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XI – VULCANISMO

VULCANOLOGIA: ciência, ramo da Geologia, que estuda o vulcanismo (vulcões e fenómenos a eles associados).
VULCANÓLOGOS ou VULCANOLOGISTAS: cientistas que estudam o vulcanismo.
VULCANISMO: corresponde à emissão (= saída) de materiais a altas temperaturas do interior da Terra para a
superfície terrestre.
É uma manifestação constante da dinâmica geológica que constitui o mecanismo central da evolução do nosso
planeta.
O vulcanismo pode ser:
× primário – associado a erupções vulcânicas;
× secundário ou atenuado ou residual – manifestações mais suaves de vulcanismo.

Há vulcanismo continental e oceânico. O vulcanismo primário oceânico pode originar ilhas vulcânicas.

ERUPÇÕES VULCÂNICAS: expulsão de materiais, a altas temperaturas, de composição química diversa e em


diferentes estados físicos (sólido, líquido e gasoso).
As erupções vulcânicas correspondem à saída de lava, à ocorrência de explosões ou a ambos os fenómenos.

VULCÃO: abertura na superfície terrestre que estabelece comunicação entre o interior e o exterior do globo,
trazendo para a superfície grandes quantidades de matéria e energia; o vulcão resulta de erupções vulcânicas.

Estrutura de um vulcão / aparelho vulcânico:


o Cone vulcânico: elevação em forma cónica,
resultante da acumulação de materiais
libertados durante uma ou mais erupções.
o Chaminé vulcânica: canal no interior do
aparelho vulcânico que estabelece a
comunicação entre a câmara magmática e
o exterior.
o Cratera vulcânica: abertura do cone
vulcânico, em forma de funil, que se
localiza no topo da chaminé vulcânica.
o Câmara magmática: situada a alguns
quilómetros da superfície onde se acumula
o magma.

O magma pode preencher espaços no interior da crosta, formando grandes reservatórios, as câmaras magmáticas,
ou reservatórios de menores dimensões, as bolsadas magmáticas.

Quando está em erupção ou mostra sinais de instabilidade (ex. sismos, emissões gasosas novas ou
Vulcão ativo mais ativas).
Alguns autores consideram ativo qualquer vulcão de que haja registo histórico de atividade eruptiva.

Vulcão Quando não está em atividade eruptiva nem demonstra sinais de entrar de novo em erupção.
adormecido Alguns autores consideram um vulcão adormecido quando não há registo histórico da sua atividade,
ou dormente nem há evidência de sinais da sua atividade, mas ainda não está completamente erodido.

Quando é muito pouco provável (mas nunca se pode ter a certeza) que entre em erupção.
Vulcão
extinto O cone vulcânico apresenta-se muito erodido, sem sinais de futura atividade, não existindo registos
históricos da sua erupção.
Os materiais vulcânicos têm origem no MAGMA…
× mistura a altas temperaturas (800⁰C a 1500⁰C) formada por rochas fundidas, gases e, por vezes, alguns
fragmentos rochosos (essencialmente silicatos) → possui, assim, fases líquida, gasosa e sólida;
× forma-se no interior da Terra, na crusta ou no manto;
× parece ter, na maioria, origem na astenosfera, em profundidades que ultrapassam os 100 km e a
temperaturas que podem chegar aos 1300⁰C (magma básico);
× outros magmas básicos provêm de zonas profundas e muito mais quentes do manto (associados a plumas
térmicas);
× certos magmas podem ter origem em zonas menos profundas – na litosfera [magmas ácidos), sob valores de
temperatura que rondam os 800⁰C;
× a viscosidade do magma/lava depende de vários fatores:
× a quantidade em sílica – quanto mais sílica, mais viscoso;
× quantidade em água e gases – quanto maior a quantidade de gases, mais viscoso;
× temperatura – quanto mais baixa, mais viscoso.
Natureza do Temperatura do Viscosidade do
Teor em sílica Teor em Fe e Ni Fração volátil
magma magma magma
Básico 45-50% Grande Mais alta Muito fluido Pobre em gases
Intermédio ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
Ácido 70% Pequeno Mais baixa Muito viscoso Rico em gases

