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Utilizaremos agora o ferramental aprendido no curso de Cálculo 1 para definir limites e derivadas para
funções vetoriais de uma variável real.
1.6.1 - Limites
A noção de limite para uma função F (t) = (x(t), y(t), z(t)) é semelhante à de funções de uma variável real
simples. Por isso, vamos primeiro nos lembrar da noção aprendida de limites para uma função f : R → R.
Um limite lim f (x) = L significa que, conforme a variável x se aproxima de a, não importa se pela esquerda
x→a
ou pela direita, a função f (x) se aproxima cada vez mais de L. Isto é ilustrado no exemplo a seguir.
4 4
3 3
2 2
1 1
x x
−2 −1 0 1 2 −2 −1 0 1 2
2+x , x<4
Exemplo 2: dada a função f (x) = , calcule lim f (x), se este existir.
2−x , x>4 x→4
Para funções vetoriais, a regra do limite é bastante simples: como uma função vetorial
pode ser vista como uma n-upla ordenada de funções escalares, o limite de uma função vetorial quando t tende
a um valor t = t0 será o limite das funções que a compõe, isto é,
lim F (t) = lim x1 (t), lim x2 (t), · · · , lim xn (t) .
t→t0 t→t0 t→t0 t→t0
Exemplo 3: calcule lim (t2 − 5, 2t). Exemplo 4: calcule lim (t − 4t2 , t, 1/t).
t→1 t→∞
2 2
Solução: lim (t − 5, 2t) = (−4, 2). Solução: lim (t − 4t , t, 1/t) = (−∞, ∞, 0).
t→1 t→∞
sen t t2 − t
Exemplo 5: calcule lim , t, .
t→0 t t−1
Solução: esta é uma situação em que podemos aplicar o teorema de L’Hôpital no limite do primeiro elemento da
terna ordenada (mas não aos outros dois):
sen t t2 − t cos t t2 − t
0
lim , t, = lim , t, = cos 0, 0, = (1, 0, 0) .
t→0 t t−1 t→0 1 t−1 −1
1.6.2 - Derivadas
Lembremo-nos da definição de derivada para funções de uma variável real a uma variável real, f : R → R,
como sendo o limite da taxa de variação de uma função quando a variação da variável independente tende a
zero:
df ∆f f (x + ∆x) − f (x)
f ′ (x) = = lim = lim .
dx ∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x
Graficamente, ela coorresponde ao coeficiente angular da reta que passa pelos pontos (x, f (x)) e
(x + ∆x, f (x + ∆x)) quando ∆x tende a zero, como é mostrado nas figuras a seguir.
y y y
f (x + ∆x) b
f (x + ∆x) b
f (x + ∆x) b
f (x) b
f (x) b
f (x) b
x x x
x x + ∆x x x + ∆x x x + ∆x
Cálculo 2 - Capı́tulo 1.6 - Cálculo com funções vetoriais - versão 02/2009 3
Vimos durante o curso de Cálculo 1 que existem diversas fórmulas e técnicas que tornam possı́vel derivar
funções sem a necessidade de utilizar a definição de derivada. Veremos agora como adaptar essa definição a
funções vetoriais. Começamos escrevendo a variação de uma função vetorial com relação ao seu parâmetro t
quando este varia em ∆t = h:
∆F = F (t + h) − F (t) = (x(t + h), y(t + h)) − (x(t), y(t)) = (x(t + h) − x(t), y(t + h) − y(t)) .
A taxa de variação fica
∆F (x(t + h) − x(t), y(t + h) − y(t))
= .
∆t h
Pela definição de derivada como o limite de h → 0, ficamos, então, com
′ dF ∆F (x(t + h) − x(t), y(t + h) − y(t)) x(t + h) − x(t) y(t + h) − y(t)
F (t) = = lim = lim = lim , .
dt h→0 ∆t h→0 h h→0 h h
De acordo com a definição de limites de funções vetoriais vista na seção anterior e com a definição de derivada
de uma função escalar, ficamos com
′ x(t + h) − x(t) y(t + h) − y(t)
F (t) = lim , lim = x′ (t), y ′ (t) .
h→0 h h→0 h
Portanto, a derivada de uma função vetorial F (x(t), y(t)) é simplesmente o par ordenado formado pelas
derivadas de suas funções componentes. A generalização para uma função de R em Rn ,
F (t) = (x1 (t), x2 (t), · · · , xn (t)) ,
é bastante imediata:
F ′ (t) = x′1 (t), x′2 (t), · · · , x′n (t) .
