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Casamento - Les Parrott e Leslie Parrott
Casamento - Les Parrott e Leslie Parrott
Leslie Parioff
Digitalizado por:
T ra d u ç ã o
D e n i s e A v a lo n e
°2000, de Les e Leslie Parrott
Título do original * Savingjour marriage before it starts,
edição publicada pela
ZONDERVAN PUBLISHING HOUSE,
(Grand Rapids, Michigan, eua ).
A primeira edição em português foi
publicada em 1998 com o título
Como salvar seu casamento
•
P r o ib id a a r e p r o d u ç ã o p o r q u a is q u e r m e i o s ,
Categoria ■ Casamento/Família
Todas as citações bíblicas foram extraídas da
Edição contemporânea de Almeida (eca ), «1990, de Editora Vida,
salvo indicação em contrário.
•
Gerência editorial ■ Reginaldo de Souza
Preparação de texto « Fabiani S. Medeiros
Diagramação ■ Idéia Dois
Capa ■ Douglas Lucas
EDITORA FILIADA A
CBL
Câmara Brasileira do Livro
Jr^ ra os casais Richard— Carol e
Roger—Mary Lou, que mantiveram
o compromisso mútuo
e demonstraram ser modelos
de maturidade no casamento.
S u m á r io
Agradecimentos................................................................. 9
Considerações preliminares............................................. 11
Primeira Pergunta
Você enfrentou os mitos do casamento
com honestidade?.............................................................. 17
Segunda Pergunta
Você é capaz de reconhecer
seu modo de amar?............................................................ 37
Terceira Pergunta
Você tem o hábito de ser feliz?......................................... 63
Quarta Pergunta
Você consegue expressar o que está pensando
e compreender o que ouve?............................................. 85
Quinta Pergunta
Você venceu a barreira entre os sexos?........................... 109
Sexta Pergunta
Você sabe “combater um bom combate”? ...................... 133
Sétima Pergunta
Vocês são almas gêmeas?.................................................. 157
N o ta s ............................................................................................ 181
A g r a d e c im e n t o s
10
C o n s id e r a ç õ e s
PRELIMINARES
Na a le g ria ou n a tris te z a ?
13
tudo fosse dar certo.” Há muito tempo a tendência tem si
do apaixonar-se, casar-se e esperar que tudo dê certo.
Este livro oferece uma abordagem diferente.
C omo p r e v e r u m ca sa m en to f e l iz
15
omos envenenados pelos contos de fadas.
A n a is N in
P r im e ir a P e r g u n t a :
V o c ê e n f r e n t o u os
MITOS DO CASAMENTO COM
HONESTIDADE?
18
O objetivo deste capítulo é desmitificar o casamento.
Por muito tempo, o casamento esteve atrelado a expec
tativas irreais e suposições errôneas. Livres desses mitos,
os casais podem enxergar o verdadeiro universo do
casamento, com todas as suas alegrias e tristezas, amor e
sofrimento.
P r im e ir o m it o : “ N a d a m u d a r á q u a n d o n o s c a sa r m o s”
Regras tácitas
Todo o mundo vive de acordo com um conjunto de
regras raramente declaradas, mas sempre conhecidas. É
desnecessário dizer que as regras veladas revelam a força
que têm quando um dos cônjuges as “quebra”. Isso ficou
bem claro para nós quando visitamos nossas famílias pela
primeira vez depois de casados.
No Natal, tomamos o avião de Los Angeles para Chicago
para passar o feriado com nossos parentes. A primeira
noite foi em minha casa (de Leslie). Como era costume lá
em casa, acordei cedo para aproveitar cada minuto com a
família. Les, por sua vez, continuou dormindo.
Interpretei o que ele fez como uma tentativa de evitar e
rejeitar minha família, sentindo como se não desse valor
ao tempo que passaria com eles.
20
— Eu quase morri de vergonha — disse a Les. — Todo
o mundo está acordado e comendo na cozinha. Você nem
sente vontade de ficar junto com a gente?
Les, contudo, não entendeu minha insistência.
— O que eu fiz de errado? Só estou tentando me
recuperar do fuso horário. Vou descer depois que tomar
um banho.
Como descobri mais tarde, Les esperava ter um ritmo
mais lento e descomprometido durante o feriado, pois era
assim em sua casa.
Nesse incidente, Les havia quebrado uma regra que não
sabia existir, e eu descobri outra que nunca tinha posto
em palavras. Sentimo-nos incompreendidos e frustrados.
Cada um tinha uma idéia sobre o que era aceitável, e nunca
nos ocorreu que nossas expectativas pudessem ser tão
diferentes. Ficamos irritados com as expectativas não
declaradas um do outro e frustrados por não vivermos
segundo as mesmas regras.
Desde aquele primeiro Natal, aprendemos a conversar
sobre nossas expectativas interiores e expor nossas regras
veladas. Também esperamos que os casais a quem aconse
lhamos se tornem mais conscientes de suas regras veladas,
para evitar que coisas pequenas se transformem em grandes
problemas. Veja alguns exemplos de regras que encon
tramos entre outros casais:
21
• Não fique doente.
• Nunca grite.
• Não fale sobre seu corpo.
• Não apareça em casa tarde da noite.
• Deixe a cozinha em ordem antes de ir para a cama.
• Não fale sobre seus sentimentos.
• Não dirija perigosamente.
• Nunca peça sobremesa em um restaurante.
• Não leve tudo a sério.
• Não compre presentes caros.
Papéis inconscientes
A segunda origem de expectativas discordantes envolve
os papéis inconscientes em que você e seu parceiro se
encontram, quase involuntariamente. Assim como o ator
segue um roteiro em uma peça de teatro, os casais também
têm um script para seguir. Mesmo sem perceber, o noivo e
a noiva são levados a desempenhar um papel que resulta
de um misto de temperamento, criação familiar e expec
tativas quanto ao casamento.
Mark e Jenny mergulharam em seus papéis incons
cientes ao retornar da lua-de-mel e começaram a montar
a casa, a mobília, a arrumar os guarda-roupas e a pendurar
os quadros. Antes que percebessem, já estavam brigando.
— Onde você quer pôr esta mesa? — perguntou Mark.
— Não sei; onde você acha que ela deve ficar?
— Apenas me diga onde eu devo pô-la! — ele disse,
impaciente.
E essa cena repetiu-se muitas e muitas vezes: cada um
esperava que o outro tomasse a decisão, mas nenhum se
decidia.
Inconscientemente, Jenny e Mark estavam desempenhando
os papéis que observaram em suas famílias. O pai de Jenny,
22
aquele tipo de pessoa “faça você mesmo”, com bom gosto
para decoração, tinha todas as ferramentas certas e estava
sempre pronto a arrumar as
coisas. A mãe dela simples Muitas pessoas não
mente ajudava-o quando neces ficam nem com a
sário. O pai de Mark, por sua prata porque queriam
vez, era um executivo ocupado encontrar ouro.
que mal sabia trocar uma lâm M a u r ic e S e it t e r
• o planejador
• o navegador
• o comprador
• o guardador de segredos
• o cozinheiro
• o comediante
• o que gosta de dar presentes
• o faxineiro
23
CASAMENTO
S e g u n d o m it o : “ T u d o q u e t e m o s d e b o m e m n o sso
RELACIONAMENTO FICARÁ AINDA MELHOR”
25
o dr. Scott Peck diz que “não importa por quem nos apaixo
nemos, mais cedo ou mais tarde nos desapaixonaremos se
o relacionamento se prolongar o suficiente para isso”. Ele
não está dizendo que deixamos de amar o companheiro.
Mas que aquele amor arrebatador, característico da paixão,
se esgota. “A lua-de-mel sempre termina”, ele continua.
“O colorido do romance fica desbotado.”3
É uma ilusão pensar que o romance do início de um
relacionamento durará para sempre. Pode ser difícil de
aceitar (e foi para nós), mas desmascarar o mito da paixão
eterna é extremamente importante para construir um
casamento feliz.
Eis a conclusão: todos construímos uma imagem idealizada
da pessoa com quem nos casamos. Essa imagem surge a
partir do esforço do parceiro em nos mostrar o melhor de
si,4 mas acaba se
enraizando no rico A desilusão está para a alma
terreno de nossas nobre assim como a água fria
fantasias românticas. está para o metal
Nós querem os ver o incandescente: ela o fortalece,
lado melhor do par solidifica, engrandece, mas
ceiro. Imaginamos, nunca o destrói.
por exemplo, que E l iz a T a b o r
26
romântico se mantém no auge por dois ou três anos
antes de começar a regredir. Seja qual for a teoria correta,
tenha certeza de que o encantamento do romance fatal
mente decrescerá. O fato é que nos casamos com uma
imagem e somente mais tarde conhecemos a verdadeira
pessoa por trás dela.
Um advogado conhecido nosso que lida com vários casos
de divórcio contou-nos que o principal motivo da separação
dos casais é que as pessoas “se recusam a aceitar o fato de
estar casadas com seres h u m a n o f.
Em todo casamento, a esperança mútua dá lugar
também à desilusão mútua quando se percebe que o
parceiro não é a pessoa perfeita com quem se achava ter
casado. E, repito, nunca será. Nenhum ser humano pode
realizar nossos desejos idealizados. A decepção é inevi
tável. Mas há luz por trás das nuvens negras da decepção.
Depois que você perceber que seu casamento não é a
fonte de um romance permanente, saberá apreciar essa
fase romântica e passageira pelo que ela significa: uma
experiência muito especial.
Eis a boa notícia: o desencanto lhe permite buscar maior
intimidade.
T e r c e ir o m it o :
“ T u d o d e r u i m e m n o s s a v id a d e s a p a r e c e r á ”
27
Não importa que o único contato social de Cinderela
tenha sido com os ratos da casa e que ela não tivesse a
menor idéia de como se comportar diante de toda a pompa
e cerimônia da corte. Não importa que o Príncipe Encantado
tenha crescido em um ambiente de todo diferente, em que
adquiriu sua cultura, seus gostos e hábitos. Não importa
que os dois não tenham conhecido absolutamente nada
sobre a postura do outro em relação ao casamento. Tudo
o que tinham em comum era um sapatinho de cristal e um
pezinho que servia nele!
“É claro que o amor não acontece dessa maneira”, você
deve estar pensando. “É apenas uma história de criança.”
É verdade. Mas lá no fundo, esperamos um Príncipe
Encantado ou uma Cinderela que dê sentido às coisas e
faça desaparecer tudo o que for ruim.
Muitas pessoas se casam para evitar coisas desagradáveis
ou mesmo se livrar delas. Porém, não importa quão gloriosa
seja a instituição do casamento, ela não substituirá o árduo
trabalho da cura espiritual. O casamento não elimina o so
frimento interior nem a solidão. Por quê? Porque as pessoas
se casam principalmente para prolongar seu bem-estar e
não para atender às necessidades de seu parceiro. Os maus
sentimentos e características que você detinha antes do
casamento permanecerão com você mesmo depois de sair
da igreja. A certidão de casamento não é um sapatinho
mágico de cristal.
O casamento é, na realidade, apenas um modo de vida.
Antes dele, não esperávamos que a vida fosse um mar de
rosas com eternos dias ensolarados, mas é assim que
achamos que tudo vai ficar depois dele. O psiquiatra John
Levy, que presta aconselhamento a vários casais, escreveu
que “as pessoas que se decepcionam com tudo ficam
surpresas e magoadas quando o casamento não se mostra
28
exceção. A maioria das reclamações sobre [...] matrimônio
surge não porque ele seja pior do que as outras coisas da
vida, mas porque não é incom paravelm ente melhor”. 5
O casamento não curará instantaneamente todas as suas
dores, mas p o d er á tornar-se um poderoso agente cúrativo
com o passar do tempo. Se for paciente, ele o ajudará a
sobrepujar até mesmo as piores aflições.
Quando três psicólogos de Colorado, nos e u a , publi
caram uma pesquisa sobre o casamento no Rocky M ountain
News, ficaram surpresos com “a quantidade de pessoas
que passaram por experiências traumáticas na infância
[como crianças que sofreram maus-tratos e filhos de pais
alcoólatras ou divorciados] e se curaram com bons
casamentos”. Como explicou um dos pesquisadores, “bons
casamentos superam coisas que costumamos considerar
perdas irreparáveis ou tragédias de que não se pode
recuperar”. Em outras palavras, mudou-se substancialmente
o enfoque, partindo-se de uma terapia do casamento para
um casam en to com o terapia.
Todos, pelo menos inconscientemente, casamos com a
esperança de curarmos nossas feridas. Mesmo que não
tenhamos tido nenhuma experiência traumática, ainda assim
carregamos nossas mágoas e necessidades não preenchidas.
Todos nos sentimos inseguros, indignos e insatisfeitos. Por
mais protetores que tenham sido nossos pais, nunca
recebemos amor e atenção suficientes. Por isso, no casa
mento, esperamos que o cônjuge nos convença de que
temos valor e cure nossas enfermidades.6
No livro Getting the lov ey ou w ant [A lcan çan d o o a m o r
d eseja d o ], o psicoterapeuta pastoral Harville Hendrix
explica que um casamento saudável torna-se o palco para
que se desenrole o último ato de assuntos inacabados da
infância. O processo de cura começa, gradualmente, ao
29
descobrir e reconhecer as questões mal resolvidas de nossa
infância. A cura prossegue com os anos, à medida que
perm itim os que o cônjuge nos ame e conform e
aprendemos a amá-lo.
Certamente, o príncipe Charles e lady Diana tinham
esperanças divergentes em seu “livro de contos” do
casamento. Poucos poderiam imaginar o triste desfecho anos
mais tarde. Mas Robert Runcie, Arcebispo da Cantuária,
provavelmente pudesse. Ele pregou um inspirado sermão
no casamento deles. Ele disse: “Eis a matéria-prima para
construir um conto de fadas, o príncipe e a princesa em sua
cerimônia de casamento. Mas os contos de fadas geralmente
terminam no momento da simples expressão ‘E viveram
felizes para sempre’. Talvez isso se deva ao fato de os contos
considerarem o casamento um anticlímax em relação ao
romance do namo
ro. Essa não é a O sucesso de um casamento não
visão cristã. Nossa depende de encontrarmos a
fé enxerga o dia do pessoa “certa”, mas da
casam ento não habilidade de cada um dos
como o ponto de parceiros de se adaptar à
chegada, mas co verdadeira pessoa
mo o momento em com a qual se casou.
que a aventura co J o h n F is h e r
meça”.
É uma pena que o casal real não tenha agido de acordo
com a mensagem do arcebispo. É uma pena, também, que
nos apeguemos a mitos e contos de fadas em vez de vivermos
a verdadeira aventura da vida real.
Q u a r t o m i t o : “ M e u c ô n ju g e m e c o m p l e t a r á ”
31
mento de inferioridade que pode ser facilmente controlado
pelo parceiro.
O parceiro dependente busca a felicidade, não o
crescimento pessoal. Não está interessado em sustentar o
relacionamento, mas em ser sustentado pelo outro parceiro.
Acredita na mentira segundo a qual se completará auto
maticamente pelo simples fato de estar casado.
O oposto de um casamento intrincado é aquele que se
caracteriza por uma forte autoconfiança, freqüentemente
chamado de relacionamento desim pedido. O termo reflete
o isolamento e a independência dos consortes que pro
curam algo que os complete sem depender de ninguém,
nem de seu parceiro. Essas pessoas também tentam em
vão compensar seu sentimento de inferioridade.
O sentimento de plenitu de nunca poderá ser conquistado
no relacionamento do tipo intrincado, nem no do tipo
desimpedido. Ambos apresentam graves defeitos e são arris
cados. Mas está presente no relacionamento in terd e
pen d en te, em que duas pessoas, com amor próprio e
dignidade, se comprometem a cuidar de seu próprio cres
cimento espiritual e do crescimento de seu parceiro.
Esses tipos de relacionamento também são conhecidos
como modelo-A (dependente), modelo-H (independente)
e modelo-M (interdependente).8
A H M
Os relacionamentos do modelo-A são simbolizados pelo
A maiúsculo. Os parceiros sentem uma forte identidade
um pelo outro, mas muito pouca auto-estima. Pensam em
si mesmos como uma unidade e não como indivíduos
independentes. Exatamente como as longas linhas da letra
32
A, apóiam-se um no outro. O relacionamento está estru
turado de tal forma que, se um for embora, o outro cairá.
E é exatamente isso que acontece quando um dos parceiros
supera o seu sentimento de dependência.
Os relacionamentos do m odelo-H estão estruturados como
a letra H. Os parceiros permanecem praticamente sozinhos,
são auto-suficientes e pouco influenciados um pelo outro.
Há pouca ou quase
nenhuma identidade Os laços do matrimônio são
como casal e uma fra como qualquer outro vínculo':
ca ligação emocio desenvolvem-se lentamente.
nal. Se um deixar o P e t e r D e V r ie s
relacionam ento, o
outro dificilmente sentirá falta.
Os relacionamentos do modelo-M fundamentam-se na
interdependência. Cada um dos parceiros tem uma forte
auto-estima e sente-se comprometido a participar do
crescimento do outro. Eles podem manter-se sozinhos, mas
optaram por ficar juntos. O relacionamento baseia-se em
uma influência mútua e no apoio emocional. As relações
do modelo-M ressaltam a importância da identidade como
casal. Se um for embora, o outro sentirá a perda, mas
conseguirá recuperar o equilíbrio.
Como cordas separadas de um alaúde, mas que tocam
a mesma música, há beleza em um casamento que respeita
a individualidade dos parceiros. Na relação interde
pendente, a alegria é dobrada e a tristeza, dividida ao meio.
M a is u m a p a l a v r in h a s o b r e o s m it o s d o m a t r im ô n io
P ara r e f l e x ã o
35
amor é um aprendizado
constante e sem fim.
K a t h e r in e A nne P orter
S eg u n d a P er g u n t a :
V o c ê é ca pa z d e r e c o n h e c e r
SEU MODO DE AMAR?
A ANATOMIA DO AMOR
“O que é o amor?”, pergunta Shakespeare em Noite d e
reis. Essa pergunta ecoa há muitos séculos, e ainda não se
encontrou uma resposta definitiva. Seria o amor um desejo
egoísta? William Blake o define assim em um poema: “O
amor é uma busca pela satisfação do ego”. Ou seria a
a b n eg a ç ã o descrita pelo apóstolo Paulo: “O amor suporta
tudo, acredita em todas as coisas, é cheio de esperanças e
a tudo resiste”?
Seja o que for, não é fácil defini-lo claramente, pois é
uma estranha mistura de opostos. Inclui afeto e raiva,
entusiasmo e aborrecimento, estabilidade e mudança,
restrição e liberdade. O maior paradoxo do amor é dois
seres se fundirem em um, mas permanecerem dois.
