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CÁLCULO I

Prof. Marcos Diniz | Prof. André Almeida| Prof. Edilson Neri Júnior | Prof. Emerson Veiga | Prof. Tiago Coelho

Aula no 05: Limite e Continuidade

Objetivos da Aula

• Denir limite de funções;

• Calcular o limite de uma função;

• Utilizar as propriedades operatórias do limite para calcular o limite de uma função;

• Denir função contínua;

• Reconhecer uma função contínua através do seu gráco.

1 Velocidade Instantânea
Considere o seguinte problema:

Exemplo 1. Uma bola é solta a partir do ponto de observação no alto da Torre CN, em Toronto, 450 m
acima do solo. Desprezando a resistência do ar, encontre a velocidade da bola após 5 segundos.

Solução: De acordo com a Lei de Galileu, temos que a posição da bola s(t), medida em metros, e em
função do tempo t, medido em segundos, é dada pela equação:

s(t) = 4, 9t2 .
A diculdade em encontrar a velocidade, após 5 segundos, está em se tratar de um único instante, t = 5,
e não de um intervalo de tempo. Com isso, tentaremos aproximar a quantidade desejada pelas velocidade
médias calculadas em intervalos de tempo cada vez menores e próximos de t = 5. Sendo assim, basta
utilizarmos a expressão
s(t) − s(5)
,
t−5
e assim obtemos a seguinte tabela:

Intervalo de Tempo(t) Velocidade Média(m/s)


5≤t≤6 53, 9
5 ≤ t ≤ 5, 1 49, 49
5 ≤ t ≤ 5, 05 49, 245
5 ≤ t ≤ 5, 01 49, 049
5 ≤ t ≤ 5, 001 49, 0049
A partir desses dados, conseguimos notar que sempre que os intervalos de tempo em torno de t=5
cam cada vez menores, as velocidades médias se aproximam da velocidade 49m/s. Então, esperamos que
exatamente em t=5 segundos, a velocidade seja cerca de 49m/s.
Denimos a velocidade instantânea no instante t0 , como sendo o número real para o qual os valores
das velocidades médias se aproximam, sendo essas calculadas em intervalos de tempo cada vez menores,
começando em t0 . No caso do nosso exemplo, a velocidade instantânea da bola, no instante t = 5, é de
49m/s.
Dizer que tomamos intervalos de tempo cada vez menores e próximos de um instante t0 , pode ser
escrito como t → t0 (Lê-se: t tende a t0 ). Na próxima seção, utilizaremos as noções discutidas aqui para
determinarmos o limite de uma função.

1
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2 Limite de Uma Função


Conforme visto na seção anterior, podemos conjecturar sobre o valor da velocidade instantânea de um
objeto, vericando para qual valor as velocidades médias tendem em intervalos de tempo cada vez menores.
Podemos também aplicar esse raciocínio para encontrar um número real L para o qual uma função f (x) se
aproxima, quando x tende a um número p.
Vamos considerar o seguinte exemplo:

x2 − 1
Exemplo 2. Se x tende a 1, os valores de f (x) = se aproximam de algum número real?
x−1
Solução: Inicialmente podemos notar que a função f não está denida em x = 1. Mas, assim como no
problema da velocidade instantânea, podemos tentar calcular os valores que a função assume em pontos
próximos de 1 e obter alguma informação sobre o comportamento da função. Desse modo, obtemos as
seguintes tabelas:

x f (x) x f (x)
0, 9 1, 9 1, 1 2, 1
0, 99 1, 99 1, 01 2, 01
0, 999 1, 999 1, 001 2, 001
0, 9999 1, 9999 1, 0001 2, 0001

Observando os valores encontrados nas tabelas, podemos conjecturar que, quando x se aproxima de 1,
os valores de f (x) se aproximam de 2, e assim, escrevemos:

x2 − 1
lim = 2.
x→1 x − 1

Exemplo 3. Qual o valor de lim (x2 − 5x + 6)?


