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O mínimo sobre EDUCAÇÃO DOS FILHOS

Rodrigo Mocellin
1ª edição — setembro de 2023 — CEDET
Copyright © Rodrigo Mocellin 2023

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Profissional e Tecnológico
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Editor:
Thomaz Perroni

Assistente editorial:
Gabriella Cordeiro de Moraes

Revisão:
Thábata Ariane Casonato de Carvalho

Preparação de texto:
Gabriella Cordeiro de Moraes

Capa:
Laura Barreto
Diagramação:
Virgínia Morais
Revisão de provas:
Lidiane da Silva Ferreira Gozzo
Mariana Souto Figueiredo

Conselho editorial:
Adelice Godoy
César Kyn d’Ávila
Silvio Grimaldo de Camargo

FICHA CATALOGRÁFICA
Mocellin, Rodrigo.
O mínimo sobre educação dos fi lhos / Rodrigo Mocellin
Campinas, SP: O Mínimo, 2023.
ISBN 978-65-85033-22-0
1. Educação cristã: papel dos pais 2. Educação das crianças: cuidados
e educação.
I. Título II. Autor

CDD — 248.845 / 649.1

ÍNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO:


1. Educação cristã: papel dos pais — 248.845
2. Educação das crianças: cuidados e educação — 649.1

www.ominimoeditora.com.br
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qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica, mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro
meio de reprodução, sem permissão expressa do editor.
Sumário
Mães, voltem para casa

Quem manda aqui sou eu

Assuma a respon- sabilidade por seus filhos

Epílogo

Bbliografia

Notas de Rodapé
O se pais modernos estão perdidos. Antigamente, com pouco recurso
quase nenhum livro, um casal conseguia educar 10 filhos
obedientes e fortes. Hoje, o Enzo e a Joaquina não são capazes de dar
conta de uma única criança, que vai crescendo birrenta, insuportável e
que se transformará em um adulto problemático, frágil e que chorará
no banheiro, porque “palavras machucam”. Para onde olhamos, vemos
um horizonte cinzento, com meninos acima do peso, crianças chatas,
jovens que não se comunicam com os pais e crianças viciadas em telas
— que, para mim, é o símbolo máximo de uma educação fracassada e
de como os pais perderam as rédeas da educação de seus filhos.

Certa vez, eu estava em um hotel que tinha como público-alvo


famílias com crianças pequenas, e o convite “crianças até doze anos
não pagam” fazia daquele resort uma enorme creche com pais
presentes. Enquanto eu, minha esposa e meus quatro filhos
almoçávamos no restaurante do hotel, notei que em todas as mesas —
sim, em todas — havia crianças e telas; somente em minha mesa não
se via um tablet ou um celular ligado, já em todas as outras, podíamos
ver a presença da babá digital, fazendo parecer que aquelas crianças
eram bem-comportadas e tranquilas, mas bastava um pai acenar no
sentido de desligar a telinha mágica para que um verdadeiro inferno se
instalasse naquelas mesas.

Diante dessa realidade, não faltam doutores para lucrar alto com essa
“epidemia” de mau comportamento juvenil, justificando toda
desobediência e má educação como frutos de uma patologia que deve
ser “curada” por meio de remédios ou longas terapias. O preço é caro,
porém visto por muitos pais como mais barato do que assumir a
responsabilidade pelo fracasso da educação dos filhos, pois, se a
criança é saudável e, mesmo assim, desobediente, a culpa é dos pais,
mas se estes inventam um transtorno onde não há, tornam-se ótimos
progenitores em duas horas de consulta.

Outro mercado lucrativo que se aproveita do cenário atual diz


respeito aos vendedores de métodos miraculosos para salvar nossos
filhos, prometendo transformar até lagartixa em jacaré. Há, nas
prateleiras dos cursos digitais, produtos para todo tipo de problema
juvenil, como curso para dormir, curso para pôr fraldas, curso para
tirar a criança da fralda etc. Mas, apesar de haver muita coisa boa em
meio a esse emaranhado de conteúdos na internet, há também
materiais extremamente complexos, que mais complicam do que
ajudam. O problema maior está mesmo nos pais, que, por terem
abandonado alguns princípios mínimos, mas fundamentais sobre a
criação de filhos, estão sempre em busca de métodos que prometem
suprir o que eles estão deixando faltar. São esses os pais “geração
Miojo”, que acreditam em soluções instantâneas para problemas que só
se resolvem com o tempo.

A educação real não se resume a geringonças ou métodos de última


geração, inventados por algum doutor que está com seu filho em uma
clínica de recuperação para drogados; a educação real é cara por dar
aquilo que nenhum dinheiro do mundo pode pagar: Deus e você. Sim,
o método de Deus para educar filhos não foi desenvolvido em
Harvard; a maneira de Deus para formar crianças saudáveis é um pai
cheio de conhecimento do Senhor e que ama seu filho, e se você
duvida disso, pense que Deus-Pai, quando quis enviar seu Filho à
Terra, não o deixou na casa de um sacerdote judeu, nem de um
filósofo grego, muito menos na casa de um rico estadista romano;
Jesus foi criado por um casal da Palestina, que não precisava de
milhares de métodos, não tinha muito dinheiro, mas possuía uma fé
enorme e um amor gigante pelo Filho de Deus.

Diante disso, o que a história de José e Maria nos mostra é que os pais
modernos perderam de vista o que realmente importa.

Como explicar um pai analfabeto que


consegue formar doutores, enquanto os
doutores estão formando analfabetos?
Os pais se esqueceram dos valores que, de fato, educam crianças, no
entanto, neste livro, você vai aprender o mínimo sobre tais valores, que
custam caro sim, porém estão ao alcance até de quem não tem um
tostão no bolso, mas é rico de amor no coração.
Mães, voltem para casa

M uito do que é dito sobre criação de filhos é mero tratamento


paliativo: tira a dor momentânea, mas não resolve o problema; é
como se os especialistas em educação tratassem com dipirona um caso
de um paciente que tem a cabeça atravessada por uma faca. E por que
os “doutores” oferecem esse remédio insuficiente para um problema
gigantesco? Porque os clientes (os pais) não querem mexer na faca,
devido ao medo da morte, então, simplesmente, aceitam os problemas
e aprendem técnicas sobre como conviver com eles, com a anuência de
especialistas e religiosos que falam apenas o que seus clientes querem
ouvir.

PAIS NÃO QUEREM LIDAR COM O QUE MAIS IMPORTA


Certa vez, eu fui chamado por um casal que esperava receber alguma
ajuda com seus três filhos — que eram terríveis —, e logo que cheguei
à casa deles, notei que o problema era grave; havia pintura de
canetinha até no teto (não me perguntem como eles fizeram isso), e a
bagunça da residência era um reflexo da desordem daquele lar. Os pais
estavam desesperados e dispostos a ouvir qualquer coisa que pudesse
ajudar seus filhos, menos uma: eu não podia falar nada sobre o arranjo
do casal, pois o homem ficava em casa enquanto a mulher saía para
trabalhar, e como ela era concursada, não estavam dispostos a mudar
isso. Era como se a família possuísse uma casa em ruínas por conta de
problemas na fundação e tivesse contratado um engenheiro para
consertá-la, mas dito ao profissional: “Estamos dispostos a gastar todo
dinheiro necessário para deixar nossa casa de pé; se for necessário
trocar o telhado, faremos; se for preciso consertar as janelas,
consertaremos; e se as paredes apresentarem problemas, estas serão
refeitas. Não hesite em mexer no que você quiser, só não toque no
fundamento”.

Eu tomei um café e fui embora, sem falar praticamente nada, pois


sabia que eles não poderiam ser ajudados, ou melhor, não queriam.
É
OS PAPÉIS DE CADA UM
Historicamente, o arranjo tradicional de uma família sempre foi este:
uma mulher mais preocupada em cuidar da casa e dos filhos enquanto
o homem saía para caçar, para lavrar a terra e trazer o pão de cada dia.
Diferentemente do que as feministas dizem,

as mulheres não foram proibidas de participar


do mercado de trabalho, elas foram poupadas,

a fim de que pudessem cuidar do bem mais precioso da família: os


filhos.

Na Bíblia, Deus encarrega o homem do trabalho e a mulher da


maternidade; quando ambos pecaram, Adão ouviu que seu trabalho
seria feito com o suor do rosto, enquanto Eva escutou que sua
maternidade seria penosa. No Novo Testamento esse padrão se repete;
Paulo diz que o homem alimenta sua mulher, mostrando, assim, o que,
historicamente, sempre se viu: que é função do homem ser o provedor;
já em relação à mulher, Paulo diz que ela será conservada na missão de
mãe.1

No documentário What Is a Woman? (“O que é uma mulher?”, em


português),2 Matt Wash viaja pelo mundo fazendo uma simples
pergunta: “O que é uma mulher?”, e depois de passar por inúmeras
faculdades e ver professores enfurecidos com esse simples
questionamento, Matt decide ir até Nairóbi, capital do Quênia, e, em
uma tribo, ele questiona: “O que é um homem?”, “Quais são os seus
papéis dentro da tribo?”, e as repostas são as mesmas dadas ao longo
de toda a história do mundo: “No papel de homem, você precisa
trabalhar para sua mulher; em segundo lugar, ter filhos. Se você tem
filhos e não tem algo para alimentá-los, você ainda não é um homem”.

A definição bíblica do homem provedor é demonstrada de maneira


evidente pela própria natureza humana. Sexualmente falando, o
homem é provedor e a mulher receptora, e em qualquer cultura
minimamente decente, um homem se sentiria envergonhado se não
pudesse sustentar sua mulher. Na cultura ocidental, eles não apenas
deixaram de sentir vergonha, como fazem as mulheres se sentirem
envergonhadas, caso elas não saiam de casa para caçar a presa e trazer
o alimento para o “leãozão”, que assiste à final da Libertadores da
América.

“Mas a mulher de Provérbios 31 não trabalhava?”, questionam alguns.


Sim, mas não saindo de casa antes de o sol nascer e voltando depois
que ele já se pôs. Todos os seus serviços, até aqueles em que ela ia
longe para buscar o pão, podiam ser feitos com seus filhos ao rabo de
sua saia.

A verdade é que as mulheres sempre trabalharam, pois o serviço de


casa sempre foi muito árduo. As máquinas de lavar, os cortadores de
grama, os micro-ondas, os fogões e toda a evolução científica
amenizaram o trabalho do lar e nos fizeram esquecer de que ser dona
de casa sempre implicou muito trabalho. As mulheres só saíam de casa
para trabalhar fora ocupando serviços pesados, geralmente dominados
por homens, em duas circunstâncias: pobreza ou guerra; ou seja,
aquilo que as feministas consideram uma libertação, mulheres
tomando os lugares masculinos, sempre foi visto como uma maldição:
mulheres tendo que fazer o serviço dos homens por conta da falta
deles, oriunda da morte em guerra, ou pela pobreza.

