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CAPELANIA 360º
o guia definitivo para um
ministério de excelência
2023
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Título original
CAPELANIA 360º
Primeira publicação em
Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil
2023
1ª Edição
Copyright do texto ©
Antonio Carlos da Rosa Silva Junior, 2023
ISBN: 978-65-980892-0-7
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ____________________________________________________________________ 7
1. AFINAL DE CONTAS, O QUE É CAPELANIA? ___________________________________________ 9
2. OS PRINCIPAIS DESAFIOS DO CAPELÃO _____________________________________________ 11
2.1. Entender o que te motiva __________________________________________________________ 11
2.2. Trabalhar diante da diversidade religiosa ______________________________________________ 14
2.3. Sofrer com o preconceito contra os cristãos ____________________________________________ 16
2.4. Lidar com o sofrimento humano _____________________________________________________ 17
2.5. Cuidar de si para cuidar do outro ____________________________________________________ 19
2.6. Crescer espiritualmente____________________________________________________________ 20
2.7. Gerenciar tempo e prioridades ______________________________________________________ 21
2.8. Procurar atualização constante ______________________________________________________ 22
2.9. Possuir uma formação abrangente ___________________________________________________ 23
3. DILEMAS ÉTICOS _______________________________________________________________ 25
3.1. Busque relacionamentos éticos______________________________________________________ 26
3.2. Respeite o que é confidencial _______________________________________________________ 27
3.3. Termo de Compromisso no Aconselhamento (modelo) ___________________________________ 28
4. O DIREITO APLICADO ÀS CAPELANIAS ______________________________________________ 30
4.1. Princípios constitucionais __________________________________________________________ 30
4.2. Leis importantes para as capelanias __________________________________________________ 32
4.2.1. Lei Geral das Capelanias __________________________________________________________________ 32
4.2.2. Capelania nas Forças Armadas _____________________________________________________________ 35
4.2.3. Capelania e interesse público ______________________________________________________________ 36
INTRODUÇÃO
Talvez você nunca tenha ouvido o termo capelania, mas certamente conhece alguém
que já fez visitas em hospitais, escolas ou presídios para anunciar o Evangelho.
A capelania tem suas origens tanto na prática religiosa quanto na história das
instituições. O termo capelania vem do latim cappella, que significa pequena capa.
Inicialmente a capelania estava associada à capela ou ao local de culto em uma instituição,
como hospital, prisão, escola ou quartel. Os capelães eram os responsáveis por fornecer
assistência religiosa e apoio espiritual aos membros dessas instituições.
A capelania, como prática, remonta a tempos antigos, existindo evidências de capelães
em diversas culturas e religiões ao longo da história. No cristianismo, por exemplo, capelães
eram designados para prestar assistência espiritual a militares em tempos de guerra, enquanto
no contexto hospitalar surgiram religiosos para atender às necessidades espirituais dos doentes.
Com o tempo a capelania evoluiu para abranger uma variedade de áreas, incluindo
justiça, educação, parlamentos e empresas. Os capelães passaram a desempenhar um papel
mais amplo, fornecendo suporte emocional, aconselhamento e orientação espiritual não apenas
para os membros das instituições, mas também para suas famílias e as comunidades vizinhas.
Esse tipo de trabalho vem ganhando força em nossa geração a partir do envolvimento
de muitos cristãos. Membros de diversas denominações têm desempenhado papéis ativos em
lugares como hospitais, prisões, escolas, universidades, quartéis e asilos. Esses irmãos atendem
a pessoas com necessidades específicas, buscando demonstrar a misericórdia divina.
Apesar de a imensa maioria desse envolvimento ocorrer com extrema boa vontade e
desejo de servir a Deus, infelizmente existem poucos livros abordando de maneira abrangente
tanto a teoria quanto a prática da capelania. E, o que é ainda pior, mesmo os capelães
experientes não sabem lidar com questões jurídicas e não estão preparados para a maioria dos
desafios.
Depois de credenciar mais de 6.500 capelães em nosso Curso Completo [clique aqui
para saber mais] pude perceber quais são as suas maiores dificuldades, tanto na compreensão
teórica quanto na prática. Por isso decidi escrever esse livro, abordando os obstáculos gerais e
os dilemas éticos desse trabalho, e fornecendo uma gama de ferramentas e orientações que vão
contribuir para uma atuação cada vez mais eficaz do seu ministério, glorificando ao Senhor.
Espero que você esteja tão empolgado quanto eu para desbravar o mundo da capelania.
Nesse livro vamos explorar os aspectos essenciais dessa prática tão relevante, indo além do
simples evangelismo e adentrando em uma abordagem completa da assistência religiosa.
Vamos mergulhar em técnicas, estratégias e práticas eficazes que irão aprimorar sua
atuação como capelão. Falaremos sobre o discipulado, a gestão de conflitos, a preservação da
fé, e muito mais. Cada capítulo trará ideias valiosas para ajudar você a se tornar um capelão
ainda mais capacitado e impactante, alcançando a excelência em seu ministério.
Prepare-se para descobrir a essência da capelania e como ela pode transformar vidas de
forma significativa. Estou animado para compartilhar alguns longos anos de experiência com
você, e tenho certeza de que esse livro será um recurso valioso para auxiliá-lo em sua jornada
de servir e cuidar daqueles que precisam.
Meu desejo e minha oração é que a capelania avance cada vez mais em nosso país.
Que Deus te use como instrumento no cuidado de vidas! Que Ele te dê graça e sabedoria,
e te encha de poder!
Muitas pessoas confundem capelania com evangelismo. É bem verdade que o capelão
evangeliza, mas suas atividades não se resumem ao anúncio da Palavra de Deus buscando a
salvação dos perdidos. Isso porque vários dos nossos assistidos, nas mais diferentes áreas, já
creem em Cristo como Salvador pessoal; ou seja, é ilógico pensar na evangelização de quem
já recebeu a Cristo como Senhor.
Por isso é importante recorrermos ao que dizem as normas jurídicas. Nossa Constituição
da República de 1988, em seu artigo 5º, inciso VII, estabelece como um direito fundamental a
garantia, nos termos da lei, da “prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares
de internação coletiva”. Apesar de a Constituição utilizar o termo “assistência religiosa”,
muitos de nós nos referimos a essas atividades como capelania, seja no contexto prisional,
hospitalar ou militar.
Além disso, a Constituição determina que a assistência religiosa seja prestada
especificamente em “entidades civis e militares de internação coletiva”. O objetivo é de
oferecer apoio espiritual a indivíduos que, por diferentes motivos, não possam ter acesso por
si mesmos a atividades de natureza religiosa que se relacionem a seus interesses ou crenças.
Um caso ilustra bem o que quero dizer. Uma pessoa que está internada no hospital para
se tratar não pode simplesmente pedir ao médico para desligar os aparelhos, sair do hospital e
ir a um culto, uma missa ou uma reunião espírita, não é mesmo? Por isso é que um religioso –
o capelão – vai até o hospital.
Mas aí pode surgir uma dúvida: por que falamos em capelania empresarial, esportiva,
parlamentar ou escolar se, nesses locais, não existe essa internação coletiva de que fala a
Constituição?
Porque, mesmo ali, surgem situações em que a pessoa necessita de um apoio espiritual
que não lhe está imediatamente disponível. Exemplificando, há atletas que viajam
constantemente para participar de competições, bem como estudantes que, diante de desafios
ou impasses, sentem a necessidade de buscar esse suporte espiritual. Em tais circunstâncias a
capelania desempenha um papel crucial ao oferecer o amparo necessário.
Compreender essa definição nos prepara para explorar ainda mais os princípios e as
práticas da capelania ao longo desse livro. Agora que estabelecemos as bases, vamos
prosseguir em nossa jornada, prontos para aprofundar seu conhecimento e te capacitar ainda
mais para servir àqueles que necessitam.
Vamos juntos nesse caminho de amor, compaixão e esperança, seguindo os passos de
Jesus!
Precisamos reconhecer que ser um capelão de verdade não é uma tarefa fácil. Não estou
falando de pessoas que, lá uma vez ou outra, fazem visita em hospital ou ministram palestra
em escola, que buscam o reconhecimento humano como “autoridade eclesiástica”, ou que
desejam dar uma “carteirada” e impor as suas vontades.
Estou falando de homens e mulheres que realmente se dedicam para serem instrumentos
de deus para esse tempo: pessoas que estudam e se preparam – assim como VOCÊ, que
adquiriu esse livro –, que investem tempo para elaborar um projeto, visitar e cuidar de vidas!
Por isso, nesse capítulo vamos apresentar os principais desafios do capelão. Você
precisa saber que eles existem, e também se preparar para enfrentá-los na força do Senhor.
Vamos lá?
Por que você deseja ser um capelão? Antes de continuar sua leitura, pare um tempo e
responda a essa pergunta: sim, por que você deseja ser um capelão? Reflita, ore e busque a
direção de Deus!
Já dissemos que capelania não se confunde com evangelismo. Voltamos a afirmar, aqui,
ser indiscutível que o capelão desempenha um papel evangelístico, porém suas ações vão além
da proclamação da Palavra de Deus com o objetivo de salvação dos assistidos.
Por isso vamos te mostrar, agora, os cinco motivos bíblicos para que você se sinta
motivado a ser um capelão a partir da Palavra de Deus.
(1) Exercer a solidariedade humana: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1.27).
A dignidade humana é um valor fundamental que encontra sua base na Bíblia Sagrada.
Desde o livro do Gênesis somos ensinados que Deus criou o ser humano à sua própria imagem
e semelhança, conferindo a nós um valor intrínseco e inalienável. Isso significa que a dignidade
faz parte da nossa essência, e que não pode ser vendida a outra pessoa.
Ao longo das Escrituras encontramos diversos ensinamentos que destacam a
importância e a sacralidade da vida humana. O próprio Jesus Cristo, em seus ensinamentos e
ações, ressaltou a dignidade de cada indivíduo, demonstrando amor, compaixão e respeito por
todas as pessoas, independentemente de sua origem, status na sociedade ou histórico pessoal.
Assim, a Bíblia nos recorda constantemente o valor inestimável da pessoa humana e nos
chama a tratar uns aos outros com dignidade, honra e respeito, refletindo o amor e a bondade
de Deus.
(2) Cuidar dos irmãos em Cristo: “De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem
com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam” (1 Coríntios 12.26).
A Bíblia nos orienta sobre a importância do cuidado mútuo entre os irmãos em Cristo.
Somos instruídos a amar uns aos outros como a nós mesmos, e a carregar os fardos uns dos
outros.
O apóstolo Paulo, em suas cartas, exorta a igreja a ser um corpo unido, onde cada
membro zela pelo bem-estar espiritual, emocional e físico dos demais. Além disso, somos
estimulados a encorajar, consolar, perdoar e edificar uns aos outros, a fim de promover a união
e o crescimento mútuo na fé. Jesus Cristo, como exemplo máximo de amor e de cuidado, lavou
os pés dos discípulos, demonstrando humildade e servidão.
Portanto, a Bíblia nos recorda constantemente do chamado para cuidarmos dos irmãos
em Cristo, nutrindo relacionamentos saudáveis, oferecendo apoio e encorajamento, e provendo
cuidado integral. Tudo como expressão concreta do amor de Deus em nossa comunidade de
fé.
A Palavra de Deus nos instrui sobre como viver de acordo com os propósitos divinos,
nos desafiando a abandonar padrões de comportamento prejudiciais e nos orientando a adotar
uma postura de humildade, perdão, bondade e generosidade. E essa mudança de
comportamento pode acontecer mesmo se a pessoa não receber a Cristo como Salvador.
Ainda que essas novas ações, espiritualmente, não passem de um “trapo de imundícia”
(Isaías 64.6), já que não estão alicerçadas em um coração grato a Deus, revelam o poder da
Palavra em mudar atitudes.
(4) Lutar pela efetivação da justiça: “O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça,
repouso e segurança, para sempre” (Isaías 32.17).
A Palavra de Deus fala sobre a busca pela justiça, inclusive a justiça social, através da
denúncia profética. Muitos profetas, inspirados pelo Espírito Santo, confrontaram as injustiças
sociais, a opressão dos vulneráveis e a exploração dos menos favorecidos.
A Bíblia nos convoca a agir em prol da justiça, a defender os direitos dos oprimidos.
Ela nos lembra constantemente da responsabilidade que temos como cristãos de promover a
compaixão e de buscar o bem-estar coletivo. A denúncia profética presente nas Escrituras nos
encoraja a enfrentar questões sociais, econômicas e políticas que perpetuam a desigualdade e
a opressão. Seguindo o exemplo de Jesus Cristo, devemos dedicar nossas vidas para trazermos
libertação e restauração para as pessoas, inclusive as marginalizadas.
Assim, a Bíblia nos capacita para sermos agentes de mudança em nossa sociedade,
guiados pelo princípio da justiça divina e inspirados pela mensagem de amor e redenção que
Ela nos traz.
(5) Evangelizar: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda
criatura” (Marcos 16.15).
É dever de todo cristão evangelizar e compartilhar a mensagem de salvação em Jesus
Cristo. A Bíblia nos ensina que o amor de Deus por toda a humanidade é tão profundo que Ele
enviou Seu Filho para que todo aquele que nEle crer tenha vida eterna (João 3.16).
Essa grande notícia do Evangelho não deve ser mantida em segredo, mas precisa ser
proclamada a todas as nações. A Palavra nos encoraja a sermos testemunhas de Cristo, a
compartilharmos o Seu amor e a convidarmos as pessoas a se reconciliarem com Deus. O
mandamento de Jesus para fazermos discípulos de todas as nações é uma responsabilidade que
cada cristão deve assumir, pois o evangelismo é a expressão prática do nosso compromisso
com Deus e com o próximo.
À luz da Bíblia somos chamados para levar a mensagem de esperança, transformação e
perdão a todos, a fim de que mais pessoas possam experimentar o amor e a graça salvadora de
Deus.
Com esses cinco motivos queremos que você perceba que a evangelização também faz
parte do trabalho de capelania. Não estamos dizendo que o anúncio do Evangelho tem menos
importância, mas apenas que nossos olhos precisam estar abertos à realidade que nos cerca.
Diante de todas essas considerações, é essencial avaliar o que te motiva a exercer a
capelania. Busque na Palavra de Deus a orientação do Senhor para o caminho que deseja trilhar.
Encontre nas causas bíblicas a inspiração e o propósito que impulsionarão seu serviço como
capelão.
Que suas motivações estejam enraizadas nas verdades e princípios divinos, guiando-o
em cada passo do seu percurso. Que a Palavra de Deus seja a luz que ilumina sua jornada. Que
Ela te capacite a impactar vidas de forma significativa.
O mundo hoje está cada vez mais plural em termos religiosos. Apesar de o Brasil ainda
ser um país com maioria cristã (católicos ou evangélicos), existem várias pessoas adeptas de
outras matrizes, como espíritas e umbandistas. Mas há alguns detalhes importantes.
O primeiro deles está no ecumenismo. Esse é um movimento que surgiu no interior do
cristianismo, reconhecendo a diversidade de crenças, práticas e tradições presentes nas várias
denominações. A ideia inicial era superar as divisões históricas e promover o diálogo e a
colaboração em prol de objetivos comuns, mas atualmente o conceito tomou outras proporções,
divulgando a união de todas as religiões.
Numa tentativa de juntar todos sob um mesmo propósito, como a busca pela paz ou a
luta por justiça social, as questões essenciais à fé genuína acabaram sendo deixadas de lado.
Um sujeito ecumênico tende a relativizar os ensinamentos bíblicos, considerando, por
exemplo, que a salvação não ocorre exclusivamente pela fé em Cristo. Ou seja, no ecumenismo
a fé do umbandista passa a ser vista com a mesma validade, a mesma igualdade, que a fé do
cristão.
A partir disso surgem mais dois elementos: sincretismo e dupla pertença. O sincretismo
é uma perspectiva religiosa que busca a combinação de crenças de diversas tradições, mesmo
que elas não sejam logicamente compatíveis. Por exemplo, uma pessoa pode se identificar
como seguidora de Jesus Cristo (cristianismo), acreditar na reencarnação (espiritismo) e
frequentar regularmente um templo budista para meditação. Embora essas três perspectivas
sejam mutuamente excludentes, a pessoa, impulsionada pelo pluralismo e pelas escolhas que
melhor se adequam às suas próprias experiências e pensamentos, opta por viver de acordo com
essa combinação de religiões.