x→1

Solução: Utilizando as seguintes tabelas

x f (x) x f (x)
0, 9 2, 31 1, 1 1, 71
0, 99 2, 0301 1, 01 1, 9701
0, 999 2, 003001 1, 001 1, 997001
0, 9999 2, 00030001 1, 0001 1, 99970001

podemos observar que, quando x se aproxima de 1, f (x) assume valores muito próximos de 2. Desse modo,
podemos intuir que
lim (x2 − 5x + 6) = 2.
x→1

x−1
Exemplo 4. Estime o valor de lim .
x→1 x2 − 1
x−1
Solução: Observe que a função f (x) = não está denida em x = 1. Então, como zemos antes,
x2 − 1
vamos considerar pontos próximos de 1. E assim, obtemos as seguintes tabelas:

x f (x) x f (x)
0, 9 0, 526316 1, 1 0, 476190
0, 99 0, 502513 1, 01 0, 497512
0, 999 0, 500250 1, 001 0, 499750
0, 9999 0, 500025 1, 0001 0, 499975

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e, através delas, podemos intuir que


x−1 1
lim 2
= ,
x→1 x − 1 2
e este fato pode ser vericado no gráco da função f .

x−1
Figura 1: Gráco da função f (x) =
x2 − 1
sen x
Exemplo 5. Faça uma estimativa para lim .
x→0 x
sen x
Solução: Primeiro, note que f (x) = é par, pois
x
sen(−x) − sen x sen x
f (−x) = = = = f (x).
−x −x x
Logo, utilizando o fato de f (x) ser par e uma calculadora, construímos a seguinte tabela:

x f (x)
±1, 0 0, 84147098
±0, 5 0, 95885108
±0, 4 0, 97354586
±0, 3 0, 98506736
±0, 2 0, 99334665
±0, 1 0, 99833417
±0, 05 0, 99958339
±0, 01 0, 99998333
±0, 005 0, 99999583
±0, 001 0, 99999983
Deste modo, podemos inferir que
sen x
lim = 1,
x→0 x
e essa armação pode ser vista no gráco de f abaixo:

senx
Figura 2: Gráco da função f (x) =
x

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Dessa forma, podemos propor uma denição intuitiva de limite, como segue:

Denição 1 (Denição Intuitiva (Imprecisa) de Limite ) . Suponha que f (x) esteja denida quando x
está próximo de p (Isso signica que f está denida em algum intervalo aberto que contenha p, exceto
possivelmente no próprio p). Então escreveremos:

lim f (x) = L,
x→a

e diremos

o limite de f (x) quando x tende a p é L,


se pudermos tornar os valores de f (x) arbitrariamente próximos de L (tão próximos de L quanto quisermos),
tornando x sucientemente próximo de p (por ambos os lados de p), mas não igual a p.
Observação 1. Podemos também utilizar a notação

f (x) → L se x → p,

para representar que L = lim f (x).


x→p

Veremos no exemplo a seguir que esta denição proposta NÃO é adequada para o que queremos, sendo
necessária uma denição que exija um pouco mais do comportamento da função.
π 
Exemplo 6. Analise lim sen .
x→0 x
π 
Solução: Note que f (x) = sen não está denida em x = 0. Então, procedendo como anteriormente,
x
utilizamos a seguinte tabela:
x f (x)
1 0
0, 1 0
0, 01 0
0, 001 0
0, 0001 0
0, 0000001 0
π 
Dessa forma, pela denição que propusemos, teríamos que lim sen = 0. Mas, observando as
x→0 x
tabelas a seguir,

x f (x) x f (x)
2/101 = 0, 19801... 1 2/103 = 0, 19417... −1
2/1001 = 0, 001998... 1 2/1003 = 0, 001994... −1
2/10001 = 0, 00019998... 1 2/10003 = 0, 00019994... −1
2/100001 = 0, 0000199998... 1 2/100003 = 0, 0000199994... −1

concluímos, pela denição 1, que também teríamos


π  π 
lim sen =1 e lim sen = −1,
x→0 x x→0 x
pois encontramos até innitos ponto próximos de 0 cujas imagens são iguais a 1 e −1.
Pensando nisso, devemos encontrar uma denição mais precisa de limite de uma função. Sendo assim,
considere o seguinte exemplo:

Exemplo 7. Seja

2x − 1 se x 6= 3
f (x) = .
6 se x=3
Determine lim f (x).
x→3

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Solução: Para determinarmos o limite pedido, notamos, intuitivamente, que se tomarmos x próximo de 3,
mas x 6= 3, temos que lim f (x) = 5. Porém, buscamos um modo de vericar essa armação, e assim tornar
x→3
mais precisas as frases x sucientemente próximo de p e  f (x) arbitrariamente próximo de L contidas na
denição 1.
Sendo assim, devemos nos fazer a seguinte pergunta:

Quão próximo de p deve estar x, para que f (x) dira de L por menos de uma quantidade pré-xada?

Trazendo para o nosso exemplo,

Quão próximo de 3 deve estar x, para que f (x) dira de 5 por menos de uma quantidade pré-xada?

Essa quantidade pré-xada será representada pela letra grega ε (épsilon).

Quando falamos de proximidade de dois números, falamos de distância entre eles, que é justamente o
módulo da diferença entre os mesmos, ou seja, nossa indagação pode ser reescrita como o seguinte problema:

Fixado um ε > 0 arbitrário, é possível encontrar um número δ > 0 tal que, todo x ∈ Df que
satisfaça a desigualdade 0 < |x − p| < δ garanta que |f (x) − L| < ε?
Reescrevendo para o nosso exemplo,

Fixado um ε > 0 arbitrário, é possível encontrar um número δ > 0 tal que, todo x ∈ Df que
satisfaça a desigualdade 0 < |x − 3| < δ garanta que |f (x) − 5| < ε?
A partir desse momento, vamos analisar o exemplo dado. Suponha que ε = 0, 1. Ou seja nosso
questionamento agora é: exibir δ>0 tal que

0 < |x − 3| < δ ⇒ |f (x) − 5| < 0, 1.

Armamos que δ = 0, 05 serve ao nosso propósito. De fato:

0 < |x − 3| < 0, 05 ⇒ −0, 05 < x − 3 < 0, 05


⇒ −0, 1 < 2(x − 3) < 0, 1
⇒ −0, 1 < (2x − 1) − 5 < 0, 1
⇒ |(2x − 1) − 5| < 0, 1.

Mas e se tomássemos ε = 0, 01? Armamos que δ = 0, 005 serviria ao nosso propósito (Verique!). E
se ε = 0, 001? (Conjecture você e verique).
Observe, no entanto, que para respondermos positivamente à questão principal, precisaríamos garantir
que, dado um ε > 0 arbitrário, é possível exibir um δ>0 (que certamente dependerá de ε) que garanta
que
0 < |x − 3| < δ ⇒ |f (x) − 5| < ε.
ε
Armamos então que, dado um tal ε > 0 arbitrário, basta que tomemos δ= ! De fato, observe que:
2

ε ε ε
0 < |x − 3| < ⇒ − <x−3<
2 2 2
⇒ ε < 2x − 6 < ε
⇒ |(2x − 1) − 5| < ε,

como gostaríamos.

