelo método ultrassônico a 1 MHz. Adaptado de (Sadeghi e outros, 2013)
73
4 MATERIAIS E MÉTODOS
Com a finalidade de verificar se a técnica ultrassônica utilizando ondas LCR pode ser
empregada na determinação de tensões residuais em soldas FSW para alumínio, os materiais
e métodos empregados no desenvolvimento deste trabalho são detalhados neste capítulo. As
dimensões e características do corpo de prova, assim como o processo e os parâmetros de
soldagem são descritos. A seguir, apresenta-se os equipamentos para geração e detecção de
ondas ultrassônicas, sensor de temperatura, sistema de digitalização e adquisição de dados.
Inicialmente foram verificados a influência da temperatura na medição do tempo de percurso
da onda LCR no material e o número de gravações de ondas no programa de adquisição de
dados. Por fim, o procedimento para a determinação das tensões residuais nas placas soldadas
é detalhado na seção 4.5.3.
Para formar o corpo de prova soldado foram utilizadas duas placas de alumínio
7050-T7451, com dimensões de 210 mm de comprimento, 70 mm de largura e 10 mm de
espessura. Estabeleceu-se a direção do comprimento da placa como sendo a direção x, a direção
da largura como sendo a direção y e a direção da espessura como a direção z (Fig. 4.1).
O material foi escolhido de forma que pudesse contribuir com as pesquisas relacionadas a
soldagem FSW focada para aplicações na indústria aeronáutica. A liga de alumínio 7050-T7451
é um material de elevada resistência mecânica comumente empregado na fabricação de
estruturas que suportam a fuselagem das aeronaves. Os principais componentes de liga são
74
apresentados na Tabela 4.1. Segundo a normativa SAE (2016) a condição T7451 da liga
significa: termicamente tratada por solubilização, submetida a alívio de tensões por estiramento
(em 2%) e tratada termicamente por precipitação.
Componente % de concentração
em massa
Alumínio 90,1
Zinco 5,54
Cobre 2,27
Magnésio 1,87
Zircônio 0,11
Ferro 0,077
Silício 0,018
Titânio 0,040
Manganês 0,010
Cromo 0,004
Outros, cada Max. 0,01
Tabela 4.3: Propriedades elásticas calculadas da liga 7050-T7451 (Pereira Jr, 2011).
A máquina para soldagem por fricção (FSW) realiza a união de materiais metálicos no
estado sólido mediante aquecimento por atrito e deformação gerados pelo contacto de uma
ferramenta em movimento rotativo com o material. Na indústria, os parâmetros de soldagem
e geometria da ferramenta são confidenciais e além disso, a aplicação do processo FSW na
construção de aeronaves ainda está sendo testado. Por esses motivos, a geometria da ferramenta
e os parâmetros utilizados neste trabalho foram testados experimentalmente até obter resultados
aceitáveis.
A ferramenta utilizada foi feita de aço H13 tratado termicamente para dureza de 53 HRC.
Ela é composta de duas peças: uma peça com a superfície de ombro côncava e um pino cônico
roscado que pode ser trocado. As dimensões principais da ferramenta são apresentadas na Figura
4.3. A velocidade de rotação da ferramenta foi de 225 RPM, a velocidade de avanço de 200
mm/min e a força axial de 67 kN. A ferramenta foi posicionada com um ângulo de inclinação
(tilt) de 3° (Fig. 4.4).
76
Figura 4.5: Transdutores de ondas longitudinais (a) para 3,5 MHz (b) para 5 MHz.
Ângulo de incidência
Como a onda LCR é uma onda longitudinal que se refrata paralela à superfície, é
necessário ajustar o ângulo de incidência do feixe acústico usando uma cunha com um ângulo
de inclinação em função das velocidades da onda longitudinal no meio 1 (material da cunha)
e da onda longitudinal refratada no meio 2 (alumínio). Esse ângulo de incidência é conhecido
como primeiro ângulo crítico e é calculado segundo a a Lei de Snell (equação 2.4). O material
da cunha, as velocidade de propagação da onda longitudinal e o ângulo de incidência são
apresentados na Tabela 4.4. Nota-se que o perfil do feixe da onda longitudinal criticamente
refratada LCR possui um lóbulo principal de máxima energia a poucos graus abaixo do ângulo
de refração, então a tolerância da inclinação da cunha pode ser em torno de um grau.