Mas vamos esquecer a Bíblia e a História por um momento e ter um


olhar extremamente prático para a questão, a fim de reconhecermos o
óbvio: crianças precisam de atenção, crianças pequenas necessitam de
serviço integral por parte das mães. A criação plena de filhos pequenos
não é possível se a mãe sai às 5h da manhã e volta às 19h, de segunda a
sexta — e não precisamos da Bíblia ou da História para compreender
isso, basta termos bom senso para notar que esse modelo não tem
funcionado.
Eu tenho quatro filhos, e há sempre um bebê chorando por aqui, uma
criança com dor de dente ou uma bolinha de fofura com cólica. Se, nas
inúmeras vezes em que meus filhos passaram a noite acordados por
algum problema, minha esposa tivesse de se levantar às 5h para pegar
um ônibus apertado para ir trabalhar e lidar com o estresse e cansaço
peculiar de todo trabalho, eu tenho certeza de que as coisas ficariam
muito complicadas.

As mulheres não conquistaram o direito de


trabalhar fora, elas “ganharam” uma dupla
jornada.
A maioria não é como a executiva poderosa que conta com
funcionárias para cuidar da casa e babá para ficar com o bebê; a dona
Maria chega extenuada do trabalho e ainda precisa, sozinha, limpar
sua residência e cuidar dos meninos. Não por acaso, um dos termos
que lideram as pesquisas no Google nos últimos anos é: mãe cansada.

Suzanne Venker, em seu livro O outro lado do feminismo, mostra


que nunca foi uma questão de preconceito com as mulheres o fato de
elas se atentarem mais aos serviços da casa e ao cuidado com os filhos;
foi, antes, uma questão de necessidade da prole e do próprio marido.
Ela diz:

As mulheres compreendiam que eram diferentes e por isso tinham uma obrigação em casa.
Ser mãe não significava que não poderiam buscar outros interesses, mas as mulheres não
eram sobrecarregadas com a difícil tarefa de tentar fazer tudo de uma só vez.3

Com isso a intenção não é condenar a presença feminina no mercado


de trabalho, mas

defender a necessidade de reconhecer e


valorizar o maior trabalho da mulher: a
maternidade.
Quando o apóstolo Paulo afirma que a mulher é conservada na
missão de mãe, ele está dizendo que a maternidade é a maior obra de
uma mulher e a função que mais lhe trará satisfação. Será que essa
epidemia de mulheres cansadas não tem a ver com a verdade óbvia de
que elas estão lutando contra a sua própria natureza, que as impele à
maternidade? Será que a frustação da mulher moderna não está no
fato de ela ser um peixe tentando viver fora d’água? Por mais bem-
sucedido que um peixe fosse em sua tentativa de voar, algo dentro dele
lhe diria: “Você não está ocupando o lugar para o qual foi criado”; é
como colocar um livro para sustentar uma escrivaninha: funciona,
mas todo o potencial daquele livro está sendo desperdiçado.

O TRABALHO DEVE SE ADEQUAR AO FILHO, NÃO O FILHO AO


TRABALHO
Partindo, então, desse pressuposto bíblico criacional, lançamos a
verdade fundamental deste capítulo: o filho não deve se adequar ao seu
trabalho, mas o seu trabalho deve se adequar ao seu filho. Em minha
igreja, uma advogada que sonhava em ter filhos aspirava, também, a
prestar um concurso; eu, diante disso, sugeri que desistisse do
concurso e montasse um escritório em sua casa, caso, de fato, quisesse
ter filhos, assim ela poderia fazer o seu horário e ter os filhos ao seu
lado, ou seja, ela não deixaria de trabalhar, mas adaptaria o seu
trabalho à realidade da maternidade. Resta dizer que, além de estar
mais tempo com sua família, hoje, ela tem prosperado muito mais do
que se estivesse como concursada, recebendo um salário fixo.

Ocorre que muitas mulheres têm, simplesmente, ignorado as


Escrituras e o clamor de sua própria natureza feminina, que grita pela
maternidade, e seguido a boiada, fingindo que está tudo bem, mas não
está. Aliás, o êxodo das mulheres do lar, a inversão de prioridades e o
acúmulo de serviços têm prejudicado toda a família; comecemos
falando do sofrimento das mulheres: primeiro, elas não conseguem
fazer duas coisas ao mesmo tempo com desenvoltura, fazem mais ou
menos o serviço de casa e arrastam-se no trabalho — e nem poderia
ser diferente, afinal, elas não são deusas, e o papinho da mulher
multitarefa, que bate o escanteio e sobe para cabecear, é uma ilusão de
ótica para dar base à ideologia feminista, que deseja a destruição da
família. Uma das líderes feministas mais célebres, Simone de Beauvoir,
disse: “Em minha opinião, enquanto a família e o mito da família e o
mito da maternidade e o instinto maternal não forem destruídos, as
mulheres continuarão a ser oprimidas”.4 Essa líder revolucionária
entendia que

“A mão que balança o berço é a mão que


comanda o mundo”,5

por isso, as feministas sempre quiseram as crianças longe de suas


mães, para poderem educar nossos filhos enquanto as mães estão no
mercado de trabalho.

Em segundo lugar, o calvário das mulheres pode ser visto também na


culpa que sentem. Havia uma revista americana chamada Working
Mother [mãe trabalhadora] que se preocupava com o universo das
mulheres que tinham filhos, mas que saíam para trabalhar; os artigos
da revista, volta e meia, lidavam com a culpa: “Será que meu filho
ficará bem?”, “Não se sinta culpada”, e alguém até brincou dizendo que,
em vez de “mãe trabalhadora”, a revista deveria se chamar “mãe
culpada”. Já em terceiro lugar, temos as mulheres que sofrem em seu
casamento; por estarem sempre cansadas, o próprio relacionamento
com os maridos tem sido afetado: discussões, disputas, casa mal-
arrumada, dificuldade de pôr uma comidinha caseira e saborosa à
mesa e até abstinência sexual. Mas como seria diferente? Que tipo de
mulher aguentaria acordar cedo, trabalhar até tarde, cuidar da casa,
servir algo diferente de uma comida fast food e, ainda, estar bem-
disposta para o marido à noite? Sou pastor há quase vinte anos e,
inúmeras vezes, deparei-me com famílias complicadas; os casamentos
não iam bem e as crianças estavam em apuros. Diante desses casos, eu
dava o meu conselho de sempre: “Mãe, volte para casa!”, e depois de
algum tempo, ao perguntar como estavam as coisas, geralmente, a
reposta era: “Até o sexo melhorou, pastor”. Mas a verdade é que quem
mais tem sofrido com mulheres ausentes são as crianças, e é claro que
já posso ouvir alguém esbravejando: “Mas o mundo mudou!”, e sim, o
mundo mudou, mas as crianças não.

O pediatra José Martins, em sua palestra Os primeiros mil dias de


vida,6 fala sobre a importância da presença da mãe na vida de seus
filhos logo no início da existência dos pequeninos. Martins cita
pesquisas mostrando que bebês deixados em creches deixam de
evoluir em todos os aspectos, e

as capacidades emocional e cognitiva são


afetadas em crianças criadas muito tempo
longe das mães.
Aliás, ele cita um exemplo de cortar o coração: em muitas creches, as
monitoras são orientadas a não pegar os bebês no colo, e o motivo
óbvio para isso é o fato de não haver funcionárias o bastante para
cuidar de tantos bebês; o pediatra diz que isso provoca sequelas
emocionais e cognitivas terríveis nas crianças.

É comum, por exemplo, vermos bebês balançando as mãos nos


berços de creches; segundo o profissional, a criança precisa de
estímulos para se desenvolver, mas como não os tem na creche, ela
tenta se autoestimular; além disso, a falta de estímulo afetivo pode
levar esse bebê a ter graves problemas emocionais.

Eu sei que tudo o que foi dito pelo pediatra é muito difícil de provar,
de qualquer forma, parece-me muito claro, por experiência própria e
ao observar o mundo ao redor, como o distanciamento de mães em
relação aos seus filhos tem provocado inúmeros prejuízos. Eu cansei
de ver meus filhos com a gengiva doendo por conta dos dentes que
queriam nascer, não havendo remédio para amenizar o sofrimento, a
não ser um bom colinho; logo, será que ter uma mãe por perto,
disposta a dar seu peito em forma de cama (a mais macia do mundo),
não está fazendo uma enorme diferença na vida das crianças? Será que
esta epidemia de problemas infantis não seria curada com uma boa
dose de carinho e presença de mãe? Em Deuteronômio, Deus deu uma
ordem aos pais: “tu as [as Leis de Deus] ensinarás a teus filhos, e as
meditarás sentado em tua casa, andando pelo caminho, estando no
leito, e ao levantar-te” (Dt 6, 7). O método bíblico de educação é muito
simples: pais presentes com uma Bíblia na mão, educando seu filho o
tempo todo. Mas como pais modernos podem ensinar de manhã, de
tarde e de noite se eles nunca estão com seus filhos e terceirizam a
educação deles para todo mundo?

O FEMINISMO TEM NOS DESTRUÍDO


No Nepal, crianças são vendidas por 25 dólares e serão abusadas até
trinta vezes por dia por algum pedófilo, relatou-me um pastor que
esteve em missão na Ásia. Qualquer ocidental ficaria chocado ao ver
isso e se perguntaria: “Como um pai pode entregar seu filho assim?”.
No entanto, essas mesmas pessoas não veem com horror como as
crianças em nosso mundo rico e “protegido” têm sido abandonadas
em escolas caras e creches. O Doutor José Martins diz que

esta é a geração mais abandonada de todos os


tempos;

nas gerações passadas, crianças sofreram, mas, pelo menos, tinham as


mães ao lado, afirma o pediatra.

“Como assim? Eu pago a escola mais cara para meu filho, logo, como
você pode me acusar de abandono? Eu me levanto às cinco da manhã
para dar um futuro melhor para o meu filho” — retrucará alguma mãe
raivosa. Sim, muitas mulheres caíram no canto da sereia feminista de
que o lar é um lugar pequeno demais para elas.

Durante uma conferência para pastores, enquanto eu ficava no


auditório principal, minha esposa permanecia com meu filho
primogênito em uma sala reservada para mulheres com crianças
pequenas; na época, meu filho tinha uns dois anos, e quando minha
esposa disse que nosso garotinho não ia para a creche, a mulher de um
pastor retrucou em desespero: “Meu Deus! Como você aguenta?”. Já
outra cristã que tinha acabado de dar à luz o seu primeiro filho
comentava com outra mulher que se definia como cristã: “Eu não vejo
a hora de voltar a trabalhar”. Diante disso, os questionamentos que
levanto e que fazem eco às vozes de inúmeras mulheres cristãs são: o
que leva uma mulher cristã a achar insuportável ficar com o fruto do
seu ventre, que ela diz ser a coisa mais preciosa de sua vida? Como as
mulheres modernas foram convencidas de que ficar com seu filho é
tão ruim que elas precisam de libertação imediata vinda do mercado
de trabalho? A resposta é muito simples: feminismo.

Em Israel, uma mulher faria de tudo para ter um filho; Sara, por
exemplo, deixou seu marido dormir com a empregada para que o filho
gerado do relacionamento de Abraão com Agar fosse atribuído a ela.
“Eu prefiro ver meu marido na cama com outra, do que não ver um
bebê no berço”, pensava ela. Ana chorou desesperadamente por um
filho e prometeu a Deus que se o Senhor a ouvisse, ela consagraria o
menino ao serviço do Templo, o que de fato aconteceu, pois, ainda
criança, Samuel foi morar na Casa do Senhor; já Raquel era estéril e
orou dizendo: “Dai-me filhos ou eu morro”, e como o grande
comentarista bíblico William Hendrisksen nos mostra, para uma
mulher judaica, não havia coisa pior do que ser estéril.7

Mas

o feminismo entrou em cena e convenceu


as mulheres de que a maternidade é uma vida
inferior e medíocre.

