O FANTÁSTICO, A MITOLOGIA E SUA RELAÇÃO COM AS OBRAS DE
MARINA COLASANTI.
Andréia Hartman, (IC Voluntária - UNICENTRO), Regina Chicoski
(Orientadora), e-mail: rechicoski@gmail.com.
Universidade Estadual do Centro-Oeste/Setor de Ciências Humanas Letras
e Artes /Irati, PR.
Área: Linguística, Letras e Artes
Sub-área : Literatura
Palavras-chave: Literatura Infantil, literatura fantástica, Marina Colasanti .
Resumo:
Dentre vasta diversidade de escritores que encantam os olhos dos leitores
está Marina Colasanti. Nas obras da escritora é possível perceber a presença de elementos fantásticos e mitológicos Nesse sentido o objetivo desta pesquisa é analisar os aspectos mitológicos e fantásticos presentes nos seguintes contos: Um espinho de marfim (1979), A moça tecelã (2004), Entre leão e Unicórnio (2006), Onde os oceanos se encontram (2006), A mulher ramada (2006), todos de autoria de Marina Colasanti. Para isto nos valeremos da teoria de Todorov acerca da literatura fantástica (2007).
Introdução
A Literatura Infanto-Juvenil está repleta de vários escritores(as) talentos(as),
que por meio do “jogo com as palavras” encantam os olhos de quem os lêem. Dentre esses escritores(as) está Marina Colasanti. As obras dessa escritora mesclam o fantástico e o mitológico e até mesmo compreendem aspectos folclóricos, tratando de assuntos relacionados à psique humana e suas relações com a sociedade. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa é deslindar elementos fantásticos e mitológicos presentes nos seguintes contos: Um espinho de marfim (1979), A moça tecelã (2004), Entre leão e Unicórnio (2006), Onde os oceanos se encontram (2006), A mulher ramada (2006), todos de autoria de Marina Colasanti. Para isto nos valeremos da teoria de Todorov acerca da literatura fantástica (2007)
Materiais e métodos
Inicialmente foi feito levantamento bibliográfico que amaparasse o
referencial teórico. Em seguida foi feita a leitura e o fichamento do material obtido. Na sequência foram selecionadas e analisadas as obras de Marina
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
Colasanti, tendo como recorte os aspectos fantásticos e mitológicos presentes nos contos, com base na teoria de Todorov (2007), bem como em definições propostas por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant (1997) no Dicionário de Símbolos.
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos por meio da análise feita dos contos permitiram-nos
caracterizá-los como fantásticos por vários aspectos. A voz nas narrativas é sempre feminina e elementos antigos e modernos entrelaçam-se, bem como aspectos fantásticos e mitológicos (CECCANTINI, 2004, p, 163). No que se refere às narrativas de Marina Colasanti pode-se dizer que são recheadas de magia e encantos e, ainda, de recriações poéticas (STROPARO, 1995, p. 133), ou seja, aproveitamento das tradições de outras culturas como instrumento de (re)criação. Nesse sentido, pode-se apontar alguns elementos, sejam eles mitológicos ou fantásticos, nos contos: Um espinho de marfim (1979), A moça tecelã (2004), Entre leão e Unicórnio (2006), Onde os oceanos se encontram (2006), A mulher ramada (2006). No conto Um espinho de marfim o ponto que dá a ideia de fantástico seria o amor existente entre o unicórnio e a princesa. Além disso, o desfecho do conto, que termina na transformação da princesa em “(...) rosa de sangue (...)” e do unicórnio em “(...) um feixe de lírios” (COLASANTI, 1979, p. 28), sendo que a rosa representa o amor e o lírio a pureza. Esse desfecho permite concluir que a aparente inconsolidação do amor existente entre os dois é possível graças a transformação que eles sofrem ao se tornarem flor. Em A moça tecelã tudo o que a protagonista necessitava, dia, noite, alimento, provinha do trabalho de suas mãos, através do tear. Esse tear carrega consigo uma carga simbólica, o “(...) tecer não significa somente predestinar e reunir realidades diversas, mas também criar, fazer sair sua própria substância, exatamente como faz a aranha, que tira de si própria a sua teia” (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1997, p. 872). Neste conto, tal definição é muito coerente, pois a protagonista faz dos fios, do ato de tecer em si o movimento de seu próprio universo e o molda conforme sua vontade. Nesse sentido, os elementos mágicos (palácio, neve, criados, a magia do tapete) refletem comportamentos sociais (busca do poder, submissão, egoísmo, solidão, desejo de liberdade). O ponto culminante deste conto seria a relação entre a moça e o homem, que tem seu destino nas mãos da mulher. Ela permite a entrada dele em sua vida, bem como, providencia a sua saída. Já no conto Entre leão e unicórnio, tem-se duas figuras simbólicas: o leão e o unicórnio, bem como dois mundos, o real e o onírico, sendo que o segundo transpassa o mundo real, tendo em vista o aparecimento de animais no quarto do castelo real. Além disso, há o destaque da figura feminina que determina o destino do homem, no caso, a rainha e sua dama de companhia traçam o destino do rei.