Os magmas ascendem à superfície porque são menos densos que as rochas encaixantes devido:
× a se encontrarem parcialmente ou totalmente fundidos.
× a terem grande quantidade de gases e voláteis1 dissolvidos.
× à diminuição da pressão na câmara magmática por ocorrência de fendas:
Altas Gases magmáticos Fendas nas rochas Diminuição Expansão Subida do Lava e/ou
pressões comprimidos encaixantes da pressão dos gases magma piroclastos

MATERIAIS VULCÂNICOS
• Gasosos – H2O (água), CO2 (dióxido de carbono), SO2 (dióxido de enxofre), entre outros.
• Sólidos – piroclastos ou tefra.
Classificação de acordo com o tamanho:
× cinzas ou poeiras vulcânicas: partículas muito finas (< 2mm)
× lapílli (ou bagacina, termo usado nos Açores): entre o tamanho de ervilhas a nozes (2mm - 64mm)
× escória vulcânica (> 50mm): fragmentos vesiculados, ejetados em erupções vulcânicas explosivas;
× blocos e bombas – de maior tamanho (> 64mm)
o os blocos têm forma irregular, angulosa;
o as bombas vulcânicas são arredondadas.
Os piroclastos podem ser de queda ou de fluxo (nuvens ardentes / escoadas piroclásticas)
• Líquidos – lava: material vulcânico líquido com origem no magma, mas mais pobre em gases, e que se
encontra à superfície ou muito perto dela.
Básica: SiO2 < 52%
× Classificação segundo a
Intermédia: 52% < SiO2 < 65%
percentagem em sílica (SiO2):
Ácida: SiO2 > 65%

× Classificação segundo a Viscosa – temperatura mais baixa; ácida; dificuldade em libertar gases
viscosidade: Fluida – temperatura mais alta, básica, facilidade em libertar gases.

1
Volátil – substância que, nas condições ideais, passa facilmente ao estado gasoso.

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TIPOS DE SOLIDIFICAÇÃO DA LAVA
TIPOS DESIGNAÇÃO DESCRIÇÃO

Lavas encordoadas Lavas muito fluidas


ou Formam escoadas de lavas
pahoehoe Originam superfícies lisas ou semelhante a cordas.
LAVAS FLUIDAS

Lavas fluidas
Lavas escoriáceas
Deslocam-se lentamente.
ou aa
Originam superfícies irregulares, ásperas e porosas.

Lavas em almofada
Lavas fluidas.
ou em rolo
Formam-se nas erupções submarinas/ambiente aquático.
(pillow lavas)

Formação de
Lava viscosa.
LAVAS VISCOSAS

rolhas vulcânicas:
Solidificação da lava na cratera.
domo/cúpula

Formação de
Lava de elevada viscosidade
rolhas vulcânicas:
Solidificação da lava na chaminé vulcânica.
agulha vulcânica

VULCANISMO PRIMÁRIO
Caracteriza-se pela ocorrência de erupções vulcânicas.
As erupções vulcânicas podem ser do tipo:
Ø Central – existe uma chaminé e eventualmente chaminés secundárias.
Forma-se um cone vulcânico e eventualmente cones secundários.
O aparelho vulcânico designa-se por vulcão.
Ø Fissural – não existe chaminé; a lava sai ao longo de fendas/ fraturas na
superfície; podem formar-se pequenos cones vulcânicos alinhados.
Os materiais acumulados podem originar planaltos de acumulação vulcânica.
Tipo de vulcanismo existente nos riftes.

CALDEIRAS VULCÂNICAS
Podem formar-se, na parte superior dos vulcões, grandes depressões chamadas caldeiras. As
caldeiras têm paredes íngremes e forma circular com um diâmetro nunca inferior a 1,5Km de
diâmetro.
As caldeiras resultam da destruição parcial do cone vulcânico, o que se deve:
Ø a grandes explosões ou…
Ø ao colapso (= abatimento = afundamento) da parte central do cone vulcânico. Isto
ocorre durante intensas erupções em que grande quantidade de materiais é
rapidamente expelida o que esvazia, total ou parcialmente, a câmara magmática.
Este vazio torna o aparelho vulcânico instável (por falta de sustentação do cone,
devido ao seu peso e facilitado pela existência de fraturas), conduzindo ao seu
abatimento.