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ε
A questão que se coloca agora, é: como sabíamos (ou suspeitávamos) que δ = serviria ao nosso
2
propósito? Estimar um tal δ, geralmente é uma tarefa difícil, mas no caso deste nosso exemplo, uma
simples manipulação algébrica nos dá a indicação. Observe:

|(2x − 1) − 5| < ε ⇔ |2x − 6| < ε


⇔ |2|.|x − 3| < ε
ε
⇔ |x − 3| < .
2
ε
Então, encontramos que δ= servirá!
2
Desse modo, podemos denir limite de maneira mais precisa, através da seguinte denição:

Denição 2 (Limite de Uma Função) . Seja f uma função denida em um intervalo aberto que contenha
o número p, exceto possivelmente no próprio p. Então, dizemos que o limite de f quando x tende a a
é L, e escrevemos
lim f (x) = L,
x→p
se sempre que tomarmos valores para x sucientemente próximos de p, mas não iguais a p, pudermos tornar
os valores de f (x) tão próximos de Lquanto quisermos, isto é, dado um número ε > 0, existe um número
δ>0 (que certamente dependerá de ε) tal que

se x ∈ Df , 0 < |x − p| < δ então |f (x) − L| < ε.


Um fato importante a ser destacado na Denição 2 é a frase:  x for sucientemente próximo de p, mas
não igual a p, pois f nem sequer precisa estar denida em p para que se tenha o limite L (e o exemplo
2 ilustra esse fato), pois o que importa é o comportamento de f próximo ao ponto p. Nos grácos abaixo
podemos destacar três situações em que o limite L de f, quando x tende a p, existirá:

Figura 3: A função f está denida em p e f (p) = L

Figura 4: A função f está denida em p, mas f (p) 6= L

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Figura 5: A função f não está denida em p, mas possui limite

Podemos também reformular a denição 2 em notação de intervalos, pois

0 < |x − p| < δ
−δ < x − p < δ, x 6= p
p − δ < x < p + δ, x 6= p,
mostrando que x pertence ao intervalo aberto (p − δ, p + δ), mas x 6= p. E ainda

|f (x) − L| < ε
−ε < f (x) − L < ε
L − ε < x < L + ε,

mostrando que f (x) pertence ao intervalo aberto (L−ε, L+ε). Desse modo, podemos reescrever a denição
2 como:

Denição 3. A expressão lim f (x) = L signica que, para qualquer ε > 0, podemos encontrar δ>0 tal
x→p
que, se x ∈ Df e x ∈ (p − δ, p + δ), x 6= p, então f (x) ∈ (L − ε, L + ε).

Figura 6: Limite de uma função.

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Exemplo 8. Vamos mostrar que lim c = c (O limite da função constante é a própria constante).
x→p

Solução: Vamos utilizar o procedimento. Note que

|f (x) − c| = |c − c| = 0 < ε,

para qualquer ε > 0. Logo, podemos escolher δ como sendo qualquer número real positivo.


Exemplo 9. Vamos mostrar que lim x = p.


x→p

Solução: Iniciaremos conjecturando a cerca do δ:

(i) Conjectura sobre o valor de δ . Suponha que existe δ tal que, se 0 < |x−p| < δ , então |f (x)−p| < ε.
Sendo assim,
|f (x) − p| = |x − p| < ε.
Assim, escolheremos δ = ε.

(ii) Vericação do Valor de δ . Se δ = ε, então 0 < |x − p| < ε. Logo,

0 < |x − p| < ε ⇒ |f (x) − p| < ε.


Contudo, provar a existência de limites pela denição não é um trabalho muito fácil na maioria das vezes,
e necessita de resultados mais elaborados, além de que foge ao objetivo de um curso inicial de cálculo 1.
Pensando nisso, exibiremos nas próximas seções alguns resultados que podem facilitar o cálculo de limites.

2.1 Propriedades de Limites

Teorema 1. Supondo c uma constante e que os limites

lim f (x) e lim g(x)


x→a x→a

existam, então:

1. lim [f (x) ± g(x)] = lim f (x) ± lim g(x). (O limite da soma é a soma dos limites)
x→p x→p x→p

2. lim [cf (x)] = c lim f (x). (O limite do produto de uma função por uma constante é o produto da
x→p x→p
constante pelo limite da função);

3. lim [f (x).g(x)] = lim f (x) · lim g(x). (O limite do produto é o produto dos limites);
x→p x→p x→p

lim f (x)
f (x) x→p
4. Se g(x) 6= 0 e lim g(x) 6= 0, então lim = . (O limite do quociente é o quociente dos
x→p x→p g(x) lim g(x)
x→p
limites).

Vamos analisar alguns exemplos:

Exemplo 10. Utilizando as propriedades dos limites, verique que lim x2 = p2 , para qualquer p ∈ R.
x→p

Solução: Sabemos, pelo exemplo 9, que lim x = p. Logo, tomando f (x) = x e g(x) = x, segue da
x→p
propriedade (4) que
lim x2 = lim (x · x) = lim x · lim x = p.p = p2 .
x→p x→p x→p x→p

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Exemplo 11. Verique que lim (−3x2 + 2x + 10) = 2.


x→2

Solução: Sabemos que

lim x2 = 22 = 4,
x→2
lim x = 2,
x→2
lim 10 = 10.
x→2

Segue que

lim (−3x2 + 2x + 10) = lim (−3x2 ) + lim 2x + lim 10 (Propriedade 1)


x→2 x→2 x→2 x→2
   
2
= −3 lim x + 2 lim x + lim 10 (Propriedade 3)
x→2 x→2 x→2
= −3.4 + 2.2 + 10
= 2.


x2 − 1
Exemplo 12. Calcule lim .
x→−5 x2 + 1

Solução: Note que g(x) = x2 + 1 6= 0 para todo x ∈ Dg . Observe também que:

lim x2 − 1 = lim x2 − lim 1 = (−5)2 − 1 = 25 − 1 = 24,


x→−5 x→−5 x→−5

e que,
lim x2 + 1 = lim x2 + lim 1 = (−5)2 + 2 = 25 + 1 = 26 6= 0.
x→−5 x→−5 x→−5

Então,
lim x2 − 1
x2 − 1 x→−5 24 12
lim 2 = 2 = = .
x→−5 x + 1 lim x + 1 26 13
x→−5


Até agora, os os valores de lim f (x) coincidiram com f (p), e os métodos para calcular limite apresen-
x→p
tados até aqui utilizam muito esse fato. Contudo, existem exemplos em que o limite existe, mesmo que a
função não esteja denida no ponto p (Veja o exemplo 2).

x2 − 1
Exemplo 13. Retornemos ao exemplo 2. Sabemos que f (x) = não está denida em x = 1 e,
x−1
intuitivamente, sugerimos que lim f (x) = 2, porém é necessário vericarmos essa armação. Para isso,
x→1
notamos um padrão na tabela apresentada no mesmo exemplo

x f (x) x f (x)
0, 9 1, 9 = 1 + 0, 9 1, 1 2, 1 = 1 + 1, 1
0, 99 1, 99 = 1 + 0, 99 1, 01 2, 01 = 1 + 1, 01
0, 999 1, 999 = 1 + 0, 999 1, 001 2, 001 = 1 + 1, 001
0, 9999 1, 9999 = 1 + 0, 9999 1, 0001 2, 0001 = 1 + 1, 0001

o que sugere alguma relação entre as funções f e g(x) = x + 1. Observando os dois grácos

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x2 − 1
(a) Gráco da função f (x) = (b) Gráco da função g(x) = x + 1
x−1

Figura 7: Comparações dos grácos das funções f (x) = x2 −1


x−1 e g(x) = x + 1.

podemos notar que, nos pontos próximos de 1, as duas funções assumem os mesmos valores, isto é,
f (x) = g(x) para x próximos de 1. A diferença está no fato de que g está denida em x = 1, e

lim (1 + x) = lim 1 + lim x = 1 + 1 = 2.


x→1 x→1 x→1

Então, o limite de g coincide com o limite que sugerimos ser o de f. Isto se dá pelo seguinte teorema

Teorema 2. Sejam f e g duas funções. Se existir δ>0 tal que f (x) = g(x) para a − δ < x < a + δ,
x 6= a e se lim g(x) existir, então lim f (x) também existirá, e
x→a x→a

lim f (x) = lim g(x).