Entenda isso: a pessoa sincrética não busca uma lógica religiosa; apenas faz
combinações para satisfazer a si mesma.
Ou seja, a pessoa do exemplo acima pode se identificar como membro de uma igreja
evangélica, mas acreditar em toda aquela mistura. Portanto, se você perguntar a ela “Qual é a
sua religião?”, a pessoa vai simplesmente responder que é “evangélica”. Se considerarmos essa
informação suficiente, corremos o risco de não perceber a combinação das crenças que ela
possui.
Essa abordagem sincrética pode se manifestar, ou não, no que chamamos de dupla
pertença. Ao invés de responder que é “evangélica”, a pessoa pode dizer que é “espírita e
budista”, “cristã e budista”, “católica e espírita”... Dizendo de outro modo, a dupla pertença
ocorre quando a pessoa se diz adepta de mais de uma vertente religiosa.
Toda essa lógica de ecumenismo, sincretismo e dupla pertença pode parecer estranha a
nós, mas tem se tornado cada vez mais frequente.
Você se lembra dos católicos não praticantes? Aqueles indivíduos que se dizem
católicos, mas na verdade só aparecem na igreja, quando muito, para se casar, batizar os filhos
e ir à missa de sétimo dia de um parente que faleceu? Pois é. Por incrível que pareça essa
mesma ideia tem acontecido dentro do próprio ambiente evangélico. E eu posso provar.
Os Censos do IBGE nos mostram um crescimento no número dos evangélicos não
determinados: em 2010 eles eram 21,8% dos que se diziam evangélicos, e 4,8% da população
brasileira, número que superou o de protestantes históricos.
Não sei se a informação te assusta, mas isso quer dizer que 1 em cada 5 pessoas que se
dizem “crentes” não se encontram filiadas a qualquer igreja ou denominação. Teologicamente
nomeadas como desigrejadas, elas sequer se recordam de Deus na maior parte do tempo.
Tudo isso nos mostra o quanto é desafiador trabalharmos nesse contexto de diversidade
religiosa. Não podemos simplesmente acreditar nas primeiras palavras de “sou crente”, “sou
ateu”, “sou espírita” ou “creio em Deus”.
O capelão precisa ir mais a fundo para compreender em que, de fato, seu assistido crê e
confia. Isso pode levar minutos ou meses, a depender da situação e da sinceridade de quem
conversamos. E exige de nós, capelães, um trabalho contínuo, muitas vezes envolvido no
discipulado.
Que o Espírito Santo nos use como instrumento para que a verdadeira face do Evangelho
seja apresentada com fidelidade às Escrituras!
Você se recorda que há alguns anos, na geração dos nossos pais e avós, a família era
considerada somente a partir da união de um homem e uma mulher? Se lembra que o ato sexual
deveria ser reservado apenas para depois do casamento? Pois é. Infelizmente o pensamento
mundano fez com que o sexo precoce fosse considerado “normal”, e isso tem entrado no meio
do povo de Deus.
Além do pecado, a ideia de que a religião não tem mais importância, de que ela não
precisa mais influenciar a vida das pessoas, vem do que se convencionou chamar de
secularização. É como se a religião perdesse a força de ditar os rumos da sociedade. O nome
de Deus quase não poderia ser pronunciado no espaço público, ficando reservado – quando
muito – para dentro das casas e das igrejas.
Tudo isso nos traz a razão pela qual os cristãos sofrem tanto preconceito. É comum
observarmos uma tendência em considerar “moderno” ou “politicamente correto” ser adepto
do budismo, do ateísmo ou do espiritismo. Por outro lado, os cristãos são frequentemente
rotulados como homofóbicos, conservadores ou fanáticos. Percebemos isso em um rápido
olhar nas manchetes dos jornais, nos artigos acadêmicos...
Você já parou para pensar que o capelão atua, essencialmente, com o sofrimento das
pessoas? E isso acontece nas mais diferentes áreas.
Ao fornecer um espaço seguro para que seu assistido expresse suas preocupações e
busque consolo espiritual, os capelães desempenham uma função importantíssima no caminho
de cura e transformação das pessoas em situações de sofrimento.
No mais, tenha um mentor, ou conselheiro externo, para que você, capelão, fale sobre
suas próprias lutas e dificuldades. Como profissional que atua no suporte emocional e espiritual
de pessoas, o capelão também precisa cuidar de sua saúde mental e de seu bem-estar. Ter
alguém em quem confiar, alguém com experiência e sabedoria para ser orientado e
aconselhado, proporciona um suporte essencial para lidar com os desafios pessoais e
profissionais.
Um mentor ou conselheiro externo pode oferecer uma perspectiva imparcial, auxiliar
na reflexão sobre questões particulares, e encorajar no desenvolvimento de habilidades de
autorreflexão. Essa mentoria permite que o capelão tenha um espaço preservado para discutir
suas próprias lutas, dúvidas e inseguranças, buscando apoio e orientação para enfrentar os
desafios que possam surgir em seu trabalho.
Esse mentor pode ser o pastor-presidente da sua igreja, ou mesmo algum outro líder em
quem você confie. Essa escolha precisa ser baseada na confiança mútua e na disponibilidade
da pessoa em assumir esse papel de cuidado. Recomendamos que, já antes de iniciar seu
projeto, você procure esse líder e dê início à relação.
A vida espiritual do capelão é essencial em seu trabalho e, por isso, merece um tópico
exclusivo para falarmos desse cuidado consigo mesmo. Cultivar uma espiritualidade sólida
implica em fortalecer sua própria fé, buscando um relacionamento íntimo com Deus. Essa
conexão profunda permite ao capelão encontrar suporte, orientação e força nas horas em que
ele próprio enfrenta desafios.
Buscar apoio em sua igreja é um aspecto importante desse cuidado com a própria vida.
Participar de estudos bíblicos, grupos de oração ou qualquer outra atividade que promova o
crescimento espiritual e o encontro com outros crentes oferece um senso de pertencimento e
apoio. Esses momentos de comunhão e compartilhamento de experiências podem renovar a fé
do capelão e proporcionar um espaço saudável para ele expressar suas próprias necessidades e
receber encorajamento.
Além disso, o capelão pode buscar recursos espirituais que alimentem sua fé e seu
conhecimento. Isso envolve a leitura bíblica e de livros inspiradores, bem como reflexões
devocionais e a prática constante da oração. Ao revigorar sua própria fé, o capelão fortalece
sua base espiritual, que serve como uma bússola nas situações de sofrimento e permite que ele
transmita esperança e conforto aos outros de maneira autêntica.
Portanto, a nutrição da vida espiritual do capelão é necessária para seu próprio bem-
estar e para sua capacidade de oferecer apoio e conforto aos outros. É um processo contínuo
de conexão, de crescimento e de fortalecimento da fé, que permite ao capelão se manter firme
em sua missão de aliviar o sofrimento humano e promover a esperança e a cura da alma.
Em todos esses anos em que trabalhamos a formação de capelães, com mais de 6.500
alunos em nosso Curso Completo [saiba mais], em várias oportunidades ouvimos a seguinte
pergunta: se eu quero trabalhar apenas na capelania hospitalar, por que preciso fazer um curso
completo, que abrange outros segmentos? A resposta é simples.
No hospital você vai encontrar um detento internado, um militar que visita a mãe
enferma, uma criança que não está conseguindo ir às aulas, um empresário com dificuldades
de administrar a empresa... Apesar de cada área da capelania compreender suas
particularidades (você vai ver isso ainda nesse livro), uma formação completa permite que o
capelão atue com muito mais segurança.
Ao contar com uma capacitação ampla, o capelão adquire ferramentas essenciais para
lidar com situações complexas e desafiadoras. Ele aprende a aplicar princípios éticos e
3. DILEMAS ÉTICOS
O Evangelho é uma péssima notícia para aqueles que não aceitam a Cristo como Salvador, já
que receberão o julgamento divino e a condenação eterna. Do mesmo modo, a Palavra de Deus
é absoluta e deve ser aplicada em todas as épocas, em todos os contextos.
Isso porque a ética cristã encontra sua base sólida na Palavra do Senhor, que é nossa
única autoridade para fé e conduta. É por meio das Escrituras que compreendemos os desejos
de Deus para nossas vidas e recebemos orientação sobre as atitudes que Ele espera de nós. A
Palavra nos revela os princípios morais e éticos que devemos seguir, servindo como um guia
seguro para nossas decisões e ações. Ao nos submetermos à Sua autoridade, buscamos viver
uma vida em conformidade com a vontade divina e refletir os valores do Reino de Deus em
nosso comportamento. A ética cristã, portanto, encontra sua fundamentação na verdade
imutável revelada pelo Senhor em Sua Palavra.
Na capelania surge um desafio frequente quando nem todos estão dispostos a aceitar as
diretrizes éticas fundamentadas na Palavra de Deus, que são válidas para suas vidas. Isso pode
levar a conflitos inevitáveis, onde assistidos rejeitam respostas embasadas na Bíblia e reagem
de forma desrespeitosa, inclusive com agressões verbais e físicas.
É importante que o capelão esteja preparado para lidar com essas situações delicadas,
mantendo sua postura ética e buscando o diálogo respeitoso, mesmo diante de discordâncias
ou reações negativas. A perseverança na aplicação dos princípios bíblicos, aliada à sabedoria
e ao amor ao próximo, pode contribuir para superar esses desafios e promover um ambiente de
cuidado e transformação.
que for boa para edificação, conforme a necessidade, e assim transmita graça aos que ouvem”
(Efésios 4.29).
Precisamos transmitir graça por meio de palavras edificantes, de acordo com a
necessidade de cada pessoa. Ao cultivarmos relacionamentos pautados na ética e na graça,
podemos promover um ambiente de respeito e de crescimento mútuos, independentemente das
diferenças de pensamento.
Além disso, como capelão, é importante que você zele não apenas pelos assistidos, mas
também por seus familiares, pelos agentes e funcionários da instituição onde atua, e por toda
a equipe de capelania.
Não permita que divergências comprometam o trabalho que você realiza. e evite discutir
publicamente. Caso haja algum desentendimento, busque conversar de forma reservada, sem
expor o irmão, seguindo a orientação presente em Mateus 18.15-17. Ao agir dessa forma você
contribui para a construção de um ambiente saudável, onde as relações são preservadas e o
trabalho em equipe é fortalecido.
1) O(A) ACONSELHANDO(A) declara que, por livre e espontânea vontade, participará das
sessões de aconselhamento, estando ciente de que toda conversa deverá ser mantida sob sigilo
por ambas as partes.
2) O(A) CONSELHEIRO(A) enfatiza que o sigilo acima indicado poderá ser suspenso quando
for narrada, pelo(a) ACONSELHANDO(A), ____[aqui você escreverá os casos de suspensão
do sigilo, tais como: violação de norma penal ou civil (passada ou futura), inclinação para a
ocorrência de mal futuro para si ou para outrem, atentado contra a vida ou a honra de outrem,
bem como infração às Escrituras nos casos em que haja a necessidade de instauração de
disciplina eclesiástica]___.
3) As partes garantem que os dados acima informados não serão revelados a terceiros, exceto
nas situações autorizadas pela Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº 13.709/2018) e em
normas correlatas.
___________________________ _________________________
CONSELHEIRO(A) ACONSELHANDO(A)
Nesse capítulo vamos estudar o conjunto de normas e princípios legais que regem a
atuação dos capelães nas diversas áreas, como saúde, segurança, educação e instituições
penitenciárias. A capelania, enquanto serviço religioso e de assistência espiritual, exige o
conhecimento e a aplicação adequada das leis e regulamentos pertinentes a cada contexto
específico.
Nesse sentido, é fundamental que os capelães estejam familiarizados com os direitos e
deveres que envolvem sua prática. Procure sempre agir de acordo com as normas estabelecidas,
garantindo, assim, a proteção dos direitos individuais e a promoção do bem-estar das pessoas
assistidas.
Lembra que comentamos sobre o sincretismo religioso e a dupla pertença? Isso significa
que um católico pode acender velas e rezar o terço diante de imagens, enquanto outro pode não
fazer; do mesmo modo, um indivíduo pode se dizer espírita, mas não acreditar em reencarnação
e frequentar reuniões budistas aos finais de semana. Toda essa mistura, mesmo que não tenha
lógica racional, é garantida pela liberdade religiosa.
Outro aspecto muito importante dessa liberdade é garantir que as pessoas não sejam
obrigadas ou constrangidas a ouvir um anúncio de fé, inclusive na dimensão da capelania. Ou
seja, ninguém deve ser forçado a participar de atividades religiosas ou de cerimônias sem seu
próprio consentimento. Nossos assistidos na capelania têm o direito de não serem pressionados
a comparecer a qualquer programa religioso, como receber orações, ungir-se com óleo ou ir
até a capela para estar em um culto.
Mas esse respeito à crença dos outros não implica em proibição de compartilharmos
nossa fé com as pessoas. Embora não possamos forçar a conversão de ninguém, temos o direito
de apresentar argumentos sobre o que e por que acreditamos. Afinal, à luz dos princípios
bíblicos, somos incentivados a estar preparados para dar razão da nossa esperança a todos que
nos questionarem, tendo em Jesus Cristo a base dessa esperança (1 Pedro 3.15). Portanto,
anunciar a Cristo através da capelania é legítimo e encorajador.
Enquanto cristãos, temos o direito de discordar de outras crenças, tudo sem chegar ao
limite da agressão. Podemos expressar nossas convicções sobre a suficiência de Cristo para a
salvação, questionar a lógica da reencarnação ou destacar a incoerência do ateísmo diante da
profundidade e da beleza do universo. No entanto, devemos exercer cautela ao evitar
generalizações negativas, como associar todos os muçulmanos ao terrorismo, rotular todos os
ateus como criminosos ou incentivar a destruição de imagens católicas ou a agressão a terreiros
de umbanda.
Lembre-se: você não está na capelania para “massagear o ego” das pessoas ou para
satisfazer seus desejos. Seu papel é transmitir a mensagem de Deus e compartilhar a verdade
encontrada em Sua Palavra. Esteja preparado para ser um instrumento de transformação na
vida daqueles que você atende, trazendo conforto, orientação e esperança com base nos
ensinamentos divinos.
Vimos acima que nossa Constituição, em seu art. 5º, inciso VII, dispõe que “é
assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares
de internação coletiva”.
Mas que leis regulam a capelania nesses locais de “internação coletiva”? E qual o
fundamento jurídico para demais áreas da capelania, como escolar, universitária, parlamentar
e com dependentes químicos? É o que veremos a partir de agora.
A Lei nº 9.982/2000 é a norma conhecida como Lei Geral das Capelanias. Toda a
regulamentação básica da assistência religiosa, no âmbito federal, é feita através dela. Por isso
vamos detalhar cada parte dessa lei. Fique atento e preste bastante atenção, pois aqui você vai
encontrar o ouro capaz de solucionar a imensa maioria dos seus problemas jurídicos na
capelania.
O caput do art. 1º diz: “Aos religiosos de todas as confissões assegura-se o acesso aos
hospitais da rede pública ou privada, bem como aos estabelecimentos prisionais civis ou
militares, para dar atendimento religioso aos internados, desde que em comum acordo com
estes, ou com seus familiares no caso de doentes que já não mais estejam no gozo de suas
faculdades mentais.”
Em primeiro lugar, reforçamos que a capelania não é exclusiva dos cristãos, estando
aberta a todas as matrizes religiosas, ou, nos termos da lei, a “todas as confissões”. Além disso,
a ideia de “comum acordo” aparece por conta do respeito à liberdade religiosa, conforme já
explicamos nesse livro. Repetindo: não podemos impor aos assistidos qualquer tipo de visita
religiosa que não seja desejada.
Em segundo lugar, perceba que a lei garante o acesso, isso mesmo, dá como certa a
entrada do capelão, tanto em hospitais públicos e particulares, quanto em presídios civis e
militares.
O parágrafo único desse art. 1º foi vetado (ou seja, essa parte não está na lei, não vale),
mas é importante transcrevê-lo: “A prestação de assistência religiosa não será permitida se, a
juízo das entidades supra-referidas, houver risco à vida ou à saúde do interno ou do religioso.”