No filme O sorriso de Mona Lisa,8 uma heroína feminina,


interpretada por Julia Roberts, leciona em uma escola para mulheres
com o objetivo de sacudir a maneira tradicional americana. Uma das
alunas desistiu da carreira para se casar; como o trabalho de seu
esposo era longe da faculdade, decidiu abrir mão do curso para
constituir sua família. A personagem de Julia Roberts, então, a
aconselha a fazer os dois, mas a moça sabia que não seria possível e
argumenta: “Você está com medo de que eu me arrependa? Eu me
arrependerei se não tiver uma família, se não estiver lá para acordá-los
de manhã. Eu sei o que estou fazendo, e isso não me torna menos
inteligente. Isso soa terrível para você”. A professora retruca: “Eu não
disse isso”. “Claro que disse. Você sempre diz. Para você, uma dona de
casa é alguém que vendeu sua alma num salão central colonial. Ela não
tem profundidade, intelecto e interesses”.

Mas quem está por trás das ideias da professora de O sorriso de


Mona Lisa? Talvez, o nome mais importante para enfiar na cabeça das
mulheres que a maternidade é insignificante seja Betty Friedan. Em
seu livro A Mística Feminina,9 ela defendeu que existia uma ideia no ar
de que a mulher se realizaria no casamento e na maternidade, mas que
isso era mito, tratava-se de uma ideia mística semeada no coração da
mulher americana por Freud, religiões, empresários etc. O livro de
Friedan é uma música de uma nota só: saiam de casa e todos os seus
problemas se resolverão.

As mulheres adulteram porque estão cheias de tédio em casa; têm


filhos gays por terem “apenas” a missão de cuidá-los, sufocando as
crianças e fazendo com que elas cresçam perturbadas e fracas.

Friedan deu alguns nomes e descrições interessantes para o lar e para


a maternidade. Ser dona de casa, para ela, é como viver numa gaiola de
esquilo; o lar é uma prisão, um campo de concentração, e criar filhos
não é se desenvolver como ser humano, mas cometer uma espécie de
suicídio. Influenciadas por feministas como Friedan, que viam que a
cura para suas famílias frustradas era a destruição de todas as outras,
as mulheres foram convencidas de que ser mãe é o mesmo que nada e
saíram em busca do tal empoderamento. E como estamos? Milhares de
divórcios depois, mulheres cansadas, homens frustrados e crianças
com uma série de problemas comportamentais.

Diante disso, concluímos que o feminismo é uma doença, e só isso


pode explicar por que a mãe opta por pegar a coisa mais preciosa e
indefesa que possui e entregá-la a desconhecidos. O feminismo pregou
às mulheres que apertar uma porca é mais importante que trocar uma
fralda; que sair de casa para cuidar dos filhos e dos lares alheios é
totalmente diferente de fazer o mesmo em sua casa; que levantar às 6
horas da manhã para pegar um ônibus apertado e chegar em um
serviço maçante é melhor do que acordar com o sorriso de um bebê,
que lhe chama do berço como quem diz: “Mamãe, você é o meu
mundo!”; e convenceu a todos, homens e mulheres, de que carreira é
mais importante que o amor, e de que basta procurar um emprego
para encontrar um propósito.

O feminismo conseguiu seu objetivo: machos e fêmeas se tornaram


materialistas; preparamo-nos somente para o mercado de trabalho e
nos esquecemos de estudar para o casamento; saiu a aliança e entrou o
preservativo. Pois bem, estamos mais felizes? Encontramos propósito
para nossas vidas? O mundo arrasado em que nos encontramos prova
o contrário. Parece que a velha e boa fé cristã continua sendo o único
terreno sólido sobre o qual devemos edificar nossas vidas. O tempo
mostrou que Betty Friedan estava errada e que correto mesmo é o
pensamento frequentemente atribuído a G. K. Chesterton:

“A coisa mais extraordinária do mundo é um


homem comum, com sua mulher comum e seus
filhos comuns”.
Quem manda aqui sou eu

E msinalalgumas casas, a autoridade veste saia, em outras, usa fraldas. Ao


do rei, os homens se ajoelhavam; diante do choro da criança,
os pais modernos se curvam, logo, quem manda em muitas casas no
nosso mundo moderno e “evoluído” é um ditadorzinho; ele não tem
cetro e nem está assentado num trono, mas do alto de seu berço e com
a sua poderosa chupeta, faz pais se curvarem ante às manhas e
melindres do poderoso Jorginho, que, com quatro anos, já tem poder o
bastante para dobrar esta geração de pais que perderam a autoridade
sobre seus filhos.

Quem escolhe o cardápio são as crianças. Fazer os filhos comerem


brócolis? Nem pensar! Os pais preferem enfrentar o poderoso Leão de
Nemeia10

com um alfinete do que se aproximar de seus filhos furiosos com um


prato cheio de verduras. Os adultos saem para jantar se o humor do
filho permite, e ir com as crianças ao mercado é fazer de uma simples
compra um passeio impossível, pois basta chegar à seção de chocolates
para os pais modernos presenciarem um show ao vivo e regado a
lágrimas.

Os pais modernos só conseguem obediência quando subornam seus


filhos — “Filho, se você ficar quietinho, o papai vai lhe dar chocolate”
— ou, então, recorrendo à autoridade de outros — “Joana, você precisa
se comportar aqui no mercado, caso contrário, aquele homem de
camisa amarela vai te levar para fora. Com a mamãe, as coisas correm
soltas, mas ele é muito bravo” — ou, ainda, distraindo as crianças. Em
vez de dizer: “Você não vai brincar com o brinquedo do seu irmão,
pois o mundo não gira em torno de você”, preparando a criança para a
vida real, em que, na maioria das vezes, não temos o que queremos, os
pais preferem não “magoar” o filho e sucumbem: “Ah! Tome este, que é
mais legal”. Esses pais estão tomando atalhos porque perderam de vista
o caminho que leva seus filhos à obediência, mas eles precisam
obedecer, porque isso é o certo e o melhor para eles.

A verdade é que um bom termômetro para


medir a obediência de seus filhos é o olhar;

se o seu olhar penetrante não é o bastante para fazer o seu menino de


quatro anos ter compostura à mesa na casa de amigos, eu quero dizer-
lhe amorosamente: você está falhando como pai. É comum ver um
homem de 40 anos falando orgulhosamente sobre como era obediente
diante de uma simples encarada de seus pais, que, mesmo sem falar,
diziam tudo. Aquela educação firme, baseada na autoridade, no
respeito e no amor moldaram um homem forte, honesto e trabalhador,
que, agora, decidiu utilizar uma receita diferente, mas espera os
mesmos resultados. Na realidade, o quarentão do Jorge fez faculdade e
acredita que possui métodos melhores para levar seu filho a lugares
muito mais altos do que o “ignorante” do seu pai.

Os pais modernos foram convencidos, principalmente por muitos


psicólogos, de que toda aquela firmeza dos antigos estava errada; seus
filhos não precisam de uma autoridade firme e amorosa, mas de um
coleguinha — disseram os especialistas em educação. Outros pais se
tornaram indolentes demais em resposta a uma educação truculenta e
baseada simplesmente na violência, assim, fugiram de um buraco e
caíram num abismo; saiu o pai insensível, do bigode grosso, semblante
sempre fechado, que só falava com cinco pedras na mão, e entrou o pai
ursinho de pelúcia, que não inspira respeito nem ao cachorro da
família.

FILHOS DESOBEDIENTES, PAIS EXAUSTOS


Toda essa crise de autoridade paterna tem destruído casamentos.
Crianças mal-educadas são verdadeiros monstrinhos que levam seus
pais à exaustão, e é muito comum ouvirmos pais reclamando de como
as crianças atrapalham o relacionamento do casal. É inegável que, com
um ser a mais em casa, as atenções precisam ser divididas, mas não ao
ponto de dividir o casal; na realidade,

não são as crianças que distanciam os


adultos, são crianças mal-educadas que têm o
dom de fazer de qualquer lugar um inferno;
além disso, os pais também pioram quando não tornam seus filhos
melhores. Funciona assim o ciclo de desgraça: você não educa seu filho
corretamente e ele se torna insuportável; você, então, fica frustrado e
até violento, mas, sentindo-se culpado, tenta se redimir
“recompensando” o seu filho, deixando de corrigi-lo, e o que já era
ruim fica ainda pior.

OBEDIÊNCIA: QUESTÃO DE VIDA


Mas não são apenas os pais que estão sofrendo, os mais prejudicados
com essa perda total de autoridade são os próprios filhos.
Diferentemente do que afirmam os ditos especialistas em
comportamento infantil (que não conseguem educar os seus próprios
filhos, mas estão nos ensinando a educar os nossos), nossos filhos
precisam nos obedecer, para o próprio bem deles.

O quarto mandamento anuncia que os filhos devem honrar seus pais


para que tenham vida longa, e o oposto disso, portanto, é: desobedeça
e morra cedo. Ou seja,

a autoridade dos pais foi estabelecida por


Deus para livrar os filhos de muitos sofrimentos,

e evitar inclusive um fim precoce.


Certa vez, minha terceira filha estava brincando na igreja, e como
toda criança, sem imposto para pagar, sem conta de luz para vencer,
ela andava de maneira despreocupada. Debaixo desse céu de baunilha,
ela foi andando pelo corredor da igreja que dava para a rua, tendo
como único foco se esconder de alguma amiga que vinha atrás dela,
sem pensar que um carro poderia passar naquele momento. Diante
disso, antes que minha menininha desatenta colocasse os pés no
asfalto e uma tragédia pudesse acontecer, eu soltei em voz firme: “HE-
LE-NA!”, e aos três aninhos, ela parou como uma estátua e voltou
rapidamente, sã, obediente e salva, para dentro da igreja.

Mas é impressionante como os pais modernos repudiam a ideia de


autoridade; eles pensam que exigimos obediência de nossos filhos por
conta de alguma espécie de carência ou tara por poder. Dias atrás,
assisti a um psicólogo demonizando o conceito de obediência;
segundo ele, exigir obediência é castrar seu filho. “Você quer um filho
obediente ou independente?”, questionou. Ora, para que ele seja
independente amanhã, ele precisa ser obediente hoje, pois se
entregarmos os jovens a si mesmos, a sua tolice nem os deixará
vislumbrar o futuro.

Um garoto pode ter lido sobre romance nos livros de Jane Austen e
sobre a tragédia do sexo livre ao estudar a Revolução Sexual, e mesmo
que tenha entendido como o ciúme de Otelo, assentado sobre a sua
tolice, levou-o a matar sua esposa, Desdêmona, e a dar cabo da própria
vida, o conhecimento desse garoto é, no máximo, como o de um
homem que parece saber tudo sobre o mar pelos livros. Já um pai é
aquele sujeito que percorre o caminho todo sujo de areia, molhado
pelo mar, com um peixe na mão. Talvez, ele nem saiba explicar com
maestria o que é pisar na areia, ser tocado pelo vento e contemplar
aquele tapete azul, que, com sua calda infinita, lembra-nos da
grandeza de Deus, mas ele, como Jó depois do sofrimento, pode dizer:
“Os meus olhos te veem”. O pai conhece por experiência.

