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Apicultura básica

APOSTILA ELETRÔNICA

Ediney de Oliveira Magalhães - Msc

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Apicultura Básica
Elaboração:

Ediney de Oliveira Magalhães


Eng. Agrônomo – MSc

Ivana Leite Borges


Eng. Agrônoma

Joelson Virginio Orrico da Silva


Eng. Agrônomo – MSc

Danilo Viana Magalhães


Graduando em Eng. Agronômica - UFRB
APRESENTAÇÃO

O guia prático APICULTURA BÁSICA possui


informações para quem quer iniciar na apicultura. Traz
informações sobre Biologia e comportamento das abelhas,
Anatomia e fisiologia, família, comunicação das abelhas,
enxameação, materiais apícolas, equipamentos de
beneficiamento, localização e instalação do apiário, bem como
produtos das abelhas.
As informações contidas neste trabalho são mais uma
ferramenta que o produtor pode dispor para iniciar a atividade
apícola.
CONTEÚDO

1 - BIOLOGIA E COMPORTAMENTO DAS ABELHAS ...... 01


1.1 - Origem das Abelhas ................................................. 01
1.2 - Histórico da Apicultura ............................................. 01
1.3 - Introdução da Apis mellifera no Brasil ...................... 02
1.4. - Classificação Zoológica........................................... 04
2 - ANATOMIA E FISIOLOGIA DAS ABELHAS .................. 05
2.1. -Morfologia Externa ................................................... 05
2.2 - Morfologia interna .................................................... 07
3 - A FAMÍLIA DAS ABELHAS ............................................ 08
3.1 - Rainha...................................................................... 09
3.2 - Operárias ................................................................. 11
3.2.1 - Período de Desenvolvimento das Operárias ..... 12
3.2.2 - Atividades das Operárias .................................. 13
3.3 - Zangão ..................................................................... 14
4 - COMUNICAÇÃO DAS ABELHAS .................................. 15
5 - ENXAMEAÇÃO .............................................................. 16
6 - MATERIAIS APÍCOLAS ................................................. 17
6.1 - Fumegador ............................................................... 17
6.2 - Formão de Apicultor ................................................. 19
6.3 - Vassoura ou espanador apícola ............................... 19
6.4 - Vestimentas ............................................................. 20
6.5 - Colméia .................................................................... 23
7 - EQUIPAMENTOS DE BENEFICIAMENTO .................... 30
8 - LOCALIZAÇÃO E INSTALAÇÃO DO APIÁRIO ............. 36
8.1 - Tipos de Apiário ....................................................... 39
8.1.1 Apiário Fixo ......................................................... 39
8.1.2. Apiário Migratório ............................................... 41
9 - PRODUTOS DAS ABELHAS ......................................... 44
9.1 – Mel .......................................................................... 44
9.2 – Própolis ................................................................... 45
9.3 - Geléia Real .............................................................. 45
9.4 – Pólen ....................................................................... 46
9.5 - Veneno de Abelhas .................................................. 46
10 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................. 47
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1 - BIOLOGIA E COMPORTAMENTO DAS ABELHAS

1.1. - Origem das Abelhas

As abelhas são descendentes das vespas que deixaram


de se alimentar de pequenos insetos e aranhas para
consumirem o pólen das flores quando essas surgiram, há cerca
de 135 milhões de anos. Somente 2% das espécies de abelhas
são sociais e produzem mel. Entre as espécies produtoras de
mel, as do gênero Apis são as mais conhecidas e difundidas.

1.2. - Histórico da Apicultura

Pesquisas arqueológicas mostram


que as abelhas sociais já produziam e
estocavam mel há 20 milhões de anos,
antes mesmo do surgimento do homem na
Terra, que só ocorreu poucos milhões de
anos atrás. A palavra colméia vem do grego,
pois os gregos colocavam seus enxames em recipientes com
forma de sino feitos de palha trançada chamada de colmo. Em
1851, o Reverendo Lorenzo Lorraine Langstroth verificou que as
abelhas depositavam própolis em qualquer espaço inferior a 4,7
mm e construíam favos em espaços superiores a 9,5 mm. A
medida entre esses dois espaços Langstroth chamou de
"espaço abelha", que é o menor espaço livre existente no

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interior da colméia e por onde podem passar duas abelhas ao


mesmo tempo. Essa descoberta simples foi uma das chaves
para o desenvolvimento da apicultura racional.

