UNIDADE 1

O voleibol e a sociedade:
origem e evolução
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever a origem do voleibol como modalidade esportiva.

„„ Identificar a evolução do voleibol como esporte.
„„ Conhecer o processo de introdução e de evolução do voleibol no Brasil.

Introdução
O voleibol, um esporte com mais de um século de história, é uma das
práticas esportivas mais populares e praticadas no mundo todo. Apesar de
ter sido criado nos Estados Unidos, o esporte se expandiu rapidamente por
toda a Europa, Ásia e América ainda no início do século XX. No contexto
brasileiro, não foi diferente, ele começou a ser praticado poucas décadas
após a sua invenção. No entanto, se tornou uma das paixões nacionais
apenas na década 1980, com as sucessivas vitórias e o incentivo midiático.
Neste capítulo, você vai estudar os motivos que levaram William Ge-
orge Morgan a inventar o voleibol, o desenvolvimento desse esporte ao
redor do mundo, e como essa prática chegou ao Brasil e se tornou um dos
principais esportes praticados por indivíduos de todas as classes sociais.

Origem do voleibol
O voleibol é um esporte coletivo praticado no mundo todo e bastante popular no
Brasil. É realizado em muitas escolas, parques e praias do País. Ainda que seja
bastante difundido nas instituições e nos locais que possibilitam a prática corporal,
o voleibol não é um esporte de origem brasileira e sua origem remonta há mais
16 O voleibol e a sociedade: origem e evolução

de um século. O esporte teve seu início demarcado em 9 de fevereiro de 1895, na

cidade de Holyoke, Massachusetts, nos Estados Unidos, sob o nome de mintonette
(AFONSO, 2004; MARCHI JÚNIOR, 2004; BOJIKIAN, J.; BOJIKIAN, L. 2012).
O criador do voleibol foi o diretor de educação física da Associação Cristã
de Moços (ACM), William George Morgan. A ideia de desenvolver uma nova
modalidade surgiu da necessidade de ofertar uma prática corporal prazerosa
aos associados da ACM, principalmente para aqueles na faixa etária dos 40 aos
50 anos de idade, os chamados “homens de negócios”. Para esses homens, os
exercícios calistênicos, que eram bastante comuns nos ginásios, não geravam
entusiasmo e o basquetebol era considerado muito violento, haja vista os
constantes contatos físicos que esse esporte proporcionava.
O basquetebol havia sido criado alguns anos antes, em 1891, na ACM de
Springfield, pelo professor de educação física James Naismith. O basquete-
bol, em 1895, apesar do pouco período de existência, já havia se difundido
em muitas das sedes da ACM, inclusive em Holyoque, já que se localizava a
poucos quilômetros de Springfield. Apesar de ser um esporte bastante praticado
na época, o basquetebol apresentava alguns embates físicos que afastavam
algumas pessoas dessa prática. Diante disso e do pedido do pastor Lawrence
Rinder, William Morgan elaborou um jogo que pudesse ser praticado pelos
associados mais antigos da ACM (MARCHI JÚNIOR, 2004).

William George Morgan, responsável pela criação do voleibol, nasceu em Lockport,

Nova Iorque. Morgan formou-se professor de educação física no curso regular da
ACM, em Holyoque. Teve como professor o inventor do basquetebol, James Naismith.
Morgan faleceu aos 72 anos de idade, em 27 de dezembro de 1942, na sua cidade natal.

Na sua estrutura original, o voleibol era disputado em nove pontos, em

uma quadra dividida por uma rede parecida com a do tênis. A rede se pos-
tava a cerca de 1,90m de altura. A bola utilizada no princípio do voleibol
era uma câmara de uma bola de basquetebol. Como era muito leve e a bola
de basquetebol completa era muito pesada, Morgan solicitou à firma A. G.
Spalding & Brothers (a mesma fabricante das bolas de basquete) a produção
de uma bola específica para a prática do voleibol, o que foi feito após vários
testes com diversos protótipos.
 O voleibol e a sociedade: origem e evolução 17

A origem do voleibol foi narrada nas palavras de Morgan:

Em 1895, assumi a direção do departamento físico da ACM de Holyoke,

Massachusetts, e como o trabalho da classe dos homens de negócios se fazia
cada vez mais intenso e exaustivo, senti a necessidade de alguma forma de
recreação para eles. O basquetebol poderia responder plenamente às exigências
dos jovens, porém, era necessário algo para os mais idosos, que não fosse rude
e fatigante. Pensando num jogo adequado, ocorreu-me o tênis, mas o tênis
requeria raquetes, bolas, redes e outros apetrechos, de sorte que foi posto de
lado, conquanto parecesse aproveitável a ideia de rede. Elevamo-la a cerca
de 1,90m do solo – justo acima da cabeça de um homem de estatura mediana.
Precisávamos de uma bola, e entre as que experimentamos estava a câmara-
-de-ar de uma bola de basquetebol, porém verificamos ser ela muito leve e não
tomar velocidade; depois experimentamos uma bola de basquetebol, que se
evidenciou demasiadamente pesada e muito grande. Finalmente, concluímos
que precisávamos de uma bola nas condições da atual bola de voleibol, que
encomendamos a A.G. Spalding & Brothers e verificamos ser satisfatória.
Com o tempo, o jogo sofreu muitas modificações, mas a ideia original da
rede entre os dois quadros opostos ficou de pé. Neste período, realizou-se
uma conferência de diretores físicos na ACM de Springfield, onde fizemos
uma exibição do jogo. Formei dois quadros, opostos, cada um composto por
cinco homens, respectivamente capitaneados pelo sr. J. J. Currane e o sr.
John Lynch, e fizemos uma exibição no ginásio do colégio, a qual acredito a
todos agradou. A seguir submetemos carta branca para alterá-las (as regras)
como bem entendesse. Prevendo que essas regras ensejariam a realização de
muitas conferências, que se incumbiram de seu aperfeiçoamento, pusemos
de lado a regulamentação do jogo e dedicamo-nos, entrementes, ao treina-
mento físico. Entre os que auxiliaram materialmente o desenvolvimento do
jogo estava o dr. Frank Wood e o sr. John Lynch, aos quais se deve muito o
voleibol (DAIUTO, 1967, p. 6).

No início, a prática do mintonette era bastante limitada à cidade de Holyo-

que e aos associados da ACM. No entanto, após a conferência ocorrida em
Springfield com a presença de diretores, mencionada por Morgan, eles levaram
a ideia do novo jogo para outras instituições da ACM espalhadas pelo país.
Tão logo, a prática do mintonette se difundiu em muitas cidades dos estados
de Massachusetts e da Nova Inglaterra. Observou-se também a instalação de
quadras em praias, em estações de veraneio e em playgrounds. A instalação
desses espaços contribuiu para o aumento do número de praticantes e para a
popularidade do jogo.
Em Springfield, diversas análises sobre a forma de jogar e o objetivo imposto
pelo jogo foram realizadas, entre elas, a do Dr. A. T. Halstead, que sugeriu a
mudança do nome mintonette, que estava associado à prática do badminton
(esporte desenvolvido em uma quadra dividida por uma rede elevada, em que
18 O voleibol e a sociedade: origem e evolução

os jogadores de posse de uma raquete, deveriam fazer com que uma peteca
tocasse o solo adversário) para volleyball, em alusão ao movimento de voleio
realizado com os braços para fazer com que a bola passe à quadra adversária
(MARCHI JÚNIOR, 2004; MATTHLESEN, 1994).
Na origem do voleibol, alguns pontos podem ser levantados para analisar
a sua criação. Marchi Júnior (2004) atenta para o fato de que esse esporte teve
algumas particularidades que o distanciam das demais práticas esportivas. O
voleibol, assim como o basquetebol, não surgiu a partir de uma prática corporal
existente e que sofreu ao longo dos tempos um processo de esportivização.
Podemos evidenciar em muitas práticas, como o futebol, por exemplo, que
povos primitivos já praticavam jogos parecidos e, com o passar dos anos,
essas práticas foram ganhando regras e se tornando um esporte. Ao contrário
desse fenômeno, o voleibol se inicia já como um jogo composto de regras e
de características que buscavam incluí-lo no universo desportivo. Assim, o
voleibol não se origina de uma manifestação cultural de jogo, seja ela para
passatempo ou para qualquer outra atividade que buscava a recreação, mas a
partir de uma intencionalidade que objetivava propor uma prática alternativa
a uma parcela da população.
O voleibol é um esporte que foi inventado nos Estados Unidos e bastante
distante das práticas que se esportivizaram por meio das modificações ocorridas
na Europa. Com isso, podemos salientar que voleibol e o basquetebol, que fora
inventado anos antes, são práticas esportivas que quebram com uma lógica
eurocêntrica de práticas esportivas que marcam a sociedade atual. Abre-se,
então, uma nova forma de criação de esportes e de modelo de jogo, sobretudo
na América Latina, onde muitas das práticas esportivas surgem de modelos
europeus de países como a Inglaterra, a França, a Itália e a Alemanha.
Também devemos destacar que a origem do voleibol torna possíveis algumas
análises de percurso histórico dos esportes como sendo um privilégio para
determinadas parcelas da sociedade. Pelo relato de Morgan (DAIUTO, 1967),
é viável pensar que o objetivo e o público a ser atingido por essa nova modali-
dade pretendiam suprir as necessidades de uma elite cristã que frequentava os
clubes esportivos da ACM. Não há a menção da necessidade de uma prática
corporal que pudesse servir de modelo para toda a sociedade ou que pudesse
trazer benefícios para toda ela. Ao contrário, a prática do voleibol buscava
garantir aos homens de negócios uma prática que dispusesse de mínimos
contatos físicos e de menor esforço, os quais eram características dos esportes
e dos ofícios das classes mais empobrecidas. É possível verificar também que
o jogo carrega um conjunto de princípios morais que deve ser seguido pelos
seus praticantes. Nas palavras de Morgan:
 O voleibol e a sociedade: origem e evolução 19

O voleibol obriga à prática constante de sentimentos superiores sob a pena,

de quem não o fizer, de ser excluído como elemento desnecessário e mesmo
prejudicial; naturalmente repelido pelos demais companheiros, interessados
no sucesso da equipe. Sob o ponto de vista social é uma recreação agradável
e um processo poderoso de aproximação e de estímulo, incentivando em
todos, como esporte coletivo que é, o espírito de corporação imprescindível
à consistência de toda a organização social. Agrada, diverte e beneficia o
indivíduo e a coletividade (MORGAN, 1984).

Podemos destacar que a prática do voleibol também não era direcionada

a qualquer pessoa. Servia de modo a oportunizar a prática esportiva para
indivíduos com “sentimentos superiores” de coletividade e cooperação comuns
à sociedade cristã. Aos que não se enquadravam nessa estrutura, a eliminação
era inevitável. Portanto, o voleibol, além de uma prática esportiva, pode ser
também uma forma de selecionar indivíduos e de propagar características
morais de determinados grupos sociais. É possível salientar também que o
“processo de aproximação e estímulo que incentiva o espírito de corporação”
também denota a necessidade de fortalecimento de determinada classe social,
compartilhando seus ideais e fortalecendo suas ações.
Em relação ao regramento dessa nova prática, a primeira publicação que
fez menção ao esporte ocorreu em 1896, na revista Physical Education, em
um artigo com o título The Original Sport of Volley Ball (na tradução literal,
em português, O esporte original do voleibol), escrito pelo diretor de ati-
vidades físicas da ACM de Buffalo, em Nova Iorque (MARCHI JÚNIOR,
2004). No artigo em questão, algumas orientações para o desenvolvimento do
jogo foram descritas. Não havia um limite de jogadores para cada equipe em
quadra, mas elas deveriam ser compostas pelo mesmo número de jogadores.
Eles deveriam fazer um rodízio para que todos tivessem a oportunidade de
realizar o fundamento do saque, o qual deveria ser efetuado com um dos
pés sobre a linha de fundo da quadra. A primeira quadra media 15,35 m de
comprimento por 7,625 m de largura. A rede possuía 61 cm de largura e 8,235
m de comprimento, ficando a uma distância entre o solo e a borda superior de
1,98 m (MARCHI JÚNIOR, 2004).
A partir dos parâmetros que orientaram a invenção do voleibol, o esporte
foi se desenvolvendo de forma rápida. Não apenas como jogo recreativo para
os senhores de negócios, mas como uma forma de prática corporal repleta
de regras e elementos competitivos que o caracterizavam como esporte. Na
próxima seção, vamos debater o desenvolvimento do voleibol no âmbito
mundial, o que contribuiu para a rápida adesão de participantes e que hoje é
uma das modalidades dos Jogos Olímpicos de Verão.
20 O voleibol e a sociedade: origem e evolução