Quando exijo que meu filho adolescente fique longe de qualquer


paixão juvenil, é porque meus olhos já viram o poder da paixão; eu sei
que a paixão muda o tempo, e o tempo voa quando os apaixonados se
encontram, mas parece uma eternidade quando estão separados. Eu
sei que paixão muda até os valores; diante da mulher amada, tudo
pode ficar pequeno, até a fé — como foi o caso de Salomão, que, por
conta de suas paixões, tornou-se idólatra, mostrando que mulheres
podem converter até o homem mais sábio do mundo num idiota.11

Por isso, pais, pelo amor de Deus, exijam que seus filhos lhes
obedeçam, amem seus garotos o suficiente para serem firmes quando
necessário, pois eles resistirão, seja na infância, seja na adolescência. A
natureza maligna deles, inclinada ao egoísmo, à preguiça e à
sensualidade, gritará e os fará insistir para que vocês se rendam. Sim,
eles tentarão convencer vocês pelo cansaço; farão cara de birra, de
choro e de raiva, e vocês, para eles, serão ditadores por dizerem “não”
tantas vezes e discipliná-los. No entanto, a reprimenda de hoje será a
diferença entre uma vida feliz e uma vida arruinada amanhã. Nessa
hora, você deve se lembrar de que não é o coleguinha deles e que

o seu maior objetivo não é que seus filhos


gostem de você, mas que eles vivam.

ENSINE SEU FILHO A CHAMÁ-LO DE SENHOR


Eu estava cortando meu cabelo no barbeiro enquanto passava a reprise
de uma famosa novela brasileira: O rei do gado.12 Esse sucesso da Rede
Globo foi exibido na TV pela primeira vez em 1996. O personagem
principal é Bruno Mezenga, interpretado por Antônio Fagundes, e o
filho de Bruno se chama Marcos Mezenga, interpretado por Fábio
Assunção. Marcos é um moleque rebelde, o famoso “vida loka”, que se
preocupa apenas em dar vazão a todas as suas paixões, que são
turbinadas pela fortuna de seu pai; mas no meio de toda essa rebeldia e
fúria juvenil, ele chama seu pai de, pasmem, “senhor”. Eu quase caí da
cadeira ao notar como o mundo mudou, como os filhos deixaram de
lado o respeito pelos pais; até em uma novela antiga, de uma emissora
que não é nem um pouco afeita aos valores morais, pode-se ver o
modo respeitoso pelo qual os filhos tratavam seus pais. E por que todo
esse ritual linguístico é tão importante? Porque você não obedece
quem você não respeita.

E antes que você diga: “Os filhos perderam o respeito pelos pais”, eu
retruco: os pais deixaram seus filhos se tornarem insolentes. Em uma
reunião de pastores, um ministro reclamou de uma mulher que havia
tido a coragem de passar a mão em seu bumbum; o pastor, por sua vez,
achou que receberia solidariedade de seus pares, mas ouviu uma
reprimenda: “O responsável pela atitude desrespeitosa dela é você”,
disse um dos pastores, enquanto um silêncio sepulcral se estabeleceu
no recinto, e ele continuou: “Que tipo de postura você está tendo que
sinaliza a uma mulher que ela tem autorização para se aproximar de
modo tão íntimo de você? Pois eu sou pastor há 20 anos e jamais uma
mulher teve coragem de fazer algo nesse sentido”. Eu devolvo a
pergunta para os pais: antes de você achar que a insolência de seus
filhos, o desrespeito, as atitudes birrentas diante de qualquer ordem e a
demora para obedecer tenham a ver com temperamento difícil, gênio
forte ou algo parecido,

que tipo de postura você tem tido que leva


um menino pequeno a ter a audácia de
enfrentar alguém muito maior do que ele?
Em Deuteronômio (21, 18−21), está escrito:

Se um homem tiver gerado um filho rebelde e contumaz, que não atende às ordens do pai ou
da mãe e que, mesmo castigado, não quer obedecer, seu pai e sua mãe pegarão nele e o
conduzirão aos anciães daquela cidade à porta do juízo, e lhes dirão: Este nosso filho é um
rebelde e contumaz, despreza ouvir as nossas admoestações, passa a vida na embriaguez e na
dissolução.

O povo da cidade o apedrejará, e ele morrerá, para que tireis o mal do meio de vós, e todo o
Israel, ouvindo isto, tema.

O que esse texto mostra é que a desobediência aos pais era


inadmissível no antigo Israel; se você quisesse saber quais filhos eram
desobedientes na terra dos descendentes de Abraão, bastaria procurar
no cemitério, afinal, para os filhos vivos, só havia uma opção:
obediência.

AUTORIDADE É UMA COISA BOA


O homem moderno identifica autoridade sempre como sinônimo de
opressão, e isso, talvez, ocorra por dois motivos: algum trauma vivido
por líderes autoritários e pais truculentos ou ideias mentirosas que
foram semeadas em seu coração desde a juventude. Primeiro, devemos
nos lembrar de que, na Bíblia, Deus não estabeleceu Adão como
autoridade sobre o lar por conta do pecado; a liderança masculina foi
determinada antes de o homem comer o fruto proibido, mostrando,
assim, que não havia pecado no mundo, mas já havia autoridade. Se
autoridade fosse ruim, Deus seria o pior ser do mundo, afinal, Ele é o
Todo-Poderoso; na realidade, o que a Escritura ensina é que toda a
autoridade procede de Deus. Não há uma função de autoridade que
subsista longe do Senhor.

Aos coríntios, o apóstolo Paulo disse: “Porém quero que saibais que
Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher, e
Deus a cabeça de Cristo (como homem)” (1 Cor 11, 3). O Concílio de
Niceia, ocorrido em 325, foi o primeiro evento promovido pela Igreja
para se discutir a fé cristã; o tema era o arianismo — doutrina
desenvolvida pelo presbítero de Alexandria chamado Ário. Ele
defendia que Jesus havia sido criado e que não foi um só com a
divindade. Diante disso, toda igreja ortodoxa concorda que Ário foi
um herege, pois, como escreveu João: “No princípio existia o Verbo
[Jesus], e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1, 1),
ou seja, João está dizendo que Jesus não foi criado, muito menos que
era inferior a Deus-Pai, e se a doutrina cristã afirma que Jesus não é
inferior ao Pai, mas, mesmo assim, mostra que Deus-Pai é o cabeça de
Jesus, isso nos mostra que a autoridade não define superioridade em
relação ao outro.
As autoridades humanas são uma expressão de Deus na Terra;
quando o Senhor criou o homem, ele o fez à sua imagem e
semelhança. Ora, Deus é espírito, o que significa dizer que essa
imagem não tem nada a ver com uma questão física. Em que sentido,
então, somos semelhantes a Deus? “Crescei e multiplicai-vos, e enchei
a terra, e sujeitai-a, e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves
do céu, e sobre todos os animais que se movem sobre a terra” (Gn 1,
28). Só Deus pode dar vida, logo, quando geramos crianças, estamos
expressando a natureza do Criador, e só o Senhor possui autoridade de
fato, então, quando exercermos domínio na Terra, estamos
expressando a imagem de Deus no mundo. Diante disso,

pare de seguir os comunistas encapetados, que


querem, simplesmente, enfraquecer sua
autoridade para exercerem-na sobre seus filhos.

Que os homens tendem a fazer das coisas boas de Deus uma tragédia,
isso é inegável, mas não consertamos ditadura com anarquia; a solução
para enfrentar um bandido armado não é desarmar a população, mas
armar um homem bom; do mesmo modo, a cura para o autoritarismo
e truculência dos maus pais não é a indolência e fraqueza dos bons
pais.

POSIÇÃO DE AUTORIDADE
Durante uma partida de futebol, aconteceu uma briga entre torcedores
nas arquibancadas; meia dúzia de policiais, munidos apenas com seus
cassetetes, colocaram uma multidão de torcedores raivosos para
correr, e fiquei impressionado ao assistir a tudo aquilo pela TV, pois os
torcedores estavam em número muito maior, mas não conseguiam
enfrentar seis policiais. Eu acredito que isso se explica simplesmente
por uma posição de autoridade; aqueles homens fardados estavam
representando a lei e a ordem, e essa posição que foi dada a eles
conferia-lhes coragem. O reconhecimento de que eram a autoridade
naquele local dava-lhes força moral para enfrentar centenas de
torcedores.

Parece-me que

é exatamente isso que está faltando aos pais:


uma posição de autoridade.

Devido a várias influências culturais, os pais que, antigamente, viam-se


como leões, hoje, olham para o espelho e enxergam um gatinho. Certa
vez, eu visitei uma família em que o pai era um “armário”; o homem
era alto, forte e frouxo, nem o cachorro da casa o respeitava. Quando o
“Rex” ameaçou me morder, ele se dirigiu ao cachorro, deu uns
berrinhos e nada. O meu pai, todavia, um gaúcho de um metro e meio
de altura e alguns quilos, fazia-me tremer, e não pense que ele me
espancava ou gritava para me intimidar. Não. Nada disso! Mas ele era
revestido de uma firmeza tão grande, como um representante de Deus
em casa para punir o mal, que a sua postura me colocava no meu lugar
e me lembrava que quem mandava ali era ele. Quantas vezes eu quis
dar uma surra em meu irmão mais novo; eu sentia tanta inveja de
meus amigos, que falavam de suas brigas, dos tapas que davam uns nos
outros, enquanto eu recebia uma pedrada de meu irmão na testa (é
verdade que ele não queria acertar) e nem assim tinha coragem de me
levantar para agredi-lo, afinal, eu sabia que meu pai não aceitava
brigas.

Há muito tempo, fizemos um retiro para famílias em nossa igreja;


fomos para uma chácara com nossas esposas e crianças, mas havia um
menino que parecia um monstro, ninguém conseguia dar um jeito no
garoto. Como toda criança desobediente, ele estava fazendo da vida de
todos nós um verdadeiro filme de terror. Diante disso, perguntei
carinhosamente à mãe se eu poderia dar um jeito nele, que estava em
um quarto. Extremamente calmo, fui até lá e abri a porta bruscamente,
de propósito, fazendo um barulho que assustou a todos que ali
estavam. Com um semblante sisudo (a famosa cara fechada), eu falei
bem firme: “Quem é o tal do João?”, e o menino, lá no fundo, foi
levantando calmamente o dedo indicador e disse com voz trêmula:
“Eeeeeuuuu!”. Eu olhei bem diretamente em seus olhos e disse: “Aqui
quem manda sou eu; ou você se comporta ou será colocado em um
carro imediatamente e não mais participará do nosso retiro”.

Logo após esse momento de tensão, eu o peguei no colo e lhe dei um


abraço, tentando, assim, fazer o que nosso Deus fez conosco na cruz,
onde a ira e a misericórdia divina se encontraram. Resultado? O sapo
se tornou um príncipe; o garoto passou a se comportar muito bem ali e
na igreja também, bem como passou a me admirar, de fato. Um dia, a
professora de sua escola pediu que ele fizesse um desenho de sua
família, e ele desenhou o pai, a mãe, os irmãos e a mim, e sabe o mais
interessante disso tudo? Na igreja, ele se comportava bem, mas em sua
casa, ele continuava o mesmo endiabrado de sempre, e isso demonstra
que

o problema, assim como em muitos lares,


não é o gênio forte dos filhos, mas a educação
fraca dos pais.