Lorenzo Lorraine Langstroth

1.3. - Introdução da Apis mellifera no Brasil


As abelhas da espécie Apis mellifera foram introduzidas
no Brasil em 1840, oriundas da Espanha e Portugal, trazidas pelo
Padre Antônio Carneiro. Em 1845, imigrantes alemães
introduziram no Sul do País a abelha Apis mellifera mellifera.
Entre os anos de 1870 a 1880, as abelhas italianas, Apis
mellifera ligustica foram introduzidas no Sul e na Bahia.
Em meados de 1950, a apicultura sofreu um grande baque
em razão de problemas com a sanidade em função do
surgimento de doenças e pragas, o que dizimou 80% das
colméias do País e diminuiu a produção apícola drasticamente.
Diante desse quadro, ficou evidente que era preciso aumentar a
resistência das abelhas no País.
Assim, em 1956, o professor Warwick Estevan Kerr
(Figura 1) dirigiu-se à África, com apoio do Ministério da
Agricultura, com a incumbência de selecionar rainhas de
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colméias africanas produtivas e resistentes a doenças. A


intenção era realizar pesquisas comparando a produtividade,
rusticidade e agressividade entre as abelhas européias, africanas
e seus híbridos e, após os resultados conclusivos, recomendar a
abelha mais apropriada às nossas condições.

Figura 1. Ediney O Magalhães/ Prof. Warwick Estevan Kerr (direita)

Dessa forma, em 1957, 49 rainhas foram levadas ao apiário


experimental de Rio Claro para serem testadas e comparadas
com as abelhas italianas e pretas. Entretanto, nada se concluiu
desse experimento, pois, em virtude de um acidente, 26 das
colméias africanas enxamearam 45 dias após a introdução.

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A liberação dessas abelhas muito produtivas, porém muito


agressivas, criou um grande problema para o Brasil. Nesse
período, nenhum animal foi mais comentado em livros,
entrevistas, reportagens e filmes do que as "abelhas assassinas"
ou "abelhas brasileiras", como eram chamadas. As "abelhas
assassinas" eram consideradas pragas da apicultura e
começaram a surgir campanhas para a sua erradicação, não só
dos apiários, mas também das matas, com a aplicação de
inseticidas em todo o País. Essa atitude, além de ser uma
operação de alto custo, provocaria um desastre ecológico de
tamanho incalculável.

1.4. - Classificação Zoológica

Reino: Animal
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Hymenoptera
Subordem: Apocrita
Superfamília: Apoidea
Gênero: Apis
Espécie: Mellifera

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2 - ANATOMIA E FISIOLOGIA DAS ABELHAS


2.1. - Morfologia Externa

O corpo da abelha divide-se em cabeça (Figura 2), tórax


e abdômen.

Cabeça - encontram-se os órgãos sensoriais: um par de olhos


compostos, três pequenos ocelos (olhos simples), um par de
antenas e apêndices bucais (um par de mandíbulas, um par de
maxilas, lábio e labro). Existem também algumas glândulas.

1-olho composto
2 e 4- artículos basais das maxilas
3 e 5- artículos basais do lábio
6- galea
7- palpo maxilaris
10- língua
11- paraglossa
12- palpi labeales
13- maxilas
15- labrum
16- mandíbulas
17- antena
18- ocelos

Figura 2. Parte da cabeça da abelha

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Olhos Compostos - São constituídos por milhares de pequenas


unidades ou lentes chamadas omatídeos. Cada unidade capta
uma pequena parte da visão do inseto, que o cérebro retém e
converte numa imagem tipo mosaico.

A abelha consegue distinguir cores que vão do ultravioleta ao


laranja, mas não consegue distinguir o vermelho dos tons de
cinzento.

Ocelos - São três pequenos olhos distribuídos de forma


triangular na parte frontal da cabeça, que servem para ver de
perto.

Antenas - São importantes órgãos sensoriais localizados na


região frontal, ao centro, da cabeça. Nelas existem pequenos
pêlos (órgãos sensitivos) que respondem a estímulos de tacto e
olfato. Servem também para a comunicação entre indivíduos.

Mandíbulas - As abelhas possuem um par, localizadas uma de


cada lado da cabeça. São utilizadas para segurar e cortar, como
no caso da cera, e transportar pólen para dentro da colméia ou
detritos para fora dela.

Tórax - é a região do meio do corpo e é composto por três


segmentos. Em cada segmento existe um par de patas.
Também as asas se encontram ligadas ao tórax.

