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t . Les PanotNIl e Ora.

Leslie Parioff

Digitalizado por:

T ra d u ç ã o
D e n i s e A v a lo n e
°2000, de Les e Leslie Parrott
Título do original * Savingjour marriage before it starts,
edição publicada pela
ZONDERVAN PUBLISHING HOUSE,
(Grand Rapids, Michigan, eua ).
A primeira edição em português foi
publicada em 1998 com o título
Como salvar seu casamento

Todos os direitos m línguaportuguesa reservadospor

Rua Júlio de Castilhos, 280


Belenzinho, São Paulo, SP
CEP ■ 03059-000
Telefax* 0 xx 11 6096-6833
www.editoravida.com.br

P r o ib id a a r e p r o d u ç ã o p o r q u a is q u e r m e i o s ,

SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Categoria ■ Casamento/Família
Todas as citações bíblicas foram extraídas da
Edição contemporânea de Almeida (eca ), «1990, de Editora Vida,
salvo indicação em contrário.


Gerência editorial ■ Reginaldo de Souza
Preparação de texto « Fabiani S. Medeiros
Diagramação ■ Idéia Dois
Capa ■ Douglas Lucas

EDITORA FILIADA A

CBL
Câmara Brasileira do Livro
Jr^ ra os casais Richard— Carol e
Roger—Mary Lou, que mantiveram
o compromisso mútuo
e demonstraram ser modelos
de maturidade no casamento.
S u m á r io

Agradecimentos................................................................. 9
Considerações preliminares............................................. 11

Primeira Pergunta
Você enfrentou os mitos do casamento
com honestidade?.............................................................. 17
Segunda Pergunta
Você é capaz de reconhecer
seu modo de amar?............................................................ 37
Terceira Pergunta
Você tem o hábito de ser feliz?......................................... 63
Quarta Pergunta
Você consegue expressar o que está pensando
e compreender o que ouve?............................................. 85
Quinta Pergunta
Você venceu a barreira entre os sexos?........................... 109
Sexta Pergunta
Você sabe “combater um bom combate”? ...................... 133
Sétima Pergunta
Vocês são almas gêmeas?.................................................. 157

N o ta s ............................................................................................ 181
A g r a d e c im e n t o s

J \_gradecemos profundamente às várias pessoas que


contribuíram para a elaboração deste livro. A equipe
Zondervan, como sempre, foi extraordinária. Ficamos
surpreendidos e confiantes com o apoio visionário do
diretor de publicações, Scott Bolinder. Nossa editora de
texto, Sandy Vander Zicht, e sua assistente, Lori Walburg,
além de profissionais talentosas, são pessoas especiais. É
um prazer trabalhar com elas, sobretudo acompanhados
de comida chinesa. A gerente de publicidade, Christine
Anderson, contribuiu para este projeto com a marca
registrada de seu charme, sensatez e sabedoria.
Agradecemos a Steve e Thann Moore, Dennis e Lucy
Guernsey e John e Cay Shimer, que nos ajudaram a dar
asas à nossa idéia de salvar os casamentos antes mesmo
de se concretizarem. O dr. Joy Hammersla, diretor de
pesquisas do Centro p a r a o desenvolvim ento d e relacio­
namentos, cuidou, de modo meticuloso e competente, para
que nosso trabalho fosse eficiente, e por isso lhe somos
gratos. Nossa auxiliar de escritório, Joyce Pipkin, foi de
grande ajuda e facilitou nossa vida de muitas maneiras. As
habilidades de pesquisa de Kari Newbell foram colocadas
à prova neste projeto, mas muitas vezes ela nos descobriu
ouro em seu garimpo pelas bibliotecas. Jeff Judy, sempre
otimista e incansável, também foi de grande ajuda para
que nosso projeto desse certo.
Dificilmente este projeto teria evoluído não fosse pela
bondade de John Woodyard, de Drew Anderson e dos
membros do Murdock Charitable Trust, os quais ajudaram
a estabelecer o Centro p a r a o desenvolvim ento d e rela ­
cion am entos no campus da Universidade do Pacífico, em
Seattle. Nossos agradecimentos a essas pessoas e a nossa
universidade, sob o comando do dr. Woody Self, que cuida
de um centro dedicado ao ensino de relacionamentos
saudáveis.
Enquanto este livro era escrito, íamos percebendo quanto
dependíamos de grandes figuras. Foi o caso dos professores
John Gottman, da Universidade de Washington, Howard
Markman e Scott Stanley, da Universidade de Denver, Clifford
Notarious, da Universidade Católica da América em
Washington, Deborah Tannen, da Universidade Georgetown,
David Olson, da Universidade de Minnesota, Robert e
Jeanette Lauer, da Universidade Internacional de San Diego,
Robert Sternberg, da Universidade Yale e Everett Wor-
thington, da Universidade Virginia Commonwealth, para
mencionar apenas alguns. Tivemos o apoio também do
jornalista Mike McManus, com sua veemente necessidade
de salvar casamentos antes que se concretizem. A todos,
nossos profundos agradecimentos.
Finalmente, gostaríamos de expressar nossa gratidão a
centenas de casais e orientadores matrimoniais que parti­
ciparam dos seminários sobre o tema deste livro. Foi uma
honra poder participar de suas jornadas matrimoniais.

10
C o n s id e r a ç õ e s
PRELIMINARES

H o fizemos aconselhamento pré-nupcial, mas passa­


mos nosso primeiro ano de casados fazendo terapia. Uma
vez por semana, íamos até um conselheiro que nos ajudava
a passar a limpo coisas que jamais havíamos percebido antes
de casar. Não que estivéssemos com um grande problema.
Mas tínhamos aquela idéia ingênua de que, após o casa­
mento, nos adaptaríamos naturalmente à nova vida, e, por
isso, um curso preparatório ou de aconselhamento nunca
nos passou pela cabeça. Namoramos seis anos e estávamos
casados havia nove meses. Tínhamos muito em comum
(até mesmo o primeiro nome). Simplesmente pensávamos
que bastava trocar as alianças, montar uma casa e, como
dizem os contos de fada, “viver felizes para sempre”.
Mas não foi isso que aconteceu. Os primeiros anos de
casados foram difíceis desde o início. Literalmente. Na
limusine, ao sairmos da igreja, quando estávamos dando
adeus à nossa família e amigos pelos vidro traseiro do
carro, eu (Leslie) comecei a chorar.
— Qual o problema? — perguntou Les.
Continuei a chorar e não respondi.
— Você está feliz ou triste? — Les colocou o braço sobre
meus ombros, esperando uma resposta. Quando viu que
não ia dizer nada, perguntou de novo:
— O que você está sentindo?
— Não sei — disse choramingando. — Não sei mesmo.
Les apertou-me em seus braços. Eu sabia que o estava
magoando, mas não tinha idéia do que dizer nem sabia
por que estava me sentindo tão triste.
Naquela tarde de 30 de junho de 1984, seguimos para o
aeroporto sem dizer nada, e o silêncio só quebrado pelo
barulho das latas amarradas atrás do carro. No terminal
enfumaçado do aeroporto O’Hare, esperamos nosso vôo,
confusos sobre o que acabara de acontecer conosco.
Estávamos mesmo casados? Mas eu não me sentia casada.
Éramos recém-casados, mas nos sentíamos mais como
refugiados.
Depois de embarcar no avião, sentamos exaustos. Tanta
energia e tempo gastos com a cerimônia de casamento! E
tudo saíra conforme planejado. Mas... e agora? Estávamos
sentados nas poltronas daquele avião, desgastados emocio­
nalmente, pensando sobre o significado do casamento. O
que era, afinal, estar casado? Por que não nos sentíamos
diferentes? Quem era essa pessoa com quem me casei, na
verdade?

Na a le g ria ou n a tris te z a ?

Vamos ser francos. O voto matrimonial “até que a morte


nos separe”, feito na hora da troca de alianças, é cada
vez mais irônico. Na década de trinta, um entre sete casa­
mentos terminou em divórcio. Na de sessenta, a proporção
era de um para quatro. Dos 2,4 milhões de pessoas que
se casarão este ano (1995) nos Estados Unidos, provavel­
mente menos de 50% delas continuarão casadas. Para
muitos casais, o casamento tornou-se “até que o divórcio
nos separe”.
Quem se casa hoje em dia está-se arriscando. Mais de
duzentos mil novos casamentos por ano terminam antes do
12
segundo aniversário. Depois de jogar o buquê da noiva e
devolver o smoking alugado, os casais em geral imaginam
que serão felizes juntos. Mas um estudo sobre recém-casados
revelou que 49% têm sérios problemas conjugais. Metade
dessas pessoas já duvidava se seu casamento ia durar.1
A verdade é que a maioria dos casais comprometidos
prepara-se mais para a cerimônia de casamento do que
para o próprio casamento. A indústria do casamento, que
fatura vinte bilhões de dólares ao ano, pode comprovar o
fato. De acordo com especialista^, uma média de 200
convidados por cerimônia custa hoje entre 15 e 30 mil
doláres.2 Por mês são vendidos mais de um milhão de
exemplares de revistas de noivas, abordando principalmente
a cerimônia matrimonial, a lua-de-mel e a decoração de
interiores, mas não o casamento em si.
Olhando para trás, parece tolice Les e eu nos termos
preparado tanto para a cerimônia de casamento e tão pouco
para o matrimônio. Mas a verdade é que menos de um
quinto dos casamentos nos Estados Unidos têm algum
preparo formal para a vida a dois.3
Imagine o que aconteceria se a mesma quantidade de
tempo, energia e dinheiro fosse investida no matrimônio.
Em geral, a organização de uma cerimônia perfeita recebe
mais atenção do que o planejamento de um casamento de
sucesso. E a falta de planejamento é o principal sabotador
da relação.
A depressão pós-casamento é comum após a agitação
de uma cerimônia elaborada. “A euforia emocional de or­
ganizar os convites, escolher a música da cerimônia e o
tipo de porcelana tirou minha atenção do que realmente
estava para acontecer”, contou-nos uma noiva. “A cerimônia
era algo mais tangível e menos arriscado que o casamento
em si. Voltei-me totalmente para a cerimônia e esperei que

13
tudo fosse dar certo.” Há muito tempo a tendência tem si­
do apaixonar-se, casar-se e esperar que tudo dê certo.
Este livro oferece uma abordagem diferente.

C omo p r e v e r u m ca sa m en to f e l iz

Nas duas últimas décadas, especialistas em casamento


têm pesquisado os ingredientes de um casamento feliz.
Por isso, atualmente sabemos mais sobre como construir
um casamento feliz do que jamais se soube. Por exemplo,
os casais felizes têm:

• boas expectativas quanto ao casamento;


• conceito realista sobre o amor;
• atitude e perspectiva positiva em relação à vida;
• capacidade de expressar sentimentos;
• compreensão e aceitação das grandes diferenças;
• capacidade de tomar decisões e resolver discussões;
• base espiritual e objetivos comuns.

Tudo o que se pode prever como fundamental para um


casamento é tratado nas sete perguntas que apresentamos
neste livro. Todo casal deve levar em conta essas questões
antes (e depois) do casamento. Parar para pensar nelas é
o mesmo que investir em uma apólice de seguro contra
divórcio.
Este livro baseia-se no fato de que o casamento não tem
de ser um jogo. Como psicólogo (Les) e terapeuta matri­
monial e familiar (Leslie) que aconselham centenas de casais,
aprendemos que viver felizes para sempre não depende de
nenhum segredo, mas sim do domínio de certas habilidades.
Embora a vida conjugal sempre tenha momentos difíceis,
você pode melhorar seu relacionamento pronta e radical­
mente se aprender alguns princípios de vida.
14
Muitos casais jogam a culpa em sogro, sogra, cunhados,
dinheiro e sexo como se fossem as causas de rompimentos
ou insatisfação conjugal. Contudo, os pontos fracos do
casamento geralmente são a falta de comunicação, as
diferenças entre os dois sexos e a falta de saúde espiritual,
para mencionar alguns. Este livro vai direto ao cerne de
cada conflito conjugal. Se você for solteiro e estiver
namorando, se tem um compromisso sério, pensa em
casamento ou já está casado, este livro o ajudará a aprender
as habilidades de que precisa para ter uma vida a dois feliz
e duradoura, antes que seja tarde demais.
No final de cada capítulo, apresentamos perguntas para
meditação que servem de ponto de partida para conversas
entre casais ou grupos pequenos.
Este livro foi escrito com o coração. Sentimo-nos
emocionados por oferecer a uma nova geração de casais a
oportunidade de nos acompanhar desde a “largada” e extrair
os princípios de um casamento duradouro. Durante esse
processo, você descobrirá a mais profunda e radical expres­
são de intimidade que duas pessoas podem conhecer.

Les e Leslie Parrott


Centro para o desenvolvimento de relacionamentos
Universidade do Pacífico em Seattle
Seattle, WA 98119
Estados Unidos da América

15
omos envenenados pelos contos de fadas.
A n a is N in

P r im e ir a P e r g u n t a :

V o c ê e n f r e n t o u os
MITOS DO CASAMENTO COM
HONESTIDADE?

Tom e Laura procuraram-nos com apenas nove meses


de casados. Tinham acreditado na história do “felizes para
sempre” e agora passavam por maus bocados.
— Antes do casamento não conseguíamos ficar longe
um do outro — revelou Laura. — Fazíamos quase tudo
juntos e pensei que o nosso casamento seria assim, e até
mais — ela fez uma pequena pausa. — Mas agora Tom
precisa de mais espaço. Ele não parece mais a pessoa com
quem me casei.
Tom revirou os olhos enquanto Laura continuava a falar:
— Ele costumava ser tão atencioso e prestativo antes de
nos casarmos...
— Ah, e agora eu sou o maior relaxado? — interrompeu
Tom.
— Claro que não, você... ou talvez nós, somos diferentes
agora.
Tom olhou para Laura, mexendo nervosamente a aliança
no dedo:
— O casamento também não é o que eu esperava. Eu não
achava que seria uma eterna lua-de-mel, nem nada parecido;
só pensei que você tomaria minha vida mais fácil. Em vez
disso, quando chego do trabalho, você só pensa em sair ou...
— Eu faço o jantar toda
“E eles viveram felizes noite para você — inter­
para sempre” é uma rompeu Laura.
das frases mais Surpresos por não conse­
infelizes da literatura. guirem conter as emoções
É infeliz porque é diante de nós, ficaram em
falsa. É um mito que silêncio e nos olharam como
levou gerações a se dissessem: “Viram? Nosso
esperar algo casamento não está dando
impossível do certo”.
casamento. Tom e Laura se casaram
JOSHIJA LiEVMAN
acreditando que a felicidade
fluiria naturalmente. Tinham
ouvido falar que o casamento exigia bastante dedicação,
mas não esperavam que essa dedicação durasse 24 horas,
sete dias da semana.
A crença na eterna felicidade após o casamento é um
dos mitos mais difundidos e destrutivos. Mas é apenas a
ponta do iceberg. Todo casamento difícil é atormentado
por uma grande variedade de conceitos errôneos sobre
como deve ser a vida conjugal.1 Neste capítulo, contudo,
levamos em conta apenas as idéias mais prejudiciais e
comuns:

“Nada mudará quando nos casarmos.”


“Tudo que temos de bom em nosso relacionamento ficará
ainda melhor.”
“Tudo de ruim em nossa vida desaparecerá.”
“Meu cônjuge me completará.”

18
O objetivo deste capítulo é desmitificar o casamento.
Por muito tempo, o casamento esteve atrelado a expec­
tativas irreais e suposições errôneas. Livres desses mitos,
os casais podem enxergar o verdadeiro universo do
casamento, com todas as suas alegrias e tristezas, amor e
sofrimento.

P r im e ir o m it o : “ N a d a m u d a r á q u a n d o n o s c a sa r m o s”

O que prevemos raramente acontece, e o que menos


esperamos geralmente é o que acontece, sobretudo no
casamento. A resposta “Sim, aceito” traz consigo muitas
expectativas conscientes e inconscientes que nem sempre
se concretizam.
Neil e Cathy, casal por volta dos trinta anos de idade,
juntos há quatro, tinham uma boa idéia de como seria a
vida a dois, mas nunca compartilharam seus pensamentos
um com o outro. Como a maioria dos recém-casados, cada
um acreditava que o outro tinha a mesma visão do casamento.
Entretanto, nada poderia estar mais longe da verdade.
Cathy: “Achava que nossa vida de casados traria maior
estabilidade e segurança. Para mim, seria como trabalhar
no jardim juntos.”
Neil: “Queria que nosso casamento fosse excitante e
espontâneo e não uma rotina monótona. Para mim, seria
como andar de moto juntos.”
Já na infância, Neil e Cathy começaram a sonhar como
seria a vida de marido e mulher. Foram educados de acordo
com um modelo de “vida conjugal”. Leram livros que des­
creviam relacionamentos amorosos. Assistiram a programas
de t v e filmes que mostravam cenas do casamento. Por
anos fantasiaram como seria a vida depois que passassem
para o outro lado. Com um pouco de esforço, formaram
uma idéia de como seria e deveria ser a vida conjugal.
19
Consciente ou inconscientemente, Neil e Cathy pintaram
quadros mentais da vida conjugal, mas nunca ocorreu a
nenhum deles que o outro pudesse usar uma paleta de
cores diferentes. Cada um simplesmente supôs que o
parceiro para toda a vida trabalharia com cores que
combinassem e teria um estilo semelhante.
O primeiro ano de casamento, contudo, revelou fortes
e inesperados contrastes. O que para Cathy significava
segurança, para Neil era entediante. Eles avaliaram quase
as mesmas coisas, mas com níveis de intensidade dife­
rentes. Cathy usou traços delicados em tom pastel; Neil
esboçou algo mais arrojado com cores primitivas.
A maior parte das expectativas incongruentes pode ser
dividida em duas grandes categorias: regras veladas e papéis
inconscientes. Quando tratamos disso abertamente, pode­
mos evitar anos de desgaste em um casamento recente.

Regras tácitas
Todo o mundo vive de acordo com um conjunto de
regras raramente declaradas, mas sempre conhecidas. É
desnecessário dizer que as regras veladas revelam a força
que têm quando um dos cônjuges as “quebra”. Isso ficou
bem claro para nós quando visitamos nossas famílias pela
primeira vez depois de casados.
No Natal, tomamos o avião de Los Angeles para Chicago
para passar o feriado com nossos parentes. A primeira
noite foi em minha casa (de Leslie). Como era costume lá
em casa, acordei cedo para aproveitar cada minuto com a
família. Les, por sua vez, continuou dormindo.
Interpretei o que ele fez como uma tentativa de evitar e
rejeitar minha família, sentindo como se não desse valor
ao tempo que passaria com eles.

20
— Eu quase morri de vergonha — disse a Les. — Todo
o mundo está acordado e comendo na cozinha. Você nem
sente vontade de ficar junto com a gente?
Les, contudo, não entendeu minha insistência.
— O que eu fiz de errado? Só estou tentando me
recuperar do fuso horário. Vou descer depois que tomar
um banho.
Como descobri mais tarde, Les esperava ter um ritmo
mais lento e descomprometido durante o feriado, pois era
assim em sua casa.
Nesse incidente, Les havia quebrado uma regra que não
sabia existir, e eu descobri outra que nunca tinha posto
em palavras. Sentimo-nos incompreendidos e frustrados.
Cada um tinha uma idéia sobre o que era aceitável, e nunca
nos ocorreu que nossas expectativas pudessem ser tão
diferentes. Ficamos irritados com as expectativas não
declaradas um do outro e frustrados por não vivermos
segundo as mesmas regras.
Desde aquele primeiro Natal, aprendemos a conversar
sobre nossas expectativas interiores e expor nossas regras
veladas. Também esperamos que os casais a quem aconse­
lhamos se tornem mais conscientes de suas regras veladas,
para evitar que coisas pequenas se transformem em grandes
problemas. Veja alguns exemplos de regras que encon­
tramos entre outros casais:

• Não interrompa o trabalho do outro.


• Não peça ajuda a não ser em casos extremos.
• Não se vanglorie de seus êxitos.
• Não fale sobre problemas financeiros em público.
• Nunca chame a atenção para si.
• Não ofereça ajuda.
• Não trabalhe demais, nem por muito tempo.

21
• Não fique doente.
• Nunca grite.
• Não fale sobre seu corpo.
• Não apareça em casa tarde da noite.
• Deixe a cozinha em ordem antes de ir para a cama.
• Não fale sobre seus sentimentos.
• Não dirija perigosamente.
• Nunca peça sobremesa em um restaurante.
• Não leve tudo a sério.
• Não compre presentes caros.

Papéis inconscientes
A segunda origem de expectativas discordantes envolve
os papéis inconscientes em que você e seu parceiro se
encontram, quase involuntariamente. Assim como o ator
segue um roteiro em uma peça de teatro, os casais também
têm um script para seguir. Mesmo sem perceber, o noivo e
a noiva são levados a desempenhar um papel que resulta
de um misto de temperamento, criação familiar e expec­
tativas quanto ao casamento.
Mark e Jenny mergulharam em seus papéis incons­
cientes ao retornar da lua-de-mel e começaram a montar
a casa, a mobília, a arrumar os guarda-roupas e a pendurar
os quadros. Antes que percebessem, já estavam brigando.
— Onde você quer pôr esta mesa? — perguntou Mark.
— Não sei; onde você acha que ela deve ficar?
— Apenas me diga onde eu devo pô-la! — ele disse,
impaciente.
E essa cena repetiu-se muitas e muitas vezes: cada um
esperava que o outro tomasse a decisão, mas nenhum se
decidia.
Inconscientemente, Jenny e Mark estavam desempenhando
os papéis que observaram em suas famílias. O pai de Jenny,
22
aquele tipo de pessoa “faça você mesmo”, com bom gosto
para decoração, tinha todas as ferramentas certas e estava
sempre pronto a arrumar as
coisas. A mãe dela simples­ Muitas pessoas não
mente ajudava-o quando neces­ ficam nem com a
sário. O pai de Mark, por sua prata porque queriam
vez, era um executivo ocupado encontrar ouro.
que mal sabia trocar uma lâm­ M a u r ic e S e it t e r

pada queimada; e era a mãe


de Mark quem organizava tudo. Inútil dizer: Mark e Jenny
assumiram os papéis “reservados” a eles como marido e
mulher, imaginando por que o outro não estava fazendo a
parte que lhe cabia.
É incontável o número de papéis inconscientes em que os
maridos e as esposas se encontram. Os mais comuns são:

• o planejador
• o navegador
• o comprador
• o guardador de segredos
• o cozinheiro
• o comediante
• o que gosta de dar presentes
• o faxineiro

Se vocês forem como a maioria dos casais, tentarão seguir


os roteiros escritos nos mesmos moldes em que foram
criados. Perceber essa tendência natural é tudo o que se
precisa para evitar o drama da decepção. Depois que o
casal se torna consciente do papel que cada um tende a
assumir, fica mais fácil escrever um novo roteiro juntos.
Por causa dos papéis predeterminados, Mark e Jenny
passaram o primeiro ano de casados sem pendurar um

23
CASAMENTO

único quadro! Somente após o aconselhamento descobriram


o motivo dos impasses e tomaram a decisão de mudar
seus papéis inconscientes e predeterminados. Como disse
Jenny:
— Ao escrever nós mesmos o roteiro, sentimos estar
construindo nosso casamento, não agindo como robôs.
As expectativas que você tem quanto ao relacionamento
podem moldar ou desfazer seu casamento. Não desperdice
os melhores momentos da vida a dois porque seus ideais
não combinam com os de seu parceiro. Não acredite no
mito de que vocês têm as mesmas expectativas em relação
ao casamento. Em vez disso, lembre-se de que, quanto
mais francamente conversarem sobre suas diferentes expec­
tativas, mais oportunidades terão de criar uma visão do
casamento com a qual concordem — e isso é algo que
somente vocês dois podem fazer.

S e g u n d o m it o : “ T u d o q u e t e m o s d e b o m e m n o sso
RELACIONAMENTO FICARÁ AINDA MELHOR”

Basta ligar o rádio e ouvir as quarenta músicas mais


tocadas para descobrir um mito comum, porém destrutivo,
segundo o qual tudo de bom em um relacionamento ficará
ainda melhor. A verdade é que nem tu do fica melhor.
Muitas coisas melhoram nos relacionamentos, mas outras
se tornam mais difíceis. Todo casamento de sucesso
requer que passemos por algumas perdas e, quando se
opta por casar, inevitavelmente se passará por um
período de luto.
Para os principiantes, o casamento é um ritual de pas­
sagem que geralmente significa deixar a infância para
trás. Molly, uma recém-casada de 23 anos de idade,
lembra da sensação de perda inesperada que sentiu após
o noivado:
24
VOCÊ ENFRENTOU OS MITOS DO CASAMENTO COM HONESTIDADE?

“Depois de anunciarmos que íamos nos casar, trans­


formei-me em uma garotinha. Aquela noite chorei no ombro
de meu pai e senti-me terrivelmente triste, como se fosse
deixar minha família para sempre. Olhei para David, meu
noivo, e pensei: Q uem é esse hom em q u e está-m e levan do
em bora?”.
Casar significa desistir de uma vida sem responsabilidades
e aceitar novos limites. Significa encontrar inconveniências
inesperadas.
Mike Mason, em seu delicioso livro The mystery o f
m a rria g e[0 mistério d o casam ento], compara o casamento
a uma árvore em crescimento bem no meio de uma sala
de estar.
“É algo que está bem ali, e é grande. Tudo foi construído
ao redor e para onde quer que a gente se dirija — à
geladeira, à cama, ao banheiro ou à porta da frente — , a
árvore precisa ser levada em consideração. Não se pode
passar por ela indiferente, mas é preciso rodeá-la respeito­
samente... É linda, rara, exótica: mas também, vamos encarar
os fatos, às vezes se torna um grande estorvo.2
O matrimônio está repleto de trocas interessantes e até
tediosas, mas nada se compara à mais dramática das perdas
experimentadas no início do casamento: a da imagem
idealizada do parceiro. Esse foi o mito mais difícil de enfrentar
em nosso casamento. Os dois tínhamos formado uma
imagem a respeito do outro. Mas, finalmente, a vida a dois
nos obrigou a enxergar as coisas como realmente são e a
reconhecer o fato de que não casamos com a pessoa com
quem imaginávamos. E, prepare-se, você também não.
A maioria dos casamentos começa com uma lua-de-mel
sentimental, um período de rom ance profundo e
apaixonado. Mas esse romance invariavelmente chega ao
fim. Em The ro a d less traveled [A estrada m enos p ercorrid a],

25
o dr. Scott Peck diz que “não importa por quem nos apaixo­
nemos, mais cedo ou mais tarde nos desapaixonaremos se
o relacionamento se prolongar o suficiente para isso”. Ele
não está dizendo que deixamos de amar o companheiro.
Mas que aquele amor arrebatador, característico da paixão,
se esgota. “A lua-de-mel sempre termina”, ele continua.
“O colorido do romance fica desbotado.”3
É uma ilusão pensar que o romance do início de um
relacionamento durará para sempre. Pode ser difícil de
aceitar (e foi para nós), mas desmascarar o mito da paixão
eterna é extremamente importante para construir um
casamento feliz.
Eis a conclusão: todos construímos uma imagem idealizada
da pessoa com quem nos casamos. Essa imagem surge a
partir do esforço do parceiro em nos mostrar o melhor de
si,4 mas acaba se
enraizando no rico A desilusão está para a alma
terreno de nossas nobre assim como a água fria
fantasias românticas. está para o metal
Nós querem os ver o incandescente: ela o fortalece,
lado melhor do par­ solidifica, engrandece, mas
ceiro. Imaginamos, nunca o destrói.
por exemplo, que E l iz a T a b o r

ele nunca será irri­


tante nem engordará. Buscamos tudo o que achamos
admirável e a isso correspondemos, eliminando todos os
defeitos. Ele parece mais nobre, atraente, inteligente e
talentoso do que realmente é. Mas não por muito tempo.
A verdade é que essa fase inevitavelmente passará.
Alguns especialistas acreditam que a vida média do amor
romântico é de aproximadamente três meses, e, após
esse período, a pessoa sente apenas metade do roman­
tismo que sentia no início. Outros crêem que o amor

26
romântico se mantém no auge por dois ou três anos
antes de começar a regredir. Seja qual for a teoria correta,
tenha certeza de que o encantamento do romance fatal­
mente decrescerá. O fato é que nos casamos com uma
imagem e somente mais tarde conhecemos a verdadeira
pessoa por trás dela.
Um advogado conhecido nosso que lida com vários casos
de divórcio contou-nos que o principal motivo da separação
dos casais é que as pessoas “se recusam a aceitar o fato de
estar casadas com seres h u m a n o f.
Em todo casamento, a esperança mútua dá lugar
também à desilusão mútua quando se percebe que o
parceiro não é a pessoa perfeita com quem se achava ter
casado. E, repito, nunca será. Nenhum ser humano pode
realizar nossos desejos idealizados. A decepção é inevi­
tável. Mas há luz por trás das nuvens negras da decepção.
Depois que você perceber que seu casamento não é a
fonte de um romance permanente, saberá apreciar essa
fase romântica e passageira pelo que ela significa: uma
experiência muito especial.
Eis a boa notícia: o desencanto lhe permite buscar maior
intimidade.

T e r c e ir o m it o :
“ T u d o d e r u i m e m n o s s a v id a d e s a p a r e c e r á ”

Esse mito foi transmitido por várias gerações e seu


difundido encanto é ilustrado em contos da literatura
infantil como o da C inderela. Nessa história, uma pobre
menina que trabalha arduamente como criada de sua
madrasta e irmãs adotivas é salva pelo belo e galante
Príncipe Encantado. Eles se apaixonam e “vivem felizes
para sempre”.

27
Não importa que o único contato social de Cinderela
tenha sido com os ratos da casa e que ela não tivesse a
menor idéia de como se comportar diante de toda a pompa
e cerimônia da corte. Não importa que o Príncipe Encantado
tenha crescido em um ambiente de todo diferente, em que
adquiriu sua cultura, seus gostos e hábitos. Não importa
que os dois não tenham conhecido absolutamente nada
sobre a postura do outro em relação ao casamento. Tudo
o que tinham em comum era um sapatinho de cristal e um
pezinho que servia nele!
“É claro que o amor não acontece dessa maneira”, você
deve estar pensando. “É apenas uma história de criança.”
É verdade. Mas lá no fundo, esperamos um Príncipe
Encantado ou uma Cinderela que dê sentido às coisas e
faça desaparecer tudo o que for ruim.
Muitas pessoas se casam para evitar coisas desagradáveis
ou mesmo se livrar delas. Porém, não importa quão gloriosa
seja a instituição do casamento, ela não substituirá o árduo
trabalho da cura espiritual. O casamento não elimina o so­
frimento interior nem a solidão. Por quê? Porque as pessoas
se casam principalmente para prolongar seu bem-estar e
não para atender às necessidades de seu parceiro. Os maus
sentimentos e características que você detinha antes do
casamento permanecerão com você mesmo depois de sair
da igreja. A certidão de casamento não é um sapatinho
mágico de cristal.
O casamento é, na realidade, apenas um modo de vida.
Antes dele, não esperávamos que a vida fosse um mar de
rosas com eternos dias ensolarados, mas é assim que
achamos que tudo vai ficar depois dele. O psiquiatra John
Levy, que presta aconselhamento a vários casais, escreveu
que “as pessoas que se decepcionam com tudo ficam
surpresas e magoadas quando o casamento não se mostra

28
exceção. A maioria das reclamações sobre [...] matrimônio
surge não porque ele seja pior do que as outras coisas da
vida, mas porque não é incom paravelm ente melhor”. 5
O casamento não curará instantaneamente todas as suas
dores, mas p o d er á tornar-se um poderoso agente cúrativo
com o passar do tempo. Se for paciente, ele o ajudará a
sobrepujar até mesmo as piores aflições.
Quando três psicólogos de Colorado, nos e u a , publi­
caram uma pesquisa sobre o casamento no Rocky M ountain
News, ficaram surpresos com “a quantidade de pessoas
que passaram por experiências traumáticas na infância
[como crianças que sofreram maus-tratos e filhos de pais
alcoólatras ou divorciados] e se curaram com bons
casamentos”. Como explicou um dos pesquisadores, “bons
casamentos superam coisas que costumamos considerar
perdas irreparáveis ou tragédias de que não se pode
recuperar”. Em outras palavras, mudou-se substancialmente
o enfoque, partindo-se de uma terapia do casamento para
um casam en to com o terapia.
Todos, pelo menos inconscientemente, casamos com a
esperança de curarmos nossas feridas. Mesmo que não
tenhamos tido nenhuma experiência traumática, ainda assim
carregamos nossas mágoas e necessidades não preenchidas.
Todos nos sentimos inseguros, indignos e insatisfeitos. Por
mais protetores que tenham sido nossos pais, nunca
recebemos amor e atenção suficientes. Por isso, no casa­
mento, esperamos que o cônjuge nos convença de que
temos valor e cure nossas enfermidades.6
No livro Getting the lov ey ou w ant [A lcan çan d o o a m o r
d eseja d o ], o psicoterapeuta pastoral Harville Hendrix
explica que um casamento saudável torna-se o palco para
que se desenrole o último ato de assuntos inacabados da
infância. O processo de cura começa, gradualmente, ao

29
descobrir e reconhecer as questões mal resolvidas de nossa
infância. A cura prossegue com os anos, à medida que
perm itim os que o cônjuge nos ame e conform e
aprendemos a amá-lo.
Certamente, o príncipe Charles e lady Diana tinham
esperanças divergentes em seu “livro de contos” do
casamento. Poucos poderiam imaginar o triste desfecho anos
mais tarde. Mas Robert Runcie, Arcebispo da Cantuária,
provavelmente pudesse. Ele pregou um inspirado sermão
no casamento deles. Ele disse: “Eis a matéria-prima para
construir um conto de fadas, o príncipe e a princesa em sua
cerimônia de casamento. Mas os contos de fadas geralmente
terminam no momento da simples expressão ‘E viveram
felizes para sempre’. Talvez isso se deva ao fato de os contos
considerarem o casamento um anticlímax em relação ao
romance do namo­
ro. Essa não é a O sucesso de um casamento não
visão cristã. Nossa depende de encontrarmos a
fé enxerga o dia do pessoa “certa”, mas da
casam ento não habilidade de cada um dos
como o ponto de parceiros de se adaptar à
chegada, mas co­ verdadeira pessoa
mo o momento em com a qual se casou.
que a aventura co­ J o h n F is h e r

meça”.
É uma pena que o casal real não tenha agido de acordo
com a mensagem do arcebispo. É uma pena, também, que
nos apeguemos a mitos e contos de fadas em vez de vivermos
a verdadeira aventura da vida real.

Q u a r t o m i t o : “ M e u c ô n ju g e m e c o m p l e t a r á ”

O velho ditado de que “os opostos se atraem” baseia-se


no fenômeno de que muitas pessoas são atraídas por outras
30
que as complementam, sendo capazes naquilo em que
elas não são, completando-as de algum modo.
No livro de Provérbios está escrito: “Como o ferro com
o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo”.7 Nossas
imperfeições e diferenças conferem força e agudeza ao
ferro. O casamento é uma maneira oportuna de melhorar
e refinar nosso ser. É um desafio a novas aventuras e um
apelo para darmos o melhor de nós mesmos. Mas nem o
casamento nem nosso parceiro, em um passe de mágica,
nos farão completos.
Esse mito geralmente começa com a crença de que as
pessoas que tiveram uma união bem-sucedida “foram feitas
uma para a outra” e “isso é obra do destino”. Já acon­
selhamos diversas pessoas que, por terem dificuldades no
casamento, acreditavam que tinham escolhido a pessoa
errada. Se tivessem escolhido o “sr. Fulano de Tal” ou a
“srta. Sicrana”, tudo teria dado certo. Ora, vamos! É ridículo
acreditar que o sucesso de um casamento dependa de
descobrirmos aquela pessoa, em meio às cinco bilhões
existentes na terra, que foi feita sob medida para você. Se
você for solteiro, o fato de não existir “uma e somente
uma pessoa” não fará diminuir sua procura cuidadosa de
possíveis companheiros. Mas, se você já é casado e está
achando que seu parceiro não o “completou” instanta­
neamente, isso não significa que tenha se casado com a
pessoa errada.
Os indivíduos que acreditam no mito de que seu cônjuge
os completará tornam-se dependentes de seu parceiro de
uma forma não saudável em nenhum aspecto. Esses casais
cultivam o que os especialistas chamam de relacionamento
intrincado, caracterizado por uma entrega total ao cônjuge,
em uma busca constante de apoio, segurança e inteireza.
Geralmente, isso está associado à auto-estima e ao senti-

31
mento de inferioridade que pode ser facilmente controlado
pelo parceiro.
O parceiro dependente busca a felicidade, não o
crescimento pessoal. Não está interessado em sustentar o
relacionamento, mas em ser sustentado pelo outro parceiro.
Acredita na mentira segundo a qual se completará auto­
maticamente pelo simples fato de estar casado.
O oposto de um casamento intrincado é aquele que se
caracteriza por uma forte autoconfiança, freqüentemente
chamado de relacionamento desim pedido. O termo reflete
o isolamento e a independência dos consortes que pro­
curam algo que os complete sem depender de ninguém,
nem de seu parceiro. Essas pessoas também tentam em
vão compensar seu sentimento de inferioridade.
O sentimento de plenitu de nunca poderá ser conquistado
no relacionamento do tipo intrincado, nem no do tipo
desimpedido. Ambos apresentam graves defeitos e são arris­
cados. Mas está presente no relacionamento in terd e­
pen d en te, em que duas pessoas, com amor próprio e
dignidade, se comprometem a cuidar de seu próprio cres­
cimento espiritual e do crescimento de seu parceiro.
Esses tipos de relacionamento também são conhecidos
como modelo-A (dependente), modelo-H (independente)
e modelo-M (interdependente).8

A H M
Os relacionamentos do modelo-A são simbolizados pelo
A maiúsculo. Os parceiros sentem uma forte identidade
um pelo outro, mas muito pouca auto-estima. Pensam em
si mesmos como uma unidade e não como indivíduos
independentes. Exatamente como as longas linhas da letra

32
A, apóiam-se um no outro. O relacionamento está estru­
turado de tal forma que, se um for embora, o outro cairá.
E é exatamente isso que acontece quando um dos parceiros
supera o seu sentimento de dependência.
Os relacionamentos do m odelo-H estão estruturados como
a letra H. Os parceiros permanecem praticamente sozinhos,
são auto-suficientes e pouco influenciados um pelo outro.
Há pouca ou quase
nenhuma identidade Os laços do matrimônio são
como casal e uma fra­ como qualquer outro vínculo':
ca ligação emocio­ desenvolvem-se lentamente.
nal. Se um deixar o P e t e r D e V r ie s

relacionam ento, o
outro dificilmente sentirá falta.
Os relacionamentos do modelo-M fundamentam-se na
interdependência. Cada um dos parceiros tem uma forte
auto-estima e sente-se comprometido a participar do
crescimento do outro. Eles podem manter-se sozinhos, mas
optaram por ficar juntos. O relacionamento baseia-se em
uma influência mútua e no apoio emocional. As relações
do modelo-M ressaltam a importância da identidade como
casal. Se um for embora, o outro sentirá a perda, mas
conseguirá recuperar o equilíbrio.
Como cordas separadas de um alaúde, mas que tocam
a mesma música, há beleza em um casamento que respeita
a individualidade dos parceiros. Na relação interde­
pendente, a alegria é dobrada e a tristeza, dividida ao meio.

M a is u m a p a l a v r in h a s o b r e o s m it o s d o m a t r im ô n io

O objetivo deste capítulo foi ajudá-lo a destruir quatro


dos mitos mais comuns e prejudiciais do casamento: 1) “Nada
mudará quando nos casarmos”; 2) “Tudo que temos de bom
em nosso relacionamento ficará ainda melhor”; 3) “Tudo de
33
ruim em nossa vida desaparecerá” e 4) “Meu cônjuge me
completará”. Se você se sente desencorajado por ter acre­
ditado nessas histórias, ânimo. Todos casam acreditando
nessas mentiras em maior ou menor grau e todo casamento
bem-sucedido trabalha pacientemente para desafiar e demolir
esses mitos.
Nos tempos bíblicos, o status especial de “noivo e noiva”
durava o ano inteiro. “Homem recém-casado não sairá à
guerra, nem se lhe imporá qualquer encargo; por um ano
ficará livre em casa e promoverá felicidade à mulher que
toma.”9 O início do casamento era um período de apren­
dizado e adaptação. E ainda é assim. Portanto, permita-se
o mesmo luxo.

P ara r e f l e x ã o

• Converse com seu parceiro sobre suas expectativas em


relação à vida a dois. Que valores e expectativas cada
um de vocês trouxe para o relacionamento? De que
modo podem influenciar a qualidade de seu casamento?
• Cite três coisas importantes das quais você desistiu
ou terá de desistir ao casar. Você lamentou essa perda?
O que ganhou de positivo com isso?
• Como os casais de namorados constroem sua imagem?
O que você fez, intencionalmente ou não, para criar
uma impressão positiva, mas irreal para seu parceiro?
Quando surgiu a decepção?
• Qual a importância de “amar a si mesmo” quando se
trata de amar o parceiro? Há uma correlação?
• Qual sua opinião a respeito da idéia de que o casa­
mento pode ser um agente curativo e terapêutico?
Em que áreas de sua vida você acha que precisa ser
curado? Como seu parceiro poderia ajudá-lo nessas
áreas?
34
• Em que medida a dependência no relacionamento
torna-se prejudicial? E o que acha da independência?
Como pode saber se o seu casamento é baseado na
interdependência?

35
amor é um aprendizado
constante e sem fim.
K a t h e r in e A nne P orter

S eg u n d a P er g u n t a :

V o c ê é ca pa z d e r e c o n h e c e r
SEU MODO DE AMAR?

Quando se pergunta “Em que consiste um bom casa­


mento?”, a resposta de quase 90% da população é: “Em
amor”.1 Contudo, tentando descobrir os ingredientes essen­
ciais do amor que servem de base para o casamento, uma
pesquisa com mais de mil estudantes colegiais revelou que
“nenhum desses ingredientes chegou a ser mencionado
por, pelo menos, a metade dos entrevistados”. Em outras
palavras, é difícil chegar a um acordo sobre o que seja o
amor. Ou talvez, mais precisamente, não saibam os o que
significa. Como disse um entrevistado: “O amor é como um
raio — a gente pode não saber do que é feito, mas sabe
quando se é atingido por ele”.
Há quinhentos anos, Chaucer disse: “O amor é cego”.
Talvez estivesse certo, mas é hora de tirarmos as vendas
dos olhos e enfrentar a realidade do amor. Neste capítulo,
apresentamos três questões importantes: 1) O que é o amor?
2) Como se dá e se recebe amor? 3) O que fazer para que
o amor dure para sempre? Essas perguntas serão respon-
didas ao analisarmos a anatomia do amor e as peças que o
compõem. A seguir, examinaremos as diferentes formas
de amar que cada pessoa leva para o casamento. Depois,
exploraremos os caminhos que todo casal deve seguir para
manter vivo o amor que sentem um pelo outro. Na con­
clusão, apresentaremos um plano passo a passo para fazer
com que o amor dure para sempre.

A ANATOMIA DO AMOR
“O que é o amor?”, pergunta Shakespeare em Noite d e
reis. Essa pergunta ecoa há muitos séculos, e ainda não se
encontrou uma resposta definitiva. Seria o amor um desejo
egoísta? William Blake o define assim em um poema: “O
amor é uma busca pela satisfação do ego”. Ou seria a
a b n eg a ç ã o descrita pelo apóstolo Paulo: “O amor suporta
tudo, acredita em todas as coisas, é cheio de esperanças e
a tudo resiste”?
Seja o que for, não é fácil defini-lo claramente, pois é
uma estranha mistura de opostos. Inclui afeto e raiva,
entusiasmo e aborrecimento, estabilidade e mudança,
restrição e liberdade. O maior paradoxo do amor é dois
seres se fundirem em um, mas permanecerem dois.
Descobrimos que essa qualidade paradoxal do amor
faz com que alguns casais questionem o amor que sentem.
Todos os anos, conhecemos dezenas de casais de noivos
ou cônjuges nessa condição. Scott e Courtney são um
exemplo. Três meses antes do casamento, Scott rompeu o
noivado porque não tinha certeza se realmente amava
Courtney. Parecia que a flecha do Cupido havia errado o
seu alvo e ele estava-se dando por vencido.
“Sinto uma profunda afeição por Courtney”, confessou
Scott, “mas não sei se algum dia fui realmente apaixonado
por ela. Nem sei o que é o amor”.
38
Scott, como muitos outros no precipício do amor eterno,
estava confuso e incerto.
— Como vou saber se esse é o verdadeiro amor ou
apenas um sentimento passageiro?
Jennifer, outro exemplo, questionava seu amor por M}chael.
Estavam casados havia quase uma década, e a empolgação
do amor já se havia esvaído, ou assim parecia. Depois de se
formarem na faculdade, casaram e começaram carreiras
profissionais isoladas — ela era chefe contábil, e ele, assistente
social. Jennifer e Michael adiaram a decisão de ter filhos até
conquistarem uma situação melhor e, agora que estavam
bem, Jennifer achava que seu amor é que não estava.
“Como podemos ter um filho se não sei nem se ainda
amo Michael?”, ela pensou por um momento, e depois
acrescentou: “Nunca estive tão próxima de Michael como
agora, mas parece que somos mais bons amigos do que
bons amantes. Será que ainda nos amamos?”.
Scott, enfrentando o casamento, e Jennifer, entrando na
segunda década de casada, achavam que o amor escapara
por entre os dedos ou que, na verdade, nunca nem chegaram
a amar. Lutavam com a mesma pergunta: o que é o amor?
Há alguns anos, era muito mais difícil responder a essa
questão. Em quase toda a história da humanidade, o amor
fora da alçada de poetas, filósofos e sábios. Os cientistas
sociais não se pronunciavam, achando que o amor era
misterioso e intangível demais para o estudo científico.2
Felizmente, o estudo do amor ganhou respeitabilidade
nos últimos anos e deixou de ser tabu. Atualmente, centenas
de estudos e artigos profissionais sobre o amor vêm sendo
publicados a cada ano. E há muito que colher nessa safra
científica.
Robert Sternberg, psicólogo da Universidade Yale, foi
pioneiro em muitas pesquisas. Ele desenvolveu o “mo-

39
delo triangular” do amor, uma das abordagens mais
abrangentes que já se fez até hoje.3 Em seu modelo, o
amor, como o triângulo, tem três lados: p a ix ão , in tim idade
e compromisso.

Paixão
O lado motivador do triângulo é a paixão, sensação de
arrepio na espinha que impulsiona ao romance. É sensual e
sexual, caracterizada por estímulo psicológico e um intenso
desejo físico. O Cântico dos Cânticos, por exemplo, celebra o
amor físico entre homem e mulher em uma poesia cheia de
paixão: “Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor
é o teu amor do que o vinho”.4
Mas a paixão também pode ser possessiva, alimentando
um fascínio que beira a obsessão. Ela leva os casais a um
nível extremo de preocupação um com o outro, a ponto
de ambos não suportarem ficar separados. Nesse estágio,
outro relacionamento nem é cogitado.
Sternberg explica que, no princípio, os casais experi­
mentam uma atração física crescente, mas depois de algum
tempo incorporam o êxtase da paixão no plano mais
profundo do amor. A paixão pura permanecerá egoísta até
alcançar a intimidade.

Intimidade
O lado em ocio n a l do triângulo do amor é a intimidade.
Amor sem intimidade é apenas uma ilusão hormonal. Não
se pode desejar uma pessoa durante um longo período
sem realmente conhecê-la.
A intimidade, nesse particular, tem a qualidade de “me­
lhor amiga” ou “alma gêmea”. Todos queremos alguém
que nos conheça melhor do que ninguém e que, ainda

40
assim, nos aceite. E queremos alguém que não esconda
nada de nós, alguém que nos confie seus segredos mais
íntimos. A intimidade preenche o desejo em nossos corações
de proximidade e aceitação.
As pessoas que obtiveram sucesso ao construir um
relacionamento íntimo conhecem seu poder e bem-estar, mas
também sabem que não é fácil aceitar os riscos emocionais
pelos quais temos de passar para chegar à intimidade. Sem
um cuidadoso acompanhamento, a intimidade se esvai. Em
Finding the love ofyourlife[Encontrando o a m or d a sua vida],
Neil Clark Warren identifica a falta de intimidade como o
inimigo número 1 do casamento. E chega a dizer que, se
duas pessoas não se conhecem profundamente, nunca
poderão se fundir ou unir, tornando-se o que a Bíblia chama
de “uma só carne”. Sem intimidade, ele diz, “elas estarão
isoladas e sozinhas, ainda que vivam sob o mesmo teto”.5
O amor completo depende de proximidade, participação,
comunicação, sinceridade e apoio. Nessa troca de corações,
o casamento é a expressão mais profunda e radical da inti­
midade.

Compromisso
O lado cognitivo e voluntário do triângulo do amor é o
compromisso. Ele olha em direção a um futuro que não
pode ser visto e promete que estará presente... até a morte.
“Se não cumprirmos nossas promessas”, escreve a filósofa
Hannah Arendt, “estaremos condenados a vagar desam­
parados na escuridão de nossos corações solitários”.
O compromisso cria uma pequena ilha de segurança nas
águas revoltas da incerteza. Como os laços do casamento, o
compromisso protege o amor por nosso parceiro quando a
chama da paixão se enfraquece e somos surpreendidos por
momentos turbulentos e impulsos ameaçadores.
41
O lema do compromisso é: “Eu o amo pelo que você é
e não por causa do que você faz ou sente”. O conselheiro
suíço Paul Tournier classifica o voto do casamento como
uma dádiva: “total, definida, sem reservas... um compro­
misso pessoal e inalterável”.6 A longevidade do amor e a
saúde de um casamento dependem em grande parte da
força do compromisso.

GXÇfc/t»
A paixão, a intimidade e o compromisso são os ingre­
dientes quente, morno e frio da receita do amor. E esses
ingredientes variam porque os níveis de intimidade, paixão
e compromisso mudam de tempos em tempos e de pessoa
para pessoa. É possível visualizar a fluidez do amor
pensando em como o triângulo do amor muda de tamanho
e forma conforme o grau de cada um dos três compo­
nentes. A área do triângulo representa a intensidade do
amor. Uma grande porção de intimidade, paixão e com­
promisso resulta em um triângulo maior. Quanto maior o
triângulo, maior o amor.

Com a ajuda de Sternberg, estamos perto de descobrir


o que é o amor, mas ainda há a questão também
fundamental: como se dá e recebe amor? Para responder a
ela, primeiramente estudaremos as formas de amar e depois
examinaremos os estágios do amor.

42
AS FORMAS DE AMAR

Normalmente, achamos que amar significa para nosso


parceiro o mesmo que para nós, mas a verdade é que duas
pessoas raramente querem dizer a mesma coisa com a frase
“Eu amo você”. No aconselhamento matrimonial, ouvimos
repetidamente as palavras, ora queixosas, ora desesperadas:
“Eu simplesmente deixei de amá-la” ou “eu o amo, mas não
estou apaixonada por
ele”. O que isso geral­
mente significa é que
determinada qualida­
de que uma pessoa
deseja no amor está
faltando ou mudou.
Veja o caso de John e Monica, que procuraram nosso
aconselhamento depois de apenas quinze meses de
casados. Em sua primeira e tensa sessão, reclamaram da
“falta de paixão” de um pelo outro.
— Você quase nunca diz que me ama — desabafa
Monica, lutando contra as lágrimas ao olhar para o marido.
— Mas é claro que eu a amo, só acho que não tenho de
dizer que a amo e sim dem on strar meu amor por você.
Minhas ações falam mais alto que minhas palavras.
Será que Monica e John “perderam a paixão”? Não.
Apenas a maneira de amar de um não combinava com a
do outro, e causava uma tensão insuportável. Não é raro
encontrar um marido como John, amoroso com a esposa,
mas sempre deixando a ela a impressão de não ser amada.
Contudo, esse amor não enfraqueceu; simplesmente se
apresenta de uma forma que não atende às necessidades
do cônjuge.
À medida que demos prosseguimento às sessões com
Monica e John, descobrimos que as coisas que ele fazia
43
para “demonstrar seu amor” resumiam-se em trazer dinheiro
para casa, consertar utensílios avariados e evitar discussões.
“São coisas que qualquer bom marido faz normalmente”,
disse Monica. “Isso não tem nada a ver com o que eu cha­
mo de amor”.
Monica definia amor pensando em carinho, presentes,
toques, ternura — tudo o que era desagradável para John,
pois nada disso se encaixava na sua idéia de amor verdadeiro.
Para ele, o que ela queria era um mero “adorno” do amor.
Tanto um como o outro pensavam que a forma de
amarem atendia à maneira em que o parceiro queria ser
amado, e ambos se sentiam infelizes por isso. Nenhum de­
les tinha total consciência de que esperavam que o outro
se adaptasse sozinho à sua forma diferente de amar.
Quando Elizabeth
Barrett Browning per­
guntou “De que manei­ Meu amor por ti atinge todos
ra te amo?”, em um de os limites de minh’alma.
E l iz a b e t h
seus mais famosos so­
B a r r e t t B r o w n in g
netos, provavelmente
nunca imaginou que
um dia a resposta seria estudada com precisão científica.7
Mas é isso exatamente o que as pesquisas como a de Robert
Sternberg procuram fazer. Seu modelo triangular não apenas
identifica os componentes do amor, mas também explica
por que parceiros como John e Monica têm formas diferentes
de dar e receber amor.
O triângulo de Sternberg pode mudar de forma segundo
variem os graus de paixão, intimidade e compromisso no
relacionamento. Um triângulo com os três lados iguais
representa o que ele chama de amor consum ado, em que
os três componentes são iguais. Mas, quando um lado do
triângulo se torna maior que os demais, surge um tipo

44
novo e desequilibrado de amor, que pode ser: rom ântico,
infantil ou com panheiro.
O a m o r rom â n tico , que se baseia na união com
intimidade e paixão, combina a atração física com um
profundo desvelo. O compromisso, porém, fica em segundo
plano nesse tipo de amor.

O a m o r infantil resulta de uma combinação de paixão


e compromisso. Mas, dessa vez, a intimidade é quase nula.
É infantil porque o compromisso se baseia em uma paixão
sem o ingrediente estabilizador que seria a experiência da
intimidade.

Já o a m o r com panheiro envolve uma combinação de


intimidade e compromisso, tendo a paixão como segundo
plano. Trata-se essencialmente de longa e dedicada amizade.
Isso acontece no casamento quando a atração física se
torna menos importante que a segurança de conhecer e
ser conhecido pelo parceiro.
Às vezes, casamentos fracassados baseiam-se exclusi­
vamente no amor romântico, infantil ou companheiro. Mas
os bem-sucedidos são mais exigentes: cada uma das formas

45
de amar — romântica, infantil 011 companheira — torna-se
predominante nesse ou naquele momento.

O a m o r con su m ado resulta da combinação de todos os


três componentes do amor: paixão, intimidade e compro­
misso. Esse amor é o objetivo que o casamento se esforça
para atingir e geralmente consegue, pelo menos por algum
tempo. M anter o amor consumado, entretanto, é o ponto
em que a maioria dos casamentos falha. É o mesmo que
acontece nos regimes alimentares — é mais fácil alcançar
a meta final do que mantê-la. Quando se alcança esse
amor, não há garantias de que ele durará para sempre. E
realmente não dura.

Compromisso
Os parceiros do casamento não congelam para sempre o
amor consumado, pois as formas de amar mudam.' Há oca­
siões em que alguns ingredientes se tornam mais fortes que
outros para um dos cônjuges e surge uma forma de amar
que não combina com a do parceiro. No caso de John e
Monica, ele valorizava o amor companheiro naquele momen­
to de seu relacionamento, ao passo que ela queria o amor

46
romântico. Ele precisava de um sentimento de vínculo e
segurança mais profundo, mas a esposa desejava mais
sensualidade. Estavam atendendo às necessidades de intimi­
dade um do outro, mas faltava paixão e compromisso. Por
enquanto, estavam fora de compasso.
Voltando aos nos­
sos exemplos do início
do capítulo, podemos
enjender o problema
de Scott e Courtney.
Ele rompeu o noivado
porque foi pego pelo
amor romântico e se
sentiu inseguro para assumir um compromisso por toda a
vida. Embora tudo estivesse bem no plano da intimidade e
da paixão, Scott temia que a forte atração que sentia pudesse
ser apenas uma fase. Em uma desgastante sessão de acon­
selhamento, o casal decidiu não romper, mas manter o
noivado e adiar o casamento. Quatro meses mais tarde,
depois que Scott teve tempo para cultivar o compromisso
em sua forma de amar, eles marcaram uma nova data e
casaram-se no final daquele ano.
Jennifer e Michael, que estavam casados havia dez
anos, também sofreram com a falta de sincronia em suas
formas de amar. O amor de Michael era forte, sustentado
por paixão, intimidade e compromisso. Mas Jennifer
havia perdido a paixão. Seu amor apenas companheiro
fez com que duvidasse do verdadeiro amor por Michael
e questionasse se seria sensato ter um bebê. Contudo,
depois de uma longa e esperada viagem romântica Com
Michael e atitudes deliberadas para cultivar a paixão, o
amor de Jennifer novamente entrou em sincronia com o
do marido.

47
Essa é a dança do amor. Dia após dia, desajeitadamente,
arrastamos os pés, tropeçamos e até pisamos nos pés um
do outro em nossos relacionamentos. Mas isso não diminui
o doce momento em que um casal finalmente experimenta
o mesmo ritmo de paixão, intimidade e compromisso.
Anne Morrow Lindbergh escreveu sobre a dança do amor
em seu pequeno e maravilhoso livro Gift frorn the sea [O
p resen te do mat\\

Quando se ama, não se ama o tempo todo, da mesma


forma a cada instante. Isso é impossível. Seria mentira
dizer o contrário. Mas, mesmo assim, é exatamente
isso que a maioria de nós exige. Temos tão pouca
fé no fluxo e refluxo da vida, do amor e dos relacio­
namentos, que mergulhamos na maré cheia e,
quando ela baixa, retraímo-nos, apavorados. Temos
receio de que ela nunca volte a subir. Insistimos na
permanência, na duração e na continuidade, quando
a única coisa contínua, na verdade, tanto na vida
quanto no amor, é o crescimento, a fluidez... e a
liberdade.

O S ESTÁGIOS DO AMOR

Será que o apaixonado que passa o dia inteiro pensando


nas questões do amor
acredita que jamais O amor jovem é como a
chama: muito atraente,
estará fora de sin­
calorosa e selvagem, mas é
cronia com seu par­
apenas uma luz que brilha.
ceiro, que esse seu
O amor maduro e
sentimento tão forte disciplinado é como a brasa:
nunca cessará? Certa­ ardente e inesgotável.
mente nenhuma noi­ H en ry W ard B eech er
va ou noivo gostaria
de ouvir dizer que a chama de seu amor enfraquecerá
com o tempo. Mas, de certo modo, isso acontecerá. O
vi

amor apaixonado do início do casamento não perdurà. Os


recém-casados que buscam o verdadeiro amor baseados
apenas na paixão estão condenados ao fracasso.
O amor que você sente agora por seu companheiro
passará por várias mudanças e se desenvolverá de dife­
rentes maneiras na vida em comum. Se você aceitar esse
fato, isso poderá ajudá-lo a manter seu amor vivo e a salvar
seu casamento antes mesmo de se casar. Mais importante
que isso, aceitar a natureza inconstante do amor permitirá
que você relaxe e aproveite todas as suas manifestações.
Com o tempo, você verá que as muitas formas de amar
fortalecem e aprofundam seu relacionamento, enri­
quecendo a vida do casal com sua estranha beleza e caráter
singular.
Todo casamento enfrenta momentos de tensão que
testam o ânimo do casal: a fase de ajustar-se um ao outro,
o começo de uma nova carreira, o nascimento do primeiro
e de todos os outros filhos, o momento em que as crianças
começam a freqüentar a escola e sair de casa, uma doença
séria e a aposentadoria. Esses acontecimentos marcantes
podem causar uma transformação, mesmo nas mais bem-
sucedidas uniões. Se essas mudanças não foram planejadas
e nem eram esperadas, o amor sofrerá um desvio em seu
curso. Mas, se o casamento for bom e as mudanças forem
previstas, haverá um processo gradual de aclimatação, e
o amor encontrará novo sentido de realização.
O casamento é uma jornada por caminhos (ou estágios)
previsíveis do amor. Esses estágios — romance, luta pelo
poder, cooperação, reciprocidade e co-criatividade — são
etapas seqüenciais do amor no matrimônio. Cada estágio
tem desafios e oportunidades próprios, e é construído com

49
base na etapa anterior, finalmente levando a vida amorosa
ao potencial máximo.8

Prim eiro estágio: rom an ce


O estágio inicial do amor no casamento é o romance,
período em que os casais quase se esquecem de que são
pessoas distintas, com identidades diferentes. Nesse estágio
de encantamento, cada um dos cônjuges encontra o prazer
completo no outro. Buscando preencher necessidades mais
profundas de intimidade, experimentam uma espécie de
união misteriosamente íntima e celebram o apogeu da felici­
dade e da relação a dois.

Segundo estágio: luta p elo p o d e r


Esse estágio, repleto de tensão, começa quando as idios­
sincrasias emergem e as diferenças se tomam inegáveis.
Duas pessoas independentes que constroem uma vida em
comum, em certo momento travam uma luta pelo poder e,
por isso, devem aprender a ajustar-se uma à outra. A inten­
sidade e a confusão desse estágio variam conforme o casal,
mas quase todos passam por isso. Uma passagem vitoriosa
permite que cada parceiro diga: “Tudo bem. Então, a pessoa
perfeita é uma ilusão. Mas ainda estou fascinado pelo
mistério de quem você é e quero que continuemos esse
romance e caminhemos juntos para um amor mais maduro”.

Terceiro estágio: coop eração


Este estágio é como uma 'brisa fresca para os casais que
não se desviaram da rota e venceram os desafios da perigosa
etapa da luta pelo poder. Agora, surge o sentimento de
aceitação e disposição para mudar. A intensidade da relação
renova-se à medida que se descobrem novas e saudáveis
50
formas da vida em co­
mum. Os casais come­ Se você se junta a uma
çam a perceber que o pessoa porque não
am or é olhar para consegue se manter de pé
com as próprias pernas
dentro de si, e não para
ela pode até ser um
fo ra , e assumir a res­
salva-vidas, mas esse
ponsabilidade pelos
relacionamento, com
problemas pessoais.
certeza, não estará
Abandonam a ilusão de
fundamentado no amor.
que seu parceiro é o E r ic h F r o m m
responsável por sua
felicidade e redefinem o amor lutando contra seus temores
e defesas, projeções e mágoas.

Quarto estágio: reciprocidade


Embora uma extraordinária mudança se inicie no estágio
anterior, ele não deixa de ser um momento em que ressurgem
velhos problemas e temores, especialmente nas horas con­
turbadas. À medida que o amor cresce, contudo os casais
por fim entram em novo estágio, quase inesperadamente,
em que a cumplicidade se torna a base da vida conjugal. É
um período de descoberta um do outro, em que se experi­
menta a reconfortante sensação de fazer parte de alguém.
Exatamente quando os casais estão se perguntando se algum
dia conseguirão livrar-se dos velhos e prejudiciais modelos,
descobrem uma nova realidade e são surpreendidos pela
alegria da intimidade recíproca.

Quinto estágio: criatividade em p a r c e r ia


No quarto estágio, a intimidade pela qual os casais
anseiam e lutam é uma realidade vivenciada. À medida
que envelhecem, se aposentam e enfrentam o fim da vida

51
juntos, no entanto, desenvolvem uma força maior de
criatividade em parceria. O ritmo da intimidade floresce
novamente e pela última vez. O amor transborda. Seguros
de si e de seu amor, eles tem um forte fluxo de energia
para agirem no mundo. Esse período de amor, intenso e
calmo, transcende todos os estágios anteriores e culmina
em um sentimento mais forte e profundo do que qualquer
outro. Nesse momento, os cônjuges percebem que não
foram feitos somente um para o outro, mas também para
compartilhar o amor com todos. Assim, os parceiros na
criatividade desenvolvem uma rede de importantes
interrelacionamentos que sustentam o casamento e o
tornam ainda mais gratificante. Nesse estágio final, os
casais também podem dizer: “Já percorremos um longo
caminho juntos. Passamos por raiva, exaltação, momentos
terríveis e maravilhosos, retraimento e liberdade. Nosso
casamento tem sido nossa única e maior fonte de conflito
e conten-tamento. E ainda tem muito a nos oferecer”.

GXSte/ê)
O amor passa por mudanças no decurso de uma vida.
Mas não perde sua intimidade, sua importância, seu valor.
Pois, conforme a paixão imatura cede terreno, o espaço é
preenchido por um sentimento mais profundo e estável
de intimidade, desvelo e criatividade em parceria. À medida
que a chama da paixão diminui, aumenta a incandescência
do amor.
/

F a z e r co m q u e o a m o r d u r e pa ra s e m p r e

“Não há nada que comece com tantas esperanças e


expectativas e, ainda assim, fracasse com tanta freqüência
quanto o amor”, disse Erich Fromm. O título de sua obra
52
clássica, The art oflo v in g
[A arte d e amat\, é em si Quando o amor e a
uma mensagem. O amor criatividade trabalham
duradouro não acontece juntos, pode contar
por acaso, mas é uma arte com uma obra de arte.
J o h n R u s k in
que deve ser aprendida,
praticada e aperfeiçoada.
Toda união bem-sucedida é resultado de um trabalho
diligente e criativo de duas pessoas para cultivar o amor.
Quando elas combinam paixão com intimidade e com­
promisso, são capazes de desenvolver uma relação fértil e
saudável.
Veja agora algumas dicas para plantar você mesmo a
semente do Éden conjugal.

Cultivar a paixão
“O que aconteceu com o romance e com a paixão? —
gritou Kelli para seu Don Juan, que, de repente, havia-se
transformado num bicho-preguiça. Antes de se casarem,
Kelli e Mike faziam românticos piqueniques e trocavam
beijos apaixonados; às vezes, até se beijavam com o carro
parado no trânsito. De vez em quando, Mike surpreendia
Kelli trazendo um buquê de flores. E Kelli agradava-o com
seu sorvete favorito de chocolate com pasta de amendoim.
“Ele era o romântico em pessoa. Agora, tudo o que faz
é vir para casa, pegar o controle remoto e passear pelos
canais de t v . À s vezes, penso que a t v é mais interessante
que eu — lamentou Kelli.
A perda do romance apaixonado é uma reclamação
comum em casamentos de um ou de 25 anos. Parece que,
no momento posterior ao confete e ao arroz, quando se
guarda o resto do bolo na geladeira, o mesmo se faz com
a paixão.
53
É inútil confiar
Quando duas pessoas se acham que o auge da pai­
sob o poder da mais violenta, xão se perpetuará.
insana, mágica e transitória
Mas o casamento
paixão, precisam jurar que
não exige que ela
permanecerão nesse estado
seja congelada no
anormal e exaustivo de
tempo. O amor per­
entusiasmo contínuo até que a
de um pouco da
morte as separe.
G e o r g e B ern a rd S haw
empolgação, como
acontece na segun­
da vez em que se
desce uma montanha-russa. Todo casal com uma união feliz
e duradoura dirá que essa erupção de emoções talvez diminua,
mas o verdadeiro prazer poderá até aumentar.
A ciência concorda. Um estudo feito com um grupo de
alunos que estavam concluindo o ensino médio e outro de
casais com mais de vinte anos de casamento descobriu
que os dois grupos tinham uma visão mais romântica e
apaixonada do amor do que casais com menos de cinco
anos de casamento.9 Os pesquisadores concluíram que os
alunos não nutriam uma visão romântica do amor, ao passo
que os casais mais experientes estavam vivendo uma “pai­
xão bumerangue”, resultado do investimento a longo prazo
no cultivo de seu relacionamento.
Qual o segredo desses felizes casais mais velhos? Como
despertaram a chama por vezes adormecida da paixão?
Aqui estão três estratégias de casais felizes no casamento.
Pratique o afeto. Os terapeutas sexuais há muito já sabem
o que os casais felizes logo aprendem. O afeto, demonstrado
pelo toque, não é apenas uma preliminar do ato amoroso;
é uma linguagem mais eloqüente do que o discurso.
Sheldon van Auken, ao escrever sobre seu casamento com
Davy no livro A severe m ercy [Uma m isericórdia rígida],
54
ilustra o poder do toque: “Davy veio engatinhando para
perto de mim e se aninhou em meus braços. Sussurramos
algo e permanecemos em silêncio. Eâtávamos juntos,
unidos, tomados por um sentimento de grande beleza.
Tenho certeza de que nós dois nos sentíamos como uma
única pessoa: não era preciso dizer mais nada”. O toque é
a linguagem da paixão.
P lan eje eventos agradáveis p a r a ambos. Estar casado não
significa que a diversão deva acabar. As pessoas com uniões
bem-sucedidas trabalham diligentemente para proporcionar
experiências positivas ao parceiro. Jantares românticos, pas­
seios ao teatro e férias são acontecimentos sempre impor­
tantes para eles. A paixão morre quando um dos consortes
começa a associar o parceiro a roupas sujas jogadas pelo
chão, ordens, gritos e reclamações. Sobrevive e cresce
somente se o casal continua a “namorar” mesmo após o
casamento.
E logie seu p a r c e ir o d ia riam en te. O elemento mais
importante da paixão, tanto para os maridos quanto para as
esposas, é sentir-se especial. Não querem apenas sentir-se
sexualmente atraentes, mas também apreciados. Os elogios
fazem bem, tanto para quem os faz quanto para quem os
recebe. E assim, parafraseando a canção de James Taylor:
“Dê um banho de elogios em quem você ama”.
Quando se resgata a paixão no casamento, o fundamental
é que a intensidade do início da paixão seja apenas o começo
de tudo. Sempre ilustramos essa idéia dizendo o seguinte:
um avião a jato que sai de Seattle para Nova York usa 80%
do combustível na decolagem. É preciso grande quantidade
de energia para que o avião levante vôo e atinja uma altitude
segura. A partida, contudo, é apenas o começo. A jornada é
a parte mais importante da viagem e requer um tipo de
55
energia diferente, uma energia que seja mais durável e até
mais forte. Se você cultivar uma paixão de raízes profundas,
poderá evitar anos de turbulência conjugal e saborear o vôo
a altitudes inimagináveis.

Cultivar a intimidade
Teoricamente, marido Se você quer ser amado,
e mulher são os melhores seja amável.
amigos e amantes, parti­ O v íd io
lhando sonhos, interes­
ses, temores e esperanças. Mas, de acordo com Stacey Oliker,
socióloga e especialista matrimonial, a distância que separa
a intimidade da vida real ainda é grande. Somente um seleto
grupo de pessoas experimenta uma intimidade sincera.11
Por que isso acontece? Para Stacey, cada cônjuge procura
preencher esse vácuo tornando-se mais íntimo dos melhores
amigos do que do outro cônjuge. No livro B estfrien ds a n d
m arriage [Melhores am igos e casam en to, a socióloga afirma,
por exemplo, que muitas mulheres procuram primeiro
amigos e parentes para se confessar em vez do marido.
Do mesmo modo, a maioria dos homens entrevistados citou
os amigos como as pessoas com quem provavelmente
conversariam sobre planos e ambições.
Mas isso significa que não se deve ter um amigo íntimo?
De maneira alguma. Isso quer dizer que precisamos dedicar-
nos mais ao cultivo da intimidade no casamento. Eis algu­
mas coisas que se devem levar em conta:
Passem m ais tempo juntos. Uma das grandes ilusões da
nossa era é pensar que o amor é auto-suficiente. Não é.
Segundo o especialista matrimonial David Mace, “o amor
precisa ser alimentado e cultivado [...] antes de mais nada,
ele precisa de tempo”. Estudos indicam que a felicidade

56
conjugal está intimamente
O amor é como uma
ligada ao tempo em que
partida de tênis: você
nunca terá uma vitória o casal passa junto. Em
consistente se não geral incentivamos os
aprender a dar um bom muito ocupados a marcar
saque. almoços juntos ou a expe­
rimentar algumas “noites
D a n P. H e r o d
sem televisão”. As con­
versas francas não acontecem em meio à roda-viva.
D ê toda a atenção. Estudos sobre a intimidade dos casais
apontam que a “falta de atenção” ao outro é o principal erro
no relacionamento. Temos certa tendência a interromper o
parceiro ou a nos mostrar impacientes quando ele está
contando uma história. Entretanto, a intimidade é cultivada
quando não apenas ouvimos a história, pacientemente, mas
também percebemos os sentimentos que ele está tentando
nos passar. Se você souber fazer isso, a intimidade fluirá em
seu casamento. (Apresentaremos esse assunto mais deta­
lhadamente no capítulo 6.)
P ratique a a ceita çã o total. A experiência mais íntima
somente é alcançada quando não existe medo de rejeição.
Algumas pessoas pisam em ovos ao lidar com o parceiro,
temendo dizer ou fazer algo que o desagrade. Uma recém-
casada contou-nos que tinha medo de cozinhar quando o
marido estava em casa porque, não importava o que estivesse
cozinhando, ele sempre achava algo para criticar. Não há
nada que desgaste mais rapidamente a intimidade em um
relacionamento do que a ansiedade. E não há nada melhor
do que saber que somos completamente aceitos mesmo
com nossas imperfeições.
C on centre-se n a s sem elhan ças. A intimidade cresce
quando é alimentada por emoções, experiências e opiniões
57
em comum. Converse com qualquer casal que tenha mais
de cinqüenta anos de casamento feliz e ambos citarão suas
diferenças: “Ele nunca pára, e eu adoro relaxar”; “Ele adora
doces, e eu, salgados”; “Ele é democrata, e eu, republicana”.
Mas revelarão também suas semelhanças. Geralmente come­
çam dizendo: “Rimos das mesmas coisas”; “Adoramos viajar
para tal lugar’; “Seguramos qualquer barra juntos”. Quanto
mais os casais se concentram no que têm em comum, mais
forte se torna a intimidade.
Explorem o p la n o espiritual juntos. A falta de intimidade
quase sempre remonta à falta de vitalidade espiritual. Um
estudo demonstrou que a espiritualidade está entre as
seis características mais comuns dos relacionamentos
sólidos.13 Quando duas pessoas têm sede de conhecimento
ou já têm uma consciência espiritual, tornam-se almas
gêmeas. Em outras palavras, a espiritualidade é a alma
do casamento; sem base espiritual, os casais encontram
vazio e superficialidade, o que poderá afastá-los da
verdadeira intimidade. (Isso será exposto com mais
detalhes no capítulo 7.)
Aqueles que não cultivarem a intimidade terão, na
melhor das hipóteses, um casamento “vazio”. Organizarão
os detalhes práticos da vida, como decidir quem fará as
compras ou que carro comprarão, mas viverão em um
vácuo emocional e espiritual, sem nunca experimentar a
verdadeira beleza do amor.

Cultivar o compromisso
Quando Tevye, de Fiddler on the r o o f [O violino no
telhado], de repente quer saber se, após 25 anos de casamento,
a esposa ainda o ama, faz uma pergunta direta: “Você me
ama?”. Seu casamento era arranjado e, quando Tevye explicou

58
a sua esposa — “Meus pais disseram que aprenderíamos a
nos amar. E agora pergunto: GoIde, você me ama?”. “Acho
que sim” — ela finalmente responde. — Ele, então, diz —
“Depois de 25 anos, como é bom ouvir isso”.
E é mesmo. Quando as fortes emoções começam a desa­
parecer, toma lugar outro tipo de amor, fundamentado no
compromisso, trazendo paz e estabilidade ao relacio­
namento.
Para cultivar esse importante elemento que é o
com prom isso no início do casamento, examine os seguintes
pontos:
Valorize o compromisso. É difícil dar a ênfase necessária
à importância do compromisso em uma relação duradoura.
Três especialistas que estudaram 6 mil casamentos e 3 mil
divórcios concluíram que “não há nada mais importante
em um casamento do que a resolução de que ele deve
continuar. Com isso em mente, as pessoas se forçam a
ajustar-se e a aceitar situações que, de outro modo, seriam
motivos de separação”.14 O compromisso é a base de sus­
tentação do casamento.
A tenda às necessidades d e seu parceiro. Quem já estudou
Abraham Maslow numa aula de psicologia geral é capaz
de dizer que o ser humano tem uma necessidade básica
de segurança. Uma boa maneira de dar segurança a alguém
é atender a suas necessidades corriqueiras tanto quanto
possível. Se, por exemplo, você atender à necessidade do
outro de relaxar após o trabalho ou de sair à noite uma
vez por semana, o nível de segurança na relação aumentará.
Atender até mesmo aos pequenos desejos pode ajudar a
cultivar a segurança do compromisso.
Respeite a s prom essas m atrim oniais do outro. As pessoas
ficam tão concentradas em seu compromisso e nos sacri-
59
fícios que fazem em benefício do casamento que se
esquecem de apreciar a beleza da promessa daquele a
quem desposaram. Aconselhamos um rapaz que no primei­
ro ano de casamento achava que a instituição matrimonial
era algo para otários, uma farsa moral que o faria perder a
última chance de ser feliz. Como seu casamento não era
tão satisfatório quanto esperava, estava disposto a acabar
com a farsa e seguir em frente, embora a esposa fosse
extremamente dedicada a ele. Ele só percebeu essa devoção
ao compromisso com ele quando levantamos o assunto.
Mas, ao reconhecer a fidelidade da esposa em honrar o
voto de amor, esse jovem marido decidiu que também
poderia tentar praticar a arte de cumprir promessas.
Respeitar a promessa do companheiro é uma boa maneira
de cultivar o compromisso.
F a ç a d o seu com prom isso su a m a n eira d e ser. Em uma
cena da peça de Thomas Bolt A m a n fo r a li seasons[U m
h om em p a r a tod as a s estações], Thomas More explica à
filha Margaret por que ele não pode quebrar uma
promessa que fez: “Quando um homem faz uma pro­
messa, Meg, ele se vê nas próprias mãos, como à água.
E, se abrir os dedos deixando-se escorrer, estará perdido
para sempre”. Como seres humanos, criamos e definimos
a nós mesmos por meio de nossos compromissos, e eles
se tornam parte indispensável de nossa identidade. Ao ir
contra nossos compromissos, podemos nos perder e ter
uma crise de identidade. Se você quer fortalecer o
compromisso com seu parceiro, faça desse compromisso
parte vital de seu modo de ser e dê-lhe prioridade má­
xima, de tal modo que, ao violá-lo, você estará violando a
si mesmo.

60
Todo casamento próspero está enraizado na paixão, na
intimidade e no compromisso. Se você cultivar esses
elementos, obterá êxito na jornada do amor e fará com
que ele dure para sempre.

P ara r e f l e x ã o

• Qual foi a primeira vez que você disse “Eu amo você”
a seu parceiro? Relate a experiência. O que você estava
pensando e sentindo?
• Na sua vida amorosa atual, que componente do amor
parece mais forte: paixão, intimidade ou com ­
promisso? Por quê?
• Por que é importante saber que o amor se apresenta
de diferentes formas durante a vida?
• A paixão geralmente é o primeiro componente do
amor a enfraquecer-se no casamento. O que você
pode fazer em preparo para esse inevitável enfra­
quecimento da paixão e para não deixar que ela
desapareça completamente?
• O que você faz para cultivar a intimidade no relacio­
namento? O que mais pode ser feito a esse favor,
especialmente quando se leva uma vida muito ocupada?
• O compromisso é a base do amor duradouro; oferece
segurança e permite que relaxemos. Você acha que
há momentos no casamento em que o compromisso
pode estar em perigo? Em caso afirmativo, quando
ocorre e o que pode ser feito para evitar que isso
aconteça?
• De que maneira seu conceito sobre o amor mudou
depois de ler este capítulo?
• Após ler este capítulo, faça uma lista de coisas específicas
que pode fazer para fortalecer seu amor.

61
A felicidade é um hábito. Cultive-a.
E lbert H ubbard

T e r c e ir a P e r g u n t a :

V o c ê t e m o h á b it o
DE SER FELIZ?

Tínhamos acabado de ministrar uma palestra em um


asilo de San Juan Islands quando o avião que nos levaria
para outro compromisso passou sobre nossas cabeças e
aterrissou em uma pista de pouso próxima dali. Cinco
minutos mais tarde, embarcamos em um velho Cessna com
capacidade para três pessoas.
O piloto recebeu-nos dizendo: “Vai ser uma viagem um
pouco barulhenta, mas é um vôo rápido até Seattle e com
uma bela vista a esta hora da noite”.
Olhamos um para o outro, silenciosamente comunicando
nosso medo de viajar em um avião tão frágil. “Ótimo!”,
disse Leslie, tentando parecer animada.
Apertamos os cintos e colocamos o fone de ouvido quando
o piloto acionou o motor. Num piscar de olhos, estávamos
chacoalhando pelo gramado da pista de decolagem; três
cervos corriam para a mata diante de nós. Tentando esquecer
o medo, ficamos olhando pelas janelas, observando um pe­
queno facho de luz iluminar o topo coberto de neve das
montanhas Cascade. Era realmente maravilhoso.
Atravessamos as ilhas de Puget Sound e aproximamo-
nos das luzes de um aeroporto local.
— A coisa mais importante na aterrissagem é a atitude
do avião — disse o piloto.
— “Altitude”, o senhor está querendo dizer? — perguntei.
— Não. Atitude relaciona-se com o nariz do avião. Se a
atitude estiver altiva demais, o avião descerá batendo
violentamente. E, se estiver muito baixa, poderá perder o
controle por causa do excesso de velocidade na aterris­
sagem.
Então, o piloto disse algo que nos chamou a atenção: O
truque é assum ir a postu ra correta ap esar d as con dições
atm osféricas.
Sem perceber, nosso piloto havia oferecido uma perfeita
analogia da formação de um casamento feliz — o truque é
assumir a postura correta apesar das circunstâncias em que
nos encontramos.
Não é por acaso que alguns casais que encontram certa
turbulência na jornada conjugal conseguem atravessá-la,
enquanto outros, em circunstâncias semelhantes, são pegos
pela frustração, pela decepção e, às vezes, até mesmo pelo
desespero. Também não é à toa que alguns casais são
exultantes, positivos e felizes e outros desanimados, der­
rotados e dominados pela ansiedade. Os pesquisadores
que estudam as diferenças encontradas nos dois grupos
apresentam várias explicações para a felicidade conjugal
(namoros longos, passados semelhantes, famílias compre­
ensivas, boa comunicação, boa educação e assim por
diante). Mas o ponto básico é que os casais felizes decidem
ser felizes. Apesar dos problemas que a vida lhes apresenta,
transformam a felicidade em hábito.

64
Já casados, Leslie e eu ministramos cursos e seminários
sobre casamento durante vários anos e temos, pelo menos,
duas dezenas dos compêndios mais recentes sobre o
assunto em nossa biblioteca pessoal. Um de nossos
favoritos, considerado um clás­
sico para muitos, diz repeti­ A felicidade é para
damente: A característica m ais ser compartilhada.
im portante d e quem vai casar- C o r n e il l e
se é o h ábito d a fe lic id a d e }
Este capítulo concentra-se mais na pessoa do que no
casamento, pois é seu comportamento que determinará se
você e seu parceiro “viverão felizes para sempre”. Come­
çaremos analisando como você pode, literalmente, pro­
gramar sua mente para alcançar a felicidade conjugal.
Depois, apontaremos os principais comportamentos que
podem construir ou destruir um casamento. Em seguida,
revelaremos alguns dos sabotadores mais comuns de
casamentos felizes e o segredo dos casais bem-sucedidos.
Finalmente, estudaremos se duas pessoas podem realmente
viver “felizes para sempre”.

C om o p r o g r a m a r sua m e n t e pa ra t e r u m c a s a m e n t o f e l i z

A felicidade no casamento não depende de sorte e sim


de vontade. Aprendi essa lição a duras penas.
Nos primeiros anos de casamento, Leslie e eu estávamos
na faculdade e morávamos num pequeno conjunto de apar­
tamentos com vários outros casais de alunos. Alguns andares
abaixo viviam Bob e Jessica, também recém-casados e recém-
chegados a Los Angeles. Tínhamos muito em comum, exceto
uma coisa: tudo parecia dar certo para eles.
O apartamento em que moravam ficava num canto
isolado e era agradavelmente decorado. Nós, ao contrário,

65
tínhamos móveis de segunda mão, dentre os quais uma
poltrona amarelo-berrante de braços puídos e um sofá de
veludo canelado, desbotado e cor de ferrugem. Jessica
trabalhava em uma elegante loja de departamentos e recebia
descontos substanciais, o que os mantinha sempre na última
moda. Nós ainda usávamos as mesmas roupas de quando
freqüentávamos a graduação. Enquanto eu ansiava por dar
aulas ou conseguir uma vaga como assistente de pesquisas
na escola, choviam oportunidades como essas para Bob
sem que ele precisasse fazer muito esforço. Além disso
tudo, Bob e Jessica passeavam em um carro esporte, ver­
melho, novo, que haviam ganhado de seus abastados pais.
Na garagem do apartamento, ele ficava estacionado ao
lado da nossa velha caminhonete Ford cinza. Como eu
disse, parecia que tudo dava certo para eles.
Ficava chateado sempre que olhava para o carro novo
deles. Lá estava eu, suando em uma velha caminhonete
cinza sem ar condicionado, enquanto eles desfrutavam seu
veículo refrigerado e seus assentos de couro. Aquilo estava
realmente me deprimindo. Lembro de me sentir indignado,
pensando: P or q u e os outros conseguem tudo? P or qu e é tão
fá c il p a r a eles? Para piorar as coisas, fiquei cada vez mais
negativo em relação a Leslie. Pequenas coisas que ela fazia
passaram a me irritar; para ser mais preciso, comecei a deixar
que pequenas coisas me irritassem. Minha autopiedade estava
criando um padrão de comportamento que começou a afetar
até mesmo meu casamento.
Depois de meses de preocupação com nosso mísero
salário e nosso estilo de vida simples, achando que tudo
parecia mais fácil para os outros, a verdade brotou de onde
eu jamais imaginaria: no curso de estatística. Enquanto
tentava aprender algo sobre cibernética e regressões
múltiplas, sentei-me diante de um computador e comecei

66
a inserir dados. Após 45 minutos, finalmente acertei todas
as linhas e colunas. Dei um tapinha no monitor e recostei-
me na cadeira reclinável para observá-lo trabalhar. Mas
nada aconteceu. Houve um silêncio total e absoluto. Quan­
do estava pronto para dar um chute na máquina, vi um
painel branco iluminado na parte superior. E lá estavam os
números, em uma resposta clara e precisa ao meu problema
de estatística.
Nem podia acreditar. Achava que a máquina daria voltas
e mais voltas, piscaria com luzes coloridas enquanto
analisasse as variáveis que eu tinha inserido. Mas o com­
putador levara apenas sete centésimos de segundo para
me dar o resultado.
Afundei-me na cadeira, sentindo-me impotente, e foi
então que meu professor, dr. Wallis, apareceu.
— Qual é o problema, Les?
Contei a ele quanto tempo havia levado para colocar
meu problema no computador e como ele rapidamente
me havia apresentado uma resposta.
— Como isso pode ser possível? — perguntei.
O dr. Wallis levou minha pergunta a sério, explicando
como um computador pega uma parte ínfima de um dado,
atribui a ela um impulso elétrico positivo ou negativo e a
armazena. A partir daí, ele simplesmente acessa essa infor­
mação em sua memória e a combina de diversas formas.
— É assim, basicamente, que o cérebro humano trabalha.
— O que o senhor quer dizer? — perguntei.
— Nossos cérebros são programados de forma seme­
lhante à do computador. Antes mesmo de acrescentar
qualquer som, imagem, odor, sabor, textura ou impressão
em nossos computadores mentais, atribuímos valores
“positivos” e “negativos”. Depois, armazenamos a sensação
em nossa mente e ali ela permanece para sempre. É por

67
isso que, embora nem sempre lembremos o nome de uma
pessoa, lembramo-nos do que sentíamos em relação a ela.
Como ele sabia que me interessava mais por psicologia
do que por cibernética, acrescentou:

dos computadores, o ho­
Se você achar que
mem desenvolve o hábito
é feliz, será feliz.
de programar sua mente
para ser predom inante­
M aoam e D e La F a yette
mente negativa ou positiva.
Foi então que tudo ficou
claro: eu estava destruindo a mim mesmo e ao nosso
casamento porque esperava que uma oportunidade batesse
à minha porta, e isso não estava acontecendo. Incons­
cientemente, havia desenvolvido o mau hábito de qualificar
minha situação de “negativa”. Em vez de lutar para melhorar
nossa condição, mergulhei na autopiedade e fiz com que
ela piorasse.
Aquela tarde, na sala de computadores, foi decisiva
para mim. A partir daquele momento, resolvi ser feliz de
qualquer forma. Isso não quer dizer que eu seja otimista
com tudo e me sinta no topo do mundo. Mas agora me
recuso a deixar que as circunstâncias afetem meus
sentimentos... e meu casamento. Tudo começou quando
percebi quanto um comportamento negativo pode ser
destrutivo em relação a uma pessoa ou a um
relacionamento.

O PODER DO PENSAMENTO NEGATIVO

A maioria das pessoas negativas acha que seriam


positivas se tivessem um emprego diferente, um lugar
melhor para morar ou tivessem casado com outra pessoa.
Mas a felicidade não depende de circunstâncias melhores.
68
Uma pessoa negativa terá sempre atitudes negativas, seja
onde ou com quem for.
Por força do hábito, todos somos essencialmente positi­
vos ou negativos. As circunstâncias mudam com as con­
dições do tempo, mas nossas atitudes permanecem iguais.
A pessoa negativa defende seu comportamento com o
argumento de que é realista, enquanto a positiva enxerga
além do estado atual de coisas e vê as pessoas e situações
da perspectiva das possibilidades.
Peguemos o exemplo de Ron e de Scott. Ambos estão
casados há três anos, têm bom emprego, boa casa e
freqüentam a mesma igreja. Ron é basicamente uma pessoa
positiva. Olha as coisas pelo melhor ângulo, permite que a
esposa seja ela mesma e não julga as pessoas de acordo
com padrões perfeccionistas. Sua vida não está livre de
decepções e problemas, mas isso não o impede de ter um
casamento feliz.
Scott, por outro lado, é essencialmente negativo. É juiz
e júri de qualquer falha que encontre em seu casamento.
Seu discurso é um comentário negativo da vida, e ele e a
esposa estão prontos para dar tudo por encerrado. É claro
que Scott nem sempre foi assim. No início, tinha o que
chamamos de “inclinação positiva”. Na época da lua-de-
mel, tudo que a companheira dizia ou fazia era inter­
pretado sob uma perspectiva positiva, e ela não fazia
nada de errado. Mas, quando seu casamento começou a
enfrentar dificuldades, como acontece com todo casa­
mento, sua decepção e frustração fizeram com que se
inclinasse para o lado negativo, passando a ver tudo o
que a esposa fazia de uma perspectiva negativa. Agora
ela não fazia nada certo!
Ron e Scott tinham uma vida praticamente igual. Então,
por que essa drástica diferença de comportamento? O

69
problema para Scott não surgiu das circunstâncias, mas do
modo de interpretá-las — até o acontecimento mais corriqueiro
era, geralmente, visto do pior modo. Por exemplo, enquanto
Ron daria à esposa o benefício da dúvida se ela o
cumprimentasse friamente, Scott já tiraria conclusões negativas:
Ela n ão liga m ais p a r a mim. As realidades de Ron e de Scott
não eram muito diferentes, mas as comovisões eram.
As interpretações negativas certamente desgastam a
felicidade do casamento. Mas como fazer para cultivar
atitudes positivas quando nosso cônjuge faz algo de que
não gostamos? A resposta está em assum irm os nós m esm os
a respon sabilidade p o r nossos sentimentos.
Cheguei em casa um dia toda entusiasmada, ansiosa
para contar a Les as boas notícias. Agora não lembro que
notícias eram essas, mas me lembro de sua reação:
indiferença. Queria dividir minha alegria com ele, mas,
por algum motivo, ele não quis. Mais tarde, disse-lhe que
ele tinha me deixado chateada. Mas isso não é verdade.
Eu é que me chateei. Pode soar estranho, mas é verdade.
Antes de pensar por que Les não compartilhou da minha
alegria, fui logo tirando conclusões negativas: Ele nem liga
se algo bom acon teceu com igo. Ele só p en sa em si mesmo.
Enquanto isso, Les, que estava se sentindo um pouco
desanimado aquele dia por causa de um problema que
tivera no trabalho, estava pensando: Na verdade, ela n ão
liga p a r a mim. Ela só p en s a em si mesma.
A partir de então, nós dois adotamos uma postura do
tipo “ninguém está errado, ninguém tem culpa de nada”.
A idéia é deter nossa visão negativa em relação ao outro e
lembrar que ninguém f a z o outro infeliz. Cada um é
responsável pelas próprias ações.
Victor Frankl exemplificou melhor que ninguém a
capacidade humana de se colocar acima das adversidades

70
e manter uma atitude positiva. Psiquiatra judeu, aos 26
anos vivia em Viena, na Áustria, quando foi preso pela
Gestapo, de Hitler, sendo levado para um campo de
concentração. Mês após mês, trabalhou sob as enormes
chaminés que soltavam fumaça preta de monóxido de
carbono dos incineradores em que seu pai, mãe, irmã e
esposa haviam sido queimados. Todo dia, ansiava por
alguns pedaços de cenoura ou ervilhas em sua tigela diária
de sopa. No inverno, acordava uma hora antes do normal
para enrolar pedaços de pano nas pernas e se proteger do
frio cortante do inverno do leste europeu.
Quando Victor Frankl finalmente foi chamado para
interrogatório, teve de ficar nu, iluminado por uma luz intensa,
diante de vultos com botas lustrosas que iam e vinham nas
sombras da escuridão além da luz. Por horas, eles o inter­
rogaram e fizeram acusações, tentando arrasá-lo com as mais
variadas mentiras. Já lhe tinham tomado esposa, família,
trabalho, roupas, aliança de casamento e tudo o que tinha
valor material. Mas, no meio dessa enxurrada de perguntas,
ocorreu-lhe um pensamento: Eles p od em tom ar tudo, m enos
meu p o d er de decidir m inha atitude.
Felizmente, a maior parte das pessoas não teve de
enfrentar circunstâncias tão devastadoras quanto os judeus
na Alemanha nazista. Mas o mesmo princípio que ajudou
Victor Frankl a sobreviver nos campos da morte, escolhendo
a atitude que manifestaria, serve para qualquer situação
difícil que possamos encontrar.
Milhões de casais são infelizes porque um dos cônjuges
desenvolveu um padrão de comportamento negativo e culpa
o parceiro por coisas que fez ou deixou de fazer. Esse é um
dos maiores erros que alguém pode cometer no casamento.
Não raro ouvimos reclamações do tipo: “Ele sempre me
magoa com seus comentários!” ou “Ele me deixa tão brava”.

71
Na verdade, observações e comentários não magoam as
pessoas; são elas próprias que se magoam. Obviamente, é
natural ficar chateado por algo que não nos agrada, mas
essa reação pode servir para iniciar uma resposta mais
positiva e construtiva.
Quando percebemos com quem está o controle —
somos nós quem controlamos os fatos externos e não o
contrário — , conseguimos reinterpretar acontecimentos
desagradáveis e desenvolver um comportamento positivo.

O SEGREDO DOS CASAIS FELIZES

Por que alguns casais são felizes? O dr. Allen Parducci,


pesquisador da u c l a (Universidade da Califórnia, em Los
Angeles), fez essa pergunta e descobriu que dinheiro,
sucesso, saúde, beleza, inteligência e poder têm pouca
relação com o “bem-estar subjetivo” (definição científica
de felicidade) dos casais. Em vez disso, as pesquisas
revelaram que o nível de contentamento de um casal é
determinado pela habilidade de cada um de ajustar-se a o
q u e estã além d e seu controle.2 Todo casal feliz aprende a
encontrar o comportamento correto, apesar das condições
em que se encontram.
Imagine como seria a história do Natal se Maria e José
não tivessem a capacidade de se ajustar às coisas que
não podiam controlar? Para começar, José teve de aceitar
o fato de que sua noiva, Maria, estava grávida. De acordo
com o Antigo Testamento, por lei, ele teria de apedrejá-la
ou enviá-la para uma cidade distante, como Roma, Cartago
ou Éfeso. Antes de romper o noivado, entretanto, Deus
enviou um anjo que disse a José que Maria havia
concebido uma criança do Espírito Santo, a qual se
chamaria Jesus. Então, em vez de mandá-la embora, José
casou-se com ela.3
72
Embora o primeiro ano de casamento seja sempre difícil,
Maria e José enfrentaram uma rara sucessão de desafios.
Nove meses de gravidez requerem grandes adaptações do
casal, independentemente de quanto tempo estejam juntos
— e aquela não era uma gravidez comum. Além de lidar
com as implicações do nascimento iminente, Maria e José
estavam tentando construir uma casa, cuidar dos negócios
e aprender a viver juntos os sete dias da semana. Como se
isso não bastasse, tiveram de largar tudo e viajar a Belém,
um dos primeiros passos do plano romano para aumentar
os impostos. Era exatamente disso que precisavam!
Certa manhã, Maria e José deixaram a casa em que
passavam a lua-de-mel e cruzaram os portões de Nazaré
rumo a Belém. Ela viajava montando o lombo de um
jumento, o que não era nada fácil. Algumas mulheres não
suportariam nem andar em um Buick durante a gravidez,
quanto mais em um burro! José havia enrolado uma pe­
quena corda no braço e segurava-a firmemente para evitar
que o burro tentasse derrubar a esposa, que estava com
mais de oito meses de gravidez. Durante a noite, não
paravam em hospedaria nem hotel, como se costuma fazer
hoje. Paravam na estrada, cozinhavam com panelas impro­
visadas, dormiam no chão duro e tentavam tirar o melhor
de cada situação difícil que encontravam.
Finalmente, quando já podiam ver a cidade de Belém
ao longe, Maria parou. Não podia dar nem mais um passo.
Podemos até imaginá-la, olhando para seu marido e dizendo
algo como: “José, não consigo andar mais. Vou sentar aqui,
embaixo dessa oliveira, enquanto você vai à cidade de
Belém e nos arranja um apartamento no Belém Hilton.
Veja se consegue um de frente, para que eu possa observar
o movimento da cidade e aproveitar o serviço de quarto
até a hora de o bebê nascer”.

73
Maria estava longe de casa, abatida, cansada, emocio­
nalmente esgotada e angustiada. Além disso, devia estar
pensando o que faria se seu trabalho de parto começasse
sem José por perto. Afinal, o bebê já estava para nascer.
Seu nível de ansiedade deve ter aumentado enquanto
esperava, observava e procurava desesperadamente o vulto
familiar de José. A multidão que passava pela estrada nem
prestava atenção nela.
Finalmente, José retornou, seu constante sorriso havia
desaparecido e seus ombros estavam baixos. Ela ouviu sua
história: “Maria, fui ao hotel, mas não havia nenhum quarto
vago. Está lotado por causa de uma convenção. Na verdade,
andei por todo o centro, de hotel em hotel, mas não encontrei
nenhum quarto disponível. Finalmente, consegui persuadir
um senhor idoso a nos emprestar o celeiro em que guarda
os animais. Ele vai cobrar caro, mas me prometeu que tiraria
todo o estrume e cobriria o chão com palha nova. O mais
importante; ele me disse que podemos ficar com o celeiro
todo, só para nós, sem ter de dividir a baia com mais ninguém”.
Com o coração pesado, Maria e José seguiram para o
estábulo, agradecidos por ter encontrado pelo menos um
abrigo contra o vento frio.
Naquela noite, o Filho de Deus nasceu.
Você pode imaginar como a história do Natal seria se
Maria e José não fossem
capazes de se ajustar às A boa notícia é que
situações fora de controle? você pode
Todo casal na terra deve transformar a má
aprender a desenvolver essa notícia em boa... se
capacidade se quiser ter um mudar seu modo
casamento feliz. A vida é de-agir!
cheia de reviravoltas ines­ R o b e r t H . S ch uller

peradas e problemas impre­

74
vistos. Talvez você não passe pela mesma experiência de
Maria e José, mas encontrará dificuldades só suas, ímpares
para você. Se não puder dominar as circunstâncias, nunca
conseguirá cultivar a felicidade. Você pode ser mais famoso,
belo, inteligente, saudável e rico do que outras pessoas,
mas, se não souber cultivar o contentamento em cada
situação, certamente será infeliz.

Os SABOTADORES DA UNIÃO FELIZ

Na seção anterior, mostramos o que fazem os casais


felizes. Seria um descuido se não mostrássemos o outro
lado da moeda, ou seja, o que os fazem infelizes. Se você
pretende cultivar o hábito da felicidade com seu parceiro,
precisará evitar o veneno da autopiedade, da culpa e do
ressentimento.

Autopiedade
Muitos casamentos já fracassaram por causa da auto­
piedade. A autopiedade por parte de um dos cônjuges ou
de ambos pode anular o encanto de um relacionamento.
Até os casamentos que começam com uma união forte
podem ser afetados permanentemente se a autopiedade
se desenvolver e tomar conta da relação.
Certa noite, mal estacionamos na entrada da casa de
alguns amigos e já vieram ao nosso encontro no carro.
Dos cumprimentos normais, passaram rapidamente para
uma história de autopiedade sobre seu novo pastorado.
“Nossa igreja é horrível!”, reclamou Rick. “Eles nos
enganaram; pensamos que nossa congregação seria de
gente estudada, como nós, mas é de operários! O antigo
pastor não fez nada para ajudar a igreja nessa transição, e
as pessoas não gostam de nós.”

75
“E você devia ver a casa pastoral!”, disse Jan, gesticulando
para a simpática casa branca, de dois andares, às suas
costas. “É tão pequena que não cabe nem metade das
nossas coisas.”
O resto da noite não foi
mais agradável. Rick e Jan A alegria é o negócio
contaram uma história após mais sério do céu.
outra sobre como sua nova
C . S. L ewis
situação era terrível. Quando
um deles saía da sala, o outro
dizia quanto estava preocupado com o cônjuge e pedia
que orássemos pelo casamento. A autopiedade já havia
contaminado a vida deles por completo.
Mais tarde, naquela noite, no caminho de volta para
casa, ficamos imaginando o que aconteceria com um casal
tão consumido por um sentimento como esse.
Não foi preciso esperar muito para ver os resultados.
Depois de um ano, Rick renunciou à igreja e seu casamento
chegou ao fundo do poço. Ele e Jan tentaram recuperar-se
mudando para outra cidade e tentando recomeçar tudo,
mas Rick não conseguiu ser um pastor de dedicação parcial.
O casamento desmoronou.
A dor da autopiedade que infligimos a nós mesmos
geralmente afeta também os amigos e familiares. Então,
por que continuamos a punir a nós e aos outros quando
esse sofrimento é inútil? Dias difíceis e experiências tristes
fazem parte da vida de todo casal, e a autopiedade em
razão dessas dificuldades não ajuda a ninguém. Na verdade,
é impossível ser um parceiro eficiente tendo de agüentar o
peso adicional da autopiedade. Um casamento feliz não
pode se dar a esse luxo.

76
Culpa
Desde que Adão culpou a Eva e Eva à serpente, os
casais têm usado o truque de dar desculpas e fugir à respon­
sabilidade. A infelicidade no casamento deve-se em grande
parte à tendência comum entre os cônjuges de um jogar a
culpa no outro.
Por exemplo, Stewart estava consertando o acendimento
automático do fogão e não conseguia achar sua chave de
fenda. Voltou-se contra Christy, acusando-a de tê-la perdido.
— Você nunca guarda minhas ferramentas no lugar certo
— gritou. — Você me irrita.
— Eu nem usei essa sua estúpida chave de fenda! —
respondeu Christy. — Por que você sempre me culpa por
tudo o que você faz de errado?
E eis mais uma briga começando. Stewart culpava Christy
com freqüência porque ela era alvo fácil. E, ao fugir da
responsabilidade, ele se livrava da culpa pela insatisfação
de seu relacionamento. Christy era a culpada; o problema
era ela. Christy, por sua vez, jogava lenha na fogueira, fi­
cando ofendida com as falsas acusações dele. Em vez de
tomar uma atitude própria, deixava que o marido contro­
lasse sua reação.
Em muitos relacionamentos infelizes, um dos parceiros
torna-se o bode expiatório, o responsável pelo infortúnio. O
outro o vê como a origem de suas dificuldades. Na prática, o
primeiro está dizendo: “Você é o meu problema”. Mas dificil­
mente ele encontrará um conselheiro matrimonial que
concorde com isso. Os profissionais conhecem o assunto e
sabem que a infelicidade conjugal nunca é causada por apenas
uma pessoa. É por isso que os terapeutas não enfatizam quem
está errado, mas sim o que não está certo.
A culpa quase sempre resulta no fim do casamento, como
aconteceu com Stewart e Christy. Mas, depois do aconse-
77
lhamento, Stewart aprendeu a confessar suas emoções e
parar de culpar o outro. E, quando isso aconteceu, Christy
aprendeu a evitar retaliações e a dirigir seus esforços para a
solução do problema, em vez de optar pelo conflito.
Vamos reproduzir a situação, examinando como Christy
poderia ter mudado a forma de reagir diante da acusação
de Stewart:
Stewart: Onde está minha chave de fenda? Você sem­
pre tira do lugar e nunca devolve.
Christy: Ele está m e cu lpan do d e novo. Tenho vontade
d e dizer: “N ão sei o q u e acon teceu com sua
estúpida chave d e fe n d a ”, m as assim com e­
çarem os a brigar e am bos fic a rem o s sentidos.
O m e lh o r é s im p le s m e n t e ir d ir e t o a o
p roblem a . Espere um pouco, quando você
usou pela última vez?
Stewart: (Isso desvia a atenção da raiva e faz com
que começe a pensar na resposta.) Acho que
foi a semana passada.
Christy: Você não estava consertando alguma coisa
ontem à noite?
Stewart: Hum... acho que a usei mesmo ontem à noite.
Christy: Onde?
Stewart: Não sei... no porão.
Christy: Será que não está lá dentro?

Como era de esperar, Stewart encontrou a chave de


fenda no porão, onde havia trabalhado a noite anterior.
Ao mudar a atenção e questioná-lo em vez de contra-atacá-
lo, Christy pôde evitar uma possível briga e encontrar a
solução do problema.
A culpa pode ser derrotada, mas, quando se permite
que ela sobreviva — se os casais entrarem no jogo da
78
culpa — , a felicidade inevita­
velmente acabará perdendo
todos os pontos. Todo proble­
ma sintomático do casamento
(apatia, irritação, tédio, raiva,
depressão etc.) remonta a uma fuga da responsabilidade
pessoal. Se você está irritada, a culpa não é de seu marido,
mas uma escolha sua. Se está deprimido, não é falha de
sua esposa, mas porque você se permitiu ficar deprimido.
O hábito de culpar o cônjuge é completamente oposto ao
princípio de assumir a responsabilidade pelos próprios atos.

Ressentimento
Ninguém está livre de ser tratado injustamente. Podemos
sempre justificar nossa revolta contra uma situação ou alguém
(até mesmo nosso cônjuge) que injustamente nos complicou
a vida. Mas, se nos mantivermos na frustração, na dor e na
raiva, estaremos apenas alimentando nossos problemas —
pois é assim que o ressentimento faz seu mórbido trabalho.
O ressentimento é como um câncer para os relacio­
namentos; pequeno e imperceptível no início, cresce com o
tempo, espalhando seu veneno por toda a relação. Se pen­
sarmos sobre uma injustiça que cometeram contra nós e
repassarmos a cena várias vezes em nossa mente, estaremos
provocando uma torrente de emoções negativas que servirá
apenas para alimentar a dor ainda mais. Depois, uma suces­
são de incidentes surge para nos convencer de que o objeto
de nosso ressentimento é a origem de toda a infelicidade
que sentimos. Pode haver períodos de recesso, quando nossa
mente se ocupa com outros desafios, mas cedo ou tarde
voltaremos a remoer o assunto e o câncer do ressentimento
se alastrará como fogo.

79
Mesmo que o ressentimento não seja dirigido ao parceiro,
será sempre prejudicial ao relacionamento.4 Trabalhamos
com vários casais em que um dos parceiros guardava
ressentimento em relação aos pais — às vezes mesmo anos
após sua morte.
Janice, divorciada aos 31 anos, veio ao nosso consultório
em busca de aconselhamento. Mal havíamos feito as devidas
apresentações e, abruptamente, ela despejou palavras tão
venenosas que jamais havíamos ouvido.
“Meu pai é o maior hipócrita!”, esbravejou. “Certamente
ele dá mais dinheiro para a igreja que qualquer pessoa, mas
só porque ele tem mais dinheiro que os outros. Mas em
casa, ele banca o maior idiota comigo e com minha mãe.”
Janice prosseguiu culpando o pai por todas as expe­
riências desagradáveis por que passou, até mesmo os seus
três tempestuosos anos de casamento que terminaram em
divórcio. Seu ressentimento em relação ao pai havia
contribuído para o colapso de seu casamento, mas, em
vez de ver que o problema era o ressentimento, continuou
culpando o pai. Embora o pai sustentasse a ela e à filha
dela e pagasse as despesas com instrução para que termi­
nasse a faculdade, ela o culpava pelas dificuldades em
que se encontrava.
Trabalhamos com Janice algumas semanas. Chegou um
momento em que eu (Leslie) disse: “Janice, está parecendo
que é mais fácil culpar seu pai e alimentar seu ressentimento
do que perdoar. Isso porque se você agir assim, terá de
assumir as conseqüências de suas ações, e isso é assustador”.
Finalmente, Janice fez um esforço sincero para perdoar ao
pai, fazendo uma oração de perdão e assumindo a
responsabilidade pelos atos dela. Ela casou-se novamente e,
embora não tenha havido nenhuma mudança repentina ou
miraculosa, nunca voltou a culpar o pai por seus problemas.

80
O casamento
feliz não sobre­
vive ao câncer
do ressen ti­
mento. Exata­
mente como a
autopiedade e
a culpa, ele
corrói o espíri­
to e anula nos­
sa capacidade
de ser felizes.
Mas, se esses poluentes forem eliminados, o casal será
feliz para sempre... ou não?

É MESMO POSSÍVEL QUE UM CASAL SEJA FELIZ PARA SEMPRE?

Todo casal que está prestes a casar, admita ou não, cultiva


o sonho de ter uma vida conjugal “perfeita”. Muitos recém-
casados contaram-nos como se sentiram “afortunados” no
dia do casamento por terem encontrado alguém que os
compreendia, que tinha os mesmos gostos, que era tão
compatível com eles.
Porém, por mais compatíveis que parecessem, chegava
um momento em que percebiam que não formavam um
par perfeito. Começavam a ver que nem sempre estavam
de acordo, que não pensavam, sentiam nem se compor­
tavam exatamente da mesma maneira; percebiam que fundir
duas personalidades, preferências e experiências passadas
é muito mais difícil do que jamais imaginaram. Acordavam
do sonho e abandonavam a esperança de viver felizes para
sempre.
Mas existe uma alternativa.

81
Os casamentos nunca serão perfeitos, porque as pessoas
também não são. Pela própria natureza humana, todo noivo
e noiva possui defeitos e virtudes. Às vezes sentimo-nos
tristes, irritados, somos egoístas ou irracionais. Somos uma
mistura de sentimentos bondosos e altruístas que se combi­
nam a intenções egoístas, futilidades e ambições. Unimos
o amor e a coragem ao egoísmo e ao medo. O casamento
é uma mistura de ouro e latão. Se esperarmos demais dele,
fatalmente ficaremos frustrados.
Então, como um casal pode viver feliz para sempre? Se
não se basear no que é externo. Muitas pessoas pensam
que o casamento é como ganhar na loteria: tiraram a sorte
grande e agora terão experiências interessantes e de grande
entusiasmo. Agora serão amados verdadeiramente. Agora
estarão completos. Mas o casamento não é como tirar o
bilhete premiado — pelo menos, não como im aginam os
que isso seja. Uma avalanche de dinheiro certamente o faria
feliz. Mas somente por um tempo. Pesquisadores descobriram
que um fato ocasional (como ter “sorte”), que ocorre sem a
sua interferência, não cria a felicidade duradoura. É preciso
que se tenha o domínio, o controle, a sensação de que algo
bom aconteceu porque você f e z com que acontecesse.5
Viver felizes para sempre somente dará certo se você
fiz e r acontecer. Quando você trabalha na matéria bruta do
casamento — a boa e a ruim que vocês trouxeram consigo
— para planejar, criar e construir um laço permanente, o
resultado é um sentimento duradouro e significativo de
completa realização. Se contudo você esperar que as coisas
aconteçam por mágica para ser feliz no casamento, o
relacionamento fará com que se sinta subjugado, solitário
e derrotado, entregue ao desespero.
O hábito da felicidade é um trabalho interno. Se agir
corretamente, apesar das circunstâncias adversas; se pro-

82
gramar a mente com impulsos positivos e se ajustar ao que
lhe está fora de controle, descobrirá que viver felizes para
sempre não é necessariamente um mito.

P ara r e f l e x ã o

• Nos últimos anos cada vez mais pessoas pensam que


a felicidade é o maior objetivo do casamento. O que
você acha?
• Parte dos votos matrimoniais diz algo como: "... para
amá-lo e respeitá-lo na doença e na saúde”. Como é
possível cultivar o hábito da felicidade mesmo quando
as coisas não estão bem?
• Dê exemplos vividos por você de situações difíceis
que superou e em que decidiu ser feliz. O que o
impede de fazer isso às vezes?
• Cada vez mais pesquisas mostram que as pessoas que
qualificam seus casamentos como “muito felizes”
também o fazem em relação à vida como um todo. O
que significa, para você, cultivar o hábito da felicidade?
• Embora a cultura em que nascemos e fomos criados
tenha uma influência muito grande sobre nossas ações,
somos os principais responsáveis pelo modo em que
decidimos enfrentar a vida. Em uma escala de 1 a 10,
diga até que ponto concorda com essa afirmação.

83
'

r-\ terrível quando falamos claramente


*—/ e somos mal entendidos.
SÓFOCLES

Q u a rta P e r g u n t a :

V ocê co n seg ue expressa r


O QUE ESTÁ PENSANDO
E COMPREENDER O QUE OUVE?

— Bem, o que você acha? — Leslie estava parada no


centro do nosso pequeno apartamento, rodopiando para
mostrar seu novo vestido. Não tínhamos nem uma semana
de casados.
— Ficou bem — respondi. — Já está pronta? Estou
morrendo de fome.
— Ficou bem, estou morrendo de fome? É tudo o que
tem a dizer? — ela nem precisava fazer essa pergunta
retórica, eu podia ler seus pensamentos.
— Algum problema? — perguntei (meu sentido aguçado
estava apenas engatinhando).
— Não.
— Então vamos embora.
— Espere um minuto. Vou trocar de roupa — disse Leslie.
— Por quê? Você está bem assim!
Cinco minutos depois, ouvi soluços vindos do quarto.
Q ue estranho, pensei. Fui até lá e abri a porta; a luz estava
apagada. Leslie estava toda encolhida na beirada da cama,
chorando.
— O que aconteceu?
— Nada.
— Você está bem?
— Estou.
— Então por que está chorando?
Nada de resposta.
Naquele silêncio, ficamos pensando no que acabara de
acontecer. Sentia-me confuso. Leslie estava magoada, mas
por quê?
Esse pequeno incidente em nossa primeira semana de
casamento foi um forte indício de que não falávamos a
mesma língua; pelo menos, era o que parecia.

Os casais dizem que o primeiro problema que enfren­


tam no casamento é uma “falha de comunicação”. E com
razão. Para o casamento afundar ou flutuar, dependerá de
como o casal envia e recebe mensagens, de como cada
um se expressa e compreende o que o outro diz. A
comunicação pode ser tanto um salva-vidas da intimidade
no relacionamento quanto um peso morto que o levará à
morte.
A propósito, a melhor época para desenvolver a
capacidade de se comunicar é quando tudo vai bem —
logo no início do casamento. Pesquisas feitas há seis anos,
em que se comparava o nível de entendimento de casais
de noivos com o de casais de cônjuges, mostram que,
quando se aprendem métodos eficazes logo cedo, é possível
aumentar em grande parte a possibilidade de ter um
casamento feliz.1 Apenas alguns princípios, se bem apre-

86
endidos e praticados regularmente, poderão decidir se a
relação sobreviverá ou irá por água abaixo.
O objetivo deste capítulo é ajudá-lo a tornar-se mais
expressivo e mais bem compreendido. Para começar, res­
saltamos a importância de aprender a se comunicar. Depois,
falaremos sobre as causas mais comuns das falhas na
comunicação e revelaremos o princípio da verdadeira arte
de se comunicar. Finalizamos o capítulo com algumas das
mais eficazes e testadas regras de comunicação no
casamento.

P o r q u e a p r e n d e r a s e c o m u n ic a r ?

Continuamente vemos ruídos na comunicação estra­


garem uma relação promissora: as pessoas lutam para
transmitir o que querem ou precisam no relacionamento,
sem perceber que estão falando uma língua que o outro
não compreende. Com a decepção, levantam suas defesas
umas contra as outras e permanecem na defensiva. Perdem
a confiança no parceiro, bloqueiam partes de si mesmas e
retraem-se emocionalmente. Não conseguem mais conver­
sar sem culpar os outros e por isso param de ouvi-los.
Algumas vão embora, mas, se ficarem, viverão um divórcio
emocional.
É difícil avaliar o grau de importância da comunicação
no casamento. Em uma pesquisa de opinião pública, quase
todas as pessoas classificaram a comunicação com o
parceiro como excelente (97%), afirmando que tinham um
casamento feliz, enquanto
apenas 56% classificaram Não há maior mentira do
sua comunicação como que uma verdade mal
ruim. A conclusão da pes­ compreendida.
quisa foi que “em uma W illia m J a m e s
época de casamentos cada
vez mais frágeis, a capacidade de comunicação do casal é
o mais importante aliado da união estável e satisfatória”.2
A comunicação é a alma do casamento. As dificuldades
nessa área não são um bom sinal de satisfação conjugal.
Aliás, uma das mais importantes habilidades que se pode
aprender é falar, para que o parceiro possa compreender,
e dar ouvidos, para que ele possa falar.
Você pode pensar que já sabe se comunicar. Deve estar
pensando o mesmo que a maioria dos casais de noivos
que nos procuram: “Nós nos amamos e conversamos sobre
tudo”. Mas você sabia que seu parceiro usa regras de
comunicação diferentes das suas? Cada um de nós possui
um conjunto único de “regras”, e o casamento força duas
pessoas com conjuntos diferentes a adaptá-los.
Robert e Melissa, por exemplo, eram completamente
apaixonados. Antes de casar, conversavam até a madrugada
e passavam horas pendurados no telefone toda semana.
Mas logo aprenderam que se comunicar não é tão fácil
quanto parece.
— Antes de nos casarmos — contou-nos Melissa — ,
Robert veio a uma reunião de família, mas mal abriu a
boca. Se alguém o interrompesse no meio de uma história
ou fizesse um comentário, Rob simplesmente parava de
falar. Isso me deixou louca.
— Levei um tempo para pegar o jeito da coisa — contou
Robert. — Para a família de Melissa, a interrupção é um
sinal de envolvimento. Significa que eles estão ouvindo, e
isso era novo para mim. Na minha família, cada um espera
educadamente a sua vez de responder ao comentário
anterior. Nunca entendi por que Melissa achou que minha
família era tão chata e formal.
Depois de aprender algumas regras novas de comu­
nicação e ajustar as antigas, Melissa disse:

88
— Isso nos ajudou a perceber que não existe um estilo
“certo” ou “errado” de conversa; eles simplesmente são
diferentes.
Robert e Melissa resolveram vários possíveis problemas
no início do casamento — antes mesmo que surgissem.
Você também pode fazer isso. A seguir, vejamos como é
fácil uma conversa ser deturpada.

O QUE NÃO SE DEVE FAZER

Um cartum mostra um marido carrancudo lendo o jornal


e a esposa magoada diante dele, com os braços cruzados.
Ele diz: “Será que temos de salvar nosso casamento bem
na hora em que estou lendo o caderno de esportes?”.
A reação dele remete para uma das reclamações mais
comuns de pessoas infelizes no casamento: “Ele/ela não
fala comigo”.
Quando um casamento começa a se desintegrar, a
conclusão a que se chega é: “Nós não nos entendemos” ou
“Não conseguimos mais nos comunicar”. As pessoas acre­
ditam que a falta de comunicação é a causa de seus
problemas. Mas permanecer calado não é uma fa lta de
comunicação e sim uma fo rm a de se comunicar que transmite
uma carga de mensagens negativas. O silêncio é uma forma
poderosa de expressão. O romance de Laurens van der Post,
Thef a c e beside the fir e [Af a c e a o lado do fo g d , conta a história
de um casal que deixou de se amar: “Lentamente ela enve­
nena Albert. [...] O veneno [...] é encontrado no livro dos
alquimistas. [...] Consiste numa mistura de todas as palavras,
trivialidades suaves, carinhosas, fervorosas e agrados que
ela nunca fizera — mas teria dito se realmente o amasse”.3
Embora o silêncio seja poderoso, não é o que causa
uma comunicação pobre — mas sim o medo de sofrer. Faz
parte da natureza humana buscar o prazer e evitar o sofri-
89
mento. Mas as pessoas,
na verdade, prim eiro O que é difícil não é
procuram evitar a dor para apenas dizer o que é certo
no lugar certo, mas
depois buscar o prazer.
sobretudo deixar de dizer
Isso é fundamental para
o que é errado no
compreendermos as fa­
momento tentador.
lhas na com unicação,
porque a maioria dessas G e o r g e S ala

falhas ocorre quando


tentamos desesperadamente evitar emoções dolorosas ou
um sentimento de não agradar, uma vulnerabilidade, um
medo e vários outros sentimentos. Nessas situações
potencialmente penosas, a comunicação é deturpada. Quan­
do nos sentimos inadequados, estamos dizendo: “Se você
realmente soubesse como eu era, talvez não gostasse de
mim”. Quando nos sentimos insatisfeitos: “Se eu contar o
que realmente estou sentindo, você vai me magoar”.
Temerosos: “Se eu mostrasse a minha raiva, isso o destruiria”
ou “Se eu dissesse como me sinto, você ficaria bravo”.
A famosa terapeuta familiar Virginia Satir apresenta quatro
estilos causadores de desentendimentos assumidos quando
nos sentimos ameaçados: 1) apaziguador, 2) acusador, 3)
calculista e 4) dissimulado.4 Cada estilo é uma resposta
disfuncional à dor em potencial e frustra nossas tentativas de
compreender o que nossos parceiros querem ouvir de nós.

Apaziguador
Apaziguadora é a pessoa do “sim”, sempre querendo
cair nas boas graças de todo o mundo, ansiosa por agradar
e cheia de desculpas. Os apaziguadores dizem coisas do
tipo “como você quiser” ou “não se preocupe comigo, eu
estou bem”. Procuram manter a paz a qualquer preço,
mesmo que o preço seja sentir-se indignos. Como as pessoas
90
desse tipo sentem dificuldade em expressar raiva e
costumam não externar muitos sentimentos, tendem a ficar
deprimidas e, como mostram alguns estudos, podem ficar
propensas a doenças. Os apaziguadores precisam saber
que não é proibido discordar.

Acusador
O acusador vive procurando erros e fazendo críticas, e
fala generalizando: “Você nunca faz nada direito”; “Você é
igualzinha a sua mãe”. Internamente, sentem-se desme­
recidos e mal-amados, previamente zangados por não
conseguirem o que desejam. Diante de um problema, os
acusadores acham que a melhor defesa é o ataque, porque
são incapazes de suportar ou expressar dor ou medo.
Precisam aprender a falar em benefício próprio sem atacar
os outros.

Calculista
O calculista é extremamente racional, calmo e retraído,
nunca admite erros e espera que as pessoas se conformem
e ajam. Diz coisas como: “Chateado? Não, não estou
chateado. Por que você acha isso?”. Com medo das emoções,
prefere os fatos e as estatísticas: “Não mostro minhas
emoções para ninguém, e também não quero que ninguém
me mostre as suas”. O calculista precisa que lhe perguntem
como se sente quanto a algum assunto específico.

Dissimulado
O dissimulado recorre a irrelevâncias em momentos de
tensão, evitando o contato dos olhos e as respostas diretas.
Para mudar rapidamente de assunto, ele diz: “Qual o
problema? Vamos sair e fazer umas compras”. A confron-
91
tação com o problema pode terminar em briga, o que seria
perigoso. Os dissimulados precisam saber que não há
perigo, não estão desamparados; os problemas podem ser
resolvidos e os conflitos, solucionados.
Da próxima vez que falar com seu parceiro de forma
apaziguadora, acusadora, calculista ou dissimulada, lembre-
se de que provavelmente você está magoado ou nervoso
por alguma coisa. Além disso, se seu parceiro lembrar um
desses tipos, você pode diminuir sua tensão, procurando
ser compreensivo com o que está por trás disso. A conclusão
é que você precisa descobrir uma maneira de poderem
conversar com tranqüilidade. E isso é feito construindo-se
uma base sólida para a verdadeira comunicação.

A BASE DA BOA COMUNICAÇÃO


Os casais mais felizes que conhecemos quase não têm
obstáculos de comunicação: conversam livremente sobre
assuntos difíceis, sentem que compreendem um ao outro,
quase não escondem nada um do outro e acreditam na
capacidade que têm de solucionar seus conflitos. Seu
segredo não está em uma lista de “regras” de comunicação,
antes reside no entendimento do seguinte: a b oa com u n i­
c a ç ã o depende, prim eiram ente, d e com o você é - e só depois
d a q u ilo q u e f a z . Antes de praticar as “técnicas” da
comunicação, esses casais procuram melhorar a si mesmos.
Você pode ler artigos e livros, freqüentar w orkshops e
consultar especialistas que o ensinarão sobre a c a p a cid a d e
de se comunicar, mas, se você não se concentrar primeiro
nas q u alid ad es que tem como parceiro, seus esforços não
terão resultado. Para obter riqueza na comunicação e solidez
no casam ento, é preciso que haja três elem entos:
cordialidade, franqueza e empatia.

92
Cordialidade
Seu parceiro traz consigo várias características ina­
ceitáveis, algumas conhecidas, outras por ser descobertas.
Entretanto, você, como cônjuge, optou por aceitá-lo como
ele é. Decidiu aceitar seu parceiro apesar do mau hálito,
dos defeitos, trejeitos e das estranhas inclinações. Esta é a
essência da cordialidade: desconsiderar um defeito a favor
da beleza que se esconde atrás dele.
A chave da cordialidade é a aceitação. Em vez de analisar
ou exigir mudanças, você simplesmente aceita os pensa­
mentos, sentimentos e ações da pessoa amada.
Levei bom tempo para permitir que Leslie fosse ela
mesma. Ela tem o dom despreocupado de parar para cheirar
as rosas sempre que as encontra pelo caminho, mesmo
que isso implique deixar outros assuntos para mais tarde.
Eu tenho o dom de eliminar os obstáculos e fazer as coisas
rapidamente. Logo no início do casamento, pensei que
podia transformar o jeito de Leslie. Mas meus esforços
missionários só nos trouxeram infelicidade. Depois que
aprendi o significado da cordialidade e passei a aceitar seu
modo de ser, nossa relação tornou-se muito mais inte­
ressante e feliz.
A cordialidade não é uma carta branca para tudo o que
o parceiro faz, nem uma sentimentalidade reprimida. Ela é
um convite ao parceiro para que seja quem é, sentindo-se
livre, à vontade e em paz. Favorece a confiança e evita
que o outro tenha de mudar sua personalidade para ser o
que você quer que ele seja.
A cordialidade incondicional também é um convite para
que a graça de Deus esteja presente no âmago de seu
casamento. Quando seu parceiro se sente seguro de que
nunca mais será recriminado por ser quem é, que nenhuma
crítica poderá magoá-lo, é sinal de que a graça de Deus
93
penetrou na estrutura de seu casamento — desfazendo o
padrão conjugal sutil, mas prejudicial, de sempre procurar
a aprovação do outro.

Sinceridade
Seu parceiro tem um radar interno contra mentiras,
flagrando sentimentos inventados e intenções falsas muito
antes de serem expressos abertamente. Não confiará em
você se não o achar sincero. Sem a sinceridade, pouco
resta do casamento.
Como expressar sinceridade? Não com palavras. O que
você diz ao parceiro é muito pouco comparado ao modo
em que diz — com um sorriso, um dar de ombros, franzindo
a testa ou olhando fixamente. Pense nisto: a comunicação
não-verbal é responsável por 58% de toda a mensagem, o
tom de voz conta com 35% e as palavras em si representam
apenas 7% da mensagem total.
A sinceridade é expressa por seu comportamento gestual
e não-verbal, pelos olhos e pela postura. E, segundo algumas
pesquisas, os maridos e as esposas são ótimos intérpretes
da comunicação não-verbal de seus parceiros.5 Um conhe­
cido seu pode não perceber uma súbita mudança na sua
expressão facial, mas seu cônjuge certamente perceberá.
Quando nos casamos, eu queria tanto ser a esposa
perfeita, que procurei pensar, sentir e fazer tudo como
achava que as esposas perfeitas fariam. Mas, em vez de
me tornar perfeita, acabei sentindo-me vazia. Estava repre­
sentando um papel, não sendo eu mesma. Felizmente, um
experiente conselheiro ajudou-me quando disse: “Leslie,
você está mais preocupada com o que deveria estar sentin­
do do que com o que está sentindo”.
E ele estava certo. Percebi que nosso casamento não
precisava de uma pessoa perfeita, mas de alguém sincero.
94
Você pode encher seu cônjuge de amor, mas, se não for
sincero, seu amor será vazio. Pode usar todas as técnicas
de comunicação do mundo, mas, se não for verdadeiro,
não funcionarão. A sinceridade é algo que você é e não
algo que fa z . Ela vem do coração e não das mãos.

Empatia
A melhor maneira de não magoar o companheiro é pôr-
se no seu lugar. Isto é empatia: ver o mundo pela perspectiva
do outro.
Há muitos anos eu
Não saia da vossa boca
(Les) coordenava seminá­
nenhuma palavra torpe; e
rios de treinamento para
sim unicamente a que for
professores da escola
boa para a edificação,
conforme a necessidade, primária. Para ajudá-los a
e, assim, transmita graça entender melhor o mun­
aos que a ouvem. do de um aluno do tercei­
E f é s i o s 4.29 ro ano, fiz com que an­
dassem pela classe de
joelhos.
“Sempre achei que os alunos enxergavam a sala de aula
do mesmo modo que eu”, disse um professor depois de
completar o exercício. “Ela parece tão diferente da
perspectiva deles”.
Cometemos o mesmo erro no casamento quando achamos
que nosso parceiro sabe o que estamos vivendo. Mas eles
não sabem. Cada um de nós interpreta a vida de acordo
com um misto de percepções e julgamentos singulares. A
vida parece tão diferente para o cônjuge quanto para nós,
mas temos a tendência de achar que ele enxerga a vida da
mesma forma que nós a enxergamos. Contudo, somente
depois de penetrarmos em seu mundo, de corpo e alma,
conseguimos compreender melhor seu modo de ver as coisas.
95
Olhar a vida pelo mesmo ângulo significa perguntar a si
mesmo: 1) Como meu parceiro vê ou sente essa situação,
problema ou acontecimento? e 2) Qual a diferença entre a
sua e a minha perspectiva?
A empatia é, talvez, o trabalho mais árduo na construção
de um casamento duradouro. Como a maioria de nós está
programada para usar ou a mente, ou o coração, sempre um
mais que o outro, é preciso fazer um esforço consciente para
alcançar a empatia. No livro Love’s unseen enem y [O inimigo
invisível do amor\, Les diz que amar somente com o coração
é na verdade compartilhar sentimentos e somente com a mente
é simplesmente analisar. A empatia, entretanto, une as
capacidades de compartilhamento de sentimentos com as
analíticas, coração e mente, para alcançar uma compreensão
total do parceiro. Ela determina: “Se eu fosse você, agiria à
sua maneira; compreendo porque você se sente desse modo”.
A empatia sempre envolve risco, por isso precavenha-
se. O conhecimento aprofundado das mágoas e esperanças
de seu cônjuge o mudará, mas as vantagens de aceitar
esse risco são extremamente superiores às desvantagens.
Quando você perceber conscientemente os sentimentos
de seu parceiro e compreender a forma de ele ver as coisas,
verá o mundo de maneira diferente.
A essência da comunicação baseia-se no seu modo de
ser — cordial, sincero e empático. Mas, embora essas três
características sejam básicas para estabelecer a boa comu­
nicação, sozinhas não garantem o sucesso. Ainda há
algumas “regras” a ser seguidas.

“ R e g r a s ” p a r a a b o a c o m u n ic a ç ã o

As regras mais importantes da boa comunicação resumem-


se em cinco atitudes básicas. Se aprender a usá-las, será

96
capaz de demonstrar mais amor ao parceiro, e seu casamento
será revitalizado.
São elas:
1. Use o pronome “eu” e não “você”.
2. Experimente demonstrar que escutou.
3. Entenda e aceite as diferenças entre homens e
mulheres.
4. Peça desculpas, se necessário.
5. Comunique-se por meio do toque.

Use o pronome “eu” e não “você”


Quando você está chateado com seu parceiro ou se
sente magoado, a tendência natural é o ataque: “Você me
irrita! Nunca pede minha opinião quando vai decidir algo
importante!”.
Usar o “você” dessa maneira cria uma barreira na relação.
Seu parceiro quase não terá alternativa senão sentir-se
culpado, acusado e criticado. É muito improvável que diga:
“É... tem razão. Às vezes sou muito insensível”. Em vez
disso, a reação natural será ficar na defensiva: “O que quer
dizer com isso? Se você tem uma opinião, então diga logo.
Não posso ler sua mente”.
Assim, o que geralmente acontece é outra acusação com
“você”: “É você a insensível. Já parou para pensar na pressão
pela qual estou passando no momento?”.
Rebater com “você” é o modo certo de estragar uma
noite. Essa cena seria completamente diferente se você
usasse “eu” para explicar como se sentiu nessa situação:
“Sinto-me magoada e rejeitada quando você não pede
minha opinião”.
Percebe a diferença? Afirmativas na primeira pessoa não
exigem que as informações sejam compreendidas, ao

97
contrário das acusações que provocam a defensiva. Frases
com “eu” provavelmente causarão preocupação e desper­
tarão a atenção do parceiro: “Perdão, querida. Não sabia
que se sentiria assim”. O “eu” não provoca a defensiva
porque você não está dizendo nada sobre o mau compor­
tamento de seu parceiro.
Não há vantagem nenhuma em fazer seu cônjuge sentir-
se atacado. Em vez de dizer “Você é tão distraído. Como
pôde esquecer que sairíamos esta noite?”, seria melhor se
dissesse “Fico magoada e brava quando você se esquece
de coisas que planejamos juntos”. Isso permite que você
expresse seus sentimentos dizendo que se sentiu
negligenciada, mas sem acusar seu parceiro de magoá-la
intencionalmente.
Em vez de “Você faz com que me sinta um burro toda
vez que corrige o que eu digo”, diga algo como “Fico
muito triste quando você corrige o que eu digo”. Comece
suas frases com “eu” e não “v o cê”, e evitará muito
sofrimento no casamento.
A comunicação não é o que você diz, mas o que seu
parceiro entende que você disse. Ao falar usando “você”,
tudo o que seu parceiro ouve são acusações e críticas. O “eu”
é muito mais eficiente, porque permite que sua mensagem
seja ouvida e compreendida.

Experimente demonstrar que escutou


Um sábio disse certa vez que, se o Senhor nos deu dois
ouvidos e uma boca, isso certamente quer dizer alguma
coisa. Bem pensado. Geralmente achamos que aprender o
“dom da verdadeira comunicação” significa aprender a
expressar-nos melhor, a transmitir mais claramente nossa
mensagem. Na verdade, porém, 98% da boa comunicação
resume-se em escutar.
98
Se você ouve, está escutando, certo? Errado. Ouvir é
um ato passivo. Ao escutar, você está interagindo ativa­
m en te com a mensagem e enviando-a de volta a seu
remetente. Escutar é um hábito simples de ser desenvolvido,
mas aprender a fazer isso pode ser difícil porque, em
situações importantes, normalmente estamos mais concen­
trados no que vamos dizer do que em escutar a mensagem
enviada.
Veja esta típica interação entre marido e esposa:
Esposa: ( segu ran do um vestido azu l-m arin h o com
um en orm e colarin ho branco)
Olhe para isso! O vestido está limpinho e
está com essa grande mancha cinza no
colarinho! Não dá para acreditar. O que vou
fazer agora? Ia vesti-lo essa noite!
Marido: Ah, querida. Não dá nem para perceber essa
mancha. Além disso, você pode usar aquele
vestido amarelo. Você fica linda nele.
O marido nessa situação está tentando ser prestativo,
mas nem escutou. Estava mais preocupado em resolver o
problema do que em entender o que a esposa estava
sentindo. Poderia ter falado várias coisas que fariam com
que sua esposa se sentisse ouvida e compreendida, como
“Lamento muito, eu também ficaria furioso” ou “Nem dá
para pensar o quanto você deve estar chateada”.
O mais importante ao demonstrar que você escutou é
permitir que seu parceiro saiba que você ouviu o que ele
disse e compreendeu a mensagem. A propósito, fazer isso é
uma ótima maneira de evitar um possível conflito. Se seu
cônjuge começar a atacar com frases do tipo “você”, como
“Você está sempre atrasada”, não responda “Não estou”. Em
vez disso, m ostre sinceramente que compreende seus

99
sentim entos e
diga: “Sei que vo­
cê fica chateado
quando me atra­
so. Deve ser irri­
tante. Tentarei
estar pronta na hora a próxima vez”. Escute as palavras nas
entrelinhas. Por exemplo, “Você está sempre atrasada”
significa “Estou chateado”.
Vários casais para quem ensinamos a habilidade de
demonstrar que se escutou reclamam que sentem-se estra­
nhos e acham que isso soa falso ou até tem ares de
superioridade. É por isso que construímos uma base de
cordialidade, sinceridade e empatia. Se a atitude de escutar
estiver enraizada nessas características, jamais terá uma
função mecânica; virá naturalmente, do coração. Se você
está prestando realmente atenção e de fato se importa,
demonstrará isso a seu parceiro e não será de forma mecâ­
nica. Como qualquer nova habilidade que aprendemos,
escutar pode parecer estranho no início, mas, quando você
começar a sentir a diferença que isso fará em seu casamento,
essa sensação de estranheza desaparecerá rapidamente.
Lembre-se, porém, de que, se você for realmente
empático, terá de mudar. Infelizmente, algumas pessoas
aprendem bem a escutar, mas falham em reagir ao que
ouviram. Se o seu cônjuge está pedindo para que você
mude seu comportamento, considere seriamente esse pedi­
do e, então, se lhe parecer razoável, trabalhe para isso.
Palavras sem ações são o mesmo que escutar sem reagir:
não significam nada.
Só mais uma coisa a esse respeito. Se você se sentir perdido
e não conseguir reagir à mensagem de seu parceiro, pense
no seguinte: veja se realmente quer entender a mensagem e

100
diga algo como “Fale-me mais sobre isso” ou “Ajude-me a
entender o que você está dizendo”. Essa técnica faz maravilhas.
O dr. Paul Tournier, famoso conselheiro suíço, disse:
“Nunca é demais enfatizar a grande necessidade que temos
de realmente ser ouvidos, levados a sério, compreendidos.
[...] Ninguém pode viver livremente neste mundo e ter uma
vida completa sem que se sinta compreendido por pelo
menos uma pessoa”.6 Ao oferecer ao parceiro o dom de
escutar, você estará reforçando o significado do casamento.

Entenda e aceite as diferenças entre homens e mulheres


Quando o professor Henry Higgins grita em M inha
q u erid a d a m a “Por que as mulheres não são como os
homens?”, sabemos que ele não se refere à anatomia
humana. Está apaixonado por Eliza, mas não consegue
realmente entendê-la. Especialista em idiomas, ensinara a
Eliza o linguajar da alta classe inglesa, mas não conseguia
verdadeiramente se comunicar com ela.
Henry Higgins não é o único. Quase todos os homens e
mulheres têm algum ponto falho ao tentar “alcançar” o
sexo oposto. Os homens e as mulheres são muito diferentes.
Nossos papéis mudam, mas nossa mente não. E, mesmo
que o comportamento do outro sexo seja diferente do
nosso, não está errado. Se o julgarmos “errado”, simples­
mente estaremos sendo míopes e antiquados. É preciso
aceitar as diferenças, parar de reclamar delas, mudar nossas
expectativas e aceitar um ao outro. A aceitação de nossas
diferenças é vital para a boa comunicação.
A comunicação pode tanto encurtar quanto aumentar a
barreira do sexo. Em um diálogo, homens e mulheres
parecem fazer a mesma coisa: abrir a boca e emitir sons.
Mas, na verdade, usam o diálogo com propósitos diferentes.
As mulheres conversam basicamente para formar e
101
solidificar relacionamentos com outras pessoas. Os homens,
por outro lado, tendem a usar as palavras para abrir caminho
na hierarquia ao comunicarem seus conhecimentos e
capacidades e revelarem informações.
As mulheres parecem dominar o que a especialista em
lingüística Deborah Tannen chama de “discurso afetivo” e
os homens sentem-se mais à vontade com o “discurso
informativo”.7 Embora as mulheres tenham maior domínio
da habilidade verbal (testes de aptidão provam essa
capacidade superior), é menos provável que a usem
publicamente. Os homens sentem-se bem apresentando
relatórios a grupos de pessoas ou interrompendo um orador
para fazer uma objeção — são habilidades aprendidas na
hierarquia masculina. Muitas mulheres podem achar que
esse comportamento seria uma forma de se expor. Por
exemplo, em uma festa os homens contam suas histórias,
trocam conhecimentos e contam piadas, enquanto as
mulheres geralmente conversam em grupos menores sobre
assuntos pessoais. Ocupam-se dos contatos, enquanto os
homens se posicionam.
Que relação isso pode ter com a comunicação no
casamento? Tudo se resume no seguinte: em termos simples,
as mulheres compartilham sentimentos, e os homens resol­
vem problemas. Se você não entender essa diferença de estilos,
suas conversas serão terrivelmente frustrantes. Por exemplo:

Esposa: Você não vai acreditar no monte de trabalho


que meu chefe está-me dando. Escute só...
Marido: Querida, eu sempre digo que você precisa con­
versar com ele sobre isso.

Esse tipo de interação acaba mandando vários casais


para o aconselhamento por não compreenderem o modo

102
diferente de ser das mulheres e dos homens. Depois de
feita essa distinção, a solução torna-se simples e funciona
quase instantaneamente, com pouco tempo de prática: basta
qualificar o tipo de diálogo que você quer ter e pedir a seu
parceiro que participe. Só porque os homens têm uma
tendência para resolver problemas e as mulheres para
compartilhar sentimentos, isso não significa que um não
seja capaz de fazer o que o outro faz. Veja como a conversa
anterior poderia acontecer:

Ela: Você não vai acreditar no monte de trabalho que


meu chefe está-me dando. Escute só...
Ele: Querida, eu sempre digo que você precisa
conversar com ele sobre isso.
Ela: Eu sei, mas gostaria de conversar sobre o que
estou sentindo agora, está bem? Eu preciso falar
sobre isso.
Ele: Está certo, pode falar.
A partir daí, ela poderá relatar o incidente e ele poderá
ouvir seus sentimentos ativamente, dando a ela um retomo
de vez em quando. Se você perceber que estão atuando de
modo diferente, qualifique sua conversa como “sentimental”
ou “racional” e tudo funcionará às mil maravilhas, respei­
tando-se os dois estilos no casamento e resguardando a
habilidade de comunicação de seu cônjuge.
No próximo capítulo, falaremos muito mais sobre as
diferenças entre os sexos.

Peça desculpas se necessário


Uma desculpa educada é uma reverência à civilidade,
um gesto que ajuda cidadãos conturbados a aceitarem-se
mutuamente, uma simples cortesia para manter os ânimos

103
em níveis toleráveis. Mas, no casamento, pedir sinceras
desculpas ao companheiro tem um significado muito maior
do que manter a civilidade — pode ser uma ferramenta
poderosa na resolução de questões e no estreitamento da
relação.
Algumas Palavras! Palavras! Estou cheia de palavras!
vezes, Só o que ganho o dia inteiro são palavras.
apresen­ É só isso que vocês, cretinos, sabem fazer?
tar des­ Não fale das estrelas que brilham no céu.
culpas é Se você me ama, prove!
ir direto E l i z a , em M in h a q u er id a d a m a

ao pon­
to. Quando um dos cônjuges perde a calma e a falta não
foi grave (ele pode ter esquecido de pôr gasolina no carro),
desculpar-se educadamente é o que basta para que o
incidente seja esquecido. Em outras ocasiões, desculpar-
se pode parecer espantosamente difícil.
Como muitos casais, trabalhamos com um que dava
curto-circuito em suas discussões com desculpas
precipitadas do tipo: “Eu disse que sentia muito pelo que
fiz” ou “Agora, será que não dá para esquecer o assunto e
seguir em frente?”.
Esse tipo de desculpa é um verdadeiro instrumento de
manipulação, uma maneira de terminar o assunto e evitar o
verdadeiro problema. O que é pior: uma desculpa antecipada
impede uma mudança real. Em um jantar, o marido foi ríspido
com a esposa. Mais tarde, ele disse: “Lamento, mas veja...
você tem de entender que tenho andado sob muita pressão
ultimamente”. Ele está-se esquivando da responsabilidade
por seu ato insensível. O que a esposa precisava ouvir era:
“Desculpe-me. Não está certo descontar em você só porque
estou sob tensão”. Isso explicaria à esposa que o marido
compreende que a magoou e tentará não fazê-lo novamente.

104
A desculpa sincera na relação acontece somente quando
os parceiros passam a assumir responsabilidades. Essa é uma
forma de dizer que cada um de vocês assume a
responsabilidade por seus atos, entende a maneira de o outro
ver as coisas e, às vezes, reconhece coisas sobre si mesmo de
que não gosta. Finalmente, isso significa mudança. “Tive de
engolir meu orgulho e assumir algo desagradável sobre mim
mesmo”, contou-nos um marido. “Mas depois que fiz isso,
comecei a mudar.”
Todos os casais precisam de um mecanismo de cura,
um modo de virar uma nova página no casamento, e saber
como e quando dizer que sente muito pode fazer grande
diferença. Pergunte a si mesmo quando e como pede
desculpas. Um dos dois costuma desculpar-se mais do que
o outro? Você usa a desculpa para se esquivar do que está
em questão?
Uma desculpa pode não ser expressa com um “sinto
muito”, mas com um presente, um passeio à noite ou
simplesmente uma caminhada juntos. O importante é que
a desculpa sincera, seja como for, aumenta a proximidade
do casal e o deixa com a sensação reconfortante de que
tudo vai bem.

Comunique-se por meio do toque


Nos últimos vinte anos, temos reconhecido a necessidade
da criança de ser abraçada e tocada. Agora sabemos que
ela não podem crescer — literalmente não se desenvolvem
— sem experimentar a proximidade física e emocional de
outro ser humano. O que geralmente não percebemos é
que, depois de crescidos, nossa necessidade de contato
físico não desaparece, e, quando o casal é capaz de supri-
la, a saúde do casamento melhora.

105
O contato físico é um meio poderoso de comunicação e
um modo carinhoso e reconfortante de alimentar o espírito
e transmitir emoções positivas. No livro Anatom y o f love [A
an atom ia do amor], a antropóloga Helen Fisher descreve
por que o toque é poderoso: “A pele humana é como um
gramado: cada folhinha é como uma extremidade nervosa,
tão sensível que, ao menor toque, pode gravar a sensação
daquele momento no cérebro”.8
Tecnicamente, a pele humana é dotada de milhões de
extensões nervosas, chamadas “receptores de toque”, e,
no toque, esses receptores enviam mensagens ao cérebro.
Este, por sua vez, libera elementos químicos de acordo
com a situação.
Imagine por um momento que você chega em casa
de um dia difícil, tenso, cansado e irritado - mas então
seu parceiro lhe dá um abraço amoroso. Esse afago
provoca o aumento da hemoglobina, substância existente
nas células vermelhas que transportam oxigênio como
energia pelo corpo. Incrivelm ente, aquele abraço
carinhoso ou mesmo uma simples carícia pode acalmar
os batimentos cardíacos, estabilizar a pressão e aliviar
uma dor aguda.
Você deve estar pensando: “O toque é algo sobre o
qual não é preciso aprender”, e provavelmente está certo.
A comunicação por meio do toque não é problema para a
maioria dos casais que estão para se casar. Normalmente
se abraçam, se beijam e dão as mãos sempre que estão
juntos. Normalmente, também, acreditam que é assim que
sempre será. E, sim, em alguns casamentos os parceiros
continuam a se abraçar e a dar as mãos por toda a vida.
Mas, em muitos, aquele contato do início desaparece.
Especialmente depois que uma criança entra em cena e o
ritmo da vida se acelera, o toque fica geralmente restrito

106
ao sexo. O toque puramente afetivo, à exceção de pequenos
afagos e rápidos beijos, pode ficar para trás.
Para ajudar a manter a comunicação pelo toque, converse
a respeito de como isso acontecia na sua família. Vocês
cultivavam um “contato de alta freqüência” ou um “contato
de baixa freqüência”? As pesquisas comprovam uma relação
direta entre o modo de você vivenciar o toque quando
adulto e a freqüência e o modo com que isso acontecia na
infância. Vocês podem discutir a forma de se tornar mais
voltados ao toque, mesmo que tenham crescido em uma
família que evitava o contato físico.
Também podem explorar as zonas agradáveis para cada
um. Provavelmente, cada um tem gostos e preferências
próprios em relação ao carinho. Para um de vocês, um
toque suave na mão pode significar tanto quanto um abraço
demorado. Os estudos mostram que alguns homens, quando
se sentem inseguros, interpretam o toque como uma espécie
de humilhação e não uma forma de apoio.
Depois de reconhecer a grande influência que ele causa
em nossa vida, não é de estranhar que o toque seja cha­
mado “a mãe de todos os sentidos”. Simplesmente não
há melhor modo de comunicar idéias como: “você não
está só”, “você é importante”, “lamento muito” ou “eu
amo vo cê”. Então, da próxima vez que estiver sem
palavras, lembre-se: o toque pode ser a melhor maneira
de falar com seu parceiro.

P ara r e f l e x ã o

• Quais são seus pontos fortes e fracos para estabelecer


a boa comunicação?
• Você consegue lembrar uma conversa com seu cônjuge
que tenha resultado em confusão e mágoa? Pensando
a respeito, o que deu errado? Em outras palavras, o
107
que você faria de diferente se uma situação semelhante
acontecesse?
• É comum acreditar que a falta de conversa provoca
esgotamento na comunicação. Por que isso não é
verdade? Qual é a principal causa do problema na
comunicação?
• Por que é importante se concentrar primeiro no seu
modo de ser antes de praticar técnicas de comu­
nicação?
• A empatia envolve pensamento e sentimento. O que
isso significa? Como ter certeza de que estamos
demonstrando empatia?
• De que modo as afirmações com “eu” no lugar
daquelas com “você” influem na comunicação?
• Responder às mensagens de seu parceiro é demonstrar
que você entende o que ele está dizendo. Antes de
praticar essa técnica, o que se deve fazer para que
isso não seja apenas uma função mecânica?
• Estudos mostram que os homens têm um “discurso
informativo” e as mulheres, um “discurso afetivo”.
Você concorda com isso? Pense em exemplos de sua
experiência.
• Você concorda que o contato físico desempenha um
papel importante na verdadeira comunicação com
seu cônjuge? Por quê?

108
V-^ou homem, e você, mulher.
Não conheço combinação melhor.
G roucho M arx

Q uinta P e r g u n t a :

V ocê ven ceu a


BARREIRA ENTRE OS SEXOS?

— Você não vai levar todas essas roupas, vai? Vamos


ficar fora apenas três noites e não três semanas. Além disso,
quem vai se importar com o que você veste em um
acampamento?
Assim que as palavras saíram de minha boca, eu (Les)
me arrependi de tê-las dito. Era quase meia-noite, e já
estávamos um pouco irritados. No dia seguinte, teríamos
de levantar cedo para passar o fim de semana em um
acampamento rústico perto de Santa Bárbara.
— Leve o que você quiser, e eu levarei o que quero —
Leslie respondeu. — Só porque você não se importa de
usar a mesma calça jeans três dias seguidos, não sou
obrigada a fazer o mesmo. E, de mais a mais, como vai
fazer com o laptop? A última vez que fomos para o leste
você teve de carregá-lo para todo lugar e nem chegou a
ligá-lo. Então, quem está exagerando o que levar?
— Gosto de saber que tenho meu computador à mão
caso precise dele.
— E eu gostaria de ter essas roupas para o caso de
querer usá-las.
— Está bem, você está certa — confessei. — O que me
parece essencial pode não ser para você e vice-versa. Às
vezes somos bem diferentes.
Realmente diferentes. Nos últimos anos, pesquisadores
descobriram que mulheres e homens têm realidades bio­
lógicas, psicoló­
gicas e profissio­
Há três coisas que são
nais diferentes.
maravilhosas demais para mim,
Biologicamente,
sim, há quatro que não conheço:
o caminho da águia no céu, o as mulheres têm
caminho da cobra na penha, o mais conexões en­
caminho do navio no meio do tre os dois hemis­
mar e o caminho do homem férios do cérebro
com uma donzela. e uma disposição
P r o v é r b i o s 30.18,19 à capacidade su­
perior da verbali­
zação. Nos ho­
mens, a separação maior dos dois hemisférios pode
contribuir para uma pequena inclinação ao pensamento
abstrato e à capacidade superior de girar mentalmente
objetos no espaço. Psicologicamente, as mulheres com
freqüência encontram seu senso de identidade ao rela­
cionar-se com os outros; os homens costumam encontrar
sua identidade no isolamento. Profissionalmente, os homens
de modo geral se concentram mais em objetivos de longo
alcance, enquanto as mulheres ficam mais atentas ao
processo pelo qual seus objetivos serão alcançados.
As diferenças entre os dois sexos são, algumas vezes,
tão gritantes que é difícil imaginar como a atração entre
eles pode ser tão forte. Essa é uma incógnita que o homem
tenta resolver há séculos. Há um mito da Grécia Antiga

110
que relata o fato de a terra ser povoada por seres metade
homem, metade mulher. Eles eram completos em si mesmos
e julgavam-se perfeitos. Por seu orgulho, rebelaram-se con­
tra os deuses, e Zeus, irado, dividiu-os ao meio, espalhando
as metades pela terra. Desde então, diz o mito, cada metade
procura sua outra metade.
Deve haver algum fragmento de verdade nessa expli­
cação mitológica. A história da Criação enfatiza a realidade
básica de sentirmos necessidade de buscar um ao outro
em razão das nossas diferenças. Adão, que vivia no único
paraíso que a terra já viu, não sentia dor nem derramava
lágrimas. No entanto, mesmo estando no Paraíso, a solidão
cresceu de tal forma, que Deus concluiu que não era “bom”
o homem viver sozinho — faltava algo. Deus deu sua
resposta e criou Eva — e não outro Adão.
Há uma interação inerente na união entre homem e
mulher. Nosso parceiro completa nossas falhas. Quando
estamos desanimados, ele se mostra esperançoso. Quando
somos agressivos, é generoso. Quando nos sentimos fracos,
eles são fortes. Quando macho e fêmea se juntam, o ser
está completo. Mas nossas diferenças, se não forem compre­
endidas e aceitas, passarão a ser fonte de discórdia e não
de realização.
As diferenças entre homens e mulheres no casamento
muitas vezes são desconsideradas quando acreditamos,
enganados, que nosso parceiro é exatamente como nós -
“o que for bom para mim será para você”. Costumamos
avaliar o comportamento do outro de acordo com padrões
femininos ou masculinos, sem levar em conta a enorme
diferença entre os sexos.
Por muitos anos, as diferenças entre os sexos eram
maldefinidas. Mas agora reconhecemos, com muito mais
exatidão, a barreira que separa homens e mulheres. E não

111
levar em conta essa barreira é colocar o casamento à beira
do precipício.
O objetivo deste capítulo é ajudá-lo a reconhecer que
seu parceiro, por pertencer ao sexo oposto, pensa, sente e
comporta-se de maneira diferente. Essas diferenças, se
analisadas e levadas em conta, podem tornar-se um grande
aliado da intimidade no casamento. Começamos enfati­
zando que homens e mulheres são diferentes e examinando
onde exatamente se encontram essas diferenças. Então
mostraremos, da perspectiva masculina e feminina, como
vencer a barreira dos sexos e viver bem com o cônjuge —
viver em “uníssono” como homem e mulher.

S e r á q u e so m o s t ã o d if e r e n t e s ?

O movimento feminista da década de setenta fez com


que a polêmica sobre as diferenças inatas do compor­
tamento masculino e feminino se tornassem ultrapassadas
ou até mesmo um tabu. Depois que a discriminação sexual
fosse abolida, essa era a argumentação, o mundo se tornaria
um lugar perfeitamente igualitário e andrógino, exceto por
alguns detalhes anatômicos. As diferenças entre homem e
mulher não eram inatas, sustentavam as feministas, mas
simplesmente aprendidas, e, assim, poderiam ser desa­
prendidas.
Porém, em vez de desaparecer, a evidência de diferenças
inatas começou a crescer. Os cientistas, por exemplo,
descobriram diferenças neurológicas entre os sexos, na
estrutura e na fisiologia cerebral, forçando a pessoa objetiva
a concluir que a natureza é, pelo menos, tão importante
quanto o desenvolvimento. Até mesmo Betty Friedan,
responsável por boa parte do movimento feminista, foi
obrigada recentemente a censurar suas colegas feministas:
“Chegou a hora de reconhecer que as mulheres são diferentes
112
dos homens. O conceito de igualdade deve levar em conta
que é a mulher quem dá à luz”.1 Vive la différence!
Embora a ciência tenha mostrado que homens e mulheres
têm conexões diferentes — que a diferença dos sexos está
muito relacionada com a biologia do cérebro e com a
maneira de sermos criados — , temos dificuldade em aceitar,
considerações à parte, nossas diferenças. E é aí que se
encontra grande parte dos problemas conjugais.
Sempre que dirigimos um retiro de casais, acabamos
dividindo o grupo em dois — as esposas num círculo, e os
maridos no outro — e aplicamos um rápido exercício.
Fazemos uma pergunta que sempre gera uma acalorada
discussão dentro de cada grupo: o que os homens precisam
saber sobre as mulheres e vice-versa. As respostas são
previsíveis:

Os homens dizem que As mulheres dizem que


as mulheres... os homens...
• são muito emotivas •são insensíveis
• não sofrem tanta •não ajudam no trabalho
pressão para manter da casa
a renda da família
• geralmente negam •têm medo de ser
seu verdadeiro poder vulneráveis e de
perder o controle
• falam demais • não escutam

O objetivo do nosso exercício não é atacar o sexo oposto,


mas ajudar os casais a enxergar, em primeiro lugar, que há
diferenças previsíveis entre os sexos e, em segundo, que
as diferenças tidas como estritamente pessoais entre marido
e mulher em geral são partilhadas pela maioria dos casais.

113
“Antes desse exercício, achávamos que éramos os mais
anormais no casamento” contou-nos um casal. “Quando
descobrimos que nossas diferenças são universais, perce­
bemos que somos normais e que tudo pode dar certo.”
Para fazer um casamento dar certo, porém, não basta
apenas reconhecer as diferenças. É preciso valorizã-las,
também. Conhece­
mos alguns casais
Em nossa civilização, os homens
que identificaram
têm medo de não ser homens de
verdade, e as mulheres têm suas diferenças e
medo de ser consideradas tentaram eliminá-
apenas mulheres. las. W ayne, por
exemplo, decidiu
T h e o d o r e R e ik
que a emotividade
de Teri tinha de ser
refreada. “Não há necessidade de gastar energia para ser
tão emocional”, ele dizia. Desejando trabalhar em equipe,
Teri tentou desesperadamente conter o modo natural de
expressar suas emoções e ser mais parecida com Wayne.
Ambos se esforçaram sinceramente para superar a barreira
imposta pelos diferentes sexos, mas, desde o início, já
estavam condenados ao fracasso. As diferenças entre sexos
não podem ser amenizadas pela homogeneização —
fazendo com que homens e mulheres pensem, sintam e
façam tudo de maneira semelhante. O fato é que o homem
é diferente da mulher. E os casais que reconhecem
abertamente suas diferenças e as valorizam aumentam as
oportunidades de evitar uma discussão. Além disso,
melhoram o nível de intimidade ao se encantar com as
diferenças. A chave, é claro, está em saber exatamente
quais são essas diferenças.

114
D e q u e m o d o so m o s d i f e r e n t e s ?

Sempre existe uma exceção à regra, mas as pesquisas e


experiências apontam sistematicamente para uma distinção
fundamental e muito marcante entre os sexos: os hom ens
p r e o c u p a m -s e com a con qu ista e a s m u lh eres com os
relacion am entos. Parece bastante simplista e talvez o seja.2
Mas, se você se lembrar dessa regra geral, economizará
tempo e esforço para manter um bom relacionamento e
estreitará seus laços.
Leslie e eu, como outros casais, aprendemos essa
diferença básica entre os sexos nos primeiros anos de nosso
casamento.

A P E R SP E C TIV A D E L E S L IE

Em nosso quarto ou quinto ano de casados, lembro-me


de imaginar por que Les não era mais tão romântico quanto
costumava ser. Antes de nos casarmos, ele fazia planos
divertidos para sairmos à noite, beijava-me quando o semáforo
fechava, guardava os canhotos dos ingressos de espetáculos
a que íamos assistir, comprava-me flores e até escrevia doces
poemas de amor. Mas, depois que nos casamos, seu lado
romântico se acomodou. Não que tenha deixado todo seu
romantismo de lado, mas havia algo visivelmente diferente.
P or quê? — pensava comigo mesma. Será que eu estava
fa z e n d o algo de errado? Será que ele tinha dúvidas quanto a o
nosso casam en to? Só pude responder a essas perguntas
quando descobri as diferenças básicas entre homem e mulher.
Les, como a maioria dos homens, é pragmático. Con­
centra-se em um objetivo e procura acreditar no seu valor
prático. Justifica uma atividade que realiza no presente
por seus resultados a longo prazo. Ele pergunta a si mesmo:
“O que isso pode produzir de bom?”. Gosta de palavras

115
como progresso e utilidade. Pode ser muito paciente criando
pequenos atos românticos, contanto que, em última análise,
eles se mostrem produtivos.
Eu, por outro lado, sou como a maioria das mulheres.
Estou voltada para os sentimentos e para as atividades do
presente — sem nenhum motivo em particular. Não preciso
de um objetivo; quero simplesmente aproveitar o momento.
A minha pergunta é: “O que está acontecendo e de que
forma devo entender ou sentir isso?”. Não preciso ser
produtiva nem ver utilidade em algo. Na verdade, a
conquista é, para mim, algo frio e distante. Gosto de palavras
como vínculo e relacion am ento. Posso ser muito paciente
ao fazer pequenas coisas românticas simplesmente porque
fazê-las tem um valor próprio.
É claro que Les tem uma visão diferente.

A P E R SP E C TIV A D E LES
Antes de nosso casamento, Leslie era despreocupada
e fazia de tudo para agradar. Sentia-se bem em relação
ao nosso casamento e era otimista quanto ao futuro. Mas,
logo depois que casamos, começou a mudar, ou assim
me pareceu. Tornou-se excessivamente preocupada com
nosso relacionamento e falava sobre como melhorá-lo.
Se eu não participasse, ela se sentia rejeitada. P o rq u e, d e
repente, ela se tornou tão em otiva? — lembro-me de ter
pensado. P or q u e ela ch ora com tan ta fa c ilid a d e agora?
Antes do casamento, parecia prática; agora, em algumas
ocasiões, mostrava-se quase irracional para mim. Com o
p o d e se p r e o c u p a r com flo r e s q u a n d o m al con seguim os
m anter-nos no orçam en to? Seu desejo de conversar sobre
nosso relacionamento fez-me sentir fracassado como
marido. Será q u e ela n ã o en x erg a n a d a q u e f a ç o p a r a
ela? — pensava.
116
Eu, como a maioria dos homens, não sentia necessidade
de ter longas conversas sobre o relacionamento. Estava
satisfeito em saber que
Leslie me amava, que eu A disposição em aceitar
a amava e que tocávamos suas diferenças permitirá
a vida felizes. Conversar que vocês se complemen­
sobre o quê? Aprofundar- tem e melhorem suas vidas.
nos em cada detalhe era C. W. N eal
desperdício de tem po
para mim.

Conclusão
Reconhecer a grande diferença entre homem e mulher
permitiu que eu (Leslie) entendesse que Les me cortejou
para chegar ao casamento. É bastante simples. Depois que
nos casamos, o objetivo de fazer a corte foi realizado, e
ele prosseguiu com outras atividades produtivas. Acontece
que o que eram “coisinhas sem importância” não eram
“coisinhas” afinal, eram sussurros calculados para levar-
me ao altar. Isto parece ardiloso, mas não é. Na realidade,
Les achava que eu era exatamente como ele e que os dois
continuaríamos a ser românticos somente até chegarmos a
uma conseqüência prática; depois disso, esperava que
fôssemos cuidar das coisas mais práticas da vida.
Eu (Les) finalmente percebi que nenhum de nós real­
mente mudou depois do casamento. Mas a situação sim. O
objetivo pelo qual me tornei especialmente romântico foi
alcançado, e o romance só pelo romance, apreciado por
Leslie, deixou de ser prioridade para mim. Pelo fato de
minhas energias se voltarem para assuntos mais práticos,
como construir um lar estável e um futuro seguro, ficou
difícil perceber que Leslie não pensava como eu. Ela queria
namorar e beijar só pelo prazer de fazê-lo. E, uma vez
117
casada, esperava que esse tipo de romantismo continuasse
para sempre.
Nossas diferenças não são raras, são universais: os ho­
mens são motivados pela conquista, e as mulheres, pelo
relacionamento.3 Então, quando as diferenças entre os
sexos surgirem em seu casamento, não pense que seu
parceiro é malvado. Ele não está tentando enganar;
basicamente, o que aconteceu foi que o casamento revelou
as diferenças.
As diferenças que vocês trazem consigo, como homem
e mulher, são boas e podem ser apreciadas. Como o corpo,
que tem a mente para raciocinar e o coração para sentir,
assim é o casamento. Somos seres impressionantes e
maravilhosos.
Então, como fazer para valorizar nossas diferenças?
Suprindo as necessidades específicas e inerentes do sexo
de nosso cônjuge. Normalmente, os homens tentam suprir
as necessidades que consideram importantes, e as mulheres
agem da mesma forma. O problema é que as necessidades
de seu marido não são as mesmas que as suas, e você não
poderá supri-las fazendo o que faria por outra mulher. Do
mesmo modo, as necessidades de uma esposa são dife­
rentes das do marido, e ele não conseguirá supri-las fazendo
o que parece ser natural ao homem. O importante é que
marido e mulher precisam “esforçar-se” para ir além de si
mesmos, levando em consideração as necessidades do outro
e depois satisfazendo-as.
Nas duas seções a seguir destacamos algumas neces­
sidades específicas que talvez você não perceba em seu
cônjuge. Ao satisfazê-las, você vencerá a barreira que os
separa e será fartamente recompensado.

118
O QUE TODO MARIDO DEVE SABER SOBRE SUA ESPOSA

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, disse: “Apesar de


meus trinta anos de pesquisa sobre a alma feminina, ainda
não me sinto capaz de responder à importante questão: o
que a mulher quer?”.
Bem, parece que Freud não logrou identificar as neces­
sidades mais urgentes de uma mulher, mas a ciência
moderna conseguiu.4 As necessidades mais básicas de uma
esposa no casamento são: atenção, compreensão e respeito.

Ela precisa de atenção


“Não consigo entender, doutor”, Doug começou a falar
antes mesmo de se sentar no meu consultório. “Lisa tem
tudo de que precisa. Ela não precisa trabalhar, compra um
monte de roupas, temos uma bela casa, tiramos férias
maravilhosas, sou fiel, mas ela é infeliz. Não dá para enten­
der”, disse, balançando a cabeça.
Conversamos um pouco sobre seus sete anos de casamento
e como ele tentava demonstrar seu amor por Lisa.
“Não sou do tipo expansivo, doutor. Demonstro meu
amor dando a ela tudo do bom e do melhor.”
Esse pobre marido não percebia que sua carente esposa
teria trocado todas as suas roupas e viagens pelo mun©do
por um pouco de atenção.
Sem querer, o marido pode esquecer-se de uma das
necessidades mais importantes de esposa: atenção. Os
homens geralmente não se lembram disso por não sentirem
uma necessidade tão forte de atenção quanto as mulheres.
Mas isso não é desculpa. Sua esposa precisa de atenção.
Ela precisa saber que é a número 1 em sua vida. Se chegar
um dia em que você tiver de escolher entre sair com amigos
ou passar a noite com a esposa, ela precisa saber que você

119
escolheria ficar com ela, não porque é seu dever, mas
porque você quer.
Certa vez, perguntei a meu pastor, Tharon Daniels, como
ele dava atenção à esposa, Barbara.
“Há alguns anos, decidi largar o golfe. Parece tolice,
mas o golfe estava tomando todo o meu dia. Estava tirando
um tempo valioso que poderia passar com Barbara, e ela é
mais importante para mim do que o esporte.”
Ele continuou dizendo que isso não é uma regra para
todos, mas que foi a sua maneira de dar atenção à esposa.
E funcionou.
O que você pode fazer para dar atenção à sua esposa?
Pense quantas vezes você diz “Eu amo você”. Alguns homens
não sentem necessidade de declarar isso, mas toda esposa
sente uma necessidade insaciável de ouvir. A sua também
precisa de uma prova de que você pensa nela durante o dia.
Um pequeno presente ou um telefonema só para dizer “Estava
pensando em você” pode ser muito importante para ela.
Há pouco tempo, percebi quanto era importante para
Leslie que eu lhe enviasse um cartão ou bilhete. Quando
me sentei à escrivaninha em seu consultório para usar o
telefone, vi sobre a agenda um cartão escrito à mão que
lhe enviara cinco anos atrás.
Como homem, você provavelmente não faz idéia do
poder que exerce sobre a esposa um carinho ou uma
gentileza que você faça, nem de quanto isso a faz sentir-
se apreciada. Mike, entretanto, conheceu as maravilhas
que isso pode produzir. Ele estava saindo atrasado para ir
ao trabalho quando Brenda lhe contou que seu dia seria
extremamente difícil. Perto da porta, lembrou-se de uma
conferência em que falei sobre a necessidade de atenção
das esposas. Mike colocou sua pasta no chão e serviu
uma xícara de café para Brenda.

120
— O que você está fazendo? — ela perguntou. — Vai
chegar atrasado ao trabalho.
Imediatamente pensou: Ela está certa! Mas então ele
disse algo que não deixaria dúvidas quanto ao amor que
sentia pela esposa:
— Você é muito mais importante do que o trabalho.
Depois de alguns minutos de conversa, Mike segurou a
mão dela e disse:
— Vou ficar com o pensamento em você hoje.
Brenda encheu-se de amor pelo marido. E Mike ficou
tão admirado com sua sincera gratidão, que ligou para o
meu consultório aquela manhã para agradecer.
Será que dar atenção à esposa significa sacrificar partidas
de golfe, o sucesso no trabalho ou noites com os amigos?
Acredite se quiser: a resposta é “não”. Quando sua esposa
se sentir satisfeita ao saber que ela vem em primeiro lugar
na sua vida, que é a coisa mais importante do mundo para
você, passará a encorajá-lo a fazer as coisas de que gosta.
Faz parte dos mistérios do casamento: quando uma mulher
é amada de forma verdadeira e sincera, sente-se livre para
estimular a independência do marido.
Antes de Doug aprender a dar atenção a Lisa, ela reclamava
de suas pescarias. Na verdade, Lisa queria a separação porque
“Ficar num barco era mais importante para Doug do que
ficar comigo”. Mas, depois que ele mostrou que ela realmente
estava em primeiro lugar, depois que ele passou a demonstrar
seu verdadeiro amor por ela, Lisa chocou-o: “Não precisa ir
à reunião da quinta-feira. Assim, você pode adiantar sua
viagem de pescaria, se quiser.”
Lisa fez essa oferta porque agora se sentia segura quanto
à sua importância.
“Para amar e respeitar” é mais do que um voto de
casamento. É uma das necessidades mais importantes da

121
esposa. Se souber atendê-la, certamente construirá uma
relação que só lhe dará prazer.

Ela precisa ser compreendida


— Você não está me ouvindo! — eu estava quase
dormindo quando essa frase, vinda da cozinha, me
despertou num susto. Leslie esticou o pescoço pela porta
para me ver estendido em uma poltrona. — Faz quinze
minutos que estou contando como me sinto e tudo o que
você faz é ficar sentado aí e dar conselhos.
Exatam ente, pensei. E o qu e h ã d e errad o nisso?
— Não preciso de conselhos. Preciso ser compreendida!
Eu a compreendia. Ouvi cada palavra sobre como o seu
dia tinha sido difícil no trabalho e até dei algumas sugestões
para ajudá-la a melhorar as coisas. Mas não era disso que
ela precisava. Para uma mulher, ser compreendida significa
reconhecer e aceitar seus sentimentos.
Não é tão fácil como parece. Sou psicólogo; geralmente,
passo o dia fazendo exatamente isso com meus clientes. Sei
ser solidário com o sofrimento dos outros, sentir seus
sentimentos e mostrar que entendo. Mas, quando se trata de
meu casamento, algo faz com que queira resolver os problemas
de Leslie em vez de entendê-los. Quando ela me conta algo,
passivamente ouço até onde acho que é suficiente e, depois,
como se estivesse dizendo que estou pronto para falar de
outras coisas, dou conselhos. Em vez de ouvir, faço um sermão.
Antes era preciso juntar todas as minhas forças e morder a
língua para me controlar e poder realmente ouvi-la.
Pelo menos, não sou o único. Pense nisso: os homens
falam mais em público do que em particular, enquanto
com as mulheres acontece o inverso.5 As mulheres gostam
de trocar experiências, extrair informações umas das outras
e entregar-se nas conversas. Mas, quando se trata dos
122
maridos, muitas delas se sentem como alguém que me
disse: “Falar com meu marido é como jogar tênis sozinha
na quadra”.
Para suprir essa importante necessidade que sua esposa
sente de ser compreendida, é preciso ouvi-la ativamente,
demonstrando entender o que ela está dizendo e sentindo,
desejando sinceramente compreendê-la. Nunca é demais
repetir: a s m ulheres p recisam sa b er q u e seus sentimentos
são recon hecidos e aceitos. Precisam que você veja e sinta
o mundo à maneira delas, em vez de dizer que elas não
deveriam ver as coisas daquela maneira.
Os homens sofrem para entender que, às vezes, tudo o
que elas precisam é de alguém que as ouça ou de um
reconfortante abraço, uma frase gentil como: “Você está
magoada, não está?”, ou: “Você está passando por um
momento de grande pressão, não é mesmo?”. A única
maneira de mostrar que compreende a esposa é estar pronto
para ouvi-la, sem ter de apresentar soluções rápidas.

Ela precisa ser respeitada


Os homens geralmente não fazem idéia de como as
mulheres precisam sentir-se respeitadas. Por quê? Porque,
quando eles mesmos não o são, reagem de maneira muito
diferente. Se um homem não se sentir respeitado, por
exemplo, é capaz de ficar ofendido e indignado. Se não é
respeitado, acha-se ainda mais digno de respeito. Ele pode
esperar até conseguir aquilo de que acha ser merecedor.
As mulheres funcionam de maneira diferente. Quando não
são respeitadas, sentem-se inseguras e perdem o senso de
identidade. Por isso é tão importante dar atenção especial
à necessidade que a esposa tem de ser respeitada.
Há várias maneiras de demonstrar isso. Para começar,
não tente modificá-la nem manipulá-la, mas respeite suas
123
necessidades, desejos, valores e direitos. Conheço uma
mulher que, pela criação que teve, gostava que o marido
abrisse as portas para ela. Sabia que esse era um costume
antigo, mas significava muito para ela e, assim, pediu ao
marido que o fizesse.
Ele nunca levou seu pedido à sério.
“Você está brincando, não é? Ninguém mais faz isso. É
por isso que os carros têm travas nas portas.”
Ao ironizar o pedido da esposa, esse homem perdeu a
oportunidade de suprir uma grande necessidade dela —
ser respeitada.
Respeitar uma pessoa também significa incluí-la em suas
decisões. Sempre me espanto ao encontrar um marido que
detém todo o poder em um casamento e toma todas as
decisões sem considerar a opinião da esposa. Já conheci
homens que decidiram mudar para um emprego em outra
parte do país sem mesmo consultar a esposa. Não existe
modo mais rápido de destruir o senso de identidade de
uma mulher e acabar com a possibilidade de ter um
casamento feliz. Ajude a esposa a aumentar a auto-estima
e a desenvolver a sensação de segurança, pedindo a ajuda
dela sempre que possível, mesmo nas pequenas coisas.
Quando for tomar uma decisão que possa afetá-la, diga:
“Estou pensando em... O que você acha disso?”, ou “Acho
que deveríamos... Tudo bem para você?”.
Respeitar a esposa significa apoiá-la em seus sonhos e
aspirações. Tenho um amigo em Chicago chamado Rich
Jones. Alguns anos atrás, sua esposa, Laura, queria seguir
a carreira de jornalista. Depois de concluir os estudos na
Universidade do Noroeste, Laura conseguiu seu primeiro
trabalho como repórter em um pequeno jornal do bairro
em que viviam. Dois anos mais tarde, ela recebeu uma
oferta para fazer uma matéria em outro estado para a

124
televisão. Naquela altura, Rich sabia que estava em uma
encruzilhada. Havia prometido respeitar os sonhos da
esposa, mas nunca havia imaginado que isso significaria
mudar de casa! Bem, Rich poderia reclamar das aspirações
de Laura. Afinal de contas, ele também tinha a sua vida
profission al.
Mas ele man­ As' m ulheres desejam
teve sua pala­ Ser amadas, ouvidas, desejadas,
vra e continu­ respeitadas, sentir-se necessárias,
ou a respeitar ganhar confiança e, às vezes,
o sonho da es­ apenas ser abraçadas..
posa, e ela fez
Os hom en s desejam
o mesmo por
Ingressos para o campeonato
ele. Hoje, vi­
nacional de futebol.
vem felizes no- D ave B a r r y
vam ente em
Chicago, onde
ela é âncora de uma das redes da cidade.
Respeitar é dizer: “Eu a apóio, você é importante para
mim e não precisa ser diferente do que é”. Em resposta, a
mulher conseguirá sentir-se à vontade. Não sentirá a
necessidade compulsiva de provar que é igual; auto­
maticamente, sentirá e será igual. Que jeito maravilhoso
de viver com uma mulher.

O QUE TODA MULHER DEVE SABER SOBRE SEU MARIDO

Ninguém desempenha um papel tão importante para o


homem quanto a esposa. As pesquisas identificaram as
necessidades dele, mas somente a esposa poderá realmente
satisfazê-las. As necessidades básicas do homem no casa­
mento são: ser admirado, ter autonomia e fazer programas
juntos.

125
Ele precisa ser admirado
— Puxa, Scott, isso está ótimo. Você fez um bom trabalho
— os olhos de Kari brilharam ao ver os canteiros que o
marido acabara de construir na varanda. — Você é mesmo
talentoso.
— Foi interessante fazê-los — disse Scott — , mas não
foi nada demais.
— Você está se subestimando, querido. Você é realmente
bom.
Scott não demonstrou, mas estava exultante com o elogio
da esposa. Sentia-se ótimo. Ninguém era capaz de fazê-lo
sentir-se tão apreciado e admirado quanto Kari. E ela sabia
disso. Ela havia tocado na necessidade básica do homem
e, sempre que possível, a supria de bom grado. A admiração
de Kari era sincera e nunca falsa ou forçada. Ela era a
maior fã de Scott, e seu relacionamento beneficiou-se de
infinitas maneiras por causa dessa admiração declarada.
Ser admirado é uma necessidade básica do homem. Ele
mede seu esforço por seus ganhos, grandes ou pequenos,
e precisa ser reconhecido. Embora a necessidade da mulher
de admiração e reconhecimento seja sem dúvida importante,
raramente é tão forte quanto a do homem. Quando uma
mulher busca o reconhecimento, na verdade está querendo
ser compreendida, valorizada. Repare bem: há uma diferença
significativa entre homens e mulheres quanto ao tema
admiração. Os homens sentem-se valorizados mais pelo
que fa z em , enquanto as mulheres, pelo que são.
Veja da seguinte maneira. Quando as mulheres não
são admiradas pelo marido, ficam ainda mais motivadas
para isso. Mas, quando um homem não é admirado pela
esposa, começa a perder a motivação. Sem a sensação de
ser admirado, a energia masculina se esgota. Logo ele
começa a sentir-se insatisfatório e incapaz de dar apoio.
126
Quando não são admirados, os homens perdem a vontade
de agir.
Você não faz idéia de como uma crítica pode ser
destrutiva para o poder pessoal do homem. Ele reage a
isso do mesmo modo que você, quando sente que seus
sentimentos não têm valor. É desmoralizante.
Uma mulher procurou-me para aconselhamento porque
se sentiu confusa quando, ao criticar o marido, ele não
lutou para conquistar a admiração dela. Acreditava
equivocadamente ser capaz de levá-lo a dar mais de si se
deixasse de elogiá-lo e lhe mostrar reconhecimento. Mas
isso nunca funciona com os homens. A admiração é o
combustível de que eles precisam para não desanimar. Eles
extraem forças da admiração.
Bem... mas, antes que você comece a montar uma lista
interminável de palavras de elogio para seu cônjuge, preciso
fazer um alerta. Nunca finja a admiração. Se você apenas
disser coisas para lisonjear o parceiro, estará fazendo mais
mal do que bem. Para ter valor, a admiração precisa ser
sincera.6

Ele precisa ter autonomia


Em nosso primeiro ano de casamento, lembro-me de
correr até o estúdio de Les para mostrar que havia chegado
em casa. Ele estava iniciando um extenuante programa
de doutoramento e eu acabara de começar em um novo
emprego.
— Tudo bem? — perguntei, esgueirando-me por trás da
escrivaninha e abraçando-o.
Ele permaneceu quase imóvel, tomando notas em um
bloco amarelo. Então, tentei novamente:
— O seu dia foi bom? — e dessa vez ouvi um zumbido.
— Ahã.
127
— Você não sabe o que me aconteceu hoje... — comecei
a dizer, e ele interrompeu.
— Dê-me apenas um minuto aqui, está bem?
Saí dali sentindo-me terrivelmente rejeitada. “Por que
ele não gostou do meu interesse por ele?”, pensei. “Se ele
me recebesse dessa forma, eu pararia tudo o que estivesse
fazendo.”
Somente algum tempo mais tarde entendi o que estava
acontecendo. O homem e a mulher passam por tensões
diferentes. De acordo com John Gray, autor de H om ens
são d e Marte, m ulheres são d e Vênus, os homens, quando
enfrentam dificuldades, “ficam gradativamente mais con­
centrados e retraídos, ao passo que as mulheres sentem-se
subjugadas e emocionalmente envolvidas. Nessas horas,
eles encontram modos diferentes de sentir-se bem. Ele se
sente melhor resolvendo problemas, e ela, falando a
respeito deles”.7
Depois que entendi essa diferença, pude respeitar uma
das necessidades básicas de Les; a autonomia. Essa é uma
necessidade masculina universal. Sempre que um homem
estiver sob tensão (por causa de um prazo final, pressão
no trabalho etc.), precisará de um pouco de espaço. Nesses
momentos, ele costuma ficar distraído, apático, pensativo
e preocupado. Ao contrário das mulheres, os homens
raramente querem falar sobre a situação, não querem ser
afagados nem consolados — não até terem tempo para si
mesmos.
Aprendi por experiência que, se eu tentar distrair Les
de seu problema cedo demais, terei somente uma pequena
parte de sua atenção, e ele continuará a ruminar sobre seja
lá o que o estiver preocupando. É como se ele ficasse
incapaz de me dar a atenção de que preciso até arranjar
uma hora de encaixe em sua agenda. Agora sei o bastante

128
para dizer: “É uma boa hora para interromper?”, e ele pode
responder: “Dê-me mais cinco minutos” ou “Eu realmente
gostaria de relaxar um pouco assistindo ao telejornal
primeiro”.
Como você pode ver, em parte a autonomia implica tempo
para se recompor. Algumas esposas reclamam porque o marido
não fala sobre seu dia quando chega do trabalho. Primeiro eles
querem ler o jornal ou regar o gramado, qualquer coisa que os
ajude a relaxar a mente antes de se voltarem para o
relacionamento. É coisa de homem. Mas, se você der espaço
para seu marido, entendendo suas razões ou não, terá um
marido feliz.
Essa idéia de dar autonomia a meu marido foi uma lição
difícil de ser aprendida. Instintivamente, queria apoiá-lo
do mesmo modo que gostaria de ser apoiada por ele. Se
eu estivesse no lugar dele, por exemplo, ia querer que me
fizesse perguntas sobre como estava me sentindo. Gostaria
de ser abraçada e acariciada. Mas esse é o jeito das
mulheres, não dos homens.

Ele precisa fazer programas junto com você


Era um dia típico de outono quando Tom convidou
Kelly para ir a um jogo dos Kansas City Chiefs.
— Ótima idéia! A que horas? — disse Kelly.
Marcaram o dia, e Tom sorriu depois de desligar o
telefone. Este era seu terceiro encontro nas últimas quatro
semanas, e ficou satisfeito com o entusiasmo dela em ir a
um jogo de futebol.
Tom e Kelly divertiram-se bastante naquele jogo e foram
em vários outros naquela mesma temporada. Também
pesquisavam os novos modelos de carro juntos. Não porque
fossem comprar um. Tom simplesmente gostava de estudar
o último modelo, e Kelly parecia apreciar isso também. O
129
relacionamento tornava-se cada vez mais sério, e Tom estava
feliz por ter encontrado uma mulher que gostava das
mesmas coisas que ele.
No inverno, Tom tinha certeza de que Kelly era a mulher
certa para ele. Casaram-se na primavera e sentiam-se felizes.
Mas, já no primeiro ano de casamento, o interesse de Kelly
por futebol diminuiu. Ela e Tom iam às vezes assistir aos
jogos de domingo, mas Kelly nunca mais ficou tão entusias­
mada com o programa. E, quando Tom sugeriu que fossem a
uma feira automobilística, ela implorou para não ir.
— Pensei que gos­
tasse de ver os carros
A menos que se aprenda a
— ele reclamou.
tocar em dueto no mesmo
— Ah, querido, eu
tom, seguindo o mesmo ritmo,
um lento processo de gosto. Só que não
separação os afastará, secreta tanto quanto você.
e psicologicamente a Isso foi uma sur­
princípio, e, mais tarde, presa para Tom. No
aberta e dolorosamente. ano seguinte, Tom
W a l t e r W a n g e r in J r . descobriu que as
coisas que gostava de
fazer não tinham
nada que ver com as que ela gostava. Aos poucos che­
garam a um ponto em que raramente faziam algo juntos,
exceto ir a um jantar de vez em quando. Tom preferia
fazer um programa “divertido” com Kelly, mas ela parecia
estar satisfeita em deixá-lo fazer seus programas sozinho.
Magoado e confuso, ele ficava imaginando por que a esposa
não queria estar com ele.
Uma das grandes diferenças entre marido e mulher é a
idéia que cada um tem sobre intimidade afetiva. Se você for
como a maioria das mulheres, a intimidade significará
compartilhar segredos, falar sobre as coisas, fazer carinhos

130
etc. Mas o homem lida com a intimidade de maneira diferente.
Ele se relaciona fa z e n d o coisas junto com a outra pessoa,
(lembre-se, os homens visam à conquista). Cuidar do jardim
ou ir ao cinema com a esposa proporciona a sensação de
estar próximo.
Os maridos dão grande importância à companhia da
esposa em atividades recreativas. A caricatura do homem
nos comerciais, sozinho na natureza, bebendo uma cerveja
gelada e dizendo “Não existe nada melhor do que isso” é
uma mentira. Poderia ficar muito melhor se sua esposa
estivesse com ele partilhando das atividades de que ele gosta.
Recentemente, Les voltou de uma palestra no lago Tahoe.
Antes de ir, estava ansioso porque pegaria o avião logo
cedo e esquiaria à sua maneira. Sentia-me feliz por ele. Ele
adora esquiar — em velocidade — e, quando vamos juntos,
sinto como se o atrasasse. Mas, quando voltou da viagem,
fiquei chocada com sua história:
— Bem, a neve estava perfeita e o tempo também, mas
não foi tão bom como das outras vezes em que esquiei
com você.
Uau! Todo esse tempo eu achava que era um peso morto,
e a verdade é que ele não se diverte tanto assim sem mim.
Agora, depois de dar aconselhamento a tantas mulheres,
posso até ver você dizendo: “O que faria se as suas
preferências tivessem pouco em comum?”. A resposta é:
cultive as esferas de interesse em comum. Não deixe que
você e o parceiro se separem porque não encontram algo
divertido que possam fazer juntos. Já vi muitos casamentos
fracassar porque a esposa não usou as energias criativas
para criar momentos divertidos e relaxantes com o marido.
Faça uma lista dos interesses recreativos de seu marido.
Eis algumas idéias para começar: colecionar antigüidades,
qualquer ou todos os esportes, acampar, praticar canoa­

131
gem, jogos de tabuleiro, jogos em geral, cozinhar, dançar,
fazer caminhadas, andar a cavalo, fazer cooper, ir ao
cinema, esquiar na neve, velejar, ouvir música, nadar,
viajar, caminhar, trabalhar em objetos de madeira e assim
por diante. Quanto maior for a lista, melhor. Depois,
marque as atividades que lhe pareçam interessantes.
Provavelmente você encontrará uma meia-dúzia de
atividades em que poderia acompanhar seu marido. Sua
próxima tarefa é marcar essas atividades em seu tempo
de lazer.
Se você souber atender à necessidade de companhia de
seu marido, descobrirá que vocês não são apenas marido
e mulher, mas também os melhores amigos.

P ara r e f l e x ã o

• Cite as diferenças entre os sexos que primeiro lhe


vierem à mente.
• No que se refere às diferenças entre os sexos, a maioria
dos especialistas hoje em dia diz que o importante
não é eliminá-las, mas apreciá-las. Por quê?
• Você concorda que a diferença básica entre os sexos
é que os homens visam à conquista e as mulheres
aos relacionamentos? Cite alguns exemplos que
justifiquem sua opinião.
• Os maridos, na maioria, não compreendem a impor­
tância que tem para a esposa a intimidade afetiva.
Eles dizem: “Quero fazer programas com ela, e tudo
o que ela quer é conversar”. Quem está errado aqui?
O marido, a esposa ou ambos? Até que ponto esse
desentendimento está relacionado com as diferenças
entre os sexos?

132
ernpre haverá pedras no
caminho do verdadeiro amor.
S h a k espea re

S exta P ergunta :

V o c ê sa be
“ c o m ba ter u m bom c o m ba te” ?

— Eu não sou nenhuma boba, sabia? — gritei.


— Só estou tentando ajudar, mas você parece não querer
ajuda — Les respondeu.
Nossas vozes pareciam ecoar pela cidade de São
Francisco inteira, onde fomos passar o fim de semana com
nossos amigos Randy e Pam. Estávamos tentando pegar o
bonde quando um de nossos maiores conflitos surgiu.
Era nossa terceira tentativa de entrar em um trolebus
lotado quando ele chegava no alto de uma subida. Eu me
agarrava no braço de Les, e ele pulava primeiro para guardar
um lugar; mas, pela terceira vez agora, eu recuei no último
momento.
— Isso é loucura! — berrei.
— Confie em mim, sei o que estou fazendo — ar­
gumentava.
A tensão era quase física. Randy e Pam, que viram a
briga começar, ficaram imóveis. Finalmente, constrangidos,
atravessaram a rua para fugir de nossos gritos.
— Por que você não confia em mim?
Quando todos os passageiros do ônibus torceram a
cabeça para observar aquela briga conjugal, dei uma
resposta que, desde então,, passou a ser tristemente
lembrada em casa: “Eu acredito que Deus me protegerá,
mas não você!”.
Parece que sempre temos nossas piores brigas em
público. Em outra ocasião, estávamos atrasados para uma
reunião sobre casamento em que nós seríamos os oradores.
Leslie ainda estava em seu consultório juntando um material
de que se lembrara no último momento enquanto eu
esperava impacientemente no carro.
— Tudo bem, Parrott, não perca a calma — disse para
mim mesmo. — Agüente só mais alguns minutos; relaxe e
não fique bravo com ela. Os cinco minutos transformaram-
se em quinze. — Lá vem ela agora; morda a sua língua.
Começava a chover quando Leslie veio para o carro.
Mas, ao aproximar-se, aquele monte de papéis e notas
caíram, alguns indo parar na poça da calçada e a maioria
espalhando-se pela rua.
Não pude me conter.
— É o fim — disse seriamente. — Não dá para acreditar!
O que vamos fazer agora? Você não viu que...
— Foi você quem quis ir a esse evento — Leslie
interrompeu.
— Ah, não me venha com essa. Você... — repentinamente,
parei de gritar e engoli o resto da frase. Com a porta do carro
totalmente aberta e os papéis
O casamento é uma voando para todos os lados,
longa conversa, de repente percebi que
entremeada por brigas. nossas acusações eram
ouvidas por vários de nossos
R o b e r t L o u is S t e v e n s o n
colegas que passavam por

134
ali. Andavam olhando para frente, fingindo não notar que os
“especialistas em casamento” estavam tendo uma pequena
discussão; mas não dava para negar que os Parrotts, sem
dúvida, estavam tendo uma bela briga. Como dissemos, somos
especialistas em ter nossas “piores” brigas em público.
O desentendimento é algo natural no casamento. Não
importa quanto duas pessoas se amem, fatalmente um dia
entrarão em conflito. É ilusório pensar que os dois sempre
vão querer as mesmas coisas ao mesmo tempo. O conflito
no relacionamento é inevitável.
Se você ainda não se casou, talvez isso não tenha muito
sentido para você. Mas terá. De todos os recém-casados,
37% admitem ter-se tornado mais críticos com seus parceiros
depois do casamento. E 30% relatam um aumento das
discussões.1 Estressados pelo trabalho, os casais de hoje
têm muito mais a negociar do que os de antigamente; por
isso os conflitos surgem a qualquer momento. Mas, para
aqueles que conseguem lidar com isso, um confronto pode
ajudar a conquistar mais intimidade na relação. O truque
está em sab er discutir.
Vamos explicar melhor: S aber lu tar d e m od o ju sto é
fu n d a m en ta l p a r a a sobrevivência do casalfeliz. Só o amor
não é capaz de sustentar um relacionamento no mundo
moderno. Amar é, na verdade, um componente fraco para
um casamento duradouro. Mais importante que isso,
demonstram as pesquisas, é saber enfrentar situações de
desentendimento.2 Muitos casais não sabem lidar com o
conflito. Algumas pessoas confundem calma e tranqüilidade
com harmonia conjugal, obstruindo suas diferenças sem
realmente resolvê-las. Outras, que assistiram a explosões
de seus pais, aprendem a maneira errada de brigar, e suas
discussões rapidamente transformam-se em insultos e
agressões.

135
Neste capítulo, mostraremos como brigar de modo
“limpo” e diminuir o veneno de uma discussão. Come­
çaremos nosso “treinamento de combate” explorando
assuntos que comumente afligem os casais. Em seguida,
mostraremos os quatro estilos letais de disputa que você
deve descartar. Depois explicaremos de que maneira as
brigas podem ser construtivas para o casamento e, por
último, estabeleceremos algumas “regras” de bom combate.

P o r q u e m o t iv o s os c a s a is b r ig a m

Então, quais são os maiores tormentos que levam os


casais a entrar em um campo de batalha? Dinheiro? Sexo?
Parentes? Nem sempre. Geralmente, não é preciso muito
para que a confusão esteja armada. São problemas
pequenos e até um pouco constrangedores que rasgam o
véu do casamento.
Após três dias de férias na Flórida, Mike e Becky já
estavam prontos para arrumar as malas e voltar para casa.
Em vez de relaxar e aproveitar a companhia um do outro,
passaram a maior parte do tempo brigando: a areia sujara
os óculos de sol dele, ela queria ir para a praia e ele, ficar
na piscina, ela demorou demais se arrumando para saírem
à noite. Quando os dois chegaram em casa na semana
seguinte, concordaram que suas férias tinham sido um
completo desastre. Por quê? Porque brigaram por questões
sérias? Não. Simplesmente discutiram por coisas sem
importância.
Embora a maioria dos conflitos surja de questões
relativamente sem importância, há também motivos mais
sérios. Parece haver um alerta vermelho universal que é
acionado em todos os casamentos quando alguns assuntos
são trazidos à tona. Tanto os bem casados quanto os
infelizes no casamento brigam pelos mesmos motivos
136
(em bora as brigas sejam bem diferentes quanto à
intensidade e à freqüência).3
Na lista dos “grandes motivos”, as pesquisas mostram
que o dinheiro supera todos os outros assuntos, sendo a
área número 1 de conflitos entre pessoas casadas.4 Os casais
constantem ente enfrentam situações que os fazem
perguntar: “De quem é o dinheiro?”. O que surpreende
muitos casais é que essas brigas não acontecem por causa
da renda que têm ou deixam de ter. Não importa quanto
ganhem, discutirão por dinheiro. Alguns discutem se vão
passar as férias em Barbados ou na Europa; outros, porque
não têm dinheiro para sair de férias.
O dinheiro pode diminuir a tensão, mas não evita as
brigas. A maioria dos casais, ganhe o quanto for, discute
sobre gastos e maneiras de economizar. Um é sempre o
gastador, o outro, o avarento. Falar abertamente sobre
dinheiro é talvez o problema mais difícil que os parceiros
têm para resolver. Até que ponto sua infância influiu em
seu modo de lidar com o dinheiro? Quais são suas
prioridades na hora de gastar? São as mesmas de seu
parceiro? Não fique transtornado se descobrir que vocês
discordam quanto a isso. O propósito aqui é entrar em um
acordo. Se você deixar de pensar em certo ou errado, ficará
muito mais fácil na hora de abrir ou fechar a mão.

O QUE OS CASAIS INFELIZES FAZEM DE ERRADO

É uma manhã de sábado em Seattle. Dois recém-casados


estão acabando de tomar seu café australiano enquanto
ouvem o Concerto d e Brandenburg n° 4, de Bach, em um
aparelho de c d de última geração. Excepcionalmente o dia
está ensolarado, e eles não conseguem concentrar-se na
leitura do jornal, já que podem observar pela janela os barcos
de passeio tansitando na paisagem do lago Washington.
137
Mas há algo estranho nessa cena idílica. Sob as roupas
desse casal há monitores pregados à pele que gravam seus
batimentos cardíacos. Outro aparelho mede a transpiração.
Cada movimento, expressão ou conversa está sendo
gravado por câmeras de vídeo colocadas em três paredes
e observado por pessoas ocultas atrás de um vidro fosco.
Amanhã terão de tirar amostras de sangue para mais uma
análise.
Não se trata de um apartamento com vista para o lago,
mas um laboratório de psicologia da Universidade de
Washington, e os recém-casados são objeto de um estudo
conduzido pelo dr. John Gottman. Com a ajuda de
equipamentos de alta tecnologia, o dr. Gottman e sua equipe
de pesquisadores estudam relacionamentos de pessoas
casadas há mais de vinte anos, para identificar os que
sobreviverão e os que se deteriorarão. Agora já são capazes
de prever os resultados com uma espantosa probabilidade
de acerto de 90%.
O dr. Gottman pode identificar e explicar uma separação
observando o comportamento do casal em situações
conflitantes. Quando surgem os quatro maus presságios
de um conflito — o que ele chama de “Os Quatro
Cavaleiros do Apocalipse” — , o perigo está iminente, pois
cada um deles prepara o terreno para o outro. Essas quatro
maneiras desastrosas de interação sabotarão os esforços
para resolver o problema de maneira construtiva. Em
ordem de perigo crescente, são elas: a crítica, o desdém,
a defesa e a apatia.5

Crítica
“Comprei um videocassete de 200 dólares em uma
liquidação. Bastou Molly olhar, para me atacar” contou
Steve sobre a bronca que havia levado recentemente.
138
Molly, sua esposa, disse ter percebido que cada vez
mais reclamava dos gastos de Steve. Ambos decidiram ser
econômicos, mas tinham noções diferentes de economia.
Steve esquecia-se de apagar a luz depois de sair de um
cômodo, por exemplo, e Molly gastava horas recortando
cupons para a próxima ida ao supermercado. Quando Steve
não se adequava aos padrões da esposa, Molly reclamava.
Molly tinha razão de reclamar? Achamos que sim. Não
porque esteja certa, mas porque tem o direito de reclamar.
Reclamar é atitude saudável para o casal. Queixar-se, em
vez de reprimir a emoção, embora não seja nada prazeroso,
pode tornar a união mais forte a longo prazo.
Mas Molly, sem perceber, havia entrado em águas
perigosas. Com o tempo, começou a acreditar que seus
comentários não estavam fazendo com que Steve mudasse
seu hábito de gastar. Foi então que algo potencialmente
ruim aconteceu com seu casamento: em vez de reclamar
de suas ações, ela passou a criticá-lo.
“Você nunca pensa
O conflito acende o fogo do nas conseqüências. Faz
afeto e das emoções; e, o que quer na hora que
por ser fogo, tem duas bem entende. É como
características: ele se eu vivesse com uma
queima e ilumina. criança de tamanho
C a r l J uno , gigante.”
Pode parecer que
não há muita diferença entre reclamar e criticar, mas há. A
crítica implica destruir a personalidade de alguém e não
seu comportamento. Em geral envolve censuras, ataques
pessoais e acusações, enquanto reclamação é um comen­
tário negativo sobre algo que você gostaria que fosse
diferente. As reclamações geralmente começam com a
palavra eu, as críticas, com a palavra você. Por exemplo:

139
“Gostaria que saíssemos com mais freqüência” é uma
reclamação; “Você nunca me leva para sair” é uma crítica.
A crítica está um passo além da reclamação e, embora isto
aqui pareça uma discussão sobre sutilezas, com certeza é
muito pior receber uma crítica do que uma reclamação.

Desdém
Em seu primeiro aniversário de casamento, Steve e Molly
ainda não tinham resolvido suas diferenças no plano financeiro.
No calor de uma discussão, Molly começou a gritar:
— Por que você é sempre irresponsável? É tão egoísta.
— E você é tão pão-duro que não abre a mão nem para
cumprimentar. Nem sei como fui casar com você.
Eis o segundo mau presságio, o desdém, entrando em
cena.
O desdém é capaz de envenenar um relacionamento de
quatro meses ou quarenta anos. O que o distingue da crítica,
de acordo com Gottman, “é a inten ção d e insultar c. agredir
psicologicam en te o parceiro”. Devia haver uma lei contra
o desdém porque ele atinge exatamente o nosso ponto
fraco e acaba desestabilizando a relação e magoando a
todos. Quando surge, o desdém sobrepuja o casamento e
elimina qualquer sentimento positivo que se possa ter pelo
outro. Ele se expressa geralmente por meio de difamações,
ironias e gozações. E, depois que invade a casa, o casamento
só tende a piorar.

Defesa
Depois de agirem com desdém um com o outro, Steve e
Molly passaram a ficar na defensiva, para piorar a situação.
Ambos sentiam-se vítimas um do outro e nenhum queria
assumir a responsabilidade de tentar acertar as coisas. Quem

140
pode culpá-los? Quando bombardeados por insultos, nossa
tendência natural é a defesa: “A culpa não é minha. Era você
quem tinha ficado de pagar aquela conta e não eu”. Um dos
motivos de esse comportamento ser tão destrutivo é que se
torna quase um reflexo. A “vítima”, numa reação instintiva,
não vê nenhum mal em ficar na defensiva, mas isso tende a
intensificar ainda mais o conflito, em vez de resolvê-lo.
Sempre que Steve e Molly achavam seus argumentos justos,
sempre que davam desculpas e fugiam à responsabilidade,
apenas aumentavam a infelicidade no casamento.

Apatia
Steve e Molly estavam chegando ao fundo do poço.
Exausto e sentindo-se esmagado pelos ataques de Molly,
Steve finalmente parou de retrucar, mesmo defensivamente,
às acusações.
— Você nunca diz nada — A i n ti m id a d e
ela reclamava. — Apenas fica b a s e ia -s e e m
aí, sentado. É como falar com n o s s a s d ife re n ç a s .
as paredes.
H en ry J am es
Steve normalmente não
reagia. Em algumas ocasiões,
dava de ombros, como se dissesse “Isso não vai levar a
nada; então, por que me desgastar?”.
Esse comportamento é mais comum entre os homens
(aproximadamente 85%). Sentindo-se oprimidos pelas
emoções, começam a retrair-se e a agir “apaticamente”.
Procuram manter-se impassíveis, evitar o contato com os
olhos, manter o pescoço imóvel, evitam acenar com a
cabeça e emitir qualquer som que possa indicar que estejam
ouvindo. Os apáticos geralmente argumentam que estão
apenas tentando não piorar as coisas, mas parecem não
perceber que sua própria reação tem uma conseqüência
141
poderosa. Ela transmite desaprovação, indiferença e
convencimento.
A apatia não marca necessariamente o fim do casamento,
mas, quando o convívio mútuo chega a esse nível de
deterioração, a relação torna-se bastante frágil e será preciso
boa dose de tratamento para salvá-la.
Lembre-se de que qualquer pessoa pode ficar apática
ou na defensiva, desdenhar ou criticar. Mesmo com os
casais felizes, isso pode acontecer às vezes durante um
sério problema conjugal. O perigo está em deixar que esse
tipo de comportamento se torne um hábito.

Q u a l o b e n e f íc io d e u m b o m c o m b a t e

O conflito é um tabu social, considerado moralmente


errado por alguns. A suposição de que ele não deve
fazer parte de uma relação saudável está baseada em
parte na idéia de que o amor é o lado oposto do ódio.
Mas a intimidade sentimental envolve coisas como: amor
e raiva, vontade de estar perto e separado, cordialidade
e discórdia.
A falta da discórdia não combina bem com a maioria
dos casamentos. Se um casal se recusar a assumir seus
conflitos como parte de sua relação, cada um dos parceiros
perderá a oportunidade de construtivamente desafiar e ser
desafiado pelo outro. Também passará a assumir conse­
qüências negativas. Um conflito mal-resolvido ou negli­
genciado age como um câncer que corrói a paixão, a
intimidade e o compromisso do casamento. Os casais que
não “se confrontam” geralmente buscam “substitutos para
a raiva”, em vez de lidar diretamente com suas emoções.
Começam a comer demais, tornam-se fofoqueiros, ficam
deprimidos ou doentes. Esses substitutos podem ser mais
aceitos socialmente do que a verdadeira expressão da raiva,
142
mas resultam no que os especialistas chamam de “casa­
mento sem vigor”, em que a falsa intimidade é o que pode
acontecer de melhor.6 Uma noite típica na casa de um
casal que não discute e vem reprimindo sua raiva há anos
poderia ser ilustrada da seguinte forma:

Ele: ( bocejan do) Como foi seu dia, querida?


Ela: (am avelm ente) Diga você. Como foi o seu?
Ele: Ah, você sabe... como sempre.
Ela: Quer fazer alguma coisa especial mais tarde?
Ele: Não sei...

Esse casal não experimentará nada mais significativo


pelo resto da noite porque a energia que usam para reprimir
sua raiva acaba com a vitalidade da relação. Evitam o
conflito juntos, “camuflando-se”, aprisionando secretamente
seus ressentimentos em armadilhas imaginárias que vão se
tornando cada vez mais eficientes com o tempo. E, se as
reclamações forem abafadas e mantidas em silêncio nessa
armadilha por tempo indeterminado, poderão causar um
grande estrago quando vierem à tona.
A questão é que o conflito conjugal é um desafio
necessário: deve ser enfrentado, não evitado. Repetimos:
o conflito é n atu ral em um relacion am en to íntimo. Se você
puder entender isso, não representará mais uma crise e
sim uma oportunidade de crescimento.
David e Vera Mace, famosos conselheiros matrimoniais,
observaram que no dia do casamento todos os casais
passam a ter três tipos de matéria-prima com que trabalhar.
A primeira são as coisas em comum, das quais os dois
gostam. A segunda são as coisas em que diferem, sendo
porém complementares. A terceira são as diferenças que
não se complementam e causam grande parte dos conflitos.

143
Todo casal tem diferenças não-compensatórias, e são
muitas. A medida que a relação se torna mais íntima, essas
diferenças tornam-se mais acentuadas. Repare que o
conflito pode ser o resultado de buscar uma intimidade
maior. Como já dissemos a vários casais que nos procuram:
o conflito é o preço que se paga pela conquista da
intimidade. Mas, quando se aprende a lutar “limpo”, o
casamento floresce.

C o m ba ten d o o bom co m ba te

Suponhamos que exista uma receita para a felicidade


no casamento. Você a seguiria? Mas é claro, e quem não
seguiria? Ainda mais se a receita apresentasse fortes
evidências que comprovassem seu sucesso.
Bem, a incrível notícia é que essa receita já existe,
graças à pesquisa pioneira feita com milhares de casais
americanos. Os psicólogos Howard Markman e Scott
Stanley, da Universidade de Denver, previram, com 80%
de acerto, quem se divorciaria depois de seis a sete anos
de casamento. E o que estão buscando saber não é se um
casal discute, mas com o discute.7
Agora não sabemos apenas o que os casais infelizes no
matrimônio fazem de errado quando discutem, mas o que
os felizes fazem de certo. Os casais felizes na vida conjugal
resolvem seus conflitos sem deixar cicatrizes, porque
aprenderam a combater um bom combate, seguindo as
regras que apresentamos aqui.

Não fuja de uma discussão


Pense na história do gênio da lâmpada, que passa seus
primeiros mil anos de encarceramento pensando “Àquele
que me libertar, concederei três desejos”, mas nos mil anos

144
seguintes, pensa:
“Aquele que me li­ O amor pode ser furioso...
bertar dessa lâmpa­ com um tipo de raiva sem
da será um homem rancor, como a da pomba,
morto”. Muitos de mas não como a do corvo.
A g o s t in h o
nós, como o gênio,
parecem ficar cada
vez piores e mais violentos quando guardamos nossos
ressentimentos na lâmpada por mais tempo. Não esconda
quando algo o irritar. Sentimentos reprimidos apresentam
alta possibilidade de ser ressuscitados.
Os casais felizes na vida conjugal podem ter grandes
discórdias, mas não há isolamento entre os parceiros.
Quando um deles surge com uma questão, o outro ouve
atentamente. De vez em quando, o ouvinte parafraseia o
que o outro diz — “Você está preocupado com nossos
gastos?” — para assegurar que a mensagem foi assimilada.

Escolha suas batalhas com cuidado


O amor pode ser cego, mas para muitas pessoas
funciona como uma lente de aumento. Os casais que estão
sempre a ponto de brigar e se separar já não conseguem
encontrar um modo simples e razoavelmente eficaz de
resolver diferenças tão insignificantes como a que filme
assistir ou que amigos visitar. A incapacidade de entrar em
acordo acaba por liquidá-los, não importando quanto se
amem. Então aceite o conselho dos especialistas e escolha
suas batalhas com cuidado.
Você provavelmente já viu em placas ou pôsteres uma
oração que diz “Dá-me sabedoria para aceitar as coisas
que não posso mudar”. É bastante conhecida, mas
verdadeira: uma difícil tarefa no casamento é aprender o
que pode e deve ser mudado (hábitos irritantes, por
145
exemplo) e o que deve ser desconsiderado (o modo de
seu parceiro apertar o tubo de pasta de dente).
Geralmente dizemos aos casais que 90% das questões pelas
quais brigam provavelmente poderiam ser desconsideradas.
Sabemos como é fácil criticar um ao outro. Fazemos nossa
parte denunciando as pequenas infrações, mas também
aprendemos a não praguejar por pequenas coisas. Esse
conselho básico pode evitar que você estrague uma noite de
sexta-feira ou mesmo suas férias. Por isso, antes de implicar
com o jeito de seu parceiro arrumar a cama ou tirar a mesa,
pergunte a si mesmo se isso vale a pena.

Defina o motivo da briga claramente


Shari e Ron pareciam viciados em atritos. A última ex­
plosão deles aconteceu durante uma reunião de amigos
em casa. Todos estavam divertindo-se, aproveitando a con­
versa e saboreando o jantar. Quando Shari começou a servir
a sobremesa, Ron ofereceu-se para servir o café. Shari
aceitou a oferta e foi à cozinha buscar mais pratos. Ao
retornar à sala de jantar, Ron ainda estava conversando e
não tinha servido o café. Chateada, ela fez um comentário
desagradável, e os dois começaram a discutir.
“E lá vão eles de novo”, disse um dos convidados.
Constrangidos, imediatamente os dois pararam de brigar.
Depois que os convidados foram embora, Shari questionou:
“Será que nós brigamos tanto assim?”.
Ron, seriamente, fez um aceno com a cabeça. Os dois
sabiam que brigavam muito, mas não sabiam por quê.
Muitos casais se vêem em meio a freqüentes brigas por
qualquer motivo — nenhum assunto é insignificante ou
sério demais em uma briga. Quando Shari e Ron nos
procuraram, demos a eles uma pequena tarefa que reduziu
a freqüência de suas discussões quase imediatamente:
146
quando sentir que a tensão está aumentando, peça ao outro
que defina com clareza o motivo da briga até que ambos
entendam o que está em questão. As batalhas conjugais
tornam-se freqüentes quando a origem do conflito não é
identificada; depois de defini-la, os parceiros podem atacar
melhor o que realmente os incomoda. E, quando o conflito
é definido com essa nitidez, não raro ele se resolve por si
mesmo.
No incidente do jantar de Ron e Shari, por exemplo, ela
não estava reclamando por ter de fazer tudo sozinha. Shari
estava brava com Ron porque ele tinha ido jogar basquete
aquele dia em vez de cumprir a promessa de ficar em casa
com ela. E discutir na frente dos amigos foi um modo de
revidar. Quando Ron percebeu a verdadeira questão, pôde
entender a frustração de Shari e tentar reparar seu erro.
Para identificar a verdadeira origem de um conflito,
pergunte a si mesmo “Por que motivo estamos brigando?”
e “Qual é o verdadeiro estopim de nossa discussão?”.
Quando um casal não é capaz de se questionar quanto a
isso, a briga geralmente encontra outros motivos (“E tem
outra coisa: por que você sempre...?”). Então, antes de brigar,
procure descobrir o motivo da briga.

Fale o que está sentindo abertamente


Sônia, casada há um ano, vivia brigando com o marido
por causa das viagens constantes e inesperadas que ele
fazia. “Não posso entender por que o trabalho deve ter
prioridade sobre nosso relacionamento”, disse, certa noite,
pelo telefone. Quando ele começou a explicar a pressão
que sofria em virtude dos prazos e por que tinha de viajar
tanto, Sônia de repente percebeu que não estava chateada
por ele estar longe e trabalhar tanto; tudo o que ela queria
ouvir era: “Estou com saudades. Não gosto de ficar longe
147
de casa. E você é ótima por cuidar de tudo quando estou
fora”. Depois que expressou seus sentimentos abertamente,
conseguiu o que queria.
Normalmente, damos aos casais a fórmula do x , y , z para
ajudá-los a exprimir seus sentimentos. Pense nisso como
um exercício de completar os espaços em branco com suas
próprias queixas: “Na situação x , quando você faz y , sinto-
me z”. Por exemplo: “Quando você está viajando ( x ) e não
diz que sente saudades ( y ) , sinto-me só e desamparada (z)”.
Ou: “Na noite de quinta-feira passada ( x ) , quando você fez
uma ligação interurbana para a sua mãe e ficou falando
meia hora ( y ) , fiquei chateado porque não podemos gastar
tanto com telefonemas (z)”. Essa fórmula ajudará a evitar
insultos e desfigurações da personalidade, permitindo que
você simplesmente diga ao parceiro de que maneira o
comportamento dele ou dela afeta seus sentimentos.
Outro exemplo seria: “Quando você está dirigindo ( x ) e
muda a estação do rádio sem me perguntar primeiro ( y ) ,
fico magoada porque meus desejos não têm importância
para você ( z ) ” . Isso é muito mais construtivo do que dizer:
“Você nunca pensa no que eu gosto quando se trata de
música”. Embora seja exatamente isso o que venha de
imediato à sua mente, é provável que provocasse uma
resposta defensiva que não levaria a nada.

Analise a intensidade de seus sentimentos


Temos observado em nosso aconselhamento que um dos
integrantes do casal é sempre mais expansivo que o outro.
Em outras palavras, um deles é capaz de articular sentimentos
de forma mais rápida e intensa que o outro. E constatamos
que esse desequilíbrio causa problemas constantes porque
o que pode p a re c e r muito importante para uma pessoa po­
de não ter importância alguma para outra.
148
Quando James e Karen estavam decorando seu primeiro
apartamento, Karen queria pintar as paredes da cozinha
de azul-claro. Ela trouxe amostras da cor para o marido
ver, mas ele não sentiu o mesmo entusiasmo:
— Encontrei a cor perfeita — disse Karen, animada,
segurando amostras da tinta contra a parede.
— Não me parece tão incrível assim — ele comentou.
— Ah, mas você vai gostar quando a parede estiver
toda pintada. Vai ficar ótimo.
— Não sei...
O telefone tocou no meio da discussão e essa foi a
última vez que tocaram no assunto. Três dias mais tarde,
James nem podia acreditar quando chegou em casa e
encontrou uma cozinha azul-clara.
— O que significa isso? — exclamou. — Pensei que
tínhamos concordado em não usar essa cor!
— Você disse que não se importava; então, mandei pintar.
— Eu nunca disse isso!
Eles passaram o resto da noite discutindo sobre senti­
mentos traídos e negligenciados. Mas toda essa confusão
poderia ter sido evitada se eles soubessem exatamente qual
a importância (ou não) de pintar a cozinha para cada um
deles. Naquele momento, James não soube expressar-se
bem, mas sabia que não queria a cozinha pintada de azul-
claro. Karen, por sua vez, estava animada e ansiosa para
decorar a casa. Ela poderia ser facilmente convencida de
usar outra cor. Seus sentimentos e a forma em que foram
expressos eram quase completamente opostos.
Existe uma técnica simples que poderia ter evitado todo
o ressentimento de um para com o outro. Há muitos anos,
temos usado centenas de “Cartões de Conflitos”, como os
chamamos. Esse pequeno cartão plastificado, do tamanho
de um cartão de crédito, permite que os casais estabeleçam

149
uma base segura para ambos quando precisarem expressar
a intensidade de seus sentimentos. Não conseguimos
lembrar de onde surgiu essa idéia, mas ela nos ajudou a
resolver vários conflitos em nosso casamento e tem
funcionado para centenas de outras pessoas.
O que existe no car­
tão? É bastante simples. Não se ponha o sol
O cartão contém um nú­ sobre a vossa ira.
mero de um a dez, quan­ E f é s io s 4.26

tificando a intensidade
de seus sentimentos:
1. Não estou muito entusiasmado com isso, mas tudo bem.
2. Não concordo com você, mas posso estar errado.
3. Não concordo, mas posso conviver com isso.
4. Não concordo, mas você pode fazer do seu jeito.
5. Não concordo e não dá para ficar calado sobre isso.
6. Não aprovo e preciso de mais algum tempo para
pensar a respeito.
7. Desaprovo completamente e não posso aceitar isso.
8. Posso ficar tão irritado que nem sei qual será minha
reação.
9- De jeito nenhum! Se você fizer isso, estou fora!
10. Só sobre o meu cadáver!

Quando o assunto se tornar mais acalorado, simplesmente


pegue essa lista e quantifique a intensidade de suas
divergências (“Para mim, isso vale três”, “Para mim é cinco”).
Nisso, o casal poderá fazer um jogo equilibrado mesmo
quando uma das pessoas for mais expansiva que a outra.
A propósito, sempre dizemos aos casais que usam o
Cartão de Conflitos que, se ambos atribuírem a uma questão
um valor superior a seis, deverão buscar a ajuda mais eficaz
de um teraupeuta matrimonial.
150
Parem de se depreciar
Lembra-se de quando era criança e respondia: “Sou bobo,
mas sou feliz; mais bobo é quem me diz”? É mentira, um
comentário depreciativo não deixa ninguém feliz; eles
magoam sim, e alguns casais podem confirmar isso.
Infelizmente, algumas pessoas são verdadeiras destruidoras
de personalidade ( “Você não quer ser promovido porque
sabe que não tem capacidade para isso”).
A depreciação é letal sobretudo quando se vai direto ao
calcanhar de Aquiles. Se o seu parceiro contou que os
maldosos colegas da faculdade o apelidaram de “cabeça
de ovo” e, mesmo agora, ele ainda teme o escárnio, esse
nome será algo proibido. Dois pontos fracos universais,
sempre mencionados, são o desempenho sexual e os pais.
Já é bastante difícil, nos estágios mais avançados da vida,
falar sobre a satisfação sexual com o parceiro; mas usar
isso como ataque é uma péssima idéia. E, mesmo que
critiquemos nossos pais, não é aconselhável ao n osso
companheiro fazer o mesmo.
Um dos tristes fatos dos relacionamentos mais íntimos é
que acabamos tratando a pessoa que amamos pior do que
a um desconhecido. É bem provável que insultemos mais
nosso parceiro do que qualquer outra pessoa que
conhecemos na vida. Somos até mais educados com
con h ecid os d o que com eles. Eis algumas dicas para que
cultivemos o respeito mútuo no casamento:

• Cumprimentem-se com satisfação e com uma saudação


calorosa, e marquem a despedida com um carinhoso
adeus.
• Quando o seu parceiro fizer uma tarefa difícil, sempre
mostre admiração por seu trabalho mesmo que o
modo de fazê-lo não esteja de acordo com seus
151
padrões (diga “Obrigada por ter lavado o carro” e
não “Puxa, mas você se esqueceu de lavar essa parte”).
• Cultivem uma conversa saudável durante as refeições.
Desligue a t v e preste atenção em seu parceiro.

As pesquisas mostram que basta um comentário


depreciativo para destruir horas de gentilezas que você
fez ao parceiro. Então, a maior expressão do respeito que
você pode ter por seu parceiro é parar completamente de
depreciá-lo.

Não relembrem os maus momentos


Se você está brigando por causa do tempo que seu
parceiro passa no trabalho, podemos jurar que não ajudará
em nada se disser que ele ou ela também sacou além do
limite permitido pelo banco e que sempre deixa o carro
sem gasolina. Atenha-se aos assuntos pertinentes e p ro cu re
d a r um fim nessa briga. Volte ao ponto principal quando a
discussão se desviar: “Olha, vamos decidir primeiro quem
vai passar na tinturaria para levar essas roupas. Depois a
gente decide como a lavagem de roupa vai funcionar em
casa”. Procure acalmar o parceiro: “Vamos dar um tempo.
Estamos muito nervosos para discutir o assunto racio­
nalmente agora”. Os casais infelizes transformam toda
pequena discussão em uma bola de neve, dizendo coisas
cada vez mais desagradáveis:

Ele: Acho que meu erro foi achar que teríamos um


belo jantar.
Ela: Se você chegasse na hora, talvez tivesse. Você se
preocupa mais com seu trabalho do que comigo.
Ele: Alguém aqui tem de sustentar a casa.

152
Ela: E não seria você se eu não tivesse dado duro
enquanto você terminava seus estudos!

Esse tipo de avalanche de acusações é um grande passo


para o divórcio. Esses casais voltam-se para discussões
acaloradas e improdutivas sobre assuntos superficiais ou
antigos que não foram resolvidos. Além de isso não servir
para nada, afloram os sentimentos negativos.
Em relacionamentos estáveis, o outro nem sempre
revidará quando for provocado injustamente. Em vez disso,
encontrará uma maneira de diminuir a tensão:

Ele: Esperava que fôssemos ter uma refeição decente


hoje.
Ela: Seu horário é tão imprevisível que fica difícil
fazer planos.
Ele: Não tenho escolha. Tenho sofrido muita pres­
são no trabalho.
Ela: Bem que tal dessa vez pedirmos uma pizza?

Não se trata de como se começa a discutir, mas de como


se acaba uma discussão. Se vocês remexerem demais na
terra, fatalmente serão engolidos por ela.

Vamos encarar os fatos: nem tudo é válido no amor e


na guerra. Obviamente, uma briga justa e construtiva é
melhor que uma injusta e desonesta. Embora ninguém esteja
isento de escorregar de vez em quando, as “regras” que
apresentamos servirão para que se combata um bom
combate.

153
P ar a reflexão

• O que você normalmente faz ao enfrentar um conflito


interpessoal? O que funciona e o que não funciona
para você?
• Você já percebeu algum “sinal” que possa alertá-lo
sobre a crescente tensão antes de ela ser liberada?
• Pense nos motivos pelos quais você e seu parceiro às
vezes discutem. Você consegue detectar algum
padrão? Pode identificar algum tema específico? O
mesmo tema repete-se com freqüência?
• Se tivesse a “negação do conflito” de um lado e a
“confrontação” do outro, de que lado você ficaria? E
seu parceiro? Como suas diferenças afetariam suas
discussões?
• O que você faria para evitar o erro comum de
transformar suas reclamações em críticas? Por que é
importante evitar cair nessa armadilha?
• O que você pensa sobre a frase “O conflito é o preço
que se paga pela conquista da intimidade”? Como
você explicaria esse conceito a outra pessoa?
• Que exemplo seus pais lhe deram de como lidar com
conflitos? Pense em comportamentos como gritar,
acusar, emburrar, usar de sarcasmo, esquivar-se,
chorar e ameaçar.
• Um dos motivos de o dinheiro ser o número 1 da lista
de motivos de discussão entre os casais é que eles
enfrentam decisões na área financeira diariamente.
Que outras razões, na sua opinião, fazem do dinheiro
uma questão tão problemática no casamento?
• No que se refere a observações depreciativas, você
sabe o que é proibido dizer a seu parceiro em uma
discussão? Seu parceiro também sabe o que não deve
dizer a você?
• Qual o seu ponto mais forte e mais fraco, particu­
larmente, quando se trata de uma boa briga?
• Todo problema que você e seu parceiro superam só
tende a fortalecer o casamento. Pense, por alguns
minutos, nos conflitos com que lidaram constru­
tivamente. O que isso lhe ensinou sobre a sua
capacidade de enfrentar questões difíceis junto com
seu parceiro?

155
e se tornarão os dois uma só carne.
E f é s io s 5.31

S étima P ergunta :

V o c ê s são a l m a s g ê m e a s ?

— Somos exatamente iguais — disse John repentina­


mente. Ele e Nancy eram um dos mais de vinte recém-
casados que estávamos instruindo. Eu (Leslie) tinha acabado
de pedir que cada um deles falasse sobre suas diferenças,
quando John orgulhosamente expressou sua opinião. Os
outros casais pareciam espantados.
Les, como qualquer psicólogo faria no seu lugar, disse:
— Fale-nos sobre isso, John.
Nancy assentia enquanto seu marido dizia:
— Simplesmente nós não temos nenhuma grande
diferença, é isso. Gostamos das mesmas coisas e nunca
discordamos.
— Uau! — exclamou Les, em tom de sarcasmo.
Senti vontade de começar a elogiar, pois sabia o que
Les estava pensando e temia que ele fosse dizê-lo. E ele
disse mesmo.
— Vocês são o primeiro casal que conheço que é
exatam en te igual.
A classe soltou risinhos, e John revirou os olhos.^
— Não somos exatam en te iguais — admitiu.
Alguns casais procuram copiar um ao outro para
encob rir suas diferenças. Os recém -casad os, por
exemplo, freqüentemente impõem uma falsa semelhança
em seus gostos, opiniões, prioridades e hábitos. Fazem
isso com a melhor das intenções, mas essa semelhança
não é mais real do que a de Adão e Eva, que cobriram
suas diferenças com folhas de figueira. Deus criou cada
pessoa para que fosse diferente, e negar essa sin­
gularidade não tem nada que ver com união, e sim com
presunção.
Outro membro do mesmo grupo disse:
— Sharon e eu dividimos tudo.
Os outros casais concordaram. Dividir a carga, meio a
meio, é uma maneira bem melhor de criar uma unidade.
— É — disse Sharon — , mas nossas metades nem sempre
se encaixam.
Ela está certa. Uma relação “meio a meio” funciona
somente se cada uma das partes for uma fração. Mas não
é. Cada um de nós é uma pessoa completa e nada é
subtraído quando nos casamos. Permanecemos um todo e
queremos ser amados como um todo, e não ser cortados
ao meio para encaixar um no outro.
Conhecemos alguns casais que tentaram construir um
casamento na base do meio-a-meio, revezando-se para
decidir isso ou aquilo, dividindo seus bens, pesando as
partes, cortando privilégios. Mas ainda estamos para
conhecer um casal que viva sob esse princípio e não ache
que revezar é lesar seus direitos. Geralmente, aquele que
têm a personalidade mais forte, consciente ou incons­
cientemente, é quem manipula a faca para dividir as
“metades” e tornar uma delas “mais igual” à outra.

158
Então, como homem e mulher conseguirão tornar-se
um? Em outras palavras, como poderiam ser almas gêmeas?
A resposta está exatamente onde você suspeita — no fundo
da alma. Há bem pouco tempo, as pesquisas científicas
reforçaram o que o bom senso nos diz há anos: que,
essencialmente, a inclinação à dimensão espiritual do
casamento é o que mantém os casais unidos.1 A relação
floresce quando se alimenta a alma.
Neste capítulo exploraremos o aspecto mais importante
e menos abordado de um casamento saudável: a dimensão
espiritual. Primeiro, exploraremos a necessidade que
sentimos de uma intimidade espiritual e o seu significado
no casamento. Depois, mostraremos como Deus se revela
no seu relacionamento conjugal e como o casamento está
mais próximo da natureza divina do que de qualquer
outro aspecto da vida. Também ensinaremos maneiras
práticas de despertar o lado espiritual do casamento.
Concluiremos com um lembrete final.

I n t im id a d e e s p ir i t u a l : o v e r d a d e ir o sig n ific a d o d o c a s a m e n t o

No dia 12 de fevereiro de 1944, Anne Frank, aos trinta


anos, escreveu em seu famoso diário:

Hoje o sol está brilhando em um céu de


azul profundo, uma suave brisa está soprando
enquanto eu fico aqui querendo... querendo
tudo. Conversar, ser livre, ter amigos e estar
sozinha.
E também quero... chorar! Sinto como se
fosse explodir por dentro e sei que ficaria
melhor se chorasse, mas não consigo; fico
ansiosa, andando de um lado para outro,
respirando pela brecha de uma janela que-
159
b ra d a , c o m o c o r a ç ã o a c e le r a d o , c o m o s e e le
d is s e s s e : “S e rá q u e v o c ê n ã o p o d e r ia a te n d e r
a o m e u d e s e jo fin a lm e n te ?”.
A c h o q u e é p rim a v e ra e m m im , s in to q u e
a p rim a v e ra d e s p e r ta , s in to -a e m to d o m e u
co rp o e a lm a . É d ifíc il m e co m p o rta r
n o r m a lm e n te . S in to -m e to ta lm e n te c o n fu s a .
N ã o se i o q u e le r n e m e s c r e v e r o u fa z e r; s ó
se i q u e fic o a q u i s o n h a n d o .

Em todos nós, bem no fundo de nosso ser, existe tensão,


um desejo, um fogo no coração, intenso e inesgotável. Na
maioria das vezes, é um querer sem nome nem forma, um
desejo que não pode ser claramente definido nem descrito.
Como Anne Frank, só o que sabemos é que estamos
ansiosos, com um desejo ardente na alma.
A maioria das pessoas espera que o casamento sacie
seu desejo espiritual, e isso normalmente acontece por
algum tempo. Mas, para muitos, o desejo intenso e
inesgotável volta a ecoar. Foi o que certamente aconteceu
com Roy e Pauline. Fizeram todo o possível para construir
uma base forte para seu casam ento. Passaram por
aconselhamento pré-conjugal, ajustaram suas expectativas
distorcidas, aprenderam a comunicar-se de forma eficaz,
aprenderam a resolver seus conflitos e assim por diante.
Leram livros sobre casamento, foram a seminários, ouviram
fitas e ainda arranjaram para que outro casal fosse seu
guia no primeiro ano de casamento. Roy e Pauline levaram
o casamento a sério, e seus esforços não foram em vão,
pelo menos até aquele momento. Agora estavam no
décimo ano de casamento, e, ao que tudo indicava,
estavam bem. Mas, apesar de tudo isso, algo estava
faltando.

160
— Somos muito apaixonados — disse Pauline — , mas às
vezes parece que estamos passeando pelas emoções.
— É verdade — completou Roy. — Somos mesmo muito
apaixonados, mas algumas vezes parece que o relacio­
namento fica... não sei... vazio, eu acho. Como se devesse
xistir uma ligação maior.
Roy e Pauline, em mui­
Agora podemos reconhecer tos aspectos, eram um
que o destino da alma é o modelo de casal. Faziam
destino da ordem social; tudo o que os casais
que, se o espírito que há saudáveis no casamento
em nós definhar, assim fazem. Eram psicologi­
também todo o mundo cam ente sagazes, e-
que construímos ruirá mocionalmente equili­
ao nosso redor. brados e mantinham o
T h e o d o r e R o sza k relacionamento em boas
condições. Mas seus
corações ainda se sentiam ansiosos, querendo algo mais,
algo mais profundo. Sabendo ou não, desejavam ser almas
gêmeas.
O que ainda era preciso aprender é que o bom
casamento não se resume na boa comunicação, na solução
de conflitos e em atitudes positivas. Todos esses
componentes são extremamente importantes para que um
relacionamento seja duradouro e significativo, mas não é
o bastante. O casamento não é uma máquina que precisa
de manutenção constante para mantê-lo em funcio­
namento, mas um acontecimento sobrenatural apoiado
na troca mútua de votos sagrados. Acima de tudo, o
casam en to é um e sfo rço íntim o, m isterioso e
imperscrutável.
Até mesmo os casais felizes no relacionamento, como
Roy e Pauline, acabam descobrindo um desejo inato de

161
unir-se à pessoa amada não apenas pelo bem-estar, não
apenas pela paixão, mas também para en con trar sentido.
Nossa vida segue dia após dia; pode ser um sucesso ou
um fracasso, prazerosa ou atormentada. Mas qual seu
sig n ifica d o ? A resposta está em nossa alma.
Para os casais unidos pelo casamento, a busca de sentido
espiritual deve ser conjunta.2 Cada pessoa deve descobrir
o significado da vida, mas os cônjuges também devem
encontrar juntos o sentido do casamento. Vocês não são
somente marido e mulher. Os dois juntos deram à luz um
casamento, que é como um ser vivo, e a alma desse novo
ser deve ser alimentada.
O verdadeiro sentido da vida a dois é o chamado
espiritual para ser almas gêmeas, e todo casal deve atender
a esse chamado ou arriscar-se a ter um casamento estagnado
e maldesenvolvido. Como o fermento no pão, a espiritua­
lidade determinará se o seu casamento crescerá, chegando
ao sucesso, ou atrofiará, dando no fracasso.
A dimensão espiritual do casamento é uma fonte de
alimento para o crescimento e para a saúde conjugal.
Nenhum outro fator é tão responsável pelo fortalecimento
da unidade e por um profundo sentido de propósito no
casamento do que o comprometimento mútuo da descoberta
espiritual. Essa é a verdadeira ânsia de nossas almas.

C o m o d e s c o b r ir d e u s e m s e u c a s a m e n t o

Uma das histórias


de amor mais emo­ Pois tu fizeste o homem
cionantes de nosso para ti, e assim nosso coração
tempo envolve duas só terá paz em ti.
pessoas que, no iní­
A g o s t in h o
cio, viviam separa­
das pelo oceano. Ele
era um velho e desleixado solteirão de Oxford, apologista
cristão e autor de best-sellers para crianças. Ela, americana,
era muito mais jovem, e divorciada, com dois filhos.
Depois do pri­
m eiro encon tro, Festejamos o amor: cada
em uma visita dela manifestação sua, solene e feliz,
à Inglaterra em romântica e realista, às vezes
1952, C. S. Lewis e tão dramática quanto um
Joy Davidson ali­ trovão, outras cômoda e suave
mentaram seu rela­ como vestir nossos pijamas. Ela
cionam ento por era minha aluna e minha
correspondência. A professora, meu servo e
afinidade intelec­ soberano, minha fiel colega,
tual entre os dois amiga, companheira de viagem
despertou a estima e de guerra. Minha amante,
e o respeito mú­ mas, ao mesmo tempo, tudo o
tuos. Quando Joy que nenhum amigo
mudou-se para a jamais foi para mim.
Inglaterra com os C. S. L ew is
filhos, o relacio­
namento deles recebeu os benefícios da proximidade.
Quando ia partir por falta de recursos e pelo prazo de
expiração do visto de permanência, C. S. Lewis tomou
uma decisão: se Joy concordasse, eles se casariam.
Já no início do casamento, o corpo de Joy revelou um
segredo que mantivera guardado todo esse tempo: ela
estava com câncer, e era irreversível. A vida bem organizada
do professor Lewis estava se desintegrando. Mas, no
decorrer dos acontecimentos, aquele inglês que escrevia
as cartas descobriu a intensidade de seu amor por Joy.
Dando prosseguimento à vida, o casal buscou e recebeu a
bênção da igreja para seu casamento, que anteriormente só
havia sido formalizado em um cartório de registros. Joy recebeu

163
o melhor tratamento que existia na época. E, então, ele a
trouxe para casa, comprometendo-se a cuidar de seu bem-
estar. Não é de espantar que o corpo de Joy correspondesse
a isso. Porém, essa recuperação não durou muito.
Perto da morte, Joy disse ao marido: “Você me fez feliz.
Estou em paz com Deus”.
Ela morreu às 10hl5 daquela noite de 1960.
“Ela estava sorrindo”, lembrou mais tarde Lewis, “mas
não era para mim.”
A grande lição dessa maravilhosa história de amor é
que, se duas pessoas não estiverem unidas por um laço
espiritual de identidade, nunca poderão competir com a
plenitude de amor que as almas gêmeas possuem.
O casamento, quando brota de uma relação saudável,
tem um modo místico de revelar Deus, capaz de trazer a
paz serena a nossos corações inquietos.
Quando os pesquisadores examinaram as características
dos casamentos felizes há mais de vinte anos, uma das
qualidades mais importantes que encontraram foi a “fé em
Deus e o comprometimento espiritual”.3 A religião,
comprovadamente, proporciona aos casais o sentimento
de partilhar valores, ideologias e propósitos que enriquece
o relacionamento.
O casamento está mais perto da natureza divina do que
qualquer outra experiência humana. Deus usa a metáfora
do casamento para aludir a seu relacionamento com a
humanidade: “como o noivo se alegra da noiva, assim de ti
se alegrará o teu Deus”.4 Deus ama a igreja, “sua noiva”, diz
Paulo, não como um grupo de pessoas externas a ele com
as quais se entende, mas como parte de seu próprio corpo.5
E, de maneira semelhante, quando o marido ama a esposa
e ela o ama, sendo um a extensão do outro, vivem como
“uma só carne”, como almas gêmeas.

164
Finalmente, por meio do casamento, Deus também se
mostra de duas maneiras: em primeiro lugar, revelando
sua fidelidade; em segundo, seu perdão.

O casamento revela a fidelidade de Deus


O que seria do casamento sem a fidelidade? E se o
máximo que nosso companheiro pudesse nos dizer fosse
“Tentarei ser sincero, mas não conte com isso”? É claro
que o casamento não poderia sobreviver. Ficaríamos loucos
com a incerteza se não pudéssemos contar com a fidelidade
de nosso parceiro. O sustento de nosso relacionamento
depende da força da fidelidade — dele, nossa e, em última
instância, de Deus.
Isso mesmo, a fidelidade de Deus é essencial para a
sobrevivência de nosso casamento. Pense nisso. Como nós,
pessoas fracas e limitadas, poderíamos olhar de frente para
todas as incertezas da vida e dizer: “Uma coisa é certa:
manterei sempre a minha fidelidade a meu parceiro”? Nós
não podemos fazer isso, pelo menos não sozinhos.
Robertson McQuilkin é um marido conhecido por crer
na fidelidade de Deus. Quando ele era diretor de uma
faculdade cristã e sua esposa, Muriel, era apresentadora de
um famoso programa de rádio, ela começou a ter falha de
memória. O diagnóstico médico deu uma reviravolta em
seu casamento de 42 anos: Muriel sofria do mal de Alzheimer.
“Não parecia doloroso para ela”, disse Robertson, “mas
para mim foi como uma morte lenta ao observar uma pessoa
criativa e articulada, a quem eu conhecia e amava, ir
vagarosamente se apagando.”
Robertson consultou os membros do conselho de sua
faculdade e pediu que começassem a procurar seu sucessor,
argumentando que chegaria o dia em que Muriel precisaria
dele em tempo integral.
165
Como Robertson teria à frente ainda oito anos de carreira
antes que pudesse aposentar-se, seus amigos tentaram
persuadi-lo a internar a esposa em uma instituição. Ela
rap id am en te se aco stu m a rá a o novo am biente, diziam.
Será? — perguntava ele a si mesmo. Será qu e alguém lã
p o d er á am á-la? Um a m o r sem interesse com o o meu? Muriel
não conseguia articular uma frase, apenas palavras, e quase
sempre palavras soltas não fazem muito sentido. Mas havia
uma frase que ela conseguia formar e que dizia com
freqüência: “Eu amo você”.
O Conselho arrumou uma acompanhante que ficasse
com ela enquanto o dr. McQuilkin estivesse no trabalho.
Nessa época, era extremamente difícil manter Muriel em
casa. Quando Robertson saía, ela ia atrás dele. Era preciso
uma caminhada de um quilômetro e meio para chegar à
faculdade, e Muriel percorria essa distância quase dez vezes
por dia.
“Às vezes, à noite, quando ia ajudá-la a trocar a roupa,
eu encontrava sangue em seus pés”, contou Robertson.
“Quando contei ao médico da família, ele disse com a voz
embargada: ‘É muito amor’.”
Em 1990, por acreditar que ser fiel a Muriel “na doença
e na saúde” era uma questão de caráter, Robertson
renunciou ao cargo de diretor para cuidar da esposa em
tempo integral.
“Diariamente, encontro novos indícios do tipo de pessoa
que ela era. Também posso ver a pura manifestação do
amor de Deus, o Deus que aprendi a amar ainda mais.”
Passaram-se vários anos depois que Robertson parou
de trabalhar, e Muriel continuou piorando até mal poder
falar. Agora ela passa a maior parte do tempo sentada,
enquanto ele escreve; porém, ela parece satisfeita e, com
freqüência, solta uma risada.

166
“Parece que ela ainda tem alguma afeição por mim. O
que mais poderia pedir? Tenho uma casa cheia de amor e
risadas; muitos casais, em seu pleno juízo, não têm isso!
Muriel é adorável e a amo como jamais a amei. Quando
ela me procura no meio da madrugada ou sorri satisfeita e
afetuosa quando acorda, agradeço ao Senhor por sua graça
e peço a ele que a deixe ficar comigo.
A fidelidade é como uma jóia multifacetada que exibe
uma com b in ação com p lexa de dim ensões in ter­
relacionadas — confiança, compromisso, sinceridade,
lealdade, estima, atenção. Mas nossa fidelidade de um
para com o outro só pode ser sustentada pelo exemplo
da fidelidade de Deus para conosco. Quando homem e
mulher se unem, Deus promete fidelidade a eles. E isso
ajuda os casais a manter a fé.
Jamais exageramos quando dizemos que a felicidade
está no próprio âmago do caráter de Deus. Ela está em
cada passagem da Bíblia — do Gênesis, quando Deus inicia
sua promessa de fidelidade, até Apocalipse, em que João
tem a visão de um cavalo branco cujo cavaleiro “chama-se
Fiel e Verdadeiro”. Grande é a fidelidade de Deus. Mesmo
quando somos infiéis, Deus permanecerá fiel, “pois de
maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo”.6
A fidelidade pactuai de Deus para com os homens, na
forma de nosso parceiro, é o descanso para o nosso coração
aflito. Ela aceita nossa alma dizendo: “Acredito em você e
estarei ao seu lado para o que der e vier”. Sem fidelidade
e a confiança que ela gera, o casamento não teria como
resistir. Pois nenhum casal alcançará a profunda confiança
na fidelidade de cada um dos parceiros se não reconhecer
a fidelidade de Deus por eles.

167
O casamento revela o perdão de Deus
Quando morávamos em Los Angeles, uma amiga convi-
dou-nos para um passeio no estúdio cinematográfico de
Hollywood, onde trabalhava. Atravessamos o local em um
carrinho de golfe e, silenciosamente, descemos em palcos
de som para tentarmos encontrar algum rosto famoso nos
bastidores. Um dos pontos altos foi assistir à filmagem de
um episódio de uma famosa série da t v americana. Nossa
amiga, percebendo nosso interesse nessa série em particular,
mais tarde enviou-nos um script autografado. Na história,
Nancy e Elliot, um casal briguento, participavam de uma
violenta sessão de aconselhamento. Por fim, Elliot diz: “Não
sei se ainda amo Nancy... E não importa o que ela faça,
não creio que lhe poderei perdoar o que fez”.
O perdão mora no coração do relacionamento. Duas
pessoas que vivem juntas, dia após dia, esbarrando uma
na outra, estão fadadas a se magoarem, algumas vezes
sem querer, outras não. E, se o perdão não for dado para
aliviar a alma do casamento, a condenação pairará sobre o
relacionamento. É mágoa após mágoa, até que um dia
culpamos nosso parceiro não somente porque tenha feito
algo de errado, mas também porque não somos mais
capazes de lhe perdoar.
Essa é uma zona de perigo. O perdão do homem nunca
foi absoluto. O perdão no casamento só tem poder curativo
quando se concentra no que nossos parceiros fa z em , não
no que são. Os casais são mais capazes de perdoar atos
específicos. Tentar perdoar de forma absoluta é tolice.
Ninguém, a não ser Deus, é capaz disso.
Sobrecarregam os os circuitos do perdão quando
tentamos perdoar a nossos parceiros o fato de não serem
o tipo de companheiro que gostaríamos que fossem. Mas
há outras maneiras de enfrentarmos isso: com coragem,
16S
empatia, paciência e esperança. Entretanto, para meros seres
humanos, o perdão supremo deve ser deixado para Deus.
Pois é o perdão dele que nos permite perdoar coisas
relativamente pequenas — o que não é nenhum mistério.
Todo casal deve perdoar. Eu (Leslie) passei maus pedaços
para aprender isso. Por que deveria perdoar a Les, o homem
que havia jurado amor por mim até a morte? De certo modo,
achava que, se o perdão fosse necessário, nosso
relacionamento estaria fracassando. Era orgulhosa demais para
admitir que Les poderia me magoar. Mas, às vezes, ele me
magoava. E, é claro, eu o magoava. Na verdade, aprendi que
o perdão no casamento não envolve uma ovelhinha inocente
e um lobo malvado. Na maioria das vezes tenho de perdoar
e também ser perdoada — se não por meu marido, por Deus.
Ao perdoarmos ao parceiro, estamos revelando para
ele o amor de Deus, sem culpas. O perdão do homem
ilumina o perdão divino.
Amar o parceiro como a você mesmo é provavelmente
o passo mais sério que você jamais dará para cumprir o
amor de Deus. Esse passo, é claro, nunca poderia ser dado
sem a graça. Embora muitos casamentos aconteçam e
consigam perseverar sem a confiança consciente na ajuda
de Deus, não existe nenhum relacionamento que seja
significativo sem o permanente e misterioso toque da graça
de Deus na alma de seu casamento.

C o m o c u id a r d a a l m a d o s e u c a s a m e n t o

A superficialidade é o destino de um casamento


insatisfatório. A necessidade desesperada da maioria dos
casamentos não é de mais entusiasmo, ostentação ou
atividade. A alma do casamento anseia por intensidade.
Pelo menos três práticas comuns da vida espiritual cha­
mam as almas gêmeas a mover-se para além da superfície
169
da vida, rumo a um
plano mais p ro ­ Aquele que não tem uma
fundo: freqüentar a alma amiga é como um
igreja, ser caridoso corpo sem cabeça.
D it a d o C elta
e orar juntos. Em
meio a nossas ativi­
dades diárias normais, essas práticas têm um poder
transformador de acalmar o espírito e alimentar o casa­
mento.7 A propósito, essas práticas não são para nenhum
gigante espiritual e não têm a intenção de ser um trabalho
árduo e maçante, inventado para acabar com todo o prazer
de sua vida. A única coisa necessária para executá-las é o
desejo de que Deus torne o seu casamento feliz.

Freqüentar a igreja
Temos uma ilustração de Norman Rockwell que mostra
uma família em uma manhã de domingo. O marido, com a
barba por fazer, os cabelos desgrenhados e vestindo um
robe sobre o pijama, está esticado em uma cadeira com
partes do jornal de domingo espalhadas ao seu redor. Atrás
dele está a esposa, usando um vestido feito sob medida e a
caminho da igreja. A figura é um divertido lembrete da
importância que o culto tem para a alma de nosso casamento.
Nós dois fomos criados freqüentando a igreja. Fazia parte
de nossa herança. Tão certo como o sol nasce no Oriente,
nossas famílias iam à igreja na manhã de domingo. Ir à
igreja não era questionável. Era simplesmente algo que se
fazia e ponto-final.
Mas, quando nos casamos e mudamos para longe de
casa, ir à igreja repentinamente tornou-se uma opção. Em
uma nova cidade, tivemos a oportunidade de estabelecer
nossas rotinas, nossos costumes. Pela primeira vez, ir à igreja
era algo que não tínhamos de fazer. Ninguém ia nos chamar
170
e perguntar onde estávamos.
Ninguém ia procurar por nós. Como o cervo anseia
pelas correntes das
Poderíamos, agora, ficar em
águas, assim suspira a
casa aos domingos, fazer
minha alma por ti, ó
uma caminhada, sentar sob
Deus. A minha alma
o sol, ler um livro. Ou... po­
tem sede de Deus...
deríamos ir à igreja. E foi o
S a lm o s 42.1,2
que fizemos.
Desde o início de nosso
casamento, ir ao culto juntos é como uma hora marcada
para o sossego e a restauração de nosso relacionamento.
Dedicarmos um dia da semana à igreja estabiliza nosso
casamento e nos libera da tirania da produtividade que
preenche todos os outros dias.
A igreja que freqüentamos é um lugar de apoio social
e renovação espiritual. Cantar os hinos, aprender os
ensinamentos da Bíblia, adorar a Deus e encontrar amigos
que partilham de sua busca espiritual é reconfortante e
inspirador. Ir ao culto juntos estimula o nosso relacio­
namento e torna a nossa semana mais significativa.
De vez em quando, a pesquisa científica reforça nossa
decisão de ir à igreja como um meio de nutrir a alma de
nosso casamento. Um estudo recente mostrou que os casais
que freqüentam a igreja juntos, mesmo que só uma vez
por mês, aumentam suas chances de permanecer casados
por toda a vida. Os estudos também mostraram que os
freqüentadores sentem-se melhor quanto a seus casamentos
do que aqueles que não vão à igreja juntos.8
Ir à igreja é uma forma de transformar relacionamentos.
Ficar diante do Santo e Eterno é crescer e mudar. Na igreja,
o poder de transformação de Deus encontra seu caminho
no santuário de nossos corações e aumenta nossa
capacidade de amar.

171
Serviço
“Nunca tinha percebido como eu era egoísta até que
me casei”, disse Gaiy.
Depois de seis meses de casamento, ele nos contou
que Paula, a esposa, fazia um trabalho voluntário em uma
clínica geriátrica uma vez por semana.
“A princípio, fiquei ressentido por ela não estar comigo.
Mas, dois meses atrás, ela precisou de ajuda e então fui
com ela.”
Ele foi com Paula mais uma vez, depois outra e
repetidamente, até que descobriu que ajudar as pessoas
idosas da clínica tinha trazido mais vida à sua semana.
“É bom ajudar os outros e isso faz com que eu e Paula
nos tornemos mais próximos; é como se, juntos, fôssemos
necessários.”
Já ouvimos dezenas
de relatos semelhan­
Amor não é olhar um para o
tes de casais. Há algo
outro, mas olharem juntos
de bom em trabalhar
para a mesma direção.
em equipe. Quase
. A n t o in e d e S a in t - E x u p é r y
por milagre isso se
torna um vínculo.
Estender a mão para os outros promove humildade, doação,
compaixão e intimidade no casamento. Fazer o bem aos
outros ajuda o casal a transcender a si mesmo e tornar-se
parte de algo maior.9
Há literalmente centenas de maneiras de incorporar o
serviço social no casamento. O segredo é encontrar algo
que combine com seu estilo pessoal. Por exemplo, temos
dois casais vizinhos nossos que praticam o auxílio
ativamente, mas de maneiras diferentes. Steve e Thanne
Moore moram na casa do outro lado da rua e são casados
há quinze anos. Sustentam uma criança pobre, Robert
172
Jacques, que mora no Haiti. Todo mês mandam cartas e
cartões, além de dinheiro para estudar, se vestir e se
alimentar. Em ocasiões especiais, Steve e Thanne enviam
desenhos de seus três filhos para Robert. Já duas vezes
estiveram no Haiti para ficar com Robert no orfanato. Um
dia, esperam vê-lo na faculdade.
Duas quadras adiante vivem Dennis e Lucy Guernsey.
Estão casados há 25 anos e desde o início tomaram uma
decisão: manter a porta aberta para quem precisa. Quem
conhece o casal sabe de sua hospitalidade. Fizeram de sua
casa um centro de comemorações e jantares deliciosos.
Algumas vezes, é informal e espontâneo, outras, é planejado
e elegante, mas sempre especial. Eles dão festas de
formatura, aniversário, boas-vindas. Fazem homenagens
especiais e recepções. E no Dia das Mães convidam as
mães solteiras para um almoço de domingo.
Se você perguntar a qualquer um deles por que ajudam
as pessoas dessa maneira, dirão como é recompensador
fazer os outros felizes. Mas também contarão sobre o forte
vínculo que esse serviço em conjunto trouxe para o
casamento deles.
Conhecemos vários casais que são testemunhas do valor
que uma mão estendida traz para seu casam ento.
Sustentando uma criança pobre, abrindo a casa para os
outros, dando cobertores aos pobres ou fazendo doces para
prisioneiros, fazer o bem aos outros é sempre bom para o
casamento. Para as almas gêmeas, servir com o coração
não tem o objetivo de conquistar justiça aos próprios olhos,
nem serve para ganhar recompensas. Também não é “nada
excepcional”. É um chamado, um ímpeto divino que vem
bem do fundo da alma de seu casamento.
Mais uma coisa sobre esse serviço social. Se tudo o que
vocês fazem é para ostentar aos outros, isso não ajudará a

173
aprofundar nada. A caridade, às vezes, é feita em segredo,
longe dos olhos de todos, somente sob a guarda de vocês
dois. Acreditamos que a alma de nosso casamento fica mais
satisfeita quando fazemos algo, mesmo uma pequena coisa,
anonimamente. Observar em segredo os resultados de nosso
serviço fortalece a devoção e a intimidade.
Cuidar da alma do casamento requer atenção constante.
Pois, se vocês se descuidarem, restarão apenas laços super­
ficiais, como ondas de emoções e paixões, fazendo seu
casamento encalhar. Mas, se na sua jornada juntos vocês
cuidarem da alma — indo à igreja, servindo aos outros e
orando — , vocês apaziguarão as tempestades do casamento.

Oração
O sociólogo Andrew Greeley pesquisou pessoas casadas
e descobriu que os parceiros mais felizes eram aqueles
que oravam juntos. Muito provavelmente, os cônjuges que
oram juntos com regularidade têm o dobro de chance
daqueles que não oram juntos com tanta regularidade de
ser altamente românticos. Eles também relataram grande
satisfação sexual e um êxtase mais intenso!
Há uma velha história sobre um casal que decidiu
começar a lua-de-mel ajoelhado ao lado da cama orando.
A noiva sorriu quando ouviu o jovem marido orar:
“Agradecemos ao Senhor todas as graças que recebemos”.
Por estranho que possa parecer, existe um forte vínculo
entre a oração e o sexo. Por um lado, a freqüência da oração
é um indício mais poderoso da satisfação conjugal do que a
freqüência da intimidade sexual. Mas veja isso: os casais
que oram juntos têm 90% de chance de ter uma vida sexual
mais satisfatória do que os que não oram. Além disso, as
mulheres que oram com o marido tendem a obter o orgasmo
com mais facilidade. Isso não soa bem, não é mesmo? Afinal,
174
os casais que freqüentam a igreja são retratados pela mídia
como puritanos que acham que o sexo é sujo. Bem, deixe
que a mídia diga o que quiser, mas os casais que oram
juntos é que têm a resposta.
Poucas pessoas que vieram a nosso consultório eram tão
consagradas quanto Tom e Kathleen. Freqüentavam a igreja
regularmente. Kathleen cantava no coral, Tom dava aulas
na escola dominical; além disso, ela fazia parte de um grupo
feminino de estudos da Bíblia, e ele, de um grupo masculino
de contabilidade. Todos na igreja os consideravam líderes
espirituais dedicados e vibrantes. Mas, quando os dois vieram
nos ver, seu casamento de cinco anos estava em pedaços.
Contaram-nos uma história que já tínhamos ouvido várias
vezes. Estavam muito envolvidos com tudo menos com o
casamento e, por isso, estavam sofrendo de “falta de paixão”.
Apesar de todo fervor espiritual, Tom e Kathleen permitiram
que a alma de seu casamento definhasse.
“Quando foi a última vez que vocês oraram juntos?”,
um de nós perguntou.
Quando eles se entreolharam, a resposta se mostrou
evidente: fazia muito tempo.
Conversamos mais um pouco e demos a eles uma tarefa
simples, uma experiência, na verdade. Na semana que
estava por vir, fariam uma breve oração juntos antes de ir
para a cama.
Cinco dias mais tarde recebemos um telefonema.
“Oi. É Kathleen. Sei que parece loucura, mas nosso
relacionamento mudou completamente.”
Ela contou como aquele momento que passavam juntos
orando rejuvenesceu o espírito deles e o casamento.
Nenhuma “religiosidade” é capaz de compensar o tempo
que os casais passam juntos em oração. Mas você deve
estar-se perguntando: se a oração é tão boa para o casamento,

175
por que mais casais não fazem isso? Porque não é fácil. O
ato de orar nos torna vulneráveis, e, sempre que abaixamos
a guarda, mesmo com nosso companheiro, é assustador
(especialmente para os homens). Afinal de contas, nosso
parceiro sabe, em primeira mão, como somos de fato. Ele
nos vê quando ninguém mais está vendo. Então, como fazer
para ser de todo sincero com Deus quando meu parceiro
está ouvindo tudo? Como posso expressar meus verdadeiros
desejos e receios, minha dor, os pecados que me afligem?
Não é de espantar que muitos casais optem por não orar. O
preço dessa vulnerabilidade parece muito alto.
Orar juntos como casal, devemos confessar, nem sempre
foi natural ou fácil para Leslie ou para mim. Às vezes, caímos
na armadilha de fazer sermões em nossas orações, sutilmente
atacando um ao outro com nossas “boas” intenções. Mas
com o tempo aprendemos alguns princípios que nos
ajudaram a orar com maior eficiência. Primeiro, fazemos
uma oração de agradecimento. Isso é tudo. Em vez de falar
sobre nossas necessidades ou dificuldades, simplesmente
agradecemos a Deus. Às vezes oramos o pai-nosso juntos
(Mt 6.9-13). E algumas vezes um de nós simplesmente inicia
um momento de oração silenciosa, à qual o outro se junta,
ou um momento para ouvir a Deus, ou talvez um momento
de orações breves. O importante é orar. Não existe um jeito
certo ou errado de fazê-lo. Cada vez que entramos em
comunhão com Deus orando juntos, alimentamos a alma
de nosso casamento.

E n tã o , não se esq u eça

Como a maioria dos casais perdidamente apaixonados,


desejamos ser almas gêmeas mesmo antes de nos casarmos.
Parte do ímpeto de nossa visão veio do livro A severe m ercy
[Uma severa misericórdia\, a história verídica de amor de
176
Sheldon e Davy Vanauken, duas pessoas que se amaram e
não apenas sonharam em construir uma união espiritual,
mas planejaram uma verdadeira estratégia para conquistar
a chamada Barreira de Luz. O objetivo: tornar seu amor
invulnerável. O plano: partilhar tudo. Tudo! Se um deles
gostasse de algo, concluíram, deve haver uma razão para
apreciar aquilo, e o outro deve descobrir o que é. Fosse
poesia, morangos ou interesse por navios, Sheldon e Davy
comprometeram-se a partilhar cada coisa de que gostassem.
Desse modo criariam milhares de laços, grandes ou
pequenos, que os manteriam atados. Argumentavam que,
se partilhassem tudo, se tornariam tão íntimos que seria
impossível, impensável para qualquer um deles supor que
conseguiriam algum dia desfrutar dessa intimidade com outra
pessoa. A participação total, acreditavam, era o maior segredo
do amor eterno.
Para zelar por sua Barreira de Luz, Sheldon e Davy
estabeleceram o que chamaram de Conselho dos Nave­
gantes. Tratava-se de uma pesquisa sobre o estado da união
deles. Será que estavam compartilhando tudo? Havia algum
sinal de rompimento? Mais de uma vez por mês eles
intencionalmente falavam a respeito de seu relacionamento
e avaliavam suas atividades perguntando: isso é bom para
o nosso amor?
Havia algo nessa Barreira de Luz — um escudo que
protegia o amor de alguém e construía um vínculo forte —
que nos atraiu. Queríamos nos resguardar contra a perda
da glória do amor. Não temíamos o divórcio, mas um
inimigo mais sutil: a separação gradual. À nossa volta,
víamos casamentos que esmoreciam porque os casais
achavam que seu amor estava garantido. Ao pararem de
fazer coisas juntos por descobrir que tinham interesses
diferentes, os casais que conhecíamos, com o passar do

177
tempo, passavam a usar mais o pronome “eu” do que o
“nós”. Observamos uma suave separação surgindo no
casamento deles que mal dava para notar — cada um indo
para trabalhos diferentes em mundos diferentes, enquanto
seu distanciamento ia, silenciosamente, destruindo sua
união. Por que deixar isso acontecer conosco? Por que
não construir uma Barreira de Luz como a de Sheldon e
Davy?
Estávamos inspirados.
No fim da primavera, apenas alguns dias antes do nosso
casamento, sentamo-nos em um banco, conversando sobre
nosso amor e comprometimento, e chegamos à conclusão
de que havia algo frio num acordo contratual, um com­
promisso obrigatório de ficarmos juntos. Não queríamos
cumprir os “deveres” conjugais por obrigação, por estarmos
ligados externamente. Buscávamos um vínculo mais
profundo que transcendesse até mesmo os vestígios
idealizados da Barreira de Luz. Foi quando a verdadeira
lição da história de Davy e Sheldon se mostrou com clareza:
tornar-se almas gêmeas requer muito mais do que recorrer
ao amor, mais do que um compromisso com a participação
total. Requer recorrermos a Deus.
O impulso ardente e urgente que você e seu parceiro
têm de estar ligados — alma com alma — só poderá ser
satisfeito quando seus espíritos se unirem em um Espírito
maior, o de Jesus Cristo — a verdadeira Barreira de Luz.
Então, lembre-se: o mistério sagrado de tomar-se almas
gêmeas é buscar a mútua comunhão com Deus.

P ara r e fl e x ã o

• Alguns casais confundem ser “exatamente” iguais e


dividir tudo ao “meio” com ser almas gêmeas. Por
que esse pensamento não é exato?
178
• Existe um impulso de suas almas que anseia por
sentido ou conexão maiores na relação com o parceiro
e com Deus. De que modo você vê as pessoas
tentando satisfazer a sede espiritual? Quais os meios
positivos e negativos que usam para alcançar isso?
• De que forma Deus se revelou em seu casamento?
• Orar juntos pode ser difícil para os casais. Às vezes,
um dos parceiros se sente mais à vontade e ansioso
por fazê-lo do que o outro, e esse desequilíbrio pode
fazer com que o outro não queira passar pela
“exposição” da oração. Como você pode fazer para
que essa prática espiritual se torne parte de seu
casamento?
• Como os parceiros podem cuidar da alma do
casamento servindo às pessoas juntos? Você conhece
algum casal que faça isso regularmente? De que
maneira você incorporaria o serviço de auxílio às
pessoas em seu casamento?

179
N o ta s

Considerações preliminares

1. Essas constatações baseiam-se em um estudo feito


nos Estados Unidos com 455 recém-casados e 75 pessoas
com casamentos de longa data que recordam o primeiro
ano de casamento. A pesquisa foi publicada no livro de
Miriam Arond e Samuel L. Pauker The first y e a r o f m arriage
(New York, Warner, 1987).
2. A. C o o k , The $60,000 Wedding, M oney M agazine,
maio, 1990.
3. Esses dados baseiam-se em entrevistas telefônicas com
1037 adultos com idade acima de 17 anos. A pesquisa foi
feita entre 24 de setembro e 9 de outubro de 1988. Os erros
atribuíveis à amostragem e outros efeitos aleatórios podem
variar em 4 pontos percentuais para mais ou para menos.

Primeira Pergunta: Você encarou os mitos do


casamento com honestidade?

1. J. H. L a r so n , The marriage quiz: college students’ beliefs


in selected myths about marriage, Fam ily Relations, 37, n.
1, 1988: 43-51. Um estudo sobre casais casados há um ano
em média mostrou que todos tiveram uma grande decepção
depois de alguns meses de vida conjugal em virtude das
idéias errôneas que nutriam sobre casamento. Esses
resultados refletem as descobertas de W. Lederer e D.
Jackson, demostradas em The m irages o f m arriage (New
York, Norton, 1968).
2. Portland, Multnomah, 1985, p. 31.
3. M. Scott P e c k , The road less traveled: a new psychology
of love, traditional values, and spiritual growth, New York,
Simon e Schuster, 1978, p. 84-5. O dr. Peck também diz:
“De todos os conceitos errados sobre o amor, o mais
vigoroso e incisivo é a crença de que “paixão” é amor [...]
É um grande erro. A paixão está intimamente ligada à
experiência sexual. Apaixonamo-nos somente por quem
estamos atraídos sexualmente, estejamos ou não conscientes
disso”.
4. Todos os amantes brincam de faz-de-conta, tentando
parecer mais saudáveis emocionalmente do que de fato
são. Como disse Harville Hendrix: “Afinal de contas, se
você não demonstra que tem muitas necessidades, seu
parceiro pensará que seu objetivo na vida é cuidar de
alguém e não ser cuidado, e isso o torna muito desejável”.
(■Getting the love y o u want, New York, HarperCollins, 1990,
p. 45).
5. John L e v y & R. M u n r o e , The happy fam ily, New York,
Knopf, 1959-
6. J. F. C r o s b y , Illusion a n d disillusion: the self in love
and marriage, 2. ed., Belmont, Wadsworth, 1976. Tb. O.
K e r n b e r g , Why some people can’t love, Psychology Today

12 (junho, 1978): 50-9-


7. Provérbios 27.17.
8. J. F. Crosby, op. cit.
9. Deuteronômio 24.5.

182
Segunda Pergunta: Você é capaz de reconhecer
o seu tipo de amor?

1. Isso não é um fenômeno novo. Uma pesquisa feita


em 1966 registrou que 76% dos casais entrevistados citaram
o “amor” como a razão mais importante do casamento.
Dez anos mais tarde, em 1976, quando um psicólogo pediu
a 75 mil esposas que avaliassem os motivos que influíram
na decisão de se casarem, elas citaram: “Amor, amor, amor,
sem sombra de dúvida estava em primeiro lugar”. Paul
C h a n c e , The trouble with love, Psychology Today (fevereiro,

1988): 44-47.
2. L. W r ig h tsm a n & K. D e a u x , Social psychology in the
eighties, Monterey, Brooks/Cole, 1981, p. 170. Durante os
34 anos entre 1949 e 1983, apenas 27 artigos sobre o amor
foram publicados em jornais especializados de sociologia e
psicologia, e cada um desses artigos foi um risco para o
autor. Quando o sociólogo Nelson Foote, por exemplo,
publicou um curto documento em 1953 intitulado Amor, foi
ridicularizado e bombardeado com cartas de catedráticos
que o consideravam sentimentalista demais.
Um dos participantes da mesa-redonda na Convention
of the American Psychological Association declarou: “O
cientista, ao tentar interpor o amor em uma situação de
laboratório, está, pela própria natureza da proposta,
desumanizando o estado a que chamamos amor”.
3. Robert S t e r n b e r g , A triangular theory of love,
Psychological Review 93 (1986): 119-35.
4. Cântico dos Cânticos 1.2.
5. Colorado Springs, Focus on the Family, 1992.
6. The m ean in g o f gifts, Atlanta, John Knox Press, 1963.
7. A psicóloga Marcia Lasswell e seus colaboradores
analisaram milhares de respostas a um questionário sobre

183
amor e identificaram as seguintes formas de amor: amor
de melhor amigo, amor do tipo jogo, amor lógico,
romântico, possessivo e generoso. Essas formas, contudo,
não se aplicam ao amor numa parceria como a do
casamento.
8. Esses estágios são tratados mais detalhadamente por
vários autores, como James Othuis, em K eeping ou r troth
(San Francisco, Harper & Row, 1986), Susan Campbell, em
The cou p le’s jou rn ey: intim acy as a p a th to wholeness (San
Luis Obispo, Impact Publishers, 1980) e Liberty Kovacs,
em M arital developm ent (1991)-
9. D. K n o x , Conceptions of love at three developmental
levels, The Fam ily C oordinator 19, n. 2 (1970): 151-7.
10. Para obter mais dicas de como cultivar a paixão
romântica, consulte o livro de Norman Wright, H olding on
to rom an ce (Ventura, Regal Books, 1992).
11. Uma pesquisa apresentada no livro de John Cuber
The significant a m erican s (New York, Appleton/Century,
1966) revelou descobertas semelhantes.
12. Stacey O l ik e r , Best frien d s a n d m arriage, Los Angeles,
University of California Press, 1989-
13. Nick S t i n n e t t , Strengthening Families. Preleção
apresentada no National Symposium on Building Family
Strengths, University of Nebraska, Lincoln, Nebraska.
14. Alfred K i n s e y , Wardell P r o m e r o y & Clyde M a r t i n ,
Sexual behavior in the hu m an male, Philadelphia, W. B.
Sanders, 1948, p. 544.

184
Terceira Pergunta: Você tem o hábito de ser feliz?

1. Mary L a n d is & Judson L a n d is , Building a succesfull


m arriage, Englewood Cliffs, Prentice Hall, 1958.
2. Allen P a r d u c c i , Value judgments: toward a relational
theory of happiness, in J. Richard E is e r , org., Attitudinal
judgm ent, New York, Springer-Verlag, 1984.
3. Para compreender o problema de Maria e José, temos
de conhecer algo sobre os costumes do casamento naquele
tempo. O contrato de casamento foi o precursor do noivado
dos romances modernos. O casal ficava legalmente
comprometido e não poderia ser separado, exceto por
divórcio. Poderia levar anos até se casarem, e mesmo a
cerimônia de casamento levava vários dias ou até uma
semana. Os parentes que viajavam catorze quilômetros no
lombo de um burro queriam algo mais que um pedaço de
bolo antes de retornar para casa! Então, ficavam por perto
para saber das notícias da família, cultivar o relacionamento
uns com os outros e regojizar-se com o noivo e a noiva.
Somente quando os dias de ritual do casamento ter­
minavam, os casais começavam a viver juntos. Maria, um
pouco depois do contrato e antes da cerimônia de
casamento, ficou grávida. Isso exigiu um entendimento
maior tanto de Maria quanto de José.
4. O ressentimento e a culpa às vezes combinam com
os sabotadores da felicidade do casamento. Por exemplo,
quando você evoca a culpa por acontecimentos passados,
está ativando uma dinâmica que o psiquiatra Ivan
Boszormenyi-Nagy classifica como “o livro-razão giratório”.
Em certas épocas da vida, alguém ou alguma coisa o magoa,
provocando uma série de dívidas emocionais. O tempo
passa, você atravessa a porta giratória e, agora, apresenta
a conta ao cônjuge. E mantém duas expectativas escondidas.

185
A primeira: “Prove que você não é a pessoa que me
magoou”. Em outras palavras, “Arrume meu passado. Pague
a dívida”. E a segunda: “Se você fizer algo que me lembre
essa mágoa do passado, será punido”. A transferência
emocional está completa.
É extrem am ente im portante entender que essa
transferência emocional geralmente não acontece no início
do relacionamento. Ela só aparece depois que o casal já se
conhece um pouco — quando você fica magoado e
descobre que o que esperava e desejava não está
acontecendo.
5. David M y e r s , The pursuit o f happiness: who is happy
and why, New York, Morrow, 1992. George G a l l u p Jr. & F.
N e w p o r t , Americans widely disagree on what constitutes
“rich”, Gallup PollM onthy (Julho 1990): 28-36.

Quarta Pergunta: Você consegue expressar o que está


pensando e compreender o que ouve?

1. H. J. M a r k m a n , Prediction of marital distress: a five-


year follow-up, J o u r n a l o f C on su ltin g a n d C lin ic a l
Psychology 49 (1981): 760-62.
2. Registrado em uma Pesquisa Gallup realizada entre
24 de setembro e 9 de outubro de 1988.
3. New York, William Morrow and Company, 1953, p. 268.
4. The new peoplem akin g, ed. rev., Mountain View,
Science and Behavior Books, 1988.
5. R. M. S a b a t e l l i , R. B u c k & A. D r e y e r , Nonverbal
communication accuracy in married couples: relationship
with marital complaints, Jo u r n a l o f Personality a n d Social
Psychology, 43, no. 5 (1982):1088-97.
6. To u n derstan d each other, Atlanta, John Knox Press,
1967, p. 29.

186
7. Youju st d o n ’t understand, New York, Ballantine, 1990.
8. New York, W. W. Norton and Company, 1992.

Quinta Pergunta; Você venceu a barreira entre os sexos?

1. The secon d state, New York, Summit Books, 1986.


2. Essa distinção simplista resulta na verdade do estudo
de um grande grupo de diferenças biológicas, hormonais,
anatômicas, neurológicas, psicológicas e sociais. Consulte
a obra de Julia Wood, G en dered lives: com m unication,
gender, a n d cu ltu re (Belmont, Wadsworth Publishing
Company, 1994), e de Susan Basow, Gender, stereotypes
a n d roles (3. ed., Pacific Grove, Brooks/Cole Publishing
Company, 1992).
3. Há várias maneiras de dizer essas diferenças básicas.
Walter Wangerin Jr., em As f o r m e a n d my house [Quanto a
m im e a m in ha casa], diz que os homens tendem a ser
“instrumentais”, e as mulheres, “expressivas”. John Gray,
em H om ens são d e Marte, m ulheres são d e Vênus, diz que
os homens “contraem-se”, as mulheres “expandem-se”.
4. H. J. M a r k m a n & S. A. K r a f t , Men and women in
marriage: dealing with gender differences in marital therapy,
The B ehavior Therapist 12 (1989): 51-6.
5. Deborah T a n n e n , You ju st d o n ’t understand: w om en
a n d m en in conversation, New York, Ballantine, 1990.
6. Segundo um estudo com 130 casais de relacio­
namentos saudáveis e felizes, quase todos os maridos
disseram que sua companheira sabia fazê-los sentir-se bem
com eles mesmos. M. L a s sw el l & T. L a s s w e l l , M arriage a n d
the fa m ily (Lexington, Heath, 1982).
7. John G r a y , H om ens são d e Marte, M ulheres são d e
Vênus, São Paulo, Best-seller.

187
Sexta Pergunta: Você sabe “combater
um bom combate”?

1. H . J. M a r k a m a n , Constructive marital conflict is not an


oxymoron, B ehavioral Assessment 13 (1991): 83-96.
2. M . J. M a r k m a n , S . S t a n l e y , F . F l o y d , K. H a h l w e g & S .
B l u m b e r g , Prevention of divorce and marital distress,

Psychotherapy Research (1992).


3. E. B a d e r , D o m arriage p rep aration prog ram s really
help? (tese apresentada no National Council on Family
Relations Annual Conference, Milwaukee, 1981).
4. E. L. B o r o u g h s , Love and money, U. S. News & World
Report (19 de outubro, 1992): 54-60. G. H u d s o n , Money
Fights, Parents (fevereiro de 1992): 75-79-
5. Para obter informações sobre essas maneiras desastrosas
de interação, consulte Why m arriages su cceed o r fa il, de
John Gottman (New York, Simon & Schuster, 1994).
6. F. D. Cox, H u m an intimacy: Marriage, the family,
and its meaning (New York, West, 1990).
7. C. N o ta r iu s & H . M a r k m a n , We can work it out: making
sense of marital conflict (New York, Putmam, 1993).

Sétima Pergunta: Vocês são almas gêmeas?

1. E. F. L a u e r , The holiness of marriage: some new


perspectives from a recent sacramental theology, The
fo u r n a l o f Ongoing Form ation 6 (1985): 215-26.
2. D. R. L e c k e y , The spirituality of m arriage: a
pilgrimage of sorts, The Jo u r n a l o f O ngoing F orm ation
6 (1985): 227-40.
3. D. L. Ff,nf.lt., Characteristics of long-term first marriages,
Jo u r n a l o f M ental Health Counseling 15 (1993): 446-60.
4. Isaias 62.5.

188
5. É com freqüência que Deus é chamado “Deus
ciumento” (Êx 20.5, 34.14; Dt 4.25; 5-9; 6.15). Essa expressão
pode soar estranha aos ouvidos do homem de hoje, mas há
uma bela idéia por trás dela. O retrato é de um Deus
apaixonado por nossa alma. O amor é sempre exclusivo;
ninguém pode estar totalmente apaixonado por duas pessoas
ao mesmo tempo. Dizer que Deus é ciumento é dizer que
ele é o amante dos homens e das mulheres e que seu coração
não aceita rivais, mas que ele deve ter a devoção total de
nosso coração. O relacionamento humano com o divino
não é como o de um rei e seu súdito, nem de um mestre e
seu criado, mas o de amante e amado, um relacionamento
que só pode ser comparado ao relacionamento perfeito do
casamento entre homem e mulher.
6. 2Timóteo 2.13.
7. L. M. F o e r s t e r , S p iritu al p r a c tic e s a n d m a rita l
adjustm ent in lay chu rch m em bers a n d g rad u ate theology
students, Dissertação, Graduate School of Psychology, Fuller
Theological Seminary, Pasadena, California, 1984.
8 . S. T. O r t e g a , Religious homogamy and marital

happiness, Jo u r n a l o f Fam ily Issues 2 (1988): 224-39.


9. D. A . A b b o t t , M . B e r r y & W. H. M e r e d it h , Religious
belief and practice: a potential asset in helping families,
Fam ily Relations (1990): 443-48.

189
O casal Parrott tem uma maneira singular de oferecer novas revelações de
pesquisas e, então, mostrar as implicações práticas a partir de sua experiência
pessoal. Este é um dos poucos livros "obrigatórios” sobre casamento.
D r . D a v id S t o o p
Psicólogo clínico

Passei os últimos vinte anos produzindo material para ajudar casais.


Gostaria que Casamento tivesse sido escrito anos atrás.
Este programa é prático, útil e para todas as épocas.
H . N o rm a n W r ig h t
Pastor e autor

Pouca atenção se dá ao preparo pré-nupcial. Nossa pesquisa na Universidade


de Denver não deixa dúvidas sobre o valor de se intervir na relação do casal
antes que ocorram desgastes. Acredito seriamente na mensagem deste livro.
S c o t t M . S ta n le y
Centro Para Estudos M atriny/niais, Universidade de Denver

O casal Parrott está dando um presente aos casais de todas as idades que
querem ter um bom casamento. Seu livro é profundo, criativo e divertido,
criado com base em teorias comprovadas a partir do seu aconselhamento,
ensino e seminários. H á várias publicações sobre matrimônio, mas este livro se
destaca por oferecer novas revelações sobre nosso próprio casamento.
Jim e S a l l y C o n w a y
Autores e diretores de M id-Life Dimensions

O casal Parrott fala constantemente sobre questões críticas do casamento.


Sua sabedoria e experiência prática sempre trazem esperança aos casais.
Eu os parabenizo e recomendo seu livro.
D r . J o h n C. M a x w e ll
Pastor e Fundador do Instituto de Liderança IN JO Y

Durante quatorze anos, minha esposa e eu demos nossa contribuição com aulas
de preparação pré-nupcial em nossa igreja. Q ual o nosso manual de
instruções? No próximo semestre, será o livro que você está segurando em
suas mãos. É leitura obrigatória aos casais que pretendem fazer de seu
casamento um compromisso para toda a vida.
J ohn T r e n t , P h .D .
Autor e presidente da Encouraging Words

ISBN 85-7367-507-1

9 788573 675078
Categoria: Casamento/Família

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