x→a x→a

Isto é, quando a função f não estiver denida no ponto p, mas existir uma função g que seja igual a f
nos pontos vizinhos de p e que possua limite quando x tende a p, então o limite de f quando x tende a p
existe e coincide com o limite de g, quando x tende a p.
Exemplo 14. Calcule:
x2 − 4
lim .
x→2 x − 2

Solução: Note que não podemos utilizar o teorema 1, pois

lim x − 2 = 0.
x→2

Então, vamos tentar utilizar o Teorema 2. Desse modo, devemos encontrar uma função g(x) tal que
f (x) = g(x) em todo ponto próximo de 2, tal que lim g(x) exista. Pela denição da função f , notamos
x→2
que
x2 − 4 (x − 2)(x + 2)
= f (x) = .
x−2 x−2
Como consideramos pontos x próximos de 2, mas diferentes de 2, então temos que x − 2 6= 0. Dessa forma,
podemos fazer:
x2 − 4  −2)(x
(x  + 2)
= = x + 2, x 6= 2.
x−2 x−
 2
Logo, considerando g(x) = x + 2, temos que f (x) = g(x) para todos os pontos próximos de 2, exceto o 2.
Sabemos que lim (x + 2) = 4. Então, pelo Teorema 2, temos que
x→2

x2 − 4
lim = lim x + 2 = 4.
x→2 x − 2 x→2

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3 Funções Contínuas
Denição 4. Uma função f :R→R é contínua em p∈R se

lim f (x) = f (p).


x→p

Observação 2. Para que f seja contínua em p, devem ser satisfeitas as seguintes condições:

(1) f está denida em p;


(2) lim f (x) existe e;
x→p

(3) lim f (x) = f (p).


x→p

Exemplo 15. As funções f, g : R → R, dadas por f (x) = c e g(x) = x, são contínuas em todo a ∈ R.
Solução: Seja a um número real qualquer. Então
lim f (x) = lim c = c = f (a).
x→a x→a
E também
lim g(x) = lim x = a = g(a).
x→a x→a
Logo, as funções constante e identidade são contínuas.

Observação 3. Uma função é contínua se ela é contínua em todos os pontos de seu domínio.

Gracamente, podemos reconhecer o gráco de uma função contínua como sendo um gráco que
possamos traçá-lo em cada intervalo do seu domínio sem tirar o lápis do papel.

Se f não atende à Denição 4 em um ponto p de seu domínio, então é chamada descontínua em p.


Gracamente, podemos reconhecer que uma função é descontínua em p se o seu gráco apresenta furos
e saltos nesse ponto, tais como os grácos dos seguintes exemplos:

Figura 8: Gráco de uma função descontínua (1).

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Figura 9: Gráco de uma função descontínua (2).

Figura 10: Gráco de uma função descontínua (3.)

Teorema 3. As seguinte funções são contínuas:

(i) Polinomiais;

(ii) Racionais;

(iii) Exponenciais;

(iv) Trigonométricas;

(v) Potências;

(vi) Logarítmicas.

Exemplo 16. Calcule:

(a) lim (5x2 − 6x + 2);


x→2

3x2 + 2x
(b) lim ;
x→3 5x − 10

(c) lim e−x ;


x→−1

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(d) lim sen x;


x→0

(e) lim cos x;


x→4π

5
(f ) lim x;
x→10

(g) lim ln x.
x→25

Solução: Utilizando o teorema 3, sabemos que todas essas funções são contínuas, isto é, os valores dos
limites coincidirão com os valores das funções nos pontos. Portanto:

(a) lim 5x2 − 6x + 2 = 5.22 − 6.2 + 2 = 20 − 12 + 2 = 10;


x→2

3x2 + 2x
(b) Fazendo f (x) = , temos que 5.3 − 10 = 5 6= 0. Logo, 3 ∈ Df . Dessa forma,
5x − 10

3x2 + 2x 3.32 + 2.3 33


lim = = ;
x→3 5x − 10 5.3 − 10 5

(c) lim e−x = e−(−1) = e1 = e;


x→−1

(d) lim sen x = sen 0 = 0;


x→0

(e) lim cos x = cos(4π) = 1;


x→4π

5

5
(f ) lim x= 10;
x→10

(g) lim ln x = ln 25 = ln 52 = 2 ln 5.
x→25

3.1 Operações com Funções Contínuas

O resultado dessa seção é de grande importância para efetuarmos cálculos com funções contínuas.