Abdômen - é composto por segmentos e é aqui que se


encontram o sistema digestivo e reprodutor. Nesta região

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existem as glândulas produtoras de cera, cheiro (feromônio) e


veneno (ejetado pelo ferrão).

Ferrão - Encontra-se no interior da extremidade do abdômen


quando não em uso. É uma estrutura de pôr ovos, modificada
para produzir veneno, a qual se encontra só nas fêmeas.

Figura 3. Ferroada da abelha

2.2 - Morfologia interna

Formada por: Sistema Nervoso, Sistema reprodutor,


Sistema digestivo, Sistema circulatório, Sistema respiratório e
Sistema excretor.

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3 - A FAMÍLIA DAS ABELHAS

Conhecer as castas e suas diversas etapas de


desenvolvimento e comportamento é fundamental para a criação
de abelhas para qualquer tipo de exploração apícola. Em uma
família de abelhas do gênero Apis, são conhecidos três tipos de
indivíduos ou casta (Figura 4): A rainha, a operária e o zangão.

O número de indivíduos em uma família de abelhas é


variável de acordo com a época do ano e com a região.

Figura 4. Operária, Zangão e rainha

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3.1 – Rainha

 É a mãe de todos os indivíduos da colônia, portanto é


responsável em transmitir aos seus descendentes as suas
características.
 Em situação normal em cada colméia só existe uma rainha
que para ser fecundada realiza um ou mais vôos nupciais,
podendo ser fecundada por vários zangões (10 a 20) em um
único vôo, que se realiza com maior freqüência entre as 13 e
17 horas, a uma altura de 08 a 20 metros do solo.
 É fecundada sempre fora da colméia pelos zangões que ao
sentirem o odor (feromônio) da princesa passam a persegui-la
e ao alcançá-la realizam o acasalamento.
 O vôo nupcial ocorre entre 9 e 12 dias de idade adulta da
rainha.
 Cinco a seis dias após a fecundação inicia-se a postura,
podendo pôr de 1.500 a 2.000 ovos por dia, em condições de
grande florada.
 Os ovaríolos da rainha podem produzir um grande número de
ovos, podendo chegar a um milhão ou mais durante a sua
vida.
 A rainha pode durar até 5 anos, no entanto, nas condições
tropicais brasileira sua vida útil é de aproximadamente 1 ano.

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Período de Desenvolvimento da Rainha (dias)

Ovo - 3 Dias Larva - 5 dias

Pupa - 7 dias

A abelha rainha nasce com 15 dias

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3.2 - Operárias

As abelhas operárias (Figura 5) são responsáveis por


todas as tarefas dentro e fora da colméia, suas atividades vão
obedecer a uma escala de trabalho que normalmente está
associada com a idade do individuo e ao desenvolvimento das
suas glândulas.

Figura 5. Abelhas operárias.

São indivíduos que não apresentam os órgãos


reprodutivos completamente desenvolvidos, por terem nascidos
em berços pequenos e não terem sido alimentados com geléia
real.

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3.2.1 - Período de Desenvolvimento das Operárias

Ovo Larva Pupa


3 dias 5 dias 12 dias

As operárias nascem com 20 dias

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3.2.2 - Atividades das Operárias

Do 1o ao 3o dias de vida
São abelhas faxineiras destinadas à limpeza da colméia, suas
ruas, depósitos de mel e células para o nascimento de novas
abelhas operárias, rainhas e zangões.

Do 4o ao 14o dias de vida


Desempenham a sua mais importante tarefa: preparar e cuidar
da alimentação da rainha e das larvas, motivo pelo qual são
batizadas de abelhas nutrizes.

Do 14o ao 21o dias de vida


São batizadas de abelhas engenheiras (Figura 6), por ser o
período em que se dedicam à produção de cera e à construção
dos favos.

Figura 6. Abelhas engenheiras.

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Do 21o ao 38o/42o dias de vida


Dão inicio a atividade de coleta de alimento no campo.

3.3 - Zangão

Estes correspondem aos indivíduos machos da


comunidade (Figura 7). Não apresentam estrutura específica
para o trabalho e sua função na colméia é fecundar a rainha.
Atingem a maturidade sexual aos 12 dias de idade adulta e após
fecundar a rainha morrem, por perderem partes dos seus órgãos
sexuais, os quais ficam presos na genitália da rainha.