Descobrimos que essa qualidade paradoxal do amor
faz com que alguns casais questionem o amor que sentem.
Todos os anos, conhecemos dezenas de casais de noivos
ou cônjuges nessa condição. Scott e Courtney são um
exemplo. Três meses antes do casamento, Scott rompeu o
noivado porque não tinha certeza se realmente amava
Courtney. Parecia que a flecha do Cupido havia errado o
seu alvo e ele estava-se dando por vencido.
“Sinto uma profunda afeição por Courtney”, confessou
Scott, “mas não sei se algum dia fui realmente apaixonado
por ela. Nem sei o que é o amor”.
38
Scott, como muitos outros no precipício do amor eterno,
estava confuso e incerto.
— Como vou saber se esse é o verdadeiro amor ou
apenas um sentimento passageiro?
Jennifer, outro exemplo, questionava seu amor por M}chael.
Estavam casados havia quase uma década, e a empolgação
do amor já se havia esvaído, ou assim parecia. Depois de se
formarem na faculdade, casaram e começaram carreiras
profissionais isoladas — ela era chefe contábil, e ele, assistente
social. Jennifer e Michael adiaram a decisão de ter filhos até
conquistarem uma situação melhor e, agora que estavam
bem, Jennifer achava que seu amor é que não estava.
“Como podemos ter um filho se não sei nem se ainda
amo Michael?”, ela pensou por um momento, e depois
acrescentou: “Nunca estive tão próxima de Michael como
agora, mas parece que somos mais bons amigos do que
bons amantes. Será que ainda nos amamos?”.
Scott, enfrentando o casamento, e Jennifer, entrando na
segunda década de casada, achavam que o amor escapara
por entre os dedos ou que, na verdade, nunca nem chegaram
a amar. Lutavam com a mesma pergunta: o que é o amor?
Há alguns anos, era muito mais difícil responder a essa
questão. Em quase toda a história da humanidade, o amor
fora da alçada de poetas, filósofos e sábios. Os cientistas
sociais não se pronunciavam, achando que o amor era
misterioso e intangível demais para o estudo científico.2
Felizmente, o estudo do amor ganhou respeitabilidade
nos últimos anos e deixou de ser tabu. Atualmente, centenas
de estudos e artigos profissionais sobre o amor vêm sendo
publicados a cada ano. E há muito que colher nessa safra
científica.
Robert Sternberg, psicólogo da Universidade Yale, foi
pioneiro em muitas pesquisas. Ele desenvolveu o “mo-
39
delo triangular” do amor, uma das abordagens mais
abrangentes que já se fez até hoje.3 Em seu modelo, o
amor, como o triângulo, tem três lados: p a ix ão , in tim idade
e compromisso.
Paixão
O lado motivador do triângulo é a paixão, sensação de
arrepio na espinha que impulsiona ao romance. É sensual e
sexual, caracterizada por estímulo psicológico e um intenso
desejo físico. O Cântico dos Cânticos, por exemplo, celebra o
amor físico entre homem e mulher em uma poesia cheia de
paixão: “Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor
é o teu amor do que o vinho”.4
Mas a paixão também pode ser possessiva, alimentando
um fascínio que beira a obsessão. Ela leva os casais a um
nível extremo de preocupação um com o outro, a ponto
de ambos não suportarem ficar separados. Nesse estágio,
outro relacionamento nem é cogitado.
Sternberg explica que, no princípio, os casais experi
mentam uma atração física crescente, mas depois de algum
tempo incorporam o êxtase da paixão no plano mais
profundo do amor. A paixão pura permanecerá egoísta até
alcançar a intimidade.
Intimidade
O lado em ocio n a l do triângulo do amor é a intimidade.
Amor sem intimidade é apenas uma ilusão hormonal. Não
se pode desejar uma pessoa durante um longo período
sem realmente conhecê-la.
A intimidade, nesse particular, tem a qualidade de “me
lhor amiga” ou “alma gêmea”. Todos queremos alguém
que nos conheça melhor do que ninguém e que, ainda
40
assim, nos aceite. E queremos alguém que não esconda
nada de nós, alguém que nos confie seus segredos mais
íntimos. A intimidade preenche o desejo em nossos corações
de proximidade e aceitação.
As pessoas que obtiveram sucesso ao construir um
relacionamento íntimo conhecem seu poder e bem-estar, mas
também sabem que não é fácil aceitar os riscos emocionais
pelos quais temos de passar para chegar à intimidade. Sem
um cuidadoso acompanhamento, a intimidade se esvai. Em
Finding the love ofyourlife[Encontrando o a m or d a sua vida],
Neil Clark Warren identifica a falta de intimidade como o
inimigo número 1 do casamento. E chega a dizer que, se
duas pessoas não se conhecem profundamente, nunca
poderão se fundir ou unir, tornando-se o que a Bíblia chama
de “uma só carne”. Sem intimidade, ele diz, “elas estarão
isoladas e sozinhas, ainda que vivam sob o mesmo teto”.5
O amor completo depende de proximidade, participação,
comunicação, sinceridade e apoio. Nessa troca de corações,
o casamento é a expressão mais profunda e radical da inti
midade.
Compromisso
O lado cognitivo e voluntário do triângulo do amor é o
compromisso. Ele olha em direção a um futuro que não
pode ser visto e promete que estará presente... até a morte.
“Se não cumprirmos nossas promessas”, escreve a filósofa
Hannah Arendt, “estaremos condenados a vagar desam
parados na escuridão de nossos corações solitários”.
O compromisso cria uma pequena ilha de segurança nas
águas revoltas da incerteza. Como os laços do casamento, o
compromisso protege o amor por nosso parceiro quando a
chama da paixão se enfraquece e somos surpreendidos por
momentos turbulentos e impulsos ameaçadores.
41
O lema do compromisso é: “Eu o amo pelo que você é
e não por causa do que você faz ou sente”. O conselheiro
suíço Paul Tournier classifica o voto do casamento como
uma dádiva: “total, definida, sem reservas... um compro
misso pessoal e inalterável”.6 A longevidade do amor e a
saúde de um casamento dependem em grande parte da
força do compromisso.
GXÇfc/t»
A paixão, a intimidade e o compromisso são os ingre
dientes quente, morno e frio da receita do amor. E esses
ingredientes variam porque os níveis de intimidade, paixão
e compromisso mudam de tempos em tempos e de pessoa
para pessoa. É possível visualizar a fluidez do amor
pensando em como o triângulo do amor muda de tamanho
e forma conforme o grau de cada um dos três compo
nentes. A área do triângulo representa a intensidade do
amor. Uma grande porção de intimidade, paixão e com
promisso resulta em um triângulo maior. Quanto maior o
triângulo, maior o amor.
42
AS FORMAS DE AMAR
44
novo e desequilibrado de amor, que pode ser: rom ântico,
infantil ou com panheiro.
O a m o r rom â n tico , que se baseia na união com
intimidade e paixão, combina a atração física com um
profundo desvelo. O compromisso, porém, fica em segundo
plano nesse tipo de amor.
45
de amar — romântica, infantil 011 companheira — torna-se
predominante nesse ou naquele momento.
Compromisso
Os parceiros do casamento não congelam para sempre o
amor consumado, pois as formas de amar mudam.' Há oca
siões em que alguns ingredientes se tornam mais fortes que
outros para um dos cônjuges e surge uma forma de amar
que não combina com a do parceiro. No caso de John e
Monica, ele valorizava o amor companheiro naquele momen
to de seu relacionamento, ao passo que ela queria o amor
46
romântico. Ele precisava de um sentimento de vínculo e
segurança mais profundo, mas a esposa desejava mais
sensualidade. Estavam atendendo às necessidades de intimi
dade um do outro, mas faltava paixão e compromisso. Por
enquanto, estavam fora de compasso.
Voltando aos nos
sos exemplos do início
do capítulo, podemos
enjender o problema
de Scott e Courtney.
Ele rompeu o noivado
porque foi pego pelo
amor romântico e se
sentiu inseguro para assumir um compromisso por toda a
vida. Embora tudo estivesse bem no plano da intimidade e
da paixão, Scott temia que a forte atração que sentia pudesse
ser apenas uma fase. Em uma desgastante sessão de acon
selhamento, o casal decidiu não romper, mas manter o
noivado e adiar o casamento. Quatro meses mais tarde,
depois que Scott teve tempo para cultivar o compromisso
em sua forma de amar, eles marcaram uma nova data e
casaram-se no final daquele ano.
Jennifer e Michael, que estavam casados havia dez
anos, também sofreram com a falta de sincronia em suas
formas de amar. O amor de Michael era forte, sustentado
por paixão, intimidade e compromisso. Mas Jennifer
havia perdido a paixão. Seu amor apenas companheiro
fez com que duvidasse do verdadeiro amor por Michael
e questionasse se seria sensato ter um bebê. Contudo,
depois de uma longa e esperada viagem romântica Com
Michael e atitudes deliberadas para cultivar a paixão, o
amor de Jennifer novamente entrou em sincronia com o
do marido.
47
Essa é a dança do amor. Dia após dia, desajeitadamente,
arrastamos os pés, tropeçamos e até pisamos nos pés um
do outro em nossos relacionamentos. Mas isso não diminui
o doce momento em que um casal finalmente experimenta
o mesmo ritmo de paixão, intimidade e compromisso.
Anne Morrow Lindbergh escreveu sobre a dança do amor
em seu pequeno e maravilhoso livro Gift frorn the sea [O
p resen te do mat\\
O S ESTÁGIOS DO AMOR
49
base na etapa anterior, finalmente levando a vida amorosa
ao potencial máximo.8
51
juntos, no entanto, desenvolvem uma força maior de
criatividade em parceria. O ritmo da intimidade floresce
novamente e pela última vez. O amor transborda. Seguros
de si e de seu amor, eles tem um forte fluxo de energia
para agirem no mundo. Esse período de amor, intenso e
calmo, transcende todos os estágios anteriores e culmina
em um sentimento mais forte e profundo do que qualquer
outro. Nesse momento, os cônjuges percebem que não
foram feitos somente um para o outro, mas também para
compartilhar o amor com todos. Assim, os parceiros na
criatividade desenvolvem uma rede de importantes
interrelacionamentos que sustentam o casamento e o
tornam ainda mais gratificante. Nesse estágio final, os
casais também podem dizer: “Já percorremos um longo
caminho juntos. Passamos por raiva, exaltação, momentos
terríveis e maravilhosos, retraimento e liberdade. Nosso
casamento tem sido nossa única e maior fonte de conflito
e conten-tamento. E ainda tem muito a nos oferecer”.
GXSte/ê)
O amor passa por mudanças no decurso de uma vida.
Mas não perde sua intimidade, sua importância, seu valor.
Pois, conforme a paixão imatura cede terreno, o espaço é
preenchido por um sentimento mais profundo e estável
de intimidade, desvelo e criatividade em parceria. À medida
que a chama da paixão diminui, aumenta a incandescência
do amor.
/
F a z e r co m q u e o a m o r d u r e pa ra s e m p r e
Cultivar a paixão
“O que aconteceu com o romance e com a paixão? —
gritou Kelli para seu Don Juan, que, de repente, havia-se
transformado num bicho-preguiça. Antes de se casarem,
Kelli e Mike faziam românticos piqueniques e trocavam
beijos apaixonados; às vezes, até se beijavam com o carro
parado no trânsito. De vez em quando, Mike surpreendia
Kelli trazendo um buquê de flores. E Kelli agradava-o com
seu sorvete favorito de chocolate com pasta de amendoim.
“Ele era o romântico em pessoa. Agora, tudo o que faz
é vir para casa, pegar o controle remoto e passear pelos
canais de t v . À s vezes, penso que a t v é mais interessante
que eu — lamentou Kelli.
A perda do romance apaixonado é uma reclamação
comum em casamentos de um ou de 25 anos. Parece que,
no momento posterior ao confete e ao arroz, quando se
guarda o resto do bolo na geladeira, o mesmo se faz com
a paixão.
53
É inútil confiar
Quando duas pessoas se acham que o auge da pai
sob o poder da mais violenta, xão se perpetuará.
insana, mágica e transitória
Mas o casamento
paixão, precisam jurar que
não exige que ela
permanecerão nesse estado
seja congelada no
anormal e exaustivo de
tempo. O amor per
entusiasmo contínuo até que a
de um pouco da
morte as separe.
G e o r g e B ern a rd S haw
empolgação, como
acontece na segun
da vez em que se
desce uma montanha-russa. Todo casal com uma união feliz
e duradoura dirá que essa erupção de emoções talvez diminua,
mas o verdadeiro prazer poderá até aumentar.
A ciência concorda. Um estudo feito com um grupo de
alunos que estavam concluindo o ensino médio e outro de
casais com mais de vinte anos de casamento descobriu
que os dois grupos tinham uma visão mais romântica e
apaixonada do amor do que casais com menos de cinco
anos de casamento.9 Os pesquisadores concluíram que os
alunos não nutriam uma visão romântica do amor, ao passo
que os casais mais experientes estavam vivendo uma “pai
xão bumerangue”, resultado do investimento a longo prazo
no cultivo de seu relacionamento.
Qual o segredo desses felizes casais mais velhos? Como
despertaram a chama por vezes adormecida da paixão?
Aqui estão três estratégias de casais felizes no casamento.
Pratique o afeto. Os terapeutas sexuais há muito já sabem
o que os casais felizes logo aprendem. O afeto, demonstrado
pelo toque, não é apenas uma preliminar do ato amoroso;
é uma linguagem mais eloqüente do que o discurso.
Sheldon van Auken, ao escrever sobre seu casamento com
Davy no livro A severe m ercy [Uma m isericórdia rígida],
54
ilustra o poder do toque: “Davy veio engatinhando para
perto de mim e se aninhou em meus braços. Sussurramos
algo e permanecemos em silêncio. Eâtávamos juntos,
unidos, tomados por um sentimento de grande beleza.
Tenho certeza de que nós dois nos sentíamos como uma
única pessoa: não era preciso dizer mais nada”. O toque é
a linguagem da paixão.
P lan eje eventos agradáveis p a r a ambos. Estar casado não
significa que a diversão deva acabar. As pessoas com uniões
bem-sucedidas trabalham diligentemente para proporcionar
experiências positivas ao parceiro. Jantares românticos, pas
seios ao teatro e férias são acontecimentos sempre impor
tantes para eles. A paixão morre quando um dos consortes
começa a associar o parceiro a roupas sujas jogadas pelo
chão, ordens, gritos e reclamações. Sobrevive e cresce
somente se o casal continua a “namorar” mesmo após o
casamento.
E logie seu p a r c e ir o d ia riam en te. O elemento mais
importante da paixão, tanto para os maridos quanto para as
esposas, é sentir-se especial. Não querem apenas sentir-se
sexualmente atraentes, mas também apreciados. Os elogios
fazem bem, tanto para quem os faz quanto para quem os
recebe. E assim, parafraseando a canção de James Taylor:
“Dê um banho de elogios em quem você ama”.
Quando se resgata a paixão no casamento, o fundamental
é que a intensidade do início da paixão seja apenas o começo
de tudo. Sempre ilustramos essa idéia dizendo o seguinte:
um avião a jato que sai de Seattle para Nova York usa 80%
do combustível na decolagem. É preciso grande quantidade
de energia para que o avião levante vôo e atinja uma altitude
segura. A partida, contudo, é apenas o começo. A jornada é
a parte mais importante da viagem e requer um tipo de
55
energia diferente, uma energia que seja mais durável e até
mais forte. Se você cultivar uma paixão de raízes profundas,
poderá evitar anos de turbulência conjugal e saborear o vôo
a altitudes inimagináveis.
Cultivar a intimidade
Teoricamente, marido Se você quer ser amado,
e mulher são os melhores seja amável.
amigos e amantes, parti O v íd io
lhando sonhos, interes
ses, temores e esperanças. Mas, de acordo com Stacey Oliker,
socióloga e especialista matrimonial, a distância que separa
a intimidade da vida real ainda é grande. Somente um seleto
grupo de pessoas experimenta uma intimidade sincera.11
Por que isso acontece? Para Stacey, cada cônjuge procura
preencher esse vácuo tornando-se mais íntimo dos melhores
amigos do que do outro cônjuge. No livro B estfrien ds a n d
m arriage [Melhores am igos e casam en to, a socióloga afirma,
por exemplo, que muitas mulheres procuram primeiro
amigos e parentes para se confessar em vez do marido.
Do mesmo modo, a maioria dos homens entrevistados citou
os amigos como as pessoas com quem provavelmente
conversariam sobre planos e ambições.
Mas isso significa que não se deve ter um amigo íntimo?
De maneira alguma. Isso quer dizer que precisamos dedicar-
nos mais ao cultivo da intimidade no casamento. Eis algu
mas coisas que se devem levar em conta:
Passem m ais tempo juntos. Uma das grandes ilusões da
nossa era é pensar que o amor é auto-suficiente. Não é.
Segundo o especialista matrimonial David Mace, “o amor
precisa ser alimentado e cultivado [...] antes de mais nada,
ele precisa de tempo”. Estudos indicam que a felicidade
56
conjugal está intimamente
O amor é como uma
ligada ao tempo em que
partida de tênis: você
nunca terá uma vitória o casal passa junto. Em
consistente se não geral incentivamos os
aprender a dar um bom muito ocupados a marcar
saque. almoços juntos ou a expe
rimentar algumas “noites
D a n P. H e r o d
sem televisão”. As con
versas francas não acontecem em meio à roda-viva.
D ê toda a atenção. Estudos sobre a intimidade dos casais
apontam que a “falta de atenção” ao outro é o principal erro
no relacionamento. Temos certa tendência a interromper o
parceiro ou a nos mostrar impacientes quando ele está
contando uma história. Entretanto, a intimidade é cultivada
quando não apenas ouvimos a história, pacientemente, mas
também percebemos os sentimentos que ele está tentando
nos passar. Se você souber fazer isso, a intimidade fluirá em
seu casamento. (Apresentaremos esse assunto mais deta
lhadamente no capítulo 6.)
P ratique a a ceita çã o total. A experiência mais íntima
somente é alcançada quando não existe medo de rejeição.
Algumas pessoas pisam em ovos ao lidar com o parceiro,
temendo dizer ou fazer algo que o desagrade. Uma recém-
casada contou-nos que tinha medo de cozinhar quando o
marido estava em casa porque, não importava o que estivesse
cozinhando, ele sempre achava algo para criticar. Não há
nada que desgaste mais rapidamente a intimidade em um
relacionamento do que a ansiedade. E não há nada melhor
do que saber que somos completamente aceitos mesmo
com nossas imperfeições.