A evolução como esporte

Como vimos na seção anterior, o voleibol se desenvolveu em um período
histórico em que muitas práticas já haviam se desportivizado. O voleibol
acompanhou essa tendência. Logo após a sua criação, eram comuns os jogos de
demonstração nas filiais da ACM, o que contribuiu para a divulgação e a prática
desse jogo em diversas instituições. Em 1900, após a realização de diversos
jogos, algumas modificações na estrutura do jogo foram promovidas. A bola
passou a ser padronizada para todos os jogos realizados pela ACM. A altura
da rede ganhou alguns centímetros, passando para 2,13 m e o jogo passou a
ser definido na disputa de um set composto por 21 pontos. Em 1912, ocorreram
alterações na quadra de jogo, que passou a medir 18,18 m de comprimento por
10,16 m de largura, composta por dois campos de 10,16 m de comprimento
por 9,9 m de largura. A rede ganhou altura novamente, passando para 2,28
m do solo. A formação do rodízio ficou estabelecida e a partida passou a ser
composta por dois sets (SHONDELL; REYNAUD, 2005).
No ano de 1917, a altura da rede aumentou novamente, chegando aos atuais
2,43m de altura (no voleibol masculino) e os sets passaram a ser compostos por
15 pontos. Além disso, alguns outros elementos foram incorporados para que
o esporte ganhasse maior dinâmica e o público demonstrasse maior interesse
por essa prática.

Ao longo dos anos, várias regras foram sendo incorporadas na prática do voleibol
de modo a fazer com que o jogo fosse mais dinâmico e engajador. Essas mudanças
ocorreram e ocorrem desde os primórdios do esporte aos dias atuais. Como exemplo
de mudanças que foram promovidas ainda na década de 1910 foram:
„„ a bola não podia mais parar nas mãos dos jogadores, como era permitido até então;
„„ o jogador não mais poderia tocar na bola por duas vezes, a menos que outro
jogador a tivesse tocado;
„„ cada equipe passou a poder tocar até três vezes na bola.

Alguns anos mais tarde, para a formação das equipes, ficou determinado
que o número máximo de atletas para cada um dos times que participaria do
jogo deveria ser de seis jogadores e as dimensões das quadras foram padro-
nizadas em 18 m de comprimento por 9 m de largura.
 O voleibol e a sociedade: origem e evolução 21

No dia 28 de abril de 1922, ocorreu o primeiro campeonato nacional das

ACMs dos Estados Unidos, com a participação de 23 equipes de voleibol,
incluindo algumas de instituições da ACM localizadas no Canadá. Esse evento
foi realizado no Brooklyn, em Nova Iorque, e a ACM de Pittsburgh sagrou-se
como equipe vencedora. Estava, portanto, confirmado que o voleibol havia
se tornado um esporte de competição. Dois anos mais tarde, o voleibol foi
praticado nos Jogos Olímpicos de 1924, como parte de um evento especial
para a apresentação de esportes dos Estados Unidos.
Durante os anos de 1930, os esportes de cunho recreativo avançaram de
forma significativa nos Estados Unidos. Foram investidos aproximadamente
500 milhões de dólares em quase 4 mil prédios recreativos, 888 parques,
1.500 campos de atletismo e outras estruturas correlatas no País. Os locais
propícios para a prática esportiva e a valorização do voleibol como uma pos-
sibilidade recreativa contribuíram muito para a popularização do esporte
(MATTHLESEN, 1994).
Na década de 1940, o interesse pelo voleibol já era grande. Com os 50 anos
de sua criação, muitos artigos e matérias jornalísticas ressaltaram o cinquente-
nário do esporte. Em 1946, um estudo apontou o voleibol como o quinto esporte
coletivo mais fomentado em território norte-americano. No ano de 1947, com
a grande difusão do esporte em diversos países — onde o voleibol havia sido
introduzido por militares e pelas ACMs e que acompanhavam o processo de
esportivização da modalidade tal qual nos Estados Unidos, criando federações
nacionais para regulamentar a prática — surgiu a Federação Internacional de
Voleibol (FIVB) cujo objetivo era regulamentar as competições internacionais
e teve como fundadores o Brasil, a Bélgica, o Egito, a França, a Holanda, a
Hungria, a Itália, a Polônia, o Portugal, a Romênia, a Tchecoslováquia, a
Iugoslávia, os Estados Unidos e o Uruguai. Em 1949, na Tchecoslováquia,
ocorreu o primeiro Campeonato Mundial de Voleibol masculino, e a União
Soviética (um Estado composto por várias repúblicas que existiu entre os
anos de 1922 e 1991) saiu campeã. Nesse mesmo ano, em solo americano, as
mulheres tiveram a oportunidade de participar de um campeonato oficial,
organizado em Los Angeles, Califórnia.
Uma década mais tarde, em 1955, surgiu a Associação de Voleibol dos
Estados Unidos (USVBA) cujo objetivo foi instituir uma jurisdição oficial
para a prática do esporte naquele país para o Jogos Pan-Americanos, que
ocorreu no mesmo ano na Cidade do México. Essa competição teve como
medalhistas de ouro os norte-americanos (masculino) e as mexicanas (femi-
nino). Ainda na mesma década, em 1956, ocorreu em Paris a terceira edição
do Campeonato Mundial de Voleibol, composto por times oriundos de 25
22 O voleibol e a sociedade: origem e evolução

países. Em muitas ocasiões, o Palais des Sports, um ginásio desportivo com

capacidade para 25 mil espectadores que sediou o campeonato, lotou. Nessa
edição, a Tchecoslováquia conseguiu lograr êxito, após duas finais em que
haviam perdido para os soviéticos.
Em 1964, o voleibol foi oficialmente introduzido nos Jogos Olímpicos de
Verão, e teve como campeões na modalidade masculina a União Soviética
e, na modalidade feminina, o Japão. A grande presença e empolgação do
público espectador fez com que o voleibol permanecesse na agenda dos Jogos
Olímpicos.
Na década de 1940, muitos países já haviam desenvolvido o esporte profis-
sional e participavam de torneios mundiais conseguindo, inclusive, desbancar
os norte-americanos, criadores do voleibol. Para compreender a expansão e
a difusão mundial dessa prática esportiva, devemos retroceder o percurso
histórico. Na imagem a seguir, podemos evidenciar os anos em que o voleibol
foi inserido em diversos países.

O voleibol surgiu em 1895, no Estados Unidos. Menos de duas décadas depois, o

novo esporte já havia chegado a diversos continentes. As filiais da ACM espalhadas
pelo mundo e as instituições militares, que participavam de colonizações e combates
mundiais, sobretudo durante a Primeira Guerra Mundial, contribuíram para a rápida
expansão do esporte no mundo.

Figura 1. Ano de chegada do voleibol em diferentes países e continentes.

Fonte: Marques Junior (2012, documento on-line).
 O voleibol e a sociedade: origem e evolução 23

Em 1915, a inclusão do voleibol foi oficialmente aceita nos programas

educacionais das instituições de ensino dos Estados Unidos, por meio das
disciplinas de educação física. Ao lado do beisebol e do basquetebol, o voleibol
passou a fazer parte das rotinas desportivas de escolares de muitas das escolas
sob os pretextos socializatórios e formativos que discutimos na primeira seção
deste capítulo. No mesmo ano, sob a direção do professor George J. Fischer,
integrantes da ACM passaram a introduzir o esporte nas forças armadas
norte-americanas. A prática do voleibol foi bastante aceita entre os soldados,
que o levaram para solo europeu durante a Primeira Guerra Mundial, ocorrida
entre os anos 1914 e 1918.
Embora possamos destacar a importância das filiais da ACM nos diver-
sos estados norte-americanos e em países ao redor do mundo, a difusão do
voleibol também passou pela sua ampla divulgação no ensino primário e nas
instituições militares. Os jovens que praticavam o esporte no interior de escolas
e de quartéis passaram a desenvolver também o jogo em espaços ao ar livre.
Inicialmente, o voleibol não gerou grande aceitação entre os escolares do
sexo masculino, sobretudo aqueles que se encontravam no ensino médio. Por
ser uma prática tradicionalmente desenvolvida com idosos nas ACMs, esse
jogo foi rotulado como uma prática não atlética. A disputa com o basquetebol,
que já era bastante popular entre os jovens adolescentes, também contribuiu
para essa negação ao esporte. Assim, as estudantes do sexo feminino acabaram
aderindo mais à prática do voleibol, criando uma identidade do esporte ao
público feminino.
A intencionalidade de inserção de determinadas práticas no âmbito escolar
e militar, quanto mais em épocas de guerra, cuja inserção dos soldados ocorre
em diversas nações, ocorre de modo a disseminar determinadas práticas e
valores culturais que servem de modelos e estereótipos para outras culturas.

A disseminação do voleibol
Considerando que o voleibol foi inventado em 1895, é possível pensar que essa
prática rompeu as fronteiras dos Estados Unidos de forma rápida. Oficialmente,
o primeiro país a receber o esporte foi o Canadá, em 1900. Em seguida, houve
a prática do voleibol em Cuba, em 1905; Filipinas e Japão em 1908; Porto
Rico, em 1909; Uruguai em 1912; e o Brasil e o México, entre 1916 e 1917.
Em Cuba, o esporte chegou por meio dos militares que participavam de uma
intervenção militar na ilha do Caribe.
Na América do Sul, o voleibol surgiu no Peru, em 1910. Até essa data, os
programas escolares peruanos eram defasados em relação à prática esportiva.
24 O voleibol e a sociedade: origem e evolução

Portanto, o governo peruano solicitou aos professores ligados à ACM que

reestruturassem e organizassem a organização primária para que contem-
plassem também a inclusão de esportes coletivos. Com isso, o basquetebol, o
voleibol e o handebol passaram a fazer parte do ensino peruano. Nos demais
países, o voleibol demorou um pouco mais a chegar. Apenas em 1912, em
Montevidéu, no Uruguai, houve uma apresentação do esporte por membros
da ACM, o que deu início à trajetória do esporte no País. No Brasil, o início
do desenvolvimento do esporte ocorreu de maneira oficial entre os anos de
1916, na ACM, em São Paulo. No entanto, existem indícios de que um jogo
já havia sido disputado em 1915, em Pernambuco.
Na Ásia, o voleibol também chegou antes mesmo da década de 1910. No
Japão, há registros de que o esporte foi inserido por intermédio de Hyozo
Omori, em 1908. O estudante da Universidade de Springfield, após retornar
à sua terra natal, realizou a demonstração do esporte na ACM de Tóquio. No
entanto, dados oficiais revelam que o fato ocorreu apenas em 1912. Na mesma
época, o voleibol também foi inserido em países como a China e as Filipinas,
também com a participação das filiais da ACM. Em 1913, o voleibol fez parte
da primeira edição dos Jogos do Extremo Oriente, realizados na cidade de
Manila, nas Filipinas. Nessa ocasião, participaram atletas da China, do Japão,
de Hong Kong, da Malásia e da Tailândia, além de atletas do país sede. Com
isso, o voleibol ganhou grande destaque nesse continente.
No continente africano, o voleibol também teve sua introdução logo após
a sua criação, a primeira partida realizada foi no Egito, em 1915. Ainda que
não tenham se envolvido diretamente nas batalhas ocorridas na Europa du-
rante a Primeira Guerra Mundial, diversos países africanos eram colônias
da Alemanha, do Reino Unido e da França. O voleibol, nesse continente,
portanto, teve grande influência dos militares que batalhavam pela obtenção
da colonização desses territórios.

Vôlei de praia
O voleibol foi tradicionalmente desenvolvido em ginásios dos centros espor-
tivos. No entanto, sua prática também era comum em ambientes ao ar livre.
Assim foi durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, com soldados
adaptando os espaços e materiais disponíveis para a prática esportiva. Do
mesmo modo, em grandes cidades, o voleibol foi transportado para parques
e playgrounds, com suas formas de jogar adaptadas a diversos ambientes. Foi
assim que surgiu o voleibol de areia (vôlei de praia), que é praticado principal-
mente em praias. Afonso (2004) explica que existem diversas versões acerca
 O voleibol e a sociedade: origem e evolução 25

do primeiro jogo de voleibol praticado sobre a areia. No entanto, três são as

principais narrativas aceitas sobre a origem da modalidade:

1. a prática do vôlei de praia foi observada em 1914, nas praias do Uruguai,

onde surgiu;
2. o voleibol na areia surgiu no Outrigger Canoe Club, em 1915, sediado
na praia de Waikiki, ilha de Oahu, no Havaí. Ele era jogado por um
pequeno grupo de empresários;
3. o voleibol na areia começou a ser praticado na década de 1920, na praia
de Santa Mônica, Califórnia, Estados Unidos. Isso ocorreu porque foram
construídos diversos clubes na costa norte-americana. Em Santa Mônica,
foram fundados 11 clubes, os principais eram Beach Clube Swimming
Club. Os campeonatos entre as equipes desses clubes ocorriam no fim
de semana.

Ainda que a origem do voleibol na areia possa apresentar diferentes versões,

podemos destacar que ele também evoluiu de forma rápida e, atualmente, é
um esporte bastante conhecido e praticado. Ainda que tivesse sua evolução
rápida como atividade recreativa em seus diversos formatos (com formação
de equipes com diversas quantidades de participantes), a profissionalização
desse esporte só ocorreu em 1947, na praia de State Beach, na Califórnia,
por meio de um torneio de duplas masculinas. O reconhecimento desportivo
dessa nova modalidade ocorreu em 1950, por intermédio da Universidade
de Califórnia, que formou a primeira equipe de vôlei de praia, selecionando
os jovens talentos que participavam das competições regionais em troca de
bolsas de estudo.
Como competição internacional, o Circuito Internacional de Voleibol de
Praia, organizado pela FIVB, surgiu em 1987, com a participação de duplas
masculinas e, em 1992, com a participação de duplas femininas. Em 1996,
essa modalidade tornou-se olímpica, com a participação de duplas de diversos
países durante os Jogos Olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos.
Conforme apresentado, o voleibol é um esporte amplamente praticado no
mundo todo. Em muitos países, sua tradição remonta a inserção da modalidade
há mais de um século de história. No Brasil, essa é uma das modalidades mais
praticadas em diversos ambientes e um dos esportes que mais recebe apoio
midiático, o que garante a manutenção de sua popularidade. Na próxima seção,
iremos focar o avanço do esporte no território brasileiro e suas principais
características e fatos que marcaram a história.
26 O voleibol e a sociedade: origem e evolução

Introdução e evolução do voleibol no Brasil

O voleibol foi introduzido no Brasil ao longo das primeiras décadas do sé-
culo XX. O início do desenvolvimento do esporte ocorreu de maneira oficial
entre os anos de 1915 e 1916, na ACM, em São Paulo. No entanto, existem
indícios de que um jogo já havia sido disputado em 1915, no Colégio Marista
de Pernambuco, no Recife. Ainda que sua prática tenha ocorrido em algu-
mas instituições ligadas à ACM e em clubes recreativos, foi apenas em 1923
que aconteceu um evento que promoveu a difusão do esporte. Nesse ano, a
Federação Fluminense de Esportes organizou um torneio que contou com a
participação dos clubes filiados à Liga Metropolitana de Desportos Terrestres,
entidade que reunia os principais clubes do Rio de Janeiro.

No início de sua introdução no território brasileiro, o voleibol era um esporte restrito

aos clubes recreativos que eram frequentados por segmentos sociais privilegiados
economicamente. O acesso da população ao esporte passou a ocorrer de maneira mais
efetiva a partir da década de 1970, sobretudo com o movimento Esporte Para Todos,
um programa internacional permeado por pressupostos filosóficos que propunham
a democratização das atividades físicas e desportivas.

As primeiras décadas do século XX foram pouco promissoras para o

voleibol. O esporte era praticado de forma amadora em diversos clubes e não
se vislumbrava a expectativa de sua profissionalização, que só aconteceu em
1933. A partir disso, muitos clubes que disponibilizavam diversas modalidades
acabaram se centrando apenas nesse esporte. O voleibol e outros esportes
continuaram sendo praticados, mas apenas como atividade recreativa. No ano
de 1938, foi fundada a Liga de Volley-Ball do Rio de Janeiro, que contou com
com a participação dos seguintes clubes:

„„ América Football Club;

„„ Botafogo Football Club;
„„ Clube Internacional de Regatas;
„„ Clube de Regatas Botafogo;
„„ Clube de Regatas Flamengo;
 O voleibol e a sociedade: origem e evolução 27

„„ Clube de Regatas Vasco da Gama;

„„ Clube dos Tabajaras;
„„ Clube Universitário do Rio de Janeiro;
„„ Grajaú Tênis Clube;
„„ Santa Heloísa Football;
„„ São Cristóvão Atlético Clube;
„„ Tijuca Tênis Clube;
„„ Vila Isabel Football Clube.

O estado de São Paulo também teve grande importância na prática e na

promoção do voleibol. Em 1942, ocorreu a fundação da Federação Paulista,
diante de uma reunião de 16 clubes que buscavam oficializar a criação de
uma entidade especializada na promoção do voleibol. Nessa reunião, esti-
veram presentes o Clube Athlético Paulistano, o Esporte Clube Pinheiros, a
Sociedade Esportiva Palmeiras, o Esporte Clube Corinthians Paulista, o Clube
Esportivo da Penha, a Associação Atlética São Paulo, o Tênis Clube Paulista,
a Liga Santista de Voleibol, a ACM, a Associação Cultura Física, o Esporte
Clube Banespa, o São Paulo Futebol Clube, a Sociedade Harmonia de Tênis
e o Santos Football Clube.
Apesar de o voleibol se expandir de forma mais significativa na região su-
deste do país, outros estados já registravam a fundação de clubes e associações
que buscavam se fortalecer no voleibol. Em 1944, um grande salto foi dado para
a difusão do voleibol. Ocorreu o primeiro campeonato nacional, composto por
seis equipes femininas (tendo como vencedora a equipe de Minas Gerais) e oito
equipes masculinas (tendo como vencedora a equipe de São Paulo). Esse evento
auxiliou na popularização do esporte em território nacional. No entanto, apenas
uma década mais tarde, em 9 de agosto de 1954, a Confederação Brasileira
de Voleibol (CBV) foi criada, com os objetivos de difundir e desenvolver o
esporte no país. A CBV ganhou destaque ao desenvolver cursos de voleibol pelo
país voltados à criação de escolinhas esportivas (MARCHI JÚNIOR, 2004).
Na década de 1960, a institucionalização do voleibol fez com que a mo-
dalidade crescesse de forma rápida e se tornasse um dos principais esportes
praticados no País. Crescia também nas instituições escolares, uma vez que
o método austríaco da Educação Física Desportiva Generalizada se instalava
no Brasil, substituindo os tradicionais exercícios calistênicos e os métodos
ginásticos sueco, francês e alemão, que eram a base da educação física nas
instituições escolares. Também nessa década, em 1964, os militares assumiram
o governo brasileiro e o incentivo à prática esportiva passou a ser um dos focos
das práticas corporais. Matthlesen (1994, p. 196) explica que:
28 O voleibol e a sociedade: origem e evolução

O esporte recebeu, em plena Ditadura Militar, um grande apoio dos órgãos

governamentais. O governo, nesta época, não mediu esforços para incentivar a
população na prática do Esporte, como forma de preenchimento do tempo livre
da classe trabalhadora. Exemplo disso foi o movimento “Esporte Para Todos”
(E.P.T.), que se desenvolveu na sociedade brasileira ao longo dos anos 70.

A grande escalada do voleibol brasileiro

Em 1975, o ex-jogador Carlos Arthur Nuzman assumiu a presidência da CBV
e teve como principal objetivo promover o esporte a partir dos conceitos do
marketing esportivo, com o envolvimento de empresas privadas nos processos
de contratação de jogadores. Com isso, houve aumento na remuneração desses
jogadores para que pudessem treinar em tempo integral. Para Bojikian, J. e
Bojikian, L. (2012, p. 40) é a partir de 1975 que;

[...] inicia-se a grande escalada do nosso voleibol. A Confederação Brasileira de

Voleibol, em colaboração com algumas federações estaduais, passa a investir
mais na formação de técnicos e atletas brasileiros, organizando muitos cursos,
ministrados por técnicos estrangeiros de renome. Clubes e seleções de outros
países, constantemente passaram a competir no Brasil. Vários campeonatos
internacionais, aqui, foram sediados.

Em pouco tempo, os resultados das ações promovidas por Nuzman come-

çaram a aparecer em quadra. No Campeonato Mundial de Voleibol Sub-21,
realizado em 1977, no Rio de Janeiro, a equipe masculina obteve o terceiro lugar
e revelou nomes de atletas que se firmaram entre os destaques internacionais,
como Renan, Montanaro e Amauri. No mesmo ano, em São Paulo, a equipe
feminina também teve êxito, obteve o quarto lugar e revelou Jaqueline, Isabel
e Regina Uchôa durante o Campeonato Mundial de Voleibol Feminino Sub-20.
Com os destaques dos jogadores brasileiros nas competições internacionais,
começou a migração de atletas para outros países, principalmente os europeus,
que tinham a melhores equipes.
Considerando o êxodo de jogadores brasileiros avesso ao desenvolvimento
e ao crescimento do esporte no País, Nuzman articulou com o Conselho
Nacional de Desportos a viabilização de propagandas nos uniformes das
equipes e da seleção nacional, para garantir mais fundos para as equipes e
para a remuneração de atletas e, também, conseguiu proibir a ida de atletas
para o exterior, por meio de regulamentação esportiva federal.
As empresas patrocinadoras das equipes de voleibol passam a investir na
mídia, compraram espaços televisivos para que os jogos fossem transmitidos
e, suas marcas, divulgadas. Os jogos, então, foram transmitidos quase todos
 O voleibol e a sociedade: origem e evolução 29

os dias da semana com o apoio da Rede Bandeirantes de Televisão e de seu

diretor esportivo, Luciano do Valle. Com o esporte adentrando a residência
de boa parte da população por meio dos televisores, o esporte passou a ter
grande aceitação nacional (MARCHI JÚNIOR, 2004).
Além da divulgação midiática, a década de 1980 também trouxe importantes
resultados para as equipes brasileiras. Em 1981, a seleção feminina foi campeã
do Campeonato Sul-Americano de Voleibol Feminino, encerrando com uma
sequência de cinco campeonatos vencidos pelas peruanas. Em 1982, a CBV
promoveu o primeiro Mundialito de Voleibol, competição amistosa que foi
a pioneira na transmissão ao vivo pela televisão. Nessa edição, estiveram
presentes as seleções nacionais do Japão, da Bulgária, da Coréia do Sul, do
México e da França, além da equipe brasileira. De maneira invicta, o Brasil
sagrou-se campeão. Não bastasse a presença de grandes seleções internacio-
nais, nessa competição, o jogador brasileiro Bernard lançou o famoso saque
“jornada nas estrelas”, um espetáculo à parte aos presentes. No mesmo ano,
houve o Campeonato Mundial de Voleibol Masculino, realizado em Buenos
Aires, na Argentina. Nessa ocasião, a seleção brasileira obteve a segunda
colocação, pois perdeu o duelo final para a União Soviética. Ainda em 1983,
a CBV convidou a grande campeã União Soviética para o Grande Desafio de
Vôlei, uma partida amistosa da qual o Brasil saiu vencedor.

O Grande Desafio do Vôlei buscava aproveitar o crescimento

do voleibol para promover uma partida que realmente pudesse
empolgar a população brasileira. O evento, considerado por
muitos o fato que levou o voleibol a ser o segundo esporte
mais praticado no País, foi realizado no estádio do Maracanã,
em 26 de julho de 1983, e obteve um público até hoje recordista
para a modalidade: 95.887 pagantes.
No link ou código a seguir, você pode vislumbrar algumas
imagens desse jogo emocionante, que também teve a parti-
cipação do jogador Bernard e seu saque “jornada nas estrelas”.

https://goo.gl/6iVzEo

Em 1984, durante os Jogos Olímpicos de Verão realizados em Los Angeles,

nos Estados Unidos, a seleção masculina obteve sua primeira medalha ao
30 O voleibol e a sociedade: origem e evolução

conseguir a segunda colocação. Nessa edição, os soviéticos não participaram

em resposta ao boicote dos americanos aos Jogos Olímpicos de Moscou,
realizados na edição anterior, em 1980. Os norte-americanos acabaram con-
quistando a medalha de ouro. A seleção brasileira passou a ser conhecida,
então, como a Geração de Prata, composta pelos atletas William, Amauri,
Badá, Bernard, Bernardinho, Domingos Maracanã, Fernandão, Montanaro,
Vinícius, Xandó, Renan Dal Zotto, e Rui Campos do Nascimento, conduzida
pelo técnico Bebeto de Freitas.
A espetacularização do esporte promovida por Nuzman havia dado certo
e colhia resultados na quadra e fora delas com o objetivo alcançado de fazer o
voleibol um esporte nacional. Além da transmissão pela televisão, o voleibol
conquistava também a imprensa e as revistas de magazine. O voleibol ganhou
uma publicação exclusiva na Revista Saque, que justificou esse empreendi-
mento da seguinte maneira:

As pesquisas não mentem jamais. Depois do futebol, vôlei na cabeça. E por que
não uma revista mensal para os amantes da segunda paixão nacional? E por que
não uma revista feita pelos ‘Pelés’ do Voleibol, feita por quem realmente está
com a bola toda? (MONTANARO et al. apud MATTHLESEN, 1994, p. 197).

Em 1992, para a disputa dos Jogos Olímpicos de Verão, realizados em

Barcelona, na Espanha, o Brasil preparou uma equipe com grandes chances de
ficar entre os semifinalistas da competição. Na fase de grupos, venceu todos
os seus adversários com facilidade. Nas quartas de final, venceu o Japão,
alcançando o objetivo de ficar entre os quatro primeiros. Nas semifinais,
conseguiu a vitória sobre os norte-americanos e, na grande final, conquistou o
ouro na disputa com os holandeses. Com o grande apoio nacional, a população
brasileira vibrou com a conquista do ouro inédito, conforme relata Bizzochi
(2004, p. 24):

O jogo [Brasil x Holanda] foi transmitido em um domingo de manhã e o Brasil

acordou cedo para torcer. Soltou rojões, fez festa e foi receber os campeões
olímpicos no aeroporto. Como heróis nacionais, desfilaram em carro aberto
pelas ruas de São Paulo, que literalmente parou para aplaudi-los. No Brasil,
até aquela data, no que se refere a esportes coletivos, somente jogadores de
futebol haviam recebido festa semelhante. As honrarias outorgadas à “Geração
de Ouro do Voleibol” mostraram que os campeões olímpicos conseguiram
fazer o Brasil trocar os pés pelas mãos!
 O voleibol e a sociedade: origem e evolução 31

Nos anos posteriores, vários títulos internacionais foram conquistados pelas

equipes masculinas e femininas de voleibol. O Quadro 1, a seguir, demonstra
os principais títulos obtidos pelas seleções brasileiras.

Quadro 1. Ano e local de obtenção dos principais títulos internacionais das equipes de
voleibol masculino e feminino brasileiras

Voleibol feminino Voleibol masculino

Competição (ano/local de (ano/local de
realização) realização)

Jogos Olímpicos 2008 — Pequim, China 1992 — Barcelona/

2012 — Londres, Espanha
Inglaterra 2004 — Atenas/Grécia
2016 — Rio de
Janeiro/Brasil

Campeonato Mundial Nunca conquistou 2002 — Buenos

de Voleibol o título Aires/Argentina
2006 — Tóquio/Japão
2010 — Roma/Itália

Liga Mundial* (apenas 1994 — Xangai/China 1993 — São Paulo/Brasil

masculino) / Grand 1996 — Xangai/China 2001 — Katowice/
Prix* (apenas feminino) 1998 — Hong Polônia
Kong/China 2003 — Madri/Espanha
*Competições 2004 — Reggio 2004 — Roma/Itália
substituídas pela Liga Calabria/Itália 2005 — Belgrado/Sérvia
das Nações de Voleibol 2005 — Sendai/Japão 2006 — Moscou/Rússia
a partir de 2018 2006 — Reggio 2007 — Katowice/
Calabria/Itália Polônia
2008 — Yokohama/ 2009 — Belgrado/Sérvia
Japão 2010 — Córdoba/
2009 — Tóquio/Japão Argentina
2013 — Sapporo/Japão
2014 — Tóquio/Japão
2016 — Bangkok/
Tailândia
2017 — Nanquim/China

Fonte: Adaptado de Bojikian, J. e Bojikian, L. (2012).

Com muitos títulos internacionais conquistados durante as últimas três

décadas, é possível pensar que o voleibol brasileiro é, atualmente, uma das
grandes potências mundiais. É evidente que podemos realizar algumas dis-
32 O voleibol e a sociedade: origem e evolução

cussões sobre como a mídia e o marketing esportivo, expresso por meio da

exposição das marcas nos uniformes, nas quadras e nos intervalos de jogo,
têm modificado o esporte, atribuindo características de uma mercadoria a
ser consumida. No entanto, o que buscamos neste capítulo foi apresentar o
percurso histórico do voleibol, desde seu surgimento nos Estados Unidos, sua
expansão mundial e a transformação dessa prática em um dos esportes mais
conhecidos e praticados pelos brasileiros.