O veto foi importante porque não cabe exclusivamente aos estabelecimentos prisionais
ou hospitalares alegar risco à vida ou à saúde dos envolvidos sem a devida comprovação. A
uma, porque qualquer eventual perigo deve ser demonstrado de forma concreta e embasada em
evidências. A duas, porque mesmo diante de riscos comprovados, como uma rebelião em
presídios ou uma contaminação hospitalar, existem situações em que a urgência no
atendimento pode superar esses obstáculos. Vale ressaltar que há casos em que agentes
religiosos são convocados às prisões para intermediar o diálogo durante motins e rebeliões,
demonstrando a importância da capelania nessas circunstâncias desafiadoras.
Já o art. 2º aponta o seguinte: “Os religiosos chamados a prestar assistência nas
entidades definidas no art. 1º deverão, em suas atividades, acatar as determinações legais e
normas internas de cada instituição hospitalar ou penal, a fim de não pôr em risco as condições
do paciente ou a segurança do ambiente hospitalar ou prisional.”
A interpretação desse dispositivo pode apresentar desafios significativos para as
capelanias, uma vez que concede à direção dos estabelecimentos a prerrogativa de estabelecer
“normas internas” que, por vezes, restringem o exercício da assistência religiosa. Essas normas
podem acabar criando obstáculos e limitações para a atuação dos capelães, comprometendo a
liberdade religiosa dos assistidos. Por isso, é necessário estar atento a essas restrições e buscar
diálogo e negociação com as autoridades responsáveis, a fim de garantir o pleno exercício da
capelania e o respeito aos direitos religiosos dos indivíduos envolvidos.
Nessa linha, é compreensível que os capelães devam obedecer às regras internas dos
estabelecimentos, pois esses ambientes requerem medidas para garantir a segurança, como a
prevenção de infecções em hospitais ou de atos de rebelião em presídios. No entanto, é
importante definir os limites dessas regulamentações: restrições excessivas à liberdade de
expressão religiosa, que tornem sua prática inoperante ou ineficiente, devem ser eliminadas.
É necessário, portanto, estabelecer diretrizes claras que permitam aos capelães realizar
seu trabalho de assistência religiosa da forma adequada, respeitando as necessidades espirituais
dos assistidos, enquanto se mantém o equilíbrio com as medidas de segurança estabelecidas
pelas instituições. Mais uma vez, a busca por um entendimento mútuo e colaborativo entre as
partes envolvidas é essencial para garantir o exercício pleno da capelania sem comprometer a
ordem nos estabelecimentos.
Justamente por isso é que o art. 3º também foi vetado. Ele dispunha o seguinte: “A todo
interno nos estabelecimentos citados no art. 1º é assegurado o direito de receber, no mínimo,
uma visita semanal de religiosos da confissão religiosa que professe.”
O veto era justificável porque a norma não pode proibir que o paciente ou o detento
deseje receber a visita de representantes de qualquer religião. É responsabilidade do assistido
escolher a orientação religiosa à qual deseja ter acesso, de acordo com suas preferências e
necessidades pessoais, independentemente de professar aquela fé ou não.
Só que o veto aconteceu por outro motivo: as limitações de visitas. O fundamento foi o
seguinte: “A periodicidade das visitas – sempre observado o princípio da razoabilidade – é
matéria a ser disciplinada pelos órgãos locais, atendendo às suas peculiaridades, bem assim
aos usos e costumes regionais. Além do mais, há que distinguir estabelecimentos prisionais e
estabelecimentos hospitalares, os quais não ensejam – pela disparidade da natureza de um e de
outro – o mesmo substrato normativo. Daí a inconveniência de submeter ambos a um igual
mínimo de visitas, afora a plausibilidade do mínimo transmudar-se em um desarrazoado
máximo.”
Nada mais justo. É compreensível que os capelães não possam permanecer de forma
contínua e ininterrupta nas instituições, pois isso poderia afetar o funcionamento adequado de
suas atividades internas. No entanto, é igualmente sem sentido restringir a assistência religiosa
a apenas um ou dois dias da semana, durante um curto período de tempo, especialmente
considerando a superlotação desses ambientes (sejam prisões ou unidades de saúde).
É desejável que o bom senso oriente tanto os capelães quanto as autoridades,
priorizando sempre a garantia efetiva do direito fundamental das pessoas à assistência
religiosa.
Apesar do veto, é lamentável constatar que, na maioria das instituições, cada igreja ou
capelão possui acesso apenas uma vez por semana, e geralmente por um tempo limitado de
menos de duas horas. Nessas circunstâncias, torna-se praticamente impossível oferecer
assistência a todos os internos interessados, e é ainda mais difícil estabelecer um diálogo com
a qualidade que deveria ocorrer.
Afinal, o papel do capelão não se limita apenas a transmitir uma mensagem, mas
também envolve ouvir atentamente os internos, compreendendo suas angústias e expectativas.
É fundamental buscarmos soluções que ampliem o acesso à assistência religiosa, permitindo
um diálogo significativo e acolhedor entre os capelães e os assistidos.
candidatos são analisados não apenas em suas habilidades teóricas e seus conhecimentos
específicos da área religiosa, mas também nas aptidões para lidar com situações desafiadoras
e atuar em um ambiente militar.
Além disso, os concursos para capelães militares priorizam a busca por profissionais
comprometidos com os valores éticos e morais das Forças Armadas, capazes de fornecer
suporte espiritual e emocional aos membros das tropas em momentos de dificuldade e de
conflito. As seleções exigem dos candidatos um profundo conhecimento teológico, além de
competências de liderança, comunicação e resiliência. Tais concursos representam uma
oportunidade significativa para indivíduos que desejam servir a Deus e ao seu país.
Mesmo diante de todos os fundamentos jurídicos que vimos até aqui, pode acontecer de
o capelão encontrar dificuldades na realização dos seus trabalhos. Nesses casos, o que fazer?
O primeiro passo é a comunicação. O capelão deve estabelecer um diálogo aberto e
construtivo com as autoridades ou gestores responsáveis pela instituição em que atua. Explicar
as dificuldades que está enfrentando e buscar soluções em conjunto – inclusive indicando os
pontos da legislação – pode ajudar a superar obstáculos e garantir a efetivação do seu trabalho.
Lembre-se que a ideia não é “dar carteirada”, mas conciliar os direitos e os deveres de ambos.
Via de regra, apenas esse primeiro passo é suficiente.
Caso não seja, passamos a conversa para a Secretaria (Municipal, Estadual ou Federal)
relacionada a cada área. Por exemplo, se o capelão atua em um hospital municipal, deve
procurar a Ouvidoria da Secretaria Municipal de Saúde; se trabalha em um presídio estadual,
busque a Ouvidoria da Secretaria Estadual de Segurança Pública.
Se mesmo assim você não obtiver sucesso em ver cumprida a lei, nossa orientação é se
direcionar ao Ministério Público (MP). Você fará uma denúncia de que a legislação referente
à assistência religiosa não está sendo cumprida. O MP, então, abrirá um procedimento
administrativo para apurar sua denúncia e, sendo necessário, firmará um Termo de Ajustamento
de Conduta (TAC) com a instituição, ou até mesmo irá propor uma ação judicial.
Você também pode, de forma particular, contratar um advogado para ingressar no
Judiciário e ver garantidos os seus direitos. Sugiro que você procure por um advogado
especialista em Direito Religioso, ou seja, alguém que estudou a fundo as questões que
envolvem a liberdade religiosa. Em nosso site [acesse aqui] você encontra o contato dos alunos
ativos do nosso curso Direito Religioso na Prática, que estão sempre atualizados nessa matéria.
Em qualquer caso, é importante que o capelão mantenha uma postura ética, respeitosa
e profissional, buscando sempre conciliar seus princípios religiosos com o respeito às normas
e aos regulamentos da instituição em que atua. O diálogo, a persistência e o compromisso em
servir aos outros são fundamentais para superar as dificuldades e continuar desempenhando
um trabalho significativo na capelania.
Já vimos que o capelão, como regra, deve guardar em sigilo os fatos e as circunstâncias
que tomou conhecimento em razão do trabalho de assistência religiosa. Em alguns casos,
porém, o assistido ou a instituição podem indicar o capelão como testemunha em um processo
judicial.
O que você deve fazer? Como se comportar diante do juiz?
justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e
cuja revelação possa produzir dano a outrem”.
A justa causa, que faz não existir o crime, nos faz lembrar do que afirmamos acima
sobre os casos de suspensão do sigilo, especialmente quando informados, antes, ao assistido.
A título de exemplo, não existirá o delito do art. 154 se a divulgação puder inocentar terceiro
de uma prática criminosa, ou quando denunciar o assistido que declarou que cometeu ou
pretende cometer um delito.
Ainda, damos o exemplo de uma pessoa que se dirige ao capelão e expressa a intenção
de tirar a própria vida. O capelão pode entender que a preservação da vida é algo essencial para
a existência e a fruição de todos os demais direitos, além de inerente à sua crença. Nesse caso
poderia revelar a intenção suicida do indivíduo às autoridades.
Seja como for, não é justa causa o fato de o capelão, portador do sigilo, ter sido intimado
para depor. Em quaisquer dos processos – civil, trabalhista ou penal –, antes de responder às
perguntas do magistrado, você deve, quando for qualificado, informar que atuou como capelão
no caso e que, por isso, vai se valer do que consagra a norma processual.
Em conclusão, fica evidente que o depoimento testemunhal dos capelães apresenta
particularidades em relação à proteção de privacidade das informações obtidas no exercício do
seu ministério. Fique atento aos detalhes acima, e tome muito cuidado para não cometer o
crime do art. 154 do Código Penal.
5.1. Literatura
Existem vários livros que abordam temas teológicos, éticos, psicológicos e pastorais,
oferecendo conhecimentos valiosos sobre questões religiosas, espirituais e emocionais que os
assistidos enfrentam.
Por meio da leitura o capelão pode se aprofundar em assuntos como aconselhamento
pastoral, ética, teologia pastoral, psicologia da religião, luto, perdão e outros tópicos relevantes
para o cuidado. Muitos desses livros não apenas fornecem conhecimento teórico, mas também
compartilham experiências práticas e estudos de caso, permitindo que o capelão expanda sua
compreensão e adquira novas perspectivas sobre como lidar em diversas situações.
Além disso, os livros podem servir como fonte de inspiração e encorajamento tanto para
o capelão quanto para os assistidos. Por meio das narrativas de pessoas que superaram desafios,
encontraram esperança em momentos difíceis ou experimentaram uma profunda
transformação espiritual, os livros podem fornecer histórias inspiradoras que dialogam com as
experiências e as necessidades do nosso público.
De todos os livros recomendados para o capelão, o principal deles é a Bíblia Sagrada.
Ela precisa estar em suas mãos, na sua mente e no seu coração! Em muitas oportunidades,
inclusive, você vai presentear seus assistidos com a Palavra de Deus, seja na sua versão
completa, seja em Novos Testamentos ou nos Evangelhos.
A Sociedade Bíblica do Brasil [saiba mais] é a responsável pela imensa maioria da
produção de bíblias em nosso país. Sugerimos que você utilize a Nova Tradução da Linguagem
de Hoje, uma tradução em que o sentido do texto é dado em palavras e formas do português
falado atualmente no Brasil. Por usar uma linguagem simples e clara, é perfeita para o trabalho
de capelania e para o evangelismo pessoal, facilitando a compreensão do leitor.
Outra questão importante se refere ao tamanho das letras. Prefira letras maiores, que
ajudam a leitura. Lembre-se que, muitas vezes, seu assistido estará enfermo ou preso, situações
que normalmente reduzem a capacidade de leitura; ou estará com pouca idade, na escola; ou
pode ser pouco alfabetizado... Em todos esses casos uma letra pequena dificultará ainda mais
o entendimento do texto bíblico.
Para além da Bíblia, existem excelentes materiais complementares, com assuntos que
tratam diretamente com um público-alvo específico. As indicações abaixo podem – e devem –
ser usadas com seus assistidos, e todas elas foram produzidas pela Sociedade Bíblica do Brasil
[conheça aqui]. Esses livretos têm um custo bastante reduzido, e alguns deles podem ser
baixados gratuitamente no site da SBB [aproveite agora].
a) Hospitalar: “Salmos para enfermos”, “No leito da enfermidade” e “Cuidando de
quem cuida”;
b) Prisional: “A verdade os libertará” – tenho a honra de ser o autor desses devocionais,
que inclusive já foram traduzidos para o espanhol e são distribuídos em presídios espalhados
por toda a América Latina;
c) Escolar: “Não morda a isca”, “Ser amigos”, “GPS: encontre a sua vocação”, “Valores
para a vida em mangá” e todos os livros da série “Estudando com a Bíblia”;
d) com Migrantes: “Histórias de migrantes da Bíblia”; e
e) com Dependentes Químicos: “De volta para Deus”, “Um dia de cada vez” e “Bíblia
Sagrada: celebrando a recuperação”.
família, use “Famílias por um fio” e “Deus fala à família”. Se o seu assistido está passando por
momentos de solidão ou de depressão, indicamos “Razões para não desistir”. E se você precisa
de histórias de superação, use “Força para vencer”.
Finalmente, para a área Militar, o Ministério Pão Diário [acesse o site] tem produzido
uma série de devocionais escritos por militares cristãos e voltados para esse público. São
recomendados tanto para a distribuição na caserna quanto para que o capelão extraia dali vários
temas a fim de refletir junto com os militares.
Mergulhe nesses livros e permita que eles inspirem e fortaleçam o seu serviço aos que
necessitam de apoio espiritual e emocional.
5.2. Música
Percebe como essas músicas falam diretamente sobre as necessidades de quem está
preso? O detento não “vê a luz do dia”, precisa de um advogado e pede que o juiz marque sua
audiência.
Escrevendo de outro modo: as músicas têm o poder de transmitir e refletir uma teologia
específica. As letras das músicas podem expressar crenças, valores e experiências espirituais,
oferecendo uma forma de comunicação e de conexão com os assistidos.
Ou seja, a escolha das canções certas é fundamental para transmitir uma mensagem
coerente com a fé e os princípios religiosos do capelão, além de proporcionar conforto,
5.3. Filmes
No entanto, é importante destacar que a escolha dos filmes e vídeos na capelania deve
ser feita com sabedoria e discernimento. É fundamental considerar os valores e os princípios
bíblicos, bem como a sensibilidade e a diversidade daqueles que serão alcançados. O capelão
precisa selecionar conteúdos que sejam compatíveis com a fé cristã, evitando qualquer material
que possa ser ofensivo, contraditório ou prejudicial ao processo de crescimento espiritual. O
objetivo final é utilizar essas ferramentas para promover a edificação, o fortalecimento da fé e
o bem-estar emocional dos assistidos.
Considerando isso, vou deixar aqui algumas sugestões de filmes que abordam temas
específicos:
a) Fé: “O fazendeiro de Deus”, “A fé que nos une”, “Deus não está morto”, “A paixão
de Cristo”, “Desafiando gigantes” e “Milagres do paraíso”;
b) Perdão: “O poder da graça”, “Uma carta ao Pai”, “Seguindo em frente”, “A última
palavra” e “Os miseráveis”;
c) Casamento: “À prova de fogo”, “Ponto de decisão”, “Corajosos” e “Quarto de
Guerra”;
d) Mudança de atitudes: “A virada”;
e) Superação: “Mãos talentosas” e “Soul Surfer – Coragem de Viver”;
f) Depressão: “O lado bom da vida”, “Cake: uma razão para viver” e “O caminho para
a eternidade”;
g) Suicídio: “A ponte” e “Sete vidas”; e
h) Cuidado com pessoas em final de vida: “O amor é contagioso”.
5.4. Esportes
superar seus próprios recordes e competir contra outros indivíduos ou equipes. Peteca, corrida,
futebol e vôlei são alguns exemplos.
Ambos os tipos de esportes têm seu valor na capelania, pois oferecem oportunidades
de crescimento pessoal, aprendizado de valores e promoção do bem-estar físico e emocional
dos assistidos. Tudo depende de que aspecto o capelão pretende evidenciar com a prática
esportiva.