Figura 7. Zangão

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4 - COMUNICAÇÃO DAS ABELHAS

As operárias coletoras são capazes de informar os outros


membros da colônia sobre a localização de um suprimento
atrativo de coleta.
Quando a coleta está localizada a até 25 metros da
colônia, na sua volta ao ninho a coletora bem sucedida realiza
uma “dança em círculo” na qual descreve uma série de círculo
na superfície do favo, alternando entre sentido horário e anti-
horário a cada um ou dois círculos. A dança pode consistir em
uma ou duas inversões, ou prosseguir até um máximo de 20.

Quando algumas das abelhas que se encontram


próximas são estimuladas pela dançarina, tocam-se com suas
antenas e tentam acompanhá-la. A dançarina, a intervalo,
interrompe sua dança para oferecer a estas recrutas potenciais
uma gota do néctar que coletou. As coletoras recrutadas
geralmente deixam o ninho dentro de 1 minuto ou pouco mais e
procuram, em suas proximidades, coletas com odor correto. O
recrutamento aumenta com a vivacidade e o vigor da dança e
com a sua duração.
Quando a coleta está localizada a 100 metros ou mais do
ninho, a coleta bem sucedida realiza a “dança do requebrado”.
A direção do alimento é dada pelo ângulo que a linha reta
faz com a vertical; é igual ao ângulo entre a direção do alimento
e a direção do sol, medidos a partir do ninho.

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5 - ENXAMEAÇÃO

A enxameação (Figura 8) é fenômeno muito natural e


espontâneo baseado no instinto de conservação da espécie e
na expansão da mesma pelo mundo.
Consiste na saída da colméia de todo o enxame ou parte
do mesmo, no caso de criação de nova rainha. Nesse caso, a
rainha velha parte com boa parte das operárias em diversas
idades e zangões.

Figura 8. Enxameação no campo.

Dos fatores naturais o que mais comumente causa


enxameação é a falta de espaço interno para a postura e
depósito de alimento.
Rainhas velhas, com pequenas produções de substância
real (agregadora da colônia), também é fator estimulante à
divisão de famílias.

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6 - MATERIAIS APÍCOLAS

6.1 - Fumegador

Equipamento constituído de tampa, fole, fornalha, grelha


e bico de pato (Figura 9, 10 e 11). Tem a função de produzir
fumaça, sendo essencial para um manejo seguro. O
desenvolvimento desse fumegador, juntamente com outras
técnicas de manejo foram fundamentais para a continuidade da
apicultura no Brasil, pois viabilizou o manejo das abelhas
africanizadas.

Figura 9 - Partes que compõem um fumigador:

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Figura 10 - Fumegador montado.

Figura 11 - Fumegador sendo abastecido com maravalha

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6.2 - Formão de Apicultor

Utensílio de metal, com formato de espátula


(aproximadamente com 20,0 cm de comprimento e 3,0 cm de
largura) e uma das extremidades com leve curvatura (Figura
12). É utilizado pelo apicultor para auxiliá-lo na abertura da caixa
(desgrudando a tampa), remoção dos quadros, limpeza da
colméia, raspagem da própolis de peças da colméia (tampa,
fundo, etc.), remoção de traças, etc.

Figura 12. Formão de Apicultor.

6.3 - Vassoura ou espanador apícola

O espanador é uma pequena vassoura de mão utilizada


para remover as abelhas dos favos ou de outros locais sem
machucá-las (Figura 13). Devem ser fabricadas de cerdas

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sintéticas (cores claras de preferência), pois as cerdas naturais


têm odor muito forte, irritando as abelhas.

Figura 13. Vassoura apícola.

6.4 - Vestimentas
O uso da vestimenta apícola pelo apicultor é condição
essencial para uma prática segura. Composta de macacão,
máscara, luva e bota, apresenta algumas características
específicas:

Macacão: Deve ser de cor clara (cores escuras podem irritar as


abelhas), confeccionado com brim (grosso) ou materiais
sintéticos (nylon, poliéster, etc.). Pode ser inteiriço ou composto
de duas peças (calça e jaleco), com elásticos nas extremidades
(pernas e braços), tendo a máscara já acoplada ou não. Os
modelos que têm a máscara separada necessitam de chapéu
(de palha); outros mais modernos dispensam o seu uso.
Recomenda-se que o macacão esteja bem folgado, evitando o

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contato do tecido com a pele do apicultor. Atualmente, existem


no mercado vários modelos que agregam inúmeras soluções
que facilitam o manejo (áreas maiores de ventilação, local que
permita a ingestão de líquidos, materiais mais resistentes, etc.).

Mascara: Deve ser de cor clara, com visor preto para dar maior
visibilidade e chapéu de palhas com aba dura tipo safári.

