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f D /Ç Õ E S
PARAKLETOS
r
Do original em inglês Psalm 119 - The Golden Alphabet
Os direitos desta edição são reservados
Ia edição - 2001
3000 exemplares
Editoração e capa
Eline Alves Martins
EDIÇÕES
PARAKLEEOS
Rua Clélia, 1254 • Cj. 5B •V ila Romana • 05042-000 ■São Paulo, SP • Brasil
Telefax: 55 11 3673-5123 ■e-mail: parakletos@uol.com.br
IM PO SIÇ Ã O 1
(w. 1-8)
Bem-aventurados os impolutos em seus caminhos, que andam na lei
do Senhor. Bem-aventurados os que guardam seus testemunhos, e que
o buscam de todo seu coração. Eles também não praticam iniqüidade,
mas andam em seus caminhos. Tu nos ordenaste que guardássemos
teus preceitos com diligência. Quem dera que meus caminhos fossem
bem direcionados para que eu observe teus estatutos. Então não fica
ria envergonhado, quando tiver respeito para com todos teus manda
mentos. Louvar-te-ei com retidão de coração quando tiver aprendido
teus justos juízos. Observarei teus estatutos; oh, não me desampares
totalmente!
Estes oito primeiros versículos são associados à contemplação
da bem-aventurança que procede da observância dos estatutos do
Senhor. O tema é tratado de uma forma devocional, e não num
estilo didático. Sincera comunhão com Deus se desfruta através
tio amor àquela Palavra que é a maneira de Deus comunicar-se
com a alma através de seu Espírito Santo. Oração e louvor, bem
como toda sorte de atos e sentimentos devocionais, perpassam
esses versículos como os raios da luz solar refletidos através da
folhagem de uma árvore frondosa. Você se sente não só instruído,
mas também influenciado com santa emoção e levado a expressar
u mesmo.
Os que amam a Santa Palavra de Deus são bem-aventurados,
porque são preservados de contaminação (v. 1), porque se tornam
santos na prática (w. 2, 3) e guiados a ir a Deus sincera e intensa
mente (v. 2). E evidente que se deve desejar um viver santo, por
que é isso que Deus ordena (v. 4); por isso a alma pia ora por esse
vivei- santo (v. 5) e sente que seu conforto e coragem devem de
pender de sua obtenção (v. 6). No prospecto da oração respondi-
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' S a lm o 1Q
vida havia sido mais perfeita e santa que a dele; aliás, a própria
contemplação da lei perfeita do Senhor na qual ele agora tem in
gresso fosse suficiente para levá-lo a deplorar suas imperfeições
pessoais e a suspirar pela bem-aventurança de um viver sem mácula.
A religião genuína é sempre prática, pois ela não nos permite
deleitar-nos numa regra perfeita sem excitar em nós profundo anelo
de conformar a essa regra nossa conduta diária. Uma bênção per
tence aos que ouvem, lêem e entendem a Palavra do Senhor; não
obstante, uma bênção ainda maior advém da real obediência a ela
e concretiza em nosso andar e conversação o que aprendemos em
nosso exame das Escrituras. A mais genuína bem-aventurança
consiste na pureza de nosso caminho e de nossa caminhada.
Este primeiro versículo constitui não só um prefácio a todo o
Salmo, mas pode também ser considerado como o texto sobre o
qual o resto é um discurso. E semelhante à bênção do primeiro
Salmo, o qual é o próprio cabeçalho de todo o livro: há certa se
melhança entre este Salmo 119 e o Saltério, e este é só um ponto
dele, que começa com uma bênção. Neste também vemos algumas
prefigurações do Filho de Davi, que começou seu grande sermão
como Davi começou seu grande Salmo. E bom abrir nossa boca
com bênçãos. Quando não podemos concedê-las, podemos apon
tar o caminho de sua obtenção; e ainda quando nem mesmo as
possuamos, pode ser proveitoso contemplá-las, para que nossos
desejos sejam excitados e nossas almas movidas a buscá-las. Se
nhor, se não sou ainda tão abençoado ao ponto de não ser ainda
contado entre os imaculados em teu caminho, contudo meditarei
intensamente na felicidade que desfrutam, e a porei diante de meus
olhos como uma ambição a ser concretizada em minha vida.
Do modo como Davi começa seu Salmo, os jovens deveriam
começar suas vidas; os recém-convertidos deveriam iniciar sua
profissão de fé; todos os cristãos deveriam começar cada dia. As
sentem em seus corações como primeiro postulado e sólida regra
da ciência prática que santidade é sinônimo de felicidade-, que nossa
sabedoria consiste em primeiramente buscar o reino de Deus e
sua justiça. O bom começo já é meio triunfo. Começar com uma
idéia veraz de bem-aventurança é importante além de toda medi-
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, S a lm o 115*
tos em luz mais plena e mantêm comunhão mais íntima com Deus,
e são aptos a manter-se imunes das impurezas do mundo, os quais
desfrutam de mais paz e alegria do que seus irmãos menos vigilan
tes. Sem dúvida, quanto mais profunda é nossa santificação, mais
intensa é nossa bem-aventurança. Cristo é o nosso caminho, e não
só estamos vivos em Cristo como também devemos viver nele. O
lamentável é que nós salpicamos sua santa vereda com nosso ego
ísmo, nossa vanglória, nossa obstinação e nossa carnalidade, per
dendo com isso, em grande medida, a bem-aventurança que se
acha nele como nosso caminho. O cristão que erra continua salvo,
porém deixa de experimentar a alegria de sua salvação; continua
redimido, porém não enriquecido; muitíssimo disposto, porém não
muitíssimo abençoado.
Quão facilmente pode sobrevir-nos impureza, mesmo em nos
sas coisas santas, sim, até mesmo no caminhol E até mesmo pos
sível achegarmo-nos para o culto público ou privativo maculados
em nossa consciência, quando ainda nos achamos de joelhos. Não
havia assoalho no tabernáculo, mas apenas areia; daí os sacerdo
tes, para o serviço junto ao altar, careciam constantemente de la
var seus pés; e, pela bondosa provisão de seu Deus, o lavatório
lhes estava sempre à disposição para que se purificassem. Quanto
a nós, nosso Senhor ainda se dispõe a lavar nossos pés, para que
estejamos totalmente limpos. E assim nosso texto preanuncia a
bem-aventurança dos apóstolos no cenáculo, quando Jesus lhes
assegura: “Vós já estais limpos.”
Que gloriosa bem-aventurança aguarda os que seguem o Cor
deiro para onde quer que ele vá, e são preservados do mal que
impregna o mundo de luxúria! Estes atrairão a inveja de toda a
humanidade “naquele dia”. Ainda que agora sejam menospreza
dos como fanáticos e puritanos, os mais prósperos dos pecadores
então desejarão que possam trocar de lugar com eles. O minha
alma, busca tua bem-aventurança em seguir os passos de teu Se
nhor, o qual foi santo, inculpável, imaculado; pois se até aqui des
frutaste de paz, haverás de desfrutá-la para todo o sempre.
Que andam na lei do Senhor. Neles se acha presente a santi
dade habitual. Seu andar, sua vida cotidiana, é de obediência ao
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■ S a lm o 11S
[v. 31
Também não praticam iniqüidade, mas andam em seus caminhos.
Também não praticam iniqüidade. Aliás, bem-aventurados
devem ser todos aqueles de quem se pode isso afirmar sem reserva
e sem explicação: Teremos atingido a região da perfeita bem-aven
turança quando cessarmos totalmente de pecar. Os que seguem a
Palavra de Deus não amam a iniqüidade; a regra é perfeita, e se ela
for constantemente seguida não haverá erro. A vida, para o obser
vador do lado de fora, consiste em atos; e aquele que, em suas
atividades, nunca se desvia da eqüidade, quer em relação a Deus,
quer em relação aos homens, realmente tomou o caminho da per
feição, e estejamos certos de que seu coração é íntegro nele. Então
notamos que um coração íntegro se desvia do mal, porquanto o
salmista diz: “Que o buscam de todo o coração. Também não pra
ticam iniqüidade.” Receamos que ninguém tenha como alegar ser
absolutamente destituído de pecado; todavia nutrimos confiança
de que existam muitos que podem alegar que intencional, voluntá
ria, consciente e continuamente fogem de fazer o que é perverso,
ímpio ou injusto. A graça conserva a vida íntegra, mesmo quando
o cristão se põe a deplorar as transgressões do coração. Conside
rados como seres humanos, julgados por seus semelhantes de acor
do com as normas que os homens impõem aos homens, o genuíno
povo de Deus não pratica iniqüidade: são honestos, íntegros e cas
tos e, no que tange à justiça e moralidade, são inculpáveis. Portan
to são bem-aventurados.
Andam em seus caminhos. Inclinam-se não só para os gran
des princípios da lei, mas também para os mínimos detalhes de
preceitos específicos. Uma vez que fogem de perpetrar qualquer
pecado de comissão, assim também esforçam-se por se ver livres
de todo pecado de omissão. Não lhes basta ser inculpáveis, tam-
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Salm o 11S
sorte que poderá levantar o rosto sem medo. Oh, santificação que
nos põe novamente no caminho de Deus! A qual nos dá a ousadia
de fitar a Deus e a seu povo, e nos faz dar adeus ao rubor e ao
espírito conturbado.
O Dr. Watts expressa a idéia em sua admirável estrofe, que nos
leva a cantar com ele:
Então meu coração se alegrará;
E meu rosto não mais mostrará rubor,
Quando obedecer teus estatutos
E honrar teu santo Nome.
fv. 7]
Render-te-ei graças com integridade de coração, quando tiver apren
dido teus retos juízos.
Render-te-ei graças. Da oração ao louvor nunca é uma jorna
da longa demais nem difícil. Esteja certo de que aquele que ora
por santidade um dia há de louvar agradecido pela felicidade. A
vergonha uma vez desvanecida, o silêncio é quebrado, e a pessoa
outrora muda passará a cantar: “Louvar-te-ei.” Ela não pode fa
zer outra coisa senão comprometer-se a louvar enquanto busca a
santificação. Isso revela que ela sabe muito bem em que cabeça
porá a coroa: “Louvar-T£-ei.” Poderia sentir-se uma pessoa lou
vável, mas prefere considerar a Deus como o único digno de seu
louvor. Pelo prisma da dor e da vergonha provenientes do pecado,
ela mede suas obrigações para com o Senhor, o qual lhe ensina a
arte de viver, levando-a primeiramente a escapar, purificando-se
de sua miséria.
Com integridade de coração. Seu coração será íntegro, se o
Senhor instruí-lo para em seguida poder louvar seu Mestre. Existe
algo chamado louvor falso e fingido, o qual o Senhor abomina;
porém não existe música comparável àquela que brota de uma alma
purificada e que permanece em sua integridade. E na escola em
que se ensina a integridade que se requer louvor sincero que brota
da retidão do coração. O coração íntegro certamente bendirá o
Senhor; pois a adoração agradecida é parte de sua integridade -
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' S a lm o 1Q
ninguém poderá ser justo enquanto não for impoluto para com
Deus; e isso envolve o dever de render-lhe louvores.
Quando tiver aprendido teus retos juízos. Precisamos apren
der a louvar; aprender que podemos louvar; e louvar quando tiver
mos aprendido. Quando estivermos abertos ao aprendizado, en
tão o Senhor poderá ensinar-nos, especialmente diante de um tema
como teus juízos, pois eles são um abismo profundo. Enquanto
passam diante de nossos olhos, e começamos a aprendê-los, pas
samos a louvar a Deus; pois o original não é: “Quando tivermos
aprendido”, e, sim: “durante minha aula”. Enquanto sou ainda
estudante, serei um corista: meu íntegro coração louvará tua reti
dão; minha mente purificada admirará teus juízos. A providência
divina é um livro cheio de instruções, e para aqueles cujo coração
é íntegro ele é um hinário, no qual entoam os cânticos de Jeová. A
Palavra de Deus é repassada de registros de suas justas providên
cias, e quando a lemos nos sentimos compelidos a irromper-nos
em expressões de santo deleite e de ardente louvor. Quando lemos
os juízos de Deus e participamos efusivamente deles, somos du
plamente movidos a cantar - cânticos sem qualquer formalidade,
sem hipocrisia, sem indiferença; pois o coração se revela íntegro
na apresentação de seu louvor.
[v. 8]
Guardarei teus estatutos. Não me desampares completamente.
Guardarei teus estatutos. Uma calma resolução. Quando lou
vamos calmamente, em sólida resolução, estará tudo bem com nossa
alma. O zelo que se esmera em cantar, porém não deixa nenhum
resíduo prático de um viver santo, é bem pouco digno: “Louvar-
te-ei” está em íntima parceria com “Guadarei”. Essa firme resolu
ção é de nenhuma forma jactanciosa, no dizer de Pedro: “Ainda
que eu morra contigo, contudo não te negarei”; porque vem se
guido de uma humilde oração por auxílio divino: “Oh, não me
desampares completamente!” Sentindo sua própria incapacidade,
ele treme de medo de ficar sozinho, e tal medo é agravado pelo
horror ante a possibilidade de cair em pecado. O ‘guardarei’ soa
justamente agora que o humilde clamor é ouvido juntamente com
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J ^ X P O S IC Ã O 1
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(vv. 9-16)
De que maneira poderá o jovem guardar puro seu caminho? Obser
vando-o segundo tua palavra. De todo o coração te busquei; não me
deixes fugir de teus mandamentos. Guardei no coração tuas palavras,
para não pecar contra ti. Bendito és tu, ó Senhor; ensina-me teus esta
tutos. Com meus lábios tenho narrado todos os juízos de tua boca.
Mais me regozijo com o caminho de teus testemunhos do que com
todas as riquezas. Meditarei em teus preceitos e a tuas veredas terei
respeito. Deleitar-me-ei em teus estatutos; e não me esquecerei de tua
palavra.
Estes versículos começam nos primórdios da vida. Embora es
critos por um ancião, foram escritos visando a todos os jovens.
Somente aquele que começa com Deus no verdor da juventude é
que será capaz de escrever assim com base na experiência e na
maturação da idade. Logo que Davi termina de introduzir seu tema
com uma oitava de versículos, ele passa a focalizar os jovens na
presente estrofe de oitava. Como teria ele ponderado sobre a ju
ventude piedosa! No hebraico, cada versículo, nesta seção, come
ça com B. Se pensamentos sobre o Bendito Caminho forma seu A,
então os pensamentos sobre a Bendita Juventude saturarão a pró
xima letra. Que glória estar primeiramente com Deus! Oferecer-
lhe o orvalho da aurora da existência é fazer da vida a suprema
felicidade.
[v. 9]
De que maneira poderá o jovem guardar puro seu caminho? Obser
vando-o segundo tua palavra.
De que maneira poderá o jovem guardar puro seu cami
nho? Como poderá ele tornar-se e manter-se santo na prática?
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S a lm o 1Q
bém comungar com sua pessoa. Essa é uma busca real, justa e
persistente, e pode muito bem ser continuada de todo o coração.
O modo mais seguro de purificar o caminho de nossa vida é bus
cando a Deus como tal e diligenciando-nos em permanecer em
comunhão com ele.
E agradável ver como o coração do escritor se volve distinta e
diretamente para Deus. Ele estivera considerando uma importan
te verdade no versículo anterior; aqui, porém, ele mais poderosa
mente sente a presença de seu Deus, e lhe fala e ora a ele como
alguém que se encontra bem perto. Um coração sincero não pode
viver por muito tempo sem comunhão com Deus.
Sua petição se fundamenta no propósito de sua vida; ele está
buscando o Senhor e roga a que o Senhor não permita que ele'
desista de sua busca. E através da obediência que vamos após Deus;
daí a oração: “Não me deixes fugir de teus mandamentos.” Pois se
desistirmos dos caminhos designados por Deus, certamente não
acharemos o Deus que os designou. Quanto mais a totalidade do
coração humano é posta na santidade, mais ele teme cair em peca
do. Ele não se sente suficientemente temeroso de cometer trans
gressão deliberadamente quando não passa de um viandante dis
plicente. Ele não pode tolerar um aspecto displicente nem um pen
samento disperso que vagueia para longe dos limites do preceito.
Devemos ser como os que sinceramente buscam a Deus, os quais
não têm tempo nem vontade de perambular, e juntamente com
nossa sinceridade devemos cultivar um zeloso temor para não va
guearmos longe da vereda da santidade.
Duas coisas podem ser bem parecidas e ao mesmo tempo total
mente distintas: os santos são ‘peregrinos" - “Sou peregrino na ter
ra” (v. 19) -, mas não são andarilhos; estão de passagem pelo país
dos inimigos, mas sua rota segue em frente; estão buscando seu
Senhor enquanto atravessam essa terra estrangeira. Seu caminho
não é visto pelos homens; porém ainda não perderam sua rota.
O homem de Deus se exercita, mas não confia em si mesmo;
seu coração está em seu caminhar com Deus; mas ele sabe que
mesmo toda sua força não basta para mantê-lo no rumo certo, a
menos que seu Rei seja seu guardador; e Aquele que fez os man
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5 a lm o 11?
[v. 12]
Bendito és tu, ó Senhor; ensina-me teus estatutos.
Bendito és tu, ó Senhor. Estas palavras de adoração são oriun
das de intensa admiração pelo caráter divino, o qual o escritor
humildemente almeja imitar. Ele bendiz a Deus por tudo o que lhe
revelara e operara nele; ele o louvo com a calidez de reverente
amor e com a profundidade de santa admiração. Estas são tam
bém palavras de percepção que emanam da consciência da pro
funda e infinita felicidade de Jeová em seu interior. O Senhor é e
deve ser bendito, pois ele é a perfeição da santidade; e essa prova
velmente seja a razão por que isso é usado como uma súplica neste
lugar. E como se Davi dissesse: Vejo que de conformidade contigo
meu caminho para a felicidade foi encontrado, pois tu és supre
mamente bendito; e se em minha estatura assimilei tua própria
santidade, também serei participante de tua bem-aventurança.
Mal chegou a palavra em seu coração quando um ardente de
sejo veio à tona para assimilá-la e guardá-la. Quando o alimento é
deglutido, 0 próximo passo é digeri-lo; e quando a palavra é rece
bida no âmago da alma, a primeira oração é: Senhor, ensina-me
seu significado. “Ensina-me teus estatutos.”; pois somente assim
posso aprender o caminho da bem-aventurança. Tu és tão bem-
aventurado, que estou certo de que te deleitarás em abençoar ou
tros; e imploro-te que me dês esta dádiva a fim de que eu seja
instruído em teus mandamentos. As pessoas felizes geralmente
sentem o maior prazer em fazer outros felizes; e com toda certeza
o Deus feliz se disporá em comunicar santidade que é a fonte da
felicidade. A fé inspirou esta oração e a alicerçou, não em algo
visto no homem orando, mas exclusivamente na perfeição do Deus
a quem se faz a súplica. Senhor, tu és bendito, por isso abençoa-
me com tua doutrina.
Precisamos ser discípulos ou aprendizes - ensina-me. Que
honra ter Deus pessoalmente como professor! Quão ousado é Davi
em suplicar ao Deus bendito que o ensine! Todavia foi o Senhor
mesmo quem pôs tal desejo em seu coração quando a sacra pala
vra foi depositada ali, e portanto podemos estar certos de que ele
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f^xposiçÃo 2
não se mostrou exageradamente ousado em expressá-la. Quem
não se dispõe a entrar na escola de tal Professor com o fim de
aprender dele a arte do santo viver? A este Instrutor devemos sub
meter-nos, caso queiramos guardar de maneira prática os estatu
tos da retidão. O Rei que ordenou os estatutos sabe perfeitamente
seu significado, e visto serem eles o produto de sua própria natu
reza, ele pode inspirar-nos melhor com o espírito dos mesmos. A
petição se impõe a todos quantos desejam purificar seu caminho,
visto ser ela muito prática e solícita por instrução, não com base
na erudição secreta, mas com base na lei na forma de estatuto. Se
porventura conhecemos os estatutos do Senhor, então possuímos
uma educação que é muitíssimo essencial.
Que cada um de nós saiba dizer: Ensina-me teus estatutos. Eis
aqui uma doce oração para ser feita a cada dia. Ela está a um
passo do versículo 10: “Não me deixes fugir”, como este está a um
passo do versículo 8: “Não me desampares jamais.” Sua resposta
se acha nos versículos 98-100: “Teus mandamentos me fazem mais
sábio que meus inimigos; porque, aqueles, eu os tenho sempre
comigo. Compreendo mais que todos meus mestres, porque me
dito em teus testemunhos. Sou mais prudente que os idosos, por
que guardo teus preceitos.” Não, porém, até que fosse repetido
ainda pela terceira vez no “Ensina-me” dos versículos 33 e 66,
para o quê solicitei a atenção de meus leitores. Mesmo depois des
ta terceira súplica, a oração ocorre novamente em diversas pala
vras nos versículos 124 e 139, e o mesmo anseio se aproxima do
final do Salmo, no versículo 171: “Profiram louvor meus lábios,
pois me ensinas teus decretos.”
[v. 13]
Com os lábios tenho narrado todos os juízos de tua boca.
O aluno do versículo 12 é aqui o próprio professor. O que
aprendemos em secreto devemos proclamar dos telhados. O sal
mista havia feito isso. A medida que conhecia, ele falava. Deus
revelara com sua própria boca, por assim dizer, muitos de seus
juízos através de revelação clara e pública; esses juízos é nosso
dever repetir, transformando, por assim dizer, em ecos infinitos e
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S a lm o ))p
meditação devota; por que, pois, muitos de nós somos tão excessi
vamente relapsos quanto a ela? E digno de observação que a parté
preceptiva da Palavra de Deus era um especial tema de meditação
para Davi; e isso é muito natural, porquanto estava ainda em sua
mente a pergunta concernente ao jovem que purifica seu caminho.
Piedade prática é piedade vital.
E a tuas veredas terei respeito. Ou seja, pensarei muito sobre
elas à medida que sei o que teus caminhos significam; e ainda:
Pensarei muito nelas à medida que vai crescendo a reverência que
nutro por teus caminhos. Avaliarei o que teus caminhos significam
para mim, para que me encha de reverência, de gratidão e de amor;
e então observarei quais são os caminhos nos quais queres que te
siga; desses terei cuidadosa vigilância, para que eu me torne obe
diente e prove ser um genuíno servo de um Senhor tão amável.
Note como os versículos se tornam mais íntimos à medida que
avançam: do resultado do versículo 13 avançamos para a alegria
do versículo 14; e então chegamos à secreta meditação do espírito
feliz. As graças mais ricas são aquelas que habitam no recôndito
mais profundo da alma.
fv. 16]
Terei prazer em teus decretos; não me esquecerei de tua palavra.
Terei prazer em teus decretos. Neste versículo, o deleite segue
a meditação, da qual advém o florir e o amadurecer. Quando não
contamos com nenhum outro lenitivo, mas nos achamos totalmente
sozinhos, é uma profunda alegria para o coração meditar consigo
mesmo e suavemente sussurrar: “Deleitar-me-ei em mim mesmo.
Mesmo que o tempo do gorjeio dos pássaros ainda não tenha che
gado, e a voz da rola não se ouviu em nossa terra, todavia me
deleitarei em mim mesmo.” Essa é a melhor e a mais nobre de
todas as alegrias; de fato, é a boa parte que jamais nos será tirada;
mas nenhum deleite nosso em algo que esteja abaixo de Deus se
destina a ser a satisfação eterna da alma. O livro de estatutos se
destina a ser a alegria de toda pessoa leal. Quando o cristão se
delonga sobre as sacras páginas, sua alma arde em seu íntimo quan
do ele se volta para uma e então para outra das grandes e régias
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E x p o s ,ç ã o 2
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(w. 17-24)
Sê generoso para com teu servo, para que eu viva e observe tua pala
vra. Desvenda meus olhos, para que eu contemple as maravilhas de
tua lei. Sou peregrino na terra; não escondas de mim teus mandamen
tos. Consumida está minha alma por desejar, incessantemente, teus
juízos. Repreendeste os soberbos, os malditos, que se desviam de teus
mandamentos. Remove de mim o opróbrio e o desprezo, pois tenho
guardado teus testemunhos. Assentaram-se príncipes e falaram contra
mim, mas teu servo ponderou em teus decretos. Com efeito, teus teste
munhos são meu deleite e meus conselheiros.
Nesta seção, as provações do caminho parecem ter-se mani
festado à mente do salmista, e ele ora, portanto, pelo socorro que
atenda sua causa. Como nos últimos versículos ele orou como jo
vem recentemente ingressado no mundo, assim aqui ele suplica
como servo e peregrino que paulatinamente vai descobrindo ser
um estranho num país inimigo. Seu apelo é dirigido a Deus so
mente, e sua oração é especialmente direta e pessoal. Ele fala com
o Senhor como uma pessoa fala com seu amigo.
[v. 17]
Sê generoso para com teu servo, para que eu viva e observe tua palavra.
Sê generoso para com teu servo. Ele tem prazer em reconhe
cer seu dever para com Deus, e é cônscio de que a alegria de seu
coração se deve ao fato de estar ele a serviço de seu Deus. Nessa
condição ele faz uma súplica, pois um servo desfruta de alguma
influência da parte de seu senhor; mas, neste caso, o vocabulário
da súplica desfaz a idéia de reivindicação legal, visto que ele busca
compreensão, e não galardão. Seja minha recompensa segundo
tua benevolência, e não segundo meu mérito. Retribui-me segun
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P X P Q 5 IÇ A Q 5
vra que ele possuía, os quais não eram plenamente vistos; de ma
ravilhas que não havia ainda contemplado, de mistérios nos quais
escassamente cria. As Escrituras são ricas em maravilhas; a Bíblia
é um país encantado; ela não só relata milagres, mas ela mesma é
um universo de prodígios. Não obstante, o que vale tudo isso se
nossos olhos estão fechados? Deus mesmo deve trazer iluminação
a cada coração. As Escrituras precisam ser abertas, mas não meia
abertura como agora ocorre com nossos olhos. O véu não está no
livro, mas em nosso coração. Que perfeitos preceitos, que precio
sas promessas, que inestimáveis privilégios são negligenciados por
nós, só porque perambulamos como por entre cegos que, por sua
vez, perambulam por entre as belezas da natureza, as quais são
para nós uma bela paisagem oculta na escuridão!
A oração de Davi, neste versículo, é uma boa scqücncia ao
versículo 10, que lhe corresponde na posição em sua oitava. Ali ele
disse: “Oh, não me deixes vaguear [fugir]”; e quem é mais apto a
vaguear que um cego? E ali também ele declarou: “De todo meu
coração tenho te buscado”; daí o desejo de ver o objeto de sua
busca. Singulares são os entrelaçamentos dos galhos da vetusta
árvore deste Salmo, os quais revelam entre si infindas maravilhas,
se porventura tivermos os olhos abertos para divisá-las.
[v. 191
Sou peregrino na terra; não escondas de mim teus mandamentos.
Sou peregrino na terra. Isso traz implícito um pleito judicial.
Por ordem divina, os homens se vêem obrigados a viver como es
trangeiros ou peregrinos; e o que Deus ordena em outros, ele exem
plificará nele próprio. O salmista era um estrangeiro por amor a
Deus. Ele não era estrangeiro em relação a Deus, mas estrangeiro
em relação ao mundo, um homem banido enquanto estivesse fora
do céu. Portanto suplica: não escondas de mim teus mandamen
tos. Se estes [mandamentos] me forem suprimidos, o que será de
mim? ]a que nada do que me cerca é meu, o que será de mim se
perder tua Palavra? Já que dos que me cercam ninguém sabe nem
procura saber o caminho que leva a ti, o que será de mim se não
puder ver teus mandamentos, somente por meio dos quais posso
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S alm o 11,9
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Y X PQ 5 IÇ Â Q 4
(w. 25-32)
Minha alma está apegada ao pó; vivifica-me segundo tua palavra. Eu
te expus meus caminhos, e tu me valeste; ensina-me teus estatutos.
Faz-me compreender o caminho de teus preceitos, e falarei de tuas
maravilhas. Minha alma, de tristeza, verte lágrimas; fortalece-me se
gundo tua palavra. Afasta de mim o caminho da mentira e concede-
me graciosamente tua lei. Escolhi o caminho da verdade e teus juízos
os tenho diante dos olhos. A teus testemunhos me apego; não permitas,
ó Senhor, seja eu envergonhado. Percorrerei o caminho de teus imui-
damentos, quando me alegrares o coração.
Aqui, a meu ver, temos o salmista a deplorar aílitivamente a
servidão às coisas terrenas às quais ele descobrira estar sua mente
cativa. Sua alma se apega ao pó, se desintegra pelo peso e grita
pela dilatação de sua prisão espiritual. Nestes versículos veremos
a influência da palavra divina num coração que lamenta suas de
cadentes tendências e se vê saturado de pranto em decorrência de
suas trevosas circunstâncias. A Palavra do Senhor evidentemente
desperta a oração (vv. 25-29), confirma a opção (v. 30) e inspira
a resolução renovada (v. 32); ela é em toda tribulação, quer do
corpo quer da mente, a mais infalível fonte de socorro.
Esta porção tem D por sua letra alfabética; ela celebra a De
pressão, no espírito de Devoção, Determinação e Dependência.
[v. 25]
Minha alma está apegada ao pó; vivifica-me segundo tua palavra.
Minha alma está apegada ao pó. Ele, em parte, tenciona di
zer que estava dominado pela tristeza; pois os pranteadores no
oriente lançavam pó sobre suas cabeças e sentavam-se sobre cin
zas, e o salmista sentia como se essas insígnias de dor lhe estives
• 49 •
Saim o U$>
que eu tenha uma idéia clara do caráter e teor de tua lei. A obedi
ência cega tem uma beleza muito pequena; Deus quer que o siga
mos com nossos olhos abertos. Obedecer à letra da palavra é tudo
quanto se pode esperar do ignorante; se desejamos guardar os
preceitos em seu espírito, devemos chegar-nos para compreendê-
los, e isso não se recebe em parte alguma senão das mãos do Se
nhor. Nosso entendimento precisa de iluminação e diretriz; aquele
que fez nosso entendimento também tem de fazer-nos entender. A
última frase foi: “ensina-me teus estatutos”; e as palavras: “faze-
me compreender” são uma ampliação e exposição instrutivas des
ta frase: precisamos ser tão instruídos, que cheguemos a entender
o que aprendemos. E preciso notar que o salmista não está ansio
so para entender as profecias, e, sim, os preceitos, e não está preo
cupado com as sutilezas da lei, mas com as normas comuns e diá
rias dela, as quais são descritas como “o caminho de teus preceitos”.
E falarei de tuas maravilhas. [Ou: E assim falarei de tuas
maravilhosas obras.] Continua falando do que não entendemos.
Temos de ser instruídos por Deus até que entendamos, e então
podemos esperar comunicar nosso conhecimento a outros com a
esperança de favorecê-los. Falar sem inteligência é mero e fútil
tagarelar; as palavras dos instruídos, porém, são como pérolas que
adornam os ouvidos daqueles que ouvem. Quando nosso coração
é aberto ao entendimento, nossos lábios devem abrir-se para com
partir conhecimento; e nós mesmos podemos esperar ser instruí
dos quando sentirmos em nosso coração a disposição para ensi
nar o caminho do Senhor àqueles entre os quais moramos.
Tuas maravilhas. [Ou: luas obras maravilhosas.] Observe que
o entendimento mais claro não nos faz cessar de maravilhar-nos
ante os caminhos e obras de Deus. O fato é que, quanto mais
conhecemos os feitos de Deus, mais os admiramos e mais prontos
estamos a falar deles. Metade da admiração do mundo nasce da
ignorância; mas a santa admiração é filha do entendimento. Quando
uma pessoa entende o caminho dos preceitos divinos, jamais fala
de suas próprias obras; e quando a língua tem algum assunto so
bre o qual falar, tal pessoa começa exaltando as obras do Senhor
absolutamente perfeito.
• 53 •
S aim o \ \ f
mas temia que uma medida de falsidade lhe aderisse, a menos que
o Senhor a afastasse, e por isso clamava ansiosamente por sua
remoção. Os falsos motivos podem às vezes apossar-se de nós, e é
possível que venhamos a cair em noções equivocadas de nossa
própria condição espiritual diante de Deus, que conceitos errône
os sejam nutridos por um natural preconceito de nossa parte, e
assim sejamos confirmados no embuste e permaneçamos em erro,
a menos que a graça venha resgatar-nos. Nenhum coração veraz
pode descansar num falso conceito de si mesmo; ele não encontra
nenhum ancoradouro, mas é arremessado de um lado para outro
até que tenha acesso à verdade, e a verdade, acesso a ele. O filho
legítimo do céu contempla e clama contra uma impostura, dese
jando tê-la longe como alguém que deseja ver-se distante de uma
serpente venenosa ou de um leão que ruge.
E concede-me graciosamente tua lei. Encontra-se num esta
do de graça aquele que mira a própria lei como um dom da graça.
Davi deseja ter a lei acessível a seu entendimento, esculpida em
seu coração e concretizada em sua vida; pois ele busca o Senhor e
luta por ela como uma graciosa concessão. Não há dúvida de que
ele via isso como o único modo de livrar-se do poder da falsidade;
se a lei não estiver em nossos corações, a mentira tomará posse
deles. Davi parecia haver se lembrado dos tempos em que, segun
do o costume oriental, ele praticava a fraude para sua própria pre
servação e descobriu que fora fraco e errara nesse ponto; portan
to, ele sentiu seu espírito encurvado e suplicou para ser vivificado
e impedido de transgredir novamente. Os homens santos não po
dem rever seus pecados sem lágrimas, nem pranteá-los sem im
plorar que sejam salvos de futuras ofensas.
Há uma evidente oposição entre a falsidade e o gracioso poder
da lei de Deus. A única maneira de expulsar a mentira é aceitando
a verdade. A graça também tem uma nítida afinidade com a verda
de; no mesmo instante em que ouvimos o som da palavra ‘gracio
samente’, também ouvimos os passos da verdade: “Eu tenho pre
ferido o caminho da verdade.” A graça e a verdade estão sempre
juntas; e a convicção quanto às doutrinas da graça é imenso pre
servativo contra o erro fatal.
• 56 •
[ Ã ç p o s iç ã o 4-
(v. 22) e “e teus juízos tenho posto diante de mim.” Aqui temos
uma feliz confissão, e não surpreende que a mesma seja reiterada.
[v. 31]
A teus testemunhos me apego; não permitas, ó Senhor, seja eu enver
gonhado.
A teus testemunhos me apego - ou: Tenho aderido; pois a
palavra é a mesma do versículo 25. Ainda que aderisse ao pó da
tristeza e da morte, contudo guardava firmemente a palavra divi
na. Esse era seu conforto, e sua fé se lhe apegava, seu amor e
obediência se lhe agarravam, seu coração e sua mente nele persis
tiam em meditação. Sua escolha fora tão sincera e deliberadamen-
te consistente, que se lhe apegara para a vida, e não tinha como ser
removido dela ante o opróbrio daqueles que desprezavam o cami
nho do Senhor. O que poderia haver ganho renunciando o sacro
testemunho? Ou, melhor, o que teria perdido se desistisse da ade
são à palavra divina? E prazeroso retroceder à perseverança pre-
gressa e esperar que a graça continue igualmente inabalável no
futuro. Aquele que nos capacitou a buscar seu amparo, segura
mente nos amparará.
Em nossos dias, quando tantos fazem alarde de seus “pensa
mentos avançados”, pode soar estranho falar de aderir aos testemu
nhos de Deus; mas, seja ou não estranho, imitemos o homem de
Deus. Perseverar na verdade quando ela se acha deformada é um
bom teste para o crente. A fé dos eleitos de Deus usa a constância
como sua coroa. Outros podem vaguear ao léu em busca das novi
dades da opinião humana; mas o filho legítimo de Deus se gloria em
confessar a seu Pai celestial: “Tenho aderido a teus testemunhos.”
Não permitas, ó Senhor, seja eu envergonhado, isso ocorre
ria, se as promessas de Deus não se cumprissem, e se o coração do
servo de Deus desfalecesse. Tal coisa não precisamos temer, já
que o Senhor é fiel a sua Palavra. Mas é possível também que ocorra
através da ação do cristão de uma maneira inconsistente, como
Davi mesmo certa vez procedera, quando tomou a via da mentira
e insinuou ser louco. Se não formos verdadeiros em nossa vida
cristã, corremos o risco de ser desamparados para amontoarmos
• 58 •
H XPQ 5 IÇ Ã O T
• 60 •
(vv. 33-40)
Ensina-me, ó Senhor, o caminho de teus estatutos, e o seguirei até o
fim. Dá-me entendimento, e guardarei tua lei; de todo meu coração a
observarei. Faz-me caminhar pela vereda de teus mandamentos, pois
nela me deleito. Inclina-me o coração a teus testemunhos e não à
cobiça. Desvia meus olhos de contemplar a vaidade, e vivifica-me em
teu caminho. Confirma tua palavra para teu servo que se devota a teu
temor. Afasta de mim o opróbrio, que temo, porque teus juízos são
bons. Eis que tenho suspirado por teus preceitos; vivifica-me cm tua
justiça.
Um senso de dependência e uma consciência dc extrema ne
cessidade permeiam toda esta seção, sendo a mesma toda elabora
da de oração e apelo. Nos oito versículos anteriores, o salmista
tremeu ante o senso do pecado, palpitando com um senso infantil
de debilidade e leviandade, o que leva o homem de Deus a clamar
por socorro, somente pelo qual sua alma poderia ser preservada
de recair em pecado. Esse clamor por socorro é aqui expresso em
termos de súplica por doutrinação, edificação, inclinação, estabi
lização e vivificação. A seção é um favo de orações. Pronunciemos
petições semelhantes enquanto lemos, assegurando-nos de que as
orações assim ministradas a nós pelo Senhor serão iguaimente
respondidas por ele.
[v. 33]
Ensina-me, ó Senhor, o caminho de teus estatutos, e o guardarei até o
fim.
Ensina-me, ó Senhor, o caminho de teus estatutos. Palavras
singelas, confiantes, benditas, pronunciadas pelos lábios de um
ancião, crente experiente, sendo ele um rei e um inspirado homem
• 61 •
S alm o 115?
ele fizesse. O que seriam seus avanços se seu coração não avan
çasse também? E possível que Davi sentisse um desejo flutuante,
uma propensão desordenada de sua alma por lucros materiais;
possivelmente, mesmo instruído em suas mais devotas meditações,
de repente clamasse por mais graça. A única forma de curar uma
inclinação errônea é manter a alma voltada para a direção oposta.
A santidade do coração é a cura para a cobiça. Que bênção poder
mos pedir ao Senhor até mesmo uma inclinação! Nosso querer é
livre; todavia, mesmo sem violar sua liberdade, a graça pode incli
nar-nos na direção certa. Isso pode ser feito através da iluminação
do entendimento quanto à excelência da obediência, através do
fortalecimento dos hábitos de nossa virtude, pela experiência da
doçura da piedade e por muitos outros meios. Se algum dever se
nos torna maçante, cabe-nos oferecer-lhe esta oração com especi
al referência; é preciso que amemos todos os testemunhos do Se
nhor; e se falharmos em algum deles, então que prestemo-lhe du
plicada atenção. A tendência do coração é o caminho para o qual a
vida se inclina; daí a força da petição: “Inclina meu coração.” Fe
lizes seremos quando nos sentirmos habitualmente inclinados a
tudo quanto é bom! Esse não é o modo como um coração carnal
sempre se inclina; todas as suas inclinações estão em franca opo
sição aos testemunhos divinos.
E não à cobiça. Esta é a inclinação da natureza, e a graça tem
de pôr um basta nela. Este vício é tão injurioso quanto comum; é
tão banal quanto miserável. E idolatria, e portanto destrona a Deus;
é egoísmo, e portanto é cruel a todos em seu poder; é sórdida
ambição, e portanto venderia o próprio Senhor por dinheiro. E
um pecado degradante, aviltante, obstinado, mortal, que destrói
tudo o que o rodeia, tudo o que é amável e cristão. O cobiçoso
pertence à confraria de Judas, que com toda probabilidade se tor
nará pessoalmente o filho da perdição. O crime da cobiça é co
mum, porém bem poucos se dispõem a confessá-lo; pois quando
uma pessoa cumula ouro em seu coração, o pó dele embaça seus
olhos, de modo que não consegue divisar seu próprio erro. Nosso
coração provavelmente tenha algum objeto de desejo, e a única
maneira de isentá-lo do lucro profano é pondo em seu lugar os
• 67 •
Saimo WJ
testemunhos do Senhor. Se nos sentirmos inclinados a tomar uma
vereda, seremos atraídos para outra; a virtude negativa com certe
za é mais facilmente dominada quando a graça positiva predomina.
[v. 37]
Desvia meus olhos de contemplar a vaidade, e vivifica-me em teu ca
minho.
Desvia meus olhos de contemplar a vaidade. Ele havia orado
por seu coração, e alguém poderia pensar que os olhos pudessem
ser influenciados pelo coração, de modo que não houvesse neces
sidade de fazê-los objetos de petição especial; nosso autor, porém,
está resolvido a fazer a certeza duplamente infalível. Se os olhos
não vêem, talvez o coração não deseje. De qualquer forma, fecha-
se uma porta para a tentação quando deixamos de olhar para al
guma quinquilharia bem adornada. O pecado inicialmente pene
trou a mente humana através dos olhos, e estes continuam ainda
sendo a porta favorita para as inconvenientes seduções de Sata
nás; daí a necessidade de uma dupla vigilância sobre esse portal. A
oração não visa tanto a que os olhos sejam fechados, mas que
sejam ‘desviados’; pois nos é indispensável que eles estejam aber
tos, porém direcionados para os objetos certos. E possível que você
esteja neste exato momento fitando alguma tolice; se esse é o caso,
você preciso desviar os olhos; e se estiver contemplando as coisas
celestiais, será sábio rogar que seus olhos sejam guardados da vai
dade. Por que olhamos para a vaidade? —elas se desvanecem como
o vapor. Por que não contemplamos as coisas eternas? O pecado é
vaidade; o lucro injusto é vaidade; a auto-apreciação exagerada é
vaidade; aliás, tudo o que não procede de Deus pertence ao mes
mo catálogo. De tudo isso temos que nos desviar. E uma prova do
senso de fraqueza sentido pelo salmista, bem como de sua inteira
dependência de Deus, por isso ele mesmo pede que seus olhos
fossem voltados para Deus; sua intenção não é ser passivo, mas
revelar seu total desamparo quando longe da graça de Deus. Te
mendo que esquecesse de si próprio e viesse a fitar demoradamen
te algo que fosse proibido, ele implora que o Senhor imediatamen
te fizesse seus olhos retrocederem, livrando-o de tão perigosa parla-
• 68 •
P X P 0 5 IÇ Ã 0 5
fv. 39]
Afasta de mim o opróbrio, que temo, porque teus juízos são bons.
Afasta de mim o opróbrio, que temo. Ele temia justamente o
opróbrio, temendo que fosse a causa de o inimigo blasfemar por
alguma inconsistência solerte de sua parte. Devemos temer isso, e
vigiar para que o evitemos. A perseguição na forma de calúnia
pode também ser motivo de oração, pois que isso constitui dolo
rosa provação, talvez a mais dolorosa das provações para as pes
soas de mentes sensíveis. Muitos prefeririam queimar-se numa
estaca de martírio do que enfrentar a provação proveniente de cruéis
zombarias. Davi era um homem que se acalmava facilmente, e pro
vavelmente tivesse muito medo da calúnia, visto despertar ela sua
ira, e não soubesse dizer o que aconteceria se fosse provocado. Se
Deus desvia nossos olhos da falsidade, podemos também esperar
que ele desvie a falsidade para que a mesma não prejudique nosso
bom nome. Seremos protegidos da mentira, sc também nos guar
darmos dela.
Os juízos dos ímpios são perversos, e por isso podemos apelar
deles para o tribunal de Deus. Não obstante, se agirmos assim
quando estivermos expostos às censuras dos homens, que motivo
temos nós de temer os mais justos juízos do Senhor?
Porque teus juízos são bons. Por isso ele se sente solícito de
alguém vir falar mal dos caminhos de Deus, ao ouvir as más notí
cias acerca dele. Lastimamos quando somos caluniados; visto que
o vexame é lançado mais sobre nossa religião do que sobre nós
mesmos. Se os homens se sentem felizes por atribuir-nos mal, e
não passa disso, podemos suportá-lo, porquanto somos maus; mas
nossa angústia consiste em que eles lançam estigma sobre a pala
vra e caráter de Deus, cuja benevolência é impossível de qualquer
comparação. Quando os homens se irritam com o governo que
Deus exerce no mundo, é nosso dever e privilégio defendê-lo e
publicamente declarar diante dele: “Teus juízos são bons.” E deve
mos fazer o mesmo quando assaltam a Bíblia, o evangelho, a lei,
ou o nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas devemos atentar
bem que não podem fazer qualquer acusação fidedigna contra nós,
do contrário nosso testemunho seria pura perda de tempo.
• 71 •
S alm o 119
de ser despojado de seu ministério; ele implorará que lhe seja per
mitido partilhar um pouco seu santo testemunho e considerará
seus domingos silenciosos como dias de banimento e punição.
Pois tenho esperado em teus juízos. Ele esperava que Deus
surgisse e defendesse sua causa, para que pudesse falar com con
fiança acerca de sua fidelidade. Deus é o Autor de nossas esperan
ças, e podemos mais oportunamente rogar-lhe que as concretize.
Os juízos de sua providência são o resultado de sua Palavra; o que
ele diz nas Escrituras realmente põe em obra em seu governo provi-
dente; podemos, pois, rogar-lhe que se mostre forte no meio de
suas próprias ameaças e promessas, e que não esperaremos em vão.
Os ministros de Deus são às vezes silenciados diante dos peca
dos de seu povo, e isso os leva a rogar contra tal juízo; seria mui
tíssimo preferível que sofressem enfermidade ou pobreza do que
ser apagada a chama do evangelho entre eles, e que, portanto,
fossem deixados a perecer sem remédio. Livre-nos o Senhor de
que seus ministros se transformem em instrumentos na aplicação
de tal penalidade. Demonstremos uma esperançosa alegria em
Deus, para que possamos suplicar em oração diante dele quando
ameaçar fechar nossos lábios.
No final deste versículo há uma declaração do que o salmista
tinha feito em referência à Palavra do Senhor, e nisto três das oita
vas se assemelham com freqüência. Veja o versículo 35: “Pois nela
me deleito”; versículo 43: “Tenho esperado em teus juízos”; versí
culo 51: “Não me afasto de tua lei”; versículo 59: “E volto meus
passos para teus testemunhos”; e os versículos 67, 83, 99 etc. Es
tes versículos fornecem uma admirável série de meditações.
[v. 44]
Assim, observarei de contínuo tua lei, para todo o sempre.
Nada mais eficazmente retém uma pessoa no caminho do Se
nhor do que a experiência da veracidade de sua Palavra, incorpo
rada na forma de misericórdias e livramentos. A fidelidade do Se
nhor não só abre nossas bocas contra seus adversários, mas tam
bém une nossos corações a seu temor, e faz nossa união com ele
mais e mais sólida. As grandes misericórdias nos levam a sentir
• 78 •
fÕ ç P O S IÇ A O 6
uma inexprimível gratidão, a qual, deixando no tempo de expri
mir-se, promete encher a eternidade com louvores. Para um cora
ção inflamado com gratidão, os “para sempre, de eternidade a eter
nidade”, do texto, não parecerão ser redundância. A hipérbole de
Addison, em seu famoso verso, é apenas um vislumbre de seu só
lido sentido:
“ Por toda a eternidade a ti
Um jubiloso cântico entoarei;
Mas, oh! a eternidade é breve demais
Para entoar todo teu louvor.”
• 84 •
(w. 49-56)
Lembra-te da palavra proferida a teu servo, na qual me tens feito es
perar. O que me consola em minha aflição é isto: que tua palavra me
tem vivificado. Os soberbos zombam intensamente de mim; todavia
não me afastei de tua lei. Lembrei-me de teus juízos de outrora e me
sinto consolado, ó Senhor. De mim se apoderou a indignação, por
causa dos perversos que abandonaram tua lei. Teus estatutos têm sido
meus cânticos na casa de minha peregrinação, lenho recordado de
teu nome, ó Senhor, durante a noite, e tenho guardado tua lei. lêm-se
dado assim comigo, porque guardo teus preceitos.
Esta oitava trata do conforto oriundo da Palavra. Começa bus
cando a principal consolação, ou, seja, o cumprimento da pro
messa do Senhor, e então mostra como a Palavra nos sustenta na
aflição e nos faz tão inacessíveis ao ridículo, movidos pela ríspida
conduta dos ímpios, mais pelo horror de seu pecado do que por
alguma submissão a suas provocações. Somos, pois, informados
como a Escritura apresenta cânticos para os peregrinos e memóri
as para os vigias noturnos; e a porção termina com a afirmação
geral de que toda sua felicidade e conforto são oriundos de guar
darem eles os estatutos do Senhor.
[v. 49]
Lembra-te da palavra que proferiste a teu servo, na qual me tens feito
esperar.
Lembra-te da palavra que proferiste a teu servo. Ele indaga
não de uma nova promessa, mas da antiga palavra cumprida. Ele
está agradecido por haver recebido tão boa palavra, a qual abraça
com todas as veras do coração, e agora suplica ao Senhor que o
trate de acordo com ela. Ele não diz: “Lembra-te de meu serviço a
• 85 •
S alm o Up
fica: “Eis meu conforto.” Paulo diz: “Eu sei em quem tenho crido.”
O conforto é desejável em todo tempo; mas o conforto na afli
ção é como uma lâmpada num lugar escuro. Muitos são incapazes
de achar conforto na tribulação; mas esse não é o caso com os
cristãos, pois seu Salvador lhes disse: “Não vos deixarei órfãos.”
Alguns têm conforto, porém não aflição; outros têm aflição, po
rém não conforto; mas os santos têm conforto em sua aflição.
O termo freqüentemente nos conforta, aumentando a força de
nossa vida interior: “Este é meu conforto; tua palavra me tem vivi
ficado.” Vivificar o coração é imprimir espírito jovem à pessoa
toda. As vezes o modo mais prático para consolação é através da
santificação e revigoramento. Se não podemos afastar 0 nevoeiro,
podemos subir a um ponto mais alto e ficar acima dele. As prova
ções que nos fazem vergar enquanto nos sentimos meio mortos se
tornam mera irrisão quando nos achamos no vigor da vida. E as
sim às vezes nosso espírito é soerguido pela graça que vivifica; e o
mesmo às vezes se repete, pois o Consolador está ainda conosco,
a Consolação de Israel sempre vive e o próprio Deus de Paz é
perenemente nosso Pai. Ao volvermos nossos olhos para nossa vida
pregressa, nos deparamos com motivos de conforto no que tange
a nosso estado - a Palavra de Deus nos vivificou e nos conservou
assim. Estávamos mortos, mas não continuamos mortos. Desse
fato alegremente inferimos que, se o Senhor pretendesse destruir-
nos, ele não nos teria vivificado. Se fôssemos apenas hipócritas
dignos de irrisão, como os soberbos costumam dizer, ele não nos
teria renovado por sua graça. Uma experiência de vivificação pela
Palavra de Deus é uma fonte de efusivo bem.
Veja como a experiência deste versículo se transforma em ora
ção no versículo 107: “Estou mui aflito; vívifica-me, ó Senhor,
segundo tua palavra.” A experiência nos ensina como orar e for
nece os argumentos para a oração.
[v. 51]
Os soberbos zombam intensamente de mim; todavia, não me afastei
de tua lei.
Os soberbos zombam intensamente de mim. Os soberbos
• 88 •
f^XPOSIÇÂO 7
[v. 52]
Lembrei-me de teus juízos de outrora e me sinto consolado, ó Senhor.
Ele havia pedido ao Senhor que se lembrasse; aqui ele se lem
bra de Deus e de seus juízos. Quando não divisarmos nenhuma
manifestação atual do poder divino, é sábio voltarmos aos regis
tros de épocas anteriores, visto que são tão valiosos como se as
transações fossem de ontem, já que o Senhor é sempre o mesmo.
Nosso verdadeiro conforto deve ser encontrado no que nosso Deus
opera no interesse da verdade e do direito, e como as histórias dos
tempos de outrora estão saturadas das intervenções divinas, é bom
nos familiarizarmos totalmente com elas. Além do mais, se somos
de idade avançada, temos diante de nós as providências de nossos
primeiros anos, e elas não devem de forma alguma ser esquecidas
nem deixadas fora de nossos pensamentos. O argumento é bom e
sólido: aquele que se tem demonstrado forte em favor de seu povo
crente é o Deus imutável, e portanto podemos esperar o livramen
to que vem de suas mãos. O sarcasmo dos soberbos não nos afligi
rá quando guardamos na memória como o Senhor tratou seus
predecessores nos períodos primevos: os destruiu no dilúvio; os
confundiu em Babel; os afogou no Mar Vermelho; os expulsou de
Canaã - em todas as épocas ele desnudou seu braço contra os
arrogantes, e os esmiuçou como se fossem vasos nas mãos do oleiro.
Enquanto em nosso próprio coração humildemente bebermos da
misericórdia divina em quietude, não ficaremos sem conforto em
tempos de tumulto e escárnio; pois em tais momentos recorrere
mos à justiça divina e nos lembraremos como Deus escarnece dos
escarnecedores: “Ri-se aquele que habita nos céus, o Senhor zomba
deles.”
Ao ver-se profundamente escarnecido, o salmista não sentou-
se em desespero, mas recobrou seu ânimo. Ele sabia que o confor
to é indispensável ao vigor no serviço e à paciência na persegui
ção, portanto procurou confortar-se. Ao agir assim, ele recorreu
não tanto ao lado dócil, mas ao lado austero dos tratos do Senhor
- ele permaneceu em seus juízos. Se podemos achar suavidade na
justiça divina, quanto mais a sentiremos no amor e na graça de
Deus! O homem precisa estar em paz com Deus de tal forma que
• 90 .
]r XPQ5IÇÃO 7
para ela, ou tentar ignorá-la; mas o servo fiel de Deus pode dizer:
“Não agi assim porque temo a Deus.”
[v. 54]
Teus estatutos têm sido meus cânticos na casa de minha peregrinação.
Como outros servos de Deus, Davi sabia que ele não tinha
casa neste mundo, mas era um peregrino nele, buscando um país
superior. Não obstante, ele não lastimava este fato, mas cantava a
despeito dele. Ele não nos diz nada acerca de seus lamentos pere
grinos, mas fala de seus cânticos peregrinos. Mesmo o palácio em
que habitava não passava de “a casa de suas peregrinações”, a
estalagem onde repousava, a estação onde parava por algum tem
po. Os homens costumam cantar enquanto se acham em suas es
talagens, e assim faziam estes ímpios hóspedes de passagem. Ele,
porém, cantava os cânticos de Sião, os decretos do grande Rei. Os
mandamentos de Deus lhe eram sobejamente conhecidos como as
baladas de seu país, e eram agradáveis a seu paladar e sonoros a
seus ouvidos. Feliz é o coração que acha sua alegria nos manda
mentos de Deus e faz da obediência sua recreação! Quando há
música na religião, tudo fica bem. Quando cantamos nos cami
nhos do Senhor, isso mostra que nosso coração está neles. Nos
sos Salmos são peregrinos, ou Cânticos dos Degraus; mas são de
tal natureza que podemos cantá-los por toda a eternidade; pois os
decretos do Senhor são o saltério dos mais altos céus.
Os santos acham horror no pecado e harmonia na santidade.
Os ímpios se esquivam da lei; os justos a celebram com cântico.
Nos dias de outrora cantávamos os decretos do Senhor, e neste
fato podemos extrair conforto para a aflição no presente. Visto
que nossos cânticos são tão diferentes daqueles dos soberbos, po
demos esperar reunir-nos num coral muito diferente, no futuro,
daquele em que ora cantamos, e compor música num lugar muito
distante daquele em que os soberbos habitam.
Note como nos sextos versículos de suas respectivas oitavas
encontramos amiúde disposição para bendizer a Deus, ou regis
tros de testemunhos. No versículo 46, temos: “Falarei”; e no 62:
“para te dar graças”; enquanto que aqui ele fala de cânticos.
• 92 •
I^ X P O S IÇ A O 7
[v. 55]
Tenho recordado, ó Senhor, de teu nome durante a noite, e tenho guar
dado tua lei.
Tenho recordado, ó Senhor, de teu nome durante a note.
Enquanto outros dormiam, eu ficava acordado pensando em ti,
em tua pessoa, em tuas ações, em teu pacto, em teu nome —termo
este no qual ele envolve o caráter divino até onde é ele revelado.
Ele vivia tão ansioso pelo Deus vivo que acordava nas horas mor
tas da noite a meditar sobre ele. Estes eram os “pensamentos no
turnos” de Davi. Se não eram “memórias luminosas”, eram me
mórias do Sol da Justiça. E ótimo quando nossa memória nos for
nece consolação, de modo a podermos dizer com o salmista: sen
do inicialmente instruído a conhecer-te, só tinha que recordar as
lições de tua graça, e meu coração foi consolado. Este versículo
revela não só que o homem de Deus recordava, mas também que
ele ainda lembra do Senhor seu Deus. Temos que santificar o nome
de Deus, e não podemos fazer isso se ele escapa a nossa memória.
E tenho guardado tua lei. Ele encontrou santificação através
da meditação; através dos pensamentos noturnos ele administrava
as ações diurnas. Como as ações diurnas às vezes criam os sonhos
noturnos, assim os pensamentos noturnos produzem os feitos diur
nos. Se não guardarmos o nome de Deus em nossa memória, não
guardaremos a lei de Deus em nossa conduta. A negligência men
tal nos leva à negligência no viver diário.
Quando ouvimos as canções noturnas dos farristas, temos nisso
segura evidência de que não guardam a lei de Deus; mas as silen
tes meditações das pessoas agraciadas são prova positiva de que o
nome do Senhor lhes é mui querido. Por suas canções podemos
julgar as nações, e o mesmo se dá no tocante aos homens; e no
caso dos justos, seu cantar e seu meditar são ambos indicações de
seu amor a Deus: quer elevem suas vozes, quer se quedem em
silêncio, continuam glorificando o Senhor. Bem-aventuradas são
as pessoas cujos “pensamentos noturnos” são memórias da luz
eterna; serão lembradas pelo Senhor quando a noite da morte che
gar. Amado leitor, seus pensamentos na escuridão são cheios de
luz, por serem cheios de Deus? Seu Nome é o tema natural de
• 93 •
S a lm o 115»
suas reflexões noturnas? Então ele dará um doce matiz a suas ho
ras noturnas e meridianas. Ou seria o caso de você dedicar toda
sua mente a preocupações evanescentes e a deleites deste mundo?
Se esse é o caso, não surpreende de você não viver como deveria.
Ninguém é casualmente santo. Se não nutrimos nenhuma memó
ria de Jeová, é evidente que também não nos lembraremos de seus
mandamentos; se não pensamos nele secretamente, não o obede
ceremos publicamente.
[v. 56]
Tem-se dado assim comigo porque eu guardei teus preceitos.
Ele estava de posse deste conforto, desta lembrança de Deus,
deste poder para cantar, desta coragem para encarar o inimigo,
desta esperança na promessa, porque tinha ardentemente obser
vado os mandamentos de Deus e se diligenciava em andar neles.
Não somos galardoados por nossas obras, mas há nelas uma re
compensa. Para muitos, o conforto só é obtido por um viver zelo
so. Podemos seguramente dizer de tal consolação: “Eu obtive isto
por guardar teus preceitos.” Como podemos vencer o ridículo se
estamos vivendo de maneira inconsistente? Como podemos con
fortavelmente lembrar-nos do Nome do Senhor se vivemos displi
centemente?
É possível que Davi quisesse dizer que ele fora capacitada a
guardar a lei em virtude de haver considerado os preceitos separa
damente; que havia tomado os mandamentos detalhadamente, e
assim atingira a santidade de vida. Aquele que não é zeloso das
partes da lei não pode guardá-la como um todo. Ou é possível que
ele quisesse dizer que, ao guardar determinados preceitos, adqui
rira força espiritual para guardar os outros. Pois Deus dá mais
graça aos que têm alguma medida dela, e os que aperfeiçoam seus
talentos descobrirão que eles mesmos são aperfeiçoados. Talvez
seja melhor deixar a passagem aberta justamente como faz nossa
versão; de modo que possamos dizer de mil bênçãos inestimáveis:
“Elas nos alcançaram no caminho da obediência.” Todas as nos
sas possessões são dons da graça, e no entanto é inquestionavel
mente verdadeiro que algumas delas nos vêm na forma de galar-
• 94 •
XPQ 5 IÇ A Q 7
dão. Mesmo quando as coisas boas nos vêm nesta forma de galar
dão, não assumem o caráter de dívida, mas de graça. Deus primei
ro opera em nós as boas obras, e em seguida nos galardoa em
função delas. Esta é uma condescendência complexa, um fruto da
benevolência.
Neste versículo temos uma conclusão apropriada para esta se
ção do Salmo, visto que ela contém um forte argumento em prol
da oração que abriu a seção. Se temos sido auxiliados a recordar
os mandamentos de nosso Senhor, podemos estar certos de que
ele se lembrará de nossas necessidades. O terno cantor tinha cer
teza de haver guardado os preceitos de Deus, e portanto podia
suplicar mais apropriadamente que o Senhor mantivesse suas pro
messas. Por toda a passagem podemos deparar-nos com apelos,
especialmente nas duas lembranças. “Tenho lembrado de teus juí
zos” e “Tenho lembrado de teu nome”; “Lembra-te de tua palavra
para com teu servo”.
• 95 •
(w. 57-64)
Tu és minha porção, ó Senhor; eu disse que guardaria tuas palavras.
Imploro de todo o coração teu favor; sê misericordioso para comigo,
segundo tua palavra. Pondero em meus caminhos e volto meus passos
para teus testemunhos. Apresso-me, não me detenho em guardar teus
mandamentos. Os laços dos perversos me enleiam; contudo não me
esqueci de tua lei. Levanto-me à meia-noite para te render graças,
movido por teus retos juízos. Companheiro sou de todos os que te te
mem e dos que guardam teus preceitos. A terra, Senhor, está cheia de
tua misericórdia; ensina-me teus estatutos.
Nesta seção, o salmista parece tomar sólida posse de Deus
mesmo: apropriando-se dele (v. 57); clamando a ele (v. 58); vol
tando-se para ele (v. 59); consolando-se nele (w. 61, 62); associ
ando-se a sua pessoa (v. 63); e suspirando por sua instrução pes
soal (v. 64). Note como o primeiro versículo desta oitava é vincu
lado ao último da anterior, do qual ele é de fato uma expansão.
“Tem-se dado assim comigo, porque guardo teus preceitos. Tu és
minha porção, ó Senhor; eu disse que guardaria teus preceitos.”
Embora sejam muitos, estes versículos são apenas um único pão.
[v. 57]
Tu és minha porção, ó Senhor; eu disse que guardaria tuas palavras.
Tu és minha porção, ó Senhor. Uma expressão interrompida.
Os tradutores a têm melhorado com algumas inserções, mas é pro
vável que o melhor seja deixá-la como está, e então apareceria
como uma exclamação —“Minha porção, ó Senhor!” O poeta se
sente absorto em perplexidade enquanto se dá conta de que o imen
surável e glorioso Deus é toda sua possessão! E bem provável que
seja assim, porque não há possessão como o próprio Jeová. A for-
• 96 •
j^ x P O S iç Ã o 8
ma da sentença expressa jubiloso reconhecimento e apropriação -
“Minha porção, ó Jeová!” Davi amiúde presenciava a divisão da
presa e ouvia os gritos dos vitoriosos em torno dela; aqui ele se
regozija como alguém que toma posse de parte do despojo; ele
escolhe o Senhor para ser sua parte do tesouro. Como os levitas,
ele tomou Deus para ser sua porção, e deixou outras partes para
aqueles que as cobiçavam. Eis aqui uma grande e duradoura he
rança, pois ela inclui tudo, e mais que tudo, e que dura mais que
tudo; e no entanto ninguém a escolhe para si enquanto Deus não o
houver abençoado, separado e renovado. Quem é realmente sábio
que hesitaria por um instante quando o Deus infinitamente bem-
aventurado se põe diante dele para ser o objeto de sua escolha?
Davi aproveitou a oportunidade e apoderou-se da inestimável dá
diva. Nosso autor, aqui, ousa exibir o certificado de propriedade
de sua porção na presença do próprio Senhor, pois ele expressa
sua jubilosa declaração diretamente a Deus, a quem ousadamente
chama minha porção. Tendo amplo campo onde escolher, pois ele
era rei e um homem de grandes recursos, deliberadamente volta as
costas a todos os tesouros do mundo e declara que o Senhor, Jeo
vá mesmo, é sua porção.
Eu disse que guardaria tuas palavras. Nem sempre podemos
relembrar com conforto daquilo que dissemos, mas neste exemplo
Davi expressou-se sabiamente e muito bem. Ele declarou sua es
colha; ele preferiu a palavra de Deus às riquezas mundanas. Era
sua firme resolução guardar - ou seja, entesourar e observar - as
palavras de seu Deus; e como havia outrora solenemente expresso
na presença do próprio Senhor, assim aqui ele confessa a penho
rada obrigação de seu juramento anterior. Disse Jesus: “Se al
guém me ama, guardará minhas palavras”, e esse é um caso que
ele podia citar como uma ilustração; pois o amor do salmista por
Deus, como sua porção, o levou a guardar as palavras de seu Deus.
Davi tomou a Deus tanto como seu Príncipe quanto como sua
Porção. Ele estava confiante quanto a seu interesse por Deus, e
por isso estava resoluto em sua obediência a ele. A plena convic
ção é uma poderosa fonte de santidade. As próprias palavras de
Deus devem ser harmazenadas; pois quer se relacionem com a
• 97 •
S a lm o 115>
. 106 •
(w. 65-72)
Tens tratado bem a teu servo, ó Senhor, segundo tua palavra. Ensina-
me bom juízo e conhecimento, pois tenho crido em teus mandamentos.
Antes de ser afligido, eu andava errante, mas agora guardo tua pala
vra. Tu és bom e fazes o bem; ensina-me teus estatutos. Os soberbos
têm forjado mentiras contra mim; não obstante, guardarei teus precei
tos de todo o coração. Tornou-se-lhes o coração insensível, como se
fosse de sebo; mas eu me deleito em tua lei. Foi bom ter eu sido afligi
do, para que aprendesse teus estatutos. Para mim vale mais a lei que
procede de tua boca do que milhares de ouro ou de prata.
Nesta nona seção, os versículos no hebraico começam todos
com a letra Teth. Estes versículos são os atributos da experiência
testificando da benevolência divina, da graciosidade de suas ativi
dades em relação a nós e da preciosidade de sua Palavra. Especial
mente, o salmista proclama o excelente uso da adversidade e da
bondade de Deus ao ser ele afligido. O versículo 65 é o texto-
chave de toda a oitava.
[v. 65]
Tens feito bem a teu servo, ó Senhor, segunda tua palavra.
Este é o sumário de sua vida, e com certeza é o de nossa pró
pria vida. O salmista dá ao Senhor o veredicto de seu coração. Ele
não pode ficar em silêncio, e tem de expressar sua gratidão na
presença de Jeová, seu Deus. A luz da bondade universal de Deus
na natureza, no versículo 64, é um passo simples e agradável a
uma confissão da invariável bondade do Senhor para com nossa
personalidade. E algo com que Deus por fim terá que tratar com
cada um de nós, seres insignificantes e destituídos de méritos. E
seu trato conosco é muitíssimo bom, maravilhosamente bom. Ele
• 107 •
S a lm o \\p
boso é algo horrível; é uma sebosidade que leva uma pessoa a tor
nar-se estulta, uma degeneração oleosa do coração que conduz à
debilidade e morte. A gordura em tais pessoas equivale a destrui
ção da vida nelas. Dryden escreveu:
“ O h almas! Nas Quais não se vê nenhum fogo celestial,
Mentes sebosas, sempre rastejantes pela terra."
[v. 71]
Foi bom ter sido eu afligido, para que aprendesse teus estatutos.
Foi bom ter sido eu afligido. Mesmo quando a aflição prove
nha de pessoas ruins, ela conduzia a fins benéficos; ainda que fos
se prejudicial quando provinda de tais pessoas, para Davi ela era
boa. Ele sabia muito bem que ela o beneficiava de muitas manei
ras. Quaisquer que fossem os pensamentos que lhe sobreviessem
enquanto enfrentava a provação, ele tinha consciência de que era
melhor assim. Não era bom ver os soberbos prosperando, pois
seus corações se tornavam ainda mais sensuais e insensíveis; mas
a aflição tinha um caráter positivo para o salmista. Nosso pior nos
é melhor que o melhor para os pecadores. Para os pecadores, a
alegria se torna nociva; e para os santos, a tristeza é benéfica. In
findos benefícios nos têm sobrevindo através de nossas dores e
tristezas; e no mais, permanece isto: que assim lemos sido instruí
dos na lei.
Para que aprendesse teus estatutos. Nosso conhecimento e
nossa observância destes estatutos nos vieram enquanto sentía
mos os golpes da vara. Oramos ao Senhor para que nos instruísse
(v. 66), e agora percebemos que ele já fez isso. Aliás, na verdade
ele nos tem tratado bem, pois nos tem tratado de forma muito
sábia. Temos sido guardados, através de nossas provações, da ig
norância e de um coração seboso, e isso, se porventura não exis
tisse nada mais, seria causa suficiente de constante gratidão. Ser
engordado pela prosperidade não é saudável para a soberba; mas,
em prol da verdade, ser instruído pela adversidade é saudável para
a humildade. Mui pouco se tem a aprender sem aflição. Para ser
mos bons alunos, temos de ser bons sofredores. Como dizem os
latinos: Experientia docet —a experiência ensina. Não há estrada
régia para se aprenderem estatutos régios; os mandamentos de
Deus são melhor lidos por olhos úmidos de lágrimas.
[v. 72]
Para mim vale mais a lei que procede de tua boca do que milhares de
ouro ou de prata.
A lei que procede de tua boca. Um título docemente expressi
S a lm o U?
(w. 73-80)
Tuas mãos me fizeram e me formaram; dá-me entendimento para apren
der teus mandamentos. Os que te temem alegrar-se-ão quando me vi
rem; porque tenho esperado em tua palavra. Bem sei, ó Senhor, que teus
juízos são retos, e que em tua fidelidade me afligiste. Rogo-te que tua
misericordiosa benevolência seja para meu conforto, segundo tua pa
lavra a teu servo. Que tuas ternas misericórdias venham sobre mim,
para que eu viva; pois tua lei é meu deleite. Sejam os soberbos enver
gonhados; pois sem causa me trataram perversamente; eu, porém,
meditarei em teus preceitos. Voltem-se para mim os que te temem, e
aqueles que têm conhecido teus testemunhos. Que meu coração seja
íntegro em teus testemunhos, para que eu não seja envergonhado.
Chegamos agora à décima porção, a qual em cada instância
começa com Jod; mas certamente não trata de coisas mínimas,
rótulos e outras futilidades. O profeta está profundamente triste,
porém espera ser libertado e tornar-se alvo de bênção. Esforçan
do-se na vereda da instrução, o salmista primeiro busca ser instruído
(v. 73), se persuade de que será bem recebido (v. 74) e então repe
te o testemunho que tencionava transmitir (v. 75). Ora por mais
experiência (w. 76, 77), pela frustração dos soberbos (v. 78), pela
reunião dos piedosos a seu redor (v. 79) e, uma vez mais, por si
mesmo, para que pudesse ser plenamente equipado para dar seu
testemunho e fosse sustentado no mesmo propósito (v. 80). Este é
um ansioso, porém esperançoso, clamor de alguém que se sente
profundamente aflito em virtude dos cruéis adversários, e portan
to faz seu apelo a Deus como seu único Amigo.
[v. 73]
Tuas mãos me fizeram e me formaram; dá-me entendimento para
aprender teus mandamentos.
•11 8 -
f 7X P O S IÇ Ã O 1 0
Pois tua lei é meu deleite. Oh, ditosa fé! Ele não quis dizer
que o crente se regozija na lei mesmo quando seus preceitos trans
gredidos o fazem sofrer. Deleitarmo-nos na Palavra quando ela
nos repreende é prova de que extraímos proveito dela. Segura
mente esta é uma súplica que prevalecerá diante de Deus, por mais
amargas sejam nossas tristezas; se ainda nos deleitamos na lei do
Senhor, ele não permitirá que morramos; ele deseja e quer lançar
sobre nós sua ternura e confortar nossos corações.
[v. 78]
Sejam os soberbos envergonhados; pois sem causa me trataram per
versamente; eu, porém, meditarei em teus preceitos.
Sejam os soberbos envergonhados. Ele rogou que os juízos
de Deus não mais caíssem sobre ele, mas sobre seus cruéis adver
sários. Deus não permitirá que os que esperam em sua Palavra
sejam envergonhados, pois é para os de espírito arrogante que ele
reserva tal galardão: eles serão surpreendidos pela confusão e tor
nar-se-ão objetos de desprezo, enquanto os aflitos de Deus ergue
rão novamente suas cabeças. Vergonha aguarda os soberbos, por
quanto vergonhosa coisa é ser soberbo. A vergonha não é para os
santos, pois nada há na santidade de que envergonhar-se.
Pois sem causa me trataram perversamente. Sua malícia era
arbitrária; ele não os havia provocado. Empregavam a falsidade
para forjarem acusação contra ele; teriam que desviar suas ações
de sua verdadeira condição antes que pudessem assaltar seu cará
ter. Evidentemente, o salmista sentia agudamente a malícia de seus
inimigos. Sua consciência de inocente em relação a eles gerou um
ardente senso de injustiça; então apelou para o justo Senhor para
que tomasse seu partido e vestisse seus falsos acusadores com um
manto de opróbrio. Provavelmente os mencionou como “os so
berbos” em virtude de saber que o Senhor sempre toma vingança
contra os soberbos e vinga a causa daqueles a quem eles oprimem.
As vezes ele menciona os soberbos e às vezes os perversos, mas
sempre tem em mente as mesmas pessoas; as palavras são alterna
das: certamente quem é soberbo é também perverso, e os perse
guidores arrogantes são os piores dentre os homens perversos.
• 124 •
[ XPQ5IÇÂO 10
dos de Deus, e são instruídos em sua Palavra, devem ser mui pre
ciosos a nossos olhos, e devemos fazer o máximo possível por vi
ver bem com eles.
Davi faz dupla descrição dos santos: são tementes a Deus e
conhecedores de Deus. Possuem tanto devoção quanto instrução;
possuem tanto espírito de ciência quanto de genuína religião. Sa
bemos de alguns cristãos que são generosos, porém destituídos de
inteligência; e, em contrapartida, também sabemos de certos reli
giosos professos que possuem boa cabeça, porém não bom cora
ção: o salmista era alguém que combinava devoção com inteligên
cia. Tampouco nos preocupamos com estúpidos devotos, nem com
icebergues intelectuais. Quando o temor e o conhecimento de Deus
andam de mãos dadas, levam os homens a munir-se sobejamente
de toda boa obra. Se tais espíritos escolheram tanto os que amam
a Deus quanto os aprendem dele, esses são meus companheiros
favoritos e espero ser membro de sua confraria. Concede, ó Se
nhor, que tais pessoas sempre me busquem, porque vão encontrar
em mim um companheiro à altura!
[v. 80]
Que meu coração seja íntegro em teus testemunhos, para que eu não
seja envergonhado.
Isso é ainda mais importante do que ser tido em estima pelos
homens bons. Eis a raiz da questão. Se o coração for sólido na
obediência a Deus, tudo está bem, ou estará bem. Se nosso cora
ção é reto, nossa força será sólida. Se não formos íntegros diante
de Deus, nosso nome como piedosos não passará de som vazio. A
mera profissão de fé será um fracasso, e nossa imerecida estima se
dissipará como uma bolha quando perfurada; somente a sinceri
dade e a veracidade suportarão os dias maus. Aquele que é de
coração reto não tem motivo para envergonhar-se, e jamais terá
algum. Os hipócritas devem envergonhar-se, e virá o dia quando
sofrerão vergonha eterna: seus corações serão apodrecidos e seus
nomes, desarraigados. Este versículo 80 é uma variação da oração
do versículo 73; ali o salmista busca um discernimento sólido; aqui
ele vai mais fundo, e suplica por um coração íntegro. Os que têm
• 126 •
j^ X P O S IÇ Â O 1 0
vV>r\ "'7--^
• 127-
(w. 81-88)
Minha alma desfalece por tua salvação; porém espero em tua palavra.
Meus olhos desfalecem por tua palavra, dizendo: Quando tu me conso
larás? Pois sou semelhante a um odre na fumaça; contudo não me es
queço de teus estatutos. Quantos são os dias de teu servo? Quando
executarás juízo contra os que me perseguem? Os soberbos me cavaram
um poço, os quais não são conformes a tua lei. lodos os teus manda
mentos são verazes; injustamente me perseguem; ajuda-me. Quase me
consumiram sobre a terra; mas eu não deixei teus preceitos. Vivifica-me
segundo tua benignidade; assim guardarei o testemunho de tua boca.
Esta porção do gigantesco Salmo visualiza o salmista in extre-
mi [no auge do sofrimento]. Seus inimigos arrastaram-no à mais
vil condição de languidez e depressão; todavia ele é fiel à lei e con
fiante em seu Deus. Esta oitava é a meia-noite do Salmo, e mui
densas e lúgubres são suas trevas. Entretanto as estrelas brilham, e
o último versículo apresenta a promessa da aurora. A melodia vai
paulatinamente tornando-se alegre; mas, entrementes, ela nos mi
nistra conforto e nos faz visualizar um servo de Deus tão eminente
e tão difícil de ser usado pelos ímpios. Evidentemente, em nossas
perseguições pessoais, não estranhamos aquilo que nos acontece.
[v. 81]
Minha alma desfalece por tua salvação; mas espero em tua palavra.
Minha alma desfalece por tua salvação. Seu anseio não era
por livramento, mas por aquilo que viesse de Deus: seu único de
sejo era que lhe viesse “tua salvação”. Mas, por esse divino livra
mento ele ardia até o último grau - até a última medida de sua
força; sim, e além dela, até o desfalecimento. Tão forte era seu
desejo que ele produziu-lhe prostração de espírito. Ele tornou-se
• 128 •
f 7XPOSIÇÃO 11
que o ser humano espera vem dessa maneira; ele não tem como
arremessar sua visão em qualquer outra direção. Essa experiência
de esperar e desfalecer é bem conhecida dos santos já bem desen
volvidos, e ela lhes ensina muitas lições preciosas que jamais apren
deriam pelo uso de qualquer outro método. Entre os resultados
escolhidos, este é um deles: que o corpo, erguendo-se em solidari
edade com a alma, ambos, coração e carne, clamam pelo Deus
vivo, e até mesmo os olhos acham um idioma para expressar-se:
“Quando tu me confortarás?” Teria sido um intenso anelo que
não se satisfazia expressando-se com os lábios, mas fala com os
olhos, com aqueles olhos que esmaecem pela intensa vigília. Os
olhos podem falar bem eloqüentemente; usam tanto a mudez quan
to as lágrimas, e podem às vezes dizer mais que as línguas. Davi
diz em outro lugar: “O Senhor ouviu a voz de meu pranto” (SI
6.8). Nossos olhos são especialmente eloqüentes quando come
çam a diminuir com o cansaço e desgosto. Um olhar súplice, er
guido ao céu em silente oração, pode refletir a chama que derrete
rá os ferrolhos que obstruem a entrada da oração vocal, e assim o
céu será tomado pela comoção provocada pela artilharia das lágri
mas. Benditos são os olhos que estão acostumados a olhar para
Deus. Os olhos do Senhor verão que tais olhos realmente não des
falecem. Quão preferível é aguardar o Senhor com olhares ansio
sos do que tê-los lampejantes com o brilho da vaidade!
[v. 83]
Pois sou semelhante a um odre na fumaça; contudo não me esqueço
de teus estatutos.
Pois sou semelhante a um odre na fumaça. Os odres usados
para guardar-se vinho, quando vazios, eram pendurados na ten
da; e quando o ambiente era dominado por fumaça, os odres fica
vam negros e fuliginosos, e ao calor tornavam-se enrugados e pu
ídos. A face do salmista, em decorrência da aflição, tornara-se es
cura e melancólica, sulcada e enrugada; aliás, todo seu corpo se
solidarizara tanto com sua mente angustiada que perdera seu vi
gor natural, tornando-se semelhante a um odre seco e surrado.
Seu caráter tinha sido enfumaçado com calúnias, e sua mente,
• 130 •
j^XPOSiÇAO 11
• 136 •
f " X P Q 5 IÇ À Q 12
(w. 89-96)
Para sempre, ó Senhor, tua palavra está estabelecida no céu. Tua fide
lidade é por todas as gerações; estabeleceste a terra e ela permanece.
Continuam até hoje, segundo tuas ordenações; porque são todos ser
vos teus. Se tua lei não fosse meu deleite, então eu já teria perecido em
minha aflição. Jamais me esquecerei de teus preceitos; pois por eles me
tens vivificado. Eu sou teu, salva-me; pois tenho buscado teus precei
tos. Os ímpios têm esperado por mim, para me destruir; eu, porém,
considerarei teus testemunhos, lenho visto um fim de toda perfeição,
mas teu mandamento é excessivamente amplo.
[v. 89]
Para sempre, ó Senhor, tua palavra está estabelecida no céu.