HOMENS, VOCÊS SÃO OS MAIORES RESPONSÁVEIS


Os grandes responsáveis por essa quantidade imensa de crianças
rebeldes e mimadas são, principalmente, os homens, que
abandonaram sua posição de autoridade. Falando de outro modo: os
descendentes de Adão estão castrados, e o que os mutilou? O
feminismo. Esse movimento diz lutar por direitos iguais, mas, na
realidade, é uma guerra contra os homens; mente-se tanto para a
sociedade, dizendo que os homens são opressores históricos das
mulheres, e combate-se tanto a masculinidade que até os homens
começaram a pedir desculpas por ter essa qualidade.

Diante disso, saiu o homem que lidera, que impõe sua autoridade
para o bem das crianças, e entrou o homem sentimental, que lava a
louça. Pelo amor de Deus! Nem de longe estou falando sobre nos
comportarmos como animais que acabaram de ser soltos da jaula, que
respondem apenas aos seus próprios instintos, sendo tolos, truculentos
e indisciplinados; a masculinidade em nada se aproxima do
descontrole visto em muitos homens, que, não sendo corajosos o
bastante para enfrentar os problemas do trabalho, descontam suas
frustrações nas pessoas indefesas de sua casa. Ser um leão no lar,
diante daqueles que não podem se defender de você, e uma gazela no
trabalho, definitivamente não é atitude de macho, pelo contrário, é o
comportamento de um canalha covarde. Homens de verdade
aguentam o peso do mundo; são pisados, cuspidos, maltratados lá fora
e rugem para todos os adversários ou, simplesmente, aguentam,
quando nada podem fazer, a fim de serem carinhosos com os seus e
protetores daqueles pelos quais Cristo os chamou para morrer e não
para matar.

A masculinidade é aquele santo domínio próprio que leva homens a


exercer sua autoridade com firmeza para domar aqueles seres
selvagens que temos em casa, pois,

diferentemente do que dizem os especialistas


em educação infantil, seus filhos são maus,

e se você duvida, faça o teste: pegue um carrinho com que seu filhinho
não se importa mais, por ter enjoado de tanto brincar, e deixe-o na
sala quando uma visita chegar. Ao ver outra criança pegando o
carrinho rejeitado, você verá seu anjinho com um desejo ardente pelo
brinquedo, e isso se chama inveja, egoísmo, maldade.

Um pai altruísta e extremamente generoso, que é um exemplo de


doação em seu lar, pode questionar: “Ele nunca viu tal comportamento
mesquinho aqui em casa; quem o ensinou a agir desse modo?”, e Davi
responderá: “Isso é um defeito de fábrica chamado pecado, presente
em todos os lotes, desde Adão”. Quando Davi afirmou: “Em pecado me
concebeu minha mãe” (Sl 51, 5 − ara), ele não quis dizer que o
homem, segundo coração de Deus, seria fruto de um adultério, mas,
sim, que já teria nascido com uma natureza inclinada para o mal. O
mito do bom selvagem, de que nascemos todos bons, mas o meio nos
contamina, só existiu na cabeça de Rousseau;13 na prática, somos
malignos desde o nascimento: “A loucura está pegada ao coração da
criança, mas a vara da disciplina a afugentará” (Pr 22, 15). É por isso
que uma liderança masculina forte é fundamental para dobrar este ser
genioso chamado criança.

“SEU FILHO NÃO PRECISA DE UM COLEGUINHA”


Quer saber a diferença entre a nossa geração e os homens do passado?
Olhe para os álbuns de família; naquela época, em que tudo era preto e
branco, o pai se mostrava com um semblante sério e firme, vestindo
um terno, mostrando masculinidade e elegância; abaixo dele, o
menino copiava o pai, vendo em seu progenitor o exemplo a ser
atingido. Hoje, os papéis estão invertidos, quem imita é o pai, que se
tornou uma espécie de Benjamim Button14 por acreditar que precisa se
tornar mais juvenil com o passar do tempo para conquistar o respeito
do Juninho. Vestido de Mickey Mouse, um homem de quarenta anos
segue o embalo do garotinho, colocando a língua de fora no momento
do click, pois ele realmente foi convencido de que seu filho o amará
mais quando notar que seu “velho” é o seu “brother”, mas a verdade é
outra: o que seu filho precisa não é de um coleguinha barbado, com
uma camisetinha baby look, que serve apenas para marcar a
“pancinha”; crianças e jovens necessitam de um farol forte o bastante
para iluminá-los nas horas em que as tempestades da vida os tomarem
de assalto, deixando-os desorientados.

Seu filho precisa de uma autoridade firme e


amorosa o bastante para confrontá-lo, impor
limites e salvá-lo dele mesmo.
Assuma a responsabilidade por seus
filhos

PARE DE DAR DESCULPAS

D esde Adão os seres humanos tentam fugir de suas


responsabilidades; para o primeiro homem, até Deus podia ser
culpado pelo seu pecado, menos ele. Quando o Criador perguntou a
Eva: “Por que fizeste isso?”, em vez de dizer: “Eu desobedeci”, ela se
desculpou: “A serpente me enganou”. Adão foi ainda mais longe; diante
do questionamento divino sobre a desobediência, a resposta de Adão
saiu como uma espécie de blasfêmia: “A mulher que tu me deste.” Em
outras palavras: “A ajudadora que o Senhor me deu foi uma pedra de
tropeço. A sua ideia de criar Eva não foi boa”. Já de Davi, em seu
famoso salmo 51, no qual ele narra sua confissão por conta dos muitos
pecados cometidos no caso com Bate-Seba, não ouvimos: “A Bate-Seba
que tu me deste”, muito menos: “Mas também, uma mulher bonita
como esta, tomando banho, nua, bem na direção do meu palácio...
Qualquer homem cairia”. Não! Diferentemente de Adão e Eva, Davi
não menciona a serpente — mais conhecida como Satanás, o tentador
— muito menos sua amante, mas, sim, responsabiliza apenas a si
mesmo por seus pecados: “Pequei contra ti só, fiz o que é mau diante
dos teus olhos, para que te manifestes justo na tua sentença, reto no
teu juízo” (Sl 51, 6).

Deus o chamou de “o homem segundo o coração de Deus”, e é claro


que tal definição não se deu por conta de uma perfeição que Davi
possuía, mas porque ele era

íntegro o bastante para reconhecer suas faltas.


Diante da repreensão do profeta Natã, que o chamou de assassino, o
rei de Israel se humilhou, fazendo algo bem atípico àqueles que
costumavam ocupar a posição mais alta em Israel e matar quem
expunha seus erros. Você precisa ver o ódio que muitos pais dirigem a
mim quando digo que, por exemplo, a maioria das crianças que
possuem um mal comportamento não tem um gene ruim, mas, sim,
um pai ruim. Eles querem me matar.

A Bíblia descreve o coração do homem como corrupto e inclinado


para o mal: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? (Jr 17, 9 — ara). Na
era da autoestima, enganoso é um adjetivo pesado para descrever o
coração, que, na linguagem bíblica, é uma figura para retratar o centro
do eu; ou seja, o que a Bíblia está dizendo é: “você é um mentiroso
contumaz; seu coração é uma fábrica de enganar trouxa, e o bobo
preferido é você”. Seu coração é como um advogado, que fará de tudo
para que nunca atribua culpa a si, mesmo quando o erro for absurdo.

Certa vez, Jesus disse que devemos tomar cuidado com julgamentos
alheios, e para ilustrar a profundidade de nossa decadência, ele usou a
seguinte metáfora: antes de tirar o cisco do olho de seu irmão, retire a
trave que está no seu. Trave é um grande pedaço de madeira; é como
ter uma viga de dez metros atravessada diante de seus olhos, mas não a
enxergar, e ainda assim ser capaz da incrível façanha de ver, lá longe,
um pedaço minúsculo de madeira, quase imperceptível a olho nu, nos
olhos de seu irmão. A figura de linguagem de Jesus parece absurda?
Sim! É que o pecado nos deixou incrivelmente cegos para nossos erros.

O objetivo deste capítulo não é lhe dar um fardo que vá além de sua
missão, mas, sim, levá-lo a assumir a responsabilidade pela criação de
seus pequeninos e a fugir da tentação de inventar desculpas que
aliviem sua culpa, mas prejudicam sua prole. Jesus disse que um dos
sinais do fim dos tempos é o amor de quase todos se esfriando, e Paulo
reverberou a voz de Cristo ao afirmar que os homens se tornariam
amantes de si mesmos. Pois bem, é o que estamos vivendo. Eu sei que
as palavras a seguir soarão como blasfêmia em ouvidos sensíveis
demais, mas a verdade é que os pais modernos têm amado a si
mesmos em vez de amarem seus filhos, bem como preferido pagar
horrores no mercado da criação de filhos para aliviar consciências
culpadas; mas a verdade é que,

sempre que você não estiver disposto a se


arrepender de seus erros, surgirá um
charlatão disposto a pregar o que você quer
ouvir.
Quando Deus lhe perguntar: “Por que seu filho está assim?”, não
responda como Adão: “O filho que tu me deste”, mas faça como Davi,
que orou: “Vê se há em mim algum caminho mau”. Neste capítulo, vou
apresentar as desculpas que os pais atuais têm dado para se eximir de
suas responsabilidades. Alguém já disse: “Quem quer fazer alguma
coisa arranja um meio, quem não quer fazer nada arranja uma
desculpa”, portanto, se quer fazer alguma coisa pelos seus filhos, você
precisa evitar as desculpas mais comuns nos dias de hoje.

“MEU FILHO TEM TRANSTORNO”


O psiquiatra Theodore Dalrymple escreveu uma obra, chamada
Evasivas admiráveis,15 com críticas severas à psicologia. Segundo o
renomado escritor,

o homem moderno decidiu arranjar


desculpas para seus vícios, seus medos e sua
incapacidade de lidar com a vida.
Entre elas, a psicologia, com sua abordagem capaz de tornar o
homem sempre uma vítima de seus maus hábitos, mantém o homem
refém de si mesmo. Se você está triste porque é doente, você não tem
culpa por sua tristeza e precisa de remédio, mas se sua infelicidade tem
a ver com sua incapacidade de lidar com a vida, você precisa de Deus,
de arrependimento, de uma avaliação honesta sobre si mesmo e de
mudança, que só pode ser realizada por você, com a ajuda de Deus.
Ou seja, é muito mais barato pagar 400 reais de consulta e mais
centenas de reais em remédios do que voltar para casa e decidir
enfrentar os monstros.

