Você está na página 1de 7

Capı́tulo 1

Funções

1.1 Introdução de funções


A ideia de função está presente quando relacionamos duas grandezas variáveis. Por exemplo, o
valor que um certo ı́ndivı́duo irá pagar de gasolina depende da quantidade de litros comprado. Veja a
tabela abaixo:

Número de litros Preço a pagar (R$)


1 4,80
2 9,60
3 14,40
4 19,20
.. ..
. .
10 48,00

ou seja, Preço a pagar = 4,80 vezes o número de litros comprados. Relações como essa muitas vezes
podem ser representadas matematicamente através de funções. Neste caso temos,

P = 4, 80l

onde P é o preço a pagar e l o número de litros comprados.

Definição 1.1. Função é uma regra que associa a cada objeto em um conjunto A um e apenas um objeto
de um conjunto B. O conjunto A é chamado de domı́nio e o conjunto B é chamado de contradomı́nio.

Observação 1.1. Além de domı́nio e contradomı́nio, outro conjuunto importante é a imagem da função
que é um subconjunto do contradomı́nio formado por todos os elementos correspondentes de algum ele-
mento do domı́nio.

Neste curso, o domı́nio e o contradomı́nio das funções examinadas são conjuntos de números reais
e a função é representada pela letra f ou qualquer outra letra do alfabeto.

1
Observação 1.2. Pode ser interessante pensar em uma função como uma “máquina”que transforma um
número do conjunto A em um número do conjunto B usando o processo especificado pela regra matemática.

Exemplo 1.1. Seja f : R → R tal que f (x) = 4x + 2. Determine:

a)f (3) b)f (10) c)f (−4)

Solução. a) f (3) = 4 · 3 + 2 = 12 + 2 = 14
b) f (10) = 4 · 10 + 2 = 40 + 2 = 42
c) f (−4) = 4 · (−4) + 2 = −16 + 2 = −14

Muitas das vezes é conveniente representar uma função por uma equação do tipo y = f (x), onde
x e y são chamadas de variáveis. Em particular, como o valor numérico de y é determinado pelo valor
de x, y é chamado de variável dependente e x variável independente.

Exemplo 1.2. Se g(t) = (t − 2)1/2 , determine (se possı́vel) g(27), g(5), g(2) e g(1).


Solução. A função pode ser escrita na forma g(t) = t − 2. Assim,

√ √
g(27) = 27 − 2 = 25 = 5

√ √
g(5) = 5−2= 3
√ √
g(2) = 2−2= 0=0

Entretando, não é possı́vel determinar g(1), pois

√ √
g(1) = 1−2= −1

e sabemos que números negativos não possuem raı́zes quadradas reais. Nesta caso dizemos que g(1) não
está definida ou que 1 não pertence ao domı́nio da função g.

Exemplo 1.3. Determine se possı́vel f (−1/2), f (1) e f (2) para




 1
x−1 , se x < 1
f (x) =

3x2 + 1, se x ≥ 1

Solução. Como x = −1/2 satisfaz à desigualdade x < 1, usamos a primeira expressão:


( )
1 1 1 2
f − = 1 = =− .
2 −2 − 1 −3/2 3

Por outra lado, x = 1 e x = 2 satisfazem à desigualdade x ≥ 1. Logo,

f (1) = 3 · 12 + 1 = 3 + 1 = 4 e f (2) = 3 · 22 + 1 = 3 · 4 + 1 = 12 + 1 = 13.

2
1.2 Estudo do domı́nio de uma função real
Vimos que uma função consta de três componentes: domı́nio, contradomı́nio e lei de corres-
podência (a regra matemática). Quando é citada uma função f de A em B, já ficam subentendidos o
domı́nio (A) e o contradomı́nio (B). Às vezes, porém, é dada apenas a lei da função f , sem que A e B
sejam citados. A seguir, através de alguns exemplos, demonstraremos como determinar o domı́nio de uma
função, isto é, descobriremos quais os números que a função não pode assumir para que a sua condição
de existência não seja afetada.

Exemplo 1.4. Explicite o domı́nio das seguintes funções reais:



1 x−2 √ 2−x
a)f (x) = b)f (x) = c)f (x) = 2x − 8 d)f (x) = √
x x+5 x+1

Solução. a) 1
x só é possı́vel em R se x ̸= 0 (não existe divisão por zero). Portanto, o domı́nio de f é:

D(f) = R − {0} = {x ∈ R | x ̸= 0}.

b) Neste caso, o denominador não pode ser nulo, logo a função está definida para valores de x tais que
x + 5 ̸= 0, logo x ̸= −5. Portanto,

D(f) = R − {−5} = {x ∈ R | x ̸= −5}.

c) Nos números reais, o radicando de uma raiz quadrada não pode ser negativo. Logo, a função existe
quando 2x − 8 ≥ 0. Logo,

2x − 8 ≥ 0

2x ≥ 8
8
x≥
2
x≥4

Logo, D(f) = {x ∈ R | x ≥ 4}.


d) Nesse caso, temos restrições tanto no numerador quanto no denominador. As restrições podem ser
calculadas da seguinte maneira:
i)

2−x≥0

−x ≥ −2

x≤2

3
(não existe raı́z quadrada de número negativo).
ii)

x+1>0

x > −1

(não existe raı́z quadrada de número negativo e o denominador não pode ser zero). Logo, o domı́nio f é
dado por:
D(f) = {x ∈ R | x > −1 e x ≤ 2} = (−1, 2].