Normalmente, nas caldeiras acumula-se água da chuva, formando-se LAGOAS.

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TIPOS DE ERUPÇÕES VULCÂNICAS
da composição química do magma
As erupções vulcânicas dependem:
da temperatura do magma

viscosidade da lava
Determinam
condições de libertação dos gases

• Erupção efusiva
Ø Lava muito fluida (básica) e a temperatura muito alta;
Ø A libertação de gases é fácil e a erupção é calma;
Ø Derramamento de lava abundante: se houver algum declive, formam-se escoadas lávicas/rios de lava; se
os terrenos onde ocorre a erupção forem planos, formam-se mantos e lagos de lava;
Ø Cones vulcânicos baixos, formados por camadas de lava solidificada;
Ø Os fluxos de lava tendem a originar basalto.

• Erupção mista – assume aspetos intermédios entre o explosivo e o efusivo:


Ø Lavas de viscosidade intermédia;
Ø Lentas emissões de lava (escoadas curtas) alternam com períodos explosivos (pouco violentos);
Ø Cones mistos, em que alternam camadas de lava com camadas de piroclastos.

• Erupção explosiva
Ø Lava muito viscosa (ácida), fluindo com dificuldade;
Ø Derrame de lava reduzido ou inexistente;
Ø Os gases libertam-se violentamente originando explosões violentas;
Ø Projeção essencialmente de produtos sólidos e gases podendo formar uma coluna/pluma
eruptiva/vulcânica;
Ø Cones altos com vertentes acentuadas por acumulação de piroclastos;
Ø Por vezes, a lava é extremamente viscosa e não chega a derramar, originando rolhas vulcânicas:
× se a lava solidifica na cratera constitui uma estrutura arredondada chamada domo ou cúpula;
× lava ainda mais viscosa pode solidificar dentro da chaminé originando uma agulha vulcânica;
Ø Formação de nuvens ardentes: / escoadas piroclásticas - formadas por fragmentos incandescentes de
várias dimensões (a maioria cinzas) envolvidas em gases a elevadas temperaturas que se deslocam a
grandes velocidades pelas vertentes dos vulcões, calcinando tudo à sua frente;
Ø Durante as erupções explosivas podem ser formados piroclastos (cinzas, bombas), pomito (pedra-pomes),
de aspeto vesiculado e com baixa densidade, e, eventualmente, por ocasião de erupções muito violentas
decorrentes de magma muito viscoso ou decorrente de erupções submarinas, vidro vulcânico (ex.
obsidiana);
Ø As erupções explosivas são as mais destrutivas e, por isso, as mais perigosas.

Coluna eruptiva Piroclastos de queda

Nuvem ardente
(piroclastos de fluxo)

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TIPOS DE ERUPÇÕES VULCÂNICAS

CARACTERÍSTICAS EFUSIVAS MISTAS EXPLOSIVAS


TEOR EM SÍLICA Baixa (< 50%) Intermédio (50% - 60%) Alto (> 70%)
ACIDEZ DOS MAGMAS Lavas básicas Lavas intermédias Lavas ácidas
TEMPERATURA DOS
Alta (1500⁰C) Média Baixa (800⁰C)
MAGMAS