78
Profundidade de penetração
5 MHz 2,27 mm
Nota-se que a profundidade calculada é somente uma aproximação que permite ter uma
ideia apropriada da penetração real da onda LCR . Uma comprovação experimental sobre o
mesmo material a ser testado seria recomendável para trabalhos futuros.
79
Para cada frequência de geração de ondas ultrassônicas foram usados três transdutores:
um emissor e dois receptores, que são colocados sobre cunhas de Rexolite® projetadas para
um ângulo de incidência cercano a 22°. Uma barra de suporte foi empregada como base para
acomodar as cunhas e transdutores mantendo as posições fixas. O conjunto completo, conhecido
como probe, é mostrado na Figura 4.6.
Esse arranjo permite realizar o ensaio para duas distâncias de posicionamento do receptor
em relação ao emissor. A barra de suporte foi projetada por Buenos (2014) para os seguintes
propósitos:
− Permitir o posicionamento das cunhas o mais próximo possível uma da outra para permitir
a avaliação de uma região menor, diminuindo o comprimento de percurso da onda e por
consequente reduzindo a atenuação do sinal.
− Permitir o uso de uma distância maior entre o emissor e receptor, com o fim de realizar
a avaliação para um percurso de onda maior. Também pode ser útil para prender dois
transdutores receptores, para realizar a correlação cruzada dos sinais adquiridos a partir
deles.
Figura 4.10: Esquema do sistema de adquisição de dados: (1) Controlador embarcado, (2)
Pulsador/receptor, (3) Comando, (4) probe, (5) Módulos para monitoramento da temperatura,
(6) Termopar, (7) Placa testada, (8) Monitor de PC.
82
e) Permite indicar os locais em que serão salvos os “Arquivos” que contêm os valores dos
resultados e os pontos de amplitude da onda gravada.
f) Nessa seção apresenta-se o “Controle de Pressão” que pode ser utilizado para controlar,
mediante um sistema pneumático, a força aplicada sobre a probe nos ensaios. Esse
controle não foi utilizado neste trabalho.
85
g) Ativa a função de “Correlação Cruzada” e grava a forma do sinal capturado pelo receptor
1. Para utilizar o processamento por correlação cruzada é preciso gravar primeiro o sinal
captado pelo receptor 1, para depois trocar de receptor utilizando o comando manual.
Com o osciloscópio mostrando o sinal captado pelo receptor 2, o programa calcula a
diferença dos tempos de percursos entre o sinal 1 gravado e o sinal 2 atual. O resultado
do processamento apresenta-se na seção d.
Correlação: esta tela apresenta duas janelas que contêm as formas de onda do “Sinal do
Receptor 1” gravado e do “Sinal do Receptor 2” atual. As janelas indicam ambos sinais com o
pico ou vale ajustado na tela principal. Os dados da onda do sinal do receptor 1 são salvos em
um arquivo especificado na tela (Fig. 4.15).
Filtros: a Figura 4.16 mostra a tela que contém as configurações para três tipos de
filtros digitais possíveis incluídos no programa: FIR (Finite Impulse Response), IIR (Infinite
Impulse Response) e DWT (Digital Wavelet Transform). Neste trabalho foi utilizado um filtro
passa-banda FIR, janela Hanning, e número de coeficientes igual a 200. As frequências de corte
para o filtro foram de 3,25 MHz a 3,75 MHz para transdutores 3,5 MHz de frequência e de 4,75
86
MHz a 5,25 MHz para transdutores de 5 MHz. Esses valores de configuração dos filtros foram
testados em trabalhos anteriores.