√
2
Exemplo 5: calcule a derivada de F (t) = t sen (2t), t − 1, ln sen (2t − 1) .
Solução: começamos escrevendo F (t) = t sen (2t), (t2 − 1)1/2 , ln sen (2t − 1) . A derivada dessa função fica
1 1
F ′ (t) = 1 · sen (2t) + t cos (2t) · 2, (t2 − 1)−1/2 · 2t, · cos (2t − 1) · 2 =
2 sen (2t − 1)
2 cos (2t − 1)
= sen (2t) + 2t cos (2t), t(t2 − 1)−1/2 , .
sen (2t − 1)
Cálculo 2 - Capı́tulo 1.6 - Cálculo com funções vetoriais - versão 02/2009 4
u ′ u′ v − uv ′
Um último exemplo utiliza a regra da derivada do quociente de duas funções, = .
v v2
t2
Exemplo 5: calcule a derivada de F (t) = , tg t .
1−t
t2
sen t
Solução: começamos escrevendo F (t) = , . A derivada dessa função fica
1 − t cos t
z z
F (t0 + h) F (t0 + h)
b b ∆F
b F (t0 ) b
F (t0 )
x y x y
A diferença entre os dois vetores é dada por ∆F = F (t0 + h) − F (t0 ), de modo que F (t0 ) + ∆F = F (t0 + h).
Como F (t0 + h) é a soma dos vetores F (t0 ) e ∆F , podemos representar o vetor ∆F como sendo o vetor que
vai de F (t0 ) a F (t0 + h), como ilustrado na segunda figura acima.
∆F
Como a derivada é o limite de uma taxa de variação , ela terá a mesma direção de ∆F quando h tende
h
a zero. O próximo exemplo calcula várias aproximações da derivada de uma função vetorial e ilustra o que
acontece graficamente.
Exemplo 1: calcule aproximações sucessivas da derivada da função F (t) = (2 cos (3t), 2 sen (3t), t + 1).
Solução: a tabela a seguir mostra os valores da função para t = 1, t = 1, 01, t = 1, 1 e t = 1, 5 usando quatro casas
decimais de precisão.
t x(t) y(t) z(t)
1 −1, 9800 0, 2822 2
1, 01 −1.9876 0, 2227 2, 01
1, 1 −1, 9750 −0, 3155 2, 1
1, 5 −0, 4216 −1, 9551 2, 5
Esses valores são utilizados para calcular as taxas de variação a seguir. As respectivas taxas de variação,
expressas como vetores partindo de F (1), são representadas graficamente ao lado de cada cálculo.
Cálculo 2 - Capı́tulo 1.6 - Cálculo com funções vetoriais - versão 02/2009 5
• Entre t = 1 e t = 1, 5:
z
F (1, 5)
∆F F (1, 5) − F (1) b
= ≈ ∆F
∆h 1, 5 − 1 b F (1)
(−0, 4216, −1, 9551, 2, 5) − (−1, 9800, 0, 2822, 2)
≈ =
0, 5
(1, 5584, −2, 2373, 0, 5)
= ≈ (3, 1168, −4, 4746, 1) .
0, 5 x y
• Entre t = 1 e t = 1, 1: ∆F
z
∆F F (1, 1) − F (1) F (1, 1)
= ≈ b
∆h 1, 1 − 1 b F (1)
• Entre t = 1 e t = 1, 01: ∆F
z
∆F F (1, 01) − F (1) F (1, 01)
= ≈
∆h 1, 01 − 1 b b F (1)
Dos números e das figuras, deve-se observar que, primeiro, ao contrário do vetor diferença, ∆F , o módulo do
vetor derivada não diminui necessariamente conforme h diminui. Em segundo lugar, pode-se observar das figuras
que o vetor derivada F ′ (t0 ) é tangente ao vetor F (t0 ).
a) Derivada da soma
Considerando que, dadas F (t) = (x1 (t), x2 (t), · · · , xn (t)) e G(t) = (y1 (t), y2 (t), · · · , yn (t)), a sua soma fica
[F (t) + G(t)]′ = x′1 (t) + y1′ (t), x′2 (t) + y2′ (t), · · · , x′n (t) + yn′ (t) =
= x′1 (t), x′2 (t), · · · , x′n (t) + y1′ (t), y2′ (t), · · · , yn′ (t) = F ′ (t) + G′ (t) .