VISCOSIDADE DOS MAGMAS Baixa Média Alta


Resultam da ascensão do Podem estar associadas a Ocorrem, normalmente, em
magma do manto através zonas de convergência de zonas de convergência de
SITUAÇÃO TECTÓNICA
de pontos quentes ou ao placas, zonas de placas continentais ou devido
nível do rifte. subducção. a fusões intracontinentais
Elevada profundidade Baixa profundidade
ORIGEM DOS MAGMAS Profundidade intermédia
(Manto) (Litosfera)
FRAÇÃO VOLÁTIL
(PRESENÇA DE GASES NOS 3% - 4% 4% - 6% 15 – 20%
MAGMAS)
Coluna eruptiva
Alterna atividade efusiva
ESTRUTURAS Agulhas vulcânicas
Lavas (lavas fluidas) e explosiva
CARACTERÍSTICAS Domos ou cúpulas
(lavas viscosas)
Nuvens ardentes
FORMAÇÃO DE
Praticamente inexistente Cinzas, lapili e bombas (2) Principalmente cinzas (1)
PIROCLASTOS
Escoadas extensas (rios,
lagos e mantos de lava);
Explosões alternadas com
PROCESSOS OBSERVADOS não existem explosões; os Explosões
escoadas curtas de lava
gases libertam-se com
facilidade
Cones pouco Cones bem definidos Cones pronunciados, com
pronunciados, de formados por camadas vertentes inclinadas,
vertentes suaves (forma alternadas de lavas e formados por acumulações
de escudo), formados por material piroclástico de piroclastos
acumulações de lavas (3)
PAISAGEM VULCÂNICA

Ex. Vulcões do Havai Ex. Vulcão dos Capelinhos Ex. Vulcão Mont Pelee
(Martinica)

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NOTAS:
P Lahar: movimento de massa (piroclastos de fluxo) exclusivo das regiões vulcânicas formado pelo deslocamento
ao longo de vales ou de encostas íngremes de lama composta por materiais piroclásticos e água.
As causas podem ser:
Ø Elevada e persistente chuva durante uma erupção vulcânica;
Ø Fusão de neve ou gelo (glaciar) desencadeado pela presença de gases quentes ou de fluxos piroclásticos.

P Grutas/tubos/túneis de lava: formam-se quando a superfície das


escoadas de lava basáltica, em contacto com o ar, solidifica
rapidamente, formando o teto de um canal de rocha sob o qual a lava
continua a fluir. Quando a lava no interior dos tubos é drenada, deixa
condutas parcial ou totalmente vazias sob a terra.

VULCANISMO SECUNDÁRIO / RESIDUAL / ATENUADO


Ocorre antes ou depois (anos ou séculos) de uma erupção vulcânica.
Manifesta-se de um modo menos espetacular: não há emissão de lavas nem de piroclastos (não há explosões).

1) Nascentes/fontes/águas termais – correspondem à libertação de água a


temperaturas elevadas.
Águas subterrâneas sobreaquecidas brotam à superfície.
Por serem quentes, são muito mineralizadas (têm muitos sais minerais
dissolvidos). Podem ter origem em:
× águas pluviais que se infiltraram no solo;
× águas provenientes do magma (águas magmáticas ou juvenis).

As águas termais com valor medicinal, por poderem tratar ou mesmo curar doenças, designam-se TERMAS.

As termas em Portugal continental não se relacionam com o vulcanismo. Devem-se à existência de zonas da
crusta com elevado fluxo térmico (grande aumento da temperatura com a profundidade – elevado gradiente
geotérmico).

2) Fumarolas – emissões de gases, essencialmente compostas por vapor de água,


que ocorrem através de fissuras/fendas no solo; não há mistura destes
materiais com águas frias subterrâneas.
vapor de H2O + compostos de enxofre º SULFATARA
Fumarolas
vapor de H2O + CO2 º MOFETA

3) Géiseres – repuxos intermitentes de água em ebulição / emissões descontínuas de água e


vapor de água através de fraturas.

4) Fontes ou chaminés hidrotermais - jatos escuros (“fumos negros”) no fundo do mar de


água muito quente e muito rica em metais que se depositam formando uma espécie de
“chaminés”.

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Vulcanismo e Tectónica
Os principais vulcões distribuem-se por certas regiões do globo terrestre:
1º- Anel ou Cintura de fogo do Pacífico, (Cordilheira dos Andes, Japão, Filipinas…)
2º- Faixa ou Cintura Mediterrânica
3º - Crista ou Dorsal Médio – Atlântica, (Açores, Canárias, Islândia...)
4º - Costa oriental africana
A atividade vulcânica eruptiva (vulcanismo primário) está normalmente associada a zonas de limites de placas
litosféricas, quer construtivos (zonas de rifte) quer destrutivos (zonas de subducção), coincidindo com regiões de
intensa atividade sísmica. Também é possível verificar a existência de fenómenos vulcânicos no interior de placas
litosféricas que normalmente são consideradas tectonicamente estáveis (vulcanismo intraplaca).