(Carbogel®). O gel tem a finalidade de preencher os possíveis espaços vazios criados devido às
irregularidades das superfícies de contacto para facilitar o acoplamento. Para manter constante
a pressão exercida sobre o conjunto de transdutores e cunhas (probe) foi colocado um peso
morto de aproximadamente 2,3 kg em cima, como pode ser visto na Figura 4.18. Todos os
experimentos realizados usaram essa configuração.
Figura 4.18: Configuração usada para geração de ondas LCR e medição do tempo de percurso
nos experimentos.
Influência da temperatura
O programa “L_Scope_GU _2016_v1” tem sido testado em varias ocasiões pelo grupo
de pesquisa (Pereira Jr, 2011; Buenos, 2014; Pereira Jr, 2015; Gonçalves, 2016). O controle do
osciloscópio foi ajustado em função de experimentos anteriormente realizados por esse grupo.
Para verificar os parâmetros de configuração no osciloscópio, realizou-se um experimento que
consiste na medição do tempo de percurso da onda LCR em uma das placas de alumínio
7050-T451, utilizando diferentes configurações no osciloscópio.
Para realizar esses analises foi preciso retirar amostras da placa soldada, retirou-se uma
seção inteira do extremo final da placa soldada. A preparação de amostras foi realizada no
Laboratório Multiusuário de Caracterização dos Materiais da UNICAMP. Foi utilizada uma
lixadeira metalográfica, uma politriz e uma máquina de limpeza ultrassônica.
Como foi apresentado na seção 2.4.2, uma vez que a variação de velocidade é medida
entre dois transdutores numa posição fixa, a variação do tempo de percurso (TOF) está
diretamente relacionada com a variação tensão. Assumindo o material como isotrópico, é
possível avaliar a variação da tensão como a diferença entre dois estados de tensão conhecidos.
E
σ − σ1 = (t − t1 ) (4.1)
L11 t0
Considera-se que o estado, denotado pelo índice 1, representa um estado de tensão zero
90
no local de medição. Portanto σ1 é igual a zero e a equação 4.1 pode ser expressa como:
E
σ= (t − t1 ) (4.2)
L11 t0
onde,
Existem alguns outros fatores que influenciam as medições ultrassônicas em metais, tais
como a temperatura ou a textura do material. Esses factores modificam o tempo de percurso
da onda, podendo influir na magnitude das tensões calculadas pela equação 4.2. Considerando
que a temperatura está controlada, que todas as medidas foram feitas na mesma direção de
laminação e que não há uma influência significativa da microestrutura no caso desse tipo de
solda em alumínio, hipótese ainda por ser comprovada, a equação 4.2 pode ser empregada na
estimativa das tensões residuais geradas pelo processo de soldagem FSW.
t0 t0
Velocidade da emissor-receptor 1 emissor-receptor 2
onda (m/s) (ns) (ns)
6300 12887,3 21574,6
Definir o t1 para o estado de tensão zero no local de medição ainda representa um dos
91
− Assumir como t1 , a média dos tempos de percurso medidos nos extremos da placa fora
da solda.
− Realizar a medição do TOF sobre uma amostra de referência do mesmo material sem
soldar.
Metodologia de medição
As medições são realizadas seguindo a mesma configuração da Figura 4.19. Cada medição
consiste na obtenção de três tempos de percurso que permitem calcular a tensão no mesmo local:
Os três tempos permitem determinar a mesma tensão, os resultados obtidos por cada um
deles foram avaliados .
Após realizar o processo de união FSW nas placas de alumínio, o conjunto soldado foi
usinado pela superfície para obter um acabamento adequado que permita colocar o equipamento
de medição probe. Vale ainda notar que tensões residuais também são introduzidas pelos
processos de usinagem (Buenos, 2010), porém essa análise não foi considerado para este
trabalho já que tanto a placa soldada como a placa de referência foram usinadas uniformemente
com os mesmos parâmetros de corte.
feitas movimentando a probe sem separá-la da placa (técnica de varredura). Realizaram-se duas
varreduras para cada frequência utilizada, a primeira no sentido positivo do eixo y, começando
desde um extremo da placa, e a outra no sentido contrario, começando desde o extremo oposto.