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Luva: Podendo ser confeccionada com diversos materiais


(couro, napa ou mesmo borracha), deve, entretanto, ser capaz
de evitar a inserção do ferrão na pele, principalmente porque as
mãos do apicultor são áreas muito visadas pelas abelhas.

Bota: Deve ser de cor clara, de preferência cano alto,


confeccionada em borracha ou couro.

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6.5 – Colméia

As colméias são as peças fundamentais na prática de


uma apicultura racional. O desenvolvimento de peças móveis
(tampas, fundos, quadros, etc.) permitiu a exploração dos
produtos apícolas de forma contínua e racional, sem dano para
as abelhas. Existem vários modelos de colméias, entretanto, o
apicultor deve padronizar seu apiário, evitando a utilização de
diferentes modelos. Uma colméia racional é subdividida em:
tampa, sobrecaixa (melgueira ou sobreninho), ninho e fundo e
os quadros (caixilhos). A manutenção das medidas padrões
para cada modelo também é essencial.

Para a construção das colméias, recomenda-se uso de


madeiras de boa qualidade (evite usar madeiras não liberadas
pelo IBAMA), que garantam uma maior vida-útil para a caixa. A
madeira deve estar bem seca, evitando posterior deformação. A
espessura da tábua pode variar, desde que sejam respeitadas
as medidas internas das colméias e externas dos quadros.

O produtor poderá optar por usar na parte superior da


colméia a melgueira ou o sobreninho. As caixas podem ser
compradas ou feitas pelo apicultor e devem ser pintadas
externamente com tinta de cor clara e de boa qualidade (látex),
o que ajuda na conservação do material. Internamente, as
colméias não devem ser pintadas. O modelo indicado pela

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Confederação Brasileira de Apicultura como padrão de colméia


é o modelo Langstroth (Figura 14 e 15). Esta colméia idealizada
por Lorenzo Lorraine Langstroth, em 1852, baseada nas
pesquisas que identificaram o "espaço abelha".

Figura 14 - Colméia Langstroth vista de frente.

O espaço abelha é considerado uma das grandes


descobertas da apicultura moderna e trata-se do espaço livre
que deve haver entre as diversas partes da colméia, ou seja,
entre as laterais e os quadros, quadros e fundo, quadros e
tampa e entre os quadros. Esse espaço deve ser de, no mínimo,
4,8 mm e, no máximo, 9,5 mm. Se menor, impede o livre transito
das abelhas; se maior, será obstruído com própolis ou
construção de favos. Na construção das colméias (Figura 16), o
espaço abelha deve ser rigorosamente respeitado.

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Apicultura básica

D
E

Figura 15. Partes da colméia Langstroth: tampa (A), melgueira


(B), ninho (C), fundo (D), Quadros de Ninho e Quadros de
melgueiras (E)

Figura 16 - Colméia em construção - As medidas das colméias


devem ser respeitadas, evitando desta forma transtornos
futuros.

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A prática apícola requer, ainda, outros utensílios e assessórios


para as colméias usadas durante o transporte e manejo
produtivo e de entressafra.

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Tela Excluidora: armação com borda de madeira e área interna


de malha de metal ou plástico. Colocada entre o ninho e a
sobrecaixa tem a finalidade de evitar o acesso da rainha nas
sobrecaixas destinadas à produção de mel (Figura 17).

Figura 17. Tela excluidora de madeira e malha de metal.

Tela Excluidora de Alvado: com a mesma estrutura da tela


excluidora de ninho, apresenta dimensões adequadas para ser
encaixada no alvado com a finalidade de evitar a saída da
rainha (enxameação).

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Tela de Transporte: utilizada para o transporte da colméia,


podendo ser de dois tipos: a tela de encaixe no alvado e a tela
para substituição da tampa. Esses assessórios (Figura 18)
permitem a ventilação das colméias, sem que haja fuga das
abelhas por meio da tela de "nylon" ou de arame com malha de
dimensões inferiores ao tamanho das abelhas.

Figura 18. Tela de transporte

Redutor de Alvado: peça de madeira encaixada no alvado, de


forma a reduzir o espaço livre. Pode ser utilizado em épocas de
temperaturas mais baixas (facilita o trabalho das abelhas na
termoregulação do ninho), períodos de entressafra (minimizando
a possibilidade de saque por outras abelhas) e em enxames
fracos (quantidade menor de abelhas), que têm mais dificuldade
de defender a família;

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Alimentadores: equipamentos utilizados para a alimentação


artificial de abelhas, possuindo vários modelos (Figuras 19 e
20).