O tom é ainda mais jubiloso, pois a experiência muniu o mavi
oso cantor de um consolador conhecimento da Palavra do Senhor,
e isso proporciona um alegre tema. Depois de ser acossado por
um mar de provações, o salmista, aqui, desce à praia e sobe numa
rocha. A Palavra de Jeová não é instável nem incerta; é estabeleci
da, determinada, fixa, segura, inamovível. Os ensinos humanos
mudam tão amiúde que nunca estão bem estabelecidos; a palavra
do Senhor, porém, é a mesma desde os tempos de outrora, e per
manecerá eternamente imutável. Algumas pessoas nunca se sentem
tão felizes do que quando se põem a inquietar a tudo e a todos; a
mente de Deus, porém, não é como a delas. O poder e a glória do
céu têm confirmado cada uma das sentenças que os lábios do Se
nhor têm pronunciado, e assim as têm confirmado para que toda a
eternidade seja sempre a mesma - estabelecida no céu, onde nada
pode alcançá-la. Na seção anterior, a alma de Davi desfalecia; aqui,
porém, o bom homem olha para si e percebe que o Senhor não
desfalece, nem se afadiga, nem há qualquer falha em sua Palavra.
• 13 7 •
S alm o llp
[v. 92]
Se tua lei não fosse meu deleite, então eu já teria perecido em minha
aflição.
Essa palavra que tem preservado os céus e a terra também pre
serva o povo de Deus em seus momentos de provação. Essa pala
vra nos encanta e nos é uma mina de deleite. Nela temos um duplo
e triplo deleite e dela extraímos um múltiplo deleite, e este é um
bom lugar quando todos os deleites nos forem suprimidos. Já es
taríamos prontos a nos deitarmos e morrermos em nossas triste
zas se os confortos espirituais provindos da Palavra de Deus não
nos soerguessem; mas, mediante sua influência mantenedora, te
mos pairado acima de todas as depressões e desesperos que natu
ralmente aumentam a severa aflição. Alguns de nós podemos pôr
nosso selo nesta afirmação. Nossa aflição, não fosse pela divina
graça, já nos teria eliminado a existência, de sorte que já teríamos
perecido. Em nossos momentos mais escuros, nada nos protege
ria do desespero, exceto a promessa do Senhor; sim, às vezes nada
resta entre nós e a autodestruição salvo a fé na eterna Palavra de
Deus. Quando gememos com dores, até o âmago, nos sentimos
aturdidos e a razão quase extinta, um doce texto nos sussurra uma
certeza íntima, e nossa pobre e relutante mente recebe a resposta
vinda do coração de Deus. Aquilo que era nosso deleite na prospe
ridade tem sido nosso deleite na adversidade; aquilo que durante o
dia nos guardou de conjeturar, durante a noite nos tem guardado
de perecer. Este versículo contém uma lamentosa suposição —“a
não ser q u e descreve uma horrível condição —“quase pereci em
minha aflição”; e implica livramento; pois ele não morreu, senão
que viveu para proclamar as honras da Palavra de Deus.
[v. 93]
Jamais me esquecerei de teus preceitos; pois por eles me tens vivificado.
Quando sentimos o poder vivificante de um preceito, jamais
nos esquecemos dele. Podemos lê-lo, aprendê-lo, repeti-lo e ter
receio de que ele escape de nossa mente; mas, se uma vez ele nos
deu vida, ou renovou nossa vida, não há motivo para temermos
que ele escape de nosso reconhecimento. A experiência ensina, e
• 140 •
j^xposiçÃo 12
ensina com eficácia. Quão bendita é a sorte de termos os preceitos
escritos no coração com a pena de ouro da experiência, e gravada
na memória com o divino estilete da graça! O esquecimento é um
grande mal em relação às coisas santas; vemos aqui o homem de
Deus lutando contra ele, e o seguro senso da vitória, porque ele
conhecia a energia geradora de vida da Palavra em sua própria
alma. Aquilo que vivifica o coração certamente vivificará a memória.
Parece singular que ele atribua aos preceitos a vivificação, e
todavia ela está neles e igualmente em todas as palavras do Se
nhor. Deve-se notar que, quando o Senhor ressuscitava os mor
tos, dirigia-lhes a palavra de ordem. Disse ele: “Lázaro, vem para
fora”; ou: “Menina, levanta-te”. Não carece que receemos decla
rar os preceitos evangélicos aos pecadores espiritualmente mor
tos, visto que, por meio deles, o Espírito lhes comunica vida. Ob
serve que o salmista não diz que os preceitos o vivificavam, mas
que o Senhor o vivificou por meio deles; assim ele traça a vida a
partir do canal até a fonte, e põe a glória no devido lugar. Todavia,
ao mesmo tempo ele valorizava os instrumentos da bênção, e deci
diu jamais olvidá-los. Ele já os havia recordado, quando compa
rou-se a um odre na fumaça, e agora sente que, quer na fumaça ou
no fogo, a memória dos preceitos do Senhor jamais se desvanece
rá de sua mente.
[v. 94]
Eu sou teu, salva-me; porque tenho buscado teus preceitos.
Eu sou teu, salva-me. Uma oração abrangente com um argu
mento prevalecente. A consagração é uma boa súplica por preser
vação. Se somos cônscios de que pertencemos ao Senhor, então
podemos nutrir a confiança de que ele nos salvará. Somos do Se
nhor por criação, eleição, redenção, rendição e aceitação; e daí
nossa firme esperança e sólida convicção de que ele nos salvará.
Seguramente, uma pessoa salvará a seu próprio filho: Senhor, sal
va-me. A necessidade de salvação é melhor visualizada pelo povo
do Senhor do que por qualquer outra pessoa, e daí a oração de
cada um deles é: “salva-me”; sabem que somente Deus pode sal
vá-los, e por isso clamam unicamente a ele; sabem que nenhum
• 141 •
Salm o 115?
• 144 •
P XPQ S1Ç ÂO 15
(w. 97-104)
Oh, quanto amo tua lei! é minha meditação todo o dia. Tu, por meio
de teus mandamentos, me tens feito mais sábio que meus inimigos;
pois eles estão sempre comigo. Tenho mais entendimento que todos
meus mestres, porque teus testemunhos são minha meditação. Enten
do mais que os antigos, porque guardo teus preceitos. Refreei meus pés
de todo mau caminho, para poder guardar tua palavra. Não me apar
tei de teus juízos; pois me tens ensinado. Quão doce a meu paladar são
tuas palavras! sim, são mais doces que o mel a minha boca. Através de
teus preceitos obtive entendimento; por isso odeio todo falso caminho.
[v. 971
Oh, quanto amo tua lei! é minha meditação todo o dia.
Oh, quanto amo tua lei! Aqui está uma nota de exclamação.
Seu amor é tão forte que ele tem que expressá-lo, e o expressa
diante de Deus em extasiante devoção. Ao fazer a tentativa, ele
percebe que sua emoção é inexprimível, e portanto clama: “Oh,
quanto amo!” Não só reverenciamos a lei, mas também a amamos,
a obedecemos com amor, e ainda quando ela nos reprove por de
sobediência, não a amamos menos. A lei é a lei de Deus, e portanto
ela é objeto de nosso amor. Amamo-la por sua santidade, e anela
mos por ser santos; amamo-la por sua sabedoria, e nos esforça
mos por ser sábios; amamo-la por sua perfeição, e suspiramos por
ser perfeitos. Os que conhecem o poder do evangelho percebem
na lei uma beleza infinita, quando a vemos cumprida e incorpora
da em Jesus Cristo.
Ela é minha meditação todo o dia. Esse foi tanto o efeito de
seu amor à lei quanto a causa desse amor. Ele meditava na palavra
de Deus, porque a amava; a amava ainda mais, porque nela medi-
• 145 •
S alm o 115?
tava. Ele não poderia ter dela o suficiente, por isso ardentemente a
amava; todo o dia não lhe era suficiente para dialogar com ela.
Sua oração matinal, sua meditação ao meio-dia, sua oração ves
pertina, tudo procedia do Santo Escrito; sim, em suas atividades
seculares, ele ainda mantinha sua mente saturada com a lei do
Senhor. Ouvimos acerca de algumas pessoas que, quanto mais as
conhecemos, menos as admiramos; mas o reverso se dá no tocan
te à Palavra de Deus. A familiaridade com a Palavra de Deus gera
afeição, e a afeição busca ainda maior familiaridade. Quando “tua
lei” e “minha meditação” se juntam a “todo o dia”, o dia se torna
santo, devoto e feliz, e o coração vive com Deus em amor a sua
Palavra e se deleita nela. Davi desviava-se de tudo mais em prol da
Palavra e da vontade do Senhor, pois no versículo precedente ele
nos informa que vira um fim de toda perfeição; mas se volvia para
a lei e aí ficava todos os dias de sua vida na terra, tornando-se cada
vez mais sábio e mais santo.
[v. 98]
Tu, por meio de teus mandamentos, me tens feito mais sábio que meus
inimigos; porque eles estão sempre comigo.
Tu, por meio de teus mandamentos, me tens feito mais sábio
que meus inimigos. Os mandamentos eram seu Livro, porém Deus
era seu Mestre. A letra pode levar-nos a conhecer, porém só o
Espírito divino pode fazer-nos sábios. Sabedoria é conhecimento
posto em uso prático. A sabedoria nos vem através da obediência:
“Se alguém fizer a vontade de Deus, conhecerá a doutrina.” Não
aprendemos só da promessa, da doutrina e da história sacra, mas
também do preceito e do mandamento; de fato, dos mandamentos
deduzimos a mais prática sabedoria e aquilo que nos capacita a
melhor competir com nossos adversários. Uma vida santa é a mais
elevada sabedoria e a mais segura defesa. Nossos inimigos desfru
tam de renome através de sutileza, de seu primeiro pai, a antiga
serpente, procedente do último basilisco que saiu do ovo; e ser-
nos-ia inútil tentar formar um par com eles na astúcia e no misté
rio da velhacaria; pois os filhos deste mundo são, em sua geração,
mais sábios que os filhos da luz. Temos de ir a outra escola e apren-
• 146 •
H X P O S IÇ Ã O V )
Sim, mais doces que o mel a minha boca! Quando ele não só
a comeu, mas também a expressou verbalmente, instruindo a ou
trem, ele sentiu um crescente deleite nela. A mais doce de todas as
coisas temporais provém da infinita delícia da Palavra eterna: o
próprio mel, em sua doçura, é excedido pela Palavra do Senhor.
Quando o salmista alimentou-se dela, ele a achou doce; mas quando
deu testemunho dela, então ela se tornou ainda mais doce. Quão
sábio será de nossa parte guardar a Palavra em nosso paladar atra
vés da meditação; e em nossa língua, através de nossa confissão!
Ela será doce a nosso paladar quando pensarmos nela; ou não
será doce a nossa boca, quando falarmos dela. Provaremos no es
tudo o que pregarmos no púlpito. Devemos, antes, tornar-nos
homens espiritualmente de paladar, e então teremos um verdadei
ro desfruto em anunciar a beleza c doçura da verdade divina.
[v. 104]
Através de teus preceitos obtive entendimento; por isso odeio todo ca
minho falso.
Através de teus preceitos obtive entendimento. A orientação
divina é nossa instrução. A obediência à vontade divina gerará sa
bedoria mental e ativa. Como o caminho de Deus é sempre me
lhor, os que o seguem estão certos de ser justificados por seus
resultados. Se o Legislador fosse insensato, sua lei seria o mesmo,
e a obediência a tal lei nos envolveria em milhares de equívocos;
mas como o caso é bem outro, podemos considerar-nos felizes em
possuir uma lei tão sábia, prudente e benéfica como a norma de
nossas vidas. Seremos sábios, se a obedecermos; e é pela obediên
cia que crescemos em sabedoria.
Por isso odeio todo caminho falso. Porque tinha entendimen
to, e por causa dos preceitos divinos, ele detestava o pecado e a
falsidade. Todo pecado é falsidade; pecamos porque cremos numa
mentira, e no fim o mal promissor se converte em mentiroso, e
descobrimos que fomos traídos. Os corações verdadeiros não são
indiferentes ante a falsidade, sua indignação se inflama; como amam
a verdade, daí odeiam a mentira. Os santos nutrem um horror
universal por tudo o que é contrário à verdade; não toleram qual-
S alm o U5>
• 152 •
f 7X P Q 51Ç Ã Q Vr
(w. 105-112)
Tua palavra é lâmpada para meus pés, e luz para meu caminho. Jurei,
e cumprirei, que guardaria teus justos juízos. Estou muitíssimo aflito;
vivifica-me, ó Senhor, segundo tua palavra. Aceita, eu te rogo, as ofe
rendas voluntárias de minha boca, ó Senhor, e ensina-me teus juízos.
Minha alma está continuamente em minhas mãos; todavia não me
esqueço de teus preceitos. Os ímpios me armaram uma rede; contudo
não me desviei de teus preceitos, léus testemunhos os tenho por heran
ça, para sempre, pois eles são o júbilo de meu coração. Inclinei meu
coração a guardar teus estatutos, para sempre, até o fim.
[v. 105]
Tua palavra é lâmpada para meus pé, e luz para meu caminho.
Tua palavra é lâmpada para meus pés. Somos andarilhos
pela cidade deste mundo, e amiúde somos chamados a sair de sua
escuridão; que jamais nos aventuremos ali sem a Palavra geradora
de luz, para que não escorreguem nossos pés. Cada um de nós
deve usar a Palavra de Deus pessoal, prática e habitualmente, para
que visualizemos seu caminho e percebamos o que ele contém.
Quando as trevas descem e me cercam, a Palavra do Senhor, como
uma chama, uma tocha, ilumina meu caminho. Não havendo lâm
padas fixas nas cidades orientais, nos tempos antigos, cada um
levava consigo uma tocha para que não caísse num esgoto aberto,
ou tropeçasse nos montes de esterco que infestavam a estrada.
Este é um quadro genuíno de nossa vereda por este mundo escu
ro; não conheceríamos o caminho, nem saberíamos andar nele, se
a Escritura, como um luminoso refletor, não o iluminasse. Elm
dos benefícios mais práticos da Santa Escritura é sua diretriz nos
atos do cotidiano: não para estarrecer-nos com sua radiância, mas
para guiar-nos por sua instrução. E verdade que a cabeça necessi-
• 153 •
S a lm o 115?
Aqui temos uma herança que não pode fenecer nem ser alienada;
ela dura para sempre e será eternamente nossa, se é que temos
tomado posse dela. As vezes, como Israel em seu primeiro ingres
so em Canaã, temos que tomar posse de nossa herança pela via de
dura luta, e quando é assim, ela é digna de todo nosso labor e
sofrimento; mas ela terá sempre de ser apossada por uma escolha
decidida do coração e pelas garras da vontade. E preciso que a
eleição divina seja também a nossa eleição. O que Deus dá pela
graça temos de tomar posse pela fé.
Porque são o júbilo de meu coração. O júbilo que lhe veio
através da Palavra do Senhor o levou a fazer uma escolha inalterá
vel dela. Todas as partes da Escritura despertavam prazer em Davi,
e ainda continuavam, e por isso ele as mantinha e pretendia tê-las
em sua posse para sempre. Aquilo que traz regozijo ao coração
merece ser escolhido e entesourado. Não é o conhecimento inte
lectual, e, sim, a experiência do coração que traz a genuína alegria.
Neste versículo, que é o sétimo de sua oitava, atingimos a mes
ma suavidade do sétimo da última oitava (103). E digno de obser
vação que, em diversas das sétimas contíguas, o deleite é evidente.
Quão deleitoso é quando a experiência se aprimora na alegria,
passando pelo sofrimento, oração, conflito, esperança, decisão, e
o santo contentamento culmina no regozijo! A alegria firma o es
pírito. Quando uma vez o coração humano se regozija na divina
Palavra, ele grandemente a valoriza, e por isso se mantém para
sempre unido a ela.
[v. 112]
Inclinei meu coração a guardar teus estatutos, para sempre, até o fim.
Ele era ativo e enérgico em dominar seu próprio coração. Não
só podia dizer: “Estou inclinado”, mas: “Tenho inclinado.” Não
estava meio inclinado para a virtude, mas sinceramente inclinado
para ela. Seu coração inteiro se inclinava para a santidade prática
e persistente. Estava resolvido a guardar todos os estatutos do
Senhor, de todo seu coração, ao longo de todo seu tempo, sem
desviar-se e sem deter-se. Ele tomou como seu objetivo máximo,
guardar a lei até o fim, e isso sem desistir. Através da oração, da
• 160 •
\ 'x p o s i ç ã o H-
(w. 113-120)
Odeio os pensamentos vãos, porém amo tua lei. Tu és meu refúgio e
meu escudo; espero em tua palavra. Afastai-vos de mim, malfeitores,
pois guardarei os mandamentos de meu Deus. Sustenta-me consoante
tua palavra, para que eu possa viver, e não me deixes frustrado em
minha esperança. Sustenta-me, e serei salvo; e continuamente terei
respeito por teus estatutos. Tu tens pisado aos pés todos os que se des
viam de teus estatutos, pois a ilusão deles é a falsidade. Tu tiraste da
terra todos os ímpios, como a escória; por isso amo teus testemunhos.
