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Sumário

1. Introdução.............................................................................................1
2. Por que criar abelhas?..........................................................................1
3. Histórico................................................................................................2
4. Biologia da abelha................................................................................3
4.1 A Rainha..........................................................................................6
4.2 As operárias....................................................................................6
4.3 Os zangões.....................................................................................7
5. Anatomia e fisiologia............................................................................8
6. Evolução da apicultura........................................................................10
7. Materiais 11
7.1 Ferramentas e equipamentos........................................................13
7.2 Apiário............................................................................................14
7.2.1 Como conseguir meu primeiro enxame?............................15
7.2.2 Aquisição e captura............................................................15
7.2.3 Pastagem apícola...............................................................16
7.3 Manejo da colmeia........................................................................17
7.3.1 Revisão da colmeia.............................................................18
7.3.2 Controle de enxameação, divisão e união..........................18
8. Doenças das abelhas..........................................................................19
8.1 Inimigos das abelhas......................................................................20
9. Produtos da colmeia............................................................................21
9.1 Mel..................................................................................................21
9.2 Própolis..........................................................................................22
9.3 Pólen..............................................................................................24
9.4 Geleia real.....................................................................................25
9.5 Outros produtos.............................................................................25
10. Casa do mel........................................................................................26
10.1 Equipamentos e utensílios........................................................27
10.2 Embalagem e armazenamento.................................................27
10.3 Comercialização e preparação para o mercado.......................28
11. Legislação...........................................................................................28
12. Considerações finais...........................................................................29
13. Referências bibliográficas...................................................................30
1. Introdução

A apicultura é uma das atividades mais antigas e importantes do mundo, é


definida como a criação racional da abelha melífera e do aproveitamento de seus
produtos. Seus benefícios são muitos tanto para o homem, quanto ao meio
ambiente, pela boa produção de mel, geleia real, própolis, apitoxina, cera e do
pólen, além do importante papel da polinização, de espécies vegetais nativas ou
em culturas comerciais.
O Brasil é um país privilegiado para a realização da apicultura, por suas
condições de clima favorável e pela riqueza de sua vegetação. Ainda que esteja
aumentando o interesse por esta atividade, são poucos os apiários que exploram
suas capacidades ao máximo, seja devido à carência de profissionais que
dominem as técnicas, e/ou pela falta de incentivo ou de investimento correto.
Sabemos que as dificuldades são inúmeras, mas os benefícios são muito
maiores, um apiário pode ser criado somente com o intuito de polinização, já teria
grande valia, na melhoria da qualidade e produtividade agrícola.
Hoje juntamente com a globalização a demanda dos produtos e
subprodutos apícolas aumentaram consideravelmente, as exportações estão
superando o consumo interno, nossos produtos apícolas, são aceitos até nos
mercados mais exigentes, como Japão e alguns países do continente europeu. As
pesquisas na área apícola, também aumentaram bastante nos últimos anos,
mostrando resultados surpreendentes relacionados aos compostos presentes nos
produtos apícolas. Além de aumentar a renda familiar rural, já que, é possível
conciliar a produção apícola, com outras atividades produtivas, e o mais
importante, muitas vezes melhorando a produtividade, como é o caso de culturas,
que dependem dos insetos para serem polinizadas.

2. Por que criar abelhas

Existem diversas razões para se criar abelhas, sendo hoje possível até viver
somente dessa atividade. A apicultura pode ser desenvolvida em conjunto com
diversas outras atividades, mas não se deve achar que as abelhas trabalham
sozinhas, elas necessitam de muita dedicação e estudo do apicultor. Na prática a
criação de abelhas pode trazer renda na comercialização do mel, própolis, cera e
pólen, mas também é rentável explorar produção da geleia real, rainhas, enxames,
apitoxina e até mesmo o aluguel de abelhas para a polinização.
Uma colmeia, bem cuidada pode produzir mais de 50 kg de mel por ano.
Além disso, após o apicultor adquirir certa experiência, o trabalho, além de não ser
difícil, passa a ser até prazeroso. Se na produção apícola não se obtiver boa
produção, não se perde o investimento. O apicultor mesmo poderá definir a
quantidade de colmeias, que terá condições de cuidar, e se o espaço comportar
esse número. O investimento inicial é considerado baixo e o retorno é
relativamente rápido.

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A apicultura é uma atividade que gera muitas oportunidades de trabalho,
envolvendo todos os integrantes de uma família. Além da melhoria nas condições
de vida de quem a prática, auxiliando assim na redução da evasão no campo.

3. Histórico

Desde a antiguidade as abelhas e o mel sempre foram admirados e


considerados sagrados pelo homem, este já podia contar com os benefícios das
abelhas, que já habitavam o nosso planeta antes mesmo da nossa chegada. As
abelhas (Apis mellifera) se desenvolveram no velho mundo e podiam ser
encontradas em diversos abrigos naturais, como troncos ocos de árvores, frestas
de rochas, buracos no chão e sempre produziram razoáveis quantidades de mel
com o intuito de armazenar o excesso em um possível período de escassez.
Os primeiros registros que se tem notícia datam de antes de 300 a.C., onde
os filósofos Aristóteles e Virgílio apresentaram suas primeiras teorias sobre as
abelhas, más as principais descobertas só aconteceram a partir de 1636.
As abelhas melíferas foram introduzidas no Brasil, vindas do continente
europeu juntamente com os imigrantes, que traziam alguns enxames. Em 1839 o
Padre Antônio Carneiro conseguiu autorização do Rei D. Pedro ll, de importar
alguns enxames de Apis mellifera-mellifera para o Estado do Rio de Janeiro.
Em 1851 o pastor, matemático e apicultor americano Lorenzo Lorrain
Langstroth, descobriu o “espaço- abelha” (6-9 mm), esse espaço foi estudado e
aceito para o transito e trabalho das abelhas no interior da caixa. Esta caixa que
leva seu nome Lanstroth é a mais utilizada ainda hoje, na maioria dos países.
Por volta de 1879, muitos imigrantes também trouxeram com eles,
principalmente para o Estado do Rio Grande do Sul, outros enxames dentre eles
as espécies: Apis mellifera ligústica (Alemanha), Apis mellifera carnica (Áustria),
Apis mellifera caucasiana (Rússia), Apis melífera scutellata (África).
A introdução da abelha africana no Brasil, aconteceu por acidente quando
alguns enxames que se encontravam em quarentena num apiário experimental em
Camacuan, Município de Rio Claro-SP, escaparam. Este episódio foi muito
marcante para a nossa apicultura, muitos acidentes ocorreram, trazendo muito
medo a população.
Após a introdução da abelha africana, no Brasil outras subespécies
desapareceram, dando origem a uma espécie mais resistente. A partir do
momento em que essa nova espécie foi introduzida no Brasil, e se adaptou, o
número de colmeias só vem aumentando. Isso fez com que ocorresse o
cruzamento entre essas espécies ocasionando mudanças na agressividade,
aumentando a resistência das abelhas e consequentemente a melhora na
produção apícola. Por intermédio das características morfológicas apresentadas
hoje, podemos dizer, que no Brasil só existem abelhas denominadas
“africanizadas”.
Após a realização de muitas pesquisas, sabemos da necessidade de
melhorarmos cada vez mais a genética das abelhas. Sem o manejo correto

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corremos o risco de regredir na qualidade dos enxames, isto é, de nada adianta o
apicultor adquirir enxames de excelente qualidade, sabendo que o ciclo de vida
das abelhas é muito curto e a variabilidade genética muito dinâmