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7.1. Introdução
O planejamento das atividades envolvidas com a cultura da cana-de-açúcar, desde o plantio até
sua colheita, é uma etapa extremamente importante na sua exploração econômica. O estudo deve
objetivar a análise de todos os componentes de produção, assim como aqueles envolvidos com os
custos de implantação. Esta análise deverá nortear a escolha de uma série de técnicas a serem
adotadas, insumos, máquinas e implementos, serviços, variedades, distribuição destas nos tipos de
solos a serem explorados, épocas de plantio, finalizando-se com a elaboração do próprio cronograma
físico-financeiro. Considerando-se a adubação e a nutrição da cana-de-açúcar dentro deste contexto,
pode-se dizer que sua eficiência no incremento da produtividade será tanto maior quanto melhor for o
ajuste dos fatores de produtividade (Vitti & Mazza, 2002).
A adubação, de maneira geral, pode ser definida pela necessidade nutricional da cultura
subtraindo os nutrientes fornecidos pelo solo multiplicado por um fator de eficiência de absorção (f), ou
seja, Adubação = (planta – solo) x fator (f). A quantidade de nutrientes a serem aplicados vai depender
exclusivamente dos nutrientes a serem fornecidos, das quantidades necessárias para um determinado
nível de produtividade e também da época e localização dos nutrientes. A necessidade nutricional da
cultura da cana-de-açúcar é definida realizando-se a avaliação do estoque de nutrientes disponíveis no
solo e pela eficiência da absorção. Para avaliação do estoque de nutrientes, são utilizadas as diagnoses
visual e foliar, assim como as análises do solo. Para complementação, pode-se utilizar as análises do
caldo da cana (Demattê, 2004).
1
Elaborado por: Godofredo César Vitti, Professor Titular Depto. Ciência do Solo, ESALQ-USP; Jairo Antônio Mazza,
Professor Dr. Depto. Ciência do Solo, ESALQ-USP; Thiago Aristides Quintino, Acadêmico em Engenharia Agronômica,
ESALQ-USP; Eng. Agro. Rafael Otto, Mestrando ESALQ-USP.
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O fator (f) caracteriza-se por ser fator de eficiência na absorção dos nutrientes aplicados via
fertilizantes minerais. Esse fator visa corrigir as perdas sofridas nos processos que ocorrem entre a
aplicação do fertilizante e a absorção dos nutrientes pelas plantas, perdas estas por erosão, lixiviação,
volatilização, desnitrificação biológica do nitrato e “fixação”.
- Erosão: ocorre arraste dos nutrientes pela água e pelo solo removido no processo erosivo, sendo as
perdas quantitativamente equivalentes para os macronutrientes primários, ou seja, N, P e K.
- Lixiviação: é a percolação dos elementos no perfil do solo para camadas mais profundas, “fugindo”
do sistema radicular, principalmente o NO3- e o K+ (em solos de baixa CTC).
- Fixação: é a indisponibilidade do nutriente, particularmente de fósforo, devido à sua interação com os
colóides, tirando-o da solução do solo, como, por exemplo, a precipitação pelo Al: AlOH 2PO4
(Variscita) e pelo Fe: FeOH2PO4 (Estrengita).
- Volatilização: é a perda química da amônia da uréia, principalmente quando se aplica este fertilizante
em superfície sobre a palhada de cana.
- Desnitrificação biológica do NO 3-: Ocorre devido à redução do NO 3-, quando da aplicação do nitrato
de amônio sobre a palhada em condições de excesso de umidade, resultando em formas voláteis do
nitrogênio.
- O que aplicar?
O primeiro passo no planejamento da adubação da cana-de-açúcar é saber quais elementos são
necessários ao desenvolvimento da cultura. Para o fornecimento via adubação, tem-se comprovado
cientificamente respostas aos macronutrientes primários e secundários, sendo eles nitrogênio, fósforo,
potássio, cálcio, magnésio e enxofre. Com relação aos micronutrientes, muito se tem discutido e as
respostas têm sido baixas ou nulas, porém há grande potencial de resposta ao boro, cobre e zinco (Vitti
& Mazza, 2002) e, em certos casos, ao manganês e molibdênio.
- Quanto aplicar?
A extração é a quantidade total de nutrientes que a planta exige para seu desenvolvimento
completo, enquanto a exportação é a quantidade de nutrientes que está contida no colmo e não volta
mais para o solo no processo de reciclagem de nutrientes através da mineralização da matéria orgânica.
As quantidades de nutrientes extraídos e exportados pela cultura da cana-de-açúcar estão
apresentadas nas tabelas 1 e 2. Ao analisar as tabelas, é importante observar que os dados de fósforo e
potássio estão expressos em P e K, correspondendo, respectivamente, à extração total de 43 kg de P 2O5
e de 210 kg de K2O para 100 t de colmos, bem como observar que a cana-de-açúcar requer quantidades
relativamente maiores de enxofre (S) em relação ao fósforo (P).
Tabela 1. Extração e exportação de macronutrientes para a produção de 100 t de colmos (Orlando F.º,
1993)
N P K Ca Mg S
Partes da planta
---------------------------------------- kg.100 t-1 ----------------------------------------
Colmos 83 11 78 47 33 26
Folhas 60 8 96 40 16 18
Total 143 19 174 87 49 44
Tabela 2. Extração e exportação de micronutrientes para a produção de 100 t de colmos (Orlando F.º,
1993)
B Cu Fe Mn Zn
Partes da planta -1
-------------------------------------- g.100 t ---------------------------------------
Colmos 149 234 1.393 1.052 369
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Folhas 86 105 5.525 1.420 223
Total 235 339 6.918 2.472 592
- Quando aplicar?
O aproveitamento efetivo da adubação está estritamente relacionado à época de aplicação e,
portanto, deve-se levar em consideração a fase da cultura (cana-planta ou cana-soca), o comportamento
do elemento no solo, a idade do canavial e a distribuição da precipitação (ano agrícola).
Assim, durante a instalação do canavial, o fertilizante é aplicado no sulco de plantio (baixas
doses de N e altas doses de P 2O5 e K2O) e em cobertura antes do fechamento do canavial,
principalmente o K2O quando a dose no sulco de plantio for maior que 100 a 120 kg.ha-1.
- Como aplicar?
Na cana-planta, o modo de aplicação dos fertilizantes se dá basicamente via solo, alterando
somente a época em que esta ocorre:
Pré-plantio em área total: calagem, gessagem, fosfatagem e adubação orgânica;
Sulco de plantio: N-P2O5-K2O, micronutrientes e adubação orgânica;
Cobertura com K2O: cana-de-ano-e-meio em solos arenosos e quando a recomendação exceder 100
kg.ha-1 de K2O, sendo aplicado antes do fechamento do canavial;
Cobertura com N: eventualmente em cana-planta de ano;
Adubação via tolete ou foliar: micronutrientes.
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Em anexo, fotos apresentam sintomas visuais de deficiência de nutrientes.
Para se realizar uma boa amostragem foliar, deve-se levar em consideração alguns aspectos,
como: uniformidade da área quanto ao tipo de solo, variedade, idade e tratos culturais; tipo de folha –
coletar a folha +3, ou seja, contando a partir do ápice da planta à base, é a primeira folha que estiver
com a lígula totalmente aberta “abraçando” o caule; parte da folha – utilizar os 20 cm centrais,
desprezando-se a nervura central; época – coletar a folha na fase de maior desenvolvimento vegetativo,
sendo em cana-planta aproximadamente aos 6 meses após germinação da cultura e em cana-soca 4
meses após o corte.
Na tabela 3 são apresentadas as faixas de teores adequados de nutrientes na cana-de-açúcar
segundo Raij & Cantarella, 1996.
B Cu Fe Mn Mo Zn
--------------------------------------------------- mg.kg-1 --------------------------------------------------
10-30 6-15 40-250 25-250 0,05-0,2 10-50
7.4.3. Análise do solo
O programa de recomendação de correção e adubação baseado na análise de solo, inicia com a
amostragem do solo, continua com a análise e interpretação dos resultados e termina com a utilização
correta dos insumos.
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Lembrar que 10 mg.dm-3 de P na análise de solo equivalem à reserva no solo de 46 kg.ha -1 de P2O5 necessários
para a produção de 100 t.ha-1 de colmos e que 1,0 mmolc.dm-3 de K equivale a 96 kg.ha-1 de K2O.
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base os conceitos já apresentados anteriormente, as práticas corretivas e conservacionistas visam
aumentar a eficiência da adubação mineral de fundação ou das soqueiras, ou seja, reduzir ao máximo o
valor de “f”.
7.5.1. Calagem
A reposição do cálcio e do magnésio, bem como a correção da acidez do solo, é realizada
principalmente pela prática de calagem, que pode ser efetuada com diferentes materiais corretivos.
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- Melhora a agregação do solo (efeito do Ca)
O cálcio é um agente floculante, tendo um efeito de agregação do solo, diminuindo seu
potencial de compactação, seja pelo seu efeito direto, ou indireto pelo aumento do sistema radicular e
da matéria orgânica (maior desenvolvimento do vegetal).
7.5.1.2. Fatores a serem considerados na prática da calagem
Vitti & Luz (2004) relatam que, para os objetivos da calagem serem alcançados, devem ser
levados em consideração vários aspectos, tais como:
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Tabela 7: Equilíbrio de bases no solo de acordo com a saturação de bases. Fonte: Vitti & Luz (2004)
V% K%T Mg%T Ca%T
40 3 9 28
50 4 11 35
60 5 15 40
70 5 16 48
V% = Saturação por bases do solo; K%T = porcentagem de potássio na CTC; Mg%T = porcentagem de
magnésio na CTC e Ca%T = porcentagem de cálcio na CTC.
- Relação Ca/Mg do solo: uma vez respeitado o teor de Mg, observa-se a relação Ca/Mg do solo. De
modo geral, procura-se manter a relação Ca/Mg de 3 a 5/1,0 no solo.
- Uso e quantidade de gesso: segundo Vitti & Malavolta (1985), quando do uso de gesso agrícola como
condicionador de subsolo, observar as doses utilizadas, dando preferência para calcários com maiores
teores de Mg, lembrando que a adição de 1,0 t.ha -1 de gesso, com cerca de 20% de umidade, fornece
cerca de 5 mmolc.dm-3 de Ca ou cerca de 270 kg.ha-1 de CaO.
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Onde:
NC = t/ha de calcário (0 a 40 cm)
V2 = Saturação por bases almejada nas camadas de 0-20 e 20-40 cm (60%)
Outra possibilidade no emprego do critério de saturação por bases é a utilização da dose normal
na camada de 0-20 cm somando-se a metade da dose recomendada para a camada de 20-40 cm,
conforme equação abaixo. Essa variação se deve principalmente à não possibilidade de incorporação do
calcário a maiores profundidades (0-30 cm).
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Em cana soca, quando a saturação por bases (V%) for inferior a 50%, reaplicar calcário somente
utilizando para cálculo os dados da análise de solo de 0 a 20 cm, porém empregando-se doses máximas
de 3,0 t.ha-1 de calcário.
7.5.2. Silicatagem
A proteção natural das plantas, atribuída ao silício, está baseada em dois tipos de resistência. O
primeiro tipo, denominado de Resistência Constitutiva, é aquele relacionado às barreiras de defesa
químicas e físicas (barreiras mecânicas) presentes antes do ataque de microorganismos patogênicos ou
pragas (Tsai et al., 2004). O segundo tipo se dá quando a planta ativa o mecanismo de defesa após o
contato com o patógeno (praga) potencial, e é denominado de Resistência Sistêmica Adquirida (RSA)
(Sticher et al., 1997).
Quando se fala em barreiras mecânicas, refere-se à deposição de silício nas células epidérmicas,
que ocasionam mudanças anatômicas, como engrossamento, maior grau de lignificação e/ou silificação.
Este acúmulo ou deposição do silício nas camadas epidérmicas pode ser visto como barreira física
efetiva na penetração das hifas (Epstein, 1994). Sendo assim, o papel do silício incorporado à parede
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celular é análogo ao da lignina, que é um componente estrutural resistente à compressão. Esta
incorporação ainda apresenta vantagens do ponto de vista energético, sendo elas: custo de 3,7%
daquele relativo à incorporação de lignina e a melhoria na arquitetura foliar, que favorece a
interceptação da luz solar e, conseqüentemente, a fotossíntese (Raven, 1983). Entretanto, este
mecanismo físico de proteção é realmente efetivo apenas em plantas que conseguem acumular
quantidades maiores de silício nos seus tecidos, como é o caso de gramíneas.
O mecanismo de Resistência Sistêmica Adquirida (RSA) implica na produção de um sinal a
partir do local de aplicação do indutor e sua posterior translocação para outras partes da planta,
impedindo uma infecção posterior do patógeno (Madamanchi e Kuc, 1991).
O silício age no tecido da planta hospedeira, afetando sinais entre este e o patógeno. Estes sinais
resultam em ativação mais rápida e extensiva do mecanismo de defesa da planta (Samuels et al., 1991b;
Chirif et al., 1992 a, b; Cherif et al.), ativando também genes que induzem à produção de fitoalexinas
(Cherif et al.,1994 a; Belanger et al.,1995). A partir desta ocorre então o acúmulo de compostos
fenólicos e Si nos sítios de infecção, cuja causa ainda não está esclarecida.
As escórias utilizadas na agricultura liberam cálcio e/ou magnésio em solução, além de ânions
(SiO3-2) que apresentam a mesma valência que o carbonato (CO 3-2) proveniente do calcário. Assim,
percebe-se que a utilização de escórias apresenta o mesmo potencial corretivo da acidez do solo que o
calcário.
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De modo geral, a capacidade corretiva da acidez do solo das escórias é semelhante ao potencial
do calcário. Entretanto, é importante observar que esses dois tipos de corretivos diferem quanto à
superfície específica (área de contato) e quanto ao poder de neutralização (PN). O poder corretivo das
escórias pode ser superior, em função das características de suas partículas, que apresentam maior
superfície específica, e, teoricamente, maior reatividade. Porém, segundo Louzada (1987), quando se
aplica calcário e escória com granulometrias semelhantes (mesma reatividade - RE), as escórias são
pouco menos eficientes na elevação do pH do solo, sendo essas pequenas diferenças de eficiência
atribuídas ao seu valor neutralizante mais baixo.
Os critérios de recomendação para silicatagem seguem os mesmos utilizados para calagem,
conforme descritos anteriormente.
As características consideradas adequadas para uma fonte de Si ser eficiente no uso agrícola
são: alto conteúdo de Si-solúvel disponível para as plantas, boas propriedades físicas, facilidade para a
aplicação mecanizada, disponibilidade no mercado, relações e quantidades adequadas de cálcio (Ca) e
magnésio (Mg), ausência de potencial de contaminação do solo com metais pesados e baixo custo
(Korndörfer et al., 2004).
Existem muitas variações nos teores e solubilidade do Si das escórias de aciaria. Entretanto, as
escórias advindas da produção de aço inox são as que vêm apresentando as maiores concentrações de
Si na forma solúvel (Pereira 2004).
Algumas fontes de silício apresentam altos níveis de metais pesados, associados a sua origem
ou processamento. A elevada taxa necessária para suprir adequadamente as plantas com Si pode
resultar em aumento da concentração de metais pesados, a níveis tóxicos e inaceitáveis no solo. Em
alguns casos, os solos podem se tornar inúteis para uso na agricultura, devido à concentração de metais,
e pode ocorrer impossibilidade de remoção por algum método economicamente viável (Pereira 2004).
Entretanto, existem materiais derivados da indústria siderúrgica que apresentam baixos teores
de metais, podendo apresentar níveis inferiores aos de calcários comercializados (tabela 8). Isto é
possível devido principalmente à recuperação da parte metálica que contamina as escórias. Muitas
siderúrgicas já vêm tendo a preocupação de instalar em suas unidades industriais empresas para a
recuperação do aço, que no processo de separação acaba acompanhando a escória. No aço é que se
encontra a maior parte dos metais pesados que contaminam as escórias.
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7.5.3. Gessagem
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A calagem não tem sido eficiente para a correção da deficiência de cálcio em subsuperfície, em
tempo razoável, para o plano potencial de produtividade das culturas. Assim, a utilização de gesso
torna-se muito mais efetiva para o aumento dos teores de cálcio e na diminuição da saturação por
alumínio em profundidade, resultando em maior volume de solo explorado pelas raízes, permitindo às
plantas superar veranicos e utilizar com maior eficiência os nutrientes aplicados e existentes no solo.
Portanto, o uso do gesso agrícola (sulfato de cálcio) possibilita recondicionamento do subsolo,
que geralmente é pouco favorável às raízes, diminuindo a saturação por alumínio e aumentando os
teores de cálcio e enxofre.
Tabela 9. Provável composição química e garantias do gesso agrícola (Fonte: Vitti, 2000)
CaSO4.2H2O 96,50%
CaHPO4.2H2O 0,31%
[Ca3(PO4)2]3.CaF2 0,25%
Umidade livre 17%
CaO 26%
S 15%
P2O5 0,75%
SiO2 (insolúveis em ácidos) 1,26%
Fluoretos (F) 0,63%
R2O3 (Al2O3 + F2O3) 0,37%
A aplicação de 1,0 t/ha de gesso agrícola com 17% de umidade corresponde ao fornecimento de
5,0 mmolc.dm-3 de Ca para uma espessura de 20 cm de solo.
O gesso é recomendado como condicionador de sub-superfície quando a amostra de solo na
profundidade de 20 a 40cm apresentar as seguintes situações: Ca < 5 mmol c . dm-3, ou Al > 5 mmolc .
dm-3, ou saturação por alumínio (m%) > 30 ou saturação por bases (V%) < 35. Considerando que a
utilização de 1,0 t.ha-1 de gesso com 20% de umidade eleva o teor de Ca do solo em 5,0 mmol c.dm-3 ,
sua recomendação pode ser feita conforme a seguinte equação:
NG = (V2-V1) x CTC
500
Onde:
NG = Necessidade de Gesso Agrícola (t.ha-1)
V2 = Saturação por bases almejada na camada de 20-40 cm
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V1 = Saturação por bases atual do solo na camada de 20-40 cm (V1<35%)
CTC = Capacidade de Troca de Cátions do solo na camada de 20-40 cm em mmolc.dm-3
Tabela 10. Ação do gesso na saturação por bases do solo e na produtividade de soqueiras de cana, cv.
SP 70-1143, em solo arenoso distrófico. Destilaria Galo Bravo, Ribeirão Preto, SP (Demattê, 1986)
V* 2º corte 3º corte 4º corte Média
Profundidade
Tratamentos (%) 09/84 09/85 07/86
(cm)
------------Produtividade (t.ha-1) ------------
0-20 60 97 106 59 87
NK 20-40 25
40-60 15
0-20 60 99 114 60 91
NK + 0,5 t/ha 20-40 58
40-60 18
0-20 60 96 113 65 97
NK + 1,0 t/ha 20-40 48
40-60 25
0-20 64 105 125 71 101
NK + 2,0 t/ha 20-40 45
40-60 23
Análises feitas três anos após instalações.
Morelli et al. (1987) estudaram a aplicação de doses de calcário e gesso no plantio de cana (SP
70-1143), em solos de baixa fertilidade na Usina Barra Grande, Lençóis Paulista-SP, classificados
como Latossolo Vermelho-Escuro distrófico, com teor de argila entre 15 e 20% (CTC = 30 mmolc.dm -
3
). A produtividade média de cana-de-açúcar do 1º ao 4º corte está apresentada na tabela 11.
Tabela 11. Produtividade média de cana-de-açúcar (t/ha), do 1º ao 4º corte, com o uso de calcário e
gesso agrícola (Morelli et al., 1992
Doses de calcário Doses de gesso (t.ha-1)
t/ha 0 2 4
1º. Corte
0 121 125 128
4 130 138 133
2º. Corte
0 98 103 109
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4 110 119 118
3º. Corte
0 88 93 96
4 97 109 102
4º. Corte
0 88 100 110
4 113 125 116
Analisando-se os dados desta tabela observa-se que as maiores produções sempre foram obtidas
nos tratamentos com 4,0 t.ha-1 de calcário e 2,0 t.ha-1 de gesso. Amostragens de raízes em trincheiras,
aos 27 meses após a aplicação dos tratamentos, indicaram maior desenvolvimento do sistema radicular
a maiores profundidades, quando do uso do gesso.
Em áreas que não necessitam da prática da gessagem, porém que apresentam baixos teores de S,
principalmente em subsuperfície (20-40 ou 25-50 cm), ou seja, valores menores do que 15 mg.dm -3,
pode-se utilizar de 0,75 a 1,0 t.ha-1 de gesso (100 a 150 kg.ha-1 de S), dosagem esta que permite
aplicação mais uniforme e possibilita o fornecimento de enxofre para cerca de 2 a 3 safras agrícolas.
Nas áreas canavieiras, o gesso agrícola também pode ser utilizado para recuperação de áreas
denominadas de “sacrifício”, isto é, áreas utilizadas como despejo de vinhaça e apresentando, portanto,
excesso de potássio (K). A aplicação do gesso irá formar o par iônico KSO 4-, que é móvel no perfil do
solo. A aplicação e incorporação do gesso, com posterior irrigação, torna o solo agricultável, através
da substituição do K adsorvido à argila pelo Ca do insumo, conforme esquema abaixo:
Assim, em solos com K%T (Saturação por potássio na CTC) acima de 7%, recomenda-se
aplicar em média 2,0 t/ha de gesso.
Os melhores equipamentos para a aplicação do gesso são do tipo dosador volumétrico tipo
esteira com distribuidor centrífugo, preferencialmente, de dois discos.
O preço do gesso agrícola é muito dependente do frete e, portanto, para compra deve-se
escolher um pólo de distribuição o mais próximo possível da propriedade. Os pólos de distribuição do
gesso agrícola no Brasil são: Catalão-GO, Uberaba-MG, Cubatão-SP, Jacupiranga-SP e Imbituba-SC.
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7.5.4. Fosfatagem
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ígneos são resultado da solidificação do magma de erupções vulcânica; já os metamórficos podem ter
ambas origens, porém sofreram alguma alteração química.
A utilização de fosfato natural reativo (hiperfosfato/fosfato sedimentar) apresenta tendência de
expansão, principalmente na prática agrícola de fosfatagem, devido ao seu menor custo por unidade de
fósforo comparativamente às fontes solúveis, e também em razão da liberação gradual desse nutriente
pelo fertilizante, levando-se em consideração para cálculo da dose o teor de P 2O5 total do mesmo. A
eficiência dos fosfatos naturais também é influenciada pela forma de aplicação do fertilizante. A
dissolução do fosfato natural depende da superfície de contato com o solo; portanto, sua taxa de
dissolução é aumentada se o fertilizante for aplicado em área total e incorporado (Alston & Chin, 1974;
Raij, 1991, citados por Horowitz & Meurer, 2004). A eficiência da adubação fosfatada também está
relacionada com a capacidade de absorção de P do solo pela espécie cultivada. É provável que o ciclo
da espécie vegetal influencie na eficiência dos fosfatos naturais reativos. Culturas com ciclos mais
longos podem se beneficiar da aplicação destes fosfatos.
Na tabela 12 estão apresentadas as composições de fontes de P 2O5 mais comumente utilizadas
na prática da fosfatagem.
Essa prática deve ser adotada em solos arenosos (teor de argila < 30%), que apresentam menor
fixação de P, e com teores baixos deste nutriente (P resina < 15 mg.dm -3), sendo utilizado em área total,
após a calagem e a gessagem, antes da gradagem de nivelamento (incorporação superficial).
A recomendação base para o uso da fosfatagem seguindo os parâmetros acima deve ser
realizada na dose de 5 kg de P2O5 por porcentagem de argila do solo. Dessa forma, recomenda-se de
100 (20% de argila) a 150 (30% de argila) kg de P2O5.ha-1 (Vitti & Mazza, 2002).
Em relação às fontes citadas, é importante salientar que os Hiperfosfatos e o Superfosfato
Triplo, fontes isentas de enxofre, devem ser utilizados de preferência quando se pratica a gessagem ou
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quando se utilizam resíduos orgânicos, devido à alta necessidade de enxofre pela cultura da cana-de-
açúcar.
As principais conseqüências da fosfatagem são: maiores volumes de P em contato com o solo
(maior fixação), maior volume de solo explorado pelas raízes, maior absorção de água e de nutrientes,
melhor convivência com pragas do solo e aumento de produtividade.
Resultados da aplicação de doses e localização de P na cana-de-açúcar podem ser observados na
tabela 13.
Tabela 13. Produções de colmos de cana-de-açúcar obtidas com a utilização de P 2O5 em área total e no sulco,
em solos arenosos (Morelli et al., 1992)
P2O5 aplicado a lanço P2O5 aplicado dentro do sulco1
kg/ha 0 100 200 300
-1
--------------------------------------t.ha -----------------------------------
----------------------------------Cana-planta------------------------------
0 69 101 104 128
200 148 169 172 171
400 158 169 173 173
-----------------------------------------1ª soca -------------------------------------
0 45 64 73 77
200 92 97 100 101
400 105 106 109 112
1
Fonte de P2O5: Yoorin BZ (Termofosfato), 16,5% de P 2O5 solúvel em ácido cítrico a 2% na relação 1:100, 20%
de Ca e 9% de Mg.
23
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nutrientes e água devidas a fungos micorrízicos, até a melhoria das condições físicas do solo pela
proliferação de minhocas.
Outro efeito importante exercido por determinadas espécies utilizadas como adubos verdes é no
controle de nematóides. Resck et al. (1982) observaram que alguns adubos verdes diminuíram
drasticamente a população de nematóides.
Mascarenhas et al,(1994) estudaram um sistema de sucessão de culturas, com ou sem aplicação
de nitrogênio mineral, envolvendo um único cultivo das leguminosas Crotalaria juncea, mucuna preta
e soja, e tratamentos sem leguminosas (pousio). Em seguida, a cana-de-açúcar foi plantada e foram
efetuados três cortes (tabela 14). Nos últimos cultivos, a produtividade de cana-de-açúcar após a
Mucuna preta e Crotalaria juncea foram semelhantes, porém superiores aos demais tratamentos. Na
média dos três cultivos de cana-de-açúcar as sucessões com Crotalaria juncea e mucuna preta
proporcionaram acréscimo de produtividade respectivos de 27 e 25 t.ha -1 de cana e 3,0 e 3,2 t.ha -1 de
açúcar, quando comparados com a testemunha sem adubo verde. Por outro lado, com a aplicação de N
houve somente aumento de 9,0 t.ha-1 de cana e 1,1 t.ha-1 de açúcar, comprovando que parte dos
benefícios (15 a 18 t.ha-1) que o pré-cultivo das leguminosas promove para a cultura da cana-de-açúcar
não se refere ao fornecimento de N, mas está relacionado a aspectos físicos conservacionistas e/ou
biológicos.
Tabela 14. Número de colmos, produção de colmos e de açúcar durante três anos em Sales Oliveira, SP, Brasil
Fonte: Mascarenhas et al. (1994)
Colmos Cana Açúcar
Nº ---------------------------- t.ha-1 -----------------------
Tratamentos
-------------------------------------------- 1984/85
-----------------------------------------
Tabela 15. Produção de matéria-verde e seca (em t.ha-1) e percentual de matéria seca das leguminosas
Fonte: Cáceres, 1994
Matéria Verde Matéria Seca Matéria Seca
Leguminosa
t.ha-1 %
C. juncea 22,5 a 7,1 a 31,7
C. spectabilis 21,6 a 4,2 c 19,7
Guandu 16,5 cd 5,5 b 33,0
Mucuna Preta 15,1 d 3,0 d 20,0
Mucuna anã 18,5 bc 3,9 c 20,9
Labe-labe 14,5 d 3,5 cd 24,1
Feijão-de-porco 21,0 ab 5,0 b 23,7
DMS Duncan 5% 3,0** 0,7 ** -
Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de
probabilidade.
Tabela 16. Concentração percentual de macronutrientes na matéria seca das leguminosas. Fonte:
Caceres, 1994
Leguninosas N P K Ca Mg S
C. juncea 3,31 0,26 1,43 0,75 0,41 0,23
C. spectabilis 2,70 0,21 2,25 1,50 0,37 0,18
Guandu 2,58 0,19 1,13 0,46 0,19 0,16
Mucuna preta 2,70 0,21 1,22 0,62 0,25 0,14
Mucuna anã 2,70 0,17 1,05 0,70 0,23 0,14
Labe-labe 2,70 0,25 1,39 0,65 0,26 0,23
25
Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
Feijão-de-porco 3,80 0,20 1,35 1,01 0,36 0,21
Tabela 18. Produtividade agrícola dos três cortes obtidos, em TCH e TPH. Fonte: Cáceres, 1994
1 Corte 2 Corte 3 Corte
Tratamento
TCH TPH TCH TPH TCH TPH
Pousio 118,5 b 16,73 d 84,2 b 12,55 b 64,4 ab 11,16 a
C. juncea 133,1 a 19,71 a 90,4 ab 13,69 ab 62,7 ab 10,50 a
C. spectabilis 133,9 a 19,19 ab 92,3 a 14,31 a 66,2 a 11,09 a
Guandu 126,6 ab 17,74 bcd 85,4 ab 13,28 ab 61,2 ab 10,50 a
Mucuna preta 119,7 b 17,22 cd 88,1 ab 13,50 ab 59,6 ab 10,08 a
Mucuna anã 126,0 ab 18,39 abc 87,8 ab 13,38 ab 58,4 b 9,92 a
Labe-labe 126,7 ab 18,72 ab 85,7 ab 13,32 ab 60,0 ab 10,05 a
Feijão-de-porco 126,2 ab 17,84 bcd 84,5 ab 13,03 ab 60,1 ab 10,22 a
DMS Duncan 5% 9,49 ** 1,46 ** 7,82 ns 1,47 ns 7,41 ns 1,34 ns
Médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de
probabilidade. TCH= toneladas de cana.ha-1; TPH= toneladas de pol.ha-1.
Segundo Cáceres (1994), pode-se concluir que a adubação verde teve efeito significativo sobre
a produtividade da cana-de-açúcar cultivada na seqüência, apenas no primeiro corte, sendo a C. juncea
e a C. spectabilis os melhores adubos verdes para esta cultura cultivada em solo de baixa fertilidade.
No segundo corte do canavial as diferenças entre tratamentos, apesar de não significativas
estatisticamente, foram inferiores e coerentes com as do primeiro corte. A adubação verde não mostrou
efeito sobre a produtividade dos tratamentos no terceiro corte.
26
Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
7.5.5.2. Recomendações para adubação verde e custos
- Crotalaria juncea
Originária da Índia, caracteriza-se como uma espécie com ampla adaptação às regiões tropicais.
As plantas são arbustivas, de crescimento ereto e determinado, produzem fibras e celulose de alta
qualidade, próprias para a indústria de papel e outros fins. Recomendada para adubação verde, é uma
das espécies leguminosas de mais rápido crescimento, 3,0 a 3,5 metros de altura. Atinge produtividades
em torno de 10 a 15 t.ha-1 de matéria seca e 500 a 1.000 kg.ha-1 de sementes.
O manejo desta espécie em adubação verde consiste em semeadura durante o período de
outubro e novembro, podendo ser realizada a lanço em área total (30kg.ha-1 de sementes, densidade de
60 sementes por m2) ou em linha com espaçamento de 0,5 m (25kg.ha-1 de sementes, densidade de 25
sementes por metro linear), sendo a profundidade de semeadura entre 2 e 3 cm. No florescimento
(cerca de 100 dias) deve-se proceder ao manejo da biomassa. Recomenda-se esperar no mínimo 90 dias
para o manejo da Crotalaria, para que haja melhor aproveitamento da biomassa em termos de
custo/benefício, ou seja, se o manejo for feito antes de 90 dias, a biomassa produzida poderá não
justificar a prática com este objetivo. Caso a área tenha sido submetida ao preparo de solo adequado
antes da implantação do adubo verde, pode-se realizar a operação de sulcação logo após o manejo da
Crotalaria, sendo este o manejo mais correto do ponto de vista conservacionista.
27
Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
Segundo Ishimura (2000), o fornecimento constante e efetivo de material orgânico para o solo
propicia o efeito positivo cumulativo de suprimento de nutrientes e benefícios físicos e biológicos,
considerando que, para isso, a origem e o tipo de resíduos orgânicos são importantes. Após a aplicação
do adubo orgânico, há o enriquecimento biológico do solo, passando por uma fase de intensa atividade
dos microorganismos, podendo ocorrer uma redução do nitrogênio disponível para a cultura, devido à
sua absorção pelos microorganismos para decompor o material. A intensidade da deficiência de
nitrogênio depende da relação C/N do material e da quantidade utilizada.
Os dois principais resíduos orgânicos prontamente disponíveis da cana-de-açúcar são a torta de
filtro e a vinhaça.
A torta, mais rica em P2O5 e CaO, é empregada principalmente em cana-planta-de-inverno
(região Centro-Sul), nas dosagens de 15 a 30 t.ha -1 (sulco) e 40 a 60 t.ha-1 (área total), substituindo
parcial ou totalmente a adubação fosfatada, dependendo da dose de P 2O5 recomendada. Além da torta e
vinhaça há também a possibilidade da elaboração de compostagem utilizando a torta de filtro em
mistura com bagaço, cinza de caldeira e palha de cana-crua. Pode ser citada como grande vantagem do
composto de torta de filtro com cinzas de caldeira a redução de umidade da mistura, que possibilita a
aplicação de doses mais uniformes do composto.
A vinhaça é empregada principalmente em cana-soca, fornecendo todo o K 2O e parte do N,
sendo este último complementado por adubos fluidos (aquamônia, uran, sulfuran) ou adubos sólidos
(uréia, nitrato de amônio ou sulfato de amônio).
Quando do uso do composto de torta de filtro com cinzas de caldeira, proceder à análise do
mesmo em termos de matéria úmida e considerar uma eficiência de 50% para N e P 2O5 e de 70% para
K2O no primeiro ano de aplicação, a fim de se determinar a dose complementar de adubação mineral.
Em função da distância da fonte e da área cultivada, deve-se considerar também a possibilidade
da utilização de resíduos de indústrias alimentícias, como o Ajifer, o qual pode ser utilizado como fonte
exclusiva de nitrogênio em cana-soca, aplicando-os isoladamente ou misturados ao cloreto de potássio.
A tabela 19 mostra a composição do resíduo Ajifer 2 e Ajifer 5, assim como suas densidades e
relações C/N.
Tabela 20. Dosagem de aplicação do resíduo Ajifer 5 em adubação de cana-soca e respectiva quantidade de N e
K2O adicionada. Fonte: Martins, J.P. (Informação pessoal)
Produções (t/ha) Quantidades (l.ha-1) kg.ha-1 N kg.ha-1K2O
< 70 2.000 90 18
70-90 2.300 103 21
>90 2.700 120 25
Tabela 21. Aplicação de 3.200 l.ha-1 de Ajifer 5 + 250 kg.ha-1 de KCl pó. FONTE: Martins (Informação pessoal)
N K2O
Produtos
--------------------------- kg.ha-1 ---------------------
Ajifer 5 145 30
KCl pó - 150
Ajifer 5 + KCl pó 145 180
Relação N/K2O 1,0/1,25
Tabela 22. Adubação mineral de plantio com base na análise de solo visando altas
produtividades
N P-resina P2O5 K K2O(2)
kg.ha-1 mg/dm-3 kg.ha-1 mmolc/dm3 kg.ha-1
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Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
0-6(1) 170 <0,7 170
7-15(2) 150 0,8-1,5 140
40 a 60
16-40 100 1,6-3,0 110
>40 70 3,1-5,0 80
>5,0 0
(1)
Em solos com teor de argila < 30% utilizar 100 a 150 kg de P 2O5.ha em área total, acrescidos de 100 kg de
-1
P2O5.ha-1 no sulco de plantio. (2) Em Areias Quartzosas (Neossolos Quartzarênicos) e Latossolos aplicar no
máximo de 100 a 120 kg de K2O.ha-1 no sulco de plantio, e o restante em cobertura, antes do fechamento do
canavial.
Tabela 24. Recomendação de adubação para cana-soca, baseada nas análises de solo
K (mmolc.dm-3) K2O (kg.ha-1)
< 1,5 150 – 180
1,6 – 3,0 110 – 140
> 3,0 80
A mudança do sistema de colheita de cana com prévia despalha a fogo para cana sem despalha a
fogo (crua) colhida mecanicamente é um processo irreversível, estando prevista na legislação do setor
sucroalcooleiro. Essa mudança representa vantagens para a conservação do solo, manutenção da
umidade e reciclagem de nutrientes, dentre outras. No entanto, implicará em maior dificuldade para
30
Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
aplicação dos fertilizantes, em razão da necessidade de incorporá-los durante o cultivo, e para a
recomposição da porosidade do solo devido ao tráfego agrícola.
Essa dificuldade é preocupante, já que a uréia é o fertilizante utilizado em maior quantidade
devido a sua economia, porém ampliando os riscos de perdas por volatilização, comparada às demais
fontes. Portanto, é indispensável que esse fertilizante seja aplicado em profundidade, utilizando
implementos que apresentem discos de corte acoplados, para proceder ao corte da palhada e dispor o
fertilizante no interior do solo, sendo suficiente o enterrio a 5 cm de profundidade para reduzir as
perdas em níveis que não ultrapassem 5%.
Quando a uréia for aplicada superficialmente em solos cobertos por palha, as perdas por
volatilização serão elevadas, atingindo níveis entre 50% e 94% (Wood, 1991 e Oliveira et al., 1997).
Tais resultados se originam da atividade da enzima urease na presença de umidade, altas temperaturas,
exposição à ação dos ventos e pela ausência de sítios de adsorção da amônia. O fenômeno pode ser
agravado em conseqüência da baixa capacidade de retenção do gás produzido, ou parcialmente
controlado pelas condições climáticas, como chuva e irrigação com vinhaça, as quais podem arrastar o
fertilizante em profundidade, diminuindo a volatilização, estimando-se que sejam suficientes, para
tanto, 15 mm de chuva após a adubação. A hidrólise da uréia não ocorre na falta de umidade,
entretanto, o orvalho e a ascensão da umidade do solo durante o período noturno são suficientes para
desencadear o processo.
Fontes de nitrogênio, como nitrato de amônio e sulfato de amônio, não estão sujeitas a perdas
significativas por volatilização da amônia; no entanto, qualquer uma delas, e inclusive a uréia, podem
sofrer perdas por desnitrificação, como conseqüência da diminuição da aeração (pela maior umidade),
combinada com os problemas físicos de compactação e na presença de compostos de carbono solúveis
(Cantarella, 1998).
A reciclagem de nutrientes imobilizados na palhada no sistema de cana crua é mais lento, com
exceção do potássio, considerando-se os macronutrientes primários, conforme indicam os dados da
tabela 25. Verifica-se que apenas 20% da matéria seca e 18% do N são mineralizados, enquanto a
totalidade do P e do S permanece inalterada após 12 meses do corte da cana-de-açúcar.
Tabela 25. Massa de matéria seca da palha de cana crua, quantidade de nutrientes e carboidratos
estruturais nas amostras realizadas em 1996 e na palha remanescente em 1997 (Oliveira et al.,
1999)
MS N P K Ca Mg S C
Ano
t/ha ----------------------------- kg.ha ----------------------------------
-1
Os dados contidos na tabela 25 indicam que o manejo do N no sistema de cana crua deve ser
modificado, em relação ao tradicionalmente adotado com despalha pelo fogo. As altas relações C/N,
C/P e C/S, iguais a 97, 947 e 695 na palha recém-colhida, e a 68, 552 e 455 na palha remanescente,
respectivamente, evidenciam que o N não está disponível para a cana-de-açúcar no período considerado
(Oliveira, et al., 1999). Portanto, a cultura provavelmente responderá à aplicação do nutriente e, nesse
caso, a escolha da fonte recairá sobre aquela que apresentar a melhor relação benefício/custo,
considerando a necessidade da sua incorporação com implementos apropriados.
Quanto ao K, analisando-se ainda a tabela 27, observa-se que houve liberação de 56 kg.ha-1, o
que correspondeu a 85% do inicialmente existente na palhada. Esse elemento não é constituinte de
nenhum composto existente na planta, está presente na forma iônica e sua saída da célula é facilitada
após o rompimento da membrana plasmática (Oliveira, 1999). Em virtude de sua alta reciclagem na
matéria seca da palhada, com conseqüente mobilização para o solo, provavelmente as doses de potássio
em adubação de soqueiras poderão ser reduzidas.
Da análise de tais implicações surge a possibilidade do incremento da utilização de fontes
nitrogenadas obtidas a partir das misturas das mesmas, como descrito a seguir:
a) Uran: adubo fluido obtido da mistura do nitrato de amônio com uréia: NH 4NO3 (44,3%) +
CO(NH2)2 (35,4%) + H2O (20,3%), apresentando 32% N (14% NH 2, 9% NH4 e 9% NO3) com
densidade de 1,33 g.cm-3;
b) Sulfuran: adubo fluido obtido da mistura de uran com sulfato de amônio, apresentando 20%
de N (8% NH2; 8% NH4; 4% NO3 e 4% S), com densidade de 1,26 g.cm-3;
c) Sulfonitrato de amônio: adubo sólido obtido da mistura de nitrato de amônio (76%) com
sulfato de amônio (21%) mais condicionador (3%), apresentando 5 a 6% de S e 28 a 29% de N;
d) Uréia + Sulfato de amônio: mistura que reduz a volatilização de NH 3 devido à menor
quantidade de uréia, bem como pelo efeito acidificante do sulfato de amônio. Outra vantagem é a
relação N/S, bem mais adequada para as culturas, que pode ser proporcionada pela mistura de 500 kg
de uréia com 500 kg de sulfato de amônio, originando a fórmula: 32-00-00 + 12.
Estas misturas apresentam menores perdas por volatilização e, combinadas com o fornecimento
de N e S (com exceção do uran), poderão aumentar a mineralização da palhada pelo abaixamento das
32
Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
relações C/N e C/S, bem como constituem fonte para o suprimento desses nutrientes para as soqueiras
de cana.
Em relação à adubação fosfatada de soqueira, as respostas à aplicação de P 2O5 se darão quando
na análise de solo as condições de acidez forem satisfatórias, isto é, V% > 50%, e quando os teores de
P no solo forem baixos (P-resina < 15 mg.dm-3).
Assim, sabendo-se que 10 mg.dm-3 de P equivalem a 46 kg.ha-1 de P2O5 na camada de 0-20 cm
(considerando a densidade do solo igual a 1,0) e que 100 t.ha -1 de colmos extraem cerca de 45 kg.ha-1
de P2O5, o não fornecimento de P levará a um esgotamento desse nutriente no solo, necessitando,
portanto, da reaplicação de dosagens médias de 30 a 35 kg.ha-1de P2O5.
33
Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
A dose de enxofre recomendada por corte ou safra, considerando os fatores nutricionais e de
perdas, é de aproximadamente 50 a 60 kg.ha-1, considerando também os teores médios deste nutriente
no solo.
Do ponto de vista prático, o fornecimento de S via formulação tem-se apresentado deficiente,
devido às baixas concentrações deste nutriente nas formulações comercias mais utilizadas.
Formulações com concentração de enxofre suficiente para atender à necessidade nutricional da cana-
de-açúcar, geralmente, apresentam baixa concentração de P e K, necessitando serem utilizadas em altas
dosagens, implicando-se em baixo rendimento da operação de aplicação.
7.5.10.1. Fatos
7.5.10.2. Mitos
a) Características gerais
O principal mito relacionado à adubação com micronutrientes em cana-de-açúcar é que não haja
respostas à sua utilização.
Torna-se importante discutir alguns dos motivos que podem propiciar que não haja respostas à
adubação com micronutrientes: (i) o canavial não tenha alcançado o máximo potencial produtivo,
havendo macronutrientes em quantidades insuficientes; (ii) o calcário utilizado nas práticas corretivas
pode conter micronutrientes em sua composição; (iii) a utilização de resíduos orgânicos (composto,
torta-de-filtro, vinhaça e outros materiais orgânicos) pode fornecer micronutrientes à cultura.