1. O voleibol surgiu no ano de 1895, 2. A popularização do voleibol

na cidade de Holyoque, nos Estados
Unidos. Assim como o basquete,
esse esporte surgiu para suprir uma
necessidade específica. Analise
as alternativas abaixo e assinale
aquela que apresenta o principal
motivo para a criação do voleibol.
a) O voleibol surgiu como alternativa
às práticas esportivas existentes,
já que não havia alguma que
pudesse ser desenvolvida
no interior dos ginásios.
b) A principal razão para a
invenção do voleibol foi
proporcionar uma prática às
mulheres associadas da ACM.
c) O motivo que fez George
Morgan inventar o voleibol
foi proporcionar às crianças
carentes uma prática esportiva.
d) O professor Morgan inventou o
voleibol como uma alternativa
de prática para os senhores de
negócios, que não se adaptaram
ao basquetebol por, entre outras
características, ser violento.
e) A criação do voleibol remete
ao fato de que, em 1895, não
havia qualquer prática esportiva
na ACM de Holyoque.
ocorreu de forma muito rápida.
Em poucas décadas, a partir de
sua criação, ele já havia chegado
a diversos continentes. Assinale a
alternativa que apresenta o motivo
pelo qual esse esporte expandiu
seu número de praticantes em
poucos anos após a sua origem.
a) O principal fato que fez com
que o voleibol se expandisse
rapidamente foi a constituição
da Federação Internacional
de Volleyball 1 ano após
a criação do esporte.
b) Além da participação da ACM
em diversos países, as ações
militares também contribuíram
para que o esporte se
expandisse de forma rápida.
c) Em 1895, o voleibol era o único
esporte com regras possível
de ser realizado no interior de
ginásios, o que contribuiu para a
adesão de todas as instituições
de ensino ao esporte.
d) Tanto a bola quanto a rede
específicas para o voleibol já
haviam sido desenvolvidas
antes mesmo da criação
oficial do esporte, o que

contribuiu para que os norte-
americanos aceitassem a nova
prática de maneira fácil.
e) Uma das estratégias que
auxiliaram na divulgação do
esporte foi o fato de as primeiras
partidas serem realizadas
pelas classes populares.
3. De forma bastante recorrente, os
esportes apresentam diferenças
significativas quanto à participação
de homens e mulheres em
competições oficiais. Nas alternativas
abaixo, analise as assertivas e assinale
aquela que apresenta a informação
correta em relação às competições
de homens e mulheres no voleibol.
a) Por ser um esporte que
sofreu resistência do público
masculino, que preferia o
basquetebol, o voleibol iniciou
as competições mundiais com
a participação de mulheres.
b) Ainda que competições
nacionais femininas fossem
desenvolvidas em alguns
países, o primeiro campeonato
mundial de voleibol foi realizado
apenas por atletas masculinos.
c) No ano de 1949, com a grande
participação de mulheres no
voleibol, surgiu o primeiro
campeonato mundial de
voleibol feminino.
d) Ainda que amplamente
divulgado no meio feminino,
a primeira participação oficial
nos Jogos Olímpicos ocorrida
em Tóquio, em 1964, contou
apenas com atletas masculinos.
e) Por ser bastante difundido
entre homens e mulheres,
a primeira participação do
voleibol nos Jogos Olímpicos
contou com equipes mistas.
O voleibol e a sociedade: origem e evolução 33
4. Na década de 1980, o voleibol
se tornou um esporte bastante
praticado e de grande interesse da
população. Muitos títulos foram
conquistados pela seleção brasileira,
o que contribuiu ainda mais para a
ufania do público. Além disso, um
dos jogadores brasileiros inventou
uma forma de saque que era um
espetáculo à parte: ele lançava
a bola próximo à cobertura dos
ginásios durante os jogos. Analise
as alternativas a seguir e assinale
aquela que apresenta o nome pelo
qual o saque criado por Bernard, um
jogador brasileiro, ficou conhecido.
a) Viagem astral.
b) Viagem ao fundo do mar.
c) Jornada nas estrelas.
d) Saque viagem.
e) Saque por baixo.
5. No Brasil, o voleibol chegou entre
os anos de 1915 e 1916. Apesar de
sua inserção no início do século
XX, sua popularização ocorreu
algumas décadas depois. Analise
as alternativas a seguir e assinale
aquela que apresenta os fatores que
fizeram o esporte se popularizar
somente a partir da década de 1980.
a) Somente no ano de 1975, a CBV
passou a promover o marketing
esportivo, que facilitou o
envolvimento de empresas e o
televisionamento do voleibol e
contribuiu para o conhecimento
do esporte por toda a população.
b) Até a década de 1980, os militares
que estavam no governo
brasileiro eram avessos às
práticas esportivas e impediam a
criação de clubes e associações.
c) Durante o período da Guerra
Fria, que se iniciou em 1947,
os brasileiros demonstraram
34 O voleibol e a sociedade: origem e evolução

seu apoio aos soviéticos, futebol, que jamais havia vencido

rechaçaram o apoio às
práticas norte-americanas,
como voleibol e basquete.
d) A popularização do voleibol se
deve ao fato de os brasileiros
demonstrarem certo desânimo
com a seleção brasileira de
algum campeonato importante.
e) O ensino de práticas esportivas
no ambiente escolar só ocorreu
no final do século XX, mais
especificamente em 1996, com o
lançamento da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional.

AFONSO, G. Voleibol de praia: uma análise sociológica da história da modalidade (1985–

2003). 2004. 233 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Curso de Pós-Graduação
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BOJIKIAN, J. C. M; BOJIKIAN, L. P. Ensinando voleibol. 5. ed. Guarulhos: Phorte, 2012.
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Leituras recomendadas
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MACHADO, A. A. Voleibol: do aprender ao especializar. Rio de Janeiro: Guanabara
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SCHMIDT, R.; LEE, T. Aprendizagem e performance motora. 5. ed. Porto Alegre: Artmed,
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