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2.1 Introdução
No trabalho com métodos numéricos é importante saber que a solução numérica não é
solução exata. Portanto, é importante conhecer o quanto a solução obtida por meio desses
métodos está próxima da solução exata.
A solução numérica é uma mera aproximação do valor real, não tem valor se não vier acompan-
hada de alguma informação sobre o seu erro. É preciso ter uma ideia a respeito da distância
entre o valor exato e a aproximação considerada. Em resumo, é preciso ter alguma informação
sobre a qualidade da aproximação.
Essa qualidade pode ser expressa pelo erro absoluto ou pelo erro relativo. A precisão da solução
numérica pode ser melhorada de várias maneiras e esses conceitos nos ajudarão muito nessa
tarefa.
onde 0 ≤ di < β, i = 1, 2, . . . , t.
A aritmética de ponto flutuante F é caracterizada por quatro números inteiros: base β (binária,
decimal, hexadecimal e etc..); a precisão t (número de algarismos da mantissa–aparece depois
15
16 CAPÍTULO 2. ERROS
do ponto); variação do expoente e, inteiro tal que emin ≤ e ≤ emax ). Todo computador utiliza
algum sistema de aritmética de ponto flutuante para operar com números.
A representação de x com apenas t dígitos pode ser feita de duas formas. Notemos que
chamando
f = ±0.a1 a2 . . . at (2.2.4)
g = ±0.at+1 . . . an (2.2.5)
2.3. ERRO ABSOLUTO E ERRO RELATIVO 17
temos que
x = f × 10e + g × 10e−t (2.2.6)
notamos que 0 < |f | < 1 e 0 ≤ |g| < 1.
No arredondamento simétrico, se o primeiro dígito a ser desprezado é inferior a cinco, simples-
mente abandonamos os dígitos restantes e mantemos os demais. E se o primeiro dígito a ser
desprezado é igual ou superior a cinco, adicionamos um ao último dígito a ser retido.
No arredondamento
√ por truncamento, simplesmente desprezamos os dígitos restantes.
Por exemplo,√ 2 ≈ 1.4142135623730950488 utilizando-se√ apenas 10 dígitos após o ponto dec-
imal tem-se 2 ≈ 1.4142135623 por truncamento e 2 ≈ 1.4142135624 por arredondamento
simétrico.
As limitações no sistema de aritmética de ponto flutuante provocam fenômenos importantes
chamados de “overflow” e “underflow”. A faixa de variação dos expoentes leva ao underflow e ao
overflow, e quantidade de dígitos na mantissa ocasionam erros de arredondamento.
Operações que resultem em expoente superior ao expoente máximo ocasionam o fenômeno de
overflow. Analogamente, operações que resultem em expoente inferior ao expoente mínimo
ocasionam o fenômeno de underflow.
4) Normalização da mantissa;
5) Arredondamento da mantissa;
Note que em geral o valor exato x não é conhecido. Portanto, é comum utilizarmos a seguinte
definição de erro relativo:
|x − x|
ERx = , x 6= 0.
|x|
As informações fornecidas pelos erros absoluto e relativo são diferentes. Seja x = 1234.9 uma
aproximação para x com erro absoluto menor do que 0.1 , isto é, EAx < 0.1, então o valor
exato pertence ao intervalo (1234.8; 1235.0). Do mesmo modo, suponha que y = 7.2 seja uma
aproximação para y com EAy < 0.1, então y pertence ao intervalo (7.1; 7.3). Note que nos
dois exemplos os majorantes para os erros absolutos são os mesmos. Mas nesses casos, os erros
relativos são diferentes. No primeiro caso, temos
EAx 0.1
ERx = < ≈ 0.81 × 10−4
|x| 1234.9
e
EAy 0.1
ERy = < ≈ 0.14 × 10−1 .
|y| 7.2
Comparando os erros relativos, vemos que a precisão no primeiro exemplo é maior, pois a ordem
de grandeza de x é maior que a ordem de grandeza de y. Isto explica porque o erro relativo é
mais amplamente utilizado.
O erro relativo é dado frequentemente com uma porcentagem. Por exemplo, 2% de erro relativo
significa que o erro relativo é 0.02.
Voltando à representação em aritmética de ponto flututante com t dígitos dada em (2.2.6),
podemos observar que f tem t dígitos e está na forma normalizada. Além disso, x e = f × 10e é
uma aproximação para x. A essa aproximação chamamos de arredondamento por trucamento.
É claro que nesse caso o erro de arredondamento por trucamento é dado por
e| = |g| × 10e−t .
EAx = |x − x
Proposição 2.3.1 (a) Utilizando aritmética com t casas decimais e arrendodamento por trun-
camento o erro relativo máximo cometido é dado por 101−t .
(b) Utilizando aritmética com t casas decimais e arrendodamento simétrico o erro relativo máx-
1
imo cometido é dado por 101−t .
2
2.4. DÍGITOS SIGNIFICATIVOS 19
|g| × 10e−t 1
< 101−t , se 0 < |g| < 0.5
|x − xe| |f | × 10 e 2
ERx = = e−t .
|e
x|
(1 − g) × 10 |g − 1| × 10e−t 1
< < × 101−t , se 0.5 ≤ |g| < 1
|f | × 10e + 10e−t |f | × 10e 2
decimal, teríamos dúvida sobre qual dígito incluir: 14,15? e por que não 14,18?