(i) Quando o canavial não alcançou o seu máximo potencial produtivo, seja pela correção inadequada
de pH, pela deficiência e desequilíbrio de bases trocáveis (Ca, Mg, K) e principalmente por quantidades
insuficientes de fósforo na instalação da cultura, a limitação por esses fatores, neste caso, torna-se mais
35
Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
restritiva ao desenvolvimento da cultura do que os micronutrientes. É o que foi explicado por Liebig,
com a Lei dos Mínimos, ou seja, a produtividade será determinada pelo fator de produção que estiver
mais limitado no sistema.
(ii) Presença de micronutrientes em corretivos: uma das hipóteses da não resposta de micronutrientes,
em alguns casos, é pela sua ocorrência nos calcários, principalmente nos de origem sedimentar. Sendo
assim, o fornecimento de micronutrientes já realizado não é dimensionado.
A seguir, são apresentadas a composição química de calcário e do gesso e a contaminação com
micronutrientes nos mesmos (tabelas 26 e 27).
(iii) Áreas onde se utilizam resíduos orgânicos, tais como vinhaça, torta-de-filtro, composto orgânico e
outros materiais orgânicos, contêm em sua grande maioria micronutrientes em sua composição,
conforme apresentado nas tabelas 28, 29 e 30.
36
Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
Tabela 28. Teor de micronutrientes contido na vinhaça (Usina Cerradinho, Catanduva-
SP)
Dose vinhaça (m3.ha-1)
100 200 300 Extração
Análise de Vinhaça
Micronutrientes fornecidos 100 t colmos
Micronutrient Teor (g.ha-1)
(g.ha-1)
e (g.m-3)
Boro 11,2 1120 2240 3360 235
Cobre 4,8 480 960 1440 339
Ferro 64,0 6400 12800 19200 7318
Manganês 5,2 520 1040 1560 2472
Zinco 13,2 1320 2640 3960 592
Tabela 29. Teor de micronutrientes contido em torta de filtro (Usina Rafard, Rafard-SP)
Parâmetro Teores
Densidade 0,68 g/cm3
Umidade total 73,83 %
Relação C/N 21/1
Dose de torta = 20 t
Extração
Análise da torta de filtro
Micronutrientes fornecidos 100 t colmos
Teor (g.ha-1)
Micronutriente (g.ha-1)
(mg.kg-1)
Boro 3 60 235
Cobre 11 220 339
Ferro 3498 69600 7318
Manganês 196 3920 2472
Zinco 33 660 592
Mineralizado Adsorvido
Matéria Orgânica Imobilizado Liberação Adsorvido na
e microorganismos fração coloidal
A forma de absorção dos micronutrientes mais importantes está expressa na tabela 31.
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Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
A disponibilidade de micronutrientes para as plantas (presença deste nutriente na solução do
solo) depende de vários fatores, conforme apresentado por Vitti & Trevisan, 2000.
a) Material de origem do solo
b) Reação do solo (pH)
c) Textura do solo
d) Aeração do solo (nos casos do Ferro, do Manganês e do Cobre)
e) Práticas culturais (calagem, adubação fosfatada, plantio direto)
f) Características genéticas da planta
g) Desbalanceamento entre cátions metálicos (Fe, Cu, Mn e Zn)
h) Altas produtividades (Lei do Mínimo).
Quanto ao material de origem e à textura, fatores não controlados pelo homem, tem-se que solos
originários de arenito e solos de textura grosseira apresentam maiores probabilidades de resposta a
micronutrientes, em relação, por exemplo, a solos originários de basalto e solos de textura mais fina
(maior poder tampão).
A influência da reação do solo na disponibilidade de micronutrientes está apresentada na figura 15.
Superfície da raiz
+4 -
Mn + e Mn+2
Insolúvel Solúvel
Observa-se que a disponibilidade dos micronutrientes depende de vários fatores, que podem
diminuir a eficiência de aproveitamento destes pelas plantas. Isto ressalta a importância de se fornecer
os micronutrientes de maneira que as plantas consigam aproveitá-los eficientemente; neste contexto,
torna-se fundamental conhecer o método de aplicação mais adequado para cada um deles, bem como
realizar um estudo de seu comportamento varietal.
40
Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
a) Via solo: pode-se fornecer micronutrientes nas formulações N-P 2O5-K2O+Micro (tanto em
fertilizantes sólidos como fluidos);
b) Via toletes;
c) Via foliar.
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Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
(f = 1,0 a 1,2 para Zn e Cu)
c) Via foliar
Estão sendo realizados experimentos onde se analisa a viabilidade da aplicação foliar do
nitrogênio associado ao molibdênio antes do fechamento do canavial, através de aplicação aérea, e
também experimentos com outros micronutrientes e fosfitos.
7.6. Conclusão
7.6.2. Cana-Soca
a) Calagem – reaplicar quando a saturação por bases for menor do que 50 na dosagem
máxima de 3,0 t/ha.
b) Gessagem – utilizar principalmente como fonte de S, quando os teores em subsuperfície
forem menores do que 15 mg/dm3 na dosagem de reposição de 1,0 t/ha de gesso.
c) Adubação N-K2O: utilizar relação de 1,0 a 1,2 kg de N por tonelada de cana produzida e
relação N/K2O: 1,0-1,3 a 1,4.
d) Adubação P2O5: utilizar cerca de 30 kg/ha de P2O5 quando P resina < 15 mg/dm3 em
condições de V% acima de 50%.
e) Micronutrientes: reaplicar, principalmente quando da utilização via tolete, o B, Cu e Zn.
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Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
Fotos Cana-de-Açúcar
Deficiência de Nitrogênio Deficiência de Fósforo
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Deficiência de Enxofre Deficiência de Boro
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Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
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Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
7.7. Referências
ALCARDE, J.C. Corretivos da acidez dos solos: características e interpretações técnicas. São Paulo:
ANDA. 1992. (Boletim Técnico, 6).
BELANGER, R.R.; BOWEN, P.A.; EHRET, D.L.; MENZIES, J.G. Soluble silicon – its role in crop
and disease management of greenhouse crops. Plant Disease, v.79, n.4, p.329-336, 1995.
47
Plantio de cana-de-açúcar: Estado da arte Ripoli, Ripoli, Casagrandi, Ide
CÁCERES, N.T. Adubação verde com leguminosas em rotação com cana-de-açúcar (Saccharum spp.).
Piracicaba : ESALQ, 1994. 45p. Dissertação de Mestrado.
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