Figuras 19 - Alimentador Bordman

Figuras 20 - Alimentador de Topo

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7 - EQUIPAMENTOS DE BENEFICIAMENTO

Centrífugas: são aparelhos destinados a fazer a coleta do mel,


sem prejuízos dos favos, que depois de esvaziados, poderão ser
devolvidos às colméias, para receberem nova carga. Os favos
nos quadros são colocados na centrífuga (Figura 21) e através
da força centrífuga (do centro para as extremidades) o mel é
jogado contra as paredes internas do cilindro da centrífuga.

Figura 21. Centrífuga utilizada para coleta do mel nos favos.

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Decantador:

Figura 22. Decantador inox

Figura 23 - Centrífuga inox

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Peneiras: A limpeza de pequenas sujidades como pequenas


partículas de cera e pequenas impurezas, devem ser eliminados
integralmente, por peneiras confeccionados em inox.

Arame: utilizado para formação de uma base de sustentação e


fixação da placa de cera alveolada. Deve ter espessura tal que
permita leve tensionamento sem o seu rompimento, mas que
não seja grosso demais, o que iria dificultar a fixação da cera.
Normalmente se usa o arame nº 22 ou nº 24. Recomenda-se a
utilização do arame de aço inox, mais resistente e de maior
durabilidade que o arame comum de metal.

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Apicultura básica

Cera Alveolada: indispensável na criação de abelhas. Tem


duas funções importantes: a) direcionar a construção dos favos,
pelas abelhas, dentro dos quadros móveis e b) Economizar mel,
já que as abelhas necessitam de 6 a 8 quilos de mel para
elaborarem1 kg de cera, fazendo com que não percam tempo na
construção dessa etapa, o qual a cera alveolada substitui.

Esticador de Arame: trata-se de um suporte de metal (Figura


24), onde o quadro é encaixado, com a finalidade de esticar o
arame. Ferramentas como alicates (corte ou de bico) também
podem auxiliar nesse procedimento ou mesmo realizá-lo
plenamente, embora sem a mesma eficiência e praticidade do
esticador.

Figura 24 - Esticador de arame (A) e o quadro de melgueira (B).

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Carretilha de Apicultor: equipamento utilizado para fixação da


cera no arame. É constituída de uma peça com empunhadura
de madeira e parte de metal, com uma roda dentada na
extremidade (Figura 25).

Figura 25. Carretilha do apicultor.

Figura 26. Aramador de madeira com carretilha manual

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Apicultura básica

Incrustador elétrico de cera: aparelho utilizado também para a


fixação da cera no quadro, por meio do leve aquecimento do
arame. É constituído de um suporte onde é fixada uma
resistência (chuveiro) e fios para a condução da corrente
elétrica, os quais possuem na extremidade dois terminais de
fixação no arame (Figura 27).

Figura 27 - Incrustador elétrico de cera.

Limpador de Canaleta: utensílio de metal com extremidade


curvada, usado para raspar a cera velha da canaleta do quadro,
para incrustação de nova placa de cera. Outros equipamentos
podem ser utilizados para a mesma finalidade, como facas,
canivetes, etc., que podem ser úteis ao apicultor em outras
situações (corte de placa de cera, de favo para captura de
enxames, etc.).

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Apicultura básica

8 - LOCALIZAÇÃO E INSTALAÇÃO DO APIÁRIO

Antes da instalação de um apiário, uma série de estudos


preliminares deve ser feitos para se poder analisar a viabilidade
da implantação sem prejuízos posteriores. Dentre os aspectos a
serem analisados citaremos os de maior importância

Flora apícola: Daí parte a matéria prima do apicultor, portanto,


é de fundamental importância a avaliação do potencial apícola
da região e sua saturação, ou seja, da existência de apiários
num raio menor que três quilômetros, pois como a abelha atua
principalmente numa faixa de 1500 m. da colméia, essa é a
distância mínima a ser respeitada para a instalação de novos
apiários.
Da vegetação local as abelhas vão retirar além de pólen
e néctar resina para a produção de própolis.

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Apicultura básica

Número de colméias: No caso de iniciante é aconselhável que


se comece com número reduzido de colméias (de cinco a dez
colméias, no máximo) para se adaptar às abelhas e, depois, aos
poucos, ir aumentado.