Teorema 4. Sejam f, g : I → R funções contínuas em a ∈ I, e considere c uma constante. Então,

(i) f +g é contínua em a, e lim (f + g)(x) = f (a) + g(a);


x→a

(ii) f −g é contínua em a, e lim (f − g)(x) = f (a) − g(a);


x→a

(iii) cf é contínua em a, e lim (cf )(x) = cf (a);


x→a

(iv) fg é contínua em a, e lim (f g)(x) = f (a)g(a);


x→a
 
f f f (a)
(v) Se além disso g(a) 6= 0, então é contínua em a, e lim (x) = .
g x→a g g(a)
Os seguintes exemplos ilustram bem a utilização do teorema 4.

Exemplo 17. Calcule:

x2 − 6x + 2
(a) lim ;
x→−2 x3 − 4x + 5

x2 + ln x − 6 sen x
(b) lim ;
x→5 x2 − 16x

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2x − cosx + 1
(c) lim ;
x→0 2x − 1
(d) lim ex (tg x + sec x);
x→2π

(e) lim (x2 − 6x)(3x − 5)(x − 10).


x→3
Solução:
(a) Escrevendo
x2 − 6x + 2 f (x)
h(x) = = ,
x3 − 4x + 5 g(x)
onde
f (x) = x2 − 6x + 2 e g(x) = x3 − 4x + 5,
podemos entender f (x) e g(x) como soma de funções

f (x) = f1 (x) + f2 (x) + f3 (x) e g(x) = g1 (x) + g2 (x) + g3 (x),


dadas por:
f1 (x) = x2 g1 (x) = x3
f2 (x) = −6x g2 (x) = −4x
f3 (x) = 2 g3 (x) = 5

Note que as funções f1 (x), f2 (x),f3 (x), g1 (x), g2 (x) e g3 (x) são contínuas. Então, pelo Teorema 4
(i), temos que f (x) eg(x) são contínuas. Sendo assim,
lim f (x) = (−2)2 − 6.(−2) + 2 = 18
x→−2
e
lim g(x) = (−2)3 − 4.(−2) + 5 = 5.
x→−2

Como g(−2) 6= 0 então, segue do item (v), que

f (x) 18
lim h(x) = lim = .
x→−2 x→−2 g(x) 5
Os próximos limites serão calculados diretamente, sem explicitar todos os passos do cálculo.

(b) Considere
x2 + ln x + −6 sen x f (x)
h(x) = 2
= .
x − 16x g(x)
Note que f (x) e g(x) são funções contínuas, pois são soma e diferença de funções contínuas. Agora,
perceba que
g(5) = 52 − 16.5 = 25 − 80 = −55 6= 0
Logo, pelo teorema 4 (v), temos que

x2 + ln x + −6 sen x 52 + ln 5 − 6 sen 5 25 ln 5 − 6 sen 5


lim = = .
x→5 x2 − 16x 52 − 16.5 −55
(c) Observe que
2x − cosx + 1 f (x)
h(x) = ,
2x − 1 g(x)
em que f (x) = 2x − cos x + 1 e g(x) = 2x − 1. Note que f (x) e g(x) são contínuas, pois são soma
de funções contínuas. Agora, como

g(0) = 2.0 − 1 = −1 6= 0,
então, segue do teorema 4(v), que

2x − cosx + 1 2.0 − cos 0 + 1 0


lim = = = 0.
x→0 2x − 1 2.0 − 1 −1

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(d) Consideremos
h(x) = ex (tg x + sec x) = f (x).g(x),
onde f (x) = ex e g(x) = (tg x + sec x). Como f (x) e g(x) são contínuas, então segue do teorema
4(iv), que
lim ex (tg x + sec x) = e2π (tg(2π) + sec(2π)) = e2π (0 + 1) = e2π .
x→2π