Ainda, é preciso tomar cuidado na escolha de atividades que podem machucar, como
queimada, futebol e vôlei, pois eventualmente o caráter competitivo poderá sobressair. Antes
de começar é importante que o capelão esteja atento e adapte as regras e as condições de jogo,
garantindo um ambiente seguro e adequado para a prática esportiva. Por exemplo, é possível
utilizar bolas de espuma ou adotar regras que evitem jogadas mais agressivas.
Finalmente, é fundamental que o capelão se prepare para oferecer orientações sobre
técnicas corretas de jogo, aquecimento adequado e medidas de prevenção de lesões. A
segurança dos assistidos é uma das prioridades, e o capelão é essencial na seleção dos esportes
de forma consciente, promovendo uma prática saudável e protegida.
5.5. Jogos
Os jogos também são ferramentas importantes que o capelão pode utilizar para
promover interação, aprendizado, diversão e crescimento emocional e espiritual nos assistidos.
Eles possuem um caráter lúdico, permitindo uma abordagem mais descontraída e engajadora,
e criando um ambiente adequado para o desenvolvimento de habilidades sociais e de resolução
dos problemas.
Ao selecionar os jogos adequados, você pode explorar temas relevantes, como trabalho
em equipe, comunicação, respeito, empatia e superação.
Além disso, essa ferramenta também deve ser utilizada como metáfora para transmitir
ensinamentos e reflexões espirituais. Por meio das dinâmicas, o capelão pode ilustrar conceitos
como perseverança, paciência, resiliência e fé. Os assistidos irão vivenciar esses princípios de
forma prática, o que facilita a compreensão e a internalização dos valores.
Tudo o que vimos até aqui se aplica aos diversos segmentos da capelania. Mas chegou
a hora, nesse capítulo, de tratarmos os principais aspectos práticos, específicos, das áreas em
que existe uma maior atuação de capelães em nosso país. Vamos lá?!
6.1. Hospitalar
Antes de tudo precisamos lembrar que o próprio Jesus visitou pessoas doentes e as curou
em várias oportunidades (Mateus 9.35; Marcos 1.29-31). Além disso, Ele nos deixou a
obrigação de visitá-las (Mateus 25.31-46) como um exercício de misericórdia pelos nossos
semelhantes.
Reflita no seguinte: a doença é uma condição que pode sujeitar qualquer pessoa. O fato
de o próprio capelão, ou algum familiar próximo, já ter enfrentado a experiência de doença e
de internação em um hospital traz uma dimensão adicional de compreensão e empatia ao seu
trabalho. Ao passar por essas situações desafiadoras, o capelão ou seu familiar puderam
vivenciar em primeira mão as preocupações, as ansiedades e as necessidades espirituais e
emocionais que surgem nesses momentos.
Essa vivência pessoal pode servir como uma fonte de inspiração e de motivação para o
capelão, permitindo-lhe se conectar de forma mais profunda e autêntica com os pacientes,
entendendo suas angústias, medos e esperanças. O enfrentamento de uma doença e,
eventualmente, até mesmo uma internação, podem fortalecer o capelão, tornando-o mais
sensível às necessidades dos outros e capacitando-o a oferecer um suporte significativo e
compassivo nos contextos de fragilidade e de vulnerabilidade.
Mas é preciso ir além. Normalmente eu e você não temos pessoas próximas falecendo
todos os anos. Por outro lado, em muitas unidades de saúde, lidar com a morte e o luto são
exercícios diários. Mesmo que isso seja uma rotina, o impacto da morte nunca pode ser
desconsiderado, inclusive em relação aos colaboradores do hospital, sejam eles médicos,
enfermeiros, secretárias ou o pessoal da limpeza. Todos somos impactados pela morte e por
aquilo que ela provoca.
Ao realizar visitas hospitalares é essencial que você adote uma postura de escuta atenta
e compreensiva, reconhecendo que, muitas vezes, o silêncio pode transmitir mais do que as
palavras. Às vezes, inclusive, o que o paciente precisa é de desabafar, de ser ouvido, e não de
ouvir.
Em um ambiente marcado pela dor e pelo sofrimento, é fundamental demonstrar
humildade e empatia em relação aos pacientes e seus familiares. O capelão deve se engajar de
maneira genuína com o enfermo, estabelecendo um diálogo que demonstre interesse pessoal
por sua vida e auxiliando-o no enfrentamento dos desafios e das aflições.
Um exemplo claro disso são os pacientes em coma, que apresentam uma questão
particular para o trabalho do capelão, uma vez que sua interação direta com o doente pode ser
limitada ou até mesmo impossível. No entanto, nesses casos, a presença e o apoio do capelão
junto à família desempenham um papel crucial.
O capelão pode oferecer suporte emocional, espiritual e psicológico aos familiares, que
muitas vezes enfrentam uma angústia profunda e vivenciam um turbilhão de emoções durante
esse período de incertezas. Você pode se tornar um ponto de apoio, ouvindo as preocupações
e os medos da família, compartilhando palavras de conforto e de esperança, e oferecendo uma
presença compassiva. Mesmo sem a interação direta com o paciente em coma, o capelão
desempenha um papel valioso ao proporcionar apoio espiritual àqueles que estão ao redor,
ajudando-os a enfrentar os desafios emocionais e existenciais que surgem nesse contexto
delicado.
Além disso, é fundamental que o capelão atue em harmonia com a equipe médica e de
enfermagem, conhecendo o horário mais adequado para realizar suas visitas aos quartos e às
enfermarias. Não interfira nos momentos de refeição ou de higiene dos pacientes. Respeite sua
b) Escoltados:
b.1) eventualmente, pode ser necessária uma autorização judicial para ter acesso
ao paciente;
b.2) antes de entrar em contato com o paciente, se apresente à equipe de escolta,
que poderá, inclusive, lhe repassar alguma informação importante (como um estado de
agressividade do paciente) – como essa equipe também pode ser alvo do trabalho de capelania,
é importante que o capelão tenha conhecimento em outras áreas, como a prisional;
b.3) o paciente provavelmente estará algemado no leito hospitalar, e não se
escandalize com isso;
c) Com ideações suicidas:
c.1) por experiência, a grande maioria das pessoas hospitalizadas mais
gravemente em razão da tentativa de suicídio são homens (por exemplo, devido ao uso de arma
de fogo, do enforcamento, ou de pular na frente de carro);
c.2) para as mulheres, via de regra, as tentativas se dão através da ingestão de
grande quantidade de medicamentos, às vezes potencializada pelo consumo de álcool;
c.3) em muitas oportunidades as ideações suicidas surgem a partir de algum tipo
de transtorno mental;
c.4) não use termos como “você é tão jovem”, “você é tão bonito”, “você tem
tudo pela frente”, “muitas pessoas gostariam de ter a sua vida”, “por que você fez isso?” – o
capelão, na imensa maioria das vezes, não sabe o que provocou o desejo de morte naquele
paciente, e por isso não deve usar esse tipo de comparação;
c.5) a não ser que haja um direcionamento extremamente claro do Espírito Santo,
não lide com esse paciente (e com nenhum outro) a partir de exorcismo ou expulsão de
demônio;
d) Oncológicos: diante de um diagnóstico de câncer, muitas pessoas já o associam
diretamente a uma “sentença de morte”, mas nem sempre é o caso;
e) Pediatria:
e.1) esteja equipado para oferecer atividades lúdicas, incluindo canções e
histórias, para as crianças internadas;
e.2) lembre-se que, por vezes, o simples fato de o capelão obter um sorriso da
criança já é motivo de imensa alegria para os pais;
Há alguns desafios esporádicos que precisam ser compartilhados com toda a equipe
hospitalar. Vamos a alguns exemplos:
1) batismo por imersão em paciente em estágio terminal, sem condições de sair do
hospital: é possível a realização do batismo, sendo necessária a autorização médica e da equipe
de enfermagem, pois pode haver hipotermia – nunca burle as regras da instituição, por
exemplo, colocando uma piscina infantil no banheiro;
2) casamento de pessoa em estágio terminal: além de o enfermo estar consciente,
verifique as hipóteses legais para a celebração, bem como sua legitimidade e os procedimentos
a serem seguidos (artigos 1.539 a 1.541 do Código Civil) – temos um curso completo de Juiz
de Paz Eclesiástico [saiba mais] em que essas questões são tratadas com profundidade;
3) paciente terminal e dificuldades familiares: após a percepção médica de que o
paciente possui poucos dias de vida, o capelão e a equipe hospitalar podem trabalhar em
conjunto, inclusive através de psicólogos, para a preparação da pessoa, o que pode envolver o
perdão aos filhos que não a visitavam ou o medo de deixar um companheiro desamparado;
4) pacientes abandonados pela família: acontece por conta de várias situações, como
pobreza, histórico de violência, alcoolismo, drogas ou desajustes familiares; é importante a
É absolutamente importante que o capelão saiba lidar com pacientes que estão sob
cuidados paliativos. A situação paliativa é uma abordagem de cuidado integral voltada para
pessoas que enfrentam doenças graves, crônicas, mas não necessariamente terminais. O
objetivo principal dos cuidados paliativos é promover a qualidade de vida do paciente,
aliviando os sintomas, controlando a dor e oferecendo suporte emocional, espiritual e social,
tanto para o paciente quanto para seus familiares.
Os cuidados paliativos são baseados em uma abordagem multidisciplinar, envolvendo
uma equipe de profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros e psicólogos, além de
assistentes sociais e capelães. Todos trabalham em conjunto para atender às necessidades
físicas, psicológicas, sociais e espirituais do paciente, permitindo que ele viva o tempo que lhe
resta da maneira mais plena e significativa possível.
Dentre os principais aspectos abordados nos cuidados paliativos estão o controle da dor
e dos sintomas, a melhora da qualidade de vida, a comunicação clara e honesta sobre o
prognóstico da doença, o apoio emocional para o paciente e seus familiares, a assistência
espiritual e religiosa, além do suporte no planejamento de cuidados avançados, como a
elaboração de testamentos vitais.
Diante disso, veja algumas recomendações caso você visite pacientes sob esse tipo de
cuidado:
Lembre-se que além de oferecer apoio emocional e conforto, é essencial que o capelão
transmita uma mensagem de esperança em Cristo durante sua atuação na capelania hospitalar.
O objetivo não é condenar ou julgar o paciente ou seus familiares – pois o juízo pertence a
Deus –, mas, sim, apresentar o caminho da salvação e oferecer uma mensagem de fé e
encorajamento.
Dito de outra forma: é fundamental que o capelão não faça promessas vazias de cura e
jamais atribua a doença como resultado da ira de Deus sobre o indivíduo pecador. Em vez
disso, é importante oferecer suporte espiritual e emocional, estimulando o paciente a encontrar
consolo e fortaleza em Cristo, independentemente do desfecho físico. Você deve proporcionar
um espaço de acolhimento, de esperança e de reflexão, sem criar expectativas irreais de cura,
nem culpabilizar o enfermo pela doença.
É nesse sentido que o uso de materiais bíblicos facilita, e muito, o trabalho do capelão,
além de ajudar o paciente a se distrair das dificuldades que enfrenta. Por isso, recomendamos
fortemente o uso dos livretos produzidos pela Sociedade Bíblica do Brasil, os quais já
indicamos nas páginas anteriores.
Dito tudo isso, passamos agora a uma série de conselhos e orientações, divididas por
tópicos, para sua prática da capelania hospitalar:
1) Fique atento aos dias e horários previstos para a visitação religiosa (procure se
informar, antes, com a instituição), sendo possível, excepcionalmente, a quebra dessas regras
(por exemplo, para pacientes em estado grave ou terminal);
2) Identifique-se na recepção através de documento oficial com foto (RG ou CNH) e de
sua credencial de capelão (caso possua), mas nunca use sua formação para “dar carteirada”,
forçando o ingresso e a visita;
3) Perceba se existe algum impedimento momentâneo, como procedimento de higiene
ou de alimentação, atendimento de urgência, realização de exame, intercorrência com outro
paciente no mesmo quarto, restrição de visitas por ordem médica, necessidade de autorização
judicial para pacientes escoltados, ou a presença do médico ou da equipe de enfermagem no
leito;
4) Verifique se há necessidade de cuidados especiais para entrada naquele quarto ou
enfermaria, por exemplo, porque o paciente possui uma doença altamente contagiosa; preste
atenção aos cartazes nas portas dos quartos, pois eles podem indicar a necessidade de uso de
luvas, óculos, máscaras ou aventais;
5) Diante da liberdade religiosa que existe em nosso país, obtenha a permissão do
paciente e/ou da família ou acompanhante para que você inicie a visitação religiosa (apresente-
se ao paciente/acompanhante e explique o motivo da visita) – em caso negativo, agradeça,
deseje uma boa recuperação e se retire;
6) Sempre higienize as mãos (mesmo se você visitar pacientes que estão lado a lado na
enfermaria), e de forma correta – inclusive, no seu kit visitação, além da Bíblia e de folhetos,
sempre carregue consigo um frasco de álcool em gel;
7) “Perceba” o paciente (por exemplo, semblantes de dor, cansaço ou irritação),
atentando-se à sua comunicação não verbal e respeitando o seu ambiente – não o acorde ou
chacoalhe;
30) Insira projetos de humanização, como música, coral, origami, artes plásticas, ballet,
palhaçaria, fantoches e contadores de história;
31) Tenha um olhar especial para os colaboradores do hospital;
32) Evite atender no horário da visita familiar;
33) Atente-se à existência de familiares nas salas de espera do hospital – sejam UTIs,
emergências ou centros cirúrgicos – e, na medida do possível, estenda o trabalho de capelania
a eles;
34) Pense nos pacientes ambulatoriais (buscam apenas consultas, geralmente pré ou
pós-operatórias) vindos de outras cidades, verificando com a equipe de enfermagem a
possibilidade de lhes servir algum lanche, mesmo que simples (como café, chá e biscoitos);
35) Analise, dentro da equipe de capelania, a possibilidade de estabelecer uma escala de
plantão para atendimento em horários especiais, como madrugadas e finais de semana, nas
situações extraordinárias (a exemplo de óbito, emergências e pacientes terminais);
36) Faça parcerias com igrejas locais (se possível, de outras denominações) e com
palestrantes;
37) Pratique a “escutatória” (arte de saber ouvir o outro).
10) Avalie a situação logo ao entrar, a fim de poder agir objetivamente quanto ao tipo e
à duração da visita;
11) Procure colocar-se numa posição confortável para o paciente, ao seu nível visual;
12) Se a pessoa não o conhece, apresente-se com clareza;
13) Não tente convencê-la de que a sua aparência está boa;
14) Não fique assistindo à TV dela, ou lendo as suas revistas;
15) Não pergunte sobre a gravidade da doença;
16) Não leve qualquer tipo de alimento;
17) Não dê água nem remédio ao paciente sem permissão da enfermagem;
18) Não apresente fisionomia emotiva ou de comiseração (piedade);
19) Não negue suas expressões de emoção, dizendo-lhe que não deveria estar se
sentindo daquele jeito;
20) Evite completar suas palavras ou sentenças, ou corrigir suas respostas;
21) Não pense que você sabe o que ele está sentindo;
22) Mesmo que você seja um profissional da saúde, não critique seus colegas nem faça
comentários com o paciente sobre o tratamento;
23) Não manifeste nojo de suas feridas, nem medo de contágio;
24) Não visite uma pessoa no dia seguinte a uma cirurgia;
25) Evite meter-se em discussões e brigas entre a família e o paciente;
26) Não tome como pessoal a ira, a depressão ou o silêncio do enfermo;
27) Não lhe estenda a mão (só se o paciente tomar iniciativa);
28) Não aceite pedidos do paciente para obter resultados de exames médicos ou dar-lhe
notícias de diagnósticos;
29) Toque-o. Fale num tom de voz normal. Ore em tom normal. Olhe nos olhos dele;
30) Dê prioridade ao atendimento de médicos e enfermeiros. Ceda a sua vez;
31) Concentre-se em atender às necessidades daquela pessoa diante de você;
32) Não tente movimentar o paciente sem autorização da enfermagem;
33) Saiba que a dor e a medicação podem alterar o humor do paciente;
34) Não queira forçar o paciente a sentir-se alegre, nem o desanime;
35) Evite chamar o paciente de “querido”, “meu amor” ou “meu anjo”, mas chame-o
pelo nome;
36) Não faça perguntas inapropriadas. Se o paciente não comentar sobre a doença,
guarde sua curiosidade e respeite o enfermo.