Minha carne estremece de temor por ti; e eu tenho temido teus juízos.
Esta oitava, cuja letra inicial é Samech, ou S., se assemelha a
Sansão em sua morte, quando se apoia nas colunas do edifício e o
faz desabar sobre os filisteus. Assinala como ele se agarra às colu
nas do poder divino, com o clamor: “Sustenta-me”, e “Dá-me tua
força”, e vê como o edifício desaba, como o juízo divino, sobre os
ímpios! “Tu tiraste da terra todos os ímpios, como a escória.” Esta
seção conduz à guerra no país do inimigo e exibe o crente como
guerreando contra a falsidade e a iniqüidade.
[v. 113]
Odeio os pensamentos vãos, porém amo tua lei.
Neste parágrafo, o salmista trata dos pensamentos, coisas e
pessoas que se opõem aos santos pensamentos e caminhos de
Deus. Ele é evidentemente movido de profunda indignação con
tra os poderes das trevas e seus aliados; e toda sua alma se agita
e se lhes opõe com determinada oposição. Precisamente como
ele começou com a oitava, no versículo 97: “Oh, como amo tua
lei!”, assim ele começa aqui com a declaração de intenso amor;
mas o prefacia com uma declaração igualmente fervorosa de ódio
• 162 •
H X P O S IÇ Â O D
[v. 114]
Tu és meu refúgio e meu escudo; espero em tua palavra.
Tu és meu refúgio e meu escudo. Deus era seu refúgio e escu
do. Ele corria para seu Deus a fim de escapar dos pensamentos
vãos; ali ele se escondia de sua tormentosa intrusão, e em solene
silêncio da alma encontrava em Deus seu santuário. No burburi
nho do mundo, se não pudesse ficar a sós com Deus como um
lugar de refúgio, o homem de Deus podia ter consigo o Senhor
como seu escudo, e por esse meio ele podia precaver-se das fle
chas peçonhentas da má insinuação. Este é um versículo experi
mental, e testifica daquilo que o escritor sabia de seu próprio co
nhecimento pessoal: não podia fugir de seus próprios pensamen
tos, nem escapar deles, enquanto não fugisse para seu Deus e ali
encontrasse livramento. Observe que ele não fala da Palavra de
Deus como sendo sua dupla defesa, mas atribui sua proteção a
Deus mesmo: “Tu és meu refúgio e meu escudo.” Quando nos
virmos cercados por assaltos espirituais sutis, tais como aqueles
que surgem dos pensamentos vãos, faremos bem em fugir direta
mente para a presença real de nosso Senhor, escondendo-nos em
seu poder e amor. O Deus verdadeiro, realmente compreendido, é
a morte da falsidade. Feliz quem pode realmente dizer ao Deus
Triúno: “Tu és meu refúgio e meu escudo!” Ele é quem contempla
Deus dentro daquele glorioso aspecto pactuai que assegura ao que
contempla a mais forte consolação.
Eu espero em tua palavra. Ao máximo que ele pudesse, visto
que a experimentava e a provava. Aquilo que foi verdadeiro no
passado, podia ser objeto de confiança para o futuro. O salmista
procurava proteção contra todo perigo, bem como a preservação
contra toda tentação, no Senhor que fora a torre de sua defesa em
toda ocasião. E fácil exercer esperança onde temos experimentado
o socorro. As vezes, quando lúgubres pensamentos nos afligem, a
única coisa que podemos fazer é esperar; e, felizmente, a Palavra
de Deus sempre põe diante de nós objetos de esperança, razões
para esperança e acenos da esperança, em abundância tal que ela
se torna a própria esfera e suporte da esperança, e assim os pensa
mentos timoratos e tentadores são vencidos. Em meio aos aborre -
• 164 •
Y X P Q S IÇ Ã O \f>
• 171 •
(w. 121-128)
Tenho exercido juízo e justiça; não me abandones ao poder de meus
opressores. Sê o fiador de teu servo para o bem; não deixes que os
soberbos me oprimam. Meus olhos desfalecem por tua salvação e pela
palavra de tua justiça. Trata teu servo consoante tua misericórdia, e
ensina-me teus estatutos. Eu sou teu servo; dá-me entendimento, para
eu discernir teus testemunhos, fá é tempo, ó Senhor, de agires; pois eles
têm invalidado tua lei. Por isso amo teus mandamentos mais que o ouro,
sim, mais que o ouro depurado. Por isso estimo todos teus preceitos con
cernentes a todas as coisas que são retas; e odeio todo caminho falso.
Nesta oitava o salmista, antes de tudo, implora ao Senhor que
interfira em seu favor: solicita o juízo do grande Rei, ainda quan
do ele mesmo distribuía justiça entre seu povo. Então declara seu
contentamento sincero e irrestrito com todos os mandamentos e
preceitos do Senhor, e roga-lhe que defenda sua própria lei. Es
creve do ponto de vista de sua experiência oficial. Em nossa posi
ção pública, tanto quanto em nossa posição privada, a Palavra de
Deus é extremamente preciosa.
[v. 121]
Tenho exercido juízo e justiça; não me abandones ao poder de meus
opressores.
Tenho exercido juízo e justiça. Isso era algo muito importante
para um governante oriental dizer naquele tempo; pois a maioria
desses déspotas se preocupava mais com lucro do que com justiça.
Alguns deles negligenciavam totalmente seu dever, e o juízo não
estava de forma alguma em sua cogitação, preferindo seus deleites
a seus deveres; e a maioria deles vendia seus juízos a quem pagas
se mais, aceitando subornos ou levando em conta a posição social
• 172 •
IM P O S IÇ Ã O 16
• 180 •
P X P Q 5 IÇ Â Q 17
(w. 129-136)
Maravilhosos são teus testemunhos; por isso minha alma os guarda. A
entrada de tuas palavras produz luz, produz entendimento nos símpli-
ces. Abri minha boca, e suspirei; pois tenho saudade de teus manda
mentos. Olha para mim, e sê compassivo para comigo, como costumas
fazer com os que amam teu nome. Ordena meus passos em tua pala
vra; e que a iniqüidade não exerça nenhum domínio sobre mim. Livra-
me da opressão do homem; assim guardarei teus preceitos. Faz que teu
rosto resplandeça sobre teu servo, e ensina-me teus estatutos. Rios de
águas correm de meus olhos, porque não guardam tua lei.
[v. 129]
Maravilhosos são teus testemunhos; por isso minha alma os guarda.
Todos os versículos desta seção começam com a décima séti
ma letra do alfabeto hebraico; cada versículo, porém, com uma
palavra diferente. Esta décima sétima letra é o P. A seção é precio
sa, prática, proveitosa, poderosa. Oremos por uma bênção em prol
de sua leitura.
Maravilhosos são teus testemunhos. Cheios de maravilhosas
revelações, mandamentos e promessas. Maravilhosos em sua natu
reza, isentos de todo erro e, portando, em seu âmago esmagadora
auto-evidência de sua veracidade; maravilhosos em seus efeitos, ins
truindo, enobrecendo, fortalecendo e confortando a alma. Jesus, o
Verbo Eterno, é chamado Maravilhoso, e todas as palavras pronun
ciadas por Deus são maravilhosas em sua intensidade. Os que as
conhecem ainda mais se extasiam diante delas. E maravilho que
Deus tenha dado testemunho a todos os homens transgressores; e
ainda mais maravilhoso é que seu testemunho seja de um caráter
tão celestial, tão límpido, tão pleno, tão gracioso, tão poderoso.
• 181 •
S a lm o 11^
[v. 132]
Olha para mim e sê compassivo para comigo, como costumas ser para
com os que amam teu nome.
Olha para mim. Uma pessoa piedosa não pode viver sem ora
ção. Nos versículos anteriores, ele expressou seu amor à Palavra
de Deus; aqui, porém, ele está uma vez mais de joelhos. Esta ora
ção é especialmente breve, mas profundamente enérgica e solene:
“Olha para mim.” Enquanto ficava com a boca aberta, respirando
com dificuldade pelos mandamentos, implorava ao Senhor que
olhasse para ele e permitisse que sua condição e seus suspiros inex
primíveis o defendessem. Ele deseja ser conhecido de Deus e dia
riamente observado por ele. Deseja também ser favorecido com o
divino sorriso que se acha incluso na palavra ‘olha’. Se um olhar
nosso para Deus possui em si eficácia salvífica, o que não espera
ríamos nós de um olhar divino para nósll
E sê compassivo para comigo. O olhar de Cristo para Pedro
foi de compaixão, e todos os olhares do Pai celestial são igualmen
te compassivos. Se nos olhasse com estrita justiça, não suportarí
amos seu olhar; porém nos olhando com clemência, ele nos poupa
e nos abençoa. Se Deus nos olha e nos vê suspirantes, ele não
deixa de exercer sua compaixão em nosso favor.
Como costumas ser para com os que amam teu nome. Olha
para mim como olhas para os que te amam; tem misericórdia de
mim como costumas ter dos que verdadeiramente te servem. Há
uma prática e costume que Deus observa em relação aos que o
amam, e Davi cria poder experimentá-los. Seu desejo é que o Se
nhor não o trate nem melhor nem pior do que costumava tratar
seus santos —pior que isso, ele não se salvaria; melhor, seria im
possível. Com efeito ele ora: “Eu sou teu servo; trata-me como
tratas teus servos. Eu sou teu filho; trata-me como tratas o restan
te de teus filhos.” Especialmente óbvio à luz do contexto, ele dese
java uma entrada tal da Palavra, e um discernimento tão nítido
dela, como Deus costumeiramente dá aos seus, segundo sua pro
messa: “Todos teus filhos serão ensinados pelo Senhor.”
Leitor, você ama o nome do Senhor? Seu caráter é nobilíssimo
• 184 •
H X P O S IÇ Ã O 17
vV
• i88 ■
X P Q 5 IÇ Â Q 13
(w. 137-144)
Tu és justo, ó Senhor, e retos são teus juízos. Teus testemunhos que
ordenaste são justos e fidelíssimos. Meu zelo me tem consumido, por
que meus inimigos se esqueceram de tuas palavras. Tua palavra épu
ríssima; por isso teu servo a ama. Eu sou pequeno e desprezado; toda
via não me esqueço de teus preceitos. Tua justiça é uma justiça eterna,
e tua lei é a verdade. Aflição e angústia têm se apoderado de mim;
todavia teus mandamentos são meu deleite. A justiça de teus testemu
nhos é eterna; dá-me entendimento e eu viverei.
Esta passagem trata da justiça perfeita de jeová e de sua pala
vra, e expressa as lutas de uma alma santa no que respeita a essa
justiça. A letra inicial com que cada versículo começa tem um som
que lembra o leitor hebreu da palavra equivalente a justiça. A nota-
chave desta seção é justiça. Oh! pela graça, deleitemo-nos na justiça!
[v. 137]
Tu és Justo, ó Senhor, e retos são teus juízos.
Tu és justo, ó Senhor. O salmista não tem usado com muita
freqüência o título Jeová nesta vasta composição. Todo o Salmo
revela que ele era um homem profundamente religioso, plenamente
familiarizado com as coisas de Deus; e tais pessoas nunca usam o
santo nome de Deus displicent^mente, nem ainda o usam com tanta
freqüência em comparação aos prudentes e aos ímpios. Neste caso,
a familiaridade gera reverência. Aqui ele usa o sacro nome em ado
ração. Ele louva a Deus atribuindo-lhe justiça perfeita. Deus é sem
pre reto, e ele é sempre ativamente reto, ou, sejaJusto. Esta qualida
de está arraigada em nossa própria idéia de Deus. Não podemos ima
ginar um Deus que fosse injusto. Louvemo-lo atribuindo-lhe justiça,
ainda quando seus caminhos nos forem dolorosos à carne e sangue.
• 189 •
S a lm o 115»
• 195 •
XPQ 51Ç Â Q
(w. 145-152)
Clamei com todo meu coração: ouve, ó Senhor, e guardarei teus esta
tutos. Clamei a ti: salva-me, e guardarei teus testemunhos. Antecipei o
alvorecer do dia, e clamei; esperei em tua palavra. Meus olhos anteci
pam as vigílias da noite para que eu possa meditar em tua palavra.
Ouve minha voz segundo tua benignidade; vivifica-me, ó Senhor, se
gundo teu juízo. Aproximam-se os que seguem após o mal; andam
longe de tua lei. Tu estás perto, ó Senhor, e todos teus mandamentos
são verazes. A luz de teus testemunhos tenho conhecido que desde a
antigüidade tu os fundaste para sempre.
Esta seção é dedicada às memórias de oração. O salmista des
creve o tempo e o método de sua súplica, e roga que Deus o liberte
de suas tribulações. Ele que tem vivido com Deus de maneira tão
íntima, certamente o achará na fornalha. Se realmente clamar
mos, certamente seremos ouvidos. Respostas adiadas podem le
var-nos a oportunidades; mas é preciso que não temamos os re
sultados últimos, uma vez que as promessas de Deus não são in
certas, mas estão “fundadas para sempre”. A passagem como um
todo nos revela: como ele orava (v, 145); pelo quê orava (v. 146);
quando orava (v. 147); quanto tempo orava (v. 148); o que pedia
(v. 149); o que acontecia (v. 151); como foi salvo (v. 150); qual
foi seu testemunho sobre toda a questão (v. 152). Que o Senhor
abençoe nossas meditações sobre esta instrutiva passagem!
[v. 145]
Clamei com todo meu coração; ouve-me, ó Senhor, e guardarei teus
estatutos.
Clamei com todo meu coração. Sua oração era sincera, quei
xosa, dolorosa, uma expressão natural, como que provinda de uma
• 196 •
F X P O S IÇ Ã O
vesse livre para praticar sua religião; livre para cumprir cada orde
nança da lei; livre para servir o Senhor.
Note bem que uma santa resolução vai bem com uma súplica
que importuna. Davi está determinado a ser santo; todo seu cora
ção acompanha essa resolução, bem como suas orações. Ele guar
dará os estatutos de Deus em suas meditações, em suas afeições e
em suas ações. Ele não negligenciará voluntariamente, nem es
pontaneamente violará qualquer uma das leis divinas.
[v. 146]
Clamei a ti: salva-me, e guardarei teus testemunhos.
Clamei a ti. Novamente menciona que sua oração se direcio
nava exclusivamente a Deus. A sentença implica que ele orava com
veemência e com muita freqüência; e que se tornara um dos mai
ores elementos de sua vida o costume de clamar a Deus.
Salva-me. Esta era sua oração; ninguém, senão o Senhor, po
dia salvá-lo; ao Senhor ele clamou: Salva-me dos perigos que me
cercam; dos inimigos que me perseguem; das tentações que me
sitiam; dos pecados que me acusam.
Não multiplicava palavras, mas simplesmente clamava: “Sal
va-me.” O ser humano nunca usa excesso de palavras quando se
vê dominado por forte emoção. Davi não multiplica os objetivos;
simplesmente solicitava que fosse salvo. O ser humano raramente
é prolixo quando tem em mente uma necessidade específica.
E guardarei teus testemunhos. Este era seu grande objetivo
ao desejar a salvação: para que fosse capacitado a prosseguir numa
vida íntegra de obediência a Deus, bem como para que fosse capaz
de crer no testemunho de Deus e ele mesmo fosse uma testemu
nha de Deus. E muito importante quando os homens buscam a
salvação por um fim tão elevado. Ele não pede para ser libertado
com o fim de pecar impunemente; seu clamor é para que fosse
libertado do próprio pecado. Comprometera-se a guardar os esta
tutos ou leis de Deus; aqui resolve guardar os testemunhos ou
doutrinas de Deus e assim ser íntegro de mente e puro de mãos. A
salvação produz todas essas coisas boas em seu séquito. Davi não
• 198 .
E x p o s iç ã o \$
• 204 •
p XPQ S1ÇÂQ 20
(w. 153-160)
Considera minha aflição e livra-me; pois não me esqueci de tua lei.
Pleiteia minha causa e livra-me; vivifica-me segundo tua palavra. A
salvação está longe dos perversos, porque não buscam teus estatutos.
Imensuráveis, ó Senhor, são tuas ternas misericórdias; vivifica-me se
gundo teus juízos. Muitos são meus perseguidores e meus inimigos;
todavia não me desvio de teus testemunhos. Vi os transgressores, e
fiquei angustiado, porque eles não guardavam tua palavra. Considera
como amo teus preceitos; vivifica-me, ó Senhor; segundo tua benigni
dade. Tua palavra é verdadeira desde o princípio; e cada um de teus
justos juízos dura para sempre.