1.3 Composição de Funções


Vamos considerar a seguinte situação:
Um terreno foi dividido em 20 lotes, todos de forma quadrada e de mesma área. Nessas condições, vamos
mostrar que a área do terreno é uma função da medida do lado de cada lote representando uma com-
posição de funções. Para isso, indicaremos por:
I x = medida do lado de cada lote;
I y = área de cada lote;
I z = áera do terreno.

1. ÁREA DE CADA LOTE = (medida do lado)2 ⇒ y = x2


Então, a área de cada lote é uma função da medida do lado, ou seja:

y = f (x) = x2

2. ÁREA DO TERRENO = 20 · (área de cada lote) ⇒ z = 20y


Então, a área do terreno é uma função da área de cada lote, ou seja:

z = g(y) = 20y

Comparando (1) e (2), temos:


Área do terreno = 20 · (medida do lado)2 , ou seja:

z = 20x2 ,

já que y = x2 e z = 20y. Então, a área do terreno é uma função da medida do lado de cada lote, ou seja:

z = h(x) = g(f (x)) = 20x2 .

4
A função h obtida, é denominada função composta de g com f , e pode ser indicada por g ◦ f
ou g(f (x)).

Definição 1.2. Dadas as funções f : A → B e g : B → C, denominamos função composta de g e f a


função g ◦ f : A → C, que é definida por (g ◦ f )(x) = g(f (x)), x ∈ A.

Exemplo 1.5. Sejam f (x) = 5x − 2 e g(x) = 2x + 1. Determine g(f (x)) e f (g(x)).

Solução.

g(f (x)) = 2(5x − 2) + 1 f (g(x)) = 5(2x + 1) − 2

= 10x − 4 + 1 = 10x + 5 − 2

= 10x − 3 = 10x + 3

Exemplo 1.6. Dado a função f (x) = x2 + 1, determine f (f (2)).

Solução.
f (f (x)) = f (x2 + 1) = (x2 + 1)2 + 1 = x4 + 2x2 + 1 + 1 = x4 + 2x2 + 2

Então,
f (f (2)) = 24 + 2(2)2 + 2 = 16 + 8 + 2 = 26.

A questão pode ser também resolvida da seguinte maneira:

f (2) = 22 + 1 = 4 + 1 = 5

f (f (2)) = f (5) = 52 + 1 = 25 + 1 = 26.

Exemplo 1.7. Dado a função f (x) = x2 + 1, determine f (f (2)).

Solução.
f (f (x)) = f (x2 + 1) = (x2 + 1)2 + 1 = x4 + 2x2 + 1 + 1 = x4 + 2x2 + 2

Então,
f (f (2)) = 24 + 2(2)2 + 2 = 16 + 8 + 2 = 26.

A questão pode ser também resolvida da seguinte maneira:

f (2) = 22 + 1 = 4 + 1 = 5

f (f (2)) = f (5) = 52 + 1 = 25 + 1 = 26.

5
Exemplo 1.8. Os ambintalistas estimam que em uma certa cidade a concentração média de monóxido
de carbono no ar durante o dia será c(p) = 0, 5p + 1 partes por milhão quando sua população for p
mil habitantes. Um estudo demográfico indica que a população da cidade dentro de t anos será p(t) =
10 + 0, 1t2 mil habitantes.
a) Determine a concentração de monóxido de carbono no ar durante o dia em função do tempo.
b) Daqui a quanto tempo a concentração de monóxido de carbono atingirá o valor de 6, 8 partes por
milhão?

Solução. a) Como a concentração de monóxido de carbono está relacionada à variável p através da


equação
c(p) = 0, 5p + 1

e a variável p está relacionada à variável t através da equação

p(t) = 10 + 0, 1t2

então
c(p(t)) = c(10 + 0, 1t2 ) = 0, 5(10 + 0, 1t2 ) + 1 = 5 + 0, 05t2 + 1 = 6 + 0, 05t2

expressa a concentração de monóxido de carbono no ar em função da variável t.


b) Fazendo c(p(t)) = 6, 8, obtemos

6 + 0, 05t2 = 6, 8

0, 05t2 = 6, 8 − 6, 0

0, 05t2 = 0, 8
0, 8
t2 = = 16
0, 05

t = 16 = 4

Assim, a concentração de monóxido de carbono atingirá o valor de 6, 8 partes por milhão daqui a 4
anos.

6
Referências Bibliográficas

[1] DANTE, L. R. Matemática: Contexto Aplicações. Volume 1. São Paulo, SP: Editora Atica, 2007.
472p.

[2] HOFFMANN, L. D.; BRADLEY, G. L. Cálculo: Um Curso Moderno e Suas Aplicações. 7o edição.
Rio de Janeiro, RJ: LTC, 2002. 525p.

Você também pode gostar