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PREFÁCIO
1. ENCARNAÇÕES PERDIDAS
7. A COBRANÇA
CONCLUSÃO
PREFÁCIO
Salve Deus!
Salve deus! Este livro pode ser copiado livremente, bem como
postado, publicado e reproduzido, no todo ou em partes, em qualquer
meio de comunicação; apenas devendo ser mantido o texto na
íntegra, sem qualquer alteração.
Salve Deus!
Pai Benedito de Aruanda
4. JOSÉ EDUARDO E JOÃO
Desde que João chegou ao Vale do Amanhecer foi tomado por uma
grande paz e alegria. Até aquele dia tinha tido uma vida normal, sem
altos e baixos, sem grande felicidade, mas, também, sem grandes
sofrimentos. Mas, quando conheceu a Corrente, teve a certeza que ali
estaria sua missão real e verdadeira a ser realizada. Mostrou-se um
Jaguar reservado, sério até. Muito prestativo, sempre se dispunha a
ajudar e a cooperar. Porém, João era um ser muito limitado, pois apesar
da não muito boa aparência física, não tinha boa voz e articulava as
palavras com péssima dicção, demonstrava ter muita dificuldades para
entender o que os outros diziam para ele. Parecia, na verdade, meio
abobalhado.
No mesmo templo, havia um instrutor, com “muitos anos de
estrada”, como gostava de dizer: “Rama 2000”. Com muitas plaquinhas
no Colete, motivo de seu orgulho mediúnico e com muito orgulho na
cabeça, de cara, não simpatizou com João, o novo Doutrinador
desenvolvente, que chegou e iniciou suas aulas com José Eduardo. José
Eduardo achou-o bronco, inseguro, não conseguindo memorizar as
chaves, sempre improvisando durante a doutrina, incluindo palavras,
tirando palavras que constava das orientações, colocando palavras
como: paz, amor, luz. Sendo que, para cada sofredor, fazia uma
doutrina diferente, o que irritava demais José Eduardo, que gostava de
mandar e ser obedecido. O instrutor, Mestre José Eduardo, sempre
perdia a paciência com João, sendo muitas vezes, até grosseiro, quase
agressivo. João, por sua vez, parecia nem perceber a atitude do José
Eduardo e, muitas vezes, agradecia, as correções do instrutor com um
“Deus lhe pague, Mestre” ou um “Salve Deus!” ou um simples
“obrigado”, atitude que irritava mais ainda a José Eduardo que vibrava,
negativamente, em João; nestas horas, ainda que inconscientemente,
José Eduardo, e pensava:
- Este camarada é bobo ou burro!
Neste quadro, João deu seu Primeiro Passo Iniciático. O
sentimento de José Eduardo em relação a João em nada mudou. José
Eduardo não perdia uma oportunidade para humilhar João, embora
muitas vezes fazendo a humilhação sob uma capa de humildade, como
se quisesse ajudá-lo, pois João ainda não tinha segurança para falar
chaves e mantras. Nesta situação, José Eduardo chamava a atenção de
João na frente de outros médiuns, e até de pacientes. Dizia: “estou lhe
mostrando o seu erro para o seu bem, viu, Mestre?” (e dizia a palavra
“Mestre” com ironia). João, em sua simplicidade, sem perceber o
objetivo do outro, sempre agradecia, crente que José Eduardo queria
ajudá-lo! Ao que José Eduardo entendia que, este comportamento de
João era para irritá-lo cada vez mais, ou para mostrar uma humildade
que este não tinha. João cumpriu o Ritual de Elevação Espada e de
Centúria, e, iniciando a vida missionária como comandante, ainda
vencendo as primeiras dificuldades, as primeiras inseguranças,
demonstrava firme propósito em acertar, sempre agindo com Amor e Fé.
Mas, para José Eduardo a atitude de João era motivo para trazer para si
uma irritação incontrolável, e fazia-se cheio de ódio, ao ponto de desejar
esganar o pobre. Cada erro de João, cada hesitação, cada engasgo era
uma vitória para José Eduardo, que demonstrava sua irritação para com
o mesmo; chegou a aconselhar ao Adjunto que retirasse João das
Escalas de Comando, alegando que ele não sabia comandar e que não
ficava bem para o templo um comandante tão inseguro em suas ações e
palavras. José Eduardo não perdia uma oportunidade de fazer piadas
sobre João imitando-o, destacando, com sarcasmo, seus gestos e modo
de falar. Dizia que não sabia como o “camarada” podia ser tão burro ao
ponto de enfiar os pés pelas mãos, chegando a não memorizar sequer as
chaves ritualísticas. O que José Eduardo não sabia é que João,
conhecedor de suas limitações, sempre pedia o auxílio e amparo de seus
mentores, ligando-se intimamente, pelos laços da oração e da vibração
com seu cavaleiro e ministro, sempre se colocando à disposição do astral
para os trabalhos que pudesse realizar, sempre com o objetivo de ajudar
aos mais necessitados. O Mestre João não tinha o comando como motivo
de orgulho e, sim, como dever a ser cumprido, que realizava com
grande equilíbrio e Fé! Após alguns anos, João precisou mudar de cidade
e mudou para outro estado, sendo que por este motivo João e José
Eduardo se separaram. Porém o ódio do segundo pelo primeiro durou
ainda por muito tempo, e não perdia tempo em comentar nas rodinhas
de conversa o comportamento do mestre João; muitas vezes, nas aulas
de Iniciação, se referia ao mesmo como exemplo de má atitude de um
Jaguar. Como estava sempre cercado por outros médiuns, mantinha sua
atitude altiva, quase prepotente, portador de grande capacidade
comunicativa, sempre tinha à sua volta Jaguares e, especialmente
Ninfas, atraídas por sua bela figura, riso fácil, sempre fazendo uma
graça ou piada, sempre derramando elogios sinceros ou não, às
mesmas, era o centro de atenção sempre que estava no templo. Depois
de um tempo não pensava mais de João, o fazendo apenas, quando
alguém dele se lembrava, o que fazia o ódio e desprezo tomar conta de
seu espírito e de seu pensamento, o que o envolvia numa energia densa
e perigosa.
Muitos anos depois, já idoso José Eduardo desencarnou. Após
tantos anos de doutrina, já Adjunto, com um grande Povo, foi
reverenciado como um grande comandante de Seta Branca, tendo
recebido inúmeras demonstrações de afeto e respeito por grande parte
do corpo mediúnico. E, José Eduardo chegou ao mundo espiritual,
deixando para trás as homenagens e lembranças de sua passagem pela
terra e foi recebido por várias entidades espirituais; José Eduardo
percebeu, contrariado que, entre os espíritos encontrava-se João, que
mantinha a mesma aparência simplicista que sempre o irritou. “Não é
possível que este camarada veio me receber!” - pensou José Eduardo e
fingiu não reconhecer o espírito que suavemente lhe sorria. Porém, João
se aproximou do mesmo e, rindo, com os braços abertos para um
abraço, se aproximou de José Eduardo que estendeu muito contrariado a
mão, que foi apertada com alegria.
- Salve Deus, meu mestre! Que bom revê-lo!
- Que faz você aqui, João? - perguntou José Eduardo bastante
contrariado. E sem qualquer vontade de esconder seus sentimentos.
João ia responder; mas, um mentor chamou-o para resolver uma
emergência e este, que não deixava transparecer que percebia a
irritação de José Eduardo, sempre sorrindo e feliz por estar recebendo
uma pessoa muito amada, disse:
- Preciso ir; depois conversamos, Mestre! Fique com Deus.
José Eduardo, neste momento, deixou a vaidade aflorar e pensou
se aquele bobo alegre do João estava atuando junto com os mentores,
imagine ele, um Adjunto, um Comandante exemplar! Certamente ele
estaria mais preparado para ocupar um bom lugar ali no astral e
desenvolver um trabalho de grande responsabilidade. Quem sabe, ser
um Cavaleiro de Oxossi, como o boboca do João ou até mesmo
incorporar como Preto Velho no Amanhecer!
Neste exato momento, seu Ministro e Cavaleiro chegaram e
pediram que os acompanhassem, pois era chegada a hora de verem sua
contagem, centil por centil, e saber como cumprira sua missão, como
usara sua encarnação. Confiante e tranquilo, José Eduardo seguiu os
mentores.
Como acontece, acompanhou toda a sua jornada na tela fluídica e,
em seu entendimento, nada viu que o condenasse. Tudo era aceitável
dentro de sua evolução e, se nada fizera de extraordinário, também
nada fizera de desastroso. Na sequência de seu convívio com João,
apesar de agora, na roupagem espiritual, perceber que agira com
sentimentos contrários às Leis Crística, entendeu que agira daquela
forma por ser um ser encarnado, com direito a alguns equívocos, como
qualquer ser humano. Porém, este entendimento caiu por terra ao
saber, pelos mentores, que o mais importante em sua jornada era o
reajuste com João. Pela importância de seu encontro com João, foi
concedido que acontecesse dentro do Vale do Amanhecer e não numa
relação de parentesco, de trabalho ou de convivência social, onde as
aparências são maquiadas pela conveniência. Mas, no Vale do
Amanhecer, sob os ensinamentos de Jesus, sem campo para
competições ou falsos sentimentos, estão as condições ideais para a
evolução. Pois ali nada é necessário a não ser o Amor, a Tolerância e a
Humildade.
- Filho, disse-lhe seu Cavaleiro, chamando sua atenção para uma
cena da tela, preste atenção neste quadro.
E na tela surgiu a figura de um homem que sabia ser a sua, há
tempos atrás, matando covardemente João, na época do crime, seu
irmão de sangue, por inveja do que achava que, o mesmo representava
na província onde viviam como filhos de um rico fazendeiro...
João, espírito evoluído, aceitou retornar em nova encarnação e
reencontrar com José Eduardo, estando em uma situação “inferior” e,
assim, possibilitá-lo, pelo reajuste, a pagar sua dívida. Pois a dívida da
vida pregressa ainda lhe perturbava o espírito, inconscientemente. Com
a morte de João, que recebeu o título de comendador, homenagem
sincera do imperador e a mão de uma senhorinha que também era
objeto do desejo do irmão assassino, este não conseguiu o que
almejava: o sucesso e a projeção social; viveu e morreu sem qualquer
glória. Também não conseguiu casar-se nem com a senhorinha, nem
com qualquer outra, pois descoberto o seu crime, morreu na prisão;
confirmando, assim, a falta de caráter que todos conheciam.
João, por sua vez, tendo vivido pouco tempo e morrido nas mãos
de seu irmão mais velho, com requintes de maldade, não lhe guardou
nenhum rancor e, ainda naquela existência se tornou mentor do mesmo,
espírito amigo a lhe acompanhar, sempre buscando a evolução do
irmão.
O Ministro deu um passo à frente e colocou a mão no ombro de
José Eduardo, que arrepiou, e disse-lhe:
- Meu filho; filho querido do meu coração, você achava que só há
missão na casa de Pai Seta Branca, achava que ter oportunidade de
evoluir tantos sofredores bastava para te fazer realizado? Que somente
o comparecimento na santa casa espiritual seria o bastante para te fazer
evoluir?
Neste momento, José Eduardo lembrou-se de uma frase que
sempre dizia, quando era instrutor da Iniciação, que falava naquelas
longínquas manhãs de domingos, aos médiuns iniciantes que o
escutavam. Naquela hora, parecia ouvir as palavras diretamente da boca
do Pai Simiromba, embora tivesse consciência que a voz que ouvia era a
de sua própria consciência: “apressa-te, filho, para não deixardes
escapar nenhuma ovelha do teu rebanho, que o teu carma te entregou.
Não deixe que partam sem a tua compreensão, sem o teu calor vital”.
José Eduardo sequer olhou para o mentor, porque neste momento,
foi ofuscado pelo brilho que do mesmo emanava. E pode perceber que
sua situação espiritual lhe impedia até mesmo de encarar o rosto de seu
Ministro. E chorou arrependido. Chorou ao compreender que ele, que
tanto tinha se dedicado à sua missão, se empenhando por ser um bom
Jaguar, errou ao perseguir e humilhar sua vítima do passado, durante a
breve convivência com o mesmo no Vale do Amanhecer. E mesmo
estando, materialmente falando, em situação superior ao de sua vítima:
melhor aparência física, melhor condição mental e psicológica,
capacidade de se comunicar, posição na Doutrina, etc. Ainda assim não
teve sequer compaixão pelo mesmo. Percebeu como era involuído, pois
nem o sangue de sua vítima foi suficiente para aplacar todo o ódio,
inveja e ciúme que sentia e assim, conservando estes sentimentos se fez
seu próprio cobrador, uma vez que, sua vítima há muito o havia
absolvido pelo perdão. Na encarnação agora encerrada; não só foi
incapaz de pagar sua dívida para com seu irmão, sua vítima do passado,
mostrando que estava evoluído a ponto de reencarnar apenas para
ajudá-lo a evoluir também. Ainda assim, sendo o algoz, devedor,
manteve nesta nova oportunidade o ódio, o rancor, a inveja e o ciúme,
tendo sua dívida não apenas não quitada como acrescida de alguns juros
cármicos...
José Eduardo soube, naquele momento que, apesar de ter
demonstrado Amor, Tolerância e Humildade durante toda a sua jornada
na Terra com tantos encarnados e desencarnados que se aproximaram
dele por consequência de sua missão como Jaguar; faltou ter este
sentimento para com aquele a quem mais devia, a quem mais
necessitava acolher como verdadeiro irmão!
José Antônio abaixou a cabeça. Nada lhe restava senão pedir nova
oportunidade a Deus Pai todo poderoso e se preparou para ir ao Canal
Vermelho. Percebeu que alguém lhe abraçava, com amor. Abriu os olhos
e viu-se abraçado por João que envolto em uma luz brilhante e intensa,
um verdadeiro Cavaleiro de Oxossi, que lhe mostrava, neste abraço, o
verdadeiro Amor incondicional.
Salve Deus!
Pai Benedito de Aruanda
Que Deus nos abençoe!
CONCLUSÃO