↑ Relação entre os fenómenos de vulcanismo e a dinâmica das placas tectónicas.


Vulcanismo intraplaca (A); Vulcanismo de subducção (B e C); Vulcanismo de vale de rifte (oceânico; D; continental E).

A maior parte do vulcanismo é imerso, estando sobretudo associado aos riftes oceânicos.

1. Vulcanismo associado a fronteiras convergentes – predominantemente do tipo explosivo.


1.1 Vulcanismo de subducção
Correspondem a cerca de 80% dos vulcões emersos ativos.
Estas zonas coincidem com fronteiras convergentes de placas (C→←O; O→←O), onde se verifica o mergulho ou
subducção de uma placa por baixo de outra: as rochas hidratadas da crusta oceânica que se afundam nas fossas
libertam água ao serem arrastadas para o interior da Terra, facilitando a fusão e o aparecimento de câmaras
magmáticas relativamente pouco profundas.
Os vulcões associados a estas zonas possuem uma natureza mista ou explosiva (magmas intermédios →
intermédios/ácidos).
O conjunto mais significativo associado a este tipo de vulcanismo é o Anel de Fogo do Pacífico.
Uma outra zona de vulcanismo ativo em zonas de limites convergentes é observada na zona mediterrânica
prolongando-se para o interior da Ásia Menor até ao Cáucaso. A placa Africana encontra-se em processo de colisão
com a placa Euroasiática. É nessa zona que se encontram os famosos vulcões italianos, Vesúvio e Etna.

2. Vulcanismo associado a fronteiras divergentes – predominantemente do tipo efusivo.


Zonas de vulcanismo de vale de rifte
Corresponde a 15% do vulcanismo mundial.
O afastamento de placas tectónicas (O←→O ou C←→C) origina sistemas de fissuras na crusta com milhares de
quilómetros, através dos quais o magma, geralmente com formação pouco profunda, ascende à superfície.

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O vulcanismo associado a zonas de rifte nas cristas medio-oceânicas é, geralmente do tipo efusivo (magmas
básicos) e fissural.
Está relacionado com a produção de enormes quantidades de magma que acaba por formar os fundos oceânicos,
podendo, nalguns casos, originar cones vulcânicos que emergem acima do nível do mar deles resultando ilhas
vulcânicas.

3. Vulcanismo intraplacas
Tipo de vulcanismo mais raro. Relaciona-se com pontos quentes (hotspots).
Nas zonas profundas do manto, limítrofes com o núcleo externo, tem origem a subida de material extremamente
quente e básico em direção à litosfera → plumas térmicas. Ao atingir a litosfera, a pluma térmica dá origem ao
ponto quente.
A pluma e o respetivo ponto quente mantêm uma posição fixa. Porém, devido ao movimento tectónico, as placas
litosféricas movem-se sobre o ponto quente de modo que a atividade vulcânica varia de posição geográfica ao
longo do tempo geológico.

Num primeiro momento, as manifestações da atividade dos pontos quentes estão associadas a erupções do tipo
fissural, com derrames de grandes quantidades de basaltos tanto no fundo oceânico, como no domínio
continental. Numa fase posterior, a atividade dos pontos quentes parece evoluir para o tipo central.

↑Hipótese que defende a formação das plumas térmicas e respetivos pontos quentes associados.