Local para o apiário: Na instalação das colméias é necessário


levar em conta:

1 - As fontes de néctar - O néctar é a matéria prima, da qual


depende diretamente a produção do mel e da cera. Portanto
observe a floração da sua região.
2 - Fonte de água - É essencial para o bom desenvolvimento
das colônias. Locais com água parada devem ser evitadas, pois
podem ser focos de doença.

3 - Topografia - É necessário levarmos em conta que as


abelhas voltam para as colméias carregadas, o que torna
necessário a instalação do apiário abaixo ou no mesmo plano da
fonte de alimento.

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4 - Altura média da caixa em relação ao solo - 50 cm do solo,


o que previne contra os inimigos naturais (sapo, tatus etc.,). O
ideal é a utilização de cavaletes individuais, distantes de dois
metros um do outro, pelo menos.

5- Acesso ao apiário - É fundamental o acesso a veículo para


transporte de materiais e colméias.

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Apicultura básica

6- Luzes e vias públicas - As luzes atraem as abelhas durante


a noite causando perdas ao apiário.

7- Movimento - Além de prejudicar o desenvolvimento das


abelhas pode despertar a sua agressividade.

8.1 - Tipos de Apiário

O apiário é um conjunto racional de colméias,


devidamente instalado em local preferivelmente seco, batido
pelo sol, de fácil acesso, suficientemente distante de pessoas e
animais, provocando o confinamento das abelhas. Ele sofrerá a
interferência de fatores do meio ambiente no qual está instalado,
tais como: temperatura, umidade, chuvas, florações, ventos,
pássaros predadores, insetos inimigos e concorrentes.
O progresso do apiário dependerá, em grande parte, do
meio ambiente no qual está instalado, onde vivem e trabalham
as abelhas. Por isso, caberá ao apicultor, o correto manejo das
abelhas, para obter resultados positivos no desenvolvimento do
apiário.

8.1.1 Apiário Fixo

Um apiário fixo é caracterizado pela permanência das


colméias durante todo o ano em um local previamente
escolhido, onde as abelhas irão explorar as fontes florais
disponíveis em seu raio de ação (aproximadamente 5 km, em
média 1,5 km).

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Apicultura básica

Algumas diretrizes devem ser seguidas para que se


possa garantir a segurança em relação a pessoas e animais, em
função da presença de abelhas. É recomendável que o apiário
seja cercado, podendo-se utilizar mourões de madeira e arame
farpado, ou materiais que estejam disponíveis no local, como
bambus, madeiras, etc. Esses materiais alternativos podem
reduzir o custo de instalação da cerca, apesar de não terem a
mesma durabilidade de uma cerca com arame (figura 28).

Figura 28. Apiário fixo.

Como as abelhas não são deslocadas, permanecendo no


apiário durante todo o ano, a escolha do local assume
importância fundamental na manutenção das colméias e
produtividade do apiário.

40
Apicultura básica

8.1.2. Apiário Migratório

É fundamentada na mudança de conjuntos de colméias


(apiários) de uma região para outra acompanhando as floradas
com vistas à produção de mel e para a prestação de serviços de
polinização.
Esse tipo de apiário deve atender à maioria das
características de um apiário fixo, entretanto, é usado na prática
da apicultura migratória, em que as abelhas são deslocadas
(Figura 29) ao longo do ano para locais com recursos florais
abundantes. Como a necessidade de deslocamento é freqüente,
a maioria dos apicultores prefere não cercar esses apiários, o
que acarretaria um aumento dos custos (já consideráveis em
uma apicultura migratória) e de mão-de-obra para a instalação
das cercas.

Figura 29. Transporte das colméias.

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Apicultura básica

Outra característica que o difere do apiário fixo está


baseada nos tipos de cavaletes utilizados (Figura 30). Pela
necessidade de praticidade no transporte das colméias e do
restante do material, os cavaletes utilizados devem ser
desmontáveis ou dobráveis, diminuindo, dessa forma, o volume
de carga a ser transportada e o tempo gasto na sua montagem
e desmontagem.

Figura 30. Colméias com cavaletes dobráveis em apiário móvel.

Alguns apicultores ainda preferem a simples utilização de


tijolos e caibros de madeira, para a construção de um suporte
para as colméias. Apesar de esses cavaletes serem de fácil
instalação, existem algumas desvantagens com relação ao
manejo no caso das colméias serem dispostas em um mesmo

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Apicultura básica

suporte e pela falta de proteção contra formigas e cupins. A


situação menos recomendável é aquela em que as colméias são
dispostas em contato direto com o solo, sem a utilização de
qualquer suporte, acarretando prejuízos tanto para o enxame
como para a vida útil das caixas.