Nesta seção, o salmista parece chegar ainda mais perto de Deus
em oração, declarando seu problema e invocando o divino socor
ro com muito mais ousadia e expectativa. E uma passagem de uma
causa em juízo, e sua palavra-chave é ‘considera’. Com muita ousa
dia, ele pleiteia sua íntima união com a causa do Senhor como a
razão pela qual ele precisa de auxílio. O auxílio especial que ele
busca é a vivificação pessoal, pela qual ele clama ao Senhor vezes
e mais vezes.
[v. 153]
Considera minha aflição e livra-me; porque não me esqueço de tua lei.
Considera minha aflição e livra-me. O escritor tem uma boa
causa, ainda que a mesma lhe seja dolorosa, e ele está pronto, aliás
ansioso, a submetê-la ao divino Arbitro. Seus problemas sãojus-
tos, e ele está pronto a pô-los diante da suprema corte. Sua atitude
é a de alguém que se sente seguro diante do trono. Todavia, não se
vê impaciência; ele não solicita uma ação rápida, e, sim, que haja
consideração. De fato ele clama: “Olha para minha tristeza e vê se
• 205 •
S a lm o llp
agora para que eu não volte para o mundo dos mortos! Vivifica-
me para que eu possa sobreviver aos golpes de meus inimigos, à
debilidade de minha fé e ao desfalecimento procedente de minha
tristeza. Desta vez ele não diz: “Vivifica-me segundo teus juízos”,
mas: “Vivifica-me, ó Senhor, segundo tua benignidade.” No amor
e mercê de Deus ele deposita sua máxima e final confiança. Eis a
grande arma que ele saca para debilitar o conflito; é seu último
argumento. Se não fosse bem sucedido, ele desfaleceria. Ele esti
vera por muito tempo batendo ante o portão da misericórdia; e
com esta súplica ele desfere seu mais pesado golpe. Ao cair em
grande pecado, esta fora sua súplica: “Tem misericórdia de mim, ó
Deus, segundo tua benignidade”; e agora que está em grande tri
bulação, ele dá asas ao mesmo raciocínio eficaz. Visto Deus ser
amor, ele nos dará vida; visto ser bondade, ele acenderá novamen
te a chama celestial dentro de nós.
[v. 160]
Tua palavra é verdadeira desde o princípio; e cada um de seus justos
juízos dura para sempre.
O dolente cantor termina esta seção da mesma forma que a
última: realçando a infalibilidade da verdade de Deus. E aconse
lhável que o leitor note bem a semelhança entre os versículos 144,
152 e este.
Tua palavra é verdadeira. Seja o que for que os transgresso
res digam, Deus é verdadeiro e verdadeira sua Palavra. Os ímpios
são falsos, porém a Palavra de Deus é veraz. Eles nos acusam de
sermos falsos, porém nosso consolo está no fato de que a Palavra
de Deus nos purificará.
Desde o princípio. A Palavra de Deus tem sido verdadeira desde
o primeiro momento em que ela foi verbalizada; verdadeira ao longo
de toda a história; verdadeira para nós desde o instante em que
cremos nela. Aliás, ela nos é verdadeira antes que fôssemos verda
deiros para ela. Alguns lêem: “Tua palavra é verdadeira desde a
cabeça”: verdadeira como um todo, verdadeira de alto a baixo. A
experiência ensinara a Davi esta lição; e a experiência nos está
ensinando a mesma coisa. As Escrituras são tão verdadeiras em
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(w. 161-168)
Príncipes me perseguiram sem causa; meu coração, porém, nutre te
mor por tua palavra. Regozijo-me em tua palavra, como alguém que
acha um grande despojo. Odeio e aborreço a mentira; amo, porém,
tua lei. Sete vezes ao dia eu te louvo por causa de teus justos juízos.
Grande paz desfrutam aqueles que amam tua lei; e nada os ofenderá.
Tenho esperado, ó Senhor, em tua salvação, e tenho cumprido teus
mandamentos. Minha alma tem guardado teus testemunhos; e os amo
extremamente. Tenho guardado teus preceitos e teus testemunhos, por
que todos meus caminhos estão diante de ti.
Estamos caminhando para o final. O pulso do Salmo bate com
mais rapidez do que o costumeiro; as sentenças são mais curtas; o
sentido, mais vívido; os acordes, mais cheios e profundos. O vete
rano de mil batalhas, o recipiente de dez mil misericórdias, enu
mera suas experiências e uma vez mais declara sua lealdade ao
Senhor e sua lei. Oh! que ao chegarmos ao final da vida terrena
sejamos capazes de falar como Davi falou ao encerrar sua vida ao
som de salmos! Não vangloriosamente, porém ousadamente, ele
se põe entre os servos obedientes do Senhor. Oh! que bom que a
consciência continue luminosa quando o sol da vida se põe!
[v. 161]
Príncipes me têm perseguido sem causa; meu coração, porém, nutre
temor por tua palavra.
Príncipes me têm perseguido sem causa. Essas pessoas deve
riam ter melhor conhecimento; deveriam sentir-se solidárias para
com alguém de sua própria estirpe. Um homem espera um julga
mento justo por parte de seus iguais. E ignóbil alguém sentir-se
prejudicado; pior ainda é que pessoas nobres ajam assim. Se a
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am, e tesouros dos quais não podiam partilhar. Ele podia dizer:
"Sem causa sou odiado e caçado por príncipes:
Todavia pus tua Palavra em meu coração.
Essa Palavra eu temo: essa Palavra eu retenho,
Ela me é mais preciosa Que montões de ouro apossados."
cia. Ele exaltava com sua voz a justiça do Juiz de toda a terra.
Enquanto ele meditava nos caminhos de Deus, um cântico brota
va de seus lábios. A vista dos príncipes opressores, e ao ouvir da
proliferação da falsidade a circundá-lo, ele sentia ainda mais forte
vontade de adorar e magnificar a Deus, o qual em todas as coisas
é verdade e justiça. Quando alguém nos calunia, ou de alguma
forma nos rouba o justo prêmio do louvor, isso deve constituir-
nos motivo para não cairmos na mesma conduta em relação a Deus,
o qual é muitíssimo mais digno de honra. Se louvarmos a Deus
quando formos perseguidos, nossa música lhe será muitíssimo mais
doce por causa de nossa constância em meio ao sofrimento. Se
nos mantivermos isentos de toda mentira, nosso canto será ainda
mais aceitável, visto que o mesmo emana de lábios honestos. Se
nunca bajularmos os homens, estaremos em melhor condição de
honrar ao Senhor. Porventura louvamos a Deus sete vezes ao dia?
Aliás, a pergunta precisa ser alterada: louvamo-lo pelo menos uma
vez em sete dias? O fraude deprimente, que priva o eternamente
Bendito da música desta esfera inferior!
A preeminente santidade das leis e dos atos de Jeová deveria
produzir em nós louvor contínuo. Felizes os santos que se deixam
governar por um justo Soberano que jamais erra! Cada amante da
justiça dirá em seu coração:
"Justas são tuas leis; eu diariamente te apresento
o sétuplo tributo de meu louvor.”
[v. 165]
Grande paz desfrutam aqueles que amam tua lei; e nada os ofenderá.
Grande paz desfrutam aqueles que amam tua lei. Que extra
ordinário versículo é este! Ele não trata daqueles que guardam
perfeitamente a lei - pois onde acharíamos tais pessoas? -, mas
daqueles que a amam, cujos corações e mãos são feitos para ajus
tar-se a seus preceitos e mandamentos. Tais pessoas estão sempre
se esforçando, de todo seu coração, para andar em obediência à
lei; e ainda que seja com freqüência perseguidas, todavia desfru
tam de paz, sim, de grande paz; pois aprenderam o segredo do
sangue que traz reconciliação, já experimentaram o poder do Es-
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(w. 169-176)
Que meu clamor, ó Senhor, chegue diante de ti; dá-me entendimento
segundo tua palavra. Que minha súplica chegue diante de ti; livra-me
segundo tua palavra. Meus lábios proclamarão louvores, quando me
tiveres ensinado teus estatutos. Minha língua falará de tua palavra;
porque todos teus mandamentos são justiça. Que tua mão me socorra;
porque tenho escolhido teus preceitos. Tenho suspirado, ó Senhor, por
tua salvação; e tua lei é meu deleite. Que minha alma viva, e ela te
louvará; e que teus juízos me ajudem. Tenho me desviado como uma
ovelha perdida; busca teu servo, porque não me esqueço de teus man
damentos.
O salmista está agora na última seção do Salmo, e suas peti
ções ganham ainda mais vigor e mais fervor; é como se tivesse
rompido o círculo íntimo da comunhão divina e se precipitado aos
pés do grande Deus cujo auxílio se põe a implorar. Essa proximi
dade gera a mais abjeta visão de si próprio e o leva a concluir o
Salmo, prostrando-se no pó, na mais profunda humilhação pesso
al, rogando que fosse buscado, à semelhança de uma ovelha perdida.
[v. 169]
Que meu clamor, ó Senhor, chegue diante de ti; dá-me compreensão
segundo tua palavra.
Que meu clamor, ó Senhor, chegue diante de ti. Ele está tre
mendamente temeroso de não ser ouvido. Está cônscio de que sua
oração em nada é melhor que o ‘clamor’ de um pobre filho, ou o
gemido de um animal ferido. Ele teme não fazer-se ouvir pelo Al
tíssimo; porém com muita ousadia ora para que possa chegar-se
diante de Deus, para que seja por ele ouvido, estar sob sua obser
vação e contemplado por sua aceitação. Aliás, ele avança mais e
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HXPQ51ÇAQ 22
[v. 172]
Minha língua falará de tua palavra; porque todos teus mandamentos
são justiça.
Minha língua falará de tua palavra. Assim que começou a can
tar, ele também começou a proclamar. As ternas misericórdias de
Deus são tais que podem ser ou proclamadas ou cantadas. Quando
a língua fala a Palavra de Deus, ela encontra um tema muitíssimo
frutífero. Tal linguagem será como uma árvore de vida, cujas folhas
são para a cura dos povos. Os homens se reunirão para ouvir tal
proclamação, e a entesourarão em seus corações. O que há de
pior em nós é o fato de que, em grande maioria, estamos satura
dos de nossas próprias palavras, e falamos muito pouco a Palavra
de Deus. Oh! se pudéssemos chegar à mesma resolução deste pie
doso salmista, e dizer doravante: “Minha língua proclamará tua
palavra!” Então romperíamos nosso pecaminoso silêncio; não mais
agiríamos covardemente e não mais seríamos timoratos; mas serí
amos genuínas testemunhas de Jesus. Não é só as obras de Deus
que temos de contar; temos também que falar sua Palavra. Pode
mos enaltecer sua verdade; sua sabedoria; sua riqueza; sua graça;
seu poder. E então podemos falar de tudo o que ele tem revelado,
de tudo o que tem prometido, de tudo o que tem ordenado e de
tudo que tem efetuado. O tema nos confere uma amplitude infini
ta de recursos; podemos falar dele para sempre; a história está
sendo sempre repetida, sem, porém, jamais chegar ao fim.
Porque todos teus mandamentos são justiça. A impressão
que Davi nos passa é que ele era principalmente afeiçoado da par
te preceptiva da Palavra de Deus; e concernente ao preceito, seu
principal deleite estava em sua pureza e excelência. Quando um
cristão pode falar assim de seu coração, este realmente se trans
forma em templo do Espírito Santo. Ele disse anteriormente (v.
138): “Teus testemunhos são justos”; aqui, porém, ele declara que
eles são a própria justiça. A lei de Deus é não só o padrão do certo,
mas é a essência da justiça. Isso o salmista afirma de cada um e de
todos os preceitos sem exceção. Seu sentimento era o de Paulo: “A
lei é santa, e o mandamento, santo, justo e bom.” Quando um
cristão possui uma opinião tão elevada dos mandamentos de Deus,
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S a lm o 115*
Busca teu servo. Ele era não como um cão que, de um modo
ou de outro, pode encontrar seu caminho de volta; mas era como
uma ovelha perdida, que quanto mais avança mais se extravia do
redil. Ele, porém, ainda era uma ovelha, e ovelha do Senhor, sua
propriedade e preciosa a seus olhos, e por isso esperava ser busca
do a fim de ser restaurado. Por mais distante pudesse ter vaguea
do, ele era ainda não só uma ovelha, mas também um ‘servo’ de
Deus, e portanto desejava estar novamente na casa de seu Dono e
uma vez mais ser honrado com os serviços de seu Senhor. Houve
ra ele sido apenas uma ovelha perdida, não teria orado para ser
buscado; sendo, porém, também um ‘servo’, estava apto a orar.
Ele clama: “busca teu servo”, e espera não só ser buscado, mas
também perdoado, aceito e recebido novamente no serviço graci
osamente prestado a seu Dono.
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T XPQ5IÇÂO 22
Preste atenção nesta confissão. Diversas vezes no Salmo Davi
defende sua própria inocência contra os acusadores obscenos; mas
quando chega à presença do Senhor seu Deus, ele se prontifica a
confessar suas próprias transgressões. Ele aqui resume não só seu
passado, mas ainda sua vida presente, sob a imagem de uma ove
lha que abandonara suas pastagens, afastara-se do rebanho, virara
as costas para o pastor e se embrenhara pelos desertos, onde se
tornara como que algo perdido. A ovelha bale, e Davi ora: “Busca
teu servo.”
Seu argumento é convincente: porque não me esqueci de teus
mandamentos. Eu conheço o certo, aprovo e admiro o certo. Ain
da mais: amo o certo e anelo pelo certo. Não posso viver satisfeito
por continuar em pecado; preciso ser restaurado nas veredas da
justiça. Tenho saudade de meu Deus; anelo pelas veredas da paz;
não me esqueço nem posso esquecer-me de teus mandamentos;
jamais deixo de saber que sempre sou mais feliz e mais seguro
quando escrupulosamente obedeço a tua lei e acho minha alegria
em agir assim.
Se a graça de Deus nos capacita a manter em nossos corações
a amável memória de seus mandamentos, ela seguramente ainda
nos restaurará à santidade prática. Uma pessoa não pode estar
irremediavelmente perdida, se seu coração ainda permanece em
Deus. Se ela extraviar-se em muitos aspectos, ainda assim, se nu
trir realmente em sua alma os mais íntimos desejos por Deus, ela
será encontrada outra vez e plenamente restaurada. Todavia, que
o leitor lembre-se do primeiro versículo do Salmo enquanto lê o
último: a maior bem-aventurança está não em ser restaurado de
nossa peregrinação, mas em sermos sustentados na vereda da vida
irrepreensíveis até o fim. Cabe-nos guardar nossa coroa ao longo
da jornada, jamais deixando a estrada do Rei pelos atalhos das
campinas virentes, nem por outra vereda florida de pecado. Possa
o Senhor sustentar-nos até o fim. Todavia, ainda então não estare
mos aptos a brasonar-nos com o fariseu, mas continuemos oran
do com o publicano: “O Deus, sê propício a mim pecador”; e com
o salmista: “Busca teu servo.”
Que a última oração de Davi neste Salmo seja a nossa, ao en-
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Salm o 11J
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NOSSAS OBRAS
C om entários de João Calvino
* Romanos
* 1 Corindos
♦ 2 Corindos
* Gálatas
* Efésios
♦ As Pastorais (Timóteo, Tito e Filemom)
♦ Hebreus
* Salmos - vol. 1
♦ Salmos - vol. 2
♦ Daniel —vol. 1
Outros Autores
» Salmo 1 1 9 -0 Alfabeto de Ouro de Spurgeon
♦ Servos e Versos e Vice-versa de Percília e Alvaro Almeida
Campos
♦ Inovações do Romanismo de Carlos Hastings Collette
♦ TULIP —Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das
Escrituras (2a edição) de Duane Edward Spencer
♦ Socorro! Sou Equipante de Acampamento de Norman
Wright - A.E.A.
♦ O Acampamento Cristão nos Dias de hoje de Lloyd Mattson
-A.E.A.
♦ O Caminho de Deus para a Santidade deHoratius Bonar
♦ O Livro da Vida de Valter Graciano Martins
Obras em Preparação
♦ Romanos (2a edição) de Jo ã o C alvin o
♦ EU CREIO no Pai, no Filho e no Espírito Santo de
Herm isten M a ia Pereira da Costa
♦ Salmos - vol. 3 de Jo ã o C alvino
» Daniel - vol. 2 de Jo ã o C alvino