37) Deixe o enfermo chorar, inclusive os homens. Console os que se sentirem
envergonhados pelo choro;
38) Não dê a impressão de estar com pressa, nem demore até cansar o enfermo. Busque,
com bom senso e sabedoria, estipular um tempo que seja ideal para cada situação;
39) Não faça visitas se estiver doente;
40) Não use perfume;
41) Sapatos de tecido e sandálias não devem ser usados no hospital;
42) Se gostar de usar bijuterias ou joias, que sejam muito discretas;
43) Use sempre um jaleco ou roupas brancas para fazer visitas;
44) Se estiver visitando áreas infectadas, lave o jaleco separado de outras roupas. Use
paramentação adequada, conforme recomendações da enfermaria do hospital;
45) Nunca esqueça seu crachá/identificação;
46) Use uma Bíblia pequena, especialmente de bolso;
47) Deixe para o paciente uma literatura bíblica de acordo com o assunto da conversa;
48) Termine a visita de maneira agradável. Diga ao paciente que foi bom estar com ele,
ouvi-lo e conhecê-lo melhor. Diga que espera visitá-lo novamente.
6.1.8. O luto
Finalmente, uma das realidades que encontraremos na capelania hospitalar é o luto, que
não está apenas vinculado à morte.
O luto é uma resposta natural e complexa à perda de alguém ou algo significativo em
nossas vidas. É uma experiência emocional, psicológica e física que ocorre quando
enfrentamos a morte de um ente querido, o fim de um relacionamento, uma mudança drástica
na vida ou a perda de algo importante. Ele trata, portanto, de transformar e ressignificar a
relação que existia com aquilo que foi perdido (um bem material, um emprego, um casamento
ou um parente próximo).
O luto envolve uma variedade de emoções, como tristeza, raiva, culpa, choque e
negação, e pode afetar diferentes aspectos da vida, como o emocional, o social e o físico. Cada
pessoa vivencia o luto de maneira única, com seu próprio tempo e processo de adaptação. É
um período de ajuste e reconciliação diante da perda, no qual é necessário vivenciar e expressar
as emoções, encontrar apoio e buscar formas saudáveis de lidar com a perda e seguir em frente.
Quanto aos tipos de luto, os mais comuns são:
(1) Luto normal: é a resposta emocional e psicológica típica à perda de um ente querido.
Envolve uma ampla gama de emoções, como tristeza, raiva e negação, e, eventualmente,
aceitação. Ao luto normal geralmente segue um processo de adaptação gradual à perda.
(2) Luto complicado: ocorre quando a pessoa enfrenta dificuldades significativas em se
ajustar à perda, em se reestruturar. Pode incluir intensa angústia emocional, prolongada
sensação de desespero, culpa excessiva, isolamento social e dificuldade em retomar as
atividades diárias. O luto complicado geralmente exige intervenção profissional para ajudar o
indivíduo a lidar com a perda.
(3) Luto antecipatório: existe quando uma pessoa enfrenta a expectativa de perda
iminente devido a uma doença terminal ou à condição de saúde debilitante. O luto antecipatório
permite que a pessoa comece a processar a perda antes que ela ocorra. Compreende tanto uma
mistura de emoções quanto a preparação e o ajuste à ideia de perder alguém querido.
(4) Luto traumático: acontece em resposta a perdas repentinas, como as resultantes de
acidentes trágicos. Nesses casos, como o fato ocorre de maneira inesperada e violenta, deixa
os enlutados em estado de choque e com sentimentos intensos de desamparo, culpa, raiva e
confusão. Esse luto pode ser especialmente difícil de lidar, pois os sobreviventes são
confrontados com imagens e memórias dolorosas do acidente, o que pode levar a perturbações
emocionais e psicológicas significativas, como transtorno de estresse pós-traumático. O apoio
profissional e de uma rede de suporte compassiva são cruciais para ajudar os enlutados a
enfrentarem o luto, processarem essa experiência e encontrarem caminhos para a cura e a
reconstrução de suas vidas.
(5) Luto coletivo: ocorre quando uma comunidade ou um grupo de pessoas enfrenta
uma perda significativa em conjunto. Isso pode incluir desastres naturais, tragédias em massa
Também é possível perceber a existência de fases do luto. Elas não são necessariamente
sequenciais, e podem se manifestar, ou não, em sua completude, dependendo de cada
indivíduo. São elas:
(a) Negação: a pessoa se recusa a aceitar a perda e nega a realidade. Durante essa fase
a pessoa pode apresentar dificuldade em reconhecer e em lidar emocionalmente com a perda.
É uma forma de mecanismo de defesa temporário que ajuda a amortecer o impacto da dor
emocional intensa. A negação do luto pode se manifestar de diferentes maneiras, a exemplo de
evitar falar sobre a perda, não aceitar a gravidade da situação ou até mesmo fingir que a pessoa
falecida ainda está presente. No entanto, é importante destacar que a negação é uma etapa
temporária do processo de luto, sendo necessário enfrentar e processar as emoções para uma
adaptação saudável à perda.
(b) Raiva: quando alguém passa por um dano significativo é natural que sentimentos de
raiva e de frustração surjam. Essa raiva pode ser direcionada para várias direções, incluindo a
pessoa falecida, Deus, outras pessoas ou até mesmo para si mesmo. É importante entender que
a raiva faz parte do processo de luto e que não é necessariamente prejudicial sentir essa
emoção. Pode ser útil expressá-la de maneiras saudáveis, como conversar com um capelão ou
um terapeuta, ou participar de grupo de apoio, onde as emoções possam ser compartilhadas e
compreendidas por outros que estão passando pela mesma experiência. Lidar com a raiva de
forma construtiva pode ajudar a pessoa em luto a avançar em direção à aceitação e à cura
emocional.
(c) Barganha: durante essa fase a pessoa em luto tenta fazer acordos com Deus, com
forças superiores ou até mesmo com a própria consciência, tudo como forma de evitar ou
reverter a perda. É comum que a pessoa se pegue pensando em frases como “se eu fizer isso,
talvez a situação seja revertida”, “se eu prometer mudar, talvez a pessoa volte” ou “vou ajudar
uma instituição de caridade se eu ficar curado”. A barganha é uma das formas de lidar com a
sensação de impotência diante da frustração, buscando algum tipo de controle. No entanto, é
importante compreender que o luto é um processo natural e a perda não pode ser revertida por
meio de “promessas”. É necessário aceitar a realidade da privação e se permitir passar por
todas as fases do luto, incluindo a dor e a tristeza.
(d) Depressão: é uma emoção natural diante da perda significativa de alguém ou de algo
importante para a pessoa enlutada. É comum que durante o processo de luto surjam sintomas
de tristeza profunda, desesperança, falta de interesse em atividades anteriormente prazerosas,
alterações no sono e no apetite, baixa autoestima e dificuldade de concentração. Esses sinais
podem persistir por um período prolongado e interferir significativamente na vida diária da
Em todo esse processo é importante ter em mente que cada pessoa lida com o luto de
forma única, e não há um prazo ou uma maneira “correta” de vivenciar o luto. No entanto, é
essencial que a pessoa enlutada encontre um momento adequado para enfrentar suas emoções,
buscar suporte e encontrar maneiras saudáveis de lidar com a perda, a fim de facilitar o
processo de cura e de adaptação.
Ainda, como a realidade da morte há de impactar a vivência do capelão em algum
momento da sua trajetória, esteja o mais preparado possível para essa ocasião. Verifique as
normas hospitalares sobre os procedimentos a serem seguidos: por exemplo, se é possível o
encontro da família com o falecido ainda dentro do hospital. Você também pode organizar
rituais de acolhimento (como cultos fúnebres), além de acompanhar o velório e o sepultamento.
Dê o suporte necessário para os familiares e para os colaboradores do hospital; sim, eles
também são influenciados tanto pela morte dos pacientes quanto de pessoas próximas.
Não é demais, também, que você faça um acompanhamento após a perda. Inclusive,
isso pode auxiliar a família a lidar com o luto de uma maneira mais suave. Sendo assim, um
período depois (cerca de um mês), envie um cartão com mensagem de esperança para os
familiares, ligue ou faça uma visita. Mas lembre-se de não ser inoportuno nesse momento de
dor e de tristeza.
Que Deus te use como instrumento da Sua graça (Isaías 61.1-3)!
6.2. Prisional
É comum encontrar visões simplistas e punitivas, como a ideia de que “bandido bom é
bandido morto”. No entanto, é essencial lembrar que todos nós somos passíveis de cometer
erros e que, sem a graça e a transformação proporcionadas pelo Espírito Santo, também
podemos cair em comportamentos condenáveis.
Por incrível que pareça, eu também defendo que “bandido bom é bandido morto”. Não
estou, aqui, apoiando a aplicação da pena de morte, pois, mesmo quando o Direito a permite,
corre-se um sério risco de equívocos, e numa área – a retirada da vida – em que não há como
voltar.
Além disso, manifesto minha oposição à parcela da sociedade que, de forma
equivocada, recorre à violência física, inclusive com agressões e assassinatos, ao flagrar
indivíduos cometendo crimes. Essas ações apenas contribuem para a perpetuação de abusos e
de injustiças.
Diariamente os problemas que assolam o sistema prisional vêm à tona através dos meios
de comunicação. Rebeliões e conflitos entre os próprios detentos são recorrentes, revelando a
fragilidade e a falta de controle nas instituições penais. Além disso, casos de privilégios
concedidos a criminosos de colarinho branco, envolvidos em escândalos de corrupção como
os descobertos na operação “Lava Jato”, têm gerado indignação na sociedade.
As denúncias de tortura e de tratamentos desumanos dentro das prisões, muitas delas
divulgadas pela Pastoral Carcerária da Igreja Católica, têm se tornado cada vez mais
frequentes. Tais situações são reflexos claros da corrupção que atravessa todos os níveis do
sistema, exigindo uma resposta urgente e efetiva para a reforma e o aprimoramento do sistema
prisional.
De fato, não é possível atribuir uma única causa ao cometimento de delitos. A pobreza,
o abandono familiar, as dificuldades financeiras, o afastamento da escola e a exclusão social
são fatores que podem contribuir para a vulnerabilidade de certos indivíduos, tornando-os mais
inclinados a se envolverem em atividades criminosas.
No entanto, é importante ressaltar que nem todos que enfrentam essas circunstâncias se
tornam criminosos. Existem muitas pessoas que, apesar das adversidades, conseguem resistir
à tentação do crime e buscam caminhos alternativos para uma vida digna. Portanto, é
necessário considerar uma abordagem mais abrangente ao lidar com a criminalidade,
envolvendo ações sociais, educacionais, econômicas e de segurança pública, a fim de abordar
suas múltiplas causas e os desafios enfrentados pela sociedade.
Um exemplo dessa amplitude de problemas a serem enfrentados está no fato de ser
lamentável presenciar situações tão complexas e perturbadoras nos casos judiciais relacionados
à paternidade. Essas questões revelam a triste realidade na qual algumas famílias se encontram,
marcadas por falta de estrutura, de responsabilidade e de valores sólidos. Sim, a ausência de
Aliás, você sabe o que é ressocialização? No livro Deus na Prisão [conheça aqui]
escrevemos que ela é o “ato ou efeito de tornar a socializar um indivíduo segundo os padrões
vigentes na sociedade, capacitando-o para nela viver sem violar o regramento jurídico –
inclusive o penal –, para se livrar dos atrativos do crime e para influenciar outros a não cometê-
lo.”
Ou seja, a ressocialização do indivíduo que passou pelo sistema prisional vai além de
evitar a reincidência de delitos. É preciso considerar, também, a libertação dos atrativos do
crime e o papel do ex-detento como agente de desestímulo à criminalidade. Ao compartilhar
suas experiências e suas vivências negativas no encarceramento, esses indivíduos podem
alertar e influenciar outros a não iniciarem ou abandonarem o caminho delituoso.
É que o ambiente prisional, infelizmente, pode funcionar como uma verdadeira escola
do crime, com superlotação, condições precárias, falta de oportunidades, violência e abusos,
que acabam sustentando o ciclo de delitos.
Portanto, é fundamental que as políticas de ressocialização e de reinserção social
estejam voltadas não apenas para a reabilitação do condenado, mas também para a
desconstrução dos fatores que levam à criminalidade e para a conscientização da sociedade
sobre os malefícios do encarceramento. Dessa forma, é possível criar um ambiente propício à
mudança de atitudes e à prevenção do crime, além de oferecer apoio e oportunidades aos
egressos para reconstruírem suas vidas de forma digna e produtiva.
É importante esclarecer que, ao falarmos sobre a necessidade de ressocialização e de
garantia dos direitos humanos no sistema prisional, não estamos defendendo a impunidade ou
minimizando a gravidade dos delitos cometidos. Reconhecemos que um dos objetivos da
justiça penal é aplicar penas proporcionais e proteger a sociedade. No entanto, é fundamental
entender que as penas têm uma duração determinada e que, em algum momento, os infratores
retornarão à convivência social.
Basta lembrarmos que, no Brasil, não há prisão perpétua, e a pena de morte só é possível
nos casos de guerra declarada (Constituição da República de 1988, art. 5º, XLVII). Ou seja,
em mais ou menos tempo, o criminoso voltará ao convívio social e, certamente, você não
deseja ser a próxima vítima!
Nesse contexto, a preocupação em ressocializarmos os indivíduos que passaram pelo
sistema prisional não trata de proteger os criminosos em detrimento das vítimas, mas sim de
buscar formas efetivas de reintegrá-los à sociedade de maneira responsável e segura. Isso inclui
oferecer oportunidades (como educação, capacitação profissional, apoio psicossocial e
acompanhamento adequado) para que possam reconstruir suas vidas de forma digna, evitando
reincidências e contribuindo para a redução da criminalidade.
Repito: ao garantir que os direitos humanos sejam respeitados no sistema prisional não
estamos privilegiando os presos em prejuízo das vítimas, mas buscando um equilíbrio entre a
punição necessária e a oportunidade de ressocialização. É uma forma de assegurar que, ao
retornarem à sociedade, esses indivíduos estejam mais preparados para uma vida livre da
criminalidade, reduzindo, assim, o risco de novas vítimas. Portanto, é uma preocupação que
visa tanto a segurança da sociedade quanto o processo de reinserção do infrator, visando
transformar vidas e evitar a reincidência criminal.
Essa segunda parte tem sustentação em nosso livro Como anunciar o evangelho entre
os presos: teologia e prática da capelania prisional (Ultimato, 2016, 152 páginas) [saiba
mais], bem como em nossa tese de doutorado Um campo religioso prisional: Estado, religiões
e religiosidades nos cárceres a partir do contexto juizforano (UFJF, 2017, 316 páginas) [baixe
aqui].
Assim sendo, uma excelente opção é estabelecer parcerias com instituições de ensino,
cursos profissionalizantes e programas de educação, contribuindo para a ressocialização dos
presos e ampliando suas oportunidades de reintegração na sociedade.
Ainda, precisamos buscar alguma compreensão dos motivos pelos quais, apesar do
grande número de trabalhos de capelania já realizados nos cárceres, ainda existe tanta
reincidência: estima-se que mais de 70% dos presos, quando saem, voltam a cometer crimes.
De modo geral, quase 90% das capelanias são evangélicas, seguidas de 10% católicas
e, raramente, alguma espírita. E por que não vemos uma grande mudança? Temos algumas
ideias:
a) A imensa maioria dos trabalhos consiste apenas na repetição dos “cultos de domingo”,
realizados na porta das celas, oferecendo pouca – ou nenhuma – possibilidade de discipulado,
de um contato mais próximo;
b) Os presos têm o receio de se dizerem pertencentes a uma determinada igreja ou
denominação e serem desprezados pelas demais;
c) Os pastores-presos não são escolhidos pela vivência cristã, ou por possuírem maior
conhecimento teológico, mas especialmente a partir do bom relacionamento com os “chefes
do crime” de dentro do cárcere;
d) Existe um descrédito enorme em verdadeiras conversões, por parte dos próprios
detentos, já que muitos “se escondem atrás da Bíblia”, inclusive para tentarem cumprir suas
penas em celas evangélicas, nas quais o risco de violência tende a zero;
e) Vários detentos participam de cultos e eventos religiosos somente para preencherem
o tempo de um constante ócio, e não por efetivamente buscarem a Deus;
f) Como resultado, mais de 95% dos presos que se dizem crentes estão dentro da
categoria de “evangélicos não determinados” (semelhante aos “católicos não praticantes”),
ocasionando a falta de compromisso verdadeiro com uma igreja, com uma comunidade de fé.
Isso tudo gera “batismos sem identificação” (a maioria dos presos que se batiza não
sabe sequer a denominação que realizou o ato) e a não obrigação de, quando saírem, buscarem
uma igreja específica, alguém que eles devam “dar satisfação” de suas ações aqui fora. Por
conseguinte, inexistindo verdadeira adesão religiosa, fica muito mais difícil (para não dizer
impossível) alcançar a ressocialização.
Você precisa entender que em cada unidade prisional a dimensão religiosa pode operar
de maneira diferente. Inclusive, você perceberá essas distinções dentro de um mesmo presídio,
nos seus pavilhões ou galerias.
Para darmos um exemplo, vamos mencionar o que acontecia em 2016 na Penitenciária
Professor Ariovaldo Campos Pires (PPACP), em Juiz de Fora/MG, à época composta por 4
pavilhões. Detalhe: as aspas que usamos a partir de agora servem para mostrar as falas que
ouvimos das pessoas na PPACP, sejam presos, policiais penais ou pessoal da administração.
No pavilhão 1 existia uma igreja organizada pelos detentos, a Igreja Ministério Casa de
Deus. Nenhuma das capelanias com as quais conversei à época relatou que sabia da existência
do Ministério, o que comprova, infelizmente, que os trabalhos de assistência religiosa, via de
regra, não observam as dinâmicas próprias ocorridas em cada ambiente.
Em janeiro daquele ano o Ministério possuía quatro pastores, três levitas, sete obreiros,
dois missionários e um evangelista, e isso apenas no andar inferior do pavilhão. Ou seja, havia
o funcionamento como numa igreja fora dos cárceres.
Os pastores tinham a incumbência de pregar a Palavra; os levitas, de renderem adoração
a Deus através das canções; os obreiros, de ajudarem no trabalho, por exemplo, auxiliando na
ceia ou ministrando cursos; os missionários, de convidarem outros presos para participarem
dos cultos no pátio; e o evangelista, de anunciar a salvação aos “perdidos”. Mesmo assim,
embora a função não fosse exatamente a sua, um dos pastores relatou que todos os dias, “na
hora de pagar o café”, enviava versículos para cerca de trinta presos, e “se não mandar eles
reclamam”.
Ainda sob o prisma institucional, o Ministério se colocava como responsável pelos
cultos e pelos estudos bíblicos promovidos no pavilhão. Às segundas, quartas e sextas havia
cerimônias realizadas pelos presos, independentemente de ter havido alguma visita religiosa
externa. O acordo com o restante do pavilhão, a fim de que houvesse respeito por parte da
“massa carcerária”, foi no sentido de que esses cultos não atrapalhassem os presos de assistirem
os jornais televisivos para se manterem informados. Ou seja, quem controlava o horário do
culto não era a igreja, como acontece fora dos muros da prisão, mas, sim, a programação da
TV – o único canal televisivo transmitido na PPACP era a Rede Globo – e os demais detentos,
inclusive aqueles que não participavam das reuniões.
À época eram realizados dois cultos no mesmo dia. A galeria do andar inferior o fazia
do término da “Malhação” (novela para o público adolescente e jovem) até o início da 2ª edição
do MGTV (jornal local), o que normalmente girava das 18:20 às 19:10. Durante o MGTV as
atenções ficavam todas voltadas para o jornal, já que essa era uma das únicas formas de os
presos estarem “sintonizados” com o que ocorria nas cidades da região. O segundo culto do
pavilhão era dirigido pela galeria superior, e acontecia, via de regra, das 19:30 às 20:30, ou
seja, do término do MGTV até o início do “Jornal Nacional”.
Percebamos, aqui, mais uma diferença em relação às celebrações das nossas igrejas:
enquanto aqui fora os “irmãos” se abraçam e olham nos olhos, na PPACP os detentos não
ficavam em um local comum, mas realizavam a atividade na porta de suas celas, dificultando
até mesmo a oitiva da Palavra.
Além dos cultos noturnos, outros dois eventos religiosos aconteciam na semana. Nos
horários de banho de sol, às terças eram realizados estudos bíblicos (com base em uma revista
que nenhum dos pastores-presos soube precisar de qual editora ou igreja) e, às quintas, cultos
no pátio. Um ponto importante era que a galeria superior devia subordinação ao pavimento
inferior, pois era nesse que a liderança do Ministério cumpria pena.
Ainda, todo primeiro domingo do mês era realizada a Ceia do Senhor, antes de as visitas
familiares chegarem. Ao invés do vinho, suco de uva em pó; no lugar do pão sem fermento –
que segundo um dos pastores “é o certo” –, “se não tem, faz com fermento mesmo”.
Consagrados os elementos do ritual, a distribuição não era feita por um membro da igreja, mas
pelo “faxina”, uma espécie de “faz tudo” no pavilhão e que, no caso, não era integrante do
Ministério. Quando esse levava o café da manhã nas celas, aproveitava para entregar “o pão e
o cálice”. Não havia, pois, qualquer controle sobre quem recebia os itens; ou seja, não era
preciso ser crente para comer e beber do corpo e do sangue de Cristo.
Por outro lado, o pavilhão 2 era o mais parecido com o que normalmente encontramos
nos cárceres: alguns presos que realizam cultos regulares, mas sem a organização sistematizada
de uma igreja.
Os cultos eram realizados apenas pelo andar superior, às segundas, quartas e sextas, de
17:30 às 19:00 – “já teve reclamação de passar do horário e afetar o jornal, então a gente
respeita pra eles respeitar o culto” –, bem como às terças e quintas, durante o banho de sol da
manhã. Nas terças, “pros irmãos fazer sua atividade física também”, o culto no pátio durava
cerca de trinta minutos, contando com “mais ou menos seis louvores da Harpa Cristã e a
Palavra”. Nas quintas, por sua vez, a reunião no pátio era “em roda”, e o culto todo durava
aproximadamente uma hora e meia. No andar inferior, com “mais periculosidade”, apenas um
detento fazia “o estudo no banho de sol da tarde”.
Já no pavilhão 3 existiam duas celas de seguro, separadas das demais por divisórias
extras para dificultar que os outros presos tivessem acesso. Tratava-se do pavilhão mais
superlotado, chegando a oito presos por cela, sendo considerado por membros da
administração da PPACP como uma espécie de “termômetro da cadeia”.
Aliás, um dos diretores da Penitenciária indicou que “no pavilhão 3, pelo fato de ter o
seguro, a religião os exclui, e eles não participam das atividades religiosas que os presos
elaboram.” Inclusive, a presença do seguro muda toda a dinâmica interna.
Na estruturação das atividades realizadas pelos presos, as celas que queriam,
individualmente, realizavam cultos às segundas, quartas e sextas. Mas não seria possível
garantir que um mesmo “xadrez” fizesse esse culto todas as semanas, pois “às vezes para
porque o irmão que incentivava foi embora, ou porque teve problema, (...) ou porque o preso
tava com recurso no Tribunal, fazendo jejum, campanha, mas a pena aumenta, aí o irmão dá
uma recaída”.
Além disso, aconteciam celebrações coletivas às terças e quintas. Esses cultos eram
apenas dois e, segundo o pastor-preso do pavilhão, duravam das 18:00 às 19:20 “porque aqui
é lotado”. Ele era o único, aliás, que “puxava” os cultos. Antes disso os detentos ficaram cerca
de um ano sem qualquer atividade religiosa fora das celas, o que coincide com o período em
que o seguro foi incorporado ao pavilhão.
Quando alguém do seguro queria participar, “muitos presos dizem ‘ué, estuprou, matou
família lá fora, roubou droga de fulano, e agora tá buscando a Deus?’” A desconfiança,
portanto, reinava nesses casos. Havia “muita discriminação e dúvida se o preso converteu
mesmo. Uns até não participa por vergonha do que os outros vão falar”.
O último pavilhão era o 4, que abrigava as mulheres. Ali tínhamos o maior quociente
na relação preso/vaga, sendo, em 23 de junho de 2016, 4,6 presas por vaga, enquanto no
masculino esse número não chegava a 2. Apesar disso, esse era o pavilhão mais tranquilo, já
que os conflitos se limitavam a discussões verbais entre as detentas.
Por conta dessa maior tranquilidade, as presas eram as que mais recebiam tratamentos
médico, odontológico, psicológico e de assistência social. Era muito mais fácil, e menos
perigoso institucionalmente, retirar uma presa da cela para que ela fosse ao Núcleo Psicossocial
ou ao atendimento com um advogado.
É interessante destacar que um número razoável de presas conversou comigo
visivelmente dopada de remédio, o que, segundo elas, substituía a droga inexistente no
pavilhão. Os medicamentos, inclusive, também eram usados para tentar conter os transtornos
mentais que o encarceramento lhes afligia, como depressão e ansiedade. Foi apenas nesse
pavilhão que os entrevistados – no caso, elas – choraram, o que nos mostra a distinção entre as
prisões masculina e feminina, essa ainda mais carregada de emoções.
Outro ponto diferenciador do encarceramento de mulheres reside na farta quantidade de
casos relatados de que “fulana pegou espírito”. Essas narrativas de incorporação, inexistentes
nos pavilhões masculinos, apareceram nas falas de várias detentas, até porque muitas “delas
tiveram alguma experiência com o espiritismo quando estavam na rua”. Segundo uma das
policiais penais, que se afirmou católica: “As presas ficam baixando espírito pra botar medo
na gente. As presas também morrem de medo e ficam chamando a gente pra resolver.”
Ainda, e esse é um ponto de grande importância, os relatos de cultos coletivos, propostos
pelas detentas, eram quase inexistentes. Existia um motivo: “presa não se sujeita a outra presa”.
Ou seja, como não havia pastoras-presas, manifestações religiosas coletivas praticamente não
apareciam, ficando limitadas às que eram elaboradas dentro das celas.
Essa diferença nos quatro pavilhões nos mostra um entrave ao trabalho de capelania em
todo o país: as atividades externas propostas pelas igrejas são basicamente as mesmas em todas
as galerias, sem alterações discursivas que atentem às configurações de cada uma.
Infelizmente, muitas igrejas sequer percebem a diversidade religiosa existente e operante em
cada local, e, por isso, não promovem qualquer tipo de reflexão ou atualização sobre os
trabalhos que realizam.
Você, capelão, precisa mudar essa realidade!
Dito isso, passamos a destacar algumas orientações ainda mais práticas, em tópicos,
para que você se organize no trabalho de capelania prisional:
1) Perceba o presídio como um campo transcultural, com regras próprias de convivência
e de sobrevivência, em que o sujeito detido é obrigado a viver de acordo com aquelas normas
– isso muda, por exemplo, se no presídio existem facções criminosas, ou se há alas reservadas
para o “seguro”;
2) Verifique qual é a realidade específica daquele presídio que você visita:
2.1) Regimes prisionais ali existentes;
2.2) Número de dependentes químicos e grau de dependência;
2.3) Detentos com penas muito longas, o que nem sempre significa grande
envolvimento com o crime;
2.4) Se existe separação entre os criminosos “profissionais” (adotaram o crime
como estilo de vida) e os “eventuais” (o crime foi um fato isolado);
2.5) Se há o “seguro” (via de regra, ocupado por milicianos e condenados por
crimes sexuais, como estupro) – esses presos são moeda de troca em motins e rebeliões, e não
são aceitos para o cumprimento de pena junto com os demais detidos;
2.6) Se existem celas, galerias ou pavilhões ocupados exclusivamente por
detentos que dizem pertencer a uma determinada religião;
3) Nos presídios femininos são raras as visitas íntimas – isso faz prevalecer as escolhas
homossexuais das detentas, mesmo que apenas enquanto estiverem presas, na tentativa de
suprir a carência afetiva;
4) Mulheres demandam intervenções específicas, a exemplo de itens de beleza e de
maquiagem, bem como um cuidado especial com seus filhos;
5) Conheça o que já existe de religioso no local: quais igrejas visitam, quem são os
presos-pastores levantados pelos próprios detentos, e quais projetos já estão em andamento;
6) Busque o apoio da direção prisional e desenvolva projetos para os Policiais Penais
(antigos Agentes) e para o corpo técnico da unidade, realizando cafés e palestras em datas
especiais (a exemplo do Dia das Mães, Dia dos Pais, e Dia do Servidor Público);
7) Procure envolver a igreja em todo o projeto – mesmo que as pessoas não aceitem
visitar o cárcere, estimule-as à oração e ao discipulado através de cartas;
7.1) Em razão dos livros que publiquei, acabo recebendo correspondências de
presos de todo o país e, certa vez, um preso me escreveu que “uma carta recebida na prisão é
tão preciosa quanto uma visita”;
8) Estabeleça parcerias para a montagem e a estruturação de biblioteca, estimulando a
leitura e promovendo a remição (redução) da pena;
9) Não veja o cárcere como uma extensão da sua igreja – não apenas “adapte” uma
pregação já feita, mas prepare uma mensagem específica para esse público (no livreto A
verdade os libertará [conheça aqui] você encontra várias ideias);
10) Realize um projeto mais abrangente:
10.1) Cultural: aulas de canto ou de instrumento;
10.2) Esportivo: futebol, vôlei ou peteca, por exemplo;
10.3) Social: ajude os presos a escrevem cartas para seus familiares;
11) Se importe com a família dos presos:
11.1) Lembre-se que quando sair da cadeia o detento retornará para a família;
11.2) Por questões de segurança, monte sua equipe de modo que um mesmo
capelão não realize visitas à prisão e às famílias dos detidos;
11.3) Converse com os parentes, por exemplo, oferecendo um café antes do
horário das visitas familiares;
11.4) Auxilie na obtenção de benefícios governamentais oferecidos às pessoas de
baixa renda;
12) Estenda seu projeto às vítimas – para além dos presos e dos funcionários, seu projeto
pode incluir as vítimas dos crimes, por exemplo, através da Justiça Restaurativa;
12.1) A Justiça Restaurativa é um método alternativo de solução de conflitos que
pretende unir todos os envolvidos na busca pela restauração das relações, pela reparação dos
danos e pela recuperação social daquele que cometeu o delito. A tônica nesses encontros deve
ser a do perdão, que permite à vítima diminuir o impacto dos traumas sofridos e dá ao agressor
a oportunidade de mudar seus valores para a ressocialização;
13) Sobre a equipe, pense:
13.1) Na maioria das unidades prisionais a assistência religiosa é prestada nos
dias úteis da semana, pela manhã ou à tarde; ou seja, justamente no horário em que muitos dos
membros de nossas igrejas estão trabalhando;
13.2) Reúna periodicamente os capelães para um encontro, abrindo espaços para
o testemunho de êxitos, fracassos e dificuldades na operacionalização do trabalho;
14) Cumpra o que você disser;
15) Nunca prometa algo que você não poderá fazer ou que exija o compromisso de outra
pessoa com a qual você não acordou pessoalmente sobre o assunto;
16) Como os presos vão te pedir muita coisa – de artigos de higiene a entrega de recados,
passando por Bíblias e materiais os mais diversos –, tome o cuidado de não responder por
impulso e assumir um compromisso;
17) Lembre-se que vários itens não poderão ser entregues diretamente aos presos, e
muitos outros sequer podem ingressar nas dependências da unidade prisional – isso depende
das normas internas de cada instituição;
18) Seja pontual – a ausência da sua equipe tende a ser interpretada como descaso tanto
pela direção da unidade quanto pelos próprios detentos, o que em muito prejudicará como eles
receberão as palavras que lhes forem ministradas;
19) Cumprimente a todos: num ambiente em que reina o descrédito e a desconfiança, se
você estendeu a mão para um preso, faça o mesmo com todos os demais que estiverem
presentes;
20) Não se dirija aos detentos invocando apelidos que os remetam ao mundo do crime,
mas sim por seus nomes;
21) Não comece um diálogo perguntando o motivo de a pessoa estar presa ou o crime
que ela cometeu: tais questões estarão presentes no processo de discipulado, mas não em um
primeiro momento;
22) Seja claro em suas mensagens: evite o uso de uma linguagem muito formal,
especialmente por conta do baixo nível de escolaridade dos presos;
23) Não converse usando palavras com duplo sentido ou que possam dar margens a
interpretações divergentes, pois isso pode fazer o preso “viajar”;
24) Tome extremo cuidado com o tipo de roupa e de assessórios que usará quando fizer
uma visita à prisão – para as mulheres, nunca usem decotes ou qualquer vestimenta que
valorize seus corpos;
25) Monte formulários de atendimento (inclusive para os casos de aconselhamentos
individuais), que devem ser preenchidos com as informações que sua equipe julgar relevantes
– insira, por exemplo, dados sobre quantidade de presos atendidos, texto-base usado para o
discipulado em determinado dia, realização de batismos e ceias, entrega de materiais bíblicos,
intercorrências na prestação da assistência religiosa e quantidade de visitadores;
26) Tome cuidado especial com o sigilo (recomendo que você volte à leitura do item em
que tratamos desse tema);
27) Inclua o preso na formulação das atividades da capelania – muitos deles possuem
várias dúvidas teológicas, inclusive porque recebem visitas de diferentes religiões e matrizes
quase todos os dias;
27.1) Ao responder essas dúvidas, tome cuidado para não “falar mal” do trabalho
de outras igrejas ou denominações;
27.2) Pense na implantação de cursos bíblicos dentro da unidade prisional,
capacitando os presos-pastores: indico particularmente os cursos Fundamentos da Fé Cristã e
Solidificando a Fé Cristã, elaborados pela Rádio Trans Mundial, que são realizados à distância
[clique aqui para acessar];
27.3) Promova uma celebração pela conclusão dos estudos e para o recebimento
dos certificados, se possível convidando os parentes dos detentos;
28) Estimule a que os próprios presos se auxiliem, amenizando a “lei do mais forte” que
impera nos cárceres;
29) Apesar de o trabalho em si, sozinho, não ter o condão de transformar os valores dos
assistidos, encoraje-os a trabalharem na cadeia – você também pode buscar parcerias com
empresários para a contratação de mão de obra;
30) Fique atento às falsas conversões: o capelão não deve julgar a conversão do detento,
mas precisa saber que há muitos que mascaram a fé ou, noutros termos, vivem apenas uma
falsa religiosidade, sem Cristo, sem cruz e sem libertação – os próprios presos dizem que esses
“se escondem atrás da Bíblia”;
31) Cuidado com “usos e costumes”: se você for a um presídio verá que a imensa
maioria dos presos que se declara evangélica não faz distinção entre denominações, havendo
uma espécie de “ecumenismo protestante”. O que importa para eles é a libertação do pecado,
conquistada por Jesus, e não fatos secundários à fé. Com isso não estou dizendo que você não
deve expor, quando questionado, sobre os “usos e costumes” da sua denominação, mas, sim,
que eles não devem ser um fator relevante na mensagem anunciada;
32) Entenda o papel de Deus em toda a capelania: você será apenas um instrumento por
meio do qual Ele alcançará as pessoas que estão presas; a mudança verdadeira é operada de
dentro para fora, através da conversão, e isso só o Espírito Santo pode realizar;
33) Lembre-se que é possível, sob o ponto de vista legal, que os presos sejam liberados
para acompanharem cultos e eventos religiosos (a exemplo de batismos) fora da penitenciária;
34) Pesquisas apontam que mais de 85% dos presos não têm acesso ao estudo e ao
trabalho nos cárceres, e que mais da metade deles possuem apenas o ensino fundamental
incompleto – esses dados indicam a importância de as atividades de capelania contemplarem
ações nessas duas áreas;
35) Fique atento às minorias encarceradas, como ciganos, quilombolas e travestis;
36) Nunca realize falsas promessas, como “se fizerem culto aqui na cela, Deus vai dar
o alvará de soltura de vocês”;
37) Entenda se existe algum tipo de sincretismo e esteja apto a lidar com essa situação,
expondo a verdade da Palavra em amor – veja um exemplo de fala que já ouvi no sistema:
“Minha madrinha de batismo é mãe de santo, mas vai na missa todo domingo. E eu comecei a
voltar pro espiritismo. Fiquei uns 8 meses, e saí porque não tava resolvendo nada. (...) Hoje
acredito em Deus. Deus é um só. No espiritismo ou na igreja é o meu Deus. (...) Se for preciso
ir no centro pra benzer, vou. Não vou ser espírita, mas se precisar de algo, vou lá. Mas levo na
igreja também. Na hora da mesa branca Deus é um só”;
38) Não “agarre” em uma cela e deixe de atender às demais.