Para o desenvolvimento desta modalidade de exploração


altamente especializada, se torna necessária uma tecnologia
adequada, complementada também por equipamentos
apropriados para facilitar a manipulação das colméias, permitir
fácil transporte e proporcionar a necessária resistência para os
constantes deslocamentos das colméias.

O surgimento de extensa área de culturas mecanizadas


com derrubadas da vegetação nativa, para dar lugar a imensos
reflorestamentos com essências florestais melíferas ou não, e
ainda o perigo dos inseticidas para as abelhas pode ameaçar a
sobrevivência futura da apicultura. A sobrevivência dependerá
da migração para procurar novas fontes de alimento, como
também, fugir com as colméias, quando da aplicação de
inseticidas nas culturas próximas ao apiário.

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Apicultura básica

9 - PRODUTOS DAS ABELHAS

9.1 - Mel

O mel é um alimento energético, fortalece o organismo,


facilita o trânsito intestinal e exerce efeitos positivos no combate
à arteriosclerose a aos cálculos biliares. A elaboração do mel
resulta de duas modificações sofridas pelo néctar: uma física,
pela desidratação e eliminação da água; outra química pela
inversão do açúcar composto em açúcar simples. Passando o
néctar de papo em papo, o mesmo vai se tornando cada vez
mais denso, porque o organismo das abelhas já absorve grande
parte da água nele existente.
Em sua composição encontramos: carbonatos, sulfatos a
fosfatos associados ao ferro a ao cálcio: as variáveis porções de
algumas vitaminas, a saber: B1 (tiamina), B2 (riboflavina), C
(ácido ascórbico), B6 (piridoxina), ácido pantatênico a ácido
nicotínico.

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Apicultura básica

9.2 - Própolis

A própolis é uma substância resinosa preparada pelas


abelhas para assepsia interna da colméia. A própolis tem ação
bacteriostática, bactericida, antivirótica, antimicótica,
antiinflamatória, cicatrizante, regeneradora tissular e
bio-estimulante.

9.3 - Geléia Real

É um produto das abelhas conhecido há séculos,


somente há pouco tempo o homem vem utilizando este
poderoso alimento em favor do seu bem
estar. Para as abelhas é a dieta das larvas
jovens até o 3°dia de vida larvária e o
alimento da rainha durante todo o seu ciclo
vital. Corresponde à substância alimentar
secretada pelas abelhas jovens de 04 a 14
dias de idade, conhecidas por abelhas
nutrizes.

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Apicultura básica

9.4 - Pólen

O pólen é o elemento masculino de reprodução das


plantas e se encontra nas anteras das flores. Originalmente é
um pozinho de cor amarelada, facilmente levado pelo vento.
Cada grãozinho microscópico é uma entidade biológica que
contém tudo o que é necessário para a vida: proteínas, glicídios,
sais minerais, vitaminas, hormônios, enzimas, etc.

9.5 - Veneno de Abelhas

O veneno de abelhas é um líquido transparente, com um


odor de mel acentuado e de sabor amargo. De acordo com as
pesquisas, pode-se dizer que as picadas de abelhas (quando
não em grande número) determinam no organismo humano não
somente uma imunidade ao veneno de abelhas, como também
de certas doenças infecciosas.

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10 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Donadieu, Y. Le Pollen Maloine Paris, 1983

Free, J. B. – A organização social das abelhas (Pais) – São


Paulo: EPU da Universidade de São Paulo, 190.

Laidlaw Jr., Harr H.- Criação Contemporânea de Rainhas. 216 p.


Canoas:La Salle, 1998

Portaria nº367 .Regulamento técnico de identidade e qualidade


do mel- Brasília: MA/DAS/DIPOA/DNT, 1997.

Portaria SIPA nº 006, de 25 de julho de 1985. Normas Higiênico


Sanitárias e Tecnológicas para Mel, Cera de Abelhas e
Derivados, SNAD-SIPA de 02/8/85.

Projeto Apis . Manual ADR. SEBRAE

SOMMER, Paulo Gustavo. Apicultura Migratória. Anuário


Apícola. Confederação Brasileira de Apiculura. SEBRAE/DF.
Brasília, DF,1997.

Wiese, Helmuth, coord. Nova Apicultura, 6a ed. 493 p. Porto


Alegre, Agropecuária, 1985.

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acessado em 30/08/2004.

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Revista Globo Rural. Ed. Globo. As abelhas que viajam.


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