C on centre-se n a s sem elhan ças. A intimidade cresce
quando é alimentada por emoções, experiências e opiniões
57
em comum. Converse com qualquer casal que tenha mais
de cinqüenta anos de casamento feliz e ambos citarão suas
diferenças: “Ele nunca pára, e eu adoro relaxar”; “Ele adora
doces, e eu, salgados”; “Ele é democrata, e eu, republicana”.
Mas revelarão também suas semelhanças. Geralmente come
çam dizendo: “Rimos das mesmas coisas”; “Adoramos viajar
para tal lugar’; “Seguramos qualquer barra juntos”. Quanto
mais os casais se concentram no que têm em comum, mais
forte se torna a intimidade.
Explorem o p la n o espiritual juntos. A falta de intimidade
quase sempre remonta à falta de vitalidade espiritual. Um
estudo demonstrou que a espiritualidade está entre as
seis características mais comuns dos relacionamentos
sólidos.13 Quando duas pessoas têm sede de conhecimento
ou já têm uma consciência espiritual, tornam-se almas
gêmeas. Em outras palavras, a espiritualidade é a alma
do casamento; sem base espiritual, os casais encontram
vazio e superficialidade, o que poderá afastá-los da
verdadeira intimidade. (Isso será exposto com mais
detalhes no capítulo 7.)
Aqueles que não cultivarem a intimidade terão, na
melhor das hipóteses, um casamento “vazio”. Organizarão
os detalhes práticos da vida, como decidir quem fará as
compras ou que carro comprarão, mas viverão em um
vácuo emocional e espiritual, sem nunca experimentar a
verdadeira beleza do amor.
Cultivar o compromisso
Quando Tevye, de Fiddler on the r o o f [O violino no
telhado], de repente quer saber se, após 25 anos de casamento,
a esposa ainda o ama, faz uma pergunta direta: “Você me
ama?”. Seu casamento era arranjado e, quando Tevye explicou
58
a sua esposa — “Meus pais disseram que aprenderíamos a
nos amar. E agora pergunto: GoIde, você me ama?”. “Acho
que sim” — ela finalmente responde. — Ele, então, diz —
“Depois de 25 anos, como é bom ouvir isso”.
E é mesmo. Quando as fortes emoções começam a desa
parecer, toma lugar outro tipo de amor, fundamentado no
compromisso, trazendo paz e estabilidade ao relacio
namento.
Para cultivar esse importante elemento que é o
com prom isso no início do casamento, examine os seguintes
pontos:
Valorize o compromisso. É difícil dar a ênfase necessária
à importância do compromisso em uma relação duradoura.
Três especialistas que estudaram 6 mil casamentos e 3 mil
divórcios concluíram que “não há nada mais importante
em um casamento do que a resolução de que ele deve
continuar. Com isso em mente, as pessoas se forçam a
ajustar-se e a aceitar situações que, de outro modo, seriam
motivos de separação”.14 O compromisso é a base de sus
tentação do casamento.
A tenda às necessidades d e seu parceiro. Quem já estudou
Abraham Maslow numa aula de psicologia geral é capaz
de dizer que o ser humano tem uma necessidade básica
de segurança. Uma boa maneira de dar segurança a alguém
é atender a suas necessidades corriqueiras tanto quanto
possível. Se, por exemplo, você atender à necessidade do
outro de relaxar após o trabalho ou de sair à noite uma
vez por semana, o nível de segurança na relação aumentará.
Atender até mesmo aos pequenos desejos pode ajudar a
cultivar a segurança do compromisso.
Respeite a s prom essas m atrim oniais do outro. As pessoas
ficam tão concentradas em seu compromisso e nos sacri-
59
fícios que fazem em benefício do casamento que se
esquecem de apreciar a beleza da promessa daquele a
quem desposaram. Aconselhamos um rapaz que no primei
ro ano de casamento achava que a instituição matrimonial
era algo para otários, uma farsa moral que o faria perder a
última chance de ser feliz. Como seu casamento não era
tão satisfatório quanto esperava, estava disposto a acabar
com a farsa e seguir em frente, embora a esposa fosse
extremamente dedicada a ele. Ele só percebeu essa devoção
ao compromisso com ele quando levantamos o assunto.
Mas, ao reconhecer a fidelidade da esposa em honrar o
voto de amor, esse jovem marido decidiu que também
poderia tentar praticar a arte de cumprir promessas.
Respeitar a promessa do companheiro é uma boa maneira
de cultivar o compromisso.
F a ç a d o seu com prom isso su a m a n eira d e ser. Em uma
cena da peça de Thomas Bolt A m a n fo r a li seasons[U m
h om em p a r a tod as a s estações], Thomas More explica à
filha Margaret por que ele não pode quebrar uma
promessa que fez: “Quando um homem faz uma pro
messa, Meg, ele se vê nas próprias mãos, como à água.
E, se abrir os dedos deixando-se escorrer, estará perdido
para sempre”. Como seres humanos, criamos e definimos
a nós mesmos por meio de nossos compromissos, e eles
se tornam parte indispensável de nossa identidade. Ao ir
contra nossos compromissos, podemos nos perder e ter
uma crise de identidade. Se você quer fortalecer o
compromisso com seu parceiro, faça desse compromisso
parte vital de seu modo de ser e dê-lhe prioridade má
xima, de tal modo que, ao violá-lo, você estará violando a
si mesmo.
60
Todo casamento próspero está enraizado na paixão, na
intimidade e no compromisso. Se você cultivar esses
elementos, obterá êxito na jornada do amor e fará com
que ele dure para sempre.
P ara r e f l e x ã o
• Qual foi a primeira vez que você disse “Eu amo você”
a seu parceiro? Relate a experiência. O que você estava
pensando e sentindo?
• Na sua vida amorosa atual, que componente do amor
parece mais forte: paixão, intimidade ou com
promisso? Por quê?
• Por que é importante saber que o amor se apresenta
de diferentes formas durante a vida?
• A paixão geralmente é o primeiro componente do
amor a enfraquecer-se no casamento. O que você
pode fazer em preparo para esse inevitável enfra
quecimento da paixão e para não deixar que ela
desapareça completamente?
• O que você faz para cultivar a intimidade no relacio
namento? O que mais pode ser feito a esse favor,
especialmente quando se leva uma vida muito ocupada?
• O compromisso é a base do amor duradouro; oferece
segurança e permite que relaxemos. Você acha que
há momentos no casamento em que o compromisso
pode estar em perigo? Em caso afirmativo, quando
ocorre e o que pode ser feito para evitar que isso
aconteça?
• De que maneira seu conceito sobre o amor mudou
depois de ler este capítulo?
• Após ler este capítulo, faça uma lista de coisas específicas
que pode fazer para fortalecer seu amor.
61
A felicidade é um hábito. Cultive-a.
E lbert H ubbard
T e r c e ir a P e r g u n t a :
V o c ê t e m o h á b it o
DE SER FELIZ?
64
Já casados, Leslie e eu ministramos cursos e seminários
sobre casamento durante vários anos e temos, pelo menos,
duas dezenas dos compêndios mais recentes sobre o
assunto em nossa biblioteca pessoal. Um de nossos
favoritos, considerado um clás
sico para muitos, diz repeti A felicidade é para
damente: A característica m ais ser compartilhada.
im portante d e quem vai casar- C o r n e il l e
se é o h ábito d a fe lic id a d e }
Este capítulo concentra-se mais na pessoa do que no
casamento, pois é seu comportamento que determinará se
você e seu parceiro “viverão felizes para sempre”. Come
çaremos analisando como você pode, literalmente, pro
gramar sua mente para alcançar a felicidade conjugal.
Depois, apontaremos os principais comportamentos que
podem construir ou destruir um casamento. Em seguida,
revelaremos alguns dos sabotadores mais comuns de
casamentos felizes e o segredo dos casais bem-sucedidos.
Finalmente, estudaremos se duas pessoas podem realmente
viver “felizes para sempre”.
C om o p r o g r a m a r sua m e n t e pa ra t e r u m c a s a m e n t o f e l i z
65
tínhamos móveis de segunda mão, dentre os quais uma
poltrona amarelo-berrante de braços puídos e um sofá de
veludo canelado, desbotado e cor de ferrugem. Jessica
trabalhava em uma elegante loja de departamentos e recebia
descontos substanciais, o que os mantinha sempre na última
moda. Nós ainda usávamos as mesmas roupas de quando
freqüentávamos a graduação. Enquanto eu ansiava por dar
aulas ou conseguir uma vaga como assistente de pesquisas
na escola, choviam oportunidades como essas para Bob
sem que ele precisasse fazer muito esforço. Além disso
tudo, Bob e Jessica passeavam em um carro esporte, ver
melho, novo, que haviam ganhado de seus abastados pais.
Na garagem do apartamento, ele ficava estacionado ao
lado da nossa velha caminhonete Ford cinza. Como eu
disse, parecia que tudo dava certo para eles.
Ficava chateado sempre que olhava para o carro novo
deles. Lá estava eu, suando em uma velha caminhonete
cinza sem ar condicionado, enquanto eles desfrutavam seu
veículo refrigerado e seus assentos de couro. Aquilo estava
realmente me deprimindo. Lembro de me sentir indignado,
pensando: P or q u e os outros conseguem tudo? P or qu e é tão
fá c il p a r a eles? Para piorar as coisas, fiquei cada vez mais
negativo em relação a Leslie. Pequenas coisas que ela fazia
passaram a me irritar; para ser mais preciso, comecei a deixar
que pequenas coisas me irritassem. Minha autopiedade estava
criando um padrão de comportamento que começou a afetar
até mesmo meu casamento.
Depois de meses de preocupação com nosso mísero
salário e nosso estilo de vida simples, achando que tudo
parecia mais fácil para os outros, a verdade brotou de onde
eu jamais imaginaria: no curso de estatística. Enquanto
tentava aprender algo sobre cibernética e regressões
múltiplas, sentei-me diante de um computador e comecei
66
a inserir dados. Após 45 minutos, finalmente acertei todas
as linhas e colunas. Dei um tapinha no monitor e recostei-
me na cadeira reclinável para observá-lo trabalhar. Mas
nada aconteceu. Houve um silêncio total e absoluto. Quan
do estava pronto para dar um chute na máquina, vi um
painel branco iluminado na parte superior. E lá estavam os
números, em uma resposta clara e precisa ao meu problema
de estatística.
Nem podia acreditar. Achava que a máquina daria voltas
e mais voltas, piscaria com luzes coloridas enquanto
analisasse as variáveis que eu tinha inserido. Mas o com
putador levara apenas sete centésimos de segundo para
me dar o resultado.
Afundei-me na cadeira, sentindo-me impotente, e foi
então que meu professor, dr. Wallis, apareceu.
— Qual é o problema, Les?
Contei a ele quanto tempo havia levado para colocar
meu problema no computador e como ele rapidamente
me havia apresentado uma resposta.
— Como isso pode ser possível? — perguntei.
O dr. Wallis levou minha pergunta a sério, explicando
como um computador pega uma parte ínfima de um dado,
atribui a ela um impulso elétrico positivo ou negativo e a
armazena. A partir daí, ele simplesmente acessa essa infor
mação em sua memória e a combina de diversas formas.
— É assim, basicamente, que o cérebro humano trabalha.
— O que o senhor quer dizer? — perguntei.
— Nossos cérebros são programados de forma seme
lhante à do computador. Antes mesmo de acrescentar
qualquer som, imagem, odor, sabor, textura ou impressão
em nossos computadores mentais, atribuímos valores
“positivos” e “negativos”. Depois, armazenamos a sensação
em nossa mente e ali ela permanece para sempre. É por
67
isso que, embora nem sempre lembremos o nome de uma
pessoa, lembramo-nos do que sentíamos em relação a ela.
Como ele sabia que me interessava mais por psicologia
do que por cibernética, acrescentou:
—
dos computadores, o ho
Se você achar que
mem desenvolve o hábito
é feliz, será feliz.
de programar sua mente
para ser predom inante
M aoam e D e La F a yette
mente negativa ou positiva.
Foi então que tudo ficou
claro: eu estava destruindo a mim mesmo e ao nosso
casamento porque esperava que uma oportunidade batesse
à minha porta, e isso não estava acontecendo. Incons
cientemente, havia desenvolvido o mau hábito de qualificar
minha situação de “negativa”. Em vez de lutar para melhorar
nossa condição, mergulhei na autopiedade e fiz com que
ela piorasse.
Aquela tarde, na sala de computadores, foi decisiva
para mim. A partir daquele momento, resolvi ser feliz de
qualquer forma. Isso não quer dizer que eu seja otimista
com tudo e me sinta no topo do mundo. Mas agora me
recuso a deixar que as circunstâncias afetem meus
sentimentos... e meu casamento. Tudo começou quando
percebi quanto um comportamento negativo pode ser
destrutivo em relação a uma pessoa ou a um
relacionamento.
69
problema para Scott não surgiu das circunstâncias, mas do
modo de interpretá-las — até o acontecimento mais corriqueiro
era, geralmente, visto do pior modo. Por exemplo, enquanto
Ron daria à esposa o benefício da dúvida se ela o
cumprimentasse friamente, Scott já tiraria conclusões negativas:
Ela n ão liga m ais p a r a mim. As realidades de Ron e de Scott
não eram muito diferentes, mas as comovisões eram.
As interpretações negativas certamente desgastam a
felicidade do casamento. Mas como fazer para cultivar
atitudes positivas quando nosso cônjuge faz algo de que
não gostamos? A resposta está em assum irm os nós m esm os
a respon sabilidade p o r nossos sentimentos.
Cheguei em casa um dia toda entusiasmada, ansiosa
para contar a Les as boas notícias. Agora não lembro que
notícias eram essas, mas me lembro de sua reação:
indiferença. Queria dividir minha alegria com ele, mas,
por algum motivo, ele não quis. Mais tarde, disse-lhe que
ele tinha me deixado chateada. Mas isso não é verdade.
Eu é que me chateei. Pode soar estranho, mas é verdade.
Antes de pensar por que Les não compartilhou da minha
alegria, fui logo tirando conclusões negativas: Ele nem liga
se algo bom acon teceu com igo. Ele só p en sa em si mesmo.
Enquanto isso, Les, que estava se sentindo um pouco
desanimado aquele dia por causa de um problema que
tivera no trabalho, estava pensando: Na verdade, ela n ão
liga p a r a mim. Ela só p en s a em si mesma.
A partir de então, nós dois adotamos uma postura do
tipo “ninguém está errado, ninguém tem culpa de nada”.
A idéia é deter nossa visão negativa em relação ao outro e
lembrar que ninguém f a z o outro infeliz. Cada um é
responsável pelas próprias ações.
Victor Frankl exemplificou melhor que ninguém a
capacidade humana de se colocar acima das adversidades
70
e manter uma atitude positiva. Psiquiatra judeu, aos 26
anos vivia em Viena, na Áustria, quando foi preso pela
Gestapo, de Hitler, sendo levado para um campo de
concentração. Mês após mês, trabalhou sob as enormes
chaminés que soltavam fumaça preta de monóxido de
carbono dos incineradores em que seu pai, mãe, irmã e
esposa haviam sido queimados. Todo dia, ansiava por
alguns pedaços de cenoura ou ervilhas em sua tigela diária
de sopa. No inverno, acordava uma hora antes do normal
para enrolar pedaços de pano nas pernas e se proteger do
frio cortante do inverno do leste europeu.
Quando Victor Frankl finalmente foi chamado para
interrogatório, teve de ficar nu, iluminado por uma luz intensa,
diante de vultos com botas lustrosas que iam e vinham nas
sombras da escuridão além da luz. Por horas, eles o inter
rogaram e fizeram acusações, tentando arrasá-lo com as mais
variadas mentiras. Já lhe tinham tomado esposa, família,
trabalho, roupas, aliança de casamento e tudo o que tinha
valor material. Mas, no meio dessa enxurrada de perguntas,
ocorreu-lhe um pensamento: Eles p od em tom ar tudo, m enos
meu p o d er de decidir m inha atitude.
Felizmente, a maior parte das pessoas não teve de
enfrentar circunstâncias tão devastadoras quanto os judeus
na Alemanha nazista. Mas o mesmo princípio que ajudou
Victor Frankl a sobreviver nos campos da morte, escolhendo
a atitude que manifestaria, serve para qualquer situação
difícil que possamos encontrar.
Milhões de casais são infelizes porque um dos cônjuges
desenvolveu um padrão de comportamento negativo e culpa
o parceiro por coisas que fez ou deixou de fazer. Esse é um
dos maiores erros que alguém pode cometer no casamento.
Não raro ouvimos reclamações do tipo: “Ele sempre me
magoa com seus comentários!” ou “Ele me deixa tão brava”.
71
Na verdade, observações e comentários não magoam as
pessoas; são elas próprias que se magoam. Obviamente, é
natural ficar chateado por algo que não nos agrada, mas
essa reação pode servir para iniciar uma resposta mais
positiva e construtiva.
Quando percebemos com quem está o controle —
somos nós quem controlamos os fatos externos e não o
contrário — , conseguimos reinterpretar acontecimentos
desagradáveis e desenvolver um comportamento positivo.
73
Maria estava longe de casa, abatida, cansada, emocio
nalmente esgotada e angustiada. Além disso, devia estar
pensando o que faria se seu trabalho de parto começasse
sem José por perto. Afinal, o bebê já estava para nascer.
Seu nível de ansiedade deve ter aumentado enquanto
esperava, observava e procurava desesperadamente o vulto
familiar de José. A multidão que passava pela estrada nem
prestava atenção nela.
Finalmente, José retornou, seu constante sorriso havia
desaparecido e seus ombros estavam baixos. Ela ouviu sua
história: “Maria, fui ao hotel, mas não havia nenhum quarto
vago. Está lotado por causa de uma convenção. Na verdade,
andei por todo o centro, de hotel em hotel, mas não encontrei
nenhum quarto disponível. Finalmente, consegui persuadir
um senhor idoso a nos emprestar o celeiro em que guarda
os animais. Ele vai cobrar caro, mas me prometeu que tiraria
todo o estrume e cobriria o chão com palha nova. O mais
importante; ele me disse que podemos ficar com o celeiro
todo, só para nós, sem ter de dividir a baia com mais ninguém”.
Com o coração pesado, Maria e José seguiram para o
estábulo, agradecidos por ter encontrado pelo menos um
abrigo contra o vento frio.
Naquela noite, o Filho de Deus nasceu.