Perceba que, mesmo sem utilizar o termo individualização, o detento aponta justamente
para essa ideia: “É necessário entender quem é cada um.”
Seja benção nas mãos de Deus!
6.3. Escolar
O mundo passa por um momento em que as pessoas estão cada vez mais conectadas na
internet. Isso pesa muito para crianças e jovens, grupo que atingimos com maior propriedade
através da capelania escolar.
São cerca de 46 milhões de alunos no país, sendo 9 milhões na educação infantil, 27
milhões no ensino fundamental, 8 milhões no ensino médio e 2 milhões na educação
profissional. Além disso, somente na educação básica temos mais de 2 milhões de professores
e cerca de 150 mil diretores de escolas. A grandeza desses números já nos faz perceber o quão
desafiador é o ambiente escolar.
E é interessante que num mesmo bairro, às vezes, existem várias igrejas, e uma ou duas
escolas, mas esses colégios não são adotados, não são atendidos. Ficamos centrados em nossas
atividades internas e nos esquecemos que há muito de missões a ser feito. Nossos filhos,
sobrinhos e netos estudam, mas a maioria de nós não se ocupa em mudar esses ambientes a
partir da Palavra de Deus.
Mas o trabalho de capelania escolar vai além do apoio individual aos alunos. Ele
também colabora com professores, pais e toda a comunidade escolar em diversas iniciativas.
Isso pode incluir programas de conscientização sobre saúde mental, palestras educativas,
grupos de apoio e atividades extracurriculares, entre outras abordagens.
Aliás, a aplicação da resiliência pelo capelão escolar também contribui para a
construção de uma cultura escolar mais forte. Ao capacitar os estudantes a enfrentarem os
desafios com confiança e esperança, você desempenha um papel vital no desenvolvimento
integral dos alunos, preparando-os para uma vida de superação e de crescimento pessoal.
Não é demais lembrar que a capelania colabora com a coordenação pedagógica para
promover um ambiente de apoio integral aos alunos. Ambas compartilham o objetivo comum
de promover o bem-estar e o desenvolvimento dos estudantes, cada uma a partir da sua
respectiva área de atuação.
Por isso é importante que a capelania esteja alinhada com os princípios e os objetivos
educacionais da instituição, trabalhando de forma colaborativa e integrada. Isso significa que
o capelão não substitui outros segmentos escolares, que têm suas funções atribuídas pela
direção da escola, mas que “anda junto” com eles.
Nesse sentido, não deixe que a capelania seja vista como o “disciplinador” da escola,
mas sim como um recurso de apoio, de cuidado e de orientação para os alunos. Repito: não
estamos ali para exercer um papel punitivo ou autoritário, mas para promover um ambiente de
acolhimento, de compreensão e de respeito.
Também é muito importante não confundir capelania com ensino religioso. Nos termos
do art. 210, § 1º, da Constituição de 1988, “O ensino religioso, de matrícula facultativa,
constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. Ou
seja, o texto é claro no sentido de que a oferta da disciplina é um dever das “escolas públicas
de ensino fundamental”, mas a matrícula dos alunos é “facultativa”. Assim, o Estado tem que
oferecer a disciplina e os alunos não são obrigados a dela participar.
Por outro lado, a capelania consiste num leque de atividades (orações, liturgias,
ministrações, rituais...) de cunho espiritual que visa assistir às pessoas que, por si mesmas, não
conseguem buscar o amparo religioso que necessitam.
Deixo aqui uma série de questões a serem consideradas no trabalho prático da capelania
escolar:
1) O capelão, em regra, atende alunos, professores, colaborares e familiares que estejam
passando por algum tipo de conflito;
2) Seu objetivo é, através da Palavra de Deus, auxiliar que o assistido enfrente esse
conflito com mais determinação e esperança;
3) Conheça bem o ambiente em que irá trabalhar, pois cada escola possui, em uma
determinada época, interesses e necessidades diferentes – pense em palestras e rodas de
conversa, por exemplo, sobre família, violência, drogas, pornografia, música, prostituição,
autoestima, bullying, inclusão de pessoas com deficiência, automutilação, indisciplina e
orientação vocacional;
4) Pense em ações práticas que demonstrem carinho com os assistidos – por exemplo,
deixe uma mensagem acompanhada de um bombom no escaninho de cada professor;
5) Trate o assistido pelo nome, e não por “amado”, “meu anjo”, “irmão”;
6) Seja organizado com suas atividades – horários, materiais, recursos extras – e, caso
haja imprevistos, se esforce para que outro capelão da equipe compareça para cumprir o que
estava proposto;
7) Tenha em mente algumas pessoas que possam ajudar em áreas específicas, como
música (canto e instrumentos), teatro, fantoches e palhaçaria;
8) Verifique aspectos nos quais você não tem aptidão para trabalhar e, nesse caso, possua
contato com pastores e outros profissionais que poderão executar essa atividade – por exemplo,
a realização de ofícios fúnebres ou o atendimento psicológico;
9) Recomenda-se que você tenha um número de telefone e WhatsApp que sejam
específicos da capelania, não misturando com seu contato pessoal;
10) Se disponha a acompanhar alunos e professores em atividades extraclasse, como
excursões e jogos estudantis;
11) Crie um calendário anual de atividades, respeitando datas festivas (as principais
estão abaixo) e o que foi acordado com a direção da escola;
11.1) Abril: Páscoa e Tiradentes;
20) Na medida do possível, tenha uma sala específica e exclusiva para os atendimentos
da capelania:
20.1) O local deve ser reservado, com discrição;
20.2) Apesar disso, é importante que haja porta e/ou janelas com vidros
transparentes para preservar a integridade moral do capelão e do assistido;
20.3) Organize um mobiliário confortável, mesmo que feito com recicláveis;
20.4) Mantenha o ambiente limpo e organizado;
20.5) Disponibilize lenços descartáveis;
20.6) Possua bíblias e livros de consulta na área;
20.7) Tenha folhetos e devocionais, com temas específicos, para serem entregues
aos assistidos;
21) Para além das reuniões e dos aconselhamentos, proponha atividades extras
dependendo das habilidades da sua equipe, tais como grupos de skate, escola de música,
palestras, teatro com figurinos e escolinha de futebol;
22) Realize um dia de ação social da capelania, com atividades como corte de cabelo,
aferição de pressão, atendimento oftalmológico e confecção de documentos, incluindo
brincadeiras “antigas” para as crianças, a exemplo de amarelinha, pula elástico, carrinho de
rolimã, bolinha de gude e pião;
23) Faça um “lançamento” do projeto, convidando toda a comunidade acadêmica e seus
familiares – se o caso, através de uma palestra ou roda de conversa, mostre em que áreas a
capelania vai atuar e quais benefícios serão gerados;
24) Usar recursos visuais para ilustrar as histórias bíblicas é especialmente importante
para os alunos com menos idade.
Que Deus te ajude a atingir cada vez mais pessoas com a Sua Palavra!
6.4. Universitária
diploma de doutorado, mas, ao menos, que possua profundo conhecimento teológico. Você
precisa ser um “especialista” em sua área de atuação (Teologia e Aconselhamento), assim como
os docentes da instituição são especialistas em suas matérias. Reconheça que mesmo doutores
em física quântica podem ser como bebês no entendimento acerca do cristianismo.
Especialmente com os alunos, você também pode buscar pontos de contato a partir de
situações paralelas, como filmes, livros e séries. Uma boa compreensão cultural do capelão
facilita, e muito, o desenvolvimento do seu trabalho. O objetivo é fortalecer o pequenino
(cristão que está sendo bombardeado no ambiente universitário) e evangelizar os perdidos.
Esteja aberto para ser usado por Deus como instrumento de amor e de esperança na
vida daqueles que você serve!
6.5. Empresarial
Atualmente as questões éticas têm cada vez mais relevância no contexto empresarial,
refletindo a busca por responsabilidade social e sustentabilidade por parte das organizações.
Temas como competência, qualidade, trabalho em equipe, espírito de inovação e superação
também ganharam relevo, sendo um indicativo para os consumidores que determinada empresa
possui zelo pelo meio ambiente, pela ética e por relações sociais saudáveis.
Só que o mundo não está imune a crises. Elas são enfrentadas diariamente, tanto dentro
como fora do ambiente empresarial, e têm destacado a importância do cuidado com a
espiritualidade entre diretores, colaboradores e fornecedores. Esse contexto faz com que os
serviços de capelania tendam a ser mais solicitados que os de serviço social ou de psicologia
oferecidos pelas empresas, pois são vistos com maior imparcialidade pelos assistidos.
Aliás, ao contrário do que muitos podem pensar, o trabalho não é uma maldição de
Deus. No Éden, antes mesmo do pecado, o homem já cuidava e cultivava o jardim que o Senhor
lhe havia entregue. O trabalho, portanto, deve ser visto como benção de Deus (Efésios 6.5-8;
Colossenses 3.22-25), e não apenas como a forma pela qual nos submetemos a jornadas de
serviço em troca de uma remuneração. Dito de outro modo, ele não é apenas uma forma de
ganharmos dinheiro, mas também, e principalmente, um modo como servimos a Deus e
testemunhamos do Senhor.
Mas será que a capelania empresarial é mesmo importante? Certamente!
Mas também existem muitos entraves, especialmente jurídicos, que merecem sua
atenção. No Brasil a capelania empresarial ainda é pouco conhecida, sendo normalmente
pensada por empresários que desejam evangelizar seus funcionários. E aí encontramos vários
limites.
A empresa até pode disponibilizar templos religiosos nas instalações de trabalho, mas
os funcionários nunca podem ser obrigados a frequentá-los. Esse espaço, especialmente se
decorado com elementos específicos de uma única religião, não deve ser utilizado como sala
de reuniões.
Não é prudente, também, que os encontros da capelania ocorram antes ou após o
expediente, sob pena de restar caracterizado, na Justiça do Trabalho, como hora extra, havendo
reflexo nas verbas trabalhistas. No mesmo sentido, leituras bíblicas e orações não devem ser
feitas nos refeitórios, especialmente nos intervalos para alimentação (almoço, lanche ou
jantar). Isso porque, além de o funcionário ser praticamente obrigado a ouvir a mensagem –
ele às vezes é abordado até enquanto faz a refeição e não há outro local para isso –, a empresa
acaba violando as funções dessas pausas, que servem tanto para a alimentação quanto para o
descanso.
Assim, no caso de ação na Justiça do Trabalho, um funcionário poderia alegar que seu
intervalo não foi respeitado devido às atividades de capelania, o que teria impedido seu
descanso devido à ministração religiosa. Caso isso fique provado, o empregador será
condenado a pagar como horas extras o período suprimido (conforme o art. 71, § 4º, da CLT)
e, em certos casos, também poderá ser obrigado a indenizar o colaborador por danos morais,
dependendo do conteúdo e da ênfase conversionista da pregação.
É claro que a empregadora pode convidar e, até mesmo, estimular a prática religiosa,
especialmente a voltada para o cultivo das virtudes e de aspectos positivos de conduta. Por
outro lado, é ilegal a conduta do empregador que pratica ou incentiva a marginalização de um
funcionário que se recusa a estar em momentos de orações ou de cultos.
Por isso é muito importante que o capelão tenha extremo cuidado em suas abordagens,
não obrigando a participação de nenhum colaborador. Deixe seus contatos no mural da
empresa, e peça ao setor de RH que encaminhe uma mensagem falando da implantação do
igrejas locais, bem como, caso exista, coordenar o alojamento dos alunos, zelando pela vida
espiritual, pelo comportamento e pelo bom convívio entre os que ali residirem.
