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A ESPIRITUALIDADE DO MINISTRO EXTRAORDINÁRIO DA SAGRADA COMUNHÃO (*) Baseada

no livro “A Espiritualidade do Ministro da Eucaristia”, de Mitch Finley, Ed. Loyola)

Este serviço supõe uma mudança de vida a exigir de nós opções bem concretas, escolhas e
renúncias. O Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão deve cultivar a capacidade de ver
além das aparências, de ultrapassar a superficialidade do relacionamento e de aprofundar o
amor ao próximo.

Extraordinariedade

O Direito Canônico afirma, através do cânon 230, que “onde a necessidade da Igreja o
aconselhar, na falta de ministros, podem também os leigos exercer o ministério da palavra,
presidir as orações litúrgicas, administrar o batismo e distribuir a sagrada Comunhão”.

Muitas vezes somos levados a deixar o termo “extraordinário” subir à cabeça e nos cremos
imprescindíveis ou insubstituíveis. Ledo engano. O termo “extraordinário” deve ser por nós
entendido como “necessário”, o que nos leva a estarmos sempre prontos para o serviço na
comunidade. Se essa extraordinariedade for aceita e cumprida, com o coração e não somente
com ato de servir, o “necessário” se torna excepcional ou notável.

Levar Cristo vivo aos necessitados, doentes ou moribundos, nos torna notáveis já que temos o
propósito de alimentar os que clamam pelo alimento que só o Senhor ressuscitado dá. Este
propósito deve alimentar a espiritualidade do Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão.

As Virtudes do Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão

São Paulo talvez seja quem melhor escreveu sobre as virtudes teologais em sua primeira carta
aos Coríntios (13,1-13) quando fala de Fé, Esperança e Caridade. Na verdade, as únicas
realidades que merecem ser levadas em conta. Quando a comunidade se reúne para celebrar a
Eucaristia se reúne para celebrar a fé, esperança e caridade como modo de vida. Essa reunião
não é para cultuar uns aos outros, mas para cultuar Deus.

1) Fé

Para o catolicismo, fé não é crer em alguma coisa, mas é conhecer Alguém, no caso, Deus,
nosso pai amoroso e Jesus, seu filho amado, o Cristo ressuscitado que vive em nós e em nosso
meio. Portanto, fé é muito mais um relacionamento pessoal do que uma experiência racional.
Santo Agostinho, que viveu entre os séculos IV e V, disse que “nosso Deus está mais próximo de
nós do que estamos nós mesmos”.
Nossa fé é expressa pela intimidade amorosa que temos com Deus e com Cristo ressuscitado,
aqui e agora. E o Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão deve ter isso em conta,
sempre. Na Eucaristia Cristo se dá a nós como alimento e é aí que se dá o encontro do sagrado
com o comum, a união suprema do sagrado com o comum, da divindade com a humanidade.
Tem sempre alguém que pergunta: a fé do Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão é
diferente da fé do católico não ministro? Claro que não! A fé do Ministro Extraordinário da
Sagrada Comunhão é a mesma fé compartilhada por toda a Igreja. Então, o que diferencia um
do outro?

Certamente a experiência pessoal de cada um no exercício de sua missão. Cada ser, cada
Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão, traz consigo sua experiência pessoal de Deus,
sua preparação, sua devoção, sua maneira de ser. Traz consigo seu relacionamento pessoal,
único, com a Eucaristia.

Uma coisa que o Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão não pode ter é medo de
perguntas embaraçosas sobre a Eucaristia, afinal, estamos lidando com um mistério, talvez o
maior de todos. O que deve fazer diante dessas perguntas, das dúvidas que existem, é buscar
as respostas, através de aconselhamento com a comunidade religiosa, com leitura
especializada, com a participação em eventos, cursos e seminários. Tudo isso, certamente,
aprofundará o entendimento do mistério e dará sustentação à sua fé. Partamos da partilha dos
pães e dos peixes. Como Jesus repartiu os pães e os peixes para que uma multidão de cinco
pessoas se alimentasse? Como, não sabemos; mas sabemos que Ele o fez.