Você pode imaginar como a história do Natal seria se
Maria e José não fossem
capazes de se ajustar às A boa notícia é que
situações fora de controle? você pode
Todo casal na terra deve transformar a má
aprender a desenvolver essa notícia em boa... se
capacidade se quiser ter um mudar seu modo
casamento feliz. A vida é de-agir!
cheia de reviravoltas ines R o b e r t H . S ch uller
74
vistos. Talvez você não passe pela mesma experiência de
Maria e José, mas encontrará dificuldades só suas, ímpares
para você. Se não puder dominar as circunstâncias, nunca
conseguirá cultivar a felicidade. Você pode ser mais famoso,
belo, inteligente, saudável e rico do que outras pessoas,
mas, se não souber cultivar o contentamento em cada
situação, certamente será infeliz.
Autopiedade
Muitos casamentos já fracassaram por causa da auto
piedade. A autopiedade por parte de um dos cônjuges ou
de ambos pode anular o encanto de um relacionamento.
Até os casamentos que começam com uma união forte
podem ser afetados permanentemente se a autopiedade
se desenvolver e tomar conta da relação.
Certa noite, mal estacionamos na entrada da casa de
alguns amigos e já vieram ao nosso encontro no carro.
Dos cumprimentos normais, passaram rapidamente para
uma história de autopiedade sobre seu novo pastorado.
“Nossa igreja é horrível!”, reclamou Rick. “Eles nos
enganaram; pensamos que nossa congregação seria de
gente estudada, como nós, mas é de operários! O antigo
pastor não fez nada para ajudar a igreja nessa transição, e
as pessoas não gostam de nós.”
75
“E você devia ver a casa pastoral!”, disse Jan, gesticulando
para a simpática casa branca, de dois andares, às suas
costas. “É tão pequena que não cabe nem metade das
nossas coisas.”
O resto da noite não foi
mais agradável. Rick e Jan A alegria é o negócio
contaram uma história após mais sério do céu.
outra sobre como sua nova
C . S. L ewis
situação era terrível. Quando
um deles saía da sala, o outro
dizia quanto estava preocupado com o cônjuge e pedia
que orássemos pelo casamento. A autopiedade já havia
contaminado a vida deles por completo.
Mais tarde, naquela noite, no caminho de volta para
casa, ficamos imaginando o que aconteceria com um casal
tão consumido por um sentimento como esse.
Não foi preciso esperar muito para ver os resultados.
Depois de um ano, Rick renunciou à igreja e seu casamento
chegou ao fundo do poço. Ele e Jan tentaram recuperar-se
mudando para outra cidade e tentando recomeçar tudo,
mas Rick não conseguiu ser um pastor de dedicação parcial.
O casamento desmoronou.
A dor da autopiedade que infligimos a nós mesmos
geralmente afeta também os amigos e familiares. Então,
por que continuamos a punir a nós e aos outros quando
esse sofrimento é inútil? Dias difíceis e experiências tristes
fazem parte da vida de todo casal, e a autopiedade em
razão dessas dificuldades não ajuda a ninguém. Na verdade,
é impossível ser um parceiro eficiente tendo de agüentar o
peso adicional da autopiedade. Um casamento feliz não
pode se dar a esse luxo.
76
Culpa
Desde que Adão culpou a Eva e Eva à serpente, os
casais têm usado o truque de dar desculpas e fugir à respon
sabilidade. A infelicidade no casamento deve-se em grande
parte à tendência comum entre os cônjuges de um jogar a
culpa no outro.
Por exemplo, Stewart estava consertando o acendimento
automático do fogão e não conseguia achar sua chave de
fenda. Voltou-se contra Christy, acusando-a de tê-la perdido.
— Você nunca guarda minhas ferramentas no lugar certo
— gritou. — Você me irrita.
— Eu nem usei essa sua estúpida chave de fenda! —
respondeu Christy. — Por que você sempre me culpa por
tudo o que você faz de errado?
E eis mais uma briga começando. Stewart culpava Christy
com freqüência porque ela era alvo fácil. E, ao fugir da
responsabilidade, ele se livrava da culpa pela insatisfação
de seu relacionamento. Christy era a culpada; o problema
era ela. Christy, por sua vez, jogava lenha na fogueira, fi
cando ofendida com as falsas acusações dele. Em vez de
tomar uma atitude própria, deixava que o marido contro
lasse sua reação.
Em muitos relacionamentos infelizes, um dos parceiros
torna-se o bode expiatório, o responsável pelo infortúnio. O
outro o vê como a origem de suas dificuldades. Na prática, o
primeiro está dizendo: “Você é o meu problema”. Mas dificil
mente ele encontrará um conselheiro matrimonial que
concorde com isso. Os profissionais conhecem o assunto e
sabem que a infelicidade conjugal nunca é causada por apenas
uma pessoa. É por isso que os terapeutas não enfatizam quem
está errado, mas sim o que não está certo.
A culpa quase sempre resulta no fim do casamento, como
aconteceu com Stewart e Christy. Mas, depois do aconse-
77
lhamento, Stewart aprendeu a confessar suas emoções e
parar de culpar o outro. E, quando isso aconteceu, Christy
aprendeu a evitar retaliações e a dirigir seus esforços para a
solução do problema, em vez de optar pelo conflito.
Vamos reproduzir a situação, examinando como Christy
poderia ter mudado a forma de reagir diante da acusação
de Stewart:
Stewart: Onde está minha chave de fenda? Você sem
pre tira do lugar e nunca devolve.
Christy: Ele está m e cu lpan do d e novo. Tenho vontade
d e dizer: “N ão sei o q u e acon teceu com sua
estúpida chave d e fe n d a ”, m as assim com e
çarem os a brigar e am bos fic a rem o s sentidos.
O m e lh o r é s im p le s m e n t e ir d ir e t o a o
p roblem a . Espere um pouco, quando você
usou pela última vez?
Stewart: (Isso desvia a atenção da raiva e faz com
que começe a pensar na resposta.) Acho que
foi a semana passada.
Christy: Você não estava consertando alguma coisa
ontem à noite?
Stewart: Hum... acho que a usei mesmo ontem à noite.
Christy: Onde?
Stewart: Não sei... no porão.
Christy: Será que não está lá dentro?
Ressentimento
Ninguém está livre de ser tratado injustamente. Podemos
sempre justificar nossa revolta contra uma situação ou alguém
(até mesmo nosso cônjuge) que injustamente nos complicou
a vida. Mas, se nos mantivermos na frustração, na dor e na
raiva, estaremos apenas alimentando nossos problemas —
pois é assim que o ressentimento faz seu mórbido trabalho.
O ressentimento é como um câncer para os relacio
namentos; pequeno e imperceptível no início, cresce com o
tempo, espalhando seu veneno por toda a relação. Se pen
sarmos sobre uma injustiça que cometeram contra nós e
repassarmos a cena várias vezes em nossa mente, estaremos
provocando uma torrente de emoções negativas que servirá
apenas para alimentar a dor ainda mais. Depois, uma suces
são de incidentes surge para nos convencer de que o objeto
de nosso ressentimento é a origem de toda a infelicidade
que sentimos. Pode haver períodos de recesso, quando nossa
mente se ocupa com outros desafios, mas cedo ou tarde
voltaremos a remoer o assunto e o câncer do ressentimento
se alastrará como fogo.
79
Mesmo que o ressentimento não seja dirigido ao parceiro,
será sempre prejudicial ao relacionamento.4 Trabalhamos
com vários casais em que um dos parceiros guardava
ressentimento em relação aos pais — às vezes mesmo anos
após sua morte.
Janice, divorciada aos 31 anos, veio ao nosso consultório
em busca de aconselhamento. Mal havíamos feito as devidas
apresentações e, abruptamente, ela despejou palavras tão
venenosas que jamais havíamos ouvido.
“Meu pai é o maior hipócrita!”, esbravejou. “Certamente
ele dá mais dinheiro para a igreja que qualquer pessoa, mas
só porque ele tem mais dinheiro que os outros. Mas em
casa, ele banca o maior idiota comigo e com minha mãe.”
Janice prosseguiu culpando o pai por todas as expe
riências desagradáveis por que passou, até mesmo os seus
três tempestuosos anos de casamento que terminaram em
divórcio. Seu ressentimento em relação ao pai havia
contribuído para o colapso de seu casamento, mas, em
vez de ver que o problema era o ressentimento, continuou
culpando o pai. Embora o pai sustentasse a ela e à filha
dela e pagasse as despesas com instrução para que termi
nasse a faculdade, ela o culpava pelas dificuldades em
que se encontrava.
Trabalhamos com Janice algumas semanas. Chegou um
momento em que eu (Leslie) disse: “Janice, está parecendo
que é mais fácil culpar seu pai e alimentar seu ressentimento
do que perdoar. Isso porque se você agir assim, terá de
assumir as conseqüências de suas ações, e isso é assustador”.
Finalmente, Janice fez um esforço sincero para perdoar ao
pai, fazendo uma oração de perdão e assumindo a
responsabilidade pelos atos dela. Ela casou-se novamente e,
embora não tenha havido nenhuma mudança repentina ou
miraculosa, nunca voltou a culpar o pai por seus problemas.
80
O casamento
feliz não sobre
vive ao câncer
do ressen ti
mento. Exata
mente como a
autopiedade e
a culpa, ele
corrói o espíri
to e anula nos
sa capacidade
de ser felizes.
Mas, se esses poluentes forem eliminados, o casal será
feliz para sempre... ou não?
81
Os casamentos nunca serão perfeitos, porque as pessoas
também não são. Pela própria natureza humana, todo noivo
e noiva possui defeitos e virtudes. Às vezes sentimo-nos
tristes, irritados, somos egoístas ou irracionais. Somos uma
mistura de sentimentos bondosos e altruístas que se combi
nam a intenções egoístas, futilidades e ambições. Unimos
o amor e a coragem ao egoísmo e ao medo. O casamento
é uma mistura de ouro e latão. Se esperarmos demais dele,
fatalmente ficaremos frustrados.
Então, como um casal pode viver feliz para sempre? Se
não se basear no que é externo. Muitas pessoas pensam
que o casamento é como ganhar na loteria: tiraram a sorte
grande e agora terão experiências interessantes e de grande
entusiasmo. Agora serão amados verdadeiramente. Agora
estarão completos. Mas o casamento não é como tirar o
bilhete premiado — pelo menos, não como im aginam os
que isso seja. Uma avalanche de dinheiro certamente o faria
feliz. Mas somente por um tempo. Pesquisadores descobriram
que um fato ocasional (como ter “sorte”), que ocorre sem a
sua interferência, não cria a felicidade duradoura. É preciso
que se tenha o domínio, o controle, a sensação de que algo
bom aconteceu porque você f e z com que acontecesse.5
Viver felizes para sempre somente dará certo se você
fiz e r acontecer. Quando você trabalha na matéria bruta do
casamento — a boa e a ruim que vocês trouxeram consigo
— para planejar, criar e construir um laço permanente, o
resultado é um sentimento duradouro e significativo de
completa realização. Se contudo você esperar que as coisas
aconteçam por mágica para ser feliz no casamento, o
relacionamento fará com que se sinta subjugado, solitário
e derrotado, entregue ao desespero.
O hábito da felicidade é um trabalho interno. Se agir
corretamente, apesar das circunstâncias adversas; se pro-
82
gramar a mente com impulsos positivos e se ajustar ao que
lhe está fora de controle, descobrirá que viver felizes para
sempre não é necessariamente um mito.
P ara r e f l e x ã o
83
'
Q u a rta P e r g u n t a :
86
endidos e praticados regularmente, poderão decidir se a
relação sobreviverá ou irá por água abaixo.
O objetivo deste capítulo é ajudá-lo a tornar-se mais
expressivo e mais bem compreendido. Para começar, res
saltamos a importância de aprender a se comunicar. Depois,
falaremos sobre as causas mais comuns das falhas na
comunicação e revelaremos o princípio da verdadeira arte
de se comunicar. Finalizamos o capítulo com algumas das
mais eficazes e testadas regras de comunicação no
casamento.
P o r q u e a p r e n d e r a s e c o m u n ic a r ?
88
— Isso nos ajudou a perceber que não existe um estilo
“certo” ou “errado” de conversa; eles simplesmente são
diferentes.
Robert e Melissa resolveram vários possíveis problemas
no início do casamento — antes mesmo que surgissem.
Você também pode fazer isso. A seguir, vejamos como é
fácil uma conversa ser deturpada.
Apaziguador
Apaziguadora é a pessoa do “sim”, sempre querendo
cair nas boas graças de todo o mundo, ansiosa por agradar
e cheia de desculpas. Os apaziguadores dizem coisas do
tipo “como você quiser” ou “não se preocupe comigo, eu
estou bem”. Procuram manter a paz a qualquer preço,
mesmo que o preço seja sentir-se indignos. Como as pessoas
90
desse tipo sentem dificuldade em expressar raiva e
costumam não externar muitos sentimentos, tendem a ficar
deprimidas e, como mostram alguns estudos, podem ficar
propensas a doenças. Os apaziguadores precisam saber
que não é proibido discordar.
Acusador
O acusador vive procurando erros e fazendo críticas, e
fala generalizando: “Você nunca faz nada direito”; “Você é
igualzinha a sua mãe”. Internamente, sentem-se desme
recidos e mal-amados, previamente zangados por não
conseguirem o que desejam. Diante de um problema, os
acusadores acham que a melhor defesa é o ataque, porque
são incapazes de suportar ou expressar dor ou medo.
Precisam aprender a falar em benefício próprio sem atacar
os outros.
Calculista
O calculista é extremamente racional, calmo e retraído,
nunca admite erros e espera que as pessoas se conformem
e ajam. Diz coisas como: “Chateado? Não, não estou
chateado. Por que você acha isso?”. Com medo das emoções,
prefere os fatos e as estatísticas: “Não mostro minhas
emoções para ninguém, e também não quero que ninguém
me mostre as suas”. O calculista precisa que lhe perguntem
como se sente quanto a algum assunto específico.
Dissimulado
O dissimulado recorre a irrelevâncias em momentos de
tensão, evitando o contato dos olhos e as respostas diretas.
Para mudar rapidamente de assunto, ele diz: “Qual o
problema? Vamos sair e fazer umas compras”. A confron-
91
tação com o problema pode terminar em briga, o que seria
perigoso. Os dissimulados precisam saber que não há
perigo, não estão desamparados; os problemas podem ser
resolvidos e os conflitos, solucionados.
Da próxima vez que falar com seu parceiro de forma
apaziguadora, acusadora, calculista ou dissimulada, lembre-
se de que provavelmente você está magoado ou nervoso
por alguma coisa. Além disso, se seu parceiro lembrar um
desses tipos, você pode diminuir sua tensão, procurando
ser compreensivo com o que está por trás disso. A conclusão
é que você precisa descobrir uma maneira de poderem
conversar com tranqüilidade. E isso é feito construindo-se
uma base sólida para a verdadeira comunicação.
92
Cordialidade
Seu parceiro traz consigo várias características ina
ceitáveis, algumas conhecidas, outras por ser descobertas.
Entretanto, você, como cônjuge, optou por aceitá-lo como
ele é. Decidiu aceitar seu parceiro apesar do mau hálito,
dos defeitos, trejeitos e das estranhas inclinações. Esta é a
essência da cordialidade: desconsiderar um defeito a favor
da beleza que se esconde atrás dele.
A chave da cordialidade é a aceitação. Em vez de analisar
ou exigir mudanças, você simplesmente aceita os pensa
mentos, sentimentos e ações da pessoa amada.
Levei bom tempo para permitir que Leslie fosse ela
mesma. Ela tem o dom despreocupado de parar para cheirar
as rosas sempre que as encontra pelo caminho, mesmo
que isso implique deixar outros assuntos para mais tarde.
Eu tenho o dom de eliminar os obstáculos e fazer as coisas
rapidamente. Logo no início do casamento, pensei que
podia transformar o jeito de Leslie. Mas meus esforços
missionários só nos trouxeram infelicidade. Depois que
aprendi o significado da cordialidade e passei a aceitar seu
modo de ser, nossa relação tornou-se muito mais inte
ressante e feliz.
A cordialidade não é uma carta branca para tudo o que
o parceiro faz, nem uma sentimentalidade reprimida. Ela é
um convite ao parceiro para que seja quem é, sentindo-se
livre, à vontade e em paz. Favorece a confiança e evita
que o outro tenha de mudar sua personalidade para ser o
que você quer que ele seja.
A cordialidade incondicional também é um convite para
que a graça de Deus esteja presente no âmago de seu
casamento. Quando seu parceiro se sente seguro de que
nunca mais será recriminado por ser quem é, que nenhuma
crítica poderá magoá-lo, é sinal de que a graça de Deus
93
penetrou na estrutura de seu casamento — desfazendo o
padrão conjugal sutil, mas prejudicial, de sempre procurar
a aprovação do outro.
Sinceridade
Seu parceiro tem um radar interno contra mentiras,
flagrando sentimentos inventados e intenções falsas muito
antes de serem expressos abertamente. Não confiará em
você se não o achar sincero. Sem a sinceridade, pouco
resta do casamento.
Como expressar sinceridade? Não com palavras. O que
você diz ao parceiro é muito pouco comparado ao modo
em que diz — com um sorriso, um dar de ombros, franzindo
a testa ou olhando fixamente. Pense nisto: a comunicação
não-verbal é responsável por 58% de toda a mensagem, o
tom de voz conta com 35% e as palavras em si representam
apenas 7% da mensagem total.
A sinceridade é expressa por seu comportamento gestual
e não-verbal, pelos olhos e pela postura. E, segundo algumas
pesquisas, os maridos e as esposas são ótimos intérpretes
da comunicação não-verbal de seus parceiros.5 Um conhe
cido seu pode não perceber uma súbita mudança na sua
expressão facial, mas seu cônjuge certamente perceberá.
Quando nos casamos, eu queria tanto ser a esposa
perfeita, que procurei pensar, sentir e fazer tudo como
achava que as esposas perfeitas fariam. Mas, em vez de
me tornar perfeita, acabei sentindo-me vazia. Estava repre
sentando um papel, não sendo eu mesma. Felizmente, um
experiente conselheiro ajudou-me quando disse: “Leslie,
você está mais preocupada com o que deveria estar sentin
do do que com o que está sentindo”.
E ele estava certo. Percebi que nosso casamento não
precisava de uma pessoa perfeita, mas de alguém sincero.
94
Você pode encher seu cônjuge de amor, mas, se não for
sincero, seu amor será vazio. Pode usar todas as técnicas
de comunicação do mundo, mas, se não for verdadeiro,
não funcionarão. A sinceridade é algo que você é e não
algo que fa z . Ela vem do coração e não das mãos.
Empatia
A melhor maneira de não magoar o companheiro é pôr-
se no seu lugar. Isto é empatia: ver o mundo pela perspectiva
do outro.
