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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Mecânica

SHIRLEY ALEXANDRA GARCIA RUANO

Avaliação de tensões residuais em soldas


FSW em alumínio 7050 utilizando
acustoelasticidade

CAMPINAS
2017
SHIRLEY ALEXANDRA GARCIA RUANO

Avaliação de tensões residuais em soldas


FSW em alumínio 7050 utilizando
acustoelasticidade

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade


de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual
de Campinas como parte dos requisitos exigidos
para obtenção do título de Mestra em Engenharia
Mecânica, na Área de Mecânica dos Sólidos e
Projeto Mecânico

Orientador: Prof. Dr. Auteliano Antunes dos Santos Junior

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO


FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA
ALUNA SHIRLEY ALEXANDRA GARCIA
RUANO, E ORIENTADA PELO PROF. DR.
AUTELIANO ANTUNES DOS SANTOS JUNIOR.

...............................................................
ASSINATURA DO ORIENTADOR

CAMPINAS
2017
Agência(s) de fomento e no (s) de processo(s): Não se aplica.
ORCID: http://orcid.org/http://orcid.org/00

Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura
Luciana Peitrosanto Milla - CRB 8/8129

Garcia Ruano, Shirley Alexandra, 1990-


G165a Avaliação de tensões residuais em Soldas FSW em alumínio 7050
utilizando acustoelasticidade/ Shirley Alexandra Garcia Ruano.− Campinas,
SP : [s.n.], 2017.

Orientador: Auteliano Antunes dos Santos Junior.


Dissertação (mestrado) − Universidade Estadual de Campinas, Faculdade
de Engenharia Mecânica.

1. Testes não destrutivos. 2. Ondas ultrassônicas. 3. Tensões residuais. 4.


Soldadura por fricção. 5. Ligas de alumínio.I. Santos Junior, Auteliano Antunes
dos, 1963-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia
Mecânica. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Residual stress evaluation of 7050 aluminum FSW welds using
acoustoelasticity
Palavras-chave em inglês:
Non-destructive testing
Ultrasonic waves
Residual stresses
Friction stir welding
Aluminum alloys
Área de concentração: Mecânica dos Sólidos e Projeto Mecânico
Titulação: Mestra em Engenharia Mecânica
Banca examinadora:
Auteliano Antunes dos Santos Junior [Orientador]
Freddy Armando Franco Grijalba
Raquel Gonçalves
Data da defesa: 10-02-2017
Programa de Pós-Graduação: Engenharia Mecânica
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA
COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA
DEPARTAMENTO DE SISTEMAS INTEGRADOS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ACADÊMICO

Avaliação de tensões residuais em soldas


FSW em alumínio 7050 utilizando
acustoelasticidade

Autor: Shirley Alexandra Garcia Ruano


Orientador: Prof. Dr. Auteliano Antunes dos Santos Junior

A Banca Examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta Dissertação:

Prof. Dr. Auteliano Antunes dos Santos Junior


FEM/UNICAMP

Prof. Dr. Freddy Armando Franco Grijalba


FEM/UNICAMP

Prof. Dr. Raquel Gonçalves


FEAGRI/UNICAMP

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de


vida acadêmica do aluno.

Campinas, 10 de fevereiro de 2017.


Dedicatória

A David e a Leila, que formam a família que sempre quis ter. Eles fazem um verdadeiro lar
aonde quer que eu esteja.

Ao Eng. Miguel Villacrés, quem me iniciou na área dos Ensaios Não Destrutivos.

À família no Equador e a todas as pessoas que acreditaram em mim.


Agradecimentos

Agradeço a Deus pela vida, saúde e força para realizar todos os meus objetivos.

A minha família pelo amor e apoio incondicional, especialmente aos meus pais e a minha irmã.

A meu esposo David por ser o meu maior suporte. Obrigada por fazer parte da minha vida
superando qualquer dificuldade e por compartilhar esse sucesso comigo.

Ao Professor Dr. Auteliano Antunes dos Santos Junior, pela orientação neste trabalho, pela
paciência e confiança depositada em mim.

Aos meus colegas do LABVIA, especialmente ao grupo de pesquisa de ultrassom, obrigada


pelo companheirismo e apoio.

Aos colegas equatorianos na UNICAMP, obrigada pela amizade durante esse tempo de estudo.

Ao pessoal do laboratório de Caracterização de Materiais, e da Oficina Mecânica do


departamento pela colaboração neste trabalho.

Ao Laboratório Nacional de Nanotecnologia do Brasil (LNNano) especialmente a Victor


Ferrinho Pereira e Eduardo Bertoni da Fonseca, pela ajuda no desenvolvimento deste trabalho
e pelos conhecimentos compartilhados.

Ao “Programa de Becas Convocatória Abierta 2013 Segunda Fase” da SENESCYT no Equador


e à FAPESP, processo 2013/21616-0, pelo apoio financeiro.
If you can’t love yourself, how the
hell are you gonna love somebody
else?

Ru Paul
Resumo

A liga de alumino 7050-T7451 tem sido amplamente utilizada na fabricação de


componentes estruturais para aeronaves devido ao seu baixo peso e sua alta resistência
mecânica. A composição química e os processos de formação desta liga outorgam-lhe um
elevado nível de propriedades mecânicas. Por outro lado, essas propriedades podem ser
afetadas pelos processos de fabricação que geram calor, devido ao fato de que os mecanismos
de transformações estruturais são sensíveis à variação de temperatura. Portanto, introduzir um
processo convencional de soldagem que envolva gradientes elevados de temperatura é uma
tarefa quase impossível nestas ligas. Nas ultimas décadas, o processo de soldagem em estado
sólido Friction Stir Welding (FSW) tem se mostrado como uma alternativa tecnológica para a
obtenção de juntas soldadas de ligas aparentemente não soldáveis. Para avaliar a segurança no
emprego desse processo, o conhecimento da magnitude e distribuição das tensões residuais na
solda é importante. Dado que as tensões residuais podem se tornar suficientemente elevadas e
causar sérias distorções nos componentes das aeronaves, a determinação das tensões residuais
produzidas pelo processo de soldagem é indispensável na avaliação do comportamento e a
durabilidade das soldas FSW em alumínio 7050-T7451. O presente trabalho busca determinar
o perfil de tensões residuais longitudinais em placas soldadas pelo processo FSW empregando
o método ultrassônico com ondas longitudinais criticamente refratadas (LCR ). A medição de
tensão usando ultrassom está fundamentada na relação da variação da velocidade da onda
ultrassônica com a alteração dos níveis de tensão no material. Esta relação é conhecida como
efeito acustoelástico. A variação da velocidade da onda é obtida mediante a medição do tempo
de percurso (time-of-flight) ou TOF no interior do material. Nos experimentos foram utilizadas
ondas ultrassônicas LCR produzidas com duas frequências: 3,5 MHz e 5 MHz. As medições
foram feitas no sentido longitudinal da solda, a diferentes distâncias da sua linha do centro.
A influência da temperatura sobre o resultado da medição e o método de determinação do
tempo de percurso foram também avaliados. Os resultados permitiram obter um perfil de
tensão residual coerente com a literatura, mostrando uma zona de tração na região da solda
e uma diminuição dos valores de tensão tendendo ao valor nulo nos extremos afastados da solda.

Palavras-chave: métodos não destrutivos, método ultrassônico, ondas LCR , medição de tensão,
tensão residual, Friction Stir Welding, liga de alumínio.
Abstract

The 7050-T7451 aluminum alloy has been widely used in the fabrication of aircraft
structural components due to its low weight and high mechanical strength. The chemical
composition and the formation process of this alloy confer it a high level of mechanical
properties. By the other hand, these properties can be affected by manufacturing processes
which involve heat, because the structural transformation mechanisms employed are sensitive
to the temperature variation. Therefore, introducing a conventional welding process that
involves high temperature gradients could be almost impossible in these alloys. Nowadays, the
solid state welding process Friction Stir Welding (FSW), has been shown to be a technological
alternative to achieve welded joints of apparently non-weldable alloys. In order to evaluate
this process, the knowledge of the magnitude and distribution of residual stresses in the weld
is important. Since residual stresses may become high enough to cause serious distortions
in aircraft components, the determination of the residual stresses produced by the welding
process is indispensable to evaluate the behavior and durability of the friction-stir welding of
7050-T7451 aluminum. The present work attempts to determine the profile of longitudinal
residual stresses of plates welded by the FSW process using the ultrasonic method through
critically refracted longitudinal waves (LCR ). The stress measurement using ultrasound is based
on the relation of ultrasonic wave velocity variation with the change of the stresses patterns
in the material. This relationship is known as acustoelastic effect. The wave velocity variation
is obtained by measuring the time-of-flight (TOF) within the material. In the experiments,
were used LCR ultrasonic waves produced at two frequencies: 3,5 MHz and 5 MHz. The
measurements were made in the longitudinal direction of the weld at different distances from
the center line of the weld. The temperature influence on the result of the measurement and the
determination method of the time-of-flight were also evaluated. The results allowed to obtain
a residual stress profile consistent with the literature, showing a traction zone in the welded
region and a decrease of stress values tending to zero at the far ends of the weld.

Keywords: non-destructive methods, ultrasonic method, LCR waves, stress measurement,


Friction Stir Welding, aluminum alloy.
Lista de Ilustrações

2.1 Esquema representativo da evolução da resistência mecânica, dureza e


microestrutura em ligas de alumínio tratáveis termicamente, a uma temperatura
constante(Smith e Hashemi, 2013). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2 Aplicações das principais ligas de alumínio nas estruturas aeronáuticas padrão
(Rosato Jr, 2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.3 Comparativo das ligas de alumínio soldáveis. Adaptado de (Rosato Jr, 2003) . . 32
2.4 Friction Stir Welding- FSW (Marques e outros, 2014). . . . . . . . . . . . . . . 34
2.5 Etapas do processo de solda por FSW (Rosato Jr, 2003). . . . . . . . . . . . . . 35
2.6 Protótipo de ferramenta para o processo de solda por FSW em junção de uma
placa de 75 mm de AA6082. Adaptado de (Nicholas e Kallee, 2000) . . . . . . 35
2.7 Posição da ferramenta no processo de solda por FSW. Adaptado de (Cao e Kou,
2005). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.8 Variáveis e parâmetros do processo de FSW (Cerveira, 2008). . . . . . . . . . . 37
2.9 Zonas típicas do processo de soldagem Friction Stir Welding–FSW. Adaptado
de (Mishra e outros, 1999). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.10 Perfil de microdureza da seção transversal de uma junta de topo Friction Stir
Welding com as suas respectivas microestruturas típicas indicadas. (Rosato Jr,
2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.11 Superposição de um estado de tensões residuais e de um estado de tensões
atuantes (Soares, 2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.12 Representação esquemática da Tensão Residual como um desajuste entre
diferentes regiões sobre diferentes condições de processamento termomecânico.
Adaptado de (Withers e Bhadeshia, 2001). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
2.13 (a) Componente submetido a trabalho a frio, (b) distribuição das tensões
residuais. Adaptado de (Lu, 1996). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.14 Distribuição de tensões residuais longitudinais e transversais paralelas e
perpendiculares a uma placa de alumínio soldada pelo processo TIG. σy e σl
tensões paralelas ao cordão da solda. σx e σt tensões perpendiculares ao cordão
da solda (Hauk, 1997). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.15 Influência do aporte térmico na distribuição de tensões residuais transversais.
Adaptado de (Totten, 2002). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.16 Distribuição típica de tensões residuais longitudinais devido à soldagem para
(a) aço e (b) alumínio. (Mackenzie e Totten, 2003). . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.17 Representação esquemática da distribuição de tensões residuais para alumínio.
Adaptado de (Kumar e outros, 2013). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.18 (a) Distâncias interplanares de grãos com diferentes orientações (a) de um corpo
isento de tensões, (b) de um corpo sobre um campo de tensões. (François
e outros, 1996). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.19 Porção de material na qual incide o feixe de raios-x, destacando-se o cone de
difração. (Soares, 2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.20 Varredura da superfície da amostra usando o difratômetro (Sousa, 2012). . . . . 49
2.21 (a) Técnica pulso-eco, (b) Técnica pitch-catch volumétrica (c) Técnica
pitch-catch na superfície (Soares, 2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.22 Ilustração do movimento da partícula versus a direção da propagação da onda.
Adaptado de (Olympus, 2006). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.23 Esquema de propagação de superfície (Pereira Jr, 2011). . . . . . . . . . . . . 54
2.24 Esquema da incidência normal de um feixe acústico. . . . . . . . . . . . . . . 54
2.25 Esquema da incidência oblíqua de um feixe acústico. . . . . . . . . . . . . . . 55
2.26 Incidência oblíqua: (a) primeiro ângulo crítico, (b) segundo ângulo crítico. . . . 56
2.27 Geração da Onda Longitudinal Criticamente Refratada (Pereira Jr, 2011). . . . 57
2.28 Velocidade de ondas planas e campo de tensões para um sistema de coordenadas
ortogonais (Andrino, 2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.1 (a) Macrofotografia óptica mostrando o cordão da solda (Welded nugget) e a
zona termo-mecanicamente afetada TMAZ na solda FSW da liga 7050-T7451.
Micrografias ópticas de maior ampliação: (b) tamanho de grão fino o cordão da
solda e (c) grãos curvos da TMAZ. (Jata e outros, 2000) . . . . . . . . . . . . . 70
3.2 Resultados relacionado com as tensões residuais longitudinais, obtidos pelo
método de elementos finitos e pelo método ultrassônico a 1 MHz. Adaptado
de (Sadeghi e outros, 2013) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.1 Representação geométrica das placas de alumínio 7050-T7451. . . . . . . . . . 73
4.2 Máquina para Friction Stir Welding RM-1 TTI®. . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.3 Ferramenta para FSW. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.4 Representação dos parâmetros utilizados no processo FSW. . . . . . . . . . . . 76
4.5 Transdutores de ondas longitudinais (a) para 3,5 MHz (b) para 5 MHz. . . . . . 77
4.6 Conjunto probe: suporte base, cunhas e transdutores. . . . . . . . . . . . . . . 79
4.7 Pulsador/receptor Olympus® 5072PR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
4.8 Conjunto utilizado para monitoramento da temperatura . . . . . . . . . . . . . 80
4.9 Controlador embarcado NI PXI 8108. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.10 Esquema do sistema de adquisição de dados: (1) Controlador embarcado, (2)
Pulsador/receptor, (3) Comando, (4) probe, (5) Módulos para monitoramento
da temperatura, (6) Termopar, (7) Placa testada, (8) Monitor de PC. . . . . . . . 81
4.11 Trem de pulsos captado pelo transdutor receptor . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.12 Indicação do segundo cruzamento com o zero na onda LCR . . . . . . . . . . . . 82
4.13 Representação da determinação do TOF por correlação cruzada . . . . . . . . . 83
4.14 Tela principal do programa “L_Scope_GU _2016_v1”. . . . . . . . . . . . . . 84
4.15 Tela de “correlação” do programa “L_Scope_GU _2016_v1”. . . . . . . . . . . 85
4.16 Tela de “filtros” do programa “L_Scope_GU _2016_v1”. . . . . . . . . . . . . 86
4.17 Tela de (a) “controles avançados” e (b) “pulso-eco” do programa
“L_Scope_GU _2016_v1”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.18 Configuração usada para geração de ondas LCR e medição do tempo de percurso
nos experimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
4.19 Posicionamento da probe para o experimento de verificação da influência da
temperatura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
4.20 Movimentação da probe sobre a placa soldada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5.1 Tempo de percurso da onda LCR em função da temperatura para frequência de
3,5 MHz. (a) TOF 1 (b) TOF 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5.2 Tempo de percurso da onda LCR em função da temperatura para frequência de
5 MHz. (a) TOF 1 (b)TOF 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
5.3 Velocidade da onda LCR no alumínio em função da temperatura para frequência
de 3,5 MHz. (a) TOF 1 (b)TOF 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
5.4 Velocidade da onda LCR no alumínio em função da temperatura para frequência
de 5 MHz. (a) TOF 1 (b)TOF 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
5.5 Alumínio 7050-T7541 soldado pelo processo FSW . . . . . . . . . . . . . . . 98
5.6 Placa soldada usinada ensaiada pelo método ultrassônico . . . . . . . . . . . . 99
5.7 Macrografia óptica da seção transversal da solda. Escala em milímetros . . . . 99
5.8 Micrografias ópticas de maior ampliação da seção transversal da solda: (a) lado
de avanço, (b) lado de retrocesso, (c) grãos deformados na ZTMA, (d) grao finos
da zona recristalizada dinamicamente nugget . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
5.9 Perfil de microdureza na superfície da solda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
5.10 Linhas de indentação para o ensaio de microdureza na seção transversal . . . . 102
5.11 Perfis de microdureza na seção transversal da solda. . . . . . . . . . . . . . . . 102
5.12 Perfil de tesão residual obtido mediante o TOF 1. . . . . . . . . . . . . . . . . 103
5.13 Perfil de tesão residual obtido mediante o TOF 2. . . . . . . . . . . . . . . . . 104
5.14 Perfil de tesão residual obtido mediante correlação cruzada. . . . . . . . . . . . 104
5.15 Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 3,5 MHz, t1
definido como o TOF médio dos extremos da placa. . . . . . . . . . . . . . . . 105
5.16 Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 3,5 MHz, t1
definido como o TOF medido sobre placa de referência. . . . . . . . . . . . . . 106
5.17 Comparação dos perfis de tensão residual obtidos para cada método utilizando
diferentes t1 . (a) TOF 1 (b) TOF 2 (c) Correlação cruzada. . . . . . . . . . . . 107
5.18 Perfil de tesão residual obtido mediante o TOF 1. . . . . . . . . . . . . . . . . 108
5.19 Perfil de tesão residual obtido mediante o TOF 2. . . . . . . . . . . . . . . . . 108
5.20 Sinal do osciloscópio a -17,5 mm de distância da linha do centro. . . . . . . . . 109
5.21 Sinal do osciloscópio a 20 mm de distância da linha do centro. . . . . . . . . . 109
5.22 Perfil de tesão residual obtido mediante correlação cruzada. . . . . . . . . . . . 110
5.23 Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 5 MHz, t1 definido
como o TOF médio dos extremos da placa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
5.24 Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 5 MHz, t1 definido
como o TOF medido sobre placa de referência. . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
5.25 Perfil de distribuição de tesão residual em uma placa de alumínio 7050-T7541. . 112
5.26 Perfil de distribuição de tesão residual em uma placa de alumínio 7050-T7541. . 113
Lista de Tabelas

2.1 Comparação entre as principais técnicas de medição de tensões residuais.


Adaptado de (Lu, 1996) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.1 Composição química da liga de alumínio 7050-T7451. . . . . . . . . . . . . . 74
4.2 Propriedades mecânicas da liga 7050-T7451 (SAE, 2016). . . . . . . . . . . . 74
4.3 Propriedades elásticas calculadas da liga 7050-T7451 (Pereira Jr, 2011). . . . . 74
4.4 Ângulo de incidência para a geração de ondas LCR no alumínio . . . . . . . . . 78
4.5 Profundidade de penetração da onda LCR em função da frequência. . . . . . . . 78
4.6 Tempo de percurso t0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
5.1 Sensibilidade da técnica em função do TOF. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
5.2 Influência da temperatura na onda LCR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
5.3 TOF em (ns) obtido para diferentes parâmetros do controle de osciloscópio. . . 97
5.4 Avaliação do número de médias e repetibilidade na determinação do TOF em (ns). 98
Lista de Abreviaturas e Siglas

Abreviações

ASM American Society for Materials


CNPEM Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais
DRX Difração de raios-x
FE Elementos finitos
FSW Friction Stir Welding
GP Zonas Guinier-Preston
GMAW Gas Metal Arc Welding
HAZ Heat Affected Zone
LCR Onda Longitudinal Criticamente Refratada
LNNANO Laboratório Nacional de Nanotecnologia
MB Metal de base
NDT Non-destructive testing
RS Residual Stress
TOF Time of Flight
TIG Tungsten Inert Gas (Welding)
TMAZ Thermomechanical Affected Zone
TWI The Welding Institute
ZF Zona fundida
ZTA Zona termicamente afetada
ZTMA Zona termo-mecanicamente afetada
Letras Latinas

Cijkl Tensor de rigidez de quarta ordem


e Tensor de deformações
E Modulo de elasticidade (GPa)
f Frequência (MHz)
l, m, n Constantes de Murnaghan
Lkij Constante acustoelástica
vi Velocidade de propagação da onda incidente (m/s)
vL1 Velocidade de propagação da onda longitudinal (m/s)
refletida
vL2 Velocidade de propagação da onda longitudinal (m/s)
refratada
vT 1 Velocidade de propagação da onda transversal (m/s)
refletida
vT 2 Velocidade de propagação da onda transversal (m/s)
refratada
Vij Velocidade da onda plana polarizada na direção j se (m/s)
propagando na direção i
Vij0 Velocidade da onda plana polarizada na direção j se (m/s)
propagando na direção i para o estado de deformações
nulas
T Temperatura (°)
t Tempo de percurso da onda (s)
tmed Tempo medido (s)
t0 Tempo de percurso da onda no material sem tensão (s)
utilizando a velocidade padrão
t1 Tempo de percurso da onda do estado de tensão (s)
inicial zero no local de medição considerado como
referência
Letras Gregas

ε Deformação na direção da tensão


θc Ângulo de inclinação (ângulo crítico)
θi Ângulo da onda incidente
θL1 Ângulo de reflexão da onda longitudinal
θL2 Ângulo de refração da onda longitudinal
θT 1 Ângulo de reflexão da onda transversal
θT 2 Ângulo de refração da onda transversal
λ, µ Constantes de Lamé
νs Coeficiente de Poisson
ρ0 Densidade do material (kg/m3 )
σ Tensor de tensões
Sumário

Lista de Ilustrações

Lista de Tabelas

Lista de Abreviaturas e Siglas

Sumário

1 INTRODUÇÃO 21
1.1 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.2 Descrição do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2 CONCEITOS BÁSICOS 25
2.1 Alumínio e suas ligas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.1.1 Classificação das ligas de alumínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.1.2 Tratamentos térmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Endurecimento por precipitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Classificação dos Tratamentos Térmicos . . . . . . . . . . . . . . 29
2.1.3 Liga de Alumínio 7050-T7451 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.1.4 Soldabilidade das ligas de alumínio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2 Soldagem por fricção-mistura (Friction Stir Welding - FSW) . . . . . . . . . . 33
2.2.1 Descrição do processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.2.2 Parâmetros do processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.2.3 Metalurgia da solda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.3 Tensão Residual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.3.1 Tensões residuais em soldas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.3.2 Métodos de Medição de Tensões Residuais . . . . . . . . . . . . . . . 46
Métodos destrutivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Métodos não-destrutivos (Non-destructive testing - NDT) . . . . . 48
Difração de Raios-x . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Difração de Nêutrons . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Métodos magnéticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Métodos óticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.4 Método ultrassônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.4.1 Teoria das ondas ultrassônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Propriedades e tipos de onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Incidência da onda ultrassônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Onda LCR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.4.2 Teoria acustoelástica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Elasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Determinação de tensões através de ondas mecânicas . . . . . . . 58

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 63

4 MATERIAIS E MÉTODOS 73
4.1 Corpo de prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.2 Processo de soldagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.3 Equipamentos de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.3.1 Transdutores e cunhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Ângulo de incidência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Profundidade de penetração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Equipamento para geração e recepção de ondas LCR . . . . . . . . 79
4.3.2 Gerador e receptor de pulsos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.3.3 Monitoramento de temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
4.4 Sistema de adquisição de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.4.1 Determinação do tempo de percurso TOF . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.4.2 Programa para adquisição de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4.5 Procedimentos experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.5.1 Experimentos preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Influência da temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Verificações do programa de adquisição de dados . . . . . . . . . 88
4.5.2 Avaliação da soldagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
4.5.3 Determinação da tensão residual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
4.5.4 Parâmetros considerados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Metodologia de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 91
5.1 Sensibilidade da técnica de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
5.2 Influência da temperatura na velocidade de propagação das ondas LCR . . . . . 92
5.3 Verificação do controle de osciloscópio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
5.4 Avaliação da soldagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
5.4.1 Metalografias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
5.4.2 Ensaio de dureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
5.5 Determinação do perfil de tensões residuais para soldas FSW em Alumínio
7050-T7451 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
5.5.1 Resultados obtidos com frequência de 3,5 MHz . . . . . . . . . . . . . 103
Resultados obtidos com frequência de 5 MHz . . . . . . . . . . . 107
5.5.2 Comparações e discussões dos resultados . . . . . . . . . . . . . . . . 111

6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 115

Referências 119
21

1 INTRODUÇÃO

O alumínio é o metal não-ferroso mais empregado no mundo. A combinação entre leveza


e boa resistência mecânica oferecida pela maioria de ligas de alumínio atrai o interesse da
indústria do transporte moderno em todos os campos: aeronáutico, automotivo e marítimo. Em
especial, o crescimento da indústria aeronáutica tem motivado a busca por métodos e processos
mais eficientes que permitam reduzir o peso da aeronave, sem comprometer a resistência dos
materiais utilizados. Um anseio comum entre os fabricantes aeronáuticos é a capacidade de
incorporar tecnologias de junção que não acrescentem peso além do obtido com as matérias
primas convencionais disponíveis. Uma dessas tecnologias é o Friction Stir Welding (FSW),
um processo de soldagem em estado sólido que pode ser utilizado praticamente para todas
as ligas de alumínio. No processo de soldagem FSW (Thomas, 1991), uma ferramenta não
consumível gira rapidamente entre duas placas posicionadas topo a topo, forçando ao material a
fluir e destruindo a interface de separação entre elas. A ferramenta giratória de soldagem produz
aquecimento por atrito e consequente deformação plástica na região soldada. Nesse processo, o
material não atinge a temperatura de fusão.