Em virtude da limitação da régua, apenas podemos garantir que os dígitos 1, 4 e 1 podem ser
usados com segurança. Há dúvidas sobre o quarto valor. A esses três primeiros algarismos mais
o quarto algarismo duvidoso chamamos de algarismos significativos.
A relação entre o erro relativo e o número de dígitos significativos é dado pela proposição:
0.5 × 10−n ,
Assim, dizemos que x aproxima x com d dígitos significativos se d é o maior inteiro positivo
para o qual se tem
|x − x| 1
< × 10−d .
|x| 2
1
aprox. 14.14213562
20 CAPÍTULO 2. ERROS
Dígitos não nulos são sempre dígitos significativos. Em 0.057 tem-se dois dígitos significativos;
em 0.507 temos três dígitos significativos. O número de dígitos significativos num cálculo de-
penderá do número de dígitos significativos dos dados iniciais.
De modo análogo,
EAx−y ≤ EAx + EAy .
Agora passamos ao erro relativo na soma.
EAx+y EAx + EAy
ERx+y = ≤
|x + y| |x + y|
EAx EAy
≤ +
|x + y| |x + y|
EAx |x| EAy |y|
≤ +
|x| |x + y| |y| |x + y|
|x| |y|
≤ ERx + ERy
|x + y| |x + y|
≤ ERx + ERy .
Da expressão acima vemos que se |x| > 1 ou |y| > 1, então as parcelas xε2 e yε1 contribuirão
para o aumento do erro no produto.
Supondo xy 6= 0, rearranjando e dividindo por xy, podemos escrever,
xy − x.y xε2 yε1 ε1 ε2
= + + .
xy xy xy xy
Se x é uma boa aproximação para x e se y é uma boa aproximação para y, então
xε2 ε2
≈ ,
xy y
yε1 ε1
≈ ,
xy x
ε1 ε2
≈ 0.
xy
Segue que
xy − x.y ε1 ε2
ERxy = ≤ + = ERx + ERy .
xy x y
Portanto, para boas aproximações, o erro relativo do produto é no máximo, a soma dos erros
relativos.
No caso da divisão,
x x + ε1 x + ε1 1
= = · .
y y + ε2 y 1 + εy2
1 ε2
O termo lembra a série geométrica de razão − :
1 + εy2 y
22 CAPÍTULO 2. ERROS
X∞ k
1 ε2
= − .
1 + εy2 k=0
y
Supondo que y seja uma boa aproximação para y, podemos desprezar os termos da série de
potência superior a 2, assim, obtemos
x x + ε1 x + ε1 ε2
= = · 1− .
y y + ε2 y y
Donde, obtemos
x x + ε1 ε2 x ε1 xε2 ε1 ε2
= · 1− ≈ + − 2 − 2 .
y y y y y y y
ε1 ε2
Desprezando o termo 2 , segue que
y
x x ε1 xε2
EA xy = − ≈ − 2 .
y y y y
O Erro relativo do quociente é então
EA xy y ε1 xε2 y ε1 ε2
ER xy = = EA xy · = − 2 ≈ + ≤ ERx + ERy .
x x y y x x y
y
Segue que para boas aproximações o erro relativo na divisão é no máximo a soma dos erros
relativos.
Observação 2.5.1
Em problemas matemáticos gerais as soluções, em última análise, estão no conjunto dos números
reais, que é infinito e contínuo. Segue que uma das consequências dessa representação em
máquina é o arredondamento, exceto para números demasiadamente grandes ou demasiada-
mente pequenos para serem representados na máquina, dão origem a situações denominadas de
overflow e underflow, respectivamente. Resumindo, toda operação pode conter erros.
Além desses casos, que o erro tem origem na máquina, existem outras fontes de erros. As
principais fontes de erros são:
a) erros nos dados de entrada,
b) erros no estabelecimento do modelo (simplificação),
c) erros de truncamentos (troca de séries por soma finita).
Imagine que desejamos calcular a área da superfície do nosso planeta Terra. Resolvemos usar
a fórmula S = 4πr2 , onde r é o raio da Terra. Quando fazemos isso estamos cometando alguns
erros. Primeiramente, estamos simplificando o problema, pois estamos supondo que a Terra
é uma esfera perfeita. Em seguida, como só conhecemos um valor aproximado para π, somos
obrigados a utilizar uma aproximação. Erramos mais uma vez pois não conhecemos exatamente
o raio r.
Quando simplificamos o problema cometemos um erro no modelo e quando tomamos uma
aproximação para π e r cometemos erro nos dados iniciais.
2.6. CONDICIONAMENTO E ESTABILIDADE 23
3. Arredonde os seguintes números reais representando-os com três e com cinco algarismos:
2 1 √ 1
, , − 5 , − , e, e−1 .
9 256 44
24 CAPÍTULO 2. ERROS
√ √
4. Use a sua calculadora para calcular 1
3
× 3, 2 × 2 usando apenas 4 dígitos.