Há muitos anos eu
Não saia da vossa boca
(Les) coordenava seminá
nenhuma palavra torpe; e
rios de treinamento para
sim unicamente a que for
professores da escola
boa para a edificação,
conforme a necessidade, primária. Para ajudá-los a
e, assim, transmita graça entender melhor o mun
aos que a ouvem. do de um aluno do tercei
E f é s i o s 4.29 ro ano, fiz com que an
dassem pela classe de
joelhos.
“Sempre achei que os alunos enxergavam a sala de aula
do mesmo modo que eu”, disse um professor depois de
completar o exercício. “Ela parece tão diferente da
perspectiva deles”.
Cometemos o mesmo erro no casamento quando achamos
que nosso parceiro sabe o que estamos vivendo. Mas eles
não sabem. Cada um de nós interpreta a vida de acordo
com um misto de percepções e julgamentos singulares. A
vida parece tão diferente para o cônjuge quanto para nós,
mas temos a tendência de achar que ele enxerga a vida da
mesma forma que nós a enxergamos. Contudo, somente
depois de penetrarmos em seu mundo, de corpo e alma,
conseguimos compreender melhor seu modo de ver as coisas.
95
Olhar a vida pelo mesmo ângulo significa perguntar a si
mesmo: 1) Como meu parceiro vê ou sente essa situação,
problema ou acontecimento? e 2) Qual a diferença entre a
sua e a minha perspectiva?
A empatia é, talvez, o trabalho mais árduo na construção
de um casamento duradouro. Como a maioria de nós está
programada para usar ou a mente, ou o coração, sempre um
mais que o outro, é preciso fazer um esforço consciente para
alcançar a empatia. No livro Love’s unseen enem y [O inimigo
invisível do amor\, Les diz que amar somente com o coração
é na verdade compartilhar sentimentos e somente com a mente
é simplesmente analisar. A empatia, entretanto, une as
capacidades de compartilhamento de sentimentos com as
analíticas, coração e mente, para alcançar uma compreensão
total do parceiro. Ela determina: “Se eu fosse você, agiria à
sua maneira; compreendo porque você se sente desse modo”.
A empatia sempre envolve risco, por isso precavenha-
se. O conhecimento aprofundado das mágoas e esperanças
de seu cônjuge o mudará, mas as vantagens de aceitar
esse risco são extremamente superiores às desvantagens.
Quando você perceber conscientemente os sentimentos
de seu parceiro e compreender a forma de ele ver as coisas,
verá o mundo de maneira diferente.
A essência da comunicação baseia-se no seu modo de
ser — cordial, sincero e empático. Mas, embora essas três
características sejam básicas para estabelecer a boa comu
nicação, sozinhas não garantem o sucesso. Ainda há
algumas “regras” a ser seguidas.
“ R e g r a s ” p a r a a b o a c o m u n ic a ç ã o
96
capaz de demonstrar mais amor ao parceiro, e seu casamento
será revitalizado.
São elas:
1. Use o pronome “eu” e não “você”.
2. Experimente demonstrar que escutou.
3. Entenda e aceite as diferenças entre homens e
mulheres.
4. Peça desculpas, se necessário.
5. Comunique-se por meio do toque.
97
contrário das acusações que provocam a defensiva. Frases
com “eu” provavelmente causarão preocupação e desper
tarão a atenção do parceiro: “Perdão, querida. Não sabia
que se sentiria assim”. O “eu” não provoca a defensiva
porque você não está dizendo nada sobre o mau compor
tamento de seu parceiro.
Não há vantagem nenhuma em fazer seu cônjuge sentir-
se atacado. Em vez de dizer “Você é tão distraído. Como
pôde esquecer que sairíamos esta noite?”, seria melhor se
dissesse “Fico magoada e brava quando você se esquece
de coisas que planejamos juntos”. Isso permite que você
expresse seus sentimentos dizendo que se sentiu
negligenciada, mas sem acusar seu parceiro de magoá-la
intencionalmente.
Em vez de “Você faz com que me sinta um burro toda
vez que corrige o que eu digo”, diga algo como “Fico
muito triste quando você corrige o que eu digo”. Comece
suas frases com “eu” e não “v o cê”, e evitará muito
sofrimento no casamento.
A comunicação não é o que você diz, mas o que seu
parceiro entende que você disse. Ao falar usando “você”,
tudo o que seu parceiro ouve são acusações e críticas. O “eu”
é muito mais eficiente, porque permite que sua mensagem
seja ouvida e compreendida.
99
sentim entos e
diga: “Sei que vo
cê fica chateado
quando me atra
so. Deve ser irri
tante. Tentarei
estar pronta na hora a próxima vez”. Escute as palavras nas
entrelinhas. Por exemplo, “Você está sempre atrasada”
significa “Estou chateado”.
Vários casais para quem ensinamos a habilidade de
demonstrar que se escutou reclamam que sentem-se estra
nhos e acham que isso soa falso ou até tem ares de
superioridade. É por isso que construímos uma base de
cordialidade, sinceridade e empatia. Se a atitude de escutar
estiver enraizada nessas características, jamais terá uma
função mecânica; virá naturalmente, do coração. Se você
está prestando realmente atenção e de fato se importa,
demonstrará isso a seu parceiro e não será de forma mecâ
nica. Como qualquer nova habilidade que aprendemos,
escutar pode parecer estranho no início, mas, quando você
começar a sentir a diferença que isso fará em seu casamento,
essa sensação de estranheza desaparecerá rapidamente.
Lembre-se, porém, de que, se você for realmente
empático, terá de mudar. Infelizmente, algumas pessoas
aprendem bem a escutar, mas falham em reagir ao que
ouviram. Se o seu cônjuge está pedindo para que você
mude seu comportamento, considere seriamente esse pedi
do e, então, se lhe parecer razoável, trabalhe para isso.
Palavras sem ações são o mesmo que escutar sem reagir:
não significam nada.
Só mais uma coisa a esse respeito. Se você se sentir perdido
e não conseguir reagir à mensagem de seu parceiro, pense
no seguinte: veja se realmente quer entender a mensagem e
100
diga algo como “Fale-me mais sobre isso” ou “Ajude-me a
entender o que você está dizendo”. Essa técnica faz maravilhas.
O dr. Paul Tournier, famoso conselheiro suíço, disse:
“Nunca é demais enfatizar a grande necessidade que temos
de realmente ser ouvidos, levados a sério, compreendidos.
[...] Ninguém pode viver livremente neste mundo e ter uma
vida completa sem que se sinta compreendido por pelo
menos uma pessoa”.6 Ao oferecer ao parceiro o dom de
escutar, você estará reforçando o significado do casamento.
102
diferente de ser das mulheres e dos homens. Depois de
feita essa distinção, a solução torna-se simples e funciona
quase instantaneamente, com pouco tempo de prática: basta
qualificar o tipo de diálogo que você quer ter e pedir a seu
parceiro que participe. Só porque os homens têm uma
tendência para resolver problemas e as mulheres para
compartilhar sentimentos, isso não significa que um não
seja capaz de fazer o que o outro faz. Veja como a conversa
anterior poderia acontecer:
103
em níveis toleráveis. Mas, no casamento, pedir sinceras
desculpas ao companheiro tem um significado muito maior
do que manter a civilidade — pode ser uma ferramenta
poderosa na resolução de questões e no estreitamento da
relação.
Algumas Palavras! Palavras! Estou cheia de palavras!
vezes, Só o que ganho o dia inteiro são palavras.
apresen É só isso que vocês, cretinos, sabem fazer?
tar des Não fale das estrelas que brilham no céu.
culpas é Se você me ama, prove!
ir direto E l i z a , em M in h a q u er id a d a m a
ao pon
to. Quando um dos cônjuges perde a calma e a falta não
foi grave (ele pode ter esquecido de pôr gasolina no carro),
desculpar-se educadamente é o que basta para que o
incidente seja esquecido. Em outras ocasiões, desculpar-
se pode parecer espantosamente difícil.
Como muitos casais, trabalhamos com um que dava
curto-circuito em suas discussões com desculpas
precipitadas do tipo: “Eu disse que sentia muito pelo que
fiz” ou “Agora, será que não dá para esquecer o assunto e
seguir em frente?”.
Esse tipo de desculpa é um verdadeiro instrumento de
manipulação, uma maneira de terminar o assunto e evitar o
verdadeiro problema. O que é pior: uma desculpa antecipada
impede uma mudança real. Em um jantar, o marido foi ríspido
com a esposa. Mais tarde, ele disse: “Lamento, mas veja...
você tem de entender que tenho andado sob muita pressão
ultimamente”. Ele está-se esquivando da responsabilidade
por seu ato insensível. O que a esposa precisava ouvir era:
“Desculpe-me. Não está certo descontar em você só porque
estou sob tensão”. Isso explicaria à esposa que o marido
compreende que a magoou e tentará não fazê-lo novamente.
104
A desculpa sincera na relação acontece somente quando
os parceiros passam a assumir responsabilidades. Essa é uma
forma de dizer que cada um de vocês assume a
responsabilidade por seus atos, entende a maneira de o outro
ver as coisas e, às vezes, reconhece coisas sobre si mesmo de
que não gosta. Finalmente, isso significa mudança. “Tive de
engolir meu orgulho e assumir algo desagradável sobre mim
mesmo”, contou-nos um marido. “Mas depois que fiz isso,
comecei a mudar.”
Todos os casais precisam de um mecanismo de cura,
um modo de virar uma nova página no casamento, e saber
como e quando dizer que sente muito pode fazer grande
diferença. Pergunte a si mesmo quando e como pede
desculpas. Um dos dois costuma desculpar-se mais do que
o outro? Você usa a desculpa para se esquivar do que está
em questão?
Uma desculpa pode não ser expressa com um “sinto
muito”, mas com um presente, um passeio à noite ou
simplesmente uma caminhada juntos. O importante é que
a desculpa sincera, seja como for, aumenta a proximidade
do casal e o deixa com a sensação reconfortante de que
tudo vai bem.
105
O contato físico é um meio poderoso de comunicação e
um modo carinhoso e reconfortante de alimentar o espírito
e transmitir emoções positivas. No livro Anatom y o f love [A
an atom ia do amor], a antropóloga Helen Fisher descreve
por que o toque é poderoso: “A pele humana é como um
gramado: cada folhinha é como uma extremidade nervosa,
tão sensível que, ao menor toque, pode gravar a sensação
daquele momento no cérebro”.8
Tecnicamente, a pele humana é dotada de milhões de
extensões nervosas, chamadas “receptores de toque”, e,
no toque, esses receptores enviam mensagens ao cérebro.
Este, por sua vez, libera elementos químicos de acordo
com a situação.
Imagine por um momento que você chega em casa
de um dia difícil, tenso, cansado e irritado - mas então
seu parceiro lhe dá um abraço amoroso. Esse afago
provoca o aumento da hemoglobina, substância existente
nas células vermelhas que transportam oxigênio como
energia pelo corpo. Incrivelm ente, aquele abraço
carinhoso ou mesmo uma simples carícia pode acalmar
os batimentos cardíacos, estabilizar a pressão e aliviar
uma dor aguda.
Você deve estar pensando: “O toque é algo sobre o
qual não é preciso aprender”, e provavelmente está certo.
A comunicação por meio do toque não é problema para a
maioria dos casais que estão para se casar. Normalmente
se abraçam, se beijam e dão as mãos sempre que estão
juntos. Normalmente, também, acreditam que é assim que
sempre será. E, sim, em alguns casamentos os parceiros
continuam a se abraçar e a dar as mãos por toda a vida.
Mas, em muitos, aquele contato do início desaparece.
Especialmente depois que uma criança entra em cena e o
ritmo da vida se acelera, o toque fica geralmente restrito
106
ao sexo. O toque puramente afetivo, à exceção de pequenos
afagos e rápidos beijos, pode ficar para trás.
Para ajudar a manter a comunicação pelo toque, converse
a respeito de como isso acontecia na sua família. Vocês
cultivavam um “contato de alta freqüência” ou um “contato
de baixa freqüência”? As pesquisas comprovam uma relação
direta entre o modo de você vivenciar o toque quando
adulto e a freqüência e o modo com que isso acontecia na
infância. Vocês podem discutir a forma de se tornar mais
voltados ao toque, mesmo que tenham crescido em uma
família que evitava o contato físico.
Também podem explorar as zonas agradáveis para cada
um. Provavelmente, cada um tem gostos e preferências
próprios em relação ao carinho. Para um de vocês, um
toque suave na mão pode significar tanto quanto um abraço
demorado. Os estudos mostram que alguns homens, quando
se sentem inseguros, interpretam o toque como uma espécie
de humilhação e não uma forma de apoio.
Depois de reconhecer a grande influência que ele causa
em nossa vida, não é de estranhar que o toque seja cha
mado “a mãe de todos os sentidos”. Simplesmente não
há melhor modo de comunicar idéias como: “você não
está só”, “você é importante”, “lamento muito” ou “eu
amo vo cê”. Então, da próxima vez que estiver sem
palavras, lembre-se: o toque pode ser a melhor maneira
de falar com seu parceiro.
P ara r e f l e x ã o
108
V-^ou homem, e você, mulher.
Não conheço combinação melhor.
G roucho M arx
Q uinta P e r g u n t a :
110
que relata o fato de a terra ser povoada por seres metade
homem, metade mulher. Eles eram completos em si mesmos
e julgavam-se perfeitos. Por seu orgulho, rebelaram-se con
tra os deuses, e Zeus, irado, dividiu-os ao meio, espalhando
as metades pela terra. Desde então, diz o mito, cada metade
procura sua outra metade.
Deve haver algum fragmento de verdade nessa expli
cação mitológica. A história da Criação enfatiza a realidade
básica de sentirmos necessidade de buscar um ao outro
em razão das nossas diferenças. Adão, que vivia no único
paraíso que a terra já viu, não sentia dor nem derramava
lágrimas. No entanto, mesmo estando no Paraíso, a solidão
cresceu de tal forma, que Deus concluiu que não era “bom”
o homem viver sozinho — faltava algo. Deus deu sua
resposta e criou Eva — e não outro Adão.
Há uma interação inerente na união entre homem e
mulher. Nosso parceiro completa nossas falhas. Quando
estamos desanimados, ele se mostra esperançoso. Quando
somos agressivos, é generoso. Quando nos sentimos fracos,
eles são fortes. Quando macho e fêmea se juntam, o ser
está completo. Mas nossas diferenças, se não forem compre
endidas e aceitas, passarão a ser fonte de discórdia e não
de realização.
As diferenças entre homens e mulheres no casamento
muitas vezes são desconsideradas quando acreditamos,
enganados, que nosso parceiro é exatamente como nós -
“o que for bom para mim será para você”. Costumamos
avaliar o comportamento do outro de acordo com padrões
femininos ou masculinos, sem levar em conta a enorme
diferença entre os sexos.
Por muitos anos, as diferenças entre os sexos eram
maldefinidas. Mas agora reconhecemos, com muito mais
exatidão, a barreira que separa homens e mulheres. E não
111
levar em conta essa barreira é colocar o casamento à beira
do precipício.
O objetivo deste capítulo é ajudá-lo a reconhecer que
seu parceiro, por pertencer ao sexo oposto, pensa, sente e
comporta-se de maneira diferente. Essas diferenças, se
analisadas e levadas em conta, podem tornar-se um grande
aliado da intimidade no casamento. Começamos enfati
zando que homens e mulheres são diferentes e examinando
onde exatamente se encontram essas diferenças. Então
mostraremos, da perspectiva masculina e feminina, como
vencer a barreira dos sexos e viver bem com o cônjuge —
viver em “uníssono” como homem e mulher.
S e r á q u e so m o s t ã o d if e r e n t e s ?
113
“Antes desse exercício, achávamos que éramos os mais
anormais no casamento” contou-nos um casal. “Quando
descobrimos que nossas diferenças são universais, perce
bemos que somos normais e que tudo pode dar certo.”
Para fazer um casamento dar certo, porém, não basta
apenas reconhecer as diferenças. É preciso valorizã-las,
também. Conhece
mos alguns casais
Em nossa civilização, os homens
que identificaram
têm medo de não ser homens de
verdade, e as mulheres têm suas diferenças e
medo de ser consideradas tentaram eliminá-
apenas mulheres. las. W ayne, por
exemplo, decidiu
T h e o d o r e R e ik
que a emotividade
de Teri tinha de ser
refreada. “Não há necessidade de gastar energia para ser
tão emocional”, ele dizia. Desejando trabalhar em equipe,
Teri tentou desesperadamente conter o modo natural de
expressar suas emoções e ser mais parecida com Wayne.
Ambos se esforçaram sinceramente para superar a barreira
imposta pelos diferentes sexos, mas, desde o início, já
estavam condenados ao fracasso. As diferenças entre sexos
não podem ser amenizadas pela homogeneização —
fazendo com que homens e mulheres pensem, sintam e
façam tudo de maneira semelhante. O fato é que o homem
é diferente da mulher. E os casais que reconhecem
abertamente suas diferenças e as valorizam aumentam as
oportunidades de evitar uma discussão. Além disso,
melhoram o nível de intimidade ao se encantar com as
diferenças. A chave, é claro, está em saber exatamente
quais são essas diferenças.
114
D e q u e m o d o so m o s d i f e r e n t e s ?
A P E R SP E C TIV A D E L E S L IE
115
como progresso e utilidade. Pode ser muito paciente criando
pequenos atos românticos, contanto que, em última análise,
eles se mostrem produtivos.
Eu, por outro lado, sou como a maioria das mulheres.
Estou voltada para os sentimentos e para as atividades do
presente — sem nenhum motivo em particular. Não preciso
de um objetivo; quero simplesmente aproveitar o momento.
A minha pergunta é: “O que está acontecendo e de que
forma devo entender ou sentir isso?”. Não preciso ser
produtiva nem ver utilidade em algo. Na verdade, a
conquista é, para mim, algo frio e distante. Gosto de palavras
como vínculo e relacion am ento. Posso ser muito paciente
ao fazer pequenas coisas românticas simplesmente porque
fazê-las tem um valor próprio.
É claro que Les tem uma visão diferente.
A P E R SP E C TIV A D E LES
Antes de nosso casamento, Leslie era despreocupada
e fazia de tudo para agradar. Sentia-se bem em relação
ao nosso casamento e era otimista quanto ao futuro. Mas,
logo depois que casamos, começou a mudar, ou assim
me pareceu. Tornou-se excessivamente preocupada com
nosso relacionamento e falava sobre como melhorá-lo.
Se eu não participasse, ela se sentia rejeitada. P o rq u e, d e
repente, ela se tornou tão em otiva? — lembro-me de ter
pensado. P or q u e ela ch ora com tan ta fa c ilid a d e agora?