Dentre as ligas de alumínio, a liga 7050-T7451 tem aplicação nos componentes estruturais
das aeronaves tais como: longarinas e reforçadores das asas, trem de pouse e estabilizadores. As
ligas da serie 7xxx, endurecidas por precipitação, apresentam alguns problemas metalúrgicos
de soldabilidade como a perda de resistência mecânica, formação de porosidade e formação de
trincas a alta temperatura (principalmente de solidificação). Essas dificuldades fazem que os
processos de soldagem convencionais (por fusão) sejam praticamente inviáveis para aplicações
aeronáuticas, e consequentemente o processo FSW torna-se uma opção atraente. Na crescente
aplicação do FSW na indústria, a determinação das propriedades mecânicas e distorções nas
juntas soldadas para avaliar a qualidade da soldagem tem sido objeto de diversas pesquisas.

Um dos principais fatores influentes no desempenho das juntas soldadas é a presença


de tensões residuais. O desenvolvimento de tensões residuais em peças e estruturas soldadas
pode gerar diversos problemas, como a formação de trincas, maior propensão para a ocorrência
de fadiga ou fratura frágil e perda de estabilidade dimensional. Conhecer a magnitude e
distribuição dessas tensões dentro do material contribuiria para a melhoria da qualidade da
solda e serviria para a validação do processo de soldagem, a fim de garantir total segurança na
sua aplicação.

A medição de tensões residuais não pode ser feita de forma direta, o que a torna
particularmente difícil. As técnicas tradicionais de medição experimental de tensões em geral
se baseiam na mudança de determinadas propriedades antes e depois da aplicação de um
22

carregamento e, portanto, não podem perceber as tensões residuais. Nas últimas décadas,
diversas técnicas de medição têm sido testadas para a avaliação das tensões residuais, as quais
podem ser classificadas em métodos destrutivos, baseados na relaxação da tensão mecânica,
e métodos não-destrutivos (non-destructive testing NDT), que relacionam diversos parâmetros
físicos ou cristalográficos do material com o estado de tensões internas. Uma das referencias
conceituais mais utilizadas na medição de tensões residuais é o Handbook of Measurement of
Residual Stresses (Lu, 1996), que fornece a base teórica e experimental das principais técnicas:
furo-cego, remoção de camadas, seccionamento, difração de raios-x, difração de nêutrons,
técnicas de ultrassom e técnicas magnéticas.

Métodos não-destrutivos geralmente oferecem uma avaliação rápida, simples e barata, que
pode ser feita sem interferir na utilização dos componentes. Embora a maior aplicação destes
métodos centre-se na detecção de falhas, seu uso na caracterização de propriedades físicas e
mecânicas nos materiais vem avançando significativamente. Dentre os métodos não-destrutivos
utilizados na medição de tensões residuais, a técnica de difração raios-x tem sido amplamente
empregada, mas é limitada pela profundidade de avaliação que apenas alcança dezenas de
micrômetros. A difração de nêutrons requer um equipamento caro e sofisticado, o que limita
a sua aplicação ao campo. Técnicas magnéticas e fotoelásticas ainda estão sendo testadas e
possuem aplicação limitada. O método ultrassônico baseia-se na indução de ondas mecânicas e
o registo da variação da velocidade de propagação das ondas devido à presença de tensões no
meio.

Basicamente, o procedimento experimental do ensaio de ultrassom requer um ou


mais transdutores para gerar e detectar ondas ultrassônicas, um pulsador ultrassônico e um
osciloscópio de conversor analógico digital para a visualização do sinal. Esses equipamentos
são relativamente simples e podem ser facilmente adequados às solicitações de serviço
diferentes. Devido a sua simplicidade, a determinação de tensões residuais utilizando o método
ultrassônico apresenta-se como uma alternativa promissora e adequada, especialmente na
avaliação de componentes estruturais no campo aeronáutico, no qual esses componentes devem
ser seguros e não podem ser destruídos durante a inspeção.

A relação entre a deformação de um corpo submetido a um estado de tensão estática e a


velocidade de propagação de ondas elásticas no corpo é conhecida como efeito acustoelástico.
A teoria acustoelástica formulada inicialmente por Cauchy em 1829, tem sido aprimorada e
utilizada por diferentes autores por exemplo, Hughes e Kelly (1953); Bergman e Shahbender
(1958); Egle e Bray (1976) entre outros. As tensões internas e as aplicadas aos materiais
influenciam na velocidade das ondas ultrassônicas, gerando uma variação que depende da
direção de propagação e da direção de movimentação das partículas no meio em função
da orientação da onda em relação ao estado de tensão do material. Nota-se também que a
23

velocidade das ondas no interior dos materiais é função de outras características como a textura,
tamanho de grão ou inclusões, e a sua variação pode sofrer influência da temperatura do meio.
Separar o efeito das características do material do estado de tensões internas na variação da
velocidade de propagação da onda é uma das principais dificuldades do método ainda por ser
resolvido.

Egle e Bray (1976) testaram a sensibilidade à tensão dos diferentes tipos de ondas
ultrassônicas e mostraram que a onda que se propaga na direção paralela e logo abaixo
da superfície, conhecida como onda longitudinal criticamente refratada (LCR ), tem maior
sensibilidade. Desde então, a onda LCR tem sido amplamente testada na medição de tensões
residuais. Esse tipo de onda será utilizada neste trabalho.

Estruturas soldadas tendem a apresentar uma distribuição complexa de tensões residuais


que pode ser caracterizada, na região da solda, por esforços de tração em duas ou três dimensões.
O fato pode ser associado com a ocorrência de deformação plastica não uniforme por efeitos
térmicos, nesse caso a distribuição de tensões residuais longitudinais (na direção paralela ao
cordão da solda) apresenta valores maiores do que a distribuição de tensões transversais.
Deste modo, a determinação das tensões residuais na direção longitudinal é suficientemente
adequada para avaliar a qualidade das juntas soldadas. Neste trabalho, o perfil de tensões
residuais longitudinais em placas de alumínio 7050-T7451 soldadas a topo pelo processo FSW
foi determinado mediante o uso de ondas ultrassônicas criticamente refratadas (LCR ).

1.1 Objetivos

O principal objetivo desde trabalho é testar a utilização de ondas ultrassônicas LCR na


determinação de tensões residuais produzidas pelo processo de soldagem FSW para obter o
perfil de distribuição das tensões longitudinais ao longo da direção transversal. São consideradas
duas formas de determinação do tempo de percurso (TOF) e se considera a influência da
temperatura nas medições.

Comprovando-se a efetividade do método, tal técnica pode ser desenvolvida para ser
empregada como uma das ferramentas para a avaliação da qualidade das juntas soldadas,
permitindo também a ampliação da gama de aplicações deste processo de soldagem.
24

1.2 Descrição do Trabalho

No capítulo 2 aborda-se os conceitos básicos dos diferentes assuntos envolvidos neste


trabalho: ligas de alumínio, processo de soldagem FSW, tensão residual e técnicas de medição.
Finalmente apresentam-se os fundamentos do método ultrassônico e os conceitos da teoria
acustoelástica necessários para o desenvolvimento deste trabalho.

O capítulo 3 apresenta uma revisão bibliográfica que aborda uma breve compilação dos
estudos referentes à acustoelasticidade e ao método ultrassônico utilizando esse efeito. Esse
capítulo inclui também uma revisão de trabalhos focados na avaliação do processo de soldagem
FSW aplicado às ligas de alumínio. Destacam-se alguns estudos referentes à determinação de
tensões residuais na soldagem aplicando diferentes técnicas, incluindo a aplicação das ondas
LCR . No capítulo 4 é apresentada a metodologia para a realização dos experimentos, descrição
do corpo de prova, parâmetros de soldagem e equipamentos utilizados.

Os resultados obtidos são apresentados e discutidos no capítulo 5. Outros ensaios que


ajudam na compreensão e análise dos resultados obtidos são expostos também nesse capítulo.
Finalmente o capítulo 6 contém as conclusões feitas e sugestões para trabalhos futuros
relacionados.
25

2 CONCEITOS BÁSICOS

Neste capítulo são apresentados os aspectos teóricos relativos ao desenvolvimento deste


trabalho. Conhecer as características e propriedades básicas do material permite entender seu
comportamento na soldagem, e consequente a aparição de tensões residuais induzidas pelo
processo. Primeiramente são expostas algumas noções básicas sobre o alumínio e suas ligas.
Continua-se com uma breve descrição do processo de soldagem por Friction Stir Welding
(FSW) e conceitos sobre tensão residual, incluindo tensões residuais induzidas pela soldagem
e algumas técnicas de medição. Sobre o método ultrassônico, são apresentados os fundamentos
da teoria das ondas ultrassônicas e, finalmente, os aspectos da teoria de elasticidade e da teoria
acustoelástica relevantes a este estudo.

2.1 Alumínio e suas ligas

A combinação entre elevada resistência mecânica e baixa densidade, faz do alumínio


e suas ligas um dos grupos de materiais metálicos mais interessantes presentes em uma
ampla série de aplicações especialmente na fabricação de estruturas aeronáuticas e veiculares.
As crescentes demandas da indústria impulsionaram a produção e o desenvolvimento de
técnicas metalúrgicas que acrescentam características e propriedades especificas no Alumínio,
aumentando assim a sua gama de aplicações. Na produção de estruturas metálicas, a aplicação
das ligas de alumínio disponíveis no mercado só é menor que a dos aços.

A densidade do alumínio é de 2,7 g/cm3 , aproximadamente 1/3 da densidade do aço. Entre


outras propriedades principais pode-se citar a sua elevada condutividade eléctrica e térmica, e
excelente resistência à corrosão devido à camada de oxido protetora característica do material.
No entanto, esse metal por si só não pode ser utilizado para a obtenção de respostas a todas as
solicitações de engenharia. A combinação de elementos para a obtenção de ligas e a aplicação
de determinados tratamentos térmicos aprimoram as propriedades do material, impulsionando
a produção de alumínio especifico para diferentes aplicações.

Desde o final da década de 1920, quando o primeiro avião comercial foi fabricado, o
alumínio vem marcando presença na configuração das aeronaves. Sua aplicação tem aumentado
quase de forma exponencial, sendo atualmente o material mais importante no setor aeronáutico
e aerospacial. O surgimento de novos materiais não metálicos e que oferecem menor custo
ou outras vantagens competitivas obriga aos fabricantes de alumínio a continuar inovando para
oferecer aos clientes materiais superiores com propriedades únicas. A indústria do alumínio está
explorando novas tecnologias para reduzir os custos de produção e tem investido em pesquisas
26

para o desenvolvimento de ligas que permitam ao metal continuar na liderança como material
principal para indústria aeronáutica e aerospacial.

2.1.1 Classificação das ligas de alumínio

As ligas de alumínio são classificadas de acordo com os elementos de liga principais e


pelo método de processamento final utilizado. A Aluminum Association utiliza um sistema de
identificação que classifica as ligas como: ligas trabalháveis ou forjáveis(wrought alloy) e ligas
fundidas (cast alloy).

Para ligas trabalháveis, é usado um sistema de quatro dígitos para produzir uma lista de
famílias de composições da seguinte maneira (ASM International, 1990):

1xxx Alumínio comercialmente puro, usado principalmente nas indústrias eléctrica e


química.

2xxx Ligas nas quais o cobre é o principal elemento ligante, além de outros elementos,
como o magnésio principalmente. As ligas da série 2xxx são comumente usadas em
aplicações aeronáuticas.

3xxx Ligas nas quais o manganês é o principal elemento ligante. Ligas de uso geral para
aplicações arquitetônicas e vários produtos.

4xxx Ligas nas quais o silício é o principal elemento ligante. Usado em varetas de solda e
folha de brasagem.

5xxx Ligas nas quais o magnésio é o principal elemento ligante. Usado em cascos de barcos,
pranchas e outros produtos expostos a ambientes marítimos

6xxx Ligas nas quais o magnésio e o silício são os principais elementos ligantes. Usadas
geralmente para extrusão.

7xxx Ligas nas quais o zinco é o principal elemento ligante, outros elementos como
cobre, magnésio, cromo e zircônio podem ser especificados. Usados em estruturas
aeronáuticas e outras aplicações de alta resistência.

8xxx Ligas que incluem algumas composições com estanho e lítio, caracterizando
composições diversas.

9xxx Reservado para futuro.


27

Tanto para as ligas trabalháveis como para as ligas fundidas, uma diferenciação adicional
para cada categoria está baseada no mecanismo primário de desenvolvimento de propriedades.
Algumas ligas são endurecidas mediante tratamentos térmicos baseados em solubilidades
das fases como: solubilização, têmpera e precipitação ou envelhecimento. Essas ligas são
denominadas ligas de alumínio tratáveis termicamente, usualmente as ligas da série 2xxx, 6xxx
e 7xxx correspondem a esse grupo.

Outras ligas trabalháveis (3xxx, 4xxx e 5xxx) dependem unicamente de mecanismos de


endurecimento por trabalho a frio geralmente através de redução mecânica. Essas ligas são
referidas como ligas não endurecíveis por tratamento térmico

2.1.2 Tratamentos térmicos

Antes de descrever a denominação das têmperas para as ligas de alumínio termicamente


tratáveis, é importante compreender o mecanismo de endurecimento por precipitação utilizado
para aumentar a resistência de varias ligas de alumínio e outros materiais.

Endurecimento por precipitação

O propósito do mecanismo de endurecimento por precipitação é de criar em uma liga


tratável termicamente, uma dispersão densa e fina de partículas precipitadas em uma matriz de
metal deformável. Para que esse mecanismo possa ser efetuado na composição da liga tem que
existir uma solução sólida terminal onde a solubilidade diminui à medida que a temperatura cai.
O processo de endurecimento inclui três etapas básicas (Smith e Hashemi, 2013):
∘ Solubilização. O material é aquecido a uma temperatura intermédia entre a temperatura
de solvus e solidus, e mantém-se até que uma estrutura de solução sólida uniforme ocorre.

∘ Têmpera. Consiste em um resfriamento rápido, geralmente até a temperatura ambiente.


Nessa etapa a estrutura da liga é constituída por uma solução sólida supersaturada.

∘ Envelhecimento. É preciso envelhecer a solução tratada termicamente e resfriada


para formar um precipitado finamente disperso. Os precipitados na liga restringem
o movimento de discordâncias durante a deformação e, portanto, aumentam a sua
resistência. O envelhecimento define-se como natural ou artificial, conforme ocorra à
temperatura ambiente ou a temperaturas mais elevadas, respetivamente.

Para uma liga susceptível a ser endurecida por precipitação, a condição de solução sólida
supersaturada encontra-se em um estado de alta energia relativamente instável, pelo qual a liga
28

tende a procurar espontaneamente um estado de energia mais baixo. A quantidade de energia


de ativação para esse passo depende do envelhecimento (temperatura e tempo). Se a energia de
ativação for baixa, agrupações de átomos segregados conhecidas como zonas de precipitação
ou zonas de Guinier-Preston (zonas GP) são formadas. A medida que a energia de ativação
disponível aumenta, essas zonas são substituídas por precipitado metaestável espesso ou ainda
por precipitado em equilíbrio mais fino se a energia for suficiente.

A forma e tamanho dos precipitados afeta de forma direta ao endurecimento do


material. Se o tempo ou a temperatura são demasiado elevados, os precipitados tendem a
crescer excessivamente afetando negativamente as propriedades mecânicas da liga. Portanto,
a escolha dos ciclos de temperatura versus tempo deve ser efetuada cuidadosamente para
evitar a precipitação de partículas demasiado grandes. A Figura 2.1 representa, de forma
esquemática, a variação de resistência mecânica, dureza e microestrutura, em função do tempo
de envelhecimento, a uma temperatura constante.

Figura 2.1: Esquema representativo da evolução da resistência mecânica, dureza e


microestrutura em ligas de alumínio tratáveis termicamente, a uma temperatura constante(Smith
e Hashemi, 2013).

O envelhecimento, aumenta de forma significativa as propriedades mecânicas das ligas de


alumínio. A maioria destas ligas sofrem um endurecimento natural após solubilização, sendo
a cinética de precipitação afetada pela temperatura ambiente. Por esta razão, muitas vezes o
envelhecimento natural é substituído pelo artificial (Kaufman e Rooy, 2004).
29

Classificação dos Tratamentos Térmicos

A seguir apresenta-se a classificação dos tipos de tratamentos adotados pela Aluminum


Association (1997).

F: Como fabricado.

O: Recozido.

W: Solubilizado, aplicável somente as ligas que envelhecem espontaneamente.

T: Termicamente tratado.

“T” aplica-se aos produtos que são termicamente tratados, com ou sem deformação
suplementar, para produzir têmperas estáveis. A letra T é sempre seguida por um numeral de 1
a 10, cada um indicando uma sequencia especifica de tratamentos básicos a seguir:

T1: Conformado em alta temperatura e envelhecido naturalmente.

T2: Conformado em alta temperatura, resfriado, deformado a frio e envelhecido


naturalmente.

T3: Solubilizado, trabalhado a frio e envelhecido naturalmente.

T4: Solubilizado e envelhecido artificialmente.

T5: Conformado em alta temperatura e envelhecido artificialmente.

T6: Solubilizado e envelhecido artificialmente.

T7: Solubilizado e estabilizado.

T8: Solubilizado, deformado a frio e envelhecido artificialmente.

T9: Solubilizado e envelhecido artificialmente e trabalhado a frio.

T10: Conformado em alta temperatura, resfriado, trabalhado a frio e envelhecido


artificialmente.

Outras cifras diferentes de zero podem ser adicionados para indicar uma variação de
tratamento que altere significativamente as propriedades do produto (Conserva e outros, 1992).

O endurecimento por envelhecimento pode ser seguido por recozimento de alívio de


tensões. No entanto, para ligas termicamente tratáveis, a concentração de elementos de liga
solúveis (suficientes para causar o envelhecimento natural) pode provocar permanência em
30

solução sólida após tais tratamentos (ASM International, 1991). Por essa razão, a maioria de
ligas comerciais termicamente tratáveis são aliviadas mediante estiramento.

As principais preocupações na metalurgia física das ligas de alumínio incluem os efeitos


da composição, trabalho mecânico e tratamento térmico nas propriedades mecânicas e físicas.
Em termos de propriedades, o objetivo principal no desenvolvimento de ligas de alumínio é o
aumento da resistência, já que a baixa resistência do alumínio puro (limite de escoamento cerca
de 10 MPa na condição recozida) limita a sua utilidade comercial.

Características importantes como a tenacidade à fratura e comportamento em fadiga das


ligas de alumínio de alta resistência utilizadas na indústria aeronáutica, são influenciadas pelas
seguintes partículas (ASM International, 1990):
∙ Constituintes: Cu2 FeAl7 , CuAl2 , FeAl6 .
∙ Dispersoides: ZrAl3 , CrMg2 Al12 .
∙ Precipitados endurecedores (zonas de Guinier-Preston)

Consequentemente, o projeto de ligas de alumínio altamente resistentes como 7475, 7050


ou 2124, tem sido baseado primariamente no controle da microestrutura pela composição e no
aprimoramento dos processos de fabricação.

2.1.3 Liga de Alumínio 7050-T7451

Os principais elementos de liga para as ligas de alumínio da série 7xxx são zinco,
magnésio e cobre. O zinco e o magnésio são combinados para formar um composto
intermetálico MgZn2 , que é o precipitado básico para aumentar a dureza da liga após o
tratamento térmico. A solubilidade relativamente elevada do zinco e do magnésio na matriz
de alumínio permite obter uma alta densidade de precipitados e consequentemente produzir
grandes aumentos de dureza.

A adição de Cu e Zr na composição das ligas Al-Zn-Mg resulta no aumento da resistência


mecânica e da resistência a corrosão sob tensão. O uso de Zr no lugar do Cr proporciona
boa resistência à fratura e aumento de dureza, especialmente na liga 7050 composta por
Al-Zn-Mg-Cu-Zr (MIL, 2003). A oportunidade de formar novos produtos através dos diferentes
processos de fabricação nessa liga, despertou o interesse da indústria para aplicações em
estruturas aeronáuticas.

A liga 7050 é utilizada em partes estruturais de aeronaves por apresentar alta tenacidade
à fratura, alta resistência à fadiga, excelente resistência à corrosão por esfoliação e à corrosão
31

sob tensão (Staley e Hunt Jr, 1998). Algumas aplicações típicas da serie 7xxx nas aeronaves são
apresentadas na Figura 2.2.

Figura 2.2: Aplicações das principais ligas de alumínio nas estruturas aeronáuticas padrão
(Rosato Jr, 2003).
.

A designação de têmpera Tx51 serve para o alívio de tensões por estiramento. A


especificação T7451 significa:

T7451: tratamento térmico de solubilização, alivio de tensões por estiramento controlado


(configuração permanente de 0,5% a 3% para chapa, 1,5% a 3% para chapa grossa, 1% a 3%
para bastão e barra laminada ou trabalhada a frio, 1% a 5% para anel forjado e anel laminado) e
em seguida, artificialmente superenvelhecido (entre T73 e T76). Os produtos não recebem mais
desempenamento após o alongamento (DS, 2000).