Dalrymple compara a psicologia à astrologia dos dias de Shakespeare


e cita um trecho da obra do bardo:

Essa é a maravilhosa tolice do mundo: quando as coisas não nos correm bem — muitas vezes
por culpa de nossos próprios excessos — pomos a culpa de nossos desastres no sol, na lua e
nas estrelas, como se fôssemos celerados por necessidade, tolos por compulsão celeste,
velhacos, ladrões e traidores pelo predomínio das esferas; bêbedos, mentirosos e adúlteros,
pela obediência forçosa a influências planetárias, sendo toda nossa ruindade atribuída à
influência divina... Ótima escapatória para o homem, esse mestre da devassidão,
responsabilizar as estrelas por sua natureza de bode. Meu pai se juntou à minha mãe sob a
cauda do Dragão e minha natividade se deu sob a Grande Ursa: de onde se segue que eu
tenho de ser violento e lascivo. Pelo amor de Deus! Eu teria sido o que sou, ainda que a mais
virginal estrela do firmamento houvesse piscado por ocasião de minha bastardização.16

Troque tudo o que leu no texto de Shakespeare referente à astrologia


pela psicologia e você terá uma definição exata de como o homem tem
se utilizado da “ciência da alma” como uma fuga majestosa para se
livrar de sua responsabilidade. Diz a psicologia: “Precisamos que todos
que sofrem sejam vítimas”, “Temos medo de julgar”, e a implicação
disso é carta branca para se fazer o que quiser. Na psicologia, você é
sempre vítima do passado, de um pensamento errado, das
circunstâncias, de um problema cerebral.

JAY E. ADAMS E UM TRATAMENTO DE CHOQUE:

“EU SOU RESPONSÁVEL”


Jay E. Adams foi um cristão piedoso que trabalhou com o renomado
psiquiatra Hobert Mowrer, que criticava a própria existência da
psiquiatria institucionalizada, uma vez que ela tira a responsabilidade
do indivíduo ao chamar de doença o que não é, segundo ele. Em 1965,
Adams trabalhou em duas casas de saúde mental, onde tratava de
pacientes durante sete horas por dia. Veja o relato dele:

Lá naquelas casas de saúde mental, seguindo os métodos de Mowrer (de responsabilizar as


pessoas por seus atos), começamos a ver pessoas rotuladas de neuróticas, psiconeuróticas e
psicóticas recebendo benefício mediante a confissão de conduta transviada e a aceitação de
sua responsabilidade pessoal por sua conduta. [...] À parte das vítimas de distúrbios
orgânicos, como lesões cerebrais por exemplo, os internados que encontrei nas duas
instituições do Illinois estavam lá porque haviam fracassado em enfrentar os problemas da
vida.17

Adams continua fazendo afirmações que vão na contramão de quase


tudo o que era e ainda é dito sobre o tema:

Eles estavam ali não porque estivessem doentes, mas porque estavam em pecado [...], os
principais problemas que as pessoas ali enfrentavam tinham sido fabricados por elas
mesmas. Elas mesmas eram os seus piores inimigos. Uns haviam passado cheques sem
fundo, outros estavam enredados nas consequências de suas práticas imorais e assim por
diante. Um bom número desses “pacientes” havia fugido para o sanatório tentando escapar
das consequências dos erros cometidos.18

Adams conta a história de um paciente do hospital que foi


diagnosticado com esquizofrenia pelos psiquiatras; ele não falava e
andava se arrastando, mas o que ele tinha de fato? Ele foi reprovado
numa prova e estava se escondendo atrás da doença; viver como louco
era melhor do que existir como um fracassado. Impressionado com a
história? Não fique! Desde que Eva fingiu demência ao comer o fruto,
o homem tem se escondido em uma deficiência mental para se safar
de sua responsabilidade. Até Davi babou e arranhou as portas para não
ser morto pelos seus inimigos, por que um pai não poderia esconder
seus erros atrás de um diagnóstico de transtorno em seu filho?

TRANSFORMAMOS PROBLEMAS COTIDIANOS EM


TRANSTORNOS MENTAIS
Allen Frances é um psiquiatra que dirigiu, durante anos, o Manual
Diagnóstico e Estatístico (DSM), que é conhecido como a “bíblia” dos
psiquiatras. Nele, estão os parâmetros de doenças mentais a serem
seguidos por psiquiatras e psicólogos ao redor do mundo. Allen
Frances dirigiu o dsm-4 e fez críticas pesadas ao dsm-5, alegando que
eles estavam patologizando tudo: “Transformamos problemas
cotidianos em transtornos mentais”.19 É claro que o verbo
“transformamos” tem como sujeito os doutores, mas eu vou além e
digo que, talvez, os maiores responsáveis pela classificação de todo tipo
de comportamento como doença sejam os próprios “pacientes”, afinal,
se eu me comporto mal por deficiência de meu caráter, a culpa é
minha, mas se eu tenho um transtorno, eu sou uma vítima. Essa é a
tese do doutor Theodore Dalrymple ao escrever seu livro Evasivas
admiráveis, defendendo que

a psicologia e a psiquiatria têm


proporcionado desculpas fantásticas para que
o homem possa fugir de suas
responsabilidades.20
Certa vez, conversando com uma mulher militar, ela me contou que
estava sofrendo perseguição em seu trabalho; seus superiores agiam
com desonestidade, tornando o seu serviço insuportável. Um amigo,
então, aconselhou-a: “Diga que está com depressão e peça
afastamento”, e bastou dizer isso que ela ficou dois anos encostada.
Muitos trabalhadores já têm notado essa brecha e mentido para se
livrar de suas responsabilidades, mas o lar também foi infectado com
essa mentalidade de esconder nossas fraquezas por trás de um
diagnóstico, e não faltarão doutores para chamar má-educação de
transtorno, e tudo isso com a anuência dos pais. Eu falei sobre esse
assunto nas minhas redes sociais e vários psicólogos sérios me
escreveram. Um deles disse exatamente isto: “Atendo crianças e
adolescentes no consultório. Vejo muitos pais querendo enquadrar
seus filhos em algum diagnóstico. É impressionante como as pessoas
gostam de ter um rótulo que justifique toda uma vida desordenada”.
Eu mesmo já preferi um diagnóstico para justificar minhas falhas.
Um de meus filhos foi impaciente com outra criança da igreja, que,
para se defender, respondeu de maneira dura; quando fiquei sabendo,
fiz questão de chamar o pai da outra criança, para que pudéssemos
pedir desculpas. O pai, muito humilde, foi dizendo que, na realidade,
as duas crianças haviam errado, mas conforme eles iam me contando o
que de fato tinha acontecido, eu fui chegando à conclusão de que o
único que cometeu erros na história foi o meu filho, e mais, eu me vi
no pecado do meu filho. Mas imagine se, por um instante, eu dissesse
que aquilo era resultado de um transtorno; de culpados, nós nos
tornaríamos, quem sabe, até vítimas. Era doloroso e vergonhoso dizer
que o erro era nosso, mas também foi libertador.

COM TRANSTORNO, MAS BEM-EDUCADO


“Argumentar que todos os homens, mesmo os classificados como
paranoicos, devem ser tratados com seriedade, como seres humanos
responsáveis, é como

profanar a bandeira psiquiátrica”.21

Sérgio é um gigante com 2,10 metros de pura inteligência, sinceridade,


amor a Deus e a seus filhos. Um de seus filhos se chama Gabriel, tem
quatorze anos e é portador da Síndrome do X Frágil, que é uma falha
genética ligada ao cromossomo X, o que, entre vários sintomas,
acarreta um déficit intelectual; no entanto, apesar de uma deficiência
real, o menino é muito bem-educado. Certo dia, conversando com
Sérgio sobre como os pais têm usado um diagnóstico de transtorno
para se eximir de suas responsabilidades, ele me contou que Gabriel,
por conta do transtorno, apresentava uma dificuldade imensa em ficar
em ambientes muito ruidosos; festas, cultos e qualquer lugar fechado
com muito ruído constituíam um verdadeiro inferno para ele. Diante
disso, o que Sérgio fez? Acomodou-se diante dessa limitação clara e
evidente de seu filho? Não! Ele tentou ajudá-lo levando-o a esses
ambientes, a fim de que se acostumasse gradativamente com eles.
Sérgio me disse que Gabriel, no início, conseguia ficar muito pouco
tempo em um ambiente barulhento, então, deixava-o nesse espaço
tempo o bastante para suportar; um pouquinho num dia, um pouco
mais no outro, evoluindo gradativamente, chegando ao ponto de, hoje,
ficar bem em qualquer lugar. Sim, e eu sou prova disso, pois o Sérgio
viaja todo domingo durante quatro horas, do Rio de Janeiro até
Guaratinguetá−SP, para participar de nossos cultos, e eu fico
impressionado com o fato de o Gabriel permanecer e participar do
culto confortavelmente conosco.

Em minha igreja, há outras crianças que apresentam limitações reais,


mas que, antes de chegar a nossa comunidade, não apresentavam
evolução alguma, pois os pais haviam “sentado” em um diagnóstico de
transtorno e tomado esse parecer como uma autorização para
“lavarem as mãos”. No entanto, ao ouvirem o Evangelho, esses pais
passaram a lidar de modo diferente com seus filhos; não negaram a
limitação das crianças, mas entenderam sua reponsabilidade no
processo de ajudá-las a evoluir de acordo com a capacidade que
apresentam.

“MEU FILHO TEM GÊNIO FORTE, ELE É COLÉRICO”


Depois que um menino deu um show na frente de todos, o pai disse:
“Ele tem o gênio forte”, mas a maneira mais “científica” de dizermos
isso é: “ele é colérico”. Frente a isso, o que posso defender aqui é que a
teoria dos quatro temperamentos não tem base científica, filosófica e
muito menos bíblica, mas tem servido a uma coisa: dar uma boa
desculpa às pessoas e aos pais para se eximirem de suas
responsabilidades pelo seu mau comportamento e de seus filhos. Vou
argumentar que o problema não é o gênio forte dos filhos, mas a
educação fraca dos pais; que as diferenças de personalidade não são
um problema, mas a expressão de um Deus criativo que fez aves e
répteis, água e fogo, falantes e comedidos, líderes e liderados; além de
defender que
as diferenças existem, mas ninguém pode
ou jamais poderá fazer uma classificação
exata delas.

ORIGEM DA TEORIA
De onde vem essa teoria dos quatro temperamentos? De Hipócrates,
um grego considerado o pai da medicina. Ele se baseou em
Empédocles, que tomou os quatro elementos básicos do universo:
terra, fogo, ar e água, e afirmou que eles estão presentes no homem e
determinam o seu temperamento. Os antigos queriam entender as
diferenças de comportamento entre as pessoas e estavam interessados,
principalmente, em dar respostas às anomalias envolvendo
comportamentos nada convencionais, como as neuroses e as loucuras.

Enquanto muitos buscavam explicação numa questão sobrenatural:


“Ele é assim por conta dos deuses”, Hipócrates partiu de uma premissa
biológica: “Ele é assim porque há excesso de bílis negra em seu corpo”.
Veja uma definição clássica dada no livro do Tim LaHaye,
Temperamentos transformados:
Hipócrates distinguiu os quatro temperamentos, o sanguíneo, o melancólico, o colérico, e o
fleumático. De acordo com ele, o temperamento dependia dos “humores” do corpo: sangue,
bílis preta, bílis amarela e fleuma. A teoria era bioquímica em sua essência.22

No livro Introdução ao aconselhamento bíblico há uma boa definição


da teoria:

Sanguíneo, fleumático, melancólico e colérico têm raízes latinas que se referem aos quatro
fluidos físicos: sangue, fleuma, bílis negra e bílis amarela. Os gregos acreditavam que uma
abundância de qualquer um desses fluidos no corpo determinava as características da
personalidade.23

A teoria era bioquímica em essência. Sim, o comportamento


humano, segundo ela, estaria relacionado a apenas uma questão física;
se seu corpo tem muito de um determinado tipo de fluido, sua
personalidade e comportamento são determinados por essa substância
química. Não se trata da somatória de circunstâncias, influências que
recebe e escolhas que você toma, mas, sim, da sua bílis: “Eu explodo
mesmo, eu nasci assim, fazer o quê? Quem pode mudar a sua essência
biológica?”.

Como apontou Tim LaHaye: “Hoje, porém, falamos de hormônios e


outras substâncias químicas em vez de humores”.24 O autor explica em
seu livro que, durante um bom tempo da história humana, ninguém
deu bola para esse assunto. Ao longo de toda a Idade Média, poucos
estudos foram feitos sobre o assunto, que foi desenterrado no século
XVII, e no século XIX a teoria voltou à cena com mais força por meio
da psicologia, a mesma que nasce essencialmente ateísta, como uma
alternativa à Bíblia. Segundo o autor, “no fim do século XIX, o estudo
do comportamento humano recebeu novo impulso com o nascimento
da ciência denominada psicologia”.25 Ora, se Deus não existe — para
Freud, a religião era uma neurose —, não existe alma, espírito, certo ou
errado. É claro que, para eles, caiu como uma luva atrelar o
comportamento a apenas uma questão química e/ou biológica: “O xixi
está para o rim como o comportamento está para sua bílis ou seus
hormônios” — diziam eles.

Pois bem, qual é a prova de que o comportamento humano é apenas a


somatória de substâncias químicas? Nenhuma! Afinal, o
comportamento humano é impossível de ser investigado com
exatidão; ele não respeita a lei de causa e efeito, não sendo uma ciência
exata por ser extremamente subjetivo. Dois mais dois dá sempre
quatro, a maçã sempre cai quando lançada ao ar, mas se você ignora o
João, ele também irá ignorá-lo, enquanto a Joana, ao contrário, ficará
irritada.

Enfim, Tim LaHaye aponta que Immanuel Kant, provavelmente, foi a


maior influência na divulgação da teoria na Europa, justificando os
temperamentos da seguinte forma: “A pessoa sanguínea é alegre e
esperançosa; atribui grande importância àquilo que está fazendo no
momento, mas logo em seguida pode esquecê-lo”.26 Mas
qual é a base para dizer que uma substância
química em seu corpo pode determinar que
você é inconstante?
Que laboratório é esse que mede esse algo tão subjetivo como o
comportamento humano? Que microscópio é esse que chega à origem
da coragem e do medo, da tristeza e da alegria? Mas essa é a jogada de
nossa era materialista, que diz “Isso é ciência” e faz a mágica acontecer,
até mesmo as coisas mais doidas, como um dinossauro se transformar
em um pássaro.

O psiquiatra e influenciador digital Italo Marsili é um dos nomes que


defendem a teoria; numa live, ele introduziu a teoria com a seguinte
pergunta: “Por que quatro temperamentos?”, e sua resposta foi:
“Podem ser quantos você quiser”. Curiosamente, ele ainda se refere a
isso como ciência. Imagine se tratássemos a ciência dessa maneira. Por
exemplo, diríamos: “Quanto às Leis de Newton, você pode ter três ou
quatro... Quantas quiser”. Os absurdos não param por aí. Tim LaHaye
defende a possibilidade de se ter mais de um temperamento, como
60% sanguíneos e 40% coléricos. Mas como ele chegou a esses
números? Será que ele contou quantas vezes o sanguíneo explodiu em
um dia? Se não há base científica, tal teoria apresenta, ao menos,
alguma base bíblica? Não. Não apresenta nenhuma! Em seu livro
Introdução ao aconselhamento bíblico, John Macarthur diz:
“Classificações de categorias de personalidades nada têm a ver com a
Bíblia; sua inspiração é a antiga mitologia grega”.27

A primeira coisa que tenho a dizer sobre tudo isso é: eu não estou
negando que as pessoas sejam diferentes, apenas afirmo que tal teoria
não possui nenhuma base filosófica, científica e bíblica, servindo
apenas para que as pessoas deem desculpas para seus defeitos e deixem
de assumir responsabilidades pelo seu comportamento.
A Bíblia não diz que identificar os temperamentos é essencial para
um relacionamento saudável; ela não fala em fleumático, sanguíneo...
E se fosse tão essencial assim, você acha mesmo que Deus não nos
transmitiria ordens claras a respeito, ou você acha que a Bíblia é
insuficiente e, por isso, precisamos de homens pagãos, idólatras e ateus
para nos guiar naquilo que a Bíblia se propôs a fazer? Necessitamos
que homens mortos nos ensinem? Eu não estou dizendo que a Bíblia
fala sobre todos os temas que abrangem a realidade; ela, apesar de
estar certa cientificamente, não é um livro sobre ciências, não nos
ensina sobre aviões ou navios, casas ou plantações, mas é o livro que
trata do comportamento humano, sendo assim,

não há ninguém melhor para dizer como as


criaturas “funcionam” do que Aquele que as
criou.

Portanto, a Bíblia não fala sobre estabelecer a diferença entre


fleumático ou colérico, mas diz que você precisa se atentar ao que é
pecaminoso ou santo, justo ou injusto. Caim e Abel, Jacó e Esaú eram
pessoas extremamente diferentes, mas qual o meio bíblico para lidar
com comportamentos tão diferentes? Fé e arrependimento. No
entanto, ainda que muitos neguem, o que a teoria dos temperamentos
faz é, simplesmente, levar as pessoas para longe do genuíno
arrependimento. Atos pecaminosos, agora, são chamados de
temperamentos.

Tim LaHaye, talvez o grande responsável por introduzir essa doutrina


mundana na igreja, em seu livro Temperamentos transformados,28
passou a descrever Pedro a partir da teoria dos quatro temperamentos.
Ele disse que Pedro é sanguíneo: “Ele fala sem pensar, mas é rápido
para se arrepender”.29 Ah, é? E eu que pensei que um coração
quebrantado, disposto a se arrepender fosse fruto da Nova Aliança,
que nos dá um coração de carne, sensível às coisas de Deus, mas não,
trata-se de uma questão de fluidos, de temperamento. “Ah! Eu explodo,
mas rapidamente esqueço, pois sou colérico”. Não, você não é colérico,
você é pecador e está se escorando numa teoria furada para se sentir
bem com seu pecado, pois Kant definiu assim o colérico: “Dizem que o
colérico tem cabeça quente, fica agitado com facilidade, mas se acalma
logo que o adversário se dá por vencido”. 30 Se você estoura, a Bíblia
não o define como colérico, você, na realidade, é descontrolado. Karl
Popper disse o seguinte:

“Teorias psicológicas da conduta humana


tinham, na verdade, mais em comum com
mitos primitivos do que com ciência”.31
A teoria dos quatro temperamentos é mais uma desculpa para nossos
maus comportamentos; ela vem para substituir os signos, outra ideia
que não tem base em nada, que é puro misticismo. A diferença é que,
na astrologia, a posição dos astros determina seu comportamento, já
na teoria dos quatro temperamentos, são os fluidos que determinam
isso. De qualquer forma, ambas têm algo em comum: evasivas
admiráveis, desculpas com ar de ciência e filosofia para que
continuemos com nossos maus comportamentos.

Acompanhe esta história real: um menino encrenqueiro fez alguma


travessura, mas a mãe não o repreendeu, afinal, ele é sanguíneo, e
temos que conhecer os temperamentos para saber qual tratamento dar
a cada um. Então, o menino fez escândalo, mas é sanguíneo, logo, não
pode ser confrontado, pois, segundo eles, baseados em “sei lá o quê”, o
sanguíneo não aceita o confronto, por isso o pai deve ter uma
abordagem mais positiva. Já o irmão fleumático pode ser repreendido,
e esse irmão bem novo, mas já notando a injustiça em nome dos
temperamentos, retruca: “É assim mesmo, o irmão sanguíneo não
pode ser repreendido, já eu, o ‘fleumatiquinho’, sim”. Parece piada? Não
é. Eu ouvi um relato exatamente assim em minha igreja.
Além disso, essa teoria também serve para rotular pessoas, livrar-nos
da culpa e acusar os outros. Sim, há momentos na vida em que nos
indignamos, pois só maníacos conseguem ouvir que uma criança foi
violada ou que uma enorme injustiça foi cometida e ficar serenos, no
entanto, se um homem se indigna genuinamente com algo mau, essa
geração de frouxos diz: “Nossa! Que explosivo.

Típico de sanguíneo”.

Eu já fui descrito como fleumático, depois, classificaram-me como


sanguíneo. Eu não abria a boca; eu tinha pavor de falar em público.
Aos 13 anos, eu consegui o impossível, reprovar na escola numa época
em que eles não reprovavam, e por quê? Porque eu não conseguia falar
para muitas pessoas. E o que me levava a travar diante de uma plateia?
Para muitos, tinha a ver com a ausência de alguma substância química
em mim, mas a verdade era outra: era simplesmente covardia. Mas ao
me converter, o poder do Espírito Santo de Deus por meio do
Evangelho invadiu a minha alma e, sem nenhum auxílio de teorias
moldadas por homens pagãos, o menino de 14 anos que não conseguia
entrar numa loja sozinho para comprar uma roupa foi moldado, por
meio da Bíblia, num pregador do Evangelho.

Seu bisavô, sem nunca ouvir essa balela, educou dez crianças
totalmente diferentes e levou todas à obediência. Enquanto isso, os
pais de hoje, com todos esses recursos fantasiosos, não conseguem
educar uma criança. Quem será que está certo, afinal? O nosso bisavô,
com a Bíblia na mão, ou os homens de hoje, com Empédocles,
Hipócrates, Kant e todos esses homens pagãos?

A PARÁBOLA DO ELÁSTICO
Educar filhos é como esticar um elástico; você não pode esticar muito,
senão ele estoura, e nem pouco, deixando-o relaxado a tal ponto de o
seu potencial nunca ser usado. Quando meu filho era mais novo, ele
jogava futebol em uma escolinha, e eu, como pai, tentava ajudá-lo a
atingir o máximo de seu talento; eu transmitia instruções que, muitas
vezes, não eram executadas, então, tentava fazer algumas avaliações:
“Eu pedi algo que ele ainda não dá conta de fazer ou, talvez, nunca
dará? Será que ele entendeu o que eu disse? Será que ele entendeu e, no
momento do jogo, esqueceu tudo? Será que ele entendeu e, por
discordar de mim, simplesmente ignorou as dicas que dei?”. Ou seja, o
que eu passei com meu filho é o que todo pai precisa enfrentar com
todos os seus, sejam eles especiais ou não, quer eles tenham alguma
limitação ou não:

cada pai é um treinador que precisa conhecer


o potencial e os limites de seu filho,

para não exigir dele algo além de suas forças e nem o deixar enterrar
seus talentos.