Antes do casamento, parecia prática; agora, em algumas
ocasiões, mostrava-se quase irracional para mim. Com o
p o d e se p r e o c u p a r com flo r e s q u a n d o m al con seguim os
m anter-nos no orçam en to? Seu desejo de conversar sobre
nosso relacionamento fez-me sentir fracassado como
marido. Será q u e ela n ã o en x erg a n a d a q u e f a ç o p a r a
ela? — pensava.
116
Eu, como a maioria dos homens, não sentia necessidade
de ter longas conversas sobre o relacionamento. Estava
satisfeito em saber que
Leslie me amava, que eu A disposição em aceitar
a amava e que tocávamos suas diferenças permitirá
a vida felizes. Conversar que vocês se complemen
sobre o quê? Aprofundar- tem e melhorem suas vidas.
nos em cada detalhe era C. W. N eal
desperdício de tem po
para mim.
Conclusão
Reconhecer a grande diferença entre homem e mulher
permitiu que eu (Leslie) entendesse que Les me cortejou
para chegar ao casamento. É bastante simples. Depois que
nos casamos, o objetivo de fazer a corte foi realizado, e
ele prosseguiu com outras atividades produtivas. Acontece
que o que eram “coisinhas sem importância” não eram
“coisinhas” afinal, eram sussurros calculados para levar-
me ao altar. Isto parece ardiloso, mas não é. Na realidade,
Les achava que eu era exatamente como ele e que os dois
continuaríamos a ser românticos somente até chegarmos a
uma conseqüência prática; depois disso, esperava que
fôssemos cuidar das coisas mais práticas da vida.
Eu (Les) finalmente percebi que nenhum de nós real
mente mudou depois do casamento. Mas a situação sim. O
objetivo pelo qual me tornei especialmente romântico foi
alcançado, e o romance só pelo romance, apreciado por
Leslie, deixou de ser prioridade para mim. Pelo fato de
minhas energias se voltarem para assuntos mais práticos,
como construir um lar estável e um futuro seguro, ficou
difícil perceber que Leslie não pensava como eu. Ela queria
namorar e beijar só pelo prazer de fazê-lo. E, uma vez
117
casada, esperava que esse tipo de romantismo continuasse
para sempre.
Nossas diferenças não são raras, são universais: os ho
mens são motivados pela conquista, e as mulheres, pelo
relacionamento.3 Então, quando as diferenças entre os
sexos surgirem em seu casamento, não pense que seu
parceiro é malvado. Ele não está tentando enganar;
basicamente, o que aconteceu foi que o casamento revelou
as diferenças.
As diferenças que vocês trazem consigo, como homem
e mulher, são boas e podem ser apreciadas. Como o corpo,
que tem a mente para raciocinar e o coração para sentir,
assim é o casamento. Somos seres impressionantes e
maravilhosos.
Então, como fazer para valorizar nossas diferenças?
Suprindo as necessidades específicas e inerentes do sexo
de nosso cônjuge. Normalmente, os homens tentam suprir
as necessidades que consideram importantes, e as mulheres
agem da mesma forma. O problema é que as necessidades
de seu marido não são as mesmas que as suas, e você não
poderá supri-las fazendo o que faria por outra mulher. Do
mesmo modo, as necessidades de uma esposa são dife
rentes das do marido, e ele não conseguirá supri-las fazendo
o que parece ser natural ao homem. O importante é que
marido e mulher precisam “esforçar-se” para ir além de si
mesmos, levando em consideração as necessidades do outro
e depois satisfazendo-as.
Nas duas seções a seguir destacamos algumas neces
sidades específicas que talvez você não perceba em seu
cônjuge. Ao satisfazê-las, você vencerá a barreira que os
separa e será fartamente recompensado.
118
O QUE TODO MARIDO DEVE SABER SOBRE SUA ESPOSA
119
escolheria ficar com ela, não porque é seu dever, mas
porque você quer.
Certa vez, perguntei a meu pastor, Tharon Daniels, como
ele dava atenção à esposa, Barbara.
“Há alguns anos, decidi largar o golfe. Parece tolice,
mas o golfe estava tomando todo o meu dia. Estava tirando
um tempo valioso que poderia passar com Barbara, e ela é
mais importante para mim do que o esporte.”
Ele continuou dizendo que isso não é uma regra para
todos, mas que foi a sua maneira de dar atenção à esposa.
E funcionou.
O que você pode fazer para dar atenção à sua esposa?
Pense quantas vezes você diz “Eu amo você”. Alguns homens
não sentem necessidade de declarar isso, mas toda esposa
sente uma necessidade insaciável de ouvir. A sua também
precisa de uma prova de que você pensa nela durante o dia.
Um pequeno presente ou um telefonema só para dizer “Estava
pensando em você” pode ser muito importante para ela.
Há pouco tempo, percebi quanto era importante para
Leslie que eu lhe enviasse um cartão ou bilhete. Quando
me sentei à escrivaninha em seu consultório para usar o
telefone, vi sobre a agenda um cartão escrito à mão que
lhe enviara cinco anos atrás.
Como homem, você provavelmente não faz idéia do
poder que exerce sobre a esposa um carinho ou uma
gentileza que você faça, nem de quanto isso a faz sentir-
se apreciada. Mike, entretanto, conheceu as maravilhas
que isso pode produzir. Ele estava saindo atrasado para ir
ao trabalho quando Brenda lhe contou que seu dia seria
extremamente difícil. Perto da porta, lembrou-se de uma
conferência em que falei sobre a necessidade de atenção
das esposas. Mike colocou sua pasta no chão e serviu
uma xícara de café para Brenda.
120
— O que você está fazendo? — ela perguntou. — Vai
chegar atrasado ao trabalho.
Imediatamente pensou: Ela está certa! Mas então ele
disse algo que não deixaria dúvidas quanto ao amor que
sentia pela esposa:
— Você é muito mais importante do que o trabalho.
Depois de alguns minutos de conversa, Mike segurou a
mão dela e disse:
— Vou ficar com o pensamento em você hoje.
Brenda encheu-se de amor pelo marido. E Mike ficou
tão admirado com sua sincera gratidão, que ligou para o
meu consultório aquela manhã para agradecer.
Será que dar atenção à esposa significa sacrificar partidas
de golfe, o sucesso no trabalho ou noites com os amigos?
Acredite se quiser: a resposta é “não”. Quando sua esposa
se sentir satisfeita ao saber que ela vem em primeiro lugar
na sua vida, que é a coisa mais importante do mundo para
você, passará a encorajá-lo a fazer as coisas de que gosta.
Faz parte dos mistérios do casamento: quando uma mulher
é amada de forma verdadeira e sincera, sente-se livre para
estimular a independência do marido.
Antes de Doug aprender a dar atenção a Lisa, ela reclamava
de suas pescarias. Na verdade, Lisa queria a separação porque
“Ficar num barco era mais importante para Doug do que
ficar comigo”. Mas, depois que ele mostrou que ela realmente
estava em primeiro lugar, depois que ele passou a demonstrar
seu verdadeiro amor por ela, Lisa chocou-o: “Não precisa ir
à reunião da quinta-feira. Assim, você pode adiantar sua
viagem de pescaria, se quiser.”
Lisa fez essa oferta porque agora se sentia segura quanto
à sua importância.
“Para amar e respeitar” é mais do que um voto de
casamento. É uma das necessidades mais importantes da
121
esposa. Se souber atendê-la, certamente construirá uma
relação que só lhe dará prazer.
124
televisão. Naquela altura, Rich sabia que estava em uma
encruzilhada. Havia prometido respeitar os sonhos da
esposa, mas nunca havia imaginado que isso significaria
mudar de casa! Bem, Rich poderia reclamar das aspirações
de Laura. Afinal de contas, ele também tinha a sua vida
profission al.
Mas ele man As' m ulheres desejam
teve sua pala Ser amadas, ouvidas, desejadas,
vra e continu respeitadas, sentir-se necessárias,
ou a respeitar ganhar confiança e, às vezes,
o sonho da es apenas ser abraçadas..
posa, e ela fez
Os hom en s desejam
o mesmo por
Ingressos para o campeonato
ele. Hoje, vi
nacional de futebol.
vem felizes no- D ave B a r r y
vam ente em
Chicago, onde
ela é âncora de uma das redes da cidade.
Respeitar é dizer: “Eu a apóio, você é importante para
mim e não precisa ser diferente do que é”. Em resposta, a
mulher conseguirá sentir-se à vontade. Não sentirá a
necessidade compulsiva de provar que é igual; auto
maticamente, sentirá e será igual. Que jeito maravilhoso
de viver com uma mulher.
125
Ele precisa ser admirado
— Puxa, Scott, isso está ótimo. Você fez um bom trabalho
— os olhos de Kari brilharam ao ver os canteiros que o
marido acabara de construir na varanda. — Você é mesmo
talentoso.
— Foi interessante fazê-los — disse Scott — , mas não
foi nada demais.
— Você está se subestimando, querido. Você é realmente
bom.
Scott não demonstrou, mas estava exultante com o elogio
da esposa. Sentia-se ótimo. Ninguém era capaz de fazê-lo
sentir-se tão apreciado e admirado quanto Kari. E ela sabia
disso. Ela havia tocado na necessidade básica do homem
e, sempre que possível, a supria de bom grado. A admiração
de Kari era sincera e nunca falsa ou forçada. Ela era a
maior fã de Scott, e seu relacionamento beneficiou-se de
infinitas maneiras por causa dessa admiração declarada.
Ser admirado é uma necessidade básica do homem. Ele
mede seu esforço por seus ganhos, grandes ou pequenos,
e precisa ser reconhecido. Embora a necessidade da mulher
de admiração e reconhecimento seja sem dúvida importante,
raramente é tão forte quanto a do homem. Quando uma
mulher busca o reconhecimento, na verdade está querendo
ser compreendida, valorizada. Repare bem: há uma diferença
significativa entre homens e mulheres quanto ao tema
admiração. Os homens sentem-se valorizados mais pelo
que fa z em , enquanto as mulheres, pelo que são.
Veja da seguinte maneira. Quando as mulheres não
são admiradas pelo marido, ficam ainda mais motivadas
para isso. Mas, quando um homem não é admirado pela
esposa, começa a perder a motivação. Sem a sensação de
ser admirado, a energia masculina se esgota. Logo ele
começa a sentir-se insatisfatório e incapaz de dar apoio.
126
Quando não são admirados, os homens perdem a vontade
de agir.
Você não faz idéia de como uma crítica pode ser
destrutiva para o poder pessoal do homem. Ele reage a
isso do mesmo modo que você, quando sente que seus
sentimentos não têm valor. É desmoralizante.
Uma mulher procurou-me para aconselhamento porque
se sentiu confusa quando, ao criticar o marido, ele não
lutou para conquistar a admiração dela. Acreditava
equivocadamente ser capaz de levá-lo a dar mais de si se
deixasse de elogiá-lo e lhe mostrar reconhecimento. Mas
isso nunca funciona com os homens. A admiração é o
combustível de que eles precisam para não desanimar. Eles
extraem forças da admiração.
Bem... mas, antes que você comece a montar uma lista
interminável de palavras de elogio para seu cônjuge, preciso
fazer um alerta. Nunca finja a admiração. Se você apenas
disser coisas para lisonjear o parceiro, estará fazendo mais
mal do que bem. Para ter valor, a admiração precisa ser
sincera.6
128
para dizer: “É uma boa hora para interromper?”, e ele pode
responder: “Dê-me mais cinco minutos” ou “Eu realmente
gostaria de relaxar um pouco assistindo ao telejornal
primeiro”.
Como você pode ver, em parte a autonomia implica tempo
para se recompor. Algumas esposas reclamam porque o marido
não fala sobre seu dia quando chega do trabalho. Primeiro eles
querem ler o jornal ou regar o gramado, qualquer coisa que os
ajude a relaxar a mente antes de se voltarem para o
relacionamento. É coisa de homem. Mas, se você der espaço
para seu marido, entendendo suas razões ou não, terá um
marido feliz.
Essa idéia de dar autonomia a meu marido foi uma lição
difícil de ser aprendida. Instintivamente, queria apoiá-lo
do mesmo modo que gostaria de ser apoiada por ele. Se
eu estivesse no lugar dele, por exemplo, ia querer que me
fizesse perguntas sobre como estava me sentindo. Gostaria
de ser abraçada e acariciada. Mas esse é o jeito das
mulheres, não dos homens.
130
etc. Mas o homem lida com a intimidade de maneira diferente.
Ele se relaciona fa z e n d o coisas junto com a outra pessoa,
(lembre-se, os homens visam à conquista). Cuidar do jardim
ou ir ao cinema com a esposa proporciona a sensação de
estar próximo.
Os maridos dão grande importância à companhia da
esposa em atividades recreativas. A caricatura do homem
nos comerciais, sozinho na natureza, bebendo uma cerveja
gelada e dizendo “Não existe nada melhor do que isso” é
uma mentira. Poderia ficar muito melhor se sua esposa
estivesse com ele partilhando das atividades de que ele gosta.
Recentemente, Les voltou de uma palestra no lago Tahoe.
Antes de ir, estava ansioso porque pegaria o avião logo
cedo e esquiaria à sua maneira. Sentia-me feliz por ele. Ele
adora esquiar — em velocidade — e, quando vamos juntos,
sinto como se o atrasasse. Mas, quando voltou da viagem,
fiquei chocada com sua história:
— Bem, a neve estava perfeita e o tempo também, mas
não foi tão bom como das outras vezes em que esquiei
com você.
Uau! Todo esse tempo eu achava que era um peso morto,
e a verdade é que ele não se diverte tanto assim sem mim.
Agora, depois de dar aconselhamento a tantas mulheres,
posso até ver você dizendo: “O que faria se as suas
preferências tivessem pouco em comum?”. A resposta é:
cultive as esferas de interesse em comum. Não deixe que
você e o parceiro se separem porque não encontram algo
divertido que possam fazer juntos. Já vi muitos casamentos
fracassar porque a esposa não usou as energias criativas
para criar momentos divertidos e relaxantes com o marido.
Faça uma lista dos interesses recreativos de seu marido.
Eis algumas idéias para começar: colecionar antigüidades,
qualquer ou todos os esportes, acampar, praticar canoa
131
gem, jogos de tabuleiro, jogos em geral, cozinhar, dançar,
fazer caminhadas, andar a cavalo, fazer cooper, ir ao
cinema, esquiar na neve, velejar, ouvir música, nadar,
viajar, caminhar, trabalhar em objetos de madeira e assim
por diante. Quanto maior for a lista, melhor. Depois,
marque as atividades que lhe pareçam interessantes.
Provavelmente você encontrará uma meia-dúzia de
atividades em que poderia acompanhar seu marido. Sua
próxima tarefa é marcar essas atividades em seu tempo
de lazer.
Se você souber atender à necessidade de companhia de
seu marido, descobrirá que vocês não são apenas marido
e mulher, mas também os melhores amigos.
P ara r e f l e x ã o
132
ernpre haverá pedras no
caminho do verdadeiro amor.
S h a k espea re
S exta P ergunta :
V o c ê sa be
“ c o m ba ter u m bom c o m ba te” ?
134
ali. Andavam olhando para frente, fingindo não notar que os
“especialistas em casamento” estavam tendo uma pequena
discussão; mas não dava para negar que os Parrotts, sem
dúvida, estavam tendo uma bela briga. Como dissemos, somos
especialistas em ter nossas “piores” brigas em público.
O desentendimento é algo natural no casamento. Não
importa quanto duas pessoas se amem, fatalmente um dia
entrarão em conflito. É ilusório pensar que os dois sempre
vão querer as mesmas coisas ao mesmo tempo. O conflito
no relacionamento é inevitável.
Se você ainda não se casou, talvez isso não tenha muito
sentido para você. Mas terá. De todos os recém-casados,
37% admitem ter-se tornado mais críticos com seus parceiros
depois do casamento. E 30% relatam um aumento das
discussões.1 Estressados pelo trabalho, os casais de hoje
têm muito mais a negociar do que os de antigamente; por
isso os conflitos surgem a qualquer momento. Mas, para
aqueles que conseguem lidar com isso, um confronto pode
ajudar a conquistar mais intimidade na relação. O truque
está em sab er discutir.
Vamos explicar melhor: S aber lu tar d e m od o ju sto é
fu n d a m en ta l p a r a a sobrevivência do casalfeliz. Só o amor
não é capaz de sustentar um relacionamento no mundo
moderno. Amar é, na verdade, um componente fraco para
um casamento duradouro. Mais importante que isso,
demonstram as pesquisas, é saber enfrentar situações de
desentendimento.2 Muitos casais não sabem lidar com o
conflito. Algumas pessoas confundem calma e tranqüilidade
com harmonia conjugal, obstruindo suas diferenças sem
realmente resolvê-las. Outras, que assistiram a explosões
de seus pais, aprendem a maneira errada de brigar, e suas
discussões rapidamente transformam-se em insultos e
agressões.
135
Neste capítulo, mostraremos como brigar de modo
“limpo” e diminuir o veneno de uma discussão. Come
çaremos nosso “treinamento de combate” explorando
assuntos que comumente afligem os casais. Em seguida,
mostraremos os quatro estilos letais de disputa que você
deve descartar. Depois explicaremos de que maneira as
brigas podem ser construtivas para o casamento e, por
último, estabeleceremos algumas “regras” de bom combate.
P o r q u e m o t iv o s os c a s a is b r ig a m
Crítica
“Comprei um videocassete de 200 dólares em uma
liquidação. Bastou Molly olhar, para me atacar” contou
Steve sobre a bronca que havia levado recentemente.
138
Molly, sua esposa, disse ter percebido que cada vez
mais reclamava dos gastos de Steve. Ambos decidiram ser
econômicos, mas tinham noções diferentes de economia.
Steve esquecia-se de apagar a luz depois de sair de um
cômodo, por exemplo, e Molly gastava horas recortando
cupons para a próxima ida ao supermercado. Quando Steve
não se adequava aos padrões da esposa, Molly reclamava.
Molly tinha razão de reclamar? Achamos que sim. Não
porque esteja certa, mas porque tem o direito de reclamar.
Reclamar é atitude saudável para o casal. Queixar-se, em
vez de reprimir a emoção, embora não seja nada prazeroso,
pode tornar a união mais forte a longo prazo.
Mas Molly, sem perceber, havia entrado em águas
perigosas. Com o tempo, começou a acreditar que seus
comentários não estavam fazendo com que Steve mudasse
seu hábito de gastar. Foi então que algo potencialmente
ruim aconteceu com seu casamento: em vez de reclamar
de suas ações, ela passou a criticá-lo.
“Você nunca pensa
O conflito acende o fogo do nas conseqüências. Faz
afeto e das emoções; e, o que quer na hora que
por ser fogo, tem duas bem entende. É como
características: ele se eu vivesse com uma
queima e ilumina. criança de tamanho
C a r l J uno , gigante.”