O envelhecimento das ligas de alumínio 7050 requer especial cuidado no controle


das variáveis de tempo, temperatura, e taxa de aquecimento. Esses parâmetros geralmente
são detalhados nas normativas para cada aplicação. Placas da liga de alumínio 7050-T7451
encontram-se especificadas na norma da Aerospace Materials Standards-SAE International
AMS4050.
32

2.1.4 Soldabilidade das ligas de alumínio

Outra propriedade importante na caracterização das ligas de alumínio é a facilidade com


que podem ser soldadas. A maioria de ligas metálicas são soldáveis, mas com certeza algumas
são muito mais fáceis de serem soldadas do que outras. O desempenho esperado para uma junta
soldada depende fundamentalmente da aplicação a que esta se destina, do processo de soldagem
e do material a ser soldado. A Figura 2.3 indica um quadro comparativo da soldabilidade das
diferentes ligas de alumínio.

Figura 2.3: Comparativo das ligas de alumínio soldáveis. Adaptado de (Rosato Jr, 2003)

O alumínio tem a característica de reagir rapidamente com o oxigênio do ar formando


uma camada superficial de óxido dura com um ponto de fusão maior ao do alumínio. Nos
processo de soldagem por fusão, essa camada de óxido pode impedir a combinação do metal
base e do metal de adição, formando inclusões na solda ou absorvendo a umidade do ar gerando
porosidade.

Devido a elevada condutividade térmica do alumínio, de 3 a 5 vezes maior do que o aço,


o calor de soldagem é menos aproveitado no processo. Na soldagem por fusão é comum o
uso de preaquecimento para juntas de maior espessura, a fim de garantir a formação da poça de
fusão. Porém, a temperatura de preaquecimento na soldagem de alumínio deve ser relativamente
baixa (no máximo 205°C) devido à ocorrência de superenvelhecimento nas ligas de alumínio
endurecíveis por precipitação (Modenesi, 2008). O coeficiente de expansão térmica do alumínio
é aproximadamente duas vezes maior que o do aço, o que favorece à ocorrência de distorções
33

e aparecimento de trincas, especialmente a alta temperatura na solidificação devido também a


perda de ductilidade.

Algumas ligas são também sensíveis à fissuração por corrosão sob tensão. A fissuração
na solidificação é favorecida pela presença de certos elementos de liga como Si, Cu e Mg. No
caso das ligas 5xxx ou 7xxx, os precipitados de limite de grão são observados como anódicos
relativamente às suas zonas adjacentes livres de precipitados. Assim, quando expostos a um
electrólito, os precipitados de limite de grão irão corroer.

A perda de resistência mecânica em algumas ligas é outro dos problemas da soldagem. As


soldas de alumínio são as únicas em que a união soldada e a zona termicamente afetada (ZTA)
são normalmente as partes mais fracas da junção. Por esta razão, as eficiências de resistência da
união soldada no alumínio são normalmente da ordem de 50% ou inferior (Mackenzie e Totten,
2003). Ligas de alumínio endurecidas por precipitação são sensíveis à elevação da temperatura
que produz dissolução dos precipitados e enfraquecimento na ZTA. Ligas da série 6xxx e 7xxx
experimentam algum envelhecimento pós-soldagem na zona fundida e na ZTA (maiormente as
ligas 7xxx).

Na soldagem por fusão, as ligas da série 7xxx são mais fracas na zona fundida. Vários
esforços têm sido gastos a fim de resolver o problema. Atualmente, modelos de dissolução e
crescimento de precipitados na zona afetada pelo calor permitem a previsão e otimização do
comportamento mecânico. Além disso, o desenvolvimento de novos procedimentos e processos
de soldagem, tem trazido significativas melhoras na aplicação da soldagem para ligas de
alumínio.

2.2 Soldagem por fricção-mistura (Friction Stir Welding - FSW)

A definição do processo de soldagem metalurgicamente mais correta é a união de duas ou


mais partes metálicas pela aplicação de calor e/ou pressão, com ou sem metal de adição, para
produzir uma união localizada por fusão ou recristalização na interface (ASM International,
1993).

O processo de soldagem por fricção, Friction Stir Welding (FSW), foi desenvolvido e
patenteado em 1991 pela TWI The Welding Institute, na Inglaterra. Desde sua invenção, o
processo vem sendo amplamente estudado em centros de pesquisa do mundo e já é utilizado em
muitas companhias mundiais, principalmente para junção de ligas de alumínio (Kallee, 2002).

A indústria aeronáutica é uma das mais interessadas no processo devido a possibilidade


34

de substituição do processo de rebitagem. Estudos recentes revelam que essa nova técnica de
junção no estado sólido possui os melhores valores de vida em fadiga de junção (John e outros,
2003), tornando o processo ainda mais atrativo aos projetos aeronáuticos que necessitam de
elevada resistência estrutural, alta durabilidade em fadiga e baixo peso.

2.2.1 Descrição do processo

Nesse processo, uma ferramenta não consumível gira rapidamente entre duas chapas
posicionadas topo a topo fazendo com que o material de ambas chapas seja misturado,
destruindo a interface de separação entre elas e consolidando a união (Fig. 2.4). As chapas
a serem soldadas devem ser fixadas de forma que não se separarem durante a realização do
processo.

Figura 2.4: Friction Stir Welding- FSW (Marques e outros, 2014).

O mecanismo de união do processo FSW se fundamenta no calor causado principalmente


pelo atrito de uma ferramenta circular sobre a superfície externa da junta a ser unida. O
aquecimento localizado na região de contato produz aumento de temperatura que promove
o aumento da plasticidade e diminuição da viscosidade do metal nas interfaces da junta. O
aumento da plasticidade, junto com o desenho peculiar da ferramenta de atrito, possibilita
que os materiais a serem unidos sejam misturados mecanicamente por rotação. Conforme a
ferramenta vai se movendo em direção do cordão de solda, o material deformado é forçado
35

para trás, enquanto aplica-se uma força intensa que consolida o material de solda. A soldagem
é ainda ajudada pela severa deformação plástica no estado sólido, envolvendo recristalização
dinâmica do material base (Cerveira, 2008). A sequencia pode ser observada esquematicamente
na Figura 2.5.

Figura 2.5: Etapas do processo de solda por FSW (Rosato Jr, 2003).

A ferramenta possui uma região plana que gera o atrito na superfície externa da junta
conhecida como ombro, e um pino (usualmente rosqueado). Na Figura 2.6 é possível notar as
superfícies do ombro e do pino da ferramenta para FSW. O comprimento do pino utilizado
no processo é normalmente um pouco menor do que a espessura da superfície a ser soldada, de
forma a garantir que a base da ferramenta fique em constante contato com a região a ser soldada.

Figura 2.6: Protótipo de ferramenta para o processo de solda por FSW em junção de uma placa
de 75 mm de AA6082. Adaptado de (Nicholas e Kallee, 2000)

A ferramenta de soldagem pode ficar ligeiramente inclinada, formando um ângulo com a


36

vertical chamado de ângulo de inclinação (tilt angle) conforme pode ser visto na Figura 2.7.

Figura 2.7: Posição da ferramenta no processo de solda por FSW. Adaptado de (Cao e Kou,
2005).

Um fator crítico para o sucesso da junta soldada é o projeto da ferramenta para


FSW. Materiais, geometria, dimensões, tipos de revestimentos e processos de fabricação da
ferramenta estão em função do tipo da junta a ser unida, dos parâmetros do processo utilizados
e até do equipamento empregado. Atualmente, as características gerais de uma determinada
ferramenta para FSW são geralmente guardadas como segredos industriais, e estão protegidas
por patentes.

Alguns requisitos para o material constituinte são alta resistência ao desgaste e


propriedades adequadas, tanto dinâmicas quanto estáticas, quando submetidas a altas
temperaturas. Um material adequado para a fabricação de ferramentas é o aço AISI H13, tratado
termicamente (têmpera, revenimento e alívio de tensões) para a dureza de 45 Rockwell C.
Porém, o zinco presente como elemento de liga no alumínio da série 7XXX pode migrar para os
contornos de grão em temperaturas superiores a 100°C causando fragilização no aço (Rosato Jr,
2003). Outros materiais tais como ligas de titânio, tungstênio, Inconel, Nimonic, cerâmica cBN
(nitreto boro cúbico) ou aço com revestimentos cerâmicos (zircônio ou nitreto de titânio/silício)
podem ser utilizados para se obter melhores resultados com a desvantagem de fazer o processo
mais caro.

As máquinas operatrizes para o processo de FSW são em geral similares máquinas


fresadoras. Dependendo da aplicação, fresadoras comuns adaptadas ao processo podem ser
empregadas.
37

2.2.2 Parâmetros do processo

Os parâmetros principais a serem considerados no processo de FSW são as velocidades


de rotação e avanço da ferramenta. A qualidade do produto final está diretamente relacionada
com esses fatores. Quanto maior a velocidade de rotação e menor a velocidade de avanço o
calor gerado pela solda será maior produzindo temperaturas elevadas que podem gerar defeitos
e trincas. Não obstante, se o material não se aquece suficientemente, as forças atuantes sobre a
ferramenta tendem a ser maiores e vazios na microestrutura do material podem vir a quebrá-la
(Cerveira, 2008). Ainda em relação à temperatura do processo, os estudos demonstram que o
tamanho do grão diminui à medida que é gerado menos calor no processo, ou seja, com uma
menor velocidade de rotação obtêm-se produtos com tamanhos de grão menores (Cavaliere e
Squillace, 2005).

É preciso garantir que os parâmetros de soldagem sejam adequadamente selecionados de


forma a permitir uma plasticidade mínima do material sem prejudicar o produto final da solda.
Esses parâmetros somados aos relacionados ao tipo de ferramenta são dependentes do tipo de
liga e suas dimensões, e portanto devem ser escolhidos conforme a cada aplicação. A Figura
2.8 apresenta as variáveis e parâmetros do processo de forma resumida.

Figura 2.8: Variáveis e parâmetros do processo de FSW (Cerveira, 2008).


38

2.2.3 Metalurgia da solda

No processo FSW, o material não atinge o ponto de fusão e portanto, as microestruturas


e propriedades resultantes da fusão e resolidificação nos processos tradicionais de soldagem
não estão presentes na região da solda. Consequentemente as propriedades mecânicas são mais
elevadas. A Figura 2.9 apresenta uma vista superior da solda FSW, as zonas marcadas são
descritas a seguir:

1. Metal de solda (nugget): é a zona de recristalização dinâmica, onde está o material mais
deformado durante o processo. Sofre severa deformação plástica e recebe intenso fluxo de
calor. A região presenta grãos finos usualmente equiaxiais, de tamanho 10 vezes menor
aos grãos do material base.

2. Zona re-aquecida superficialmente: região da superfície da solda, que se encontra fora


da borda do nugget. Nesta zona, o material revolvido pela parte anterior da ferramenta é
depositado no lado de avanço se parecendo como uma rebarba.

3. Zona termomecanicamente afetada ZTMA: ocorre em ambos os lados da zona de


revolução. Na ZTMA, o calor gerado pela ferramenta ainda é superior à temperatura de
recristalização do material, o que faz formar precipitados em solução sólida.

4. Zona termicamente afetada ZTA: área não deformada plasticamente, porém


influenciada pelo calor. Nas ligas de alumínio essa região apresenta crescimento de
grão e superenvelhecimento, resultando em uma possível degradação das propriedades
mecânicas da junta.

Figura 2.9: Zonas típicas do processo de soldagem Friction Stir Welding–FSW. Adaptado de
(Mishra e outros, 1999).
39

Uma maneira de distinguir a largura das diferentes zonas é pela medição de dureza. Na
Figura 2.10 pode-se observar a distribuição de dureza em relação a distância ao centro da
ferramenta que coincide com a região do nugget.

Figura 2.10: Perfil de microdureza da seção transversal de uma junta de topo Friction Stir
Welding com as suas respectivas microestruturas típicas indicadas. (Rosato Jr, 2003).

2.3 Tensão Residual

As tensões residuais são definidas como tensões que existem em um corpo elástico mesmo
na ausência de solicitações externas mecânicas e/ou térmicas. O estado de tensões residuais em
um corpo é auto-equilibrante, ou seja, as resultantes de todas as forças e momentos resultantes
dessas tensões são zero. No entanto, as tensões residuais não podem de modo algum ser
desprezadas, pois elas se somam às tensões aplicadas externamente. Por exemplo, se as tensões
residuais são compressivas e a tensão aplicada for trativa, a tensão resultante será diminuída
na superfície. Pelo contrario, se o carregamento aplicado for compressivo, este será aumentado
pela presença das tensões residuais compressivas (Fig. 2.11).

A origem da tensão residual é consequência das interações entre tempo, temperatura,


deformação e microestrutura do material (Sigwart, 1956). Geralmente, essas tensões são
resultados de diferentes processamentos térmicos ou mecânicos dos componentes durante a
sua fabricação (fundição, soldagem, laminação, forjamento, usinagem, dobramento, tempera,
etc). A Figura 2.12 ilustra alguns dos processos de fabricação que podem introduzir tensões
residuais em vários componentes.
40

Figura 2.11: Superposição de um estado de tensões residuais e de um estado de tensões atuantes


(Soares, 2003).

Figura 2.12: Representação esquemática da Tensão Residual como um desajuste entre diferentes
regiões sobre diferentes condições de processamento termomecânico. Adaptado de (Withers e
Bhadeshia, 2001).

As tensões residuais podem ser agrupadas em função da extensão de material na qual elas
agem. Assim, pode-se citar três tipos (Dieter e Bacon, 1986):

∙ Tipo I: Tensões residuais macroscópicas ou macrotensões.


∙ Tipo II: Tensões residuais microestruturais, de origem microscópica por deformações
plásticas.
∙ Tipo III: Tensões microlocalizadas, as quais tem origem em defeitos cristalinos.
41

As tensões residuais surgem como consequência de deformações não uniformes dentro


de um corpo devido a mudanças de forma ou volume não homogêneas. A Figura 2.13 apresenta
um exemplo simples de formação de tensões residuais para um placa que esta sendo laminada
a frio. O escoamento de material acontece só na superfície da placa enquanto o centro, que
permanece sem modificações, restringe o alongamento. Produto dessa restrição, a superfície
da placa resulta submetida a compressão e o centro a tração. As tensões descritas no exemplo
são no tipo I ou macroscópicas. Porém, se for considerada a anisotropia do material existiriam
também tensões microscópicas devido as deformações não homogêneas entre os grãos e tensões
microlocalizadas pelo movimento das discordâncias.

Figura 2.13: (a) Componente submetido a trabalho a frio, (b) distribuição das tensões residuais.
Adaptado de (Lu, 1996).

A remoção completa das tensões residuais pode não ser possível. No entanto, seguindo
as técnicas de fabricação adequadas, podem ser diminuídas em grande medida. Assim, o
conhecimento dos fatores que influenciam o estado das tensões residuais é muito importante
para o seu manejo.

2.3.1 Tensões residuais em soldas

O conhecimento sobre a formação e as consequências das tensões residuais produzidas


no processo de soldagem tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas. Alguns dos
efeitos consideráveis no comportamento de componentes unidos são (Totten, 2002):

∙ Tensões resultantes elevadas como consequência da sobreposição de cargas e tensões


residuais.
42

∙ Influência no limite de elasticidade local dos componentes, dependendo do tipo e da


multiaxialidade do estado de tensão residual.
∙ Formação de fissuras sem cargas externas.
∙ Aumento do risco de fratura frágil por altos valores de tensão local e/ou estados de tensão
residual altamente multiaxiais.
∙ Influência das distribuições de tensões residuais nos modos de carga das fissuras
existentes.
∙ Influência na resistência à fadiga.
∙ Influência na estabilidade elástica, por exemplo flambagem.
∙ Influência na sensibilidade à corrosão por tensão no caso de ambientes corrosivos.
∙ Consequências das distribuições de tensões residuais existentes na distorção de
componentes unidos.

As tensões residuais na soldagem são principalmente consequência das distribuições de


temperatura flutuantes não homogêneas que surgem no transcurso dos diferentes processos de
soldagem. Outros parâmetros que contribuem na magnitude e distribuição de tensões residuais
estão associados aos efeitos da têmpera e transformações de fase ocorridas na soldagem.

A principal origem de tensões residuais na soldagem é o impedimento da expansão


e contração que ocorre quando regiões aquecidas e resfriadas estão próximas. Os volumes
aquecidos encolhem durante o processo de esfriamento em função do seu coeficiente de
expansão térmica e da diferença de temperatura existente. Se um objeto for aquecido e resfriado
uniformemente sem restrições dimensionais não ocorrem efeitos mecânicos importantes
dentro dele. Pelo contrario, se existir restrição de expansão/contração ou se os gradientes
de temperatura não forem constantes ao longo do objeto, tensões residuais podem ser
desenvolvidas.

Na soldagem por fusão, começando no estado livre de tensões da poça, tensões de tração
são formadas durante o resfriamento as quais atingem limite de elasticidade em função da
temperatura do material. Consequentemente, essas tensões permanecem no cordão da solda
após o final do processo. Se a quantidade de contração restrita é suficientemente alta, as tensões
podem atingir o limite de escoamento do material na zona fundida. As regiões que estão a
uma certa distância do cordão de solda e não foram fundidas durante o processo de soldagem
também sofrem deformações térmicas restringidas durante o período de resfriamento o que gera
também tensões residuais internas. Por razões de equilíbrio, as tensões residuais longitudinais
mudam de sinal ao longo da largura da chapa, resultando em uma distribuição não uniforme de
tensões residuais longitudinais (Fig. 2.14).

Como consequência das tensões longitudinais não uniformes, a contração não homogênea
43

também resulta no sentido transversal da solda. Uma vez que a contração não homogênea
significa também impedimento de contração, tensões residuais aparecem também no sentido
transversal mesmo se não há forças externas para impedir a deformação no sentido transversal.
As magnitudes da tensão residual na direção transversal atingem apenas um terço dos valores
das tensões na direção longitudinal.

Figura 2.14: Distribuição de tensões residuais longitudinais e transversais paralelas e


perpendiculares a uma placa de alumínio soldada pelo processo TIG. σy e σl tensões paralelas
ao cordão da solda. σx e σt tensões perpendiculares ao cordão da solda (Hauk, 1997).

Por outro lado, o sinal algébrico e a magnitude das tensões residuais na zona fundida e na
zona termicamente afetada, dependerá também da temperatura de transformação determinada
pelo diagrama tempo-temperatura-transformação dos materiais e da velocidade de resfriamento.
O diagrama esquematizado na Figura 2.15 mostra a influência do aumento crescente do
aporte térmico (heat imput) na distribuição de tensões residuais transversais ao longo de uma
linha perpendicular ao cordão de solda. Aportes térmicos baixos (curva 3), levam a uma
diminuição das tensões residuais de tração e de compressão, resultando em uma distribuição
de tensões residuais tipo “W”. No caso de aporte térmico elevado (curva 1), pode-se esperar
uma distribuição com tensões de compressão na zona termicamente afetada e tensões de tração
elevadas em todo o cordão de soldadura, como resultado do resfriamento até temperatura
ambiente.
44

Figura 2.15: Influência do aporte térmico na distribuição de tensões residuais transversais.


Adaptado de (Totten, 2002).

Obviamente, a distribuição das tensões residuais depende também do material soldado e


do processo de soldagem. Embora os principais princípios da formação de tensões residuais
permaneçam iguais para o alumínio existem diferenças leves devido ao fato de que as
propriedades dos materiais das ligas de alumínio são significativamente diferentes das do aço.
Por exemplo, o aumento da temperatura de fusão aumenta a tensão residual e a distorção,
considerando só essa influência, o alumínio seria mais adequado para a soldagem que o aço.
A condutividade térmica e coeficiente de expansão também aumentam a magnitude das tensões
residuais e vice-versa. O aumento no módulo elástico e no limite de escoamento aumenta as
tensões residuais e diminui a deformação. Assim, as tensões residuais nas ligas de alumínio
seriam menores e as deformações maiores em comparação com os aços. A Figura 2.16 mostra
uma comparação do perfil de tensões residuais na soldagem para aço e para alumínio.

Figura 2.16: Distribuição típica de tensões residuais longitudinais devido à soldagem para (a)
aço e (b) alumínio. (Mackenzie e Totten, 2003).
45

A Figura 2.17 mostra os perfis de tensões residuais longitudinal e transversal para


soldagem FSW em alumínio. A caracterização destas tensões pode ser resumida da seguinte
forma:

∙ As tensões residuais longitudinais são do tipo trativas na região soldada (nugget).


∙ Na área afastada do nugget, estas tensões tornam-se compressivas para equilibrar as
tensões de tração.
∙ As tensões residuais longitudinais máximas ocorrem na ZTMA ou na ZTA, a pouca
distância do centro do nugget (região recristalizada dinamicamente).
∙ As tensões residuais transversais são também de tração. Contudo, as magnitudes dessas
tensões são significativamente inferiores às das longitudinais.

Figura 2.17: Representação esquemática da distribuição de tensões residuais para alumínio.


Adaptado de (Kumar e outros, 2013).

Algumas ligas de alumínio da série 7XXX soldadas por FSW têm sido submetidas a
estudos de tensão residual, devido a sua ampla utilização nas indústrias aeroespacial, militar,
marítima, automobilística e da construção. As tensões residuais de tração e compressão mais
elevadas descritas nos estudos referentes à soldagem de ligas de alumínio pertencem às ligas da
série 7xxx (Kumar e outros, 2013). As tensões longitudinais de tração variam de 18% (Buffa
e outros, 2008) a 50% (K. Lemmen e outros, 2010) do limite de escoamento do material
base à temperatura ambiente. No metal de solda nugget, os valores maiores correspondem as
tensões residuais de tração longitudinais, valores tão altos quanto 38% (K. Lemmen e outros,
2010) do limite de escoamento do material base à temperatura ambiente foram relatados em
pesquisas anteriores. O perfil de distribuição de tensões residuais foi semelhante àquele descrito
na literatura.
46

2.3.2 Métodos de Medição de Tensões Residuais

Existem vários métodos e técnicas propostas para a medição de tensões residuais, mas
apenas alguns podem ser aplicados na prática dependo do tipo de componente. A medição de
tensão residual não pode ser feita de maneira direta, precisa-se relacionar a variação de tensões
internas no material com a mudança de certas propriedades físicas susceptíveis a medição. De
forma geral, existem duas formas de obter o valor das tensões residuais:

∙ Eliminar ou aliviar as tensões residuais, enquanto um transdutor registra a mudança nas


propriedades devidas à ausência das tensões residuais.
∙ Comparar a medição de propriedades de um componente tensionado com as do mesmo
componente isento de tensões.

Aliviar tensões enquanto o transdutor está colocado no componente só seria possível


utilizando técnicas chamadas de destrutivas (ou semi-destrutivas dependendo da extensão
danificada do componente). A segunda forma de obter tensões residuais (por comparação),
englobaria às técnicas não-destrutivas. As técnicas mais aplicadas pela indústria são: a técnica
destrutiva de corte ou seccionamento, furo-cego (hole drilling), difração de raios-x e difração de
nêutrons. Além desses, a técnica ultrassônica e o método de contorno vêm sendo ultimamente
mais empregados. A Tabela 2.1 fornece um resumo das principais técnicas utilizadas para a
determinação de tensões residuais.

Métodos destrutivos

As técnicas destrutivas são aquelas que necessitam de um certo grau de destruição,


utilizando técnicas que podem até introduzir tensões residuais adicionais dependendo da
operação a ser feita. A metodologia utilizada é similar para todas estas técnicas e consiste
na relaxação de tensões produzida pela remoção de material tensionado (através de usinagem
ou retirada de camadas) e a medição da deformação ou dos deslocamentos causados por
essa remoção. Através da teoria da elasticidade, as tensões são retro-calculadas a partir das
deformações medidas.