Portanto, temos a seguinte regra para a derivada da soma de duas funções vetoriais:
Exemplo 1: calcule [F (t) + G(t)]′ , onde F (t) = (5, −t, t3 ) e G(t) = (t, 2 − t, t2 ).
Solução: [F (t) + G(t)]′ = F ′ (t) + G′ (t) = (0, −1, 3t2 ) + (1, −1, 2t) = (1, −2, 3t2 + 2t).
[αF (t)]′ = αx′1 (t), αx′2 (t), · · · , αx′n (t) = α x′1 (t), x′2 (t), · · · , x′n (t) = αF ′ (t) .
Portanto, temos a seguinte regra para a derivada do produto de uma função vetorial por um escalar:
hF (t), G(t)i′ = x′1 (t)y1 (t) + x1 (t)y1′ (t) + x′2 (t)y2 (t) + x2 (t)y2′ (t) + · · · + x′n (t)yn (t) + xn (t)yn′ (t) =
= x′1 (t)y1 (t) + x′2 (t)y2 (t) + · · · + x′n (t)yn (t) + x1 (t)y1′ (t) + x2 (t)y2′ (t) + · · · + xn (t)yn′ (t) =
= F ′ (t), G(t) + F (t), G′ (t) .
Portanto, temos a seguinte regra para a derivada do produto interno entre duas funções vetoriais:
Exemplo 1: calcule hF (t), G(t)i′ , onde F (t) = (1, t, −t) e G(t) = (t, 1 + t, 1 − t).
′
Solução: hF (t) + G(t)i = hF ′ (t), G(t)i + hF (t), G′ (t)i = h(0, 1, −1), (t, 1 + t, 1 − t)i + h(1, t, −t), (1, 1, −1)i =
= 1 + t − 1 + t + 1 + t + t = 1 + 4t.
Observação: geralmente, é mais fácil fazer primeiro o produto interno entre duas funções vetoriais e depois
derivas o resultado em vez de utilizar a fórmula aqui deduzida.
Cálculo 2 - Capı́tulo 1.6 - Cálculo com funções vetoriais - versão 02/2009 7
Resumo
• Limite de uma função vetorial. lim F (t) = lim x1 (t), lim x2 (t), · · · , lim xn (t) .
t→t0 t→t0 t→t0 t→t0
• Derivada de uma função vetorial. F ′ (t) = (x1 (t), x2 (t), · · · , x′n (t)).
′ ′
Nı́vel 1
t2 − 1 (t + 1)(t − 1)
Solução: lim = lim = lim (t + 1) = 2,
t→1 t − 1 t→1 t−1 t→1
Exemplo 3: dadas F (t) = (1 + t, 2 − t) e G(t) = (t2 , 1 − 2t), calcule [F (t) − G(t)]′ e [hF (t), G(t)i]′ .
′ ′
Solução: [F (t) −
G(t)] = F ′ (t) − G′ (t) = (1, −1) − (2t, −2) = (1 − 2t, 1) e [hF (t), G(t)i] = hF ′ (t), G(t)i +
+ hF (t), G′ (t)i = (1, −1), (t2 , 1 − 2t) + h(1 + t, 1 − t), (2t, −2)i = t2 − 1 + 2t + 2t + 2t2 − 2 + 2t = 3t2 + 6t − 3.
E3) Dadas as funções F (t) = (t, t − 1, 2), G(t) = (1 + t, t2 , −t) e H(t) = (0, −1, t), calcule:
a) [F (t) + G(t)]′ . b) [3G(t)]′ . c) [2F (t) + G(t) − H(t)]′ . d) [hF (t), H(t)i]′ .
Cálculo 2 - Capı́tulo 1.6 - Cálculo com funções vetoriais - versão 02/2009 9
Nı́vel 2
tg t
t , t 6= 0
E1) Verifique se F (t) é contı́nua em t = 0.
1, t=0
E2) Dada a função F (t) = ( cos t, sen t), mostre que F ′ (t) é ortogonal a F (t) para todo t ∈ R.