Pode parecer que
não há muita diferença entre reclamar e criticar, mas há. A
crítica implica destruir a personalidade de alguém e não
seu comportamento. Em geral envolve censuras, ataques
pessoais e acusações, enquanto reclamação é um comen
tário negativo sobre algo que você gostaria que fosse
diferente. As reclamações geralmente começam com a
palavra eu, as críticas, com a palavra você. Por exemplo:
139
“Gostaria que saíssemos com mais freqüência” é uma
reclamação; “Você nunca me leva para sair” é uma crítica.
A crítica está um passo além da reclamação e, embora isto
aqui pareça uma discussão sobre sutilezas, com certeza é
muito pior receber uma crítica do que uma reclamação.
Desdém
Em seu primeiro aniversário de casamento, Steve e Molly
ainda não tinham resolvido suas diferenças no plano financeiro.
No calor de uma discussão, Molly começou a gritar:
— Por que você é sempre irresponsável? É tão egoísta.
— E você é tão pão-duro que não abre a mão nem para
cumprimentar. Nem sei como fui casar com você.
Eis o segundo mau presságio, o desdém, entrando em
cena.
O desdém é capaz de envenenar um relacionamento de
quatro meses ou quarenta anos. O que o distingue da crítica,
de acordo com Gottman, “é a inten ção d e insultar c. agredir
psicologicam en te o parceiro”. Devia haver uma lei contra
o desdém porque ele atinge exatamente o nosso ponto
fraco e acaba desestabilizando a relação e magoando a
todos. Quando surge, o desdém sobrepuja o casamento e
elimina qualquer sentimento positivo que se possa ter pelo
outro. Ele se expressa geralmente por meio de difamações,
ironias e gozações. E, depois que invade a casa, o casamento
só tende a piorar.
Defesa
Depois de agirem com desdém um com o outro, Steve e
Molly passaram a ficar na defensiva, para piorar a situação.
Ambos sentiam-se vítimas um do outro e nenhum queria
assumir a responsabilidade de tentar acertar as coisas. Quem
140
pode culpá-los? Quando bombardeados por insultos, nossa
tendência natural é a defesa: “A culpa não é minha. Era você
quem tinha ficado de pagar aquela conta e não eu”. Um dos
motivos de esse comportamento ser tão destrutivo é que se
torna quase um reflexo. A “vítima”, numa reação instintiva,
não vê nenhum mal em ficar na defensiva, mas isso tende a
intensificar ainda mais o conflito, em vez de resolvê-lo.
Sempre que Steve e Molly achavam seus argumentos justos,
sempre que davam desculpas e fugiam à responsabilidade,
apenas aumentavam a infelicidade no casamento.
Apatia
Steve e Molly estavam chegando ao fundo do poço.
Exausto e sentindo-se esmagado pelos ataques de Molly,
Steve finalmente parou de retrucar, mesmo defensivamente,
às acusações.
— Você nunca diz nada — A i n ti m id a d e
ela reclamava. — Apenas fica b a s e ia -s e e m
aí, sentado. É como falar com n o s s a s d ife re n ç a s .
as paredes.
H en ry J am es
Steve normalmente não
reagia. Em algumas ocasiões,
dava de ombros, como se dissesse “Isso não vai levar a
nada; então, por que me desgastar?”.
Esse comportamento é mais comum entre os homens
(aproximadamente 85%). Sentindo-se oprimidos pelas
emoções, começam a retrair-se e a agir “apaticamente”.
Procuram manter-se impassíveis, evitar o contato com os
olhos, manter o pescoço imóvel, evitam acenar com a
cabeça e emitir qualquer som que possa indicar que estejam
ouvindo. Os apáticos geralmente argumentam que estão
apenas tentando não piorar as coisas, mas parecem não
perceber que sua própria reação tem uma conseqüência
141
poderosa. Ela transmite desaprovação, indiferença e
convencimento.
A apatia não marca necessariamente o fim do casamento,
mas, quando o convívio mútuo chega a esse nível de
deterioração, a relação torna-se bastante frágil e será preciso
boa dose de tratamento para salvá-la.
Lembre-se de que qualquer pessoa pode ficar apática
ou na defensiva, desdenhar ou criticar. Mesmo com os
casais felizes, isso pode acontecer às vezes durante um
sério problema conjugal. O perigo está em deixar que esse
tipo de comportamento se torne um hábito.
Q u a l o b e n e f íc io d e u m b o m c o m b a t e
143
Todo casal tem diferenças não-compensatórias, e são
muitas. A medida que a relação se torna mais íntima, essas
diferenças tornam-se mais acentuadas. Repare que o
conflito pode ser o resultado de buscar uma intimidade
maior. Como já dissemos a vários casais que nos procuram:
o conflito é o preço que se paga pela conquista da
intimidade. Mas, quando se aprende a lutar “limpo”, o
casamento floresce.
C o m ba ten d o o bom co m ba te
144
seguintes, pensa:
“Aquele que me li O amor pode ser furioso...
bertar dessa lâmpa com um tipo de raiva sem
da será um homem rancor, como a da pomba,
morto”. Muitos de mas não como a do corvo.
A g o s t in h o
nós, como o gênio,
parecem ficar cada
vez piores e mais violentos quando guardamos nossos
ressentimentos na lâmpada por mais tempo. Não esconda
quando algo o irritar. Sentimentos reprimidos apresentam
alta possibilidade de ser ressuscitados.
Os casais felizes na vida conjugal podem ter grandes
discórdias, mas não há isolamento entre os parceiros.
Quando um deles surge com uma questão, o outro ouve
atentamente. De vez em quando, o ouvinte parafraseia o
que o outro diz — “Você está preocupado com nossos
gastos?” — para assegurar que a mensagem foi assimilada.
149
uma base segura para ambos quando precisarem expressar
a intensidade de seus sentimentos. Não conseguimos
lembrar de onde surgiu essa idéia, mas ela nos ajudou a
resolver vários conflitos em nosso casamento e tem
funcionado para centenas de outras pessoas.
O que existe no car
tão? É bastante simples. Não se ponha o sol
O cartão contém um nú sobre a vossa ira.
mero de um a dez, quan E f é s io s 4.26
tificando a intensidade
de seus sentimentos:
1. Não estou muito entusiasmado com isso, mas tudo bem.
2. Não concordo com você, mas posso estar errado.
3. Não concordo, mas posso conviver com isso.
4. Não concordo, mas você pode fazer do seu jeito.
5. Não concordo e não dá para ficar calado sobre isso.
6. Não aprovo e preciso de mais algum tempo para
pensar a respeito.
7. Desaprovo completamente e não posso aceitar isso.
8. Posso ficar tão irritado que nem sei qual será minha
reação.
9- De jeito nenhum! Se você fizer isso, estou fora!
10. Só sobre o meu cadáver!
152
Ela: E não seria você se eu não tivesse dado duro
enquanto você terminava seus estudos!
153
P ar a reflexão
155
e se tornarão os dois uma só carne.
E f é s io s 5.31
S étima P ergunta :
V o c ê s são a l m a s g ê m e a s ?
158
Então, como homem e mulher conseguirão tornar-se
um? Em outras palavras, como poderiam ser almas gêmeas?
A resposta está exatamente onde você suspeita — no fundo
da alma. Há bem pouco tempo, as pesquisas científicas
reforçaram o que o bom senso nos diz há anos: que,
essencialmente, a inclinação à dimensão espiritual do
casamento é o que mantém os casais unidos.1 A relação
floresce quando se alimenta a alma.
Neste capítulo exploraremos o aspecto mais importante
e menos abordado de um casamento saudável: a dimensão
espiritual. Primeiro, exploraremos a necessidade que
sentimos de uma intimidade espiritual e o seu significado
no casamento. Depois, mostraremos como Deus se revela
no seu relacionamento conjugal e como o casamento está
mais próximo da natureza divina do que de qualquer
outro aspecto da vida. Também ensinaremos maneiras
práticas de despertar o lado espiritual do casamento.
Concluiremos com um lembrete final.
I n t im id a d e e s p ir i t u a l : o v e r d a d e ir o sig n ific a d o d o c a s a m e n t o
160
— Somos muito apaixonados — disse Pauline — , mas às
vezes parece que estamos passeando pelas emoções.
— É verdade — completou Roy. — Somos mesmo muito
apaixonados, mas algumas vezes parece que o relacio
namento fica... não sei... vazio, eu acho. Como se devesse
xistir uma ligação maior.
Roy e Pauline, em mui
Agora podemos reconhecer tos aspectos, eram um
que o destino da alma é o modelo de casal. Faziam
destino da ordem social; tudo o que os casais
que, se o espírito que há saudáveis no casamento
em nós definhar, assim fazem. Eram psicologi
também todo o mundo cam ente sagazes, e-
que construímos ruirá mocionalmente equili
ao nosso redor. brados e mantinham o
T h e o d o r e R o sza k relacionamento em boas
condições. Mas seus
corações ainda se sentiam ansiosos, querendo algo mais,
algo mais profundo. Sabendo ou não, desejavam ser almas
gêmeas.
O que ainda era preciso aprender é que o bom
casamento não se resume na boa comunicação, na solução
de conflitos e em atitudes positivas. Todos esses
componentes são extremamente importantes para que um
relacionamento seja duradouro e significativo, mas não é
o bastante. O casamento não é uma máquina que precisa
de manutenção constante para mantê-lo em funcio
namento, mas um acontecimento sobrenatural apoiado
na troca mútua de votos sagrados. Acima de tudo, o
casam en to é um e sfo rço íntim o, m isterioso e
imperscrutável.
Até mesmo os casais felizes no relacionamento, como
Roy e Pauline, acabam descobrindo um desejo inato de
161
unir-se à pessoa amada não apenas pelo bem-estar, não
apenas pela paixão, mas também para en con trar sentido.
Nossa vida segue dia após dia; pode ser um sucesso ou
um fracasso, prazerosa ou atormentada. Mas qual seu
sig n ifica d o ? A resposta está em nossa alma.
Para os casais unidos pelo casamento, a busca de sentido
espiritual deve ser conjunta.2 Cada pessoa deve descobrir
o significado da vida, mas os cônjuges também devem
encontrar juntos o sentido do casamento. Vocês não são
somente marido e mulher. Os dois juntos deram à luz um
casamento, que é como um ser vivo, e a alma desse novo
ser deve ser alimentada.
O verdadeiro sentido da vida a dois é o chamado
espiritual para ser almas gêmeas, e todo casal deve atender
a esse chamado ou arriscar-se a ter um casamento estagnado
e maldesenvolvido. Como o fermento no pão, a espiritua
lidade determinará se o seu casamento crescerá, chegando
ao sucesso, ou atrofiará, dando no fracasso.
A dimensão espiritual do casamento é uma fonte de
alimento para o crescimento e para a saúde conjugal.
Nenhum outro fator é tão responsável pelo fortalecimento
da unidade e por um profundo sentido de propósito no
casamento do que o comprometimento mútuo da descoberta
espiritual. Essa é a verdadeira ânsia de nossas almas.
C o m o d e s c o b r ir d e u s e m s e u c a s a m e n t o
163
o melhor tratamento que existia na época. E, então, ele a
trouxe para casa, comprometendo-se a cuidar de seu bem-
estar. Não é de espantar que o corpo de Joy correspondesse
a isso. Porém, essa recuperação não durou muito.
Perto da morte, Joy disse ao marido: “Você me fez feliz.
Estou em paz com Deus”.
Ela morreu às 10hl5 daquela noite de 1960.
“Ela estava sorrindo”, lembrou mais tarde Lewis, “mas
não era para mim.”
A grande lição dessa maravilhosa história de amor é
que, se duas pessoas não estiverem unidas por um laço
espiritual de identidade, nunca poderão competir com a
plenitude de amor que as almas gêmeas possuem.
O casamento, quando brota de uma relação saudável,
tem um modo místico de revelar Deus, capaz de trazer a
paz serena a nossos corações inquietos.
Quando os pesquisadores examinaram as características
dos casamentos felizes há mais de vinte anos, uma das
qualidades mais importantes que encontraram foi a “fé em
Deus e o comprometimento espiritual”.3 A religião,
comprovadamente, proporciona aos casais o sentimento
de partilhar valores, ideologias e propósitos que enriquece
o relacionamento.
O casamento está mais perto da natureza divina do que
qualquer outra experiência humana. Deus usa a metáfora
do casamento para aludir a seu relacionamento com a
humanidade: “como o noivo se alegra da noiva, assim de ti
se alegrará o teu Deus”.4 Deus ama a igreja, “sua noiva”, diz
Paulo, não como um grupo de pessoas externas a ele com
as quais se entende, mas como parte de seu próprio corpo.5
E, de maneira semelhante, quando o marido ama a esposa
e ela o ama, sendo um a extensão do outro, vivem como
“uma só carne”, como almas gêmeas.
164
Finalmente, por meio do casamento, Deus também se
mostra de duas maneiras: em primeiro lugar, revelando
sua fidelidade; em segundo, seu perdão.
166
“Parece que ela ainda tem alguma afeição por mim. O
que mais poderia pedir? Tenho uma casa cheia de amor e
risadas; muitos casais, em seu pleno juízo, não têm isso!
Muriel é adorável e a amo como jamais a amei. Quando
ela me procura no meio da madrugada ou sorri satisfeita e
afetuosa quando acorda, agradeço ao Senhor por sua graça
e peço a ele que a deixe ficar comigo.
A fidelidade é como uma jóia multifacetada que exibe
uma com b in ação com p lexa de dim ensões in ter
relacionadas — confiança, compromisso, sinceridade,
lealdade, estima, atenção. Mas nossa fidelidade de um
para com o outro só pode ser sustentada pelo exemplo
da fidelidade de Deus para conosco. Quando homem e
mulher se unem, Deus promete fidelidade a eles. E isso
ajuda os casais a manter a fé.
Jamais exageramos quando dizemos que a felicidade
está no próprio âmago do caráter de Deus. Ela está em
cada passagem da Bíblia — do Gênesis, quando Deus inicia
sua promessa de fidelidade, até Apocalipse, em que João
tem a visão de um cavalo branco cujo cavaleiro “chama-se
Fiel e Verdadeiro”. Grande é a fidelidade de Deus. Mesmo
quando somos infiéis, Deus permanecerá fiel, “pois de
maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo”.6
A fidelidade pactuai de Deus para com os homens, na
forma de nosso parceiro, é o descanso para o nosso coração
aflito. Ela aceita nossa alma dizendo: “Acredito em você e
estarei ao seu lado para o que der e vier”. Sem fidelidade
e a confiança que ela gera, o casamento não teria como
resistir. Pois nenhum casal alcançará a profunda confiança
na fidelidade de cada um dos parceiros se não reconhecer
a fidelidade de Deus por eles.
167
O casamento revela o perdão de Deus
Quando morávamos em Los Angeles, uma amiga convi-
dou-nos para um passeio no estúdio cinematográfico de
Hollywood, onde trabalhava. Atravessamos o local em um
carrinho de golfe e, silenciosamente, descemos em palcos
de som para tentarmos encontrar algum rosto famoso nos
bastidores. Um dos pontos altos foi assistir à filmagem de
um episódio de uma famosa série da t v americana. Nossa
amiga, percebendo nosso interesse nessa série em particular,
mais tarde enviou-nos um script autografado. Na história,
Nancy e Elliot, um casal briguento, participavam de uma
violenta sessão de aconselhamento. Por fim, Elliot diz: “Não
sei se ainda amo Nancy... E não importa o que ela faça,
não creio que lhe poderei perdoar o que fez”.
O perdão mora no coração do relacionamento. Duas
pessoas que vivem juntas, dia após dia, esbarrando uma
na outra, estão fadadas a se magoarem, algumas vezes
sem querer, outras não. E, se o perdão não for dado para
aliviar a alma do casamento, a condenação pairará sobre o
relacionamento. É mágoa após mágoa, até que um dia
culpamos nosso parceiro não somente porque tenha feito
algo de errado, mas também porque não somos mais
capazes de lhe perdoar.
Essa é uma zona de perigo. O perdão do homem nunca
foi absoluto. O perdão no casamento só tem poder curativo
quando se concentra no que nossos parceiros fa z em , não
no que são. Os casais são mais capazes de perdoar atos
específicos. Tentar perdoar de forma absoluta é tolice.
Ninguém, a não ser Deus, é capaz disso.
Sobrecarregam os os circuitos do perdão quando
tentamos perdoar a nossos parceiros o fato de não serem
o tipo de companheiro que gostaríamos que fossem. Mas
há outras maneiras de enfrentarmos isso: com coragem,
16S
empatia, paciência e esperança. Entretanto, para meros seres
humanos, o perdão supremo deve ser deixado para Deus.
Pois é o perdão dele que nos permite perdoar coisas
relativamente pequenas — o que não é nenhum mistério.
Todo casal deve perdoar. Eu (Leslie) passei maus pedaços
para aprender isso. Por que deveria perdoar a Les, o homem
que havia jurado amor por mim até a morte? De certo modo,
achava que, se o perdão fosse necessário, nosso
relacionamento estaria fracassando. Era orgulhosa demais para
admitir que Les poderia me magoar. Mas, às vezes, ele me
magoava. E, é claro, eu o magoava. Na verdade, aprendi que
o perdão no casamento não envolve uma ovelhinha inocente
e um lobo malvado. Na maioria das vezes tenho de perdoar
e também ser perdoada — se não por meu marido, por Deus.
Ao perdoarmos ao parceiro, estamos revelando para
ele o amor de Deus, sem culpas. O perdão do homem
ilumina o perdão divino.
Amar o parceiro como a você mesmo é provavelmente
o passo mais sério que você jamais dará para cumprir o
amor de Deus. Esse passo, é claro, nunca poderia ser dado
sem a graça. Embora muitos casamentos aconteçam e
consigam perseverar sem a confiança consciente na ajuda
de Deus, não existe nenhum relacionamento que seja
significativo sem o permanente e misterioso toque da graça
de Deus na alma de seu casamento.
C o m o c u id a r d a a l m a d o s e u c a s a m e n t o
Freqüentar a igreja
Temos uma ilustração de Norman Rockwell que mostra
uma família em uma manhã de domingo. O marido, com a
barba por fazer, os cabelos desgrenhados e vestindo um
robe sobre o pijama, está esticado em uma cadeira com
partes do jornal de domingo espalhadas ao seu redor. Atrás
dele está a esposa, usando um vestido feito sob medida e a
caminho da igreja. A figura é um divertido lembrete da
importância que o culto tem para a alma de nosso casamento.