A técnica do furo-cego (hole drilling) é considerada como semi-destrutiva, pois a remoção


de material é relativamente pequena. O método requer a usinagem de um pequeno furo com
medidas aproximadas de 1 a 3 mm de diâmetro e uma profundidade igual a esse diâmetro, e
uma roseta de extensômetros (eléctricos ou óticos) que mede a deformação do material em volta
do furo.
47

Tabela 2.1: Comparação entre as principais técnicas de medição de tensões residuais. Adaptado
de (Lu, 1996)

TÉCNICA FURO CEGO DEFLEXÃO SECCIONA- DIFRAÇÃO DIFRAÇÃO DE ULTRASSOM


Hole Drilling MENTO DE RAIOS-X NÊUTRONS

Hipóteses Tensões Campo Material Material Material


básicas biaxiais tridimensional isotrópico, homogêneo e isotrópico,
uniformes de tensões homogêneo policristalino homogêneo
na superfície policristalino e policristalino e
do furo de granulometria de granulometria
fina fina

Tipo de Tipo I Tipo I Tipo I Tipo I, tipo II ou Tipo I e tipo II Tipo I + tipo II +
tensão tipo III tipo III
residual
detectada

Parâmetro Deformação Deformação Deformação Mudança na Mudança na Variação na


medido superficial ou ou deflexão superficial ou distância distância velocidade de
deslocamento deslocamento interplanar interplanar propagação
nos materiais nos materiais de ondas
policristalinos policristalinos ultrassônicas

Porção 0,5 mm2 1000 mm2 se 100 mm2 0,5 mm2 4 mm2 De 0,1 mm2 ,para
mínima de for medida a técnica com
material deflexão e frequências
analisado 100 mm2 , se altas e 30 mm2 ,
for medida para a técnica
deformação convencional

Profundidade 20 µm 20 µm 1 a 2 µm De vários até 1 mm 15 µm até 300


mínima dezenas de µm
micrômetros

Custo do 10 mil à 50 mil 1000 15000 100 mil a 200 mil Algumas 40 mil a 200 mil
equipamento centenas de
(US$) milhões

Portabilidade Sim Não Sim Sim Não Sim

Incerteza ±20 MPa ±30 MPa ±10 MPa ±20 MPa ±30 MPa 10 a 20 MPa
em situações
normais

Tempo 40 minutos, 30 minutos, 40 minutos, 20 minutos, 8 2 horas, uma vários minutos,


médio para duas horas oito horas entre 5 e 20 horas semana 20 minutos
obter a horas
primeira
medição e
estabelecer
um perfil de
tensões

Profundidade 0,02 a 15 mm 0,1 a 3 mm Todas acima de 1 a 50µm 2 mm até 50 mm 0,015 a 3 mm


da inspeção 1 mm para ondas
superficiais e
a espessura do
componente
para ondas
volumétricas
48

Embora os métodos destrutivos para a determinação de tensões residuais sejam fortemente


fundamentados e difundidos, eles não podem ser aplicados na avaliação da grande maioria dos
elementos mecânicos em serviço, ja que não se deseja que os componentes sejam destruídos.

Métodos não-destrutivos (Non-destructive testing - NDT)

As técnicas não-destrutivas são baseadas na relação entre o estado de tensões internas no


material e a variação de certas propriedades físicas (ou cristalográficas) causada pela presença
destas tensões. As principais técnicas não-destrutivas são: difração de raios-x, difração de
nêutrons, ultrassom, métodos magnéticos e óticos.

Difração de Raios-x

A medição de tensão residual por difração de raios-x (DRX) se baseia na alteração das
distâncias interplanares do material cristalino, medidas pela posição angular dos feixes de
raios-x difratados. A tensão atuante no elemento que causa essa alteração, pode ser calculada a
partir da medição de deformação do cristal utilizando as constantes elásticas (Cullity, 1978).

Quando um material policristalino é tensionado, como aparece na Figura 2.18, a distância


entre os espaços dos planos cristalinos varia devido à deformação elástica. As distâncias entre
os plano perpendiculares a tensão aplicada aumentam se for de tração, enquanto para os planos
paralelos as distâncias diminuem.

Figura 2.18: (a) Distâncias interplanares de grãos com diferentes orientações (a) de um corpo
isento de tensões, (b) de um corpo sobre um campo de tensões. (François e outros, 1996).

Um feixe de raios-x monocromático com comprimento de onda λ é utilizado para irradiar


o material produzindo espalhamento pelos átomos da estrutura cristalina, as intensidades das
49

ondas espalhadas que interferem construtivamente entre si podem ser somadas quando a
condição de Bragg (Eq. 2.1) for alcançada:

2dsinϕ = nλ (2.1)

onde d é a distância interplanar; ϕ é o ângulo entre feixe incidente e o plano difrator; λ é o


comprimento de onda e n um número inteiro que denota ordem de difração (Fig. 2.19). Qualquer
alteração nos espaçamentos interplanares implica uma variação do ângulo de difração.

Figura 2.19: Porção de material na qual incide o feixe de raios-x, destacando-se o cone de
difração. (Soares, 2003).

O difratômetro está basicamente composto por um tubo de raios-x e um detector. O


resultado do método de difração de raios-x aplicado sobre a superfície é um espectro que contém
uma serie de picos de difração característicos de cada material (Fig. 2.20). Se o material for
deformado, esses picos sofrerão uma alteração indicando ângulos maiores, menores ou mas
largos.

Figura 2.20: Varredura da superfície da amostra usando o difratômetro (Sousa, 2012).


50

Muitos espécimes metálicos absorvem fortemente aos raios-x, por essa causa a
intensidade do feixe incidente é fortemente reduzida à uma distância muito curta abaixo da
superfície. Consequentemente, a maioria do feixe difratado se origina a partir de uma camada
superficial fina, e as medições de tensões residuais correspondem apenas a essa camada do
material. O feixe de raios-x só consegue penetrar a distância de alguns planos atômicos (1 a
50µm) (Fitzpatrick e outros, 2005). As tensões calculadas pelo método de difração de raios-x
são medidas na superfície da peça de forma que se determina unicamente as duas componentes
do tensor implicando que a terceira seja zero. Além disso, as equações utilizadas no calculo das
tensões residuais geralmente consideram ao material como isotrópico e homogêneo.

Difração de Nêutrons

A técnica de difração de nêutrons tem o mesmo fundamento da difração de raios-x, medir


a variação da distância interplanar causada pela presença de tensões residuais. Uma diferença
entre a difração de nêutrons e a difração de raios-x é que na primeira os nêutrons penetram
mais profundamente a amostra (Lu, 1996). A profundidade de penetração pode ser de vários
centímetros, o que é suficiente para a maioria das espessuras utilizadas na indústria aeronáutica,
mas o elevado custo da tecnologia, e a restrição de algumas fontes de neutrões faz com que seja
difícil de utilizar na prática.

Métodos magnéticos

São aplicáveis apenas a materiais ferromagnéticos e se fundamentam na relação entre


a magnetização e a deformação elástica. Ultimamente, duas técnicas têm sido amplamente
estudadas: a técnica do “Ruído de Barkhausen” (Gauthier e outros, 1998) e a técnica da
magneto-estriccção. A primeira técnica tem como principio a medição do ruido gerado pelo
arranjo dos domínios magnéticos durante a magnetização, enquanto a segunda técnica tem a
ver com propriedades magnéticas do material. Ambas técnicas mostraram ser aplicáveis na
industria mas ainda têm varias limitações.

Métodos óticos

Existem vários métodos baseados na visualização ótica de tensões superficiais,


com nomes diferentes, dependendo do dispositivo utilizado para visualizar as tensões. A
fotoelasticidade baseia-se na utilização de luz para desenhar figuras sobre componentes de
51

materiais isotrópicos, transparentes e contínuos, que estão a submetidos a tensão. As figuras


desenhadas são semelhantes as mostradas através da realização de uma análise de elementos
finitos, como contornos e cores. Ribeiro e outros (2008) associaram ao método do furo, uma
técnica ótica com o objetivo de determinar o campo de tensões residuais sobre um material.
Os resultados obtidos mediante essa técnica apresentaram concordância satisfatória com os
calculados pela simulação numérica. Em suma, as técnicas óticas por si só fornecem pouca
informação sobre as magnitudes de tensão residual, no entanto, as formas e gradientes das
tesões na superfície podem ser informações práticas obtidas a partir desses métodos.

2.4 Método ultrassônico

O método ultrassônico consiste na indução de ondas ultrassônicas no interior do material


a ser testado e no registro no tempo de percurso - TOF (Time-of-flight) das mesmas. A medição
de tensões por ultrassom é baseada no efeito acustoelástico, segundo a qual a velocidade de
propagação de ondas elásticas em sólidos é dependente das tensões mecânicas (Lu, 1996).
As relações acústicas são as bases teóricas para o desenvolvimento de métodos acústicos para
medições de tensões e para investigações de propriedades físico-mecânicas dos materiais por
meio do ultrassom.

A metodologia geral da técnica consiste na emissão e detecção de onda ultrassônicas que


se propagam no material utilizando transdutores piezoeléctricos especificamente projetados.
Os transdutores podem ser utilizados para transmitir e receber as ondas de forma independe e
separada (transdutor emissor e transdutor receptor) ou de forma conjunta no mesmo transdutor.
O primero caso representa a técnica que se conhece como de transparência ou em ingles
pitch-catch e o segundo caso corresponde a técnica de pulso-eco (Fig. 2.21).

Figura 2.21: (a) Técnica pulso-eco, (b) Técnica pitch-catch volumétrica (c) Técnica pitch-catch
na superfície (Soares, 2003).
52

2.4.1 Teoria das ondas ultrassônicas

Para entender o método ultrassônico é preciso abordar alguns conceitos básicos referentes
as ondas ultrassônicas, a sua incidência em um meio e forma de geração e recepção das mesmas.

Propriedades e tipos de onda

Ondas ultrassônicas são ondas acústicas mecânicas que se propagam em meios sólidos,
líquidos e gasosos, vibrando com altas frequências acima de 20kHz. Em aplicações na área de
ensaios não-destrutivos, a frequência das ondas ultrassônicas utilizada situa-se entre 100 kHz e
50 MHz (Olympus, 2006).

A velocidade do ultrassom em um material perfeitamente elástico a uma determinada


temperatura e pressão é constante. A relação entre os parâmetros característicos da onda
ultrassônica é dada pela Equação 2.2 ou 2.3.

c
λ= (2.2)
f

λ = cT (2.3)

onde

λ comprimento de onda,
c velocidade de propagação da onda no meio,
f frequência,
T período.

As formas pelas quais o ultrassom se propaga em um meio são normalmente descritas em


termos da direção do movimento da partícula em relação à direção na qual a onda viaja. Quando
o movimento da partícula se encontra no mesmo plano que a direção de propagação das ondas,
a onda viajante se conhece como onda de pressão ou onda longitudinal. Se o movimento da
partícula está em ângulo reto com a direção de propagação, a onda é cisalhante (Fig. 2.22).

Os três meios (sólido, liquido e gaseoso) têm forças que ligam as partículas para resistir
esforços de compressão, dessa forma as ondas de pressão podem-se propagar nesses meios.
53

Sólidos, ao contrário de líquidos e gases, têm rigidez que é uma resistência às cargas de
cisalhamento, permitindo a propagação de ondas cisalhantes.

Figura 2.22: Ilustração do movimento da partícula versus a direção da propagação da onda.


Adaptado de (Olympus, 2006).

Se uma onda de cisalhamento é configurada de modo que apenas roce ao longo da


superfície de um sólido, ela muda de modo seguindo o contorno da superfície. Essa onda
é conhecida como onda superficial ou de superfície e é definida como uma onda na que o
movimento da partícula é elíptico, com o eixo maior da elipse perpendicular à direção de
propagação (Fig. 2.23). As ondas de Lamb, como as ondas superficiais, propagam-se paralelas
à superfície de teste e têm um movimento de partículas que é elíptico. Estas ocorrem quando a
espessura do material de ensaio é apenas alguns comprimentos de onda à frequência de ensaio.
A espessura do material tem que ser uniforme e fina, consequentemente podem se propagar em
chapas, tubos e arames. Há um tipo especial de onda longitudinal que percorre a superfície do
material, conhecida como onda longitudinal criticamente refratada, essa onda será maiormente
analisada no seguinte item.

Os quatro modos principais de propagação são: onda de pressão, onda cisalhante e ondas
de superfície. Cada uma delas tem um nome alternativo que às vezes é maiormente usado
(Hellier, 2001):

∙ Ondas de pressão → Ondas Longitudinais.


∙ Ondas cisalhantes → Ondas Transversais.
∙ Ondas de superfície → Ondas de Rayleigh.
∙ Ondas de Lamb → Ondas de chapa.
54

Figura 2.23: Esquema de propagação de superfície (Pereira Jr, 2011).

Incidência da onda ultrassônica

Quando uma onda passa de um meio para outro encontrando uma interface de separação
de meios distintos, efeitos de reflexão, transmissão, refração e conversão de tipo onda podem
ocorrer.

A incidência da onda de um meio 1 a outro meio 2 diferente do primeiro pode ser do


tipo normal (formando 90°C em relação à horizontal) ou oblíqua em um ângulo diferente de
90°. Quando a incidência é normal (Fig. 2.24), a quantidade de energia refletida ou transmitida
depende da diferença entre as impedância do meio 1 e meio 2. Quanto maior a diferença
de impedância entre os materiais, menor transmissão. Com isso, atenuações mínimas na
transmissão através de interfaces ocorrem quando as propriedades dos materiais são próximas.

Figura 2.24: Esquema da incidência normal de um feixe acústico.

Quando a onda incide de forma obliqua, formando um ângulo θi em relação à normal do


plano incidência, apresenta-se a conversão de um modo de onda em outro. No caso de uma onda
55

longitudinal incidindo na interface, são geradas ondas longitudinais e transversais refletidas e


refratadas. Na Figura 2.25, uma onda longitudinal incide na interface que separa os meios 1 e 2
com velocidade vi e com ângulo θi , as quatro ondas resultantes são:

∙ Onda transversal refletida com um ângulo θT 1 e velocidade de propagação vT 1 .


∙ Onda longitudinal refletida com um ângulo θL1 e velocidade vL1 .
∙ Onda longitudinal refratada com um ângulo θL2 e velocidade vL2 .
∙ Onda transversal refratada com um ângulo θT 2 e velocidade vT 2 .

Figura 2.25: Esquema da incidência oblíqua de um feixe acústico.

As velocidades de propagação e os ângulos das ondas resultantes da incidência oblíqua


podem ser relacionadas entre si através da Lei de Snell (1621) ou Lei da Refração descrita na
Equação 2.4.

senθi senθT 1 senθL1 senθL2 senθT 2


= = = = (2.4)
vi vT 1 vL1 vL2 vT 2

Segundo a Lei de Snell, é possível determinar os ângulos de incidência para os quais o


seno dos ângulos das ondas longitudinal e transversal refratadas é igual a 1 respectivamente.
Quando a onda longitudinal é refratada paralela à superfície, ou seja, formando um ângulo
de 90° com a normal do plano da interface dos meios, o ângulo formado pela onda incidente
se conhece como primeiro ângulo crítico. Esse ângulo pode ser calculado a partir da Lei de
Snell em função das velocidades dos meios conhecidos. O primeiro ângulo crítico gera uma
onda longitudinal criticamente refratada, ou LCR . A mesma consideração poder ser feita para
se obter a onda transversal refratada paralela à superfície, nesse caso, o ângulo é chamado de
segundo ângulo crítico. A representação esquemática dos ângulos críticos é apresentada na
56

Figura 2.26. Para ângulos de incidência maiores ao primeiro ângulo crítico, a onda longitudinal
refratada deixa de existir, permanecendo só a onda transversal até o ângulo de incidência atingir
o segundo segundo ângulo crítico. Com ângulos maiores ao segundo ângulo, não existe a onda
refratada, somente a refletida.

Figura 2.26: Incidência oblíqua: (a) primeiro ângulo crítico, (b) segundo ângulo crítico.

Onda LCR

As ondas longitudinais criticamente refratadas, ou LCR , são ondas que se propagam


próximas à superfície mediante a incidência obliqua de uma onda longitudinal em um meio
diferente. A geração de ondas LCR é bastante simples, basicamente consiste em colocar
transdutores longitudinais comuns acoplados às cunhas (geralmente de acrílico) em um plano
inclinado em relação à horizontal (Fig. 2.27). O ângulo de inclinação do transdutor deve ser
igual ao primeiro ângulo crítico calculado em função das velocidades do material da cunha e do
material a ser inspecionado.

Uma importante característica da onda LCR é que em comparação com as outras ondas,
ela é mais sensível a tensão (Bray e Egle, 1979). As ondas LCR se propagam a uma profundidade
de até dois comprimentos de onda, e por isso, são chamadas ondas sub-superficiais, sendo então
menos afetadas por irregularidades superficiais (Fraga, 2007), o que é uma vantagem adicional.
57

Figura 2.27: Geração da Onda Longitudinal Criticamente Refratada (Pereira Jr, 2011).

2.4.2 Teoria acustoelástica

O efeito acustoelástico estuda a relação existente entre a velocidade de propagação das


ondas acústicas e as deformações ou tensões existentes em um corpo elástico.

Elasticidade

A teoria da elasticidade aborda o problema da deformação de corpos submetidos à


aplicação de esforços externos, relacionando a tensão ao deslocamento. A Lei de Hooke
relaciona a tensão e deformação linearmente seguindo a Equação 2.5.

σij = Cijkl ekl (2.5)

onde o termo σij é o tensor de tensões, ekl é o tensor de deformações e Cijkl são componentes
de um tensor de quarta ordem conhecido como tensor de rigidez do material.

Se o corpo é homogêneo, ou seja, as propriedades mecânicas são as mesmas para cada


partícula, então as componentes Cijkl são constantes de segunda ordem. O tensor de quarta
ordem Cijkl contém 81 componentes que podem ser reduzidas tomando em conta algumas
considerações:

− Simetria de tensor de deformações, então Cijkl =Cijlk .

− Simetria do tensor de tensões, então Cijkl =Cjikl .


58

− Assume-se que o conceito de elasticidade é associado com a existência de uma função de


energia de deformação U (eijl ) tal que σij = ∂e
∂U
ij
, então Cijkl =Cklij .

Essas considerações permitem reduzir o número de constantes independentes de segunda


ordem de 81 para 21.

Para o estudo da dependência da tensão mecânica quanto a velocidade de ondas de


pequena amplitude, geralmente assume-se que a tensão não apenas depende linearmente da
deformação, como postulado pela Lei de Hooke, mas depende também de termos quadráticos.
A relação não linear entre tensão e deformação é escrita na forma:

σij = Cijkl ekl + Cijklmn ekl emn (2.6)

O tensor de sexta ordem Cijklmn contém as constantes elásticas de terceira ordem do


material. Realizando as considerações de simetria e relação de energia, é possível reduzir o
número de constantes de 729 para 56.

Meios isotrópicos: O tensor de rigidez do material isotrópico apresenta apenas duas


constantes elásticas independentes de segunda ordem: C11 e C12 . Essas constantes podem ser
expressas em função das constantes de Lamé λ e µ.

O material isotrópico apresenta três constantes elásticas independentes de terceira ordem


que na notação reduzida do tensor de sexta ordem Cijklmn são C123 , C456 e C441 . Outra
representação comum das constantes de terceira ordem dos materiais isotrópicos é através das
constantes de Murnaghan l, m e n (Murnaghan, 1937).

Determinação de tensões através de ondas mecânicas

As velocidades das ondas planas viajando paralelas à carga (Fig. 2.28) podem ser descritas
pela deformação α dadas pelas seguintes equações (Bray e Stanley, 1996):

ρ0 V112 = λ + 2µ + (2l + λ)θ + (4m + 4λ + 10µ)α1 (2.7)

1
ρ0 V122 = µ + (λ + m)θ + 4µα1 + 2µα2 − nα3 (2.8)
2
59

1
ρ0 V132 = µ + (λ + m)θ + 4µα1 + 2µα3 − nα2 (2.9)
2

Figura 2.28: Velocidade de ondas planas e campo de tensões para um sistema de coordenadas
ortogonais (Andrino, 2003).

Para um estado uniaxial de tensões, α2 = ε, α2 = α3 = −νε onde ε é a deformação


na direção 1 e ν é o coeficiente de Poisson. Usando essas relações nas equações 2.7, 2.8 e 2.9.
Determina-se as equações seguintes:

[︂ (︂ )︂]︂
2l
ρ0 V112 = λ + 2µ + 4(λ + 2µ) + 2(µ + 2m) + νµ 1 + ε (2.10)
λ
60

[︁ (︁ n )︁ ]︁
ρ0 V122 = ρ0 V132 = µ + 4µ + ν + m(1 − 2ν) ε (2.11)
2

A velocidade das ondas se propagando perpendicularmente ao estado de tensão uniaxial,


também pode ser determinada pelas equações 2.7, 2.8 e 2.9.

ρ0 V222 = λ + 2µ + [2l(1 − 2ν) − 4ν(m + λ + 2µ)]ε (2.12)

[︁ nν ]︁
ρ0 V212 = ρ0 V312 = µ + (λ + 2µ + m)(1 − 2ν) + ε (2.13)
2

[︁ n ]︁
ρ0 V232 = ρ0 V322 = µ + (λ + m)(1 − 2ν) − 6νµ − ε (2.14)
2

Calculando a variação relativa da velocidade considerando pequenas as variações na


deformação, obtêm-se as constantes acustoelásticas, Lkij para materiais isotrópicos, como segue:

dV11 /V110 µ + 2m + νµ(1 + 2l/λ)


=2+ = L111 (2.15)
dε λ + 2µ

dV12 /V120 νn m
=2+ + = L112 (2.16)
dε 4µ 2(λ + µ)

dV22 /V220
[︂ ]︂
m − µl/λ
= −2ν 1 + = L122 (2.17)
dε λ + 2µ

dV21 /V210 λ + 2µ + m νn
= + = L121 (2.18)
dε 2(λ + µ) 4µ

dV23 /V230 m − 2λ n
= − = L123 (2.19)
dε 2(λ + µ) 4µ

O índice superior nas constantes acustoelásticas representa a direção de aplicação da


tensão uniaxial e os dois índices inferiores representam a direção de propagação e polarização
61

da onda. No termo das velocidades, o índice superior 0 indica a velocidade das ondas
para deformações axiais nulas. A constante L111 da Equação 2.15 representa a constante
acustoelástica para as ondas longitudinais criticamente refratadas (LCR ).

Valores experimentais para variações relativas na velocidade com a deformação mostram


que a variação da velocidade da onda longitudinal paralela à aplicação da tensão é mais
significativa do que de outras ondas (Bray e Egle, 1979).

Usando as equações desenvolvidas, tensões unidimensionais podem ser calculadas pela


aplicacao da relação tensão deformação em sólidos elásticos. A Equação 2.15 que pode ser
escrita utilizando a Lei de Hooke com a substituição da variação da deformação dε por dσ/E,
obtendo a seguinte expressão:

dV11 /V11 E(dV11 /V11 ) E(dV11 /V11 )


= = L11 ⇐⇒ dσ = (2.20)
dε dσ L11

A Equação 2.20 pode ser usada para outras direções ou ondas, apenas notando que o valor
de L é outro. Essa equação descreve o efeito acustoelástico ao relacionar a variação de tensão
dσ com a variação relativa de velocidade de onda dV /V , utilizando o modulo de elasticidade E
e a constante acustoelástica L para cada tipo de onda.