Após a primeira varredura, a probe foi separada da placa, as superfícies de contato foram limpas
e o gel acoplante foi novamente aplicado.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo os valores apresentados na Tabela 5.1, a técnica que determina a tensão usando o
tempo obtido pela correlação cruzada é mais sensível a variação do tempo. Como uma variação
em termos de tempo é multiplicado em MPa, a técnica também pode amplificar as variações
92
de tempo, ou mesmo os erros de medida. A sensibilidade também pode ser entendida como o
inverso, em ns/MPa, obtida invertendo os valores calculados. Nesse caso, associa-se a definição
de maior sensibilidade com a menor magnitude da relação ns/MPa.
A influência da temperatura foi verificada para cada frequência utilizada, tanto para o TOF
1 como para o TOF 2. O arranjo de transdutores utilizando dois receptores para o método da
correlação cruzada não dispensa a correção da influência da temperatura nas medições, uma vez
que a distância é a mesma para ambos os transdutores mas a velocidade varia com a temperatura.
Nesse trabalho, tal variação foi desprezada. As gravações dos sinais nos receptores não foram
feitas simultaneamente, mas sim um após do outro. Para todas as medições, a temperatura nos
experimentos se manteve constante ou esta teve seu efeito corrigido. A Figura 5.1 apresenta o
gráfico com os tempos de percurso obtidos em função da temperatura da placa para 3,5 MHz.
Figura 5.1: Tempo de percurso da onda LCR em função da temperatura para frequência de 3,5
MHz. (a) TOF 1 (b) TOF 2
93
O experimento foi repetido para 5 MHz, a variação dos tempos de percurso TOF 1 e TOF
2 em função da temperatura pode ser visto na Figura 5.2.
Figura 5.2: Tempo de percurso da onda LCR em função da temperatura para frequência de 5
MHz. (a) TOF 1 (b)TOF 2
Tanto na Figura 5.1 quanto na 5.2 nota-se claramente que o tempo de percurso aumenta
à medida que a temperatura sobre a placa sobe. Todas as linha de tendência geradas a partir
dos dados experimentais e as equações da retas foram obtidas utilizando o programa Microsoft
Excel®. Para todos os casos, a relação entre o TOF e a temperatura é lineal com um coeficiente
de determinação R2 maior a 0,90.
2362 m/s e a distância de cada cunha é de 14,6 mm. Considerando a distância percorrida no
alumínio para cada par de transdutores (Fig. 4.6), a velocidade em função da temperatura pode
ser calculada tanto com o TOF 1 quanto com o TOF 2 para cada frequência.
Figura 5.3: Velocidade da onda LCR no alumínio em função da temperatura para frequência de
3,5 MHz. (a) TOF 1 (b)TOF 2
Para 5 MHz (Fig. 5.4) o decrescimento lineal da velocidade por grau Celsius é de
aproximadamente 4,4 m/s para o TOF 1 e de 3,1 m/s para o TOF 2. Embora a variação da
velocidade de propagação da onda em função da temperatura medida sobre a placa não dependa
do tipo de TOF utilizado, existem leves variações no resultados obtidos devido as imprecisões
próprias do método.
95
Figura 5.4: Velocidade da onda LCR no alumínio em função da temperatura para frequência de
5 MHz. (a) TOF 1 (b)TOF 2
sendo t o tempo corrigido, tmed o tempo medido, m a inclinação da reta para cada caso e T a
temperatura da barra durante as medições.
Para ter noção da influência da temperatura nas medições, os valores de m para cada caso
são apresentados na Tabela 5.2 como a taxa de aumento do TOF em função da temperatura.
96
Esse efeito também pode ser expresso em termos de tensão como se mostra na última coluna da
tabela.
De acordo com esses valores, a maior influência possível da temperatura sobre a tensão
residual é de 14,8 MPa por °C e se apresenta na medição com 3,5 MHz para o TOF1. Esses
resultados revelam que a onda LCR é potencialmente mais sensível à temperatura em menores
frequências. No entanto, essa observação precisa ser estudada com maior detalhe, já que as
sondas são um pouco diferentes. Quanto ao método de determinação do tempo de percurso, as
tensões calculadas pelo TOF 2 têm menor influência da temperatura.
Incrementando o número de médias, o desvio padrão dos dados nas medições foi máximo
de 5 ns para 5 médias, 2 ns para 10 médias e 2 ns para 20 médias. Os dados adquiridos a partir
de 10 ou 20 médias de sinais apresentam desvios padrões relativamente baixos, considerando
que o tempo de percurso está na ordem de nanosegundos.
97
Tabela 5.3: TOF em (ns) obtido para diferentes parâmetros do controle de osciloscópio.
Número de médias: 1 5 10 20
A fim de verificar a repetibilidade das medições, a Tabela 5.4 apresenta a média dos
valores adquiridos nas três medições (repetições) e os desvios padrões respectivos. Avaliando
esses resultados, o desvio da média das repetições obtidas com 10 sinais foi de 6,2 ns para o
TOF 1, 6 ns para o TOF 2 e de 4 ns na correlação cruzada. Esse resultado em tensão corresponde
a um desvio entre repetições de 9 MPa para o TOF 1 e na correlação cruzada, e de 5 MPa para
o TOF 2. Portanto, medindo 10 ondas no controle do osciloscópio, garante-se uma diferença
máxima entre repetições de aproximadamente ao 2% o limite de escoamento do material.
Para aplicações estruturais, essa proporção é bastante reduzida e extremamente motivadora,
indicando a adequação da técnica.
98
Número de médias: 5 10 20
Duas placas de alumínio 7050-T7541 foram unidas mediante Friction Stir Welding
(FSW). Como pode ser visto na Figura 5.5, o processo de soldagem aparentemente foi realizado
por completo. A superfície do nugget da solda não apresentou boa aparência. Essa característica
está diretamente relacionada aos parâmetros do processo e ao formato da ferramenta de
soldagem que ainda tem que ser melhor estudados para o alumínio 7050-T7451.
A seção do furo que indica a saída da ferramenta no final da solda foi retirada. A superfície
99
da placa como soldada não é adequada para realizar a inspeção ultrassônica, por conseguinte
a placa soldada foi usinada meio milímetro no topo da solda para obter uma superfície
completamente plana (Fig. 5.6). A fixação na máquina de soldagem e o calor gerado pelo
processo (por atrito e deformação) produziram uma leve distorção angular na união soldada.
Para eliminar essa distorção, a placa soldada também foi usinada na superfície da raiz da solda
até obter superfícies planas e paralelas em ambos lados.
Tentou-se soldar mais pares de placas, porém o pino de ferramenta quebrava facilmente
após a primeira soldagem.
5.4.1 Metalografias
Após a usinagem da placa soldada, retirou-se uma pequena seção do extremo para realizar
análise metalográfica e ensaio de microdureza. A Figura 5.7 mostra a macroestrutura da seção
transversal da placa soldada.
misturada (stir zone), coincide aproximadamente com a forma da ferramenta e contém grãos
finos e equiaxiais (Fig. 5.8 (d)). Em ambos lados da zona do nugget se encontram as zonas
termomecanicamente afetadas (ZTMA) que contêm grãos altamente deformados a partir da
ação de mistura do FSW (Fig. 5.8 (c)). As zonas afetadas pelo calor (ZTA) se estendem para
fora da margem da imagem em ambos lados.
Figura 5.8: Micrografias ópticas de maior ampliação da seção transversal da solda: (a) lado
de avanço, (b) lado de retrocesso, (c) grãos deformados na ZTMA, (d) grao finos da zona
recristalizada dinamicamente nugget
A caracterização e avaliação de juntas soldadas por FSW inclui uma análise de dureza a
fim de correlacionar os parâmetros do processo com os resultados obtidos. Particularmente para
a liga de alumínio 7050-T7541, a dureza está diretamente correlacionada com o crescimento dos
precipitados nas zonas termicamente afetadas. O grau de crescimento diminui com a redução do
tempo gasto acima de uma temperatura crítica e isso é conseguido por aumento da velocidade
de soldadura. A avaliação desses parâmetros não esta dentro dos objetivos deste trabalho.
tensões internas nos materiais. Assim, no ensaio de dureza superficial, espera-se que um
material deformado a frio e um material não deformado apresentem resultados diferentes. Se
a natureza das tensões residuais na superfície forem trativas, o ensaio apresentará um valor
menor para a dureza superficial em relação ao material não deformado. Em caso contrário,
sendo compressivas, a penetração será mais difícil e o resultado do ensaio apresentará valores
maiores.
Para a análise de dureza no interior da solda, realizaram-se três linhas na seção transversal
da amostra (Fig. 5.10). As linhas também são formadas por 180 pontos espaçados em 300
micrômetros, e são localizadas da seguinte maneira: cerca do topo (linha 1), no meio (linha 2)
e perto da raiz da solda (linha 3). Os perfis apresentados na Figura 5.11 representam a média
móvel de período 10 para todos os dados obtidos em cada linha.
dureza e a dureza do nugget é um máximo local localizado entre dos valores mínimos que
correspondem à dureza da ZTMA no dois lados (avanço e retrocesso).
Foi determinada apenas uma das componentes do tensor de tensões: a tensão σx paralela
à união soldada ou tensão residual longitudinal. Cada ponto da distribuição de tensão residual
medida pelo método ultrassônico representa a tensão através do caminho de propagação e na
profundidade de penetração (próximo à superfície) da onda LCR . As medições foram realizadas
utilizando transdutores de 3,5 MHz e 5 MHz. A temperatura no ato das medições foi mantida
entre 22°C e 24°C. Porém, todos os dados obtidos foram corrigidos, segundo as equações
mostradas na seção 5.2, para uma temperatura padrão de 24°C.
(TOF 2) e mediante o tempo de percurso da onda entre os dois receptores obtido por correlação
cruzada (correlação cruzada). Para o tempo de percurso de tensão no local de medição t1 foram
avaliadas duas opções: t1 como média do TOF nos extremos da placa e t1 como o TOF em uma
placa de referência.
No total, são testadas seis formas de determinação de tensão residual para uma
mesma medição em cada frequência de experimento. Três tempos de percurso foram obtidos
pelo programa de adquisição de dados. No cálculo da tensão, utilizando a relação de
acustoelasticidade, duas opções foram consideradas para o tempo de percurso da onda no
estado de tensão zero. Para facilitar a interpretação e localização dos valores calculados, limites
aproximados das regiões da solda são sobrepostos em algumas figuras. Os perfis determinados
para cada um dos casos são apresentados a seguir.
A tensão residual máxima determinada por cada um dos métodos encontra-se entre 120
MPa e 180 MPa. Para o método do TOF 1, a diferença máxima de tensão entre as duas
varreduras para uma mesma posição de medição foi de 54 MPa a 7,5 mm da linha do centro da
solda cerca da tensão máxima calculada.
104
em relação ao tempo para o estado livre de tensões do material original. Fora da linha do centro
da solda, a tensão diminui aproximando-se ao valor nulo nos extremos. Quanto à simetria do
perfil, a tensão calculada perto dos extremos do nugget, o que corresponderia aproximadamente
a região do ZTMA da solda, é menor no lado de retrocesso da placa. Os valores máximos
aproximados atingidos no perfil de tensões foram de 143 MPa para o TOF 1, 153 MPa para
o TOF 2 e 170 MPa para a correlação cruzada, todos esses valores são encontrados a uma
distância entre 2,5 mm e 5 mm da linha do centro da solda no lado de avanço.
Figura 5.15: Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 3,5 MHz, t1 definido
como o TOF médio dos extremos da placa.
A diferença máxima entre as tensões calculadas a uma mesma distância da solda mediante
os três métodos empregados é de aproximadamente 47 MPa. Nota-se claramente que os perfis
de tensão residual determinados pelo TOF 1 e o TOF 2, são mais próximos em comparação
com o perfil obtido pela correlação cruzada . Pode-se notar também que no lado de avanço da
placa os valores calculados pelos 3 métodos se encontram mais distantes. No que se refere à
simetria do perfil, a -15 mm da linha do centro no lado de avanço, a tensão está entre 90 MPa
e 80 MPa para o TOF 1 e o TOF 2 respectivamente, enquanto à mesma distância para o lado
de avanço, a tensão calculada pelo TOF 1 e o TOF 2 atinge valores de 90 MPa e 110 MPa
respectivamente. Isto que dizer que os resultados obtidos pelo TOF 1 são mais simétricos em
relação a linha do centro da solda. As tensões residuais apresentadas no perfil determinado pela
correlação cruzada são claramente mais elevadas no lado de avanço da solda, por exemplo a
-20 mm da linha do centro da solda o valor da tensão residual determinada por esse método é
próximo a 30 MPa, enquanto no lado oposto (a 20 mm do centro da solda no lado de avanço) o
valor é próximo a 120 MPa.
106
Após essas determinações, os perfis são recalculados utilizando como t1 o TOF medido
sobre uma amostra de referência sem soldar. Para esse caso, o mesmo valor de t1 foi considerado
para cada uma das varreduras. Como pode ser visto na Figura 5.16, as tensões residuais
calculadas mantêm a mesma forma do perfil determinado com o t1 médio dos extremos. Oposto
à Figura 5.15, nota-se que para este caso os resultados obtidos no lado de retrocesso pelos
3 métodos são mais distantes entre si se comparado com o lado de avanço. Essa observação,
indica um problema ao definir o t1 devido provavelmente a uma diferença entre os estados de
tensões iniciais para cada placa antes ou depois de serem soldadas.
Figura 5.16: Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 3,5 MHz, t1 definido
como o TOF medido sobre placa de referência.
A Figura 5.17 apresenta os perfis de tensão residual (média das duas varreduras) para cada
um dos métodos utilizando as duas opções de referência. Segundo esses perfis, os valores de
tensão calculados utilizando o t1 da placa de referência para o TOF 1 aumentaram em 16 MPa
aproximadamente. Para o TOF 2 a diferença entre as duas opções de t1 é bastante pequena (7
MPa aprox.) e na correlação cruzada as tensões diminuíram cerca de 26 MPa em comparação
107
Figura 5.17: Comparação dos perfis de tensão residual obtidos para cada método utilizando
diferentes t1 . (a) TOF 1 (b) TOF 2 (c) Correlação cruzada.
Neste segundo caso referente a repetibilidade do método, a diferença máxima para o TOF
1 foi de quase 100 MPa (no extremo da placa), 53 MPa para o TOF 2 e 20 MPa na correlação
cruzada.
Para o TOF 1, a tensão residual máxima determinada foi de 140 MPa a 160 MPa
aproximadamente e a diferença máxima entre as varreduras para todos os valores do perfil de
108
tensões foi de 81,5 MPa à distância de -15 mm da linha do centro da solda, coincidentemente
no extremo do nugget ou ZTMA.
Para o TOF 2, os valores de tensão máxima se encontram entre 150 MPa e 160 MPa,
claramente os valores obtidos em cada varredura são bastante próximos, com uma diferença
máxima de 34 MPa.
O perfil de distribuição de tensões residuais como a média dos valores das varreduras
para cada um dos métodos utilizados é apresentado na Figura 5.23. Com excepção do pico na
correlação cruzada, a tensão máxima calculada é de natureza trativa e se situa na região soldada.
Figura 5.23: Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 5 MHz, t1 definido
como o TOF médio dos extremos da placa.
Similar as medições com 3,5 MHz, na Figura 5.23 os valores de tensão residual nos
perfis de distribuição determinados são maiores no lado de avanço da placa soldada. No lado de
retrocesso, as medições dos 3 métodos apresentados se encontram mais distantes, a diferença
máxima entre as tensões calculadas em um mesmo ponto da distribuição é de aproximadamente
111
100 MPa considerando as distorções do perfil calculado por correlação cruzada. Sem considerar
esse método, a diferença máxima entre os valores calculados pelo TOF 1 e pelo TOF 2 diminui
para 50 MPa a -50 mm de distância da linha do centro da solda.
A distribuição de tesão residual foi também calculada pela opção de considerar o t1 como
o TOF medido sobre placa de referência. Os perfis determinados mediante esta consideração
são apresentados na Figura 5.24. As distribuições de tensão residual obtidas mantêm o mesmo
perfil que o determinado com o t1 médio dos extremos, porém os valores de tensão em cada
ponto da distribuição são muito distantes. Em comparação com os resultados do t1 definido
como o TOF médio dos extremos da placa, todos os valores de tensão diminuem 15 MPa para
o TOF 1, aumentam 32 MPa para o TOF 2 e para a correlação cruzada se obteve cerca de 100
MPa de aumento nos valores calculados.
Figura 5.24: Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 5 MHz, t1 definido
como o TOF medido sobre placa de referência.
A fim de comparar os resultados obtidos para 3,5 MHz e 5 MHz, optou-se por realizar
uma média entre os valores de tensão calculados pelo TOF 1 e TOF 2. A partir dos resultados
112
apresentados na seção anterior foi escolhido como t1 o tempo de percurso médio nos extremos
da placa soldada porque esses valores apresentaram menor dispersão. A Figura 5.25 contém os
perfis de distribuição de tensões residuais calculados para cada frequência.
Figura 5.25: Perfil de distribuição de tesão residual em uma placa de alumínio 7050-T7541.
A diferença máxima entre os valores de tensão determinados nas duas frequências para
cada posição de medição é de aproximadamente 20 MPa. Esta diferença é razoável, pois para
cada frequência a profundidade de penetração é diferente. De forma geral, os resultados de
tensão calculados no lado de avanço são maiores que os calculados no lado de retrocesso.
Associando esses resultados aos resultados de microdureza na superfície da solda (Fig. 5.9),
o lado de retrocesso apresenta durezas maiores em comparação com o lado de avanço o que
intuitivamente indicaria menor tensão interna. Sendo assim, os resultados obtidos pelo método
113
A Figura 5.26 além dos perfis determinados para cada frequência, apresenta também duas
curvas de distribuição da tensão residual esperada no processo de soldagem. A curva azul ilustra
o perfil de tensões característico de qualquer processo de soldagem que envolve calor enquanto
a curva vermelha ilustra o perfil determinado por alguns pesquisadores quando a soldagem for
no alumínio (Sadeghi e outros, 2013).
Figura 5.26: Perfil de distribuição de tesão residual em uma placa de alumínio 7050-T7541.
Algumas diferenças entre os resultados obtidos usando o TOF 1 e o TOF 2 poderiam ser
explicadas pela provável existência de um gradiente de tensão ao longo do caminho da onda
LCR . Isto pode ser justificado pela influência da variação dos parâmetros de soldagem. Embora
a velocidade de rotação e de avanço da ferramenta mantiveram-se constantes durante todo o
processo de soldagem, a força exercida dentro do material poderia ter mudado devido a vários
fatores, entre eles a dureza do material que pode variar pela deformação ocorrida.
116
A tensão residual determinada neste trabalho pelo método ultrassônico utilizando ondas
LCR representa a tensão longitudinal equivalente à tensão através do caminho da onda e na
profundidade de penetração, portanto os valores calculados na são pontuais. O método poderia
ser testado para obter as outras componentes do tensor de tensões, mas como foi revisado na
literatura, as tensões longitudinais (perpendiculares à solda) são maiores que as transversais, o
que justifica calcular somente a componente longitudinal se o objetivo for avaliar a qualidade
da solda e do processo de soldagem.
O processo de soldagem utilizado foi de caráter experimental, o que quer dizer que
a ferramenta e os parâmetros de soldagem utilizados ainda estão sendo testados e não
corresponderam aos parâmetros ótimos que seriam utilizados em um processo industrial. Por
isso, os valores encontrados podem ser ainda reduzidos ou alterados para esse tipo de soldagem.
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