Nós dois fomos criados freqüentando a igreja. Fazia parte
de nossa herança. Tão certo como o sol nasce no Oriente,
nossas famílias iam à igreja na manhã de domingo. Ir à
igreja não era questionável. Era simplesmente algo que se
fazia e ponto-final.
Mas, quando nos casamos e mudamos para longe de
casa, ir à igreja repentinamente tornou-se uma opção. Em
uma nova cidade, tivemos a oportunidade de estabelecer
nossas rotinas, nossos costumes. Pela primeira vez, ir à igreja
era algo que não tínhamos de fazer. Ninguém ia nos chamar
170
e perguntar onde estávamos.
Ninguém ia procurar por nós. Como o cervo anseia
pelas correntes das
Poderíamos, agora, ficar em
águas, assim suspira a
casa aos domingos, fazer
minha alma por ti, ó
uma caminhada, sentar sob
Deus. A minha alma
o sol, ler um livro. Ou... po
tem sede de Deus...
deríamos ir à igreja. E foi o
S a lm o s 42.1,2
que fizemos.
Desde o início de nosso
casamento, ir ao culto juntos é como uma hora marcada
para o sossego e a restauração de nosso relacionamento.
Dedicarmos um dia da semana à igreja estabiliza nosso
casamento e nos libera da tirania da produtividade que
preenche todos os outros dias.
A igreja que freqüentamos é um lugar de apoio social
e renovação espiritual. Cantar os hinos, aprender os
ensinamentos da Bíblia, adorar a Deus e encontrar amigos
que partilham de sua busca espiritual é reconfortante e
inspirador. Ir ao culto juntos estimula o nosso relacio
namento e torna a nossa semana mais significativa.
De vez em quando, a pesquisa científica reforça nossa
decisão de ir à igreja como um meio de nutrir a alma de
nosso casamento. Um estudo recente mostrou que os casais
que freqüentam a igreja juntos, mesmo que só uma vez
por mês, aumentam suas chances de permanecer casados
por toda a vida. Os estudos também mostraram que os
freqüentadores sentem-se melhor quanto a seus casamentos
do que aqueles que não vão à igreja juntos.8
Ir à igreja é uma forma de transformar relacionamentos.
Ficar diante do Santo e Eterno é crescer e mudar. Na igreja,
o poder de transformação de Deus encontra seu caminho
no santuário de nossos corações e aumenta nossa
capacidade de amar.
171
Serviço
“Nunca tinha percebido como eu era egoísta até que
me casei”, disse Gaiy.
Depois de seis meses de casamento, ele nos contou
que Paula, a esposa, fazia um trabalho voluntário em uma
clínica geriátrica uma vez por semana.
“A princípio, fiquei ressentido por ela não estar comigo.
Mas, dois meses atrás, ela precisou de ajuda e então fui
com ela.”
Ele foi com Paula mais uma vez, depois outra e
repetidamente, até que descobriu que ajudar as pessoas
idosas da clínica tinha trazido mais vida à sua semana.
“É bom ajudar os outros e isso faz com que eu e Paula
nos tornemos mais próximos; é como se, juntos, fôssemos
necessários.”
Já ouvimos dezenas
de relatos semelhan
Amor não é olhar um para o
tes de casais. Há algo
outro, mas olharem juntos
de bom em trabalhar
para a mesma direção.
em equipe. Quase
. A n t o in e d e S a in t - E x u p é r y
por milagre isso se
torna um vínculo.
Estender a mão para os outros promove humildade, doação,
compaixão e intimidade no casamento. Fazer o bem aos
outros ajuda o casal a transcender a si mesmo e tornar-se
parte de algo maior.9
Há literalmente centenas de maneiras de incorporar o
serviço social no casamento. O segredo é encontrar algo
que combine com seu estilo pessoal. Por exemplo, temos
dois casais vizinhos nossos que praticam o auxílio
ativamente, mas de maneiras diferentes. Steve e Thanne
Moore moram na casa do outro lado da rua e são casados
há quinze anos. Sustentam uma criança pobre, Robert
172
Jacques, que mora no Haiti. Todo mês mandam cartas e
cartões, além de dinheiro para estudar, se vestir e se
alimentar. Em ocasiões especiais, Steve e Thanne enviam
desenhos de seus três filhos para Robert. Já duas vezes
estiveram no Haiti para ficar com Robert no orfanato. Um
dia, esperam vê-lo na faculdade.
Duas quadras adiante vivem Dennis e Lucy Guernsey.
Estão casados há 25 anos e desde o início tomaram uma
decisão: manter a porta aberta para quem precisa. Quem
conhece o casal sabe de sua hospitalidade. Fizeram de sua
casa um centro de comemorações e jantares deliciosos.
Algumas vezes, é informal e espontâneo, outras, é planejado
e elegante, mas sempre especial. Eles dão festas de
formatura, aniversário, boas-vindas. Fazem homenagens
especiais e recepções. E no Dia das Mães convidam as
mães solteiras para um almoço de domingo.
Se você perguntar a qualquer um deles por que ajudam
as pessoas dessa maneira, dirão como é recompensador
fazer os outros felizes. Mas também contarão sobre o forte
vínculo que esse serviço em conjunto trouxe para o
casamento deles.
Conhecemos vários casais que são testemunhas do valor
que uma mão estendida traz para seu casam ento.
Sustentando uma criança pobre, abrindo a casa para os
outros, dando cobertores aos pobres ou fazendo doces para
prisioneiros, fazer o bem aos outros é sempre bom para o
casamento. Para as almas gêmeas, servir com o coração
não tem o objetivo de conquistar justiça aos próprios olhos,
nem serve para ganhar recompensas. Também não é “nada
excepcional”. É um chamado, um ímpeto divino que vem
bem do fundo da alma de seu casamento.
Mais uma coisa sobre esse serviço social. Se tudo o que
vocês fazem é para ostentar aos outros, isso não ajudará a
173
aprofundar nada. A caridade, às vezes, é feita em segredo,
longe dos olhos de todos, somente sob a guarda de vocês
dois. Acreditamos que a alma de nosso casamento fica mais
satisfeita quando fazemos algo, mesmo uma pequena coisa,
anonimamente. Observar em segredo os resultados de nosso
serviço fortalece a devoção e a intimidade.
Cuidar da alma do casamento requer atenção constante.
Pois, se vocês se descuidarem, restarão apenas laços super
ficiais, como ondas de emoções e paixões, fazendo seu
casamento encalhar. Mas, se na sua jornada juntos vocês
cuidarem da alma — indo à igreja, servindo aos outros e
orando — , vocês apaziguarão as tempestades do casamento.
Oração
O sociólogo Andrew Greeley pesquisou pessoas casadas
e descobriu que os parceiros mais felizes eram aqueles
que oravam juntos. Muito provavelmente, os cônjuges que
oram juntos com regularidade têm o dobro de chance
daqueles que não oram juntos com tanta regularidade de
ser altamente românticos. Eles também relataram grande
satisfação sexual e um êxtase mais intenso!
Há uma velha história sobre um casal que decidiu
começar a lua-de-mel ajoelhado ao lado da cama orando.
A noiva sorriu quando ouviu o jovem marido orar:
“Agradecemos ao Senhor todas as graças que recebemos”.
Por estranho que possa parecer, existe um forte vínculo
entre a oração e o sexo. Por um lado, a freqüência da oração
é um indício mais poderoso da satisfação conjugal do que a
freqüência da intimidade sexual. Mas veja isso: os casais
que oram juntos têm 90% de chance de ter uma vida sexual
mais satisfatória do que os que não oram. Além disso, as
mulheres que oram com o marido tendem a obter o orgasmo
com mais facilidade. Isso não soa bem, não é mesmo? Afinal,
174
os casais que freqüentam a igreja são retratados pela mídia
como puritanos que acham que o sexo é sujo. Bem, deixe
que a mídia diga o que quiser, mas os casais que oram
juntos é que têm a resposta.
Poucas pessoas que vieram a nosso consultório eram tão
consagradas quanto Tom e Kathleen. Freqüentavam a igreja
regularmente. Kathleen cantava no coral, Tom dava aulas
na escola dominical; além disso, ela fazia parte de um grupo
feminino de estudos da Bíblia, e ele, de um grupo masculino
de contabilidade. Todos na igreja os consideravam líderes
espirituais dedicados e vibrantes. Mas, quando os dois vieram
nos ver, seu casamento de cinco anos estava em pedaços.
Contaram-nos uma história que já tínhamos ouvido várias
vezes. Estavam muito envolvidos com tudo menos com o
casamento e, por isso, estavam sofrendo de “falta de paixão”.
Apesar de todo fervor espiritual, Tom e Kathleen permitiram
que a alma de seu casamento definhasse.
“Quando foi a última vez que vocês oraram juntos?”,
um de nós perguntou.
Quando eles se entreolharam, a resposta se mostrou
evidente: fazia muito tempo.
Conversamos mais um pouco e demos a eles uma tarefa
simples, uma experiência, na verdade. Na semana que
estava por vir, fariam uma breve oração juntos antes de ir
para a cama.
Cinco dias mais tarde recebemos um telefonema.
“Oi. É Kathleen. Sei que parece loucura, mas nosso
relacionamento mudou completamente.”
Ela contou como aquele momento que passavam juntos
orando rejuvenesceu o espírito deles e o casamento.
Nenhuma “religiosidade” é capaz de compensar o tempo
que os casais passam juntos em oração. Mas você deve
estar-se perguntando: se a oração é tão boa para o casamento,
175
por que mais casais não fazem isso? Porque não é fácil. O
ato de orar nos torna vulneráveis, e, sempre que abaixamos
a guarda, mesmo com nosso companheiro, é assustador
(especialmente para os homens). Afinal de contas, nosso
parceiro sabe, em primeira mão, como somos de fato. Ele
nos vê quando ninguém mais está vendo. Então, como fazer
para ser de todo sincero com Deus quando meu parceiro
está ouvindo tudo? Como posso expressar meus verdadeiros
desejos e receios, minha dor, os pecados que me afligem?
Não é de espantar que muitos casais optem por não orar. O
preço dessa vulnerabilidade parece muito alto.
Orar juntos como casal, devemos confessar, nem sempre
foi natural ou fácil para Leslie ou para mim. Às vezes, caímos
na armadilha de fazer sermões em nossas orações, sutilmente
atacando um ao outro com nossas “boas” intenções. Mas
com o tempo aprendemos alguns princípios que nos
ajudaram a orar com maior eficiência. Primeiro, fazemos
uma oração de agradecimento. Isso é tudo. Em vez de falar
sobre nossas necessidades ou dificuldades, simplesmente
agradecemos a Deus. Às vezes oramos o pai-nosso juntos
(Mt 6.9-13). E algumas vezes um de nós simplesmente inicia
um momento de oração silenciosa, à qual o outro se junta,
ou um momento para ouvir a Deus, ou talvez um momento
de orações breves. O importante é orar. Não existe um jeito
certo ou errado de fazê-lo. Cada vez que entramos em
comunhão com Deus orando juntos, alimentamos a alma
de nosso casamento.
177
tempo, passavam a usar mais o pronome “eu” do que o
“nós”. Observamos uma suave separação surgindo no
casamento deles que mal dava para notar — cada um indo
para trabalhos diferentes em mundos diferentes, enquanto
seu distanciamento ia, silenciosamente, destruindo sua
união. Por que deixar isso acontecer conosco? Por que
não construir uma Barreira de Luz como a de Sheldon e
Davy?
Estávamos inspirados.
No fim da primavera, apenas alguns dias antes do nosso
casamento, sentamo-nos em um banco, conversando sobre
nosso amor e comprometimento, e chegamos à conclusão
de que havia algo frio num acordo contratual, um com
promisso obrigatório de ficarmos juntos. Não queríamos
cumprir os “deveres” conjugais por obrigação, por estarmos
ligados externamente. Buscávamos um vínculo mais
profundo que transcendesse até mesmo os vestígios
idealizados da Barreira de Luz. Foi quando a verdadeira
lição da história de Davy e Sheldon se mostrou com clareza:
tornar-se almas gêmeas requer muito mais do que recorrer
ao amor, mais do que um compromisso com a participação
total. Requer recorrermos a Deus.
O impulso ardente e urgente que você e seu parceiro
têm de estar ligados — alma com alma — só poderá ser
satisfeito quando seus espíritos se unirem em um Espírito
maior, o de Jesus Cristo — a verdadeira Barreira de Luz.
Então, lembre-se: o mistério sagrado de tomar-se almas
gêmeas é buscar a mútua comunhão com Deus.
P ara r e fl e x ã o
179
N o ta s
Considerações preliminares
182
Segunda Pergunta: Você é capaz de reconhecer
o seu tipo de amor?
1988): 44-47.
2. L. W r ig h tsm a n & K. D e a u x , Social psychology in the
eighties, Monterey, Brooks/Cole, 1981, p. 170. Durante os
34 anos entre 1949 e 1983, apenas 27 artigos sobre o amor
foram publicados em jornais especializados de sociologia e
psicologia, e cada um desses artigos foi um risco para o
autor. Quando o sociólogo Nelson Foote, por exemplo,
publicou um curto documento em 1953 intitulado Amor, foi
ridicularizado e bombardeado com cartas de catedráticos
que o consideravam sentimentalista demais.
Um dos participantes da mesa-redonda na Convention
of the American Psychological Association declarou: “O
cientista, ao tentar interpor o amor em uma situação de
laboratório, está, pela própria natureza da proposta,
desumanizando o estado a que chamamos amor”.
3. Robert S t e r n b e r g , A triangular theory of love,
Psychological Review 93 (1986): 119-35.
4. Cântico dos Cânticos 1.2.
5. Colorado Springs, Focus on the Family, 1992.
6. The m ean in g o f gifts, Atlanta, John Knox Press, 1963.
7. A psicóloga Marcia Lasswell e seus colaboradores
analisaram milhares de respostas a um questionário sobre
183
amor e identificaram as seguintes formas de amor: amor
de melhor amigo, amor do tipo jogo, amor lógico,
romântico, possessivo e generoso. Essas formas, contudo,
não se aplicam ao amor numa parceria como a do
casamento.
8. Esses estágios são tratados mais detalhadamente por
vários autores, como James Othuis, em K eeping ou r troth
(San Francisco, Harper & Row, 1986), Susan Campbell, em
The cou p le’s jou rn ey: intim acy as a p a th to wholeness (San
Luis Obispo, Impact Publishers, 1980) e Liberty Kovacs,
em M arital developm ent (1991)-
9. D. K n o x , Conceptions of love at three developmental
levels, The Fam ily C oordinator 19, n. 2 (1970): 151-7.
10. Para obter mais dicas de como cultivar a paixão
romântica, consulte o livro de Norman Wright, H olding on
to rom an ce (Ventura, Regal Books, 1992).
11. Uma pesquisa apresentada no livro de John Cuber
The significant a m erican s (New York, Appleton/Century,
1966) revelou descobertas semelhantes.
12. Stacey O l ik e r , Best frien d s a n d m arriage, Los Angeles,
University of California Press, 1989-
13. Nick S t i n n e t t , Strengthening Families. Preleção
apresentada no National Symposium on Building Family
Strengths, University of Nebraska, Lincoln, Nebraska.
14. Alfred K i n s e y , Wardell P r o m e r o y & Clyde M a r t i n ,
Sexual behavior in the hu m an male, Philadelphia, W. B.
Sanders, 1948, p. 544.
184
Terceira Pergunta: Você tem o hábito de ser feliz?
185
A primeira: “Prove que você não é a pessoa que me
magoou”. Em outras palavras, “Arrume meu passado. Pague
a dívida”. E a segunda: “Se você fizer algo que me lembre
essa mágoa do passado, será punido”. A transferência
emocional está completa.
É extrem am ente im portante entender que essa
transferência emocional geralmente não acontece no início
do relacionamento. Ela só aparece depois que o casal já se
conhece um pouco — quando você fica magoado e
descobre que o que esperava e desejava não está
acontecendo.
5. David M y e r s , The pursuit o f happiness: who is happy
and why, New York, Morrow, 1992. George G a l l u p Jr. & F.
N e w p o r t , Americans widely disagree on what constitutes
“rich”, Gallup PollM onthy (Julho 1990): 28-36.
186
7. Youju st d o n ’t understand, New York, Ballantine, 1990.
8. New York, W. W. Norton and Company, 1992.
187
Sexta Pergunta: Você sabe “combater
um bom combate”?
188
5. É com freqüência que Deus é chamado “Deus
ciumento” (Êx 20.5, 34.14; Dt 4.25; 5-9; 6.15). Essa expressão
pode soar estranha aos ouvidos do homem de hoje, mas há
uma bela idéia por trás dela. O retrato é de um Deus
apaixonado por nossa alma. O amor é sempre exclusivo;
ninguém pode estar totalmente apaixonado por duas pessoas
ao mesmo tempo. Dizer que Deus é ciumento é dizer que
ele é o amante dos homens e das mulheres e que seu coração
não aceita rivais, mas que ele deve ter a devoção total de
nosso coração. O relacionamento humano com o divino
não é como o de um rei e seu súdito, nem de um mestre e
seu criado, mas o de amante e amado, um relacionamento
que só pode ser comparado ao relacionamento perfeito do
casamento entre homem e mulher.
6. 2Timóteo 2.13.
7. L. M. F o e r s t e r , S p iritu al p r a c tic e s a n d m a rita l
adjustm ent in lay chu rch m em bers a n d g rad u ate theology
students, Dissertação, Graduate School of Psychology, Fuller
Theological Seminary, Pasadena, California, 1984.
8 . S. T. O r t e g a , Religious homogamy and marital
189
O casal Parrott tem uma maneira singular de oferecer novas revelações de
pesquisas e, então, mostrar as implicações práticas a partir de sua experiência
pessoal. Este é um dos poucos livros "obrigatórios” sobre casamento.
D r . D a v id S t o o p
Psicólogo clínico
O casal Parrott está dando um presente aos casais de todas as idades que
querem ter um bom casamento. Seu livro é profundo, criativo e divertido,
criado com base em teorias comprovadas a partir do seu aconselhamento,
ensino e seminários. H á várias publicações sobre matrimônio, mas este livro se
destaca por oferecer novas revelações sobre nosso próprio casamento.
Jim e S a l l y C o n w a y
Autores e diretores de M id-Life Dimensions
Durante quatorze anos, minha esposa e eu demos nossa contribuição com aulas
de preparação pré-nupcial em nossa igreja. Q ual o nosso manual de
instruções? No próximo semestre, será o livro que você está segurando em
suas mãos. É leitura obrigatória aos casais que pretendem fazer de seu
casamento um compromisso para toda a vida.
J ohn T r e n t , P h .D .
Autor e presidente da Encouraging Words
ISBN 85-7367-507-1
9 788573 675078
Categoria: Casamento/Família