E3) Calcule um vetor tangente a F (t) = (t, 1 + t2 , 2 − t2 ) em t = 1 que tenha módulo 1.
E4) Definindo F ′′ (t) como a derivada segunda de F (t), ou seja, F ′′ (t) = [F ′ (t)]′ , calcule a derivada segunda de
F (t) = ( cos (wt + ϕ), sen (wt + ϕ)), onde w e ϕ são constantes, e mostre que F ′′ (t) = −w2 F (t).
E5) Mostre que as curvas dadas pelas imagens de F (t) = et , 2 − et , 2 e3t e G(t) = ( sen t, 1 + cos t, 3 − sen t)
Nı́vel 3
E1) Dada uma função F (t) derivável até pelo menos a primeira ordem:
F (t)
a) prove que G(t) = tem norma 1.
||F (t)||
b) prove que G′ (t) é ortogonal a G(t) para todo t ∈ D(G).
1
c) prove que F ′ (t) = G(t) + ||F (t)||G′ (t).
2||F (t)||
E2) Calcule o ângulo entre os vetores tangentes a F (t) = 1 − t2 , 2 + t, t3 e G(t) = ( cos t, 2 − sen t, 2 sen t) no
Respostas
Nı́vel 1
1 1
E1) a) − , 1 . b) , 0, −∞ . c) (0, −∞, 1). d) Não existe o limite.
4 2
2 1
E2) a) F ′ (t) = (2t, 1, −2). b) F ′ (t) = 2 cos t, et , . c) F ′ (t) = −3 sen t, 3t ln 3, ,0 .
t t ln 2
1 −t −2 3
d) F ′ (t) = , −2t sen t2 . e) F ′ (t) = √ , 2
, −6t2 e−t .
t 4 − t (2t − 4)
2
2
12t2
′ −3t 3
f) F (t) = cos ln(1 − t ) , 3 − .
1 − t3 (1 − t3 )3/2
g) F ′ (t) = cos t − t sen t, 2t ln t + t, 1 − 3t2 sen t − t3 cos t .
t3 2t2
p
′ 2 t t t
h) F (t) = 2t t − 4 + √
2 , ln(1 − t ) − , e sen t + t e sen t + t e cos t .
t2 − 4 1 − t2
2
t − 2t − 2 (1/t)(2 + sen t) − ln t cos t
i) F ′ (t) = , .
(2 + t)2 (2 + sen t)2
E3) a) (2, 2t + 1, −1). b) (3, 6t, −3). c) (3, 2t + 2, −2). d) 1.
Cálculo 2 - Capı́tulo 1.6 - Cálculo com funções vetoriais - versão 02/2009 10
Nı́vel 2
Nı́vel 3
F (t) 1 1
E1) a) ||G(t)|| = = ||F (t)|| = ||F (t)|| = 1.
||F (t)|| ||F (t)|| ||F (t)||
b) Como a norma de G(t) é 1, então sua derivada é nula, o que significa que
d||G(t)|| dp 1 −1/2 ′
=0⇔ hG(t), G(t)i = 0 ⇔ (hG(t), G(t)i) [hG(t), G(t)i] = 0 ⇔
dt dt 2
1
⇔ p [hG′ (t), G(t)i + hG(t), G′ (t)i] = 0 ⇔ 2 hG(t), G′ (t)i = 0 ⇔ hG(t), G′ (t)i = 0 .
2 hG(t), G(t)i
F (t)
c) Dado que G(t) = , então F (t) = ||F (t)||G(t). Derivando essa expressão, temos
||F (t)||
hp i′
′
F ′ (t) = [||F (t)||] G(t) + ||F (t)||G′ (t) = hF (t), F (t)i G(t) + ||F (t)||G′ (t) =
1 1
= [hF (t), F (t)i]−1/2 G(t) + ||F (t)||G′ (t) = G(t) + ||F (t)||G′ (t) .
2 2||F (t)||
−1
E2) As curvas se cruzam em (1, 2, 0) e o ângulo pedido é θ = arccos √ ≈ 116o.
5
E3) A derivada de F (t) é F ′ (t) = (r cos (rt), −r sen (rt), 2r sen (rt) cos (rt)) e a sua projeção sobre a curva G(t) fica
PG F = (r cos (t), −r sen (rt), 0), de modo que ||PG F || = r, que é constante.