3.1 Vulcanismo intraplaca oceânico


O material magmático emanado pela atividade de um ponto quente localizado sob uma placa litosférica oceânica
é de natureza alcalina ou básica, pois tanto o magma proveniente da pluma, como aquele que é originado como
consequência da fusão de material rochoso da placa litosférica têm constituição basáltica (básica). Deste modo,
as erupções que decorrem deste tipo de atividade são tipicamente efusivas.
Este tipo de vulcanismo parece estar relacionado com a formação de arquipélagos constituídos por uma série
quase linear de ilhas vulcânicas como o Havai2. Segundo este modelo, a atividade eruptiva central inicialmente
submarina evolui para a emergência de uma ilha vulcânica. Com o deslocamento da placa sobre o ponto quente,
a ilha original é deslocada da fonte magmática e perde a atividade vulcânica. Entretanto, sobre o ponto quente, é
edificada uma nova ilha vulcânica e assim sucessivamente. Com o passar do tempo, verifica-se a formação de uma

2
O Kilauea, no Havai, é um dos vulcões mais ativos do mundo. Cada erupção pode prolongar-se durante anos sendo a
lava basáltica projetada a grande altura e caindo em enormes torrentes.

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linha de ilhas onde a mais recente mantém atividade vulcânica e as mais antigas são progressivamente erodidas
podendo originar atóis e guyots.

Atóis – correspondem a estruturas formadas a partir de recifes de coral.


Os corais só sobrevivem em ambientes de águas límpidas, calmas e tépidas (cerca de 20ºC) e necessitam de um
substrato sólido para iniciarem a formação das suas colónias. Ao instalarem-se em redor de uma ilha vulcânica
localizada em regiões que reúnam essas condições, acabam por crescer, formando um recife em franja. Com o
abatimento do edifício vulcânico devido à erosão, o recife evolui para a forma em barreira, onde é reconhecido
um anel recifal separado por um anel de água de uma ilha já bastante aplanada. A erosão continuada da ilha de
origem vulcânica acaba por formar um atol, caracterizado por um anel recifal que delimita uma laguna interna no
meio do oceano.
Há muitos recifes fósseis em quase todas as regiões do globo - até na Sibéria -, o que permite concluir que
importantes alterações climáticas se têm verificado no planeta, no decorrer da sua História.

↑Evolução de um recife em franja para um atol, passando pela fase de recife em barreira.

Guyots – estruturas que resultam da destruição da parte aérea da ilha vulcânica e sua consequente submersão
mantendo a estrutura típica de um cone.

↑Formação de um guyot. ↑Guyot na Etiópia

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3.2 Vulcanismo intraplaca continental
O ponto quente localizado sob uma massa continental em Yellowstone (EUA) promove a fusão de material da
crosta continental, representado basicamente por granitos, o que origina um magma muito rico em sílica, muito
ácido e associado a erupções explosivas muito violentas (frequentemente referidas como “supervulcão”3). As
erupções associadas a Yellowstone são testemunhadas por diversas caldeiras vulcânicas lineares (a mais antiga
tem cerca de 16Ma) que apresentam uma orientação NE → SW relativamente ao ponto quente que lhe deu
origem, o que revela o sentido da deslocação da placa Norte-americana.

↑ Ponto quente intracontinental onde


atualmente está localizado o parque
Yellowstone (USA). Observe a existência de
inúmeras caldeiras que testemunham
erupções do passado (a mais antiga, há
16,1Ma) e que revelam o deslocamento da
placa Norte-Americana no sentido NE→SW.

← Caldeira atual de Yellostone. O magma


ácido tem sido formado e acumulado
através do ponto quente situado
imediatamente abaixo.

VULCANISMO EM PORTUGAL
AÇORES
O arquipélago dos Açores originou-se de vulcões submarinos, sendo vários deles ativos ainda.
Além do vulcanismo principal existem manifestações de vulcanismo secundário (fumarolas e águas termais).
Em 1957/58, o Vulcão dos Capelinhos, com atividade mista, aumentou a área da Ilha do Faial.
Em 1998 / 2000, o vulcão submarino da Serreta (perto da ilha Terceira) entrou em atividade. Observaram-se pedaços
de lava fluida rica em gases a flutuar nas águas – estilo serretiano (erupção hidrovulcânica).
MADEIRA
De origem vulcânica. Atualmente, o vulcanismo considera-se extinto.
PORTUGAL CONTINENTAL
Evidências de vulcanismo (escoadas e piroclastos e chaminés vulcânicas), encontram-se no Algarve (vulcanismo
mesozoico), Alentejo (vulcanismo paleozoico) e Estremadura (vulcanismo mesozoico, realçando o Complexo Vulcânico
de Lisboa, de idade cretácica).
São muito frequentes as águas termais, não relacionadas com vulcanismo, mas com um elevado gradiente geotérmico.