Se a distância percorrida pela onda é constante (Duquennoy e outros, 1999), a variação


relativa de velocidade da onda pode ser expressa pela variação no tempo de percurso (TOF)
onde t0 é o tempo de percurso da onda no material sem tensão (Equação 2.21).

E(dV11 /V11 ) E
dσ = = dt (2.21)
L11 L11 t0
63

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

No campo científico, os ensaios não-destrutivos tornaram-se uma poderosa ferramenta


na pesquisa do comportamento mecânico para a caracterização dos materiais. A avaliação das
propriedades das amostras pode ser feita ao longo do processo de pesquisa sem modificações
fora dos parâmetros estudados. A versatilidade do método ultrassônico é uma das principais
motivações dos estudos focados no desenvolvimento da técnica para diferentes aplicações.
Além da aplicação típica na detecção de falhas e descontinuidades, a determinação de tensões
residuais está sendo considerada nos últimos anos devido a sua importância no comportamento
em fadiga e prevenção de fratura frágil e corrosão sob tensão.

Neste capítulo são apresentados alguns trabalhos relacionados à área de medição de


tensões residuais com a técnica de ultrassom. São apresentados também trabalhos relacionados
à medição de tensões residuais na soldagem por qualquer método e na área de avaliação da
soldagem FSW para ligas de alumínio.

Após a formulação inicial de Cauchy, a teoria acustoelástica foi primeiramente


desenvolvida por Hughes e Kelly (1953). Eles desenvolveram expressões para velocidades
de ondas elásticas em materiais tracionados a partir da teoria de Murnaghan (1937) das
deformações finitas, utilizando termos de terceira ordem da equação de energia. Assim,
determinaram as velocidades das ondas longitudinais e transversais como função da tensão
aplicada medindo o tempo de transmissão de pulsos elásticos através do material. Seus
resultados mostraram que a teoria é adequada para representar o comportamento de sólidos
elásticos sobre pressão hidrostática com tensão anisotrópica até o limite elástico.

A determinação ultrassônica não-destrutiva das tensões internas em materiais começou


com Bergman e Shahbender (1958) e Benson e Raelson (1959) descrevendo o efeito
acustoelástico no seus trabalhos. Eles realizaram experimentos de propagação de ondas em
amostras metálicas sometidas a tensão uniaxial e observaram que houve uma variação mais
significativa na sensibilidade da onda polarizada na mesma direção da tensão do que na
sensibilidade na direção perpendicular. Após vários testes, concluíram que a velocidade de
propagação das ondas longitudinais e cisalhantes (polarizadas em dois eixos perpendiculares)
varia de forma diferente em função da tensão aplicada dentro e fora do limite elástico.

Em 1961 Hayes e Rivlin aplicaram a teoria da superposição de deformações infinitesimais


sobre a deformação finita em um material elástico isotrópico para o estudo da propagação
de ondas superficiais em um corpo semi-infinito que é submetido a uma deformação estática
homogênea pura. Eles testaram vários tipos de ondas, iniciando pelas ondas de Rayleigh.
64

Egle e Bray (1976) estudaram o efeito acustoelástico e determinaram as constantes


elásticas de terceira ordem no aço tipicamente utilizado em trilhos ferroviários. A variação
de velocidade de ondas se propagando na direção perpendicular ao eixo da carga aplicada foi
medida usando transdutores ultrassônicos convenciones de 2,5 e 5 MHz acoplados diretamente
ao material em um dos dois lados. Para ondas se propagando na direção paralela, eles usaram um
conjunto de transdutores longitudinais montados em cunhas de plexiglas com inclinação de 28°
(para gerar e receptar ondas longitudinais) e 55° (para ondas transversais). Como resultado dos
experimentos realizados, eles apresentaram um gráfico que mostra as mudanças relativas das
velocidades das ondas como função da deformação axial para cada tipo de onda. Comprovou-se
então o efeito notado por Bergman e Shahbender (1958), a maior variação relativa na velocidade
da onda por unidade de deformação axial está associada à propagação da onda longitudinal
paralela à tensão aplicada.

Bray e Egle (1979), em continuação aos seus estudos, desenvolveram um transdutor


ultrassônico capaz de avaliar mudanças de tensão longitudinal em trilhos de ferrovias que
foi testado em condições de campo, apresentado uma precisão de 6,9 MPa/m2 . Neste trabalho
verificaram também a influência da temperatura na variação da velocidade de onda. Avançando
para 1981, os autores testaram as variações de velocidade que podem ocorrer como resultado
do trabalho a frio no aço.

Em 1985 Clark e Moulder, utilizaram o método ultrassônico para determinar tensões


residuais em amostras previamente comprimidas. Utilizando ondas de cisalhamento horizontais
transmitidas e recebidas por transdutores acústicos eletromagnéticos, constataram que a
presença de tensões induz uma pequena alteração na velocidade relativa das ondas. Porém,
a presença de anisotropia no material (textura da amostra) também provoca mudanças
comparáveis às induzidas pela tensão. Eles implementaram um método simples para remover
o componente dependente de anisotropia da mudança da velocidade relativa total, permitindo
assim uma determinação da tensão residual. Este método consistiu em medir a birrefringência
em espécimes de referência em um estado livre de tensão e subtraí-la da birrefringência medida
na amostra tensionada. Os resultados experimentais apresentaram concordância adequada com
os valores teóricos de tensão.

Leon-Salamanca e Bray (1996) investigaram as alterações de tensão após o alívio


de tensões residuais em placas soldadas utilizando ondas LCR , utilizando frequências de 1
MHz e 2,25 MHz. Eles determinaram a tensão residual longitudinal (paralela ao cordão de
soldadura) em duas placas após a soldagem e após o alívio de tensões. Foram utilizados
dois métodos de verificação: hole-drilling ou furo cego e difração de nêutrons. O alívio de
tensões foi verificado pela técnica do furo cego. Enquanto a técnica do furo cego mostrou
aproximadamente os mesmos valores de tensão encontrados pelo método ultrassônico usando
65

ondas LCR , a orientação foi invertida. A orientação da tensão provavelmente foi influenciada
pelo esmerilhamento usado para achatar o cordão de solda. A textura também foi investigada
usando a técnica de difração de nêutrons na textura (001) [110]. Na região do material base e na
solda se verificou que a distribuição era muito semelhante, indicando textura uniforme ao longo
das zonas da solda e do metal original.

A partir dos estudos orientados por Bray, a técnica de determinação de tensões residuais
usando a medição da velocidade ultrassônica tinha sido já varias vezes testada nas pesquisas,
especialmente nas relacionadas as tensões residuais induzidas pela soldagem. No trabalho
de Tanala e outros (1995), um tubo de aço inoxidável soldado e uma placa de liga de
alumínio foram analisados para encontrar a distribuição de tensão residual perto da superfície
usando ondas longitudinais e ondas de Rayleigh. No caso da placa de liga de alumínio, que
apresenta uma textura devido a processos de laminação, os efeitos de uma simetria ligeiramente
ortotrópica nas velocidades das ondas formam investigados.

Para a determinação das tensões residuais no tubo soldado, o procedimento de medição


utilizado consistia em gravar um sinal de referência no extremo do tubo, onde assume-se
que as tensões são zero, e comparar os sinais obtidos a diferentes distâncias da solda com
o sinal de referência. Para a liga de alumínio, o procedimento de medição foi o mesmo,
porém a anisotropia do material foi considerada utilizando a técnica da birrefringência acústica.
Também foi utilizada no caso da placa de alumínio para verificar a distribuição de tensões na
espessura. Os resultados da distribuição de tensões residuais superficiais foram comparados
com os obtidos pela técnica de difração de raios-x. A distribuição do componente longitudinal
da tensão total apresentou concordância apropriada nas duas técnicas, enquanto o componente
transversal apresentou resultados diferentes o que teria sido produto de assumir uma distribuição
homogênea na espessura da placa.

Em 1996 Duquennoy e outros realizaram experimentos em uma liga de alumínio especial


utilizada na industria aeronáutica, na que o tamanho dos grãos é muito importante. Eles
apresentaram um método baseado na medição da variação de velocidade da onda ultrassônica
de Rayleigh em função do estado de tensões internas em chapas grossas. As medições foram
obtidas usando transdutores de cunha trabalhando a 2,25 MHz, o método utilizado é insensível à
anisotropia da textura no plano de rolamento . Os perfis de tensão conseguidos por este método
mostraram que a região central das chapas está sobre tensão enquanto as regiões extremas estão
submetidas a compressão. Esse comportamento é o resultado típico do resfriamento sofrido
pelas placas durante o tratamento de têmpera no seu processo de fabricação. Os resultados
obtidos foram comparados com os perfis encontrados pelo método destrutivo de remoção de
camada. A comparação confirmou que o método ultrassônico está bem adaptado, pois ambas
técnicas levaram a perfis que mostram contornos semelhantes.
66

Santos e Bray (2000) trabalharam no desenvolvimento de uma sonda ultrassônica LCR


usando instrumentação baseada em PC. Um conjunto de medição (probe) foi desenvolvido para
a geração e recepção das ondas LCR . Foram usados dois sistemas de instrumentação, o primeiro
baseado em um PC comercial com uma placa de adquisição de 130 MHz, e um gerador/receptor
de ondas ultrassônicas. O segundo sistema utiliza um detector de falhas ultrassônico comercial
de baixo custo, a sensibilidade das ondas LCR foi verificado nesse sistema. Os resultados
mostraram que a técnica podia ser aplicada para quantificar a magnitude das tensões em barras,
utilizando o sistema de detecção de falhas comercial ou PC, desde que sejam utilizadas ondas
longitudinalmente refractadas de alta sensibilidade.

No campo de desenvolvimento de um método ultrassônico para medições de tensão,


Walaszek e outros (2002) apresentaram os avanços obtidos no CETIM (Centre Techniques des
industries Mecaniques). No seu trabalho, foram discutidos os resultados obtidos com o método
ultrassônico para chapas soldadas de aço e foi feita uma comparação com a medição de tensão
obtida pelo método do furo cego hole-drilling e difração de raios-x. Estes resultados também
foram validados pelo relaxamento térmico das placas. Os autores comentaram também sobre
a influência da microestrutura nas medições feitas com ultrassom e os métodos para ajustar e
melhorar as medições de acordo com os resultados obtidos a partir de outras técnicas.

O estudo do efeito da microestrutura sobre a velocidade ultrassônica foi feito testando


o efeito do relaxamento térmico em amostras usinadas na zona termicamente afeitada (ZTA),
na zona fundida e no material base. Foram feitas medições comparativas nas três zonas, as
medições foram feitas primeiro na placa soldada antes da usinagem e depois nos três espécimes
usinados (com relaxamento térmico). Os autores obtiveram um valor aproximado da influência
da microestrutura na variação relativa da velocidade ultrassônica: 20% de aumento na zona
fundida e 10% na zona termicamente afeitada. A aplicação desses coeficientes de “correção” nos
valores de tensão determinados na placa soldada, permitiram obter compatibilidade adequada
entre a medida obtida pela técnica de hole-drilling e a medida de tensão ultrassônica “corrigida”.
O erro estimado foi de ±50 MPa.

Belahcene e Lu (2002) desenvolveram um procedimento experimental para a


determinação de tensões residuais baseado em ondas longitudinais criticamente refratas LCR . O
procedimento apresentava diferentes etapas denominadas como: medição do tempo de percurso
da onda (travel-time); a calibração do efeito acustoelástico, que consistia na obtenção do
coeficiente acustoelástico; e a determinação da tensão residual. A metodologia experimental
foi testada em placas de aço inoxidável soldadas. As tensões residuais foram determinadas
em diferentes zonas e profundidades utilizando ondas LCR . Foi desenvolvida uma técnica de
calibração para estudar a profundidade de penetração em função da frequência de onda utilizada.
A técnica consistia na medição do tempo de percurso da onda em blocos indicadores com fendas
67

usinadas a diferente profundidades, a fim de determinar a profundidade onde as ondas são


afetadas pela primeira vez. O resultado obtido pelos autores mostrou que a técnica ultrassônica
é bastante eficiente para a avaliação de tensões residuais e permite controlar o estado do material
após tratamentos térmicos e mecânicos.

Em 2002 ANDRINO e outros, utilizaram a técnica ultrassônica para a determinação


de tensões mecânicas em barras de alumínio estrutural 7050. Foram realizados dois tipos de
experimentos. Para o primeiro caso foi utilizada a técnica da birrefringência acústica baseada
em ondas cisalhantes, para investigar a variação do tempo de percurso da onda em função da
direção de laminação da barra. Para o segundo experimento foi construído um sistema mecânico
para aplicação da carga nas barras a fim de relacionar a tensão aplicada com o tempo de percurso
das ondas. Os autores concluíram que conhecido o valor dos coeficientes acustoelásticos nos
materiais é possível empregar o método para medir tensões tanto aplicadas como residuais.
Além disso, confirmaram que a velocidade de propagação da onda é maior na direção de
laminação longitudinal.

Em sua dissertação de mestrado, Andrino (2003) aplicou o método ultrassônico para a


avaliação de tensões em juntas soldadas de placas de Aço API 5L X65 e Aço API 5L X70.
Para o Aço API 5L X70 determinou também a relaxação das tensões internas. As placas
foram soldadas pelo processo GMAW e as medições utilizando ondas LCR foram feitas após a
soldagem e após o alivio de tensões. As tensões foram determinadas ponto a ponto, utilizando a
constante acustoelástica encontrada para o material base inclusive nas regiões do metal fundido
e da ZTA. O tempo de percurso para o estado livre de tensões foi levantado para cada chapa
individualmente antes da soldagem.

As medições dos tempos de percurso após a soldagem mostraram um aumento em ralação


aos tempos levantados para o estado livre de tensões, porém, os valores foram muito elevados
inclusive nos extremos da placa onde a tensão foi cerca de 500 MPa. Após essas medições, os
conjuntos soldados foram levados para o alivio de tensões. O mesmo procedimento de medição
foi realizado para o novo estado das placas. Os novos resultados mostraram uma diminuição
das tensões na região do cordão de solda mostrando que o alivio de tensões foi bem sucedido.
O autor supôs que a tensão induzida pela soldagem foi retirada com o processo de alívio e,
portanto, a diferença entre as medições feitas antes e após esse tratamento correspondia à tensão
residual que queria determinar. Os resultados finais mostraram um perfil de tensão residual
coerente com a literatura, mostrando uma área de tração na região da solda.

Continuado a mesma linha da pesquisa do trabalho de mestrado, Andrino e Santos


(2005) apresentaram a aplicação da técnica ultrassônica para verificar a relaxação de tensões
em placas de alumínio 5052. As placas testadas posseiam uma geometria especial a fim de
68

obter tensão uniaxial após a soldagem na região de medição. Vinte e duas placas foram
testadas para estabelecer um estado livre de tensões, as placas foram inicialmente submetidas
a tratamento térmico de alivio de tensões. Depois foram soldadas, criando o campo de tensão
desejado, e cortadas em diferentes períodos de tempo em relação a data de soldagem. Após
cada etapa, a tensão foi medida utilizando um conjunto para emissão e geração de ondas LCR
com transdutores de 2,25 MHz. As diferenças nas constantes acustoelásticas relacionadas com
a direção de laminação e a variação do módulo de Young foram consideradas. Os resultados
mostraram um claro efeito de relaxamento nas amostras, comprovando a eficiência do método.
Os valores determinados não foram tão pronunciados quanto no caso do aço, mas mantiveram
a mesma relação percentil com o limite de resistência do material.

Em 2007 Andrino como parte da sua tese de doutorado, desenvolveu uma nova tecnologia
para a medição de tensões mecânicas em dutos baseada na variação da velocidade de ondas
longitudinais criticamente refratadas (LCR ). Foi construído um dispositivo especial para
movimentar o conjunto de transdutores ao longo dos pontos de medição. Além de apresentar
uma correlação satisfatória entre os resultados de tensão da técnica de ondas LCR e as medições
feitas com extensômetros a partir da tensão calculada em função da pressão no interior do
duto, o autor avaliou o método matemático mais adequado para o emprego na determinação do
tempo de percurso da onda. Assim, para o tratamento dos sinais captados pelos transdutores
ultrassônicos foram utilizadas técnicas de reamostragem, correlação cruzada e transformada de
Hilbert. A influência da temperatura e textura nas medições também foram verificadas. O desvio
padrão dos resultados obtidos foi de cerca de 25 MPa, o que corresponde aproximadamente a
5% do valor da tensao de escoamento do material.

Pereira Jr (2011) em sua dissertação de mestrado determinou as constantes elásticas que


compõem a constante acustoelástica e avaliou a influência da anisotropia gerada por laminação
no efeito acustoelástico para barras laminadas de liga de alumínio 7050-T7451. Nas medições,
foram utilizadas ondas longitudinais, cisalhantes e longitudinais criticamente refratadas (LCR ).
Com os valores medidos das constantes elásticas de segunda ordem se calculou os módulos
de elasticidade nas três direções principais do material. A média dos três módulos foi de 72,2
GPa e a diferença desse valor com cada módulo foi de no máximo de 1,7%, mostrando que
o material era apenas levemente ortotrópico. O valor da constante acustoelástica foi obtido
experimentalmente e comparado com o valor calculado a partir das constantes elásticas medidas
considerando o material isotrópico. O valor experimental da constante foi de 3,95, a comparação
indicou uma diferença praticamente insignificante (0,4%) que, no entanto, pudo ser aumentada
para 7%. Essa diferença indicou o grau de influência da anisotropia no efeito acustoelástico, o
que pode ser utilizado como parâmetro de incerteza na medição de tensão quando é utilizada a
constante acustoelástica para materiais isotrópicos, ao invés de ortotrópicos.
69

No trabalho de Qozam e outros (2010), foi abordada a influência das distintas


microestruturas induzidas pela soldagem no aço na determinação ultrassônica da tensão
residual. Em trabalhos anteriores, a avaliação das tensões residuais nas chapas soldadas de aço,
pelo método da onda LCR , só foi possível na zona fundida (ZF) e no metal de base (MB).
Enquanto na zona termicamente afetada (ZTA), as tensões residuais foram incorretamente
avaliadas devido a sua pequena largura que impede a extração da amostra de calibração.
Os autores propuseram uma alternativa que consiste em reproduzir a microestrutura da ZTA
utilizando um tratamento térmico específico. As três zonas produto da soldagem foram testadas
para chapas soldadas de aço P355 . A constante acustoelástica e o tempo livre de tensões da zona
termicamente afetada foram obtidos em amostras especificamente reproduzidas com a mesma
microestrutura mediante tratamentos térmicos adequados. Com a correção dos parâmetros de
calibração para a ZTA, os resultados finais foram comparados com os obtidos pelo método do
furo cego mostrando similitude apropriada. A variabilidade de medições repetidas foi estimada
na ordem de ±36 MPa.

Javadi e outros (2013) avaliaram as tensões residuais de soldagem em chapas de aço


inoxidável austenítico AISI 304L. Eles utilizaram o método ultrassônico seguindo o mesmo
procedimento descrito por Qozam para a determinação da constante acustoelástica e tempo
de percurso livre de tensões na ZTA. Uma análise termomecânica 3D por elementos finitos
foi também desenvolvida e verificada pelo método do furo cego. Para a técnica ultrassônica
utilizando ondas LCR , foram utilizadas frequências de 1 MHz, 2 MHz, 4 MHz e 5 MHz.
Verificou-se a profundidade da onda em cada frequência, com o uso de uma placa do mesmo
material analisado que posseia ranhuras a diferentes profundidades. Ao combinar o método
de elementos finitos (FE) e LCR (descrito pelos autores como método F ELCR ) foi possível
apresentar uma distribuição 3D da tensão residual para toda a placa soldada.

Em relação ao estudo da soldagem para ligas de alumínio, Jata e outros (2000) discutiram
os efeitos do processo Friction Stir Welding FSW na microstrutura e fadiga da liga de alumínio
7050-T451. Foram consideradas duas condições: como soldado (as-welded) e condição tratada
termicamente pós-soldagem. Microscopia óptica (Fig. 3.1) e eletrônica de transmissão (TEM)
na região do cordão da solda (weld nugget) mostraram que o processo de soldagem FSW
transforma os grãos iniciais do metal de base (de tamanho milimétrico) em grãos finos
dinamicamente recristalizados de 1µm a 5µm de tamanho. O processo de soldagem FSW
redissolveu os precipitados do cordão da solda. Amostras de tração testadas transversalmente
à solda mostraram que existia de 25 a 30% de redução no nível de esforço e 60% de
redução no alongamento na condição as-welded, a fratura foi na zona termicamente afetada. O
tratamento térmico pós-soldagem de 121 °C durante 24 horas não produziu nenhuma melhoria
tanto na resistência quanto na ductilidade do material soldado. A comparação das taxas de
crescimento de trincas por fadiga mostrou que a resistência do cordão da solda foi diminuída,
70

enquanto a resistência da zona termicamente afetada foi aumentada. As análises sugeriram que
a diminuição da resistência ao crescimento da fissuração por fadiga na região de solda foi devida
a um mecanismo de falha intergranular. Na região termicamente afetada, o efeito das tensões
residuais foi dominante à influência da microestrutura, melhorando a resistência ao crescimento
da fissura por fadiga.

Figura 3.1: (a) Macrofotografia óptica mostrando o cordão da solda (Welded nugget) e a zona
termo-mecanicamente afetada TMAZ na solda FSW da liga 7050-T7451. Micrografias ópticas
de maior ampliação: (b) tamanho de grão fino o cordão da solda e (c) grãos curvos da TMAZ.
(Jata e outros, 2000)

Reynolds e outros (2005) estudaram as relações entre parâmetros de solda, distribuição


de dureza e histórico de temperatura em liga de alumínio 7050 soldadas por FSW. As amostras
foram soldadas por fricção com três diferentes razões entre a taxa de rotação da ferramenta
e a velocidade de avanço da solda. As soldaduras foram feitas utilizando velocidades de
deslocamento entre 0,85 e 5,1mm/s. A força aplicada sobre a ferramenta e o torque foram
registrados para cada soldagem. Os autores utilizaram uma simulação por elementos finitos
para calcular o histórico da temperatura em função do tempo. A distribuição de durezas nas
placas com e sem tratamento térmico pós-soldagem foi determinada e racionalizada com base
aos parâmetros de soldagem FSW e aos históricos de temperatura calculados. As análises
forneceram uma base para a manipulação de parâmetros de soldagem a fim de alcançar as
propriedades desejadas.

Em 2006, Prime e outros mediram a tensão residual em uma junta dissimilar soldada
por friction stir welding. Placas grossas de 25,4mm das ligas 7050-T7451 e 2024-T351 foram
unidas em uma junta de topo por FSW. Removendo uma amostra da placa original, as tensões
71

residuais foram medidas usando difração de nêutrons e o método de contorno. A distribuição


das tensões residuais na amostra de teste apresentou valores máximos cerca de 32 MPa e tinha
um perfil tipo “M” com picos de tensão de tração na zona termicamente afetada fora da solda.
A distribuição de tensão assimétrica foi discutida em relação ao processo FSW e as regiões
de maiores gradientes térmicos. Os resultados determinados pelas duas técnicas apresentaram
concordância adequada, validando a capacidade de cada técnica para medir as tensões de baixa
magnitude (menos de 0,05% do modulo de elasticidade). As pequenas diferenças entre os dois
métodos foram atribuídas às variações espaciais no espaçamento livre de tensões e também às
deformações intergranulares que afetam os resultados da difração de nêutrons. As tensões do
processo FSW antes do relaxamento da remoção da amostra de teste foram estimadas em cerca
de 43 MPa, demonstrando a capacidade da soldagem de produzir soldas de baixa tensão em
seções até mesmo bastante grossas.