2) Esperança

“Que o Deus da esperança vos cumule de alegria e de paz na fé, a fim de que transbordeis de
esperança pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15, 13).

A respeito da esperança Santa Tereza D’Ávila dizia que devemos “ouvir não só com os ouvidos,
mas com o coração”. Os Ministros da Eucaristia partilham com os outros o Corpo e o Sangue de
Cristo ressuscitado. Dessa forma, partilham a esperança, para esta vida e para a outra. Não só
partilham, bem como alimentam a esperança. Há muitíssimos relatos que afirmam que os
doentes ao receberem a comunhão levada por um Ministro Extraordinário da Sagrada
Comunhão voltam a ter esperança, o que os deixam muito felizes. É importante não pensar na
esperança como sendo um remédio que cura tudo. A esperança é o alimento necessário para
prosseguir vivendo, com paz e tranqüilidade.

3) Caridade / Amor
São Paulo é intrigante ao afirmar que das três virtudes, ainda que todas importantes, o amor é
a maior:“Atualmente permanecem as três coisas: a fé, a esperança e o amor. Mas a maior é o
amor.”

Os Ministros da Eucaristia são chamados a serem instrumentos do amor de Deus. Por isso é
importante retomar o contexto da carta aos Coríntios: sem uma rica vida interior, sem uma
espiritualidade vivificante, o ato de levar ou dar comunhão durante as celebrações eucarísticas
é apenas um ato mecânico, sem a beleza e a mística do Jesus ressuscitado. Para exercer o
ministério eucarístico em plenitude há que se fazê-lo com o coração transbordante do amor de
Deus. Uma boa prática para se conseguir isso é a prática da oração.

Faz-se necessário aos Ministros da Eucaristia a adoração ao Santíssimo Sacramento. O tempo


passado na presença do Santíssimo alimenta a espiritualidade, em particular, do Ministro
Extraordinário da Sagrada Comunhão.

Presença

O ministério da Eucaristia é também o ministério da presença do Ministro Extraordinário da


Sagrada Comunhão Eucarística na comunidade. Sua presença constante, sua dedicação, sua
disposição de estar presente quando necessário, seu desejo de compartilhar a si mesmo e o
seu tempo com os outros, alimenta e suporta a fé daqueles a quem você serve como Ministro
Extraordinário da Sagrada Comunhão. Portanto, a presença do Ministro Extraordinário da
Sagrada Comunhão é a presença do próprio Jesus Cristo ressuscitado, não por causa de sua
santidade – do Ministro – mas por causa de sua missão, de seu testemunho e da graça que a
Eucaristia traz.

“Para amar alguma coisa é preciso perceber que podemos perdê-la!”

Este pensamento de G. K. Chesterton deve ser a tônica da presença do Ministro Extraordinário


da Sagrada Comunhão na comunidade. Sua presença está relacionada à sua postura, o seu
modo de vida, os seus gestos, as suas palavras. O Ministro Extraordinário da Sagrada
Comunhão deve marcar sua presença na comunidade através de atitudes e testemunho de
vida cristã. Sua presença deve eliminar os excessos.

Finalizando

Por fim, retomamos a reflexão de Bento XVI em sua Exortação Apostólica pós-
Sinodal“Sacramentum Caritatis” quando afirma a relação intrínseca entre fé eucarística e
celebração, pondo em evidência a oração e a ação litúrgica. E mais, a reflexão teológica não
pode prescindir do sacramento instituído por Jesus Cristo e a ação litúrgica não pode prescindir
do mistério da fé.Compreendendo-se isso, o caminho se abre à nossa frente, um caminho mais
suave, mais ameno, mais instigante, mais santo, pois “sede santos como vosso Pai é santo”.

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