(e) Note que podemos escrever

p(x) = (x2 − 6x)(3x − 5)(x − 10) = f (x)g(x)h(x),

em que f (x) = x2 − 6x, g(x) = 3x − 5 e h(x) = x − 10. Note que f (x), g(x) e h(x) são contínuas,
pois são soma de funções contínuas. Logo, segue do teorema 4(iv), que

lim (x2 − 6x)(3x − 5)(x − 10) = (32 − 6.3)(3.3 − 5)(3 − 10) = (−9).4.(−7) = 252.
x→3

Exemplo 18. Calcule os seguintes limites:


√ √
x− 3
(a) lim ;
x→3 x−3
√ √
3
x− 32
(b) lim ;
x→2 x−2
√ √
x− 1
(c) lim √ √
x→1 2x + 3 − 5
Solução:
(a) Nossa intenção é utilizar o teorema 2, pois

lim x − 3 = 0.
x→3

Logo, para pontos x próximos de 3, mas x 6= 3, temos


√ √ √ √
x− 3 x− 3
f (x) = = √ √
x−3 ( x)2 − ( 3)2
√ √ 
x− 3
= √ √ √  √

( x + 3) (  − 3)
x
1
= √ √
x+ 3

Desse modo, pelo Teorema 2


√ √
x− 3 1
lim = lim √ √ ,
x→3 x−3 x→3 x+ 3
e pelo Teorema 4,
1 1
lim √ √ = √ .
x→3 x+ 3 2 3


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(b) Utilizaremos o Teorema 2. Sendo assim,


√ √ √ √
3
x− 32 3
x− 32
lim = lim √ √
x→2 x−2 x→2 ( 3 x)3 − ( 3 2)3
√ √3
3
 x− 2
= lim √ √ 3  √ √ √
3

3
 2 2
 x − 2)(( x) + x 2 + ( 2) ))
x→2 ( 3  3 3

1
= lim √ √ √ √
x→2 ( 3 x)2 + 3 x 3 2 + ( 3 2)2
1
= √ .
334

(c) Utilizando os teoremas 2 e 4, obtemos que
√ √ √ √ √
x− 1 ( x − 1)( 2x + 3 + 5)
lim √ √ = lim √ √
x→1 2x + 3 − 5 x→1 ( 2x + 3)2 − ( 5)2
√ √ √
( x − 1)( 2x + 3 + 5)
= lim
x→1 2x + 3 − 5
√ √ √
( x − 1)( 2x + 3 + 5)
= lim
x→1 2x − 2
√ √ √
( x − 1)( 2x + 3 + 5)
= lim
x→1 2(x − 1)
√ √ √
x−1 2x + 3 + 5
= lim lim .
x→1 x − 1 x→1 2
Agora, note que
√ √
x−1 x−1
lim = lim √ √
x→1 x−1 x→1 ( x)2 − ( 1)2
√ 
x−1
= lim √  √
x→1 ( x − 1)( x + 1)
1
= lim √
x→1 x+1
1
= ,
2
e √ √ √ √ √
2x + 3 + 5 2.1 + 3 + 5 2 5 √
lim = = = 5.
x→1 2 2 2
Logo,
√ √ √
x− 1 5
lim √ √ = .
x→1 2x + 3 − 5 2


Resumo

Faça um resumo dos principais resultados vistos nesta aula, destacando as denições dadas.

Aprofundando o conteúdo

Leia mais sobre o conteúdo desta aula nas seções 2.1 a 2.5 do livro texto.

Sugestão de exercícios

Resolva os exercícios das 2.1 a 2.5 do livro texto.

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