Independentemente de seu filho ter transtorno ou não, apesar dos


tipos de temperamento que possuímos, o fato, evidente e inexplicável,
é que: as pessoas são diferentes; elas possuem dons, gostos e aptidões
únicas. Eu nunca vou entender por que meus filhos ainda tão
novinhos já possuíam gostos tão peculiares. Todos foram igualmente
expostos às frutas desde bebês, mais ou menos na mesma época, com
quatro ou cinco meses, mas minha caçula, por uma razão inexplicável,
foi a única que demorou a pegar gosto pelas frutas. Uns falaram mais
rápido do que outros; minha filha Helena sempre gostou de cantar; a
Isabela de pintar; o Daniel de correr; e a Karina é muito nova para
mostrar suas predisposições. O fato biológico de que, apesar de
existirem 8 bilhões de habitantes no mundo, não existem dois seres
humanos exatamente iguais é assombroso; nem os gêmeos idênticos
são tão idênticos assim. Cientistas da Islândia sequenciaram o DNA de
387 pares de gêmeos idênticos, seus pais, filhos e cônjuges, e isso
permitiu que eles encontrassem mutações precoces que separam
gêmeos idênticos, e é por isso que você nunca encontrará uma digital
igual à sua em nenhum lugar do mundo: você é único e seu filho
também.
Algumas pessoas são naturalmente mais fortes, belas e inteligentes
que outras. Para cada craque de futebol, você terá milhões de pernas
de pau.

Dizer que todos são iguais e capazes de


fazer qualquer coisa parece muito legal, mas é
uma ilusão
que acaba frustrando a maioria das pessoas. Mesmo que eu treinasse
e desse o meu melhor, eu nunca correria como Usain Bolt,32 e trata-se
de uma verdade evidente que, muitas vezes, queremos negar, mas as
pessoas não possuem as mesmas habilidades, muito menos
oportunidades semelhantes. A maioria de nós é comum, e eu sei que
todo pai sonha que seu filho seja um Neymar, mas isso não vai
acontecer com a esmagadora maioria dos meninos que estão em
alguma escolinha de futebol.

O problema é que tais verdades soam como blasfêmia, como crenças


limitantes na era do: “desde que se dedique, você pode fazer o que
quiser. Deseje, dedique-se e alcance”. Tal dogma não pode ser
questionado; quem o faz corre o risco de ser jogado na fogueira do
humanismo prevalecente em nossos dias, e é impressionante como as
pessoas não notam que tal afirmação faz do homem uma espécie de
deus, afinal, qual é o único ser que, quando deseja algo, não tem
nenhuma força maior que a dele para o impedir de concretizar sua
vontade? Deus! Um garoto foi a uma palestra de um coach que lhe
disse: “Se você se dedicar muito, você se tornará um jogador de
futebol”. Tal afirmação parece muito com a de inúmeros falsos profetas
que vendem milagres: “Todos que crerem serão curados”, e caso a
pessoa não creia, basta colocar a culpa no enfermo: “Você não tem fé o
bastante”. No caso do coach, a frase muda um pouco, mas em essência
é a mesma coisa: “Você não se tornou jogador porque não se dedicou o
bastante”. Mas no caso do garoto citado acima, ele descobriu uma
doença que o impediu de praticar esporte de alto rendimento, ou seja,
a vontade dele não foi maior que seu corpo. Foi por isso que o apóstolo
Tiago resolveu o problema dos arrogantes coaches de seus dias com
uma simples comparação: “Sois um vapor que aparece por um instante
e que em seguida se desvanece” (Tg 4, 14). E recomendou: “Em vez
disso, devíeis dizer: ‘Se o Senhor quiser, viveremos e faremos esta ou
aquela coisa’” (Tg 4, 15).

MATEMÁTICA CONTRA ILUSÃO


Para os coaches, cada ser humano tem uma espécie de poder ilimitado
dentro de si que é travado pelas “crenças limitantes”, ou seja, basta crer
em seu potencial para ser capaz de fazer qualquer coisa.

Um coach foi até uma escolinha de futebol e palestrou para mais de


duzentos garotos com as mesmas promessas de sempre: “Sonhem
grande e nunca desistam de seus sonhos, assim vocês conquistarão
qualquer coisa”. Mas que sonho você acha que orbitava a cabeça de
cada um daqueles garotos? — Tornar-se o novo Cristiano Ronaldo.
Ora, se todos aqueles duzentos meninos daquela escolinha se
tornassem jogadores de futebol profissional e conseguissem jogar em
um time de Série A do Brasil, nós estaríamos diante de um verdadeiro
milagre nunca visto na história humana, mas em se tratando de
possibilidade lógica, poderia, sim, acontecer. No entanto, os meninos
não queriam apenas isso; jogar em um time de Série A é uma crença
limitante, eles queriam ganhar a Bola de Ouro, que é o prêmio anual
dado ao melhor jogador do mundo, e é aí que entra a matemática, que
mostra o quanto o discurso do coach é cem por cento falso.

Ainda que o sonho de todos os duzentos meninos da escolinha, de se


tornarem jogadores de Série A, acontecesse, eles precisariam de
duzentos anos para cada um ganhar, ao menos uma vez na carreira, o
prêmio de melhor do mundo, e como a carreira de jogador dura vinte
anos, no máximo, somente vinte daqueles meninos poderiam,
logicamente falando, alcançar a promessa dada pelo coach.
Meu objetivo com todo esse discurso “desmotivacional” não é limitar
ninguém, mas apenas nos trazer à realidade de que,

diferentemente dos alucinados de nossos dias,


nós não criamos ondas,

apenas surfamos aquelas que Deus envia, cabendo a nós, portanto,


fazer o máximo que pudermos com os talentos e oportunidades que
recebemos. Sendo assim, os pais devem entender sua verdadeira
responsabilidade, que não se resume em se propor a fazer dos filhos
campeões olímpicos ou pessoas famosas; isso pode acontecer, mas,
diferentemente do que dizem os coaches, não depende só de você ou
só do esforço de seu filho. A função de um pai é educar e ajudar seus
filhos em sua jornada, a fim de que sejam tementes a Deus, fortes
emocionalmente, honestos, generosos e disciplinados, para que
possam usar ao máximo o potencial e as oportunidades que Deus lhes
der. Se seus filhos tiverem essas qualidades, independentemente do
que venham a ser, eles serão pessoas de bem e, melhor ainda, eles
serão felizes.
O sprateleiras
remédios que recomendei aqui não serão encontrados nas
mais populares de tratamento para a desobediência
juvenil, porque, no mundo capitalista, o que não vende some do
mercado. Como muitos pais acham que esses medicamentos são
amargos demais, os especialistas decidiram não mais oferecê-los, mas
olhe para o lado e note: quanto mais as crianças ingerem os remédios
indicados pelos doutores em educação, pior elas ficam. Não está óbvio
que você necessita mudar o tratamento? Será que não está na hora de
adotar remédios oferecidos pelos antigos, aqueles naturais, que eram
baratinhos e eficazes?

Uma boa dose de presença de mãe, uma


pitada de firmeza e evitar as desculpas

não constituem todo o tratamento de que você precisa para tornar seus
herdeiros saudáveis, mas já é uma boa caixinha de primeiros socorros
que poderá fazer toda a diferença para salvar a vida de seus filhos; já o
restante está no mesmo lugar de onde saíram todos os medicamentos
deste livro: a Bíblia.
ADAMS, Jay E. Conselheiro capaz. São José dos Campos: Editora
Fiel, 2015.

beauvoir, Simone de; friedan, Betty. “Sex, Society and the Female
Dilemma: A Dialogue Between Simone de Beauvoir and Betty
Friedan”. Saturday Review, 14 jun. 1975.

dalrymple, Theodore. Evasivas admiráveis. São Paulo, SP: É


Realizações, 2017.

friedan, Betty. A mística feminina. 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: Rosa


dos Tempos, 2020.

hendrisksen, William. Comentário do Novo Testamento: Lucas. São


Paulo, SP: Cultura Cristã, 2003. v. 1.

lahaye, Tim. Temperamentos transformados. São Paulo, SP: Mundo


Cristão, 2008. E-book.

macarthur, John. Introdução ao aconselhamento bíblico. Thomas


Nelson Brasil, 2020. E-book.

venker, S. O outro lado do feminismo. [S. l.]: Simonsen, 2015.


Notas de Rodapé
1 Cor 2, 15.

2 “What Is a Woman”, The Daily Wire, 2022.

3 Suzanne Venker, O outro lado do feminismo, 2015, p. 129.

4 Simone de Beauvoir e Betty Friedan, “Sex, Society and the Female Dilemma: A Dialogue
Between Simone de Beauvoir and Betty Friedan”, Saturday Review, 14 de junho de 1975, p. 20.

5 Frase atribuída ao poeta britânico William Ross Wallace — ne.

6 Dr. José Martins Filho, “Os primeiros mil dias de vida”, Café Filosófico, Instituto CPFL,
2019. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=OI-ebvX1sis.

7 William Hendrisksen, Comentário do Novo Testamento: Lucas, 2003, v. 1.

8 O sorriso de Mona Lisa, Columbia Pictures, Revolution Studios e Red Om Films


Productions, 2003.

9 Betty Friedan, A mística feminina, 2020.

10 O Leão de Nemeia é uma criatura da mitologia grega, um leão gigante que, segundo a
história, foi derrotado por Hércules como parte de seus doze trabalhos — ne.

11 1 Rs 11, 1−8.

12 Rei do gado, tv Globo, 1996.

13 Jean-Jacques Rousseau, filósofo do século XVIII, teorizou sobre a natureza humana, a


sociedade e a educação, defendendo a ideia de que o homem é naturalmente bom, porém, a
sociedade o corrompe — ne.

14 Benjamin Button é um personagem fictício da história O curioso caso de Benjamin


Button, de Francis Scott Fitzgerald. Ele nasce como um idoso e, ao longo do tempo, rejuvenesce
em vez de envelhecer — ne.

15 Theodore Dalrymple, Evasivas admiráveis, 2017.

16 William Shakespeare, Rei Lear, Ato i, Cena ii, 123−140 apud Theodore Dalrymple,
Evasivas admiráveis, 2017.

17 Jay E. Adams, Conselheiro capaz, 2015, p. 13.


18 Ibid, p. 14−15.

19 Allen Frances, “Transformamos problemas cotidianos em transtornos mentais”.


[Entrevista cedida a] Milagros Pérez Oliva. El País, 28 set. 2014. Disponível em: https://
brasil.elpais.com/brasil/2014/09/26/ sociedad/1411730295_336861.html. Acesso em: 18 jul.
2023.

20 Theodore Dalrymple, Evasivas admiráveis, 2017.

21 Thomas Stephen Szasz apud Jay E. Adams, Conselheiro capaz, 2015, p. 27.

22 Tim LaHaye, Temperamentos transformados, 2008, e-book.

23 John Macarthur, Introdução ao aconselhamento bíblico, 2020, e-book.

24 Tim LaHaye, op. cit, 2008.

25 Ibid.

26 Immanuel Kant apud Tim LaHaye, op. cit., 2008.

27 John Macarthur, op. cit., 2020.

28 Tim LaHaye, op. cit., 2008.

29 Ibid.

30 Ibid.

31 Karl Popper apud John Macarthur, op. cit., 2020.

32 Usain Bolt é um atleta jamaicano considerado o maior velocista da história do atletismo


— ne.
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