Via de regra o capelão assume a ministração de algumas disciplinas, especialmente
aquelas que tenham relação com o desenvolvimento prático do ministério pastoral. Você será
responsável por abordar, tanto através de palestras quanto da indicação de literatura, as
questões mais comuns enfrentadas por seminaristas, como prevenção ao suicídio, manejo do
luto, tratamento de distúrbios alimentares, culpa e perdão, depressão, disciplina eclesiástica,
relacionamentos abusivos e sexualidade.
São justamente essas palestras que “abrirão os olhos” dos alunos, gerando demandas
para as demais áreas nas quais o capelão atua, especialmente as relacionadas ao
aconselhamento individual, redentivo, que aponta para Jesus Cristo. A intenção das palestras
não é apenas abordar o comportamento, a atitude externa, mas também promover, através da
Palavra, uma mudança nos corações, naquilo que é a raiz das ações humanas (Provérbios 4.23;
Romanos 12.2). Aqui o capelão desempenha o papel de discipulador, guiando os estudantes
em seu caminho de fé, encorajando-os a desenvolverem um relacionamento profundo com
Deus e ajudando-os a aplicarem os princípios cristãos em suas vidas diárias.
Além disso, o capelão age na gestão de conflitos, geralmente provocados pela discussão
entre alunos (lembre-se que todos somos humanos, afetados pelo pecado), que poderão gerar
ressentimentos e mágoas. Nesses casos, primeiro é necessário observar aquilo que está
aparente; depois, o capelão precisa compreender o fato, ouvindo os envolvidos inclusive
quanto às suas motivações; apenas ao final é que você irá, propriamente, intervir, sempre tendo
a Bíblia como pano de fundo, como fundamento de suas decisões.
No mais, o capelão também se vale de uma mentoria direcionada, uma espécie de estudo
dirigido visando moldar e capacitar os discentes em áreas específicas. Essa mentoria deve
permanecer durante toda a formação do aluno, ou seja, durante todo o período em que ele estará
no seminário. Você escolherá livros que tratam sobre liderança, conflitos, restauração de
relacionamentos e vocação pastoral, assuntos centrais para o exercício do ministério.
Aliás, nem todos os seminaristas possuem essa vocação pastoral (interna ou externa).
Alguns se inscrevem no curso por fatores os mais diversos, como a pressão da família ou a
falta de conquista de um bom emprego “secular”. Nesses casos não há relação direta com o
chamado especial de Deus para suas vidas, e faz parte do trabalho do capelão ajudá-los a
discernir esse aspecto.
vida? O que de fato importa para você? Que castelos você constrói nas nuvens? Você organiza
sua vida ao redor de quê? O que orienta o seu mundo?
12.10) Onde você encontra refúgio, segurança, conforto, escape, alegria?
12.11) Em quem ou no que você confia?
12.12) Qual a pessoa cujo desempenho é importante para você? Sobre os ombros
de quem descansa o bem-estar do seu mundo?
12.13) A quem você precisa agradar? Quais as opiniões que contam a seu
respeito? Você deseja a aprovação e teme a rejeição de quem? Qual o sistema de valores pelo
qual você se mede? Aos olhos de quem você está vivendo?
12.14) Quais os modelos que você segue? Que tipo de pessoa você deseja ou quer
ser?
12.15) Em seu leito de morte, o que a sua vida resumiria como de valor? O que
dá sentido à sua vida?
12.16) Como você define sucesso ou fracasso em determinada situação?
12.17) O que faz com que você se sinta rico, seguro, próspero? O que o faria
feliz?
12.18) O que daria a você o maior prazer, felicidade, deleite? O que daria a maior
dor e tristeza?
12.19) Que político poderia melhorar a situação se assumisse o poder?
12.20) Você ficaria feliz com a vitória ou o sucesso de quem? Como você define
vitória ou sucesso?
12.21) O que você vê como seus direitos? O que você sente que tem o direito de
fazer?
12.22) Em que situação você se sente pressionado e tenso ou confiante e
descansado? Quando você está pressionado, para onde se volta? O que você pensa a respeito?
Quais são os seus meios de escape? Do que você quer escapar?
12.23) O que você quer alcançar na vida? Que recompensa você quer extrair
daquilo que faz? O que você consegue com isso?
12.24) Pelo que você ora?
12.25) O que ocupa o seu pensamento com maior frequência? O que o preocupa
ou que tipo de pensamento obsessivo você tem? Pela manhã, para o que a sua mente se volta
instintivamente? Qual a sua maneira habitual de pensar?
12.26) Sobre o que você costuma falar? O que é importante para você?
12.27) Como você usa o seu tempo? Quais são as suas prioridades?
12.28) Quais são as suas fantasias preferidas (sejam elas agradáveis ou
amedrontadoras)? Com o que você sonha acordado? Qual o tema dos seus sonhos?
12.29) Que crenças você sustenta a respeito da vida, de Deus, de si mesmo e de
outros? Qual a sua cosmovisão, sua “mitologia” pessoal que estrutura a sua maneira de olhar
para o mundo e interpretá-lo? Quais as suas crenças específicas a respeito da situação? O que
você aprecia?
12.30) Quais são os seus ídolos ou falsos deuses? Em que você deposita a sua
confiança ou coloca a sua esperança? Para o que você se volta ou o que você busca? Onde você
se refugia? Quem é o salvador, juiz, controlador do seu mundo? A quem você serve? Que “voz”
está no controle de sua vida?
12.31) De que maneira você vive para si mesmo?
12.32) De que maneira você vive escravizado pelo mal?
12.33) Como você implicitamente diz “Se apenas...” (alcançar o que você quer,
evitar o que você não quer, segurar o que você já possui)?
12.34) O que instintivamente lhe parece certo? Quais são as suas opiniões, quais
as coisas que você sente que são verdadeiras?
12.35) Onde você encontra sua identidade? Como você define quem você é?
Permaneça sensível à direção do Espírito Santo. Que Ele guie seus passos e use suas
palavras para encorajar e edificar os outros!
Diante de tudo o que vimos até aqui você já deve ter percebido que sem organização,
sem preparo, dificilmente algum projeto de capelania irá ser realmente eficaz. Afinal de contas,
o projeto é o instrumento pelo qual expressamos nossas motivações, estabelecemos as metas e
avaliamos os resultados alcançados.
É verdade que não existe um projeto padrão que possa ser aplicado sem alterações em
todas as áreas. Cada instituição em que iremos trabalhar, seja uma prisão, um hospital ou uma
escola, possui singularidades que devem ser observadas pelo capelão. Sempre será necessário
adaptar e personalizar as abordagens de acordo com as particularidades de cada contexto.
Mas isso não quer dizer que não há modelos a serem seguidos. Pelo contrário, depois
de preparar mais de 6.500 capelães em nosso Curso Completo [saiba mais], organizei um
modelo geral. Sobre ele você deverá apenas adaptar as particularidades de acordo com as
demandas do local e com as habilidades encontradas em sua equipe.
Antes de escrever o projeto você precisa conhecer muito bem a realidade da instituição.
Como vimos no decorrer desse livro, as demandas de um hospital de emergência são diferentes
das de um hospital que realiza tratamentos contra o câncer. Do mesmo modo, um presídio
feminino apresenta dinâmicas diversas em relação ao masculino. Ainda, é bastante diferente,
no contexto escolar, quando trabalhamos com crianças da educação básica ou com alunos do
Ensino Médio.
Assim sendo, é absolutamente necessário que, antes de começar um projeto sério de
capelania, você visite a instituição e conheça os seus desafios. A capelania passará a ser
encarada como uma resposta de Deus para aquela realidade específica, com o desenvolvimento
de ações voltadas para o atendimento das necessidades ali encontradas.
Ou seja, você só pode projetar sua atuação após uma análise do contexto institucional,
a qual apontará para seus objetivos. Por exemplo, se num determinado presídio não faltam
materiais de higiene para os detentos, essa não deve ser uma ocupação da sua equipe de
capelania.
De maneira geral, verifique qual público será atendido, qual o contexto da comunidade,
qual a estrutura material você terá disponível, por quanto tempo pretende que o projeto perdure,
se há outros trabalhos de capelania ou de ação social existentes (em caso positivo, quais
atividades eles já realizam)... Na conversa com a diretoria da instituição, inclusive, já verifique
o que será possível executar. O projeto é mais um espelho, uma formalização, do que restou
previamente combinado.
Além disso, o capelão precisa conhecer muito bem sua equipe, pontuando quais são
seus dons e talentos. Não adianta escrever que você oferecerá apoio jurídico se não existe um
advogado disponível, ou que organizará uma aula de música se não existe alguém habilitado
para essa função. A clara percepção dos desafios e das oportunidades, inclusive, fará com que
você procure por pessoas que atendam às necessidades que, até aquele momento, não foram
supridas.
Ainda na fase de preparação, você deve identificar quais são as suas metas, que
resultados você pretende alcançar. Eu sei que nossa maior motivação é o anúncio da Palavra
de Deus, e ficamos imensamente gratos ao Senhor pela conversão dos nossos assistidos. Mas
a conversão deles é papel do Espírito Santo (2 Coríntios 5.18-20; Efésios 2.5) e sequer pode
ser medida por você. Se o Senhor não autorizou os anjos a separarem o joio do trigo de maneira
prematura (Mateus 13.24-30 e 36-43), não será você o responsável por essa tarefa.
Mas, perceba, o capelão pode mensurar muitas outras questões, como a quantidade de
pessoas que fizeram um curso, que foram acompanhadas em discipulado, que receberam
literatura bíblica ou que retomaram o contato com a família.
Outro fator superimportante é a previsão de receitas e de despesas do projeto. O próprio
Jesus nos falou sobre essa organização de contas para que não sejamos envergonhados (Lucas
14.28-30).
Nesse contexto, lembramos que o capelão aparece na Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO) na rubrica 2631-05 – ministros de culto religioso –, ao lado, por exemplo,
de pastores, diáconos e evangelistas. Trata-se, portanto, de uma função reconhecida no país,
apesar de suas atividades não estarem regulamentadas em minúcias. E essa falta de uma maior
regulamentação é extremamente importante para preservarmos a liberdade religiosa.
Tendo isso em vista, você pode ser contratado por instituições e ser remunerado por
isso. Aliás, não são poucas empresas, hospitais e escolas, especialmente confessionais, que
contratam capelães para ali prestarem assistência religiosa. Entretanto, devemos reconhecer
que a maior parte dos trabalhos são exercidos por voluntários, por pessoas que doam tempo e
recursos com o objetivo de servir ao próximo.
Assim sendo, você precisa saber se a instituição contrata seus capelães e, em caso
positivo, qual será a forma de remuneração por seus serviços. Mas o fato é que, contratado ou
não, você precisa identificar de onde virão os recursos para o custeio do projeto, e onde eles
serão alocados. Pense, mais, em quais podem ser os seus parceiros, ofertando finanças ou
pessoal capacitado.
Escrito o projeto, chegou a hora de o apresentar à instituição para que seja aprovado,
dando-se início à execução das atividades.
Por isso deixo para você, abaixo, um modelo, que tem por base o projeto “A verdade os
libertará”, apresentado à direção da Penitenciária José Edson Cavalieri (PJEC), em Juiz de
Fora/MG. Apesar de direcionado ao ambiente prisional, você poderá usar a mesma estrutura,
apenas adaptando o esquema a partir das informações colhidas em sua realidade.
Que Deus te abençoe nessa caminhada de anunciar o Evangelho, restaurando seus
assistidos para a glória do Senhor!
Terceiro: apresente a justificativa, os motivos pelos quais esse projeto deverá existir,
qual sua base de sustentação
O projeto [nome do projeto], a ser realizado junto aos internos na [nome da instituição],
em [cidade/Estado], tem como fundamento a participação da comunidade, em cooperação com
o Estado, na execução da pena (LEP, art. 4º).
É sabido que, visando cumprir as funções da pena na prevenção do crime e na orientação
quanto ao retorno à convivência social, cabe ao Estado promover a assistência ao detento (LEP,
art. 10, caput). Dentre elas, ancoram esse projeto as assistências educacional e religiosa (LEP,
art. 11, IV e VI), bem como a promoção da cidadania, da paz e dos direitos humanos, valores
de interesse público defendidos pelo art. 3º da Lei nº 9.790/1999.
Quinto: exponha a metodologia, ou seja, como o projeto será realizado – aqui houve
uma indicação pormenorizada do trabalho, como número de participantes e critérios para
formatura, por exemplo, tendo em vista a necessidade de que os presos fossem direcionados a
uma sala específica, uma vez por semana, o que é algo incomum para as capelanias no sistema
prisional
Tendo em vista a já mencionada individualização da execução penal, e considerando o
texto-base desse projeto – o livreto A verdade os libertará –, pretende-se promover reflexões
sobre cada um dos devocionais com os detentos, que podem ser divididos em grupos de até
[número de presos, desaconselhando-se que seja maior que 20] acautelados. Cada um dos 30
(trinta) estudos contém, ao final, uma série de perguntas a serem respondidas. Por exemplo, no
texto “Derrotando os vícios” as perguntas são: “Você se considera viciado em alguma coisa?
Em que o vício atrapalha e como pretende superá-lo?”
É essencial que o mesmo recuperando participe de todo o projeto: serão 08 (oito)
reuniões semanais, sendo 06 (seis) para conversas sobre os devocionais, 01 (uma) para revisão
geral e 01 (uma) para formatura. Da formatura, aberta aos familiares dos detentos, apenas
constarão os que tiverem participado de pelo menos 05 (cinco) dos 07 (sete) encontros iniciais.
Em relação aos 06 (seis) primeiros encontros, em cada um serão discutidos 05 (cinco)
devocionais com os participantes do projeto. Os detentos receberão, ao final de cada reunião,
05 (cinco) folhas para que respondam, durante a semana subsequente, nas celas e de maneira
refletida, às perguntas. Os integrantes da equipe desse projeto, depois, levarão consigo tais
respostas a fim de efetivamente acompanharem o recluso, realizando considerações sobre as
mesmas para, sempre, propor uma abordagem de saída da cultura do crime e de efetiva
reinserção social.
Cada encontro será realizado uma vez por semana, em um local reservado, e terá
duração de, pelo menos, [insira o tempo de cada reunião, aconselhando-se o mínimo de duas
horas e meia; caso esse período seja menor, adapte o nº total de reuniões, bem como o nº de
devocionais realizados em cada uma].
Sexto: indique os materiais e os recursos necessários – nesse caso específico não foram
expostos os valores de cada item porque já os tínhamos em mãos, não havendo necessidade de
captação de recursos nem de prestação de contas financeiras
O projeto fornecerá, para cada detento participante do projeto, um livreto “A verdade
os libertará”, uma Bíblia brochura, uma caneta e as folhas necessárias às respostas de reflexão
dos devocionais.
Para a formatura será oferecido lanche aos presentes, com vistas à confraternização.
Sétimo: mostre como o projeto será avaliado, a fim de verificar sua pertinência e sua
continuidade
Ao final de cada ciclo os detentos receberão uma pesquisa para informar os resultados
obtidos com a participação no projeto.
Ainda, a direção da unidade prisional também será consultada sobre sua percepção,
incluindo o atingimento dos objetivos aqui expostos, fornecendo as estatísticas pertinentes
(como comportamento carcerário e aumento do diálogo de cada recluso com seus familiares).
CONCLUSÃO
Chegamos ao fim desse livro, mas estamos apenas o começo. Todo esse conhecimento
compartilhado, resultado de mais de uma década dedicada à capelania, será em vão se você
não o colocar em prática. Por isso eu quero te desafiar: ore a Deus buscando Sua direção, e
comece a atuar na área em que você tem maior aptidão.
Nossa mais profunda esperança é que esse livro tenha transformado sua perspectiva
sobre a capelania. Além disso, desejamos ardentemente que o clamor dos necessitados tenha
tocado seu coração, despertando em você a vocação para a prática cristã da misericórdia, da
compaixão, do perdão e do amor. Que você se sinta impulsionado a estender a mão aos que
sofrem, levando a mensagem de esperança e de consolo por meio do seu serviço como capelão.
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Que sua vida seja uma fonte de inspiração e de bênção para aqueles que você alcançar!
Deus te abençoe!
Em Cristo,
Antonio Carlos Junior
SOBRE O AUTOR
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