3
O termo “supervulcão” procura aludir à excecional grandiosidade destes aparelhos e aos seus efeitos devastadores.
Podem estar na base de profundas alterações climáticas e serem responsáveis por extinções em massa.

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BENEFÍCIOS E RISCOS DO VULCANISMO
Existem aspetos positivos decorrentes da atividade vulcânica:
– Os solos formados a partir de rochas de origem vulcânica são caracteristicamente muito férteis, favorecendo a
agricultura e a pecuária.
– Energia de origem geotérmica – pode aproveitar-se o calor interno da Terra (geotermia) para produção de eletricidade
ou de aquecimento de habitações, piscinas, estufas e mesmo para a confeção de alimentos.
– As zonas vulcânicas funcionam como polos de atração turística que desenvolvem a região.
– Podem existir estabelecimentos termais e vários tratamentos médicos, envolvendo lamas, cinzas e águas termais.
– Algumas zonas permitem a exploração de diversos produtos minerais (basalto, enxofre, cobre, platina, ferro,
diamantes) e químicos (ácido bórico, amónia).
– Os vulcões são uma fonte privilegiada de informação no que diz respeito ao estudo do interior do nosso planeta.
– Os vulcões criam novas paisagens.
– Os gases vulcânicos são importantes para a manutenção química da atmosfera terrestre.

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TIPO DE PREVENÇÃO E MECANISMOS DE
PERIGOS EFEITOS POTENCIAIS / RISCOS
ERUPÇÃO MINIMIZAÇÃO DE RISCOS PREVISÃO
- Localização dos
pontos de emissão de
lava
- Antecipação do
padrão de escorrência
- Raramente constituem ameaça da escoada, com
direta ao ser humano definição dos trajetos
Escoadas de - Destruição de construções possíveis de
EFUSIVA
lava - Incêndios escorrência
- Destruição de terrenos de cultivo - Condicionamento do
avanço das escoadas - Levantamento da
- Cortes de vias de comunicação
(através de barreiras, história eruptiva
arrefecimento com dos vulcões com
água) o objetivo de
- Ordenamento do estabelecer um
território padrão de
frequência.
- Incêndios (bombas e lapili) - Interpretação de
- Impactos destrutivos (bombas e dados
lapili) sismológicos que
- Soterramento de estruturas permitam revelar
edificadas movimentações
- Destruição de culturas agrícolas, de magmas
Projeção de quer devido ao soterramento, - Monitorização da
piroclastos quer devido ao aumento da natureza das
turvação do ar e consequente emanações
dificuldade de penetração da luz - Evacuação gasosas nas
(lapili e cinzas) - Uso de capacetes fumarolas
- Problemas oculares e respiratórios - Uso de óculos de - Verificação das
(cinzas) proteção deformações da
- Acidentes de viação (cinzas) - Uso de máscaras de crusta que
filtração permitam inferir
- Calcinação de todo o tipo de
Nuvens da deslocação de
elementos existentes na sua - Construção
MISTAS E ardentes magma em
passagem antissísmica
EXPLOSIVAS regiões
- Contaminação do ar de que pode - Ordenamento do
subjacentes
resultar intoxicação respiratória território das zonas
- Monitorização de
litorais (suster a
- Asfixia anomalias
Libertação de construção
gases - Contaminação da água em casos gravimétricas
desenfreada nas
de erupções ou emanações resultantes da
zonas litorais)
subaéreas (pode provocar movimentação
- Condicionamento do
envenenamento) do magma
avanço do lahar
Sismos - Danos ou mesmo colapso de
vulcânicos estruturas edificadas
Movimentos de
massa: - Ocorrência de tsunamis com
ex. consequente inundação de zonas
abatimentos litorais
próximos do - Inundações, destruição de
litoral terrenos e construções por onde
ex. lahar passa o lahar.

Resumo Geo 2018/19 – Vulcanismo 67

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