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O unicórnio e o leão possuem significados distintos, porém, com algumas semelhanças. O unicórnio expressa, através de seu chifre, poder, penetração do divino na criatura, reflete, ao mesmo tempo luxo e pureza; já o leão representa soberania, poder (assim como o unicórnio), e é o símbolo solar, mas acima de tudo, ele é a própria encarnação do poder, da sabedoria, da justiça, por outro lado, o excesso de orgulho e confiança em si mesmo faz dele o símbolo do pai, mestre, soberano, que ofuscado pela própria luz, se torna um tirano, crendo-se protetor (CHEVALIER e GHEERBRANT, 1997, p. 538). Nesse conto tem-se a figura mitológica envolvida na trama diegética. A presença de tais figuras somados aos aspectos fantásticos contribuem para o criação de relações entre humanos e seres que não existem no mundo real, relações essas consideradas inexistentes aos olhos humanos, mas que por meio da literatura fantástica são possíveis de se apresentar ao leitor. Em Onde os oceanos se encontram o foco é a disputa de um homem por duas ninfas irmãs, Lânia e Lisíope, que vivem isoladas numa ilha apenas resgatando e devolvendo ao mar homens já mortos que por elas são avistados. Neste conto existem aspectos fantásticos, mas sobretudo a marca mais forte seria a utilização que a autora faz de figuras mitológicas: as ninfas, criaturas ligadas à natureza, divindades da mitologia grega as quais fazem parte, quase sempre, de lendas em que o amor é o motivo central. Além disso, têm-se a figura da morte, que ao que parece é amiga de Lânia, bem como existe uma relação entre mestre e subordinada, conforme pode ser observado na citação a seguir: “(...) desde sempre aceito tudo o que você me traz, e trabalho sem nada pedir (...)” (COLASANTI, 2006, p. 44) Tal relação existente entre a ninfa e a morte reforçam ainda mais a ideia do fantástico, pois atribui-se vida a criaturas que não existem no mundo real. Por fim, no último conto analisado, A mulher ramada, é retratada a história de um homem, que cuida de um belo jardim real, e que ama as flores, mas é pouco notado e sente-se só. Tamanha era sua dor que decide plantar uma roseira, a qual ele poda diariamente até tomar o formato do corpo de uma mulher. Com o passar do tempo e sua dedicação “o arbusto foi tomando feitio, fazendo surgir dos pés plantados no gramado duas lindas pernas, depois o ventre, os seios, os gentis braços da mulher que seria sua.” E por “(...) último (...) a cabeça, levemente inclinada para o lado” (COLASANTI, 2006, p. 24). A paixão do jardineiro pela roseira, paixão essa que o faz acreditar que a planta é sua tão desejada companheira, mesmo se tratando de um ser inanimado, apesar de vivo. Esse aspecto reforça a ideia do fantástico no conto. O desfecho do conto revela também características fantásticas, pois após os olhares do jardineiro à Rosamulher, ela começa a brotar, lançar galhos, abrir folhas e a envolver em seus botões o jardineiro, envolvimento esse que nada mais é do que um abraço de amantes (COLASANTI, 2004, p. 28).
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Conclusões
Em se tratando de literatura fantástica, tomando como base os pressupostos
teóricos de Todorov, que embasaram a presente pesquisa, trata-se da narração de acontecimentos que ora podem ser explicados ou não pelas leis naturais. Em todos os contos analisados existem indícios da literatura fantástica. Isso pôde ser constatado devido às relações que se estabelecem entre criaturas imaginárias e seres humanos, bem como, fatos que ocorrem nos contos, possíveis de acontecerem apenas no mundo irreal. Além do fantástico, como se verificou, em três, dos cinco contos analisados, existe a presença de figuras mitológicas, às quais são atribuídos sentimentos e ações humanas, que reforçam ainda mais o fantástico nas obras. Diante do que foi exposto e analisado espera-se que por meio desta pesquisa a literatura fantástica seja vista sobre um outro viés: o da junção entre fantástico e mitologia.
Agradecimentos
Agradeço aos professores de Literatura do Departamento de Letras,
Unidade Universitária de Irati, que deram apoio no que se refere ao engajamento em pesquisas de cunho literário e, em especial, a Profª. Drª. Regina Chicoski, que contribuiu diretamente para a realização da presente pesquisa.
Referências
CECCANTINI, João Luis. Leitura e Literatura Infanto-Juvenil: Memória de
Gramado. São Paulo: Cultura Acadêmica, ANEP, 2004. COLASANTI, Marina. Doze reis e a moça no labirinto do vento. São Paulo: Global, 2006. COLASANTI, Marina. Uma idéia toda azul. Rio de Janeiro: Nórdica, 1979. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain, Dicionário de Símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Tradução de Vera da Costa e Silva … [et al] Rio de Janeiro: José Olympio, 1997, 11ª ed. SILVA, Maria Tietzmann, TURCHI, Maria Zaira (Org). Literatura infanto- juvenil: leituras críticas. Goiânia: Ed. da UFG, 2002. STROPARO, Sandra Mara. Unicórnios: contos maravilhosos de Marina Colasanti. Paraná: Editora UFPR, Revista Fragmentada, nº 12, 1995. TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Tradução de Maria Clara Correa Castell. São Paulo: Perspectiva, 2007.
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