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O problema do imaginário

Nós todos precisamos recomeçar, por necessidade, a reabilitar o nosso


imaginário.

Por um simples motivo: “só se ama aquilo que se conhece” (Santo Agostinho).

O nosso aparato imaginativo, o nosso imaginário, tem o papel de nos ajudar a


conhecer e reconhecer a realidade na qual estamos inseridos.

Uma vez que este imaginário esteja desabilitado, ou seja, incapaz de conhecer
e reconhecer a realidade, viver se torna uma lamúria.

Veja só como é não poder dizer aquilo que dói, aquilo que faz sofrer, aquilo que
não faz sentido desde o nome da coisa que eu não sei qual é.

Veja só como é a vida de uma pessoa que vive em busca de algo que ela
mesma não sabe o que é.

Se a essa pessoa fosse feita a seguinte pergunta: o que você busca? Ela
responderia com uma série de elementos que, no limite, conseguiriam dizer
qual carro ela quer ter, qual casa, se quer ou não ter filhos, quanto dinheiro,
etc.

Mas, pensemos: se essa pessoa quer todas essas coisas, o que a impede de
tê-las? Vamos um pouco além: o que esta pessoa precisa fazer para conseguir
essas coisas que busca?

Aí pode ser visto um problema principiante.

A pessoa hipotética deste texto somos nós em nosso cotidiano. Pessoas que
querem realizar, mas não sabem o que realizar. Pessoas que, no limite, sabem
quais coisas querem ter.

O grande problema é que, como já sabemos, coisas não são suficientes para
preencher o espaço de realização que existe em cada um de nós.

Posso citar casos e mais casos de pessoas bilionárias que viveram tristes até
seus últimos suspiros de vida.

Posso também citar casos e mais casos de pessoas que vivem na miséria, mas
que, nos seus últimos momentos de vida foram luz, esperança, felicidade, amor
e realização em si mesmas e para os outros.

O que há de diferente nessas três pessoas? (A que busca algumas coisas, a


bilionária e a miserável)

A primeira, não sabe bem o que quer, a segunda não faz ideia do que lhe falta
– já que esta, das coisas, tem todas –, a terceira nunca teve coisa alguma e,
nos seus últimos momentos de vida, não almejava nada além de uma morte de
alívio.

O que há de semelhante entre essas três pessoas? O imaginário. As três


possuem ou possuíram um aparato imaginativo. Mas a grande diferença entre
elas está nos elementos que nutrem os seus imaginários.

Quando ainda crianças, tínhamos uma grande capacidade imaginativa, ou seja,


tínhamos um imaginário recheado de elementos, pois estávamos na fase de
apreensão do mundo e de suas nuances. Facilmente se vê uma criança
fazendo de uma vassoura um cavalinho, e sai a galopar. Mas, com o passar
dos anos e das experiências no convívios social (escola, faculdade, etc.) nosso
imaginário vai sendo recheado com uma multidão de informações
desorganizadas, desmedidas e desajustadas. O resultado disto são pessoas
desorganizadas, desmedidas e desajustadas.

Uma pessoa desorganizada é comumente indisciplinada. Uma pessoa


desmedida é comumente frustrada e uma pessoa desajustada é comumente
solitária.

Mas a maior questão é como o nosso imaginário tem o papel de fazer de nós
pessoas criativas ou desorganizadas, ou desmedidas ou desajustadas.

O grandíssimo filósofo Aristóteles apontou que o fim ultimo das ações humanas
é a felicidade. No início deste texto foi colocada uma frase de Santo Agostinho
na qual ele diz que “só se ama aquilo que se conhece”. E José Ortega y Gasset
diz que “eu sou eu e minhas circunstâncias, se não salvo a elas, não salvo a
mim.

O ser humano hoje busca por algo que ele não sabe o que é, está inserido
numa circunstância que o leva ao desconhecimento do que de fato são coisas
como felicidade, amor.

O ser humano, hoje, precisa preencher o seu imaginário com a realidade das
coisas, em suas justas medidas, para que assim ele possa imaginar o que quer
para a própria vida sem sentir perdido ou maluco.

O ser humano precisa ter no seu imaginário exemplos de pessoas reais que
realizaram as suas vidas como exímios seres humanos.

Mas, antes de colocar outro óleo na panela é preciso lavá-la e secá-la.

Antes de preencher o seu imaginário com qualquer coisa que seja, é preciso
dar uma boa arrumada na bagunça e uma boa limpada na sujeira.

Antes de preencher o seu imaginário é necessário entender como o imaginário


funciona e para que ele serve.

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