Em recentes estudos, a técnica que combina o método de elementos finitos com o método
ultrassônico F ELCR proposto por Javadi, foi aplicada para a avaliação das tensões residuais
em placas de alumínio 5086 soldadas mediante FSW por Sadeghi e outros (2013). Seu trabalho
consistiu na medição ultrassônica de tensões residuais longitudinais ao longo da espessura
usando ondas longitudinais criticamente refratadas LCR e na análise termomecânica 3D por
elementos finitos (FE). O modelo de elementos finitos foi validado pelo método de hole-drilling
(furo cego) e os valores calculados foram comparados com os obtidos a partir da medição
por ultrassom. Foram utilizados quatro conjuntos de transdutores com frequências diferentes:
1 MHz, 2 MHz, 4 MHz e 5 MHz. A profundidade efetiva de penetração da onda LCR foi
determinada usando o mesmo procedimento descrito por Javadi e outros (2013). A constante
acustoelástica foi obtida mediante a extração de amostras da região soldada e do metal base,
e o tempo de percurso no estado livre de tensões foi medido nas amostras após o tratamento
térmico de alivio de tensões.

A comparação foi feita para as tensões residuais longitudinais encontradas por ambos
métodos. Nota-se que o método ultrassônico mede a média de tensões em profundidades
determinadas (em função da frequência usada). Assim, para que os valores calculados pelo
método de elementos finitos sejam comparáveis aos obtidos nas medições ultrassônicas, foi
feita a média de tensões residuais para todos os nós localizados até uma distância específica
abaixo da superfície, essa distância correspondia à profundidade de penetração da onda LCR
encontrada experimentalmente. Os métodos comparados foram bastante compatíveis como
pode ser percebido na Figura 3.2 para a frequência de 1 MHz por exemplo. Os autores
observaram também que a diferença entre os resultados comparados variavam para cada
frequência de teste, baseados neste fato, os autores afirmaram que o uso de frequências de teste
maiores pode levar a menor precisão na medição ultrassônica. Finalmente, concluiu-se que as
tensões longitudinais residuais de placas de alumínio soldadas por atrito podem ser avaliadas
72

utilizando o método F ELCR descrito no trabalho.

Figura 3.2: Resultados relacionado com as tensões residuais longitudinais, obtidos pelo método
de elementos finitos e pelo método ultrassônico a 1 MHz. Adaptado de (Sadeghi e outros, 2013)
73

4 MATERIAIS E MÉTODOS

Com a finalidade de verificar se a técnica ultrassônica utilizando ondas LCR pode ser
empregada na determinação de tensões residuais em soldas FSW para alumínio, os materiais
e métodos empregados no desenvolvimento deste trabalho são detalhados neste capítulo. As
dimensões e características do corpo de prova, assim como o processo e os parâmetros de
soldagem são descritos. A seguir, apresenta-se os equipamentos para geração e detecção de
ondas ultrassônicas, sensor de temperatura, sistema de digitalização e adquisição de dados.
Inicialmente foram verificados a influência da temperatura na medição do tempo de percurso
da onda LCR no material e o número de gravações de ondas no programa de adquisição de
dados. Por fim, o procedimento para a determinação das tensões residuais nas placas soldadas
é detalhado na seção 4.5.3.

4.1 Corpo de prova

Para formar o corpo de prova soldado foram utilizadas duas placas de alumínio
7050-T7451, com dimensões de 210 mm de comprimento, 70 mm de largura e 10 mm de
espessura. Estabeleceu-se a direção do comprimento da placa como sendo a direção x, a direção
da largura como sendo a direção y e a direção da espessura como a direção z (Fig. 4.1).

Figura 4.1: Representação geométrica das placas de alumínio 7050-T7451.

O material foi escolhido de forma que pudesse contribuir com as pesquisas relacionadas a
soldagem FSW focada para aplicações na indústria aeronáutica. A liga de alumínio 7050-T7451
é um material de elevada resistência mecânica comumente empregado na fabricação de
estruturas que suportam a fuselagem das aeronaves. Os principais componentes de liga são
74

apresentados na Tabela 4.1. Segundo a normativa SAE (2016) a condição T7451 da liga
significa: termicamente tratada por solubilização, submetida a alívio de tensões por estiramento
(em 2%) e tratada termicamente por precipitação.

Tabela 4.1: Composição química da liga de alumínio 7050-T7451.

Componente % de concentração
em massa

Alumínio 90,1
Zinco 5,54
Cobre 2,27
Magnésio 1,87
Zircônio 0,11
Ferro 0,077
Silício 0,018
Titânio 0,040
Manganês 0,010
Cromo 0,004
Outros, cada Max. 0,01

A Tabela 4.2 apresenta algumas propriedades do material à tração. Outras propriedades


elásticas de interesse como o módulo de elasticidade e a constante acustoelástica foram obtidas
no trabalho de Pereira Jr (2011). Esses valores serão utilizados neste trabalho (Tab. 4.3).

Tabela 4.2: Propriedades mecânicas da liga 7050-T7451 (SAE, 2016).

Limite de Escoamento Resistência Tração Alongamento


σe (MPa) σr (MPa) (%)
441 510 10

Tabela 4.3: Propriedades elásticas calculadas da liga 7050-T7451 (Pereira Jr, 2011).

Módulo de elasticidade Constante acustoelástica


E (GPa) L111
72,2 3,95

4.2 Processo de soldagem

A soldagem foi realizada no Laboratório Nacional de Nanotecnologia


(LNNano-CNPEM), Brasil. Foi utilizado um equipamento específico para FSW modelo
RM-1 da Transformation Tecnhnologies Inc®. O equipamento, mostrado na Figura 4.2, é
constituído por um cabeçote onde a ferramenta é acoplada, um sistema de telemetria para
75

monitoramento da temperatura da ferramenta, mesa suporte para posicionar as chapas, garras


de fixação da peça, sistema de circulação de fluido para o resfriamento da ferramenta e da
mesa suporte e um dispositivo para fluxo de gás inerte para a proteção da ferramenta em casos
especiais.

Figura 4.2: Máquina para Friction Stir Welding RM-1 TTI®.

A máquina para soldagem por fricção (FSW) realiza a união de materiais metálicos no
estado sólido mediante aquecimento por atrito e deformação gerados pelo contacto de uma
ferramenta em movimento rotativo com o material. Na indústria, os parâmetros de soldagem
e geometria da ferramenta são confidenciais e além disso, a aplicação do processo FSW na
construção de aeronaves ainda está sendo testado. Por esses motivos, a geometria da ferramenta
e os parâmetros utilizados neste trabalho foram testados experimentalmente até obter resultados
aceitáveis.

A ferramenta utilizada foi feita de aço H13 tratado termicamente para dureza de 53 HRC.
Ela é composta de duas peças: uma peça com a superfície de ombro côncava e um pino cônico
roscado que pode ser trocado. As dimensões principais da ferramenta são apresentadas na Figura
4.3. A velocidade de rotação da ferramenta foi de 225 RPM, a velocidade de avanço de 200
mm/min e a força axial de 67 kN. A ferramenta foi posicionada com um ângulo de inclinação
(tilt) de 3° (Fig. 4.4).
76

Figura 4.3: Ferramenta para FSW.

Figura 4.4: Representação dos parâmetros utilizados no processo FSW.

4.3 Equipamentos de medição

Os elementos que constituem o sistema experimental do método ultrassônico são:


transdutores para emissão e recepção da onda, cunhas para geração da onda LCR , gerador de
77

pulsso para os transdutores, sensor para medição de temperatura, placas de condicionamento e


digitalização de sinais e computador para tratamento de dados.

4.3.1 Transdutores e cunhas

Nos experimentos, foi utilizado um total de seis transdutores de ondas longitudinais


da marca Panametrics/Olympus® com elemento piezeléctrico de dimensões 0,5"por 1". Três
transdutores de 5 MHz e três de 3,5 MHz (Fig. 4.5). O uso desses transdutores foi definido em
base aos trabalhos de pesquisa pesquisa citados no capítulo 3. O ensaio ultrassônico em metais
é geralmente realizado com frequências elevadas.

Figura 4.5: Transdutores de ondas longitudinais (a) para 3,5 MHz (b) para 5 MHz.

Ângulo de incidência

Como a onda LCR é uma onda longitudinal que se refrata paralela à superfície, é
necessário ajustar o ângulo de incidência do feixe acústico usando uma cunha com um ângulo
de inclinação em função das velocidades da onda longitudinal no meio 1 (material da cunha)
e da onda longitudinal refratada no meio 2 (alumínio). Esse ângulo de incidência é conhecido
como primeiro ângulo crítico e é calculado segundo a a Lei de Snell (equação 2.4). O material
da cunha, as velocidade de propagação da onda longitudinal e o ângulo de incidência são
apresentados na Tabela 4.4. Nota-se que o perfil do feixe da onda longitudinal criticamente
refratada LCR possui um lóbulo principal de máxima energia a poucos graus abaixo do ângulo
de refração, então a tolerância da inclinação da cunha pode ser em torno de um grau.
78

Tabela 4.4: Ângulo de incidência para a geração de ondas LCR no alumínio

Material Velocidade longitudinal Ângulo de incidência


(m/s) (em graus)

Meio 1 Rexolite® 2362


22,02
Meio 2 Alumínio 6300

Profundidade de penetração

Trabalhos anteriores demostraram que a penetração das ondas longitudinalmente


refratadas, de carácter acústico, ocorre em um intervalo entre um e dois comprimentos de
onda. Fraga (2007) no seu trabalho de mestrado comprovou que para o aço API 5L X70,
a profundidade de penetração vai até aproximadamente 1,80 comprimentos de onda. Sem
considerar a influência de outros fatores como a textura ou a microestrutura do material, seria
aceitável utilizar essa aproximação na determinação da profundidade de penetração no alumínio
para as frequências utilizadas neste trabalho.

Em função da velocidade de propagação da onda longitudinal no alumínio, a profundidade


aproximada de penetração da onda LCR é calculada como 1,8 vezes o comprimento de onda.
Esses valores são apresentados na Tabela 4.5.

Tabela 4.5: Profundidade de penetração da onda LCR em função da frequência.

Frequência de ensaio Profundidade de


penetração aproximada
(1,8λ)

3,5 MHz 3,24 mm

5 MHz 2,27 mm

Nota-se que a profundidade calculada é somente uma aproximação que permite ter uma
ideia apropriada da penetração real da onda LCR . Uma comprovação experimental sobre o
mesmo material a ser testado seria recomendável para trabalhos futuros.
79

Equipamento para geração e recepção de ondas LCR

Para cada frequência de geração de ondas ultrassônicas foram usados três transdutores:
um emissor e dois receptores, que são colocados sobre cunhas de Rexolite® projetadas para
um ângulo de incidência cercano a 22°. Uma barra de suporte foi empregada como base para
acomodar as cunhas e transdutores mantendo as posições fixas. O conjunto completo, conhecido
como probe, é mostrado na Figura 4.6.

Figura 4.6: Conjunto probe: suporte base, cunhas e transdutores.

Esse arranjo permite realizar o ensaio para duas distâncias de posicionamento do receptor
em relação ao emissor. A barra de suporte foi projetada por Buenos (2014) para os seguintes
propósitos:

− Permitir o posicionamento das cunhas o mais próximo possível uma da outra para permitir
a avaliação de uma região menor, diminuindo o comprimento de percurso da onda e por
consequente reduzindo a atenuação do sinal.
− Permitir o uso de uma distância maior entre o emissor e receptor, com o fim de realizar
a avaliação para um percurso de onda maior. Também pode ser útil para prender dois
transdutores receptores, para realizar a correlação cruzada dos sinais adquiridos a partir
deles.

4.3.2 Gerador e receptor de pulsos

Um pulsador/receptor ultrassônico da marca Olympus®, modelo 5072PR, foi utilizado


para a geração e recepção do sinal ultrassônico (Fig. 4.7).

O pulsador/receptor emite um pulso elétrico que chega ao transdutor emissor e estimula


o cristal piezeléctrico transformando a energia eléctrica em oscilação mecânica na forma de
80

vibração (efeito piezelétrico inverso ou de Lippmann). A vibração gerada, conhecida como


onda, se propaga no material e pode ser captada pelo transdutor receptor que transforma a
vibração mecânica em um pulso elétrico (efeito piezelétrico) e o envia novamente para o
pulsador/receptor.

Figura 4.7: Pulsador/receptor Olympus® 5072PR.

4.3.3 Monitoramento de temperatura

A temperatura tem influência significativa na velocidade da onda ultrassônica,


especialmente na onda longitudinal criticamente refratada (Santos, 2007). Portanto, é
importante conhecer seu valor durante as medições. Para o monitoramento da temperatura foi
empregado um termopar tipo K como faixa de temperatura entre 0 e 75° e incerteza de ± 0,75%.

O termopar é conectado a um módulo condicionador de sinais e conversor


analógico/digital de 14 amostras por segundo e resolução de 24 bits da National Instruments®,
modelo NI 9211. Foi utilizado também um módulo transmissor modelo NI WLS/ENET-9163
que se conecta ao sistema de adquisição de dados (Fig. 4.8).

Figura 4.8: Conjunto utilizado para monitoramento da temperatura


81

4.4 Sistema de adquisição de dados

A conversão e controle dos sinais no pulsador/receptor é feita mediante uma “placa


osciloscópio” digitalizadora da marca National Instruments®, modelo NI PXI 5114, que tem
uma taxa de amostragem de 250 MHz e 8 bits de resolução. Essa placa é acoplada a um
controlador embarcado modelo NI PXI 8108 (Fig. 4.9) que funciona como um PC normal com
processador Intel Core 2 Duo T9400 e sistema operacional Windows XP.

Figura 4.9: Controlador embarcado NI PXI 8108.

O conjunto para monitoramento da temperatura se conecta ao controlador embarcado


mediante um cabo de rede Ethernet utilizando o módulo transmissor NI WLS/ENET-9163. A
conexão entre a probe e o pulsador/receptor e feita mediante cabos coaxiais. Já que foram
utilizados dois transdutores na recepção da onda, um comando manual foi colocado para
selecionar o receptor. O esquema de adquisição de dados para todos os experimentos é mostrado
na Figura 4.10.

Figura 4.10: Esquema do sistema de adquisição de dados: (1) Controlador embarcado, (2)
Pulsador/receptor, (3) Comando, (4) probe, (5) Módulos para monitoramento da temperatura,
(6) Termopar, (7) Placa testada, (8) Monitor de PC.
82

4.4.1 Determinação do tempo de percurso TOF

A variação da velocidade da onda ultrassônica que permite a determinação das tensões


associadas a essa mudança pode ser expressa pela variação do tempo de percurso TOF
(time-of-flight) no interior do material. Neste trabalho foram utilizados dois métodos para a
determinação do tempo de percurso da onda LCR . A Figura 4.11 mostra a forma de onda do sinal
captado pelo transdutor receptor. Dentro desse trem de pulsos, só o primeiro pulso corresponde
a onda LCR que viaja em linha reta paralela à superfície, pois a propagação dessa onda é mais
rápida do que as outras ondas e portanto, percorre o material em menor tempo.

Figura 4.11: Trem de pulsos captado pelo transdutor receptor

Tempo de percurso determinado pelo “segundo cruzamento com o zero”: Este


método consiste na medição do tempo entre o ponto inicial do sinal (trigger) e o início
da onda LCR . Considera-se como início o segundo cruzamento da onda com o zero após
o primeiro pico do pulso captado pelo receptor (Fig. 4.12). Esse ponto e escolhido pela
facilidade de processamento e identificação no osciloscópio. O método conhecido como
“segundo cruzamento com o zero” tem sido testado pelo grupo de pesquisa, levando a resultados
adequados (Andrino, 2007). Ele pode ser aplicado na determinação do tempo de percurso da
onda entre o transdutor emissor e cada um dos transdutores receptores.

Figura 4.12: Indicação do segundo cruzamento com o zero na onda LCR .


83

Tempo de percurso determinado pela correlação cruzada: Outro método para


encontrar a variação da velocidade da onda é mediante a subtração do TOF de dois transdutores
posicionados a diferentes distâncias. Supondo que a forma de onda LCR captada por cada
receptor é a mesma, é possível utilizar o processamento de correlação cruzada para encontrar
o atraso desses sinais. Para esse método é preciso gravar os sinais captados pelo receptores
1 e 2, determinar um ponto de referência na onda LCR para recortar cada um dos sinais e
fazer o processamento. Cada ponto do sinal 1 é multiplicado e somado a todos os outros
pontos do sinal 2, resultando em uma outra função cujo máximo indica o valor do atraso
entre os dois sinais (Fig. 4.13). O programa utilizado na adquisição faz esse processamento
automaticamente utilizando com referência o mesmo ponto de segundo cruzamento com o zero
detalhado anteriormente.

Figura 4.13: Representação da determinação do TOF por correlação cruzada

4.4.2 Programa para adquisição de dados

A leitura dos dados adquiridos, sinais e temperatura, é feita dentro da plataforma


LabView® através de um programa desenvolvido por Pereira Jr (2011) e Buenos (2014).
Atualmente o programa chamado “L_Scope_GU _2016_v1” realiza varias funções. A Figura
4.14 apresenta as funções da Tela Principal que são descritas a seguir:

a) Apresenta a visualização da forma de onda do sinal completo.

b) A seção “controle de osciloscópio” permite a seleção da “Média de Sinais”, que define o


número de sinais adquiridos consecutivamente para a obtenção do sinal médio exibido
pelo programa. O “Atraso do Tempo de Execução”, define a frequência com que o
programa faz a leitura dos sinais digitalizados. “Número de Gravações”, permite ajustar
o número de sinais gravados. A “Taxa de Amostragem” da placa digitalizadora e o
84

“Comprimento de Gravação”, que define a quantidade de pontos do sinal a ser gravado,


também são apresentados .

Figura 4.14: Tela principal do programa “L_Scope_GU _2016_v1”.

c) Nessa seção do programa são definidos os parâmetros que determinam o tempo de


percurso. O tempo de percurso é estabelecido entre o ponto de partida (trigger), e o
“Segundo ponto de Cruzamento como o Zero” do sinal, após o primeiro pico da onda LCR
exibida na janela. Como o primeiro pico pode ter uma amplitude suficientemente pequena
para ser confundido com ruído, o programa permite selecionar o primeiro vale. Nesse
caso, o segundo cruzamento com o zero da onda corresponde ao primeiro cruzamento
com o zero após o primeiro vale. Para a detecção do pico ou vale é necessário informar
um limiar (threshold) ou utilizar o controle de ajuste manual. A plataforma LabView
disponibiliza uma função para detecção de picos e vales, o resultado do cruzamento com
o zero é obtido pela interpolação linear entre o ponto amostrado com valor de amplitude
menor que zero e a próxima amostra com valor maior que zero.

d) Permite a leitura da temperatura e/ou deformação (quando sensores de deformação são


acoplados). Apresenta-se também os “Resultados” dos tempos de percurso (TOF). O
programa realiza funções de correlação cruzada e determinação do tempo na técnica de
pulso-eco. Os resultados são também apresentados na tela principal.

e) Permite indicar os locais em que serão salvos os “Arquivos” que contêm os valores dos
resultados e os pontos de amplitude da onda gravada.

f) Nessa seção apresenta-se o “Controle de Pressão” que pode ser utilizado para controlar,
mediante um sistema pneumático, a força aplicada sobre a probe nos ensaios. Esse
controle não foi utilizado neste trabalho.
85

g) Ativa a função de “Correlação Cruzada” e grava a forma do sinal capturado pelo receptor
1. Para utilizar o processamento por correlação cruzada é preciso gravar primeiro o sinal
captado pelo receptor 1, para depois trocar de receptor utilizando o comando manual.
Com o osciloscópio mostrando o sinal captado pelo receptor 2, o programa calcula a
diferença dos tempos de percursos entre o sinal 1 gravado e o sinal 2 atual. O resultado
do processamento apresenta-se na seção d.

h) Grava os dados apresentados nos “Resultados” (seção d) no arquivo especificado na seção


(e).

i) Grava os pontos de amplitude do sinal atual, apresentados no osciloscópio, no arquivo


especificado na seção (e). O comprimento da gravação e o número de repetições podem
ser modificados na seção (b).

O programa “L_Scope_GU _2016_v1” tem outras quatro telas que se descrevem


brevemente a continuação:

Correlação: esta tela apresenta duas janelas que contêm as formas de onda do “Sinal do
Receptor 1” gravado e do “Sinal do Receptor 2” atual. As janelas indicam ambos sinais com o
pico ou vale ajustado na tela principal. Os dados da onda do sinal do receptor 1 são salvos em
um arquivo especificado na tela (Fig. 4.15).

Figura 4.15: Tela de “correlação” do programa “L_Scope_GU _2016_v1”.

Filtros: a Figura 4.16 mostra a tela que contém as configurações para três tipos de
filtros digitais possíveis incluídos no programa: FIR (Finite Impulse Response), IIR (Infinite
Impulse Response) e DWT (Digital Wavelet Transform). Neste trabalho foi utilizado um filtro
passa-banda FIR, janela Hanning, e número de coeficientes igual a 200. As frequências de corte
para o filtro foram de 3,25 MHz a 3,75 MHz para transdutores 3,5 MHz de frequência e de 4,75
86

MHz a 5,25 MHz para transdutores de 5 MHz. Esses valores de configuração dos filtros foram
testados em trabalhos anteriores.

Figura 4.16: Tela de “filtros” do programa “L_Scope_GU _2016_v1”.

Controles avançados e pulso eco: Na aba “controles avançados”, são encontrados os


ajustes mais específicos para a aquisição do sinal como, ajustes vertical e horizontal da função
osciloscópio do programa, tipo de trigger, entre outros. A tela da seção “pulso-eco” permite a
visualização do sinal pulso-eco e a determinação do tempo de percurso entre dois trens de ondas
consecutivos. Estas duas abas, apresentadas na Figura 4.17, não foram utilizadas neste trabalho.

Figura 4.17: Tela de (a) “controles avançados” e (b) “pulso-eco” do programa


“L_Scope_GU _2016_v1”.

4.5 Procedimentos experimentais

Todos os experimentos foram realizados utilizando o sistema de adquisição mostrado


na Figura 4.10 e o programa “L_Scope_GU _2016_v1”. Nos contatos entre os transdutores
e as cunhas e entre as cunhas e a peça testada foi usado gel para ensaios ultrassônicos
87

(Carbogel®). O gel tem a finalidade de preencher os possíveis espaços vazios criados devido às
irregularidades das superfícies de contacto para facilitar o acoplamento. Para manter constante
a pressão exercida sobre o conjunto de transdutores e cunhas (probe) foi colocado um peso
morto de aproximadamente 2,3 kg em cima, como pode ser visto na Figura 4.18. Todos os
experimentos realizados usaram essa configuração.

Figura 4.18: Configuração usada para geração de ondas LCR e medição do tempo de percurso
nos experimentos.

4.5.1 Experimentos preliminares

Foram realizados dois experimentos preliminares à medição principal deste trabalho. O


primeiro experimento determina o efeito da temperatura sobre o tempo de percurso da onda
LCR , para que fosse possível a correção desse parâmetro. Já o segundo experimento consiste na
verificação dos parâmetros do controle de osciloscópio no programa utilizado. Esse experimento
permite também ter uma ideia da repetitividade do método.

Influência da temperatura

Considerando que a temperatura no experimento de medição de tensões residual pode não


se manter constante, foi necessário quantificar o grau de influência da temperatura no tempo de
percurso para o material testado.

Para notar a evolução do tempo de percurso TOF e, consequentemente a redução da


velocidade da onda ultrassônica em função do aumento da temperatura obtida através do
termopar, foram realizadas varias medições sobre uma das placas antes de ser soldada. A probe
foi colocada numa posição fixa paralela à direção de comprimento maior da placa (eixo x), que
será a direção longitudinal da solda (Fig. 4.19).

O controle da temperatura foi feito através do ar condicionado do laboratório. A sala do


88

laboratório se manteve na menor temperatura possível (17°), utilizando a potência máxima do ar


condicionado durante a noite anterior ao experimento. No dia seguinte foi realizada a primeira
medição do TOF ainda com o ar condicionado ligado, em seguida desligou-se o ar condicionado
esperando que a temperatura do local aumente gradualmente. Foram feitas medições a cada
meio grau Celsius de aumento de temperatura aproximadamente ao longo do dia. Em função
do clima do dia, foi definida uma faixa de temperatura de 15 a 22°C. Devido à oscilação na
leitura dos valores de TOF e temperatura, para cada medição, o programa gravava cinco valores
obtidos em sequência. O experimento foi repetido tanto para transdutores de 3,5MHZ como de
5 MHz.

Figura 4.19: Posicionamento da probe para o experimento de verificação da influência da


temperatura.

Verificações do programa de adquisição de dados

O programa “L_Scope_GU _2016_v1” tem sido testado em varias ocasiões pelo grupo
de pesquisa (Pereira Jr, 2011; Buenos, 2014; Pereira Jr, 2015; Gonçalves, 2016). O controle do
osciloscópio foi ajustado em função de experimentos anteriormente realizados por esse grupo.
Para verificar os parâmetros de configuração no osciloscópio, realizou-se um experimento que
consiste na medição do tempo de percurso da onda LCR em uma das placas de alumínio
7050-T451, utilizando diferentes configurações no osciloscópio.

Realizaram-se três medições em uma mesma posição, separando a probe da superfície da


placa para cada repetição. Cada medição consistia na gravação dos resultados obtidos utilizando
diferente “Média de Sinais”. A “Média de Sinais” do programa, representa o número de sinais
adquiridos consecutivamente para a obtenção do sinal médio exibido na tela do osciloscópio,
que permite a determinação dos tempos de percurso. Considerou-se um número de 1, 5, 10 e
20 sinais adquiridos. Os dados foram gravados 20 vezes consecutivas automaticamente pelo
programa. Uma vez que o objetivo desse experimento é verificar os parâmetros de adquisição
89

do programa “L_Scope_GU _2016_v1”, o experimento foi realizado utilizando apenas os


transdutores de 3,5 MHz.

4.5.2 Avaliação da soldagem

Antes de continuar com a determinação de tensões residuais na junta soldada, é preciso


garantir que o processo de soldagem tenho sido executado de forma satisfatória. Uma das
técnicas mais simples de avaliação de soldagem e mediante analise metalográfica e analise de
durezas.

Para realizar esses analises foi preciso retirar amostras da placa soldada, retirou-se uma
seção inteira do extremo final da placa soldada. A preparação de amostras foi realizada no
Laboratório Multiusuário de Caracterização dos Materiais da UNICAMP. Foi utilizada uma
lixadeira metalográfica, uma politriz e uma máquina de limpeza ultrassônica.

Para obter as imagens metalográficas as amostras, devidamente polidas, foram atacadas


com reagente Keller durante 10 segundos. Na visualização das imagens de foi utilizado um
microscópio ótico de lente invertido da marca Leica modelo DM IL LED.

As amostras utilizadas para a análise metalográfica foram novamente preparadas para


realizar o ensaio de microdureza Vickers, tanto na superfície da solda (topo) quanto na seção
transversal. O equipamento utilizado para microdureza foi o Leco LM100-AT, com carga de 1
kg e tempo de 15 segundos por endentação. As medicoes de durezas foram realizadas em um
dos laboratórios de caracterização de materiais do CNPEM.

4.5.3 Determinação da tensão residual

Como foi apresentado na seção 2.4.2, uma vez que a variação de velocidade é medida
entre dois transdutores numa posição fixa, a variação do tempo de percurso (TOF) está
diretamente relacionada com a variação tensão. Assumindo o material como isotrópico, é
possível avaliar a variação da tensão como a diferença entre dois estados de tensão conhecidos.

E
σ − σ1 = (t − t1 ) (4.1)
L11 t0

Considera-se que o estado, denotado pelo índice 1, representa um estado de tensão zero
90

no local de medição. Portanto σ1 é igual a zero e a equação 4.1 pode ser expressa como:

E
σ= (t − t1 ) (4.2)
L11 t0

onde,

∙ σ é a componente longitudinal da tensão na região medida.


∙ E é o módulo de elasticidade.
∙ L11 é a constante acustoelástica da onda longitudinal que se propaga na direção paralela
à solda.
∙ t0 é o tempo de percurso teórico da onda no material sem tensão.
∙ t é o tempo de percurso TOF medido.
∙ t1 é o TOF do estado de tensão zero no local de medição considerado como referência.

4.5.4 Parâmetros considerados

Existem alguns outros fatores que influenciam as medições ultrassônicas em metais, tais
como a temperatura ou a textura do material. Esses factores modificam o tempo de percurso
da onda, podendo influir na magnitude das tensões calculadas pela equação 4.2. Considerando
que a temperatura está controlada, que todas as medidas foram feitas na mesma direção de
laminação e que não há uma influência significativa da microestrutura no caso desse tipo de
solda em alumínio, hipótese ainda por ser comprovada, a equação 4.2 pode ser empregada na
estimativa das tensões residuais geradas pelo processo de soldagem FSW.

As magnitudes E e L11 foram calculadas no trabalho de Pereira Jr (2011) e são


apresentadas na Tabela 4.3. O tempo t0 , que possibilita as comparações, é calculado a partir
da velocidade de propagação teórica da onda longitudinal no alumínio e das distâncias de
separação dos transdutores (Tabela 4.6).

Tabela 4.6: Tempo de percurso t0 .

t0 t0
Velocidade da emissor-receptor 1 emissor-receptor 2
onda (m/s) (ns) (ns)
6300 12887,3 21574,6

Definir o t1 para o estado de tensão zero no local de medição ainda representa um dos
91

principais problemas da técnica ultrassônica para a determinação de tensões residuais. Em


relação a essa dificuldade, duas opções podem ser consideradas:

− Assumir como t1 , a média dos tempos de percurso medidos nos extremos da placa fora
da solda.

− Realizar a medição do TOF sobre uma amostra de referência do mesmo material sem
soldar.

Neste trabalhos as duas possibilidades foram avaliadas.

Metodologia de medição

As medições são realizadas seguindo a mesma configuração da Figura 4.19. Cada medição
consiste na obtenção de três tempos de percurso que permitem calcular a tensão no mesmo local:

∙ TOF 1: tempo de percurso entre o transdutor emissor e o receptor 1, determinado pelo


“segundo cruzamento com o zero”.
∙ TOF 2: tempo de percurso entre o emissor e o receptor 2, determinado também pelo
“segundo cruzamento com o zero”.
∙ Correlação cruzada: tempo de percurso da onda entre os dois transdutores receptores,
calculado pelo processamento de correlação cruzada.

Os três tempos permitem determinar a mesma tensão, os resultados obtidos por cada um
deles foram avaliados .

Após realizar o processo de união FSW nas placas de alumínio, o conjunto soldado foi
usinado pela superfície para obter um acabamento adequado que permita colocar o equipamento
de medição probe. Vale ainda notar que tensões residuais também são introduzidas pelos
processos de usinagem (Buenos, 2010), porém essa análise não foi considerado para este
trabalho já que tanto a placa soldada como a placa de referência foram usinadas uniformemente
com os mesmos parâmetros de corte.

O equipamento de medição probe foi colocado na direção paralela à união soldada


de forma que a onda LCR se propague na direção x. A probe foi movimentada na direção
perpendicular y (Fig. 4.20). As medições foram realizadas cada 5 mm nos extremos da placa
e cada 2,5 mm em torno e dentro da zona soldada. O programa utilizado foi ajustado para
realizar 10 gravações por medição utilizando uma média de 10 sinais. Todas as medições foram
92

feitas movimentando a probe sem separá-la da placa (técnica de varredura). Realizaram-se duas
varreduras para cada frequência utilizada, a primeira no sentido positivo do eixo y, começando
desde um extremo da placa, e a outra no sentido contrario, começando desde o extremo oposto.
Após a primeira varredura, a probe foi separada da placa, as superfícies de contato foram limpas
e o gel acoplante foi novamente aplicado.

Figura 4.20: Movimentação da probe sobre a placa soldada.


91

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os primeiros experimentos realizados permitiram verificar a influência da temperatura na


velocidade das ondas LCR e o ajuste do controle de osciloscópio. Nos experimentos seguintes,
o perfil de distribuição de tensões residuais longitudinais na placa soldada foi determinado
utilizando diferentes métodos para a obtenção no TOF.

Neste capítulo, apresenta-se o resultado do processo de soldagem Friction Stir Welding


(FSW) nas placas de alumínio 7050-T7451. Metalografias na região soldada e ensaio de
microdurezas foram realizados a fim de avaliar o processo de soldagem. Por fim, o perfil de
tensões residuais longitudinais na placa soldada foi levantado a partir das tensões determinadas,
segundo o efeito acustoelástico. Foram utilizadas duas frequências de ensaio: 3,5 MHz e 5 MHz.
As tensões foram calculadas a través do TOF 1, TOF 2 e correlação cruzada como foi detalhado
no capítulo 4. Para o tempo de percurso t1 foram consideradas duas opções, que também foram
discutidas neste capítulo.

5.1 Sensibilidade da técnica de medição

Substituindo os valores que permanecem constantes na equação 4.2, é possível calcular


a tensão em MPa em função do tempo de percurso medido em nanosegundos. Neste trabalho,
esse valor é denominado como sensibilidade. A sensibilidade do processo de medição da técnica
ultrassônica na determinação de tensões residuais em soldas de alumínio está diretamente
relacionada com a configuração do equipamento de medida. O valor de sensibilidade pode ser
estimado para cada um dos três TOFs obtidos em cada medição (Tab. 5.1).

Tabela 5.1: Sensibilidade da técnica em função do TOF.

TOF utilizado na determinação Sensibilidade no Alumínio


das tensões residuais (MPa/ns) (ns/MPa)

TOF 1 1,42 0,71

TOF 2 0,85 1,18

Correlação cruzada 2,1 0,48

Segundo os valores apresentados na Tabela 5.1, a técnica que determina a tensão usando o
tempo obtido pela correlação cruzada é mais sensível a variação do tempo. Como uma variação
em termos de tempo é multiplicado em MPa, a técnica também pode amplificar as variações
92

de tempo, ou mesmo os erros de medida. A sensibilidade também pode ser entendida como o
inverso, em ns/MPa, obtida invertendo os valores calculados. Nesse caso, associa-se a definição
de maior sensibilidade com a menor magnitude da relação ns/MPa.

5.2 Influência da temperatura na velocidade de propagação das ondas LCR

A influência da temperatura foi verificada para cada frequência utilizada, tanto para o TOF
1 como para o TOF 2. O arranjo de transdutores utilizando dois receptores para o método da
correlação cruzada não dispensa a correção da influência da temperatura nas medições, uma vez
que a distância é a mesma para ambos os transdutores mas a velocidade varia com a temperatura.
Nesse trabalho, tal variação foi desprezada. As gravações dos sinais nos receptores não foram
feitas simultaneamente, mas sim um após do outro. Para todas as medições, a temperatura nos
experimentos se manteve constante ou esta teve seu efeito corrigido. A Figura 5.1 apresenta o
gráfico com os tempos de percurso obtidos em função da temperatura da placa para 3,5 MHz.

Figura 5.1: Tempo de percurso da onda LCR em função da temperatura para frequência de 3,5
MHz. (a) TOF 1 (b) TOF 2
93

O experimento foi repetido para 5 MHz, a variação dos tempos de percurso TOF 1 e TOF
2 em função da temperatura pode ser visto na Figura 5.2.

Figura 5.2: Tempo de percurso da onda LCR em função da temperatura para frequência de 5
MHz. (a) TOF 1 (b)TOF 2

Tanto na Figura 5.1 quanto na 5.2 nota-se claramente que o tempo de percurso aumenta
à medida que a temperatura sobre a placa sobe. Todas as linha de tendência geradas a partir
dos dados experimentais e as equações da retas foram obtidas utilizando o programa Microsoft
Excel®. Para todos os casos, a relação entre o TOF e a temperatura é lineal com um coeficiente
de determinação R2 maior a 0,90.

Devido à baixa condutividade térmica do material da cunha, se comparada com a


do alumínio, o efeito da temperatura na velocidade de propagação da onda na cunha não
é significativo no arranjo experimental empregado. Assim, as variações de temperatura no
experimento são devidas principalmente à placa metálica. Para obter a variação da velocidade
de propagação da onda LCR no alumínio em função da temperatura, desconta-se o tempo de
percurso da onda na distância percorrida através das duas cunhas. A velocidade na cunha é de
94

2362 m/s e a distância de cada cunha é de 14,6 mm. Considerando a distância percorrida no
alumínio para cada par de transdutores (Fig. 4.6), a velocidade em função da temperatura pode
ser calculada tanto com o TOF 1 quanto com o TOF 2 para cada frequência.

Na Figura 5.3 visualiza-se que a velocidade no alumínio decresce linearmente à taxa de


5,5 m/s por grau Celsius aproximadamente para o TOF 1 e de 3,7 m/s para o TOF 2, utilizando
a frequência de 3,5 MHz.

Figura 5.3: Velocidade da onda LCR no alumínio em função da temperatura para frequência de
3,5 MHz. (a) TOF 1 (b)TOF 2

Para 5 MHz (Fig. 5.4) o decrescimento lineal da velocidade por grau Celsius é de
aproximadamente 4,4 m/s para o TOF 1 e de 3,1 m/s para o TOF 2. Embora a variação da
velocidade de propagação da onda em função da temperatura medida sobre a placa não dependa
do tipo de TOF utilizado, existem leves variações no resultados obtidos devido as imprecisões
próprias do método.
95

Figura 5.4: Velocidade da onda LCR no alumínio em função da temperatura para frequência de
5 MHz. (a) TOF 1 (b)TOF 2

Nos experimentos tentou-se manter a temperatura do ambiente constante, porém para


eliminar qualquer influência da temperatura nas medições os valores do TOF 1 e TOF 2 para
cada frequência foram corrigidos. Utilizando os valores das inclinações das retas calculadas nas
figuras 5.1 e 5.2, e considerando uma temperatura padrão de 24°C, a correção do tempo (em
nanosegundos) é feita pela seguinte equação:

t = tmed + m(24 − T ) (5.1)

sendo t o tempo corrigido, tmed o tempo medido, m a inclinação da reta para cada caso e T a
temperatura da barra durante as medições.

Para ter noção da influência da temperatura nas medições, os valores de m para cada caso
são apresentados na Tabela 5.2 como a taxa de aumento do TOF em função da temperatura.
96

Esse efeito também pode ser expresso em termos de tensão como se mostra na última coluna da
tabela.

Tabela 5.2: Influência da temperatura na onda LCR .

Aumento do tempo de Influencia da


percurso em função da temperatura na tensão
temperatura (ns/°C) medida (MPa/°C)

TOF 1 10,4 14,8


3,5 MHz
TOF 2 11,9 10,1
TOF 1 8,1 11,5
5 MHz
TOF 2 9,9 8,4

De acordo com esses valores, a maior influência possível da temperatura sobre a tensão
residual é de 14,8 MPa por °C e se apresenta na medição com 3,5 MHz para o TOF1. Esses
resultados revelam que a onda LCR é potencialmente mais sensível à temperatura em menores
frequências. No entanto, essa observação precisa ser estudada com maior detalhe, já que as
sondas são um pouco diferentes. Quanto ao método de determinação do tempo de percurso, as
tensões calculadas pelo TOF 2 têm menor influência da temperatura.

5.3 Verificação do controle de osciloscópio

Os resultados do experimento detalhado na seção 4.5.1 são apresentados na Tabela 5.3.


Apresenta-se a média dos tempos de percurso obtidos e o desvio padrão dos dados para cada
caso considerado.

Os resultados em função do número de médias definidas para formar o sinal médio


(calculado ponto a ponto e exibido no programa) são discutidos a seguir. O desvio padrão
máximo foi encontrado nos dados obtidos utilizando só uma onda adquirida, isso devido a
que dentro das 20 gravações feitas pelo programa algumas destas não correspondiam realmente
ao segundo cruzamento com o zero da onda, pois o sinal apresentado mostrava-se instável em
alguns instantes.

Incrementando o número de médias, o desvio padrão dos dados nas medições foi máximo
de 5 ns para 5 médias, 2 ns para 10 médias e 2 ns para 20 médias. Os dados adquiridos a partir
de 10 ou 20 médias de sinais apresentam desvios padrões relativamente baixos, considerando
que o tempo de percurso está na ordem de nanosegundos.
97

Tabela 5.3: TOF em (ns) obtido para diferentes parâmetros do controle de osciloscópio.

Número de médias: 1 5 10 20

Média 24582 24582 24579 24578


TOF 1
Desv. padrão 4,7 2,4 1,1 0,5

MEDIÇÃO Média 3346 33346 33345 33300


TOF 2
1 Desv. padrão 2,1 1,9 1,3 0

Correlação Média 8766 8767 8762 8766


cruzada Desv. padrão 2,8 2,7 2 5

Média 24600 24568 24567 24567


TOF 1
Desv. padrão 0 0,8 0,5 0,3

MEDIÇÃO Média 32642 33300 33337 33300


TOF 2
2 Desv. padrão 3120 0 0,6 0

Correlação Média 8771 8764 8770 8770


cruzada Desv. padrão 4,2 5 2 0

Média 24570 24571 24571 24570


TOF 1
Desv. padrão 1,7 0,6 0,5 0,4

MEDIÇÃO Média 31815 33334 33334 33333


TOF 2
3 Desv. padrão 4598 0,9 0,7 0,6

Correlação Média 7038 8763 8763 8762


cruzada Desv. padrão 5312 1,6 1,8 2

A fim de verificar a repetibilidade das medições, a Tabela 5.4 apresenta a média dos
valores adquiridos nas três medições (repetições) e os desvios padrões respectivos. Avaliando
esses resultados, o desvio da média das repetições obtidas com 10 sinais foi de 6,2 ns para o
TOF 1, 6 ns para o TOF 2 e de 4 ns na correlação cruzada. Esse resultado em tensão corresponde
a um desvio entre repetições de 9 MPa para o TOF 1 e na correlação cruzada, e de 5 MPa para
o TOF 2. Portanto, medindo 10 ondas no controle do osciloscópio, garante-se uma diferença
máxima entre repetições de aproximadamente ao 2% o limite de escoamento do material.
Para aplicações estruturais, essa proporção é bastante reduzida e extremamente motivadora,
indicando a adequação da técnica.
98

Tabela 5.4: Avaliação do número de médias e repetibilidade na determinação do TOF em (ns).

Número de médias: 5 10 20

Média 24573 24572 24572


TOF 1
Desv. padrão 7,7 6,2 6

Média 33327 33339 33311


TOF 2
Desv. padrão 23,8 6 19,2

Correlação Média 8765 8765 8766


cruzada Desv. padrão 2 4 4

5.4 Avaliação da soldagem

Duas placas de alumínio 7050-T7541 foram unidas mediante Friction Stir Welding
(FSW). Como pode ser visto na Figura 5.5, o processo de soldagem aparentemente foi realizado
por completo. A superfície do nugget da solda não apresentou boa aparência. Essa característica
está diretamente relacionada aos parâmetros do processo e ao formato da ferramenta de
soldagem que ainda tem que ser melhor estudados para o alumínio 7050-T7451.

Figura 5.5: Alumínio 7050-T7541 soldado pelo processo FSW

A seção do furo que indica a saída da ferramenta no final da solda foi retirada. A superfície
99

da placa como soldada não é adequada para realizar a inspeção ultrassônica, por conseguinte
a placa soldada foi usinada meio milímetro no topo da solda para obter uma superfície
completamente plana (Fig. 5.6). A fixação na máquina de soldagem e o calor gerado pelo
processo (por atrito e deformação) produziram uma leve distorção angular na união soldada.
Para eliminar essa distorção, a placa soldada também foi usinada na superfície da raiz da solda
até obter superfícies planas e paralelas em ambos lados.

Figura 5.6: Placa soldada usinada ensaiada pelo método ultrassônico

Tentou-se soldar mais pares de placas, porém o pino de ferramenta quebrava facilmente
após a primeira soldagem.

5.4.1 Metalografias

Após a usinagem da placa soldada, retirou-se uma pequena seção do extremo para realizar
análise metalográfica e ensaio de microdureza. A Figura 5.7 mostra a macroestrutura da seção
transversal da placa soldada.

Figura 5.7: Macrografia óptica da seção transversal da solda. Escala em milímetros

A estrutura global é consistente com as observações da literatura para FSW (seção


2.2.3). O nugget da solda, conhecido também como zona recristalizada dinamicamente ou zona
100

misturada (stir zone), coincide aproximadamente com a forma da ferramenta e contém grãos
finos e equiaxiais (Fig. 5.8 (d)). Em ambos lados da zona do nugget se encontram as zonas
termomecanicamente afetadas (ZTMA) que contêm grãos altamente deformados a partir da
ação de mistura do FSW (Fig. 5.8 (c)). As zonas afetadas pelo calor (ZTA) se estendem para
fora da margem da imagem em ambos lados.

Figura 5.8: Micrografias ópticas de maior ampliação da seção transversal da solda: (a) lado
de avanço, (b) lado de retrocesso, (c) grãos deformados na ZTMA, (d) grao finos da zona
recristalizada dinamicamente nugget

O lado esquerdo da macrografia é o lado de avanço e o lado direito é o lado de retrocesso.


O ZTMA é opticamente mais distinto no lado de avanço (Fig. 5.8 (a)) e mais difuso no lado de
retrocesso (Fig. 5.8 (b)).

5.4.2 Ensaio de dureza

A caracterização e avaliação de juntas soldadas por FSW inclui uma análise de dureza a
fim de correlacionar os parâmetros do processo com os resultados obtidos. Particularmente para
a liga de alumínio 7050-T7541, a dureza está diretamente correlacionada com o crescimento dos
precipitados nas zonas termicamente afetadas. O grau de crescimento diminui com a redução do
tempo gasto acima de uma temperatura crítica e isso é conseguido por aumento da velocidade
de soldadura. A avaliação desses parâmetros não esta dentro dos objetivos deste trabalho.

Além do mencionado acima, o ensaio de dureza pode também indicar o estado de


101

tensões internas nos materiais. Assim, no ensaio de dureza superficial, espera-se que um
material deformado a frio e um material não deformado apresentem resultados diferentes. Se
a natureza das tensões residuais na superfície forem trativas, o ensaio apresentará um valor
menor para a dureza superficial em relação ao material não deformado. Em caso contrário,
sendo compressivas, a penetração será mais difícil e o resultado do ensaio apresentará valores
maiores.

A Figura 5.9 apresenta a distribuição dos valores de microdureza ao longo do eixo


perpendicular que atravessa a solda na superfície da placa soldada (topo). Limites aproximados
das regiões da solda serão sobrepostos nos resultados de medição de microdureza, a fim de
facilitar a interpretação. A dureza foi determinada a partir de uma linha com 180 pontos
espaçados em 300 micrômetros. Nota-se que os símbolos pretos indicam os valores reais de
dureza obtidos, enquanto a linha contínua indica a média móvel desses valores calculada com
um período de 10 dados. A partir dessa figura é possível obter os valores de dureza para cada
região da solda. Em média, a dureza está em torno de 155 (VH), o valor minimo de dureza
encontrado foi de 120 (VH) localizado na ZTA do lado de avanço e o máximo de 181 (VH) no
ponto mais afastado da solda no lado de retrocesso.

Figura 5.9: Perfil de microdureza na superfície da solda

Para a análise de dureza no interior da solda, realizaram-se três linhas na seção transversal
da amostra (Fig. 5.10). As linhas também são formadas por 180 pontos espaçados em 300
micrômetros, e são localizadas da seguinte maneira: cerca do topo (linha 1), no meio (linha 2)
e perto da raiz da solda (linha 3). Os perfis apresentados na Figura 5.11 representam a média
móvel de período 10 para todos os dados obtidos em cada linha.

As amostras ensaiadas apresentam um perfil de dureza característico das soldas FSW


em ligas de alumínio endurecidas por precipitação. Isto é, o metal original apresenta a maior
102

dureza e a dureza do nugget é um máximo local localizado entre dos valores mínimos que
correspondem à dureza da ZTMA no dois lados (avanço e retrocesso).

Figura 5.10: Linhas de indentação para o ensaio de microdureza na seção transversal

Figura 5.11: Perfis de microdureza na seção transversal da solda.

5.5 Determinação do perfil de tensões residuais para soldas FSW em Alumínio


7050-T7451

Foi determinada apenas uma das componentes do tensor de tensões: a tensão σx paralela
à união soldada ou tensão residual longitudinal. Cada ponto da distribuição de tensão residual
medida pelo método ultrassônico representa a tensão através do caminho de propagação e na
profundidade de penetração (próximo à superfície) da onda LCR . As medições foram realizadas
utilizando transdutores de 3,5 MHz e 5 MHz. A temperatura no ato das medições foi mantida
entre 22°C e 24°C. Porém, todos os dados obtidos foram corrigidos, segundo as equações
mostradas na seção 5.2, para uma temperatura padrão de 24°C.

As tensões residuais foram calculadas através de trés métodos: mediante o tempo de


percurso da onda entre o transdutor emissor e o receptor 1 (TOF 1), entre o emissor e receptor 2
103

(TOF 2) e mediante o tempo de percurso da onda entre os dois receptores obtido por correlação
cruzada (correlação cruzada). Para o tempo de percurso de tensão no local de medição t1 foram
avaliadas duas opções: t1 como média do TOF nos extremos da placa e t1 como o TOF em uma
placa de referência.

No total, são testadas seis formas de determinação de tensão residual para uma
mesma medição em cada frequência de experimento. Três tempos de percurso foram obtidos
pelo programa de adquisição de dados. No cálculo da tensão, utilizando a relação de
acustoelasticidade, duas opções foram consideradas para o tempo de percurso da onda no
estado de tensão zero. Para facilitar a interpretação e localização dos valores calculados, limites
aproximados das regiões da solda são sobrepostos em algumas figuras. Os perfis determinados
para cada um dos casos são apresentados a seguir.

5.5.1 Resultados obtidos com frequência de 3,5 MHz

Apresenta-se os resultados obtidos para cada um dos três métodos de determinação


considerados. As figuras 5.12, 5.13 e 5.14 mostram os perfis determinados considerando o t1
como o tempo de percurso médio dos extremos da placa soldada calculado para cada varredura.
Cada figura indica as tensões obtidas em cada varredura e a média das duas varreduras.

Figura 5.12: Perfil de tesão residual obtido mediante o TOF 1.

A tensão residual máxima determinada por cada um dos métodos encontra-se entre 120
MPa e 180 MPa. Para o método do TOF 1, a diferença máxima de tensão entre as duas
varreduras para uma mesma posição de medição foi de 54 MPa a 7,5 mm da linha do centro da
solda cerca da tensão máxima calculada.
104

Figura 5.13: Perfil de tesão residual obtido mediante o TOF 2.

Figura 5.14: Perfil de tesão residual obtido mediante correlação cruzada.

No método do TOF 2 as tensões calculadas em cada varredura estão mais próximas,


com um diferença máxima de aproximadamente 31 MPa também na posição próxima à tensão
máxima calculada. Para o perfil de tensões calculado mediante correlação cruzada, os valores
obtidos em cada varredura são ainda mais próximos com uma diferença máxima de 20 MPa
aproximadamente.

A Figura 5.15 apresenta o perfil de distribuição de tensões residuais como a média


dos valores das duas varreduras para cada um dos três métodos utilizados. Todos os perfis
apresentam uma distribuição similar coerente com a literatura, isto é, as tensões residuais são
máximas e de natureza trativa na região soldada, o que significa que houve um aumento do TOF
105

em relação ao tempo para o estado livre de tensões do material original. Fora da linha do centro
da solda, a tensão diminui aproximando-se ao valor nulo nos extremos. Quanto à simetria do
perfil, a tensão calculada perto dos extremos do nugget, o que corresponderia aproximadamente
a região do ZTMA da solda, é menor no lado de retrocesso da placa. Os valores máximos
aproximados atingidos no perfil de tensões foram de 143 MPa para o TOF 1, 153 MPa para
o TOF 2 e 170 MPa para a correlação cruzada, todos esses valores são encontrados a uma
distância entre 2,5 mm e 5 mm da linha do centro da solda no lado de avanço.

Figura 5.15: Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 3,5 MHz, t1 definido
como o TOF médio dos extremos da placa.

A diferença máxima entre as tensões calculadas a uma mesma distância da solda mediante
os três métodos empregados é de aproximadamente 47 MPa. Nota-se claramente que os perfis
de tensão residual determinados pelo TOF 1 e o TOF 2, são mais próximos em comparação
com o perfil obtido pela correlação cruzada . Pode-se notar também que no lado de avanço da
placa os valores calculados pelos 3 métodos se encontram mais distantes. No que se refere à
simetria do perfil, a -15 mm da linha do centro no lado de avanço, a tensão está entre 90 MPa
e 80 MPa para o TOF 1 e o TOF 2 respectivamente, enquanto à mesma distância para o lado
de avanço, a tensão calculada pelo TOF 1 e o TOF 2 atinge valores de 90 MPa e 110 MPa
respectivamente. Isto que dizer que os resultados obtidos pelo TOF 1 são mais simétricos em
relação a linha do centro da solda. As tensões residuais apresentadas no perfil determinado pela
correlação cruzada são claramente mais elevadas no lado de avanço da solda, por exemplo a
-20 mm da linha do centro da solda o valor da tensão residual determinada por esse método é
próximo a 30 MPa, enquanto no lado oposto (a 20 mm do centro da solda no lado de avanço) o
valor é próximo a 120 MPa.
106

Após essas determinações, os perfis são recalculados utilizando como t1 o TOF medido
sobre uma amostra de referência sem soldar. Para esse caso, o mesmo valor de t1 foi considerado
para cada uma das varreduras. Como pode ser visto na Figura 5.16, as tensões residuais
calculadas mantêm a mesma forma do perfil determinado com o t1 médio dos extremos. Oposto
à Figura 5.15, nota-se que para este caso os resultados obtidos no lado de retrocesso pelos
3 métodos são mais distantes entre si se comparado com o lado de avanço. Essa observação,
indica um problema ao definir o t1 devido provavelmente a uma diferença entre os estados de
tensões iniciais para cada placa antes ou depois de serem soldadas.

Figura 5.16: Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 3,5 MHz, t1 definido
como o TOF medido sobre placa de referência.

Os valores de tensão máxima calculada para cada um dos método foram de


aproximadamente 159 MPa para o TOF 1, 146 MPa para o TOF 2 e 144 MPa para a correlação
cruzada, todos eles localizados a uma distância de 2,5 mm da linha do centro da solda no lado
de avanço. A diferença entre esses valores foi menor comparada com as calculadas usando o
t1 médio dos extremos. No perfil todo, a diferença máxima entre as tensões residuais obtidas
pelos três métodos, apresentados na Figura 5.16, é de aproximadamente 39 MPa. Isto indica
que a variação dos resultados obtidos pelos três tipos de TOF mencionados é menor se o t1 é
medido sobre a amostra de referência.

A Figura 5.17 apresenta os perfis de tensão residual (média das duas varreduras) para cada
um dos métodos utilizando as duas opções de referência. Segundo esses perfis, os valores de
tensão calculados utilizando o t1 da placa de referência para o TOF 1 aumentaram em 16 MPa
aproximadamente. Para o TOF 2 a diferença entre as duas opções de t1 é bastante pequena (7
MPa aprox.) e na correlação cruzada as tensões diminuíram cerca de 26 MPa em comparação
107

com os resultados obtidos como o t1 médio dos extremos.

Figura 5.17: Comparação dos perfis de tensão residual obtidos para cada método utilizando
diferentes t1 . (a) TOF 1 (b) TOF 2 (c) Correlação cruzada.

Neste segundo caso referente a repetibilidade do método, a diferença máxima para o TOF
1 foi de quase 100 MPa (no extremo da placa), 53 MPa para o TOF 2 e 20 MPa na correlação
cruzada.

Resultados obtidos com frequência de 5 MHz

Utilizando o mesmo procedimento experimental apresentado anteriormente, o


experimento para a determinação de tensões residuais na placa soldada foi repetido para 5 MHz.
Os perfis de distribuição de tensão residual para cada método de determinação utilizando o TOF
médio dos extremos como t1 para cada varredura são apresentados nas figuras 5.18, 5.19 e 5.22.

Para o TOF 1, a tensão residual máxima determinada foi de 140 MPa a 160 MPa
aproximadamente e a diferença máxima entre as varreduras para todos os valores do perfil de
108

tensões foi de 81,5 MPa à distância de -15 mm da linha do centro da solda, coincidentemente
no extremo do nugget ou ZTMA.

Figura 5.18: Perfil de tesão residual obtido mediante o TOF 1.

Para o TOF 2, os valores de tensão máxima se encontram entre 150 MPa e 160 MPa,
claramente os valores obtidos em cada varredura são bastante próximos, com uma diferença
máxima de 34 MPa.

Figura 5.19: Perfil de tesão residual obtido mediante o TOF 2.

A correlação cruzada apresentou alguns problemas na adquisição de dados pois a primeira


onda (onda LCR ) do sinal captado no receptor 1 e no receptor 2 era muito diferente como
pode ser visto nas figuras 5.20 e 5.21. Assim, os resultados apresentados mediante esse método
podem ter sido influenciado por outros fatores.
109

Figura 5.20: Sinal do osciloscópio a -17,5 mm de distância da linha do centro.

Figura 5.21: Sinal do osciloscópio a 20 mm de distância da linha do centro.

A distribuição de tensão residual determinada pelo método de correlação cruzada,


apresentada na Figura 5.22 exibe um perfil diferente aos apresentados anteriormente. Foi
localizado um pico de tensão a uma distância entre -17,5 mm e -12,5 mm da linha do centro.
Essa distância é correspondente à ZTMA da solda no lado de retrocesso. Além disso os valores
determinados principalmente na primeira varredura foram bastante irregulares. A diferença
máxima de tensao entre as varreduras foi de 76,5 MPa, na medição a uma distância de 20
mm da linha central da solda no lado de avanço.
110

Figura 5.22: Perfil de tesão residual obtido mediante correlação cruzada.

O perfil de distribuição de tensões residuais como a média dos valores das varreduras
para cada um dos métodos utilizados é apresentado na Figura 5.23. Com excepção do pico na
correlação cruzada, a tensão máxima calculada é de natureza trativa e se situa na região soldada.

Figura 5.23: Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 5 MHz, t1 definido
como o TOF médio dos extremos da placa.

Similar as medições com 3,5 MHz, na Figura 5.23 os valores de tensão residual nos
perfis de distribuição determinados são maiores no lado de avanço da placa soldada. No lado de
retrocesso, as medições dos 3 métodos apresentados se encontram mais distantes, a diferença
máxima entre as tensões calculadas em um mesmo ponto da distribuição é de aproximadamente
111

100 MPa considerando as distorções do perfil calculado por correlação cruzada. Sem considerar
esse método, a diferença máxima entre os valores calculados pelo TOF 1 e pelo TOF 2 diminui
para 50 MPa a -50 mm de distância da linha do centro da solda.

A distribuição de tesão residual foi também calculada pela opção de considerar o t1 como
o TOF medido sobre placa de referência. Os perfis determinados mediante esta consideração
são apresentados na Figura 5.24. As distribuições de tensão residual obtidas mantêm o mesmo
perfil que o determinado com o t1 médio dos extremos, porém os valores de tensão em cada
ponto da distribuição são muito distantes. Em comparação com os resultados do t1 definido
como o TOF médio dos extremos da placa, todos os valores de tensão diminuem 15 MPa para
o TOF 1, aumentam 32 MPa para o TOF 2 e para a correlação cruzada se obteve cerca de 100
MPa de aumento nos valores calculados.

Figura 5.24: Perfil de distribuição de tesão residual na placa soldada para 5 MHz, t1 definido
como o TOF medido sobre placa de referência.

5.5.2 Comparações e discussões dos resultados

A fim de comparar os resultados obtidos para 3,5 MHz e 5 MHz, optou-se por realizar
uma média entre os valores de tensão calculados pelo TOF 1 e TOF 2. A partir dos resultados
112

apresentados na seção anterior foi escolhido como t1 o tempo de percurso médio nos extremos
da placa soldada porque esses valores apresentaram menor dispersão. A Figura 5.25 contém os
perfis de distribuição de tensões residuais calculados para cada frequência.

Figura 5.25: Perfil de distribuição de tesão residual em uma placa de alumínio 7050-T7541.

As distribuições dos resultados de tensão residual determinados pelo processo


ultrassônico apresentaram conformidade adequada com o perfil esperado descrito na literatura.
A região da solda ou nugget contém tensões residuais de tração, o valor máximo encontrado
nesta região está em torno de 150 MPa localizado entre 2,5 mm e 5 mm de distância da linha
do centro da solda no lado de avanço. Esse valor de tensão máxima determinada corresponde
aproximadamente à 34% do limite de escoamento do material. No trabalho de (K. Lemmen
e outros, 2010) foram apresentados valores de tensão residual longitudinal máxima de até 38%
do limite de escoamento do material base. Portanto, os valores de tensão determinados neste
trabalho estão dentro do comportamento esperado.

A diferença máxima entre os valores de tensão determinados nas duas frequências para
cada posição de medição é de aproximadamente 20 MPa. Esta diferença é razoável, pois para
cada frequência a profundidade de penetração é diferente. De forma geral, os resultados de
tensão calculados no lado de avanço são maiores que os calculados no lado de retrocesso.
Associando esses resultados aos resultados de microdureza na superfície da solda (Fig. 5.9),
o lado de retrocesso apresenta durezas maiores em comparação com o lado de avanço o que
intuitivamente indicaria menor tensão interna. Sendo assim, os resultados obtidos pelo método
113

ultrassônica são coerentes com essa observação.

A Figura 5.26 além dos perfis determinados para cada frequência, apresenta também duas
curvas de distribuição da tensão residual esperada no processo de soldagem. A curva azul ilustra
o perfil de tensões característico de qualquer processo de soldagem que envolve calor enquanto
a curva vermelha ilustra o perfil determinado por alguns pesquisadores quando a soldagem for
no alumínio (Sadeghi e outros, 2013).

Figura 5.26: Perfil de distribuição de tesão residual em uma placa de alumínio 7050-T7541.

Comparando os resultados deste trabalho, fora da região soldada os valores de tensão


diminuem de forma coerente com a literatura. Os perfis esperados indicam duas zonas com
tensões compressivas nos dois lados da região soldada e nas regiões mais afastadas as tensões
são nulas. Esse comportamento não foi apreciado nos perfis de distribuição de tensões residuais
determinados pelo método ultrassônico, devido provavelmente à largura curta da placa onde não
foi possível ter uma região suficientemente afastada que não tenha sido afetada pelo processo
de soldagem. Na região do nugget os valores de tensão calculados seguem o comportamento da
linha azul. Para o alumínio, esperava-se que os resultados seguissem o comportamento da linha
vermelha, que corresponde a distribuição para esse material. Essas diferenças podem ser devidas
à influência da microestrutura da região do nugget. Como pode ser visto nas metalografias da
Fig.5.8, essa seção apresenta uma estrutura complexa de grão fino, diferente à estrutura do resto
do material.
114

Um dois principais problemas do método é o fato de que as tensões calculadas são


relativas, pois as medicoes são determinadas a partir da comparação com um ponto de referência
onde o estado de tensão não é realmente conhecido, mas assume-se que é zero. O ponto
de referência associado ao tempo de percurso t1 foi definido mediante duas suposições. Os
resultados para 3,5 MHz calculados mediante a suposição do t1 como o tempo de percurso
medido sobre um placa de referência do mesmo material apresentaram um perfil coerente como
a literatura. Para 3,5 MHz, os resultados de tensão residual determinados pelas duas alternativas
de t1 foram bastante próximos. Em 5 MHz os valores de tensões calculados utilizando o TOF
da amostra de referência foram muito mais dispersos. Aparentemente esses resultados indicam
que na frequência de 5 MHz existe maior influência dos parâmetros de textura e estrutura do
material que naturalmente são diferentes na placa soldada e na placa de referência mesmo que
sejam do mesmo material.

A zona termomecanicamente afetada da solda (ZTMA) tem uma microestrutura complexa


de grãos deformados, que ainda tem durezas baixas. Quando a onda LCR atravessa essas regiões,
esta pode ser atenuada obtendo-se um sinal confuso captado pelos receptores. Segundo os
resultados obtidos, as características da ZTMA influenciaram principalmente na medição do
TOF 1 e na correlação cruzada.
115

6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

O perfil de distribuição de tensões residuais em uma placa de alumínio 7050-T7541


soldada pelo processo Friction Stir Welding foi determinado mediante a técnica ultrassônica
proposta neste trabalho. Os resultados obtidos, apresentaram concordância adequada com o
perfil de tensões esperado, verificando-se a existência de uma zona de tração na região soldada
ou nugget. Em regiões mais afastadas da solda, as tensões foram diminuindo.

O valor máximo de tensão determinado foi de aproximadamente 150 MPa que


corresponde a 34% do limite de escoamento. Para ambas frequências, a tensão máxima foi
atingida a uma distância entre 2,5 mm e 5 mm da linha do centro da solda, no lado de avanço
da placa soldada. Notou-se uma clara diferença de tensão residual calculada para cada lado da
placa soldada, o que pode ser principalmente devido a diferenças microestruturais e de dureza
no material.

Seguindo a metodologia de alguns trabalhos relacionados, considerou-se como primeira


opção definir o tempo de percurso para o estado de tensão zero t1 como a média dos tempos de
percurso medidos nos extremos da placa soldada. Utilizar a segunda opção de t1 como o tempo
de percurso medido sobre uma placa de referência do mesmo material sem soldar permitiu
fazer algumas observações: os resultados obtidos para 3,5 MHz não sofreram mudanças
significativas, e para 5 MHz as diferenças foram maiores indicando que a onda LCR de 5 MHz
de frequência pode ser mais sensível às diferenças referentes ao estado da superfície da placa
soldada e sem soldar.

Referente aos métodos de determinação de tensão: TOF 1, TOF 2 e correlação cruzada,


a correlação cruzada foi mais sensível às alterações microestruturais e de dureza da ZTMA
da solda, principalmente para 5 MHz. Conclui-se que, para tempos de percurso curtos, o
que significa utilizar transdutores ultrassônicos separados por distâncias menores, existe maior
possibilidade de ter influência das propriedades mecânicas e microestruturais do material na
região avaliada.

Algumas diferenças entre os resultados obtidos usando o TOF 1 e o TOF 2 poderiam ser
explicadas pela provável existência de um gradiente de tensão ao longo do caminho da onda
LCR . Isto pode ser justificado pela influência da variação dos parâmetros de soldagem. Embora
a velocidade de rotação e de avanço da ferramenta mantiveram-se constantes durante todo o
processo de soldagem, a força exercida dentro do material poderia ter mudado devido a vários
fatores, entre eles a dureza do material que pode variar pela deformação ocorrida.
116

Sobre a configuração do equipamento de medição, incluir um terceiro transdutor no


sistema leva a uma redistribuição da forca aplicada sobre o conjunto. O peso colocado por
cima não assegura que seja exercida a mesma pressão sobre cada um dos transdutores, como é
esperado. Esse fato pode ter influenciado nos resultados obtidos principalmente para o TOF 1 e
para a correlação cruzada.

A influência da temperatura na variação da velocidade da onda ultrassônica foi verificada


e corrigida para cada caso. Vale ainda notar que os tempos de percurso obtidos pelo
processamento de correlação cruzada não podem ser corrigidos pois para esse método os sinais
são gravados um após o outros. Por essa razão, tentou-se manter a temperatura constante no
laboratório utilizado o controle do ar condicionado.

O experimento preliminar para verificação dos parâmetros de adquisição do programa


utilizado demostrou que utilizar um número de 10 sinais para compor o sinal médio apresentado
no osciloscópio, a partir do qual os tempos de percurso são determinados, é suficiente para obter
resultados com um desvio padrão máximo aproximado de 4 a 6 ns que em términos de tensão
representa de 5 MPa a 9 MPa. Considera-se que esses desvios são aceitáveis, pois são menores
ao 5% do limite de escoamento.

O processo de soldagem traz mudanças no material que podem atenuar o sinal. A


dificuldade de localizar o mesmo ponto de referências para todas as medições realizadas faz que
o método de determinação pelo segundo cruzamento com o zero seja mais susceptível a erros.
Essa foi a principal razão para utilizar o técnica de varredura, deslizando a probe sem separá-la
da superfície da placa. Desse modo, foi mais fácil manter o mesmo ponto de referência para
todas as medições.

A tensão residual determinada neste trabalho pelo método ultrassônico utilizando ondas
LCR representa a tensão longitudinal equivalente à tensão através do caminho da onda e na
profundidade de penetração, portanto os valores calculados na são pontuais. O método poderia
ser testado para obter as outras componentes do tensor de tensões, mas como foi revisado na
literatura, as tensões longitudinais (perpendiculares à solda) são maiores que as transversais, o
que justifica calcular somente a componente longitudinal se o objetivo for avaliar a qualidade
da solda e do processo de soldagem.

A principal vantagem da utilização de ondas ultrassônicas LCR na determinação de


tensões residuais é que medições não-destrutivas podem ser efetuadas a uma profundidade
relativamente elevada (vários milímetros). Além disso, o tempo de medição é curto e o processo
completamente automatizável e portátil, o que indica que este método pode ser utilizado como
método de controle de tensões residuais em linhas de produção.
117

O processo de soldagem utilizado foi de caráter experimental, o que quer dizer que
a ferramenta e os parâmetros de soldagem utilizados ainda estão sendo testados e não
corresponderam aos parâmetros ótimos que seriam utilizados em um processo industrial. Por
isso, os valores encontrados podem ser ainda reduzidos ou alterados para esse tipo de soldagem.

As dificuldades inerentes ao processo de soldagem dificultaram o planejamento dos


experimentos, dado que não foi possível obter mais placas soldadas. Recomenda-se para
trabalhos futuros utilizar um número maior de placas a fim de comparar resultados por outros
métodos.

A ausência de um valor de referência no tempo de percurso introduz erros potencialmente


significativos nas medições. Além disso, a constante acustoelástica utilizada foi avaliada no
material original, antes das placas serem soldadas, o que pode influenciar no resultado final para
a magnitude de tensões. Para trabalhos posteriores, poderia-se recriar amostras de referência
livres de tensões com a mesma estrutura de cada região da solda. A constante acustoelástica e o
módulo de elasticidade também poderiam ser medidos em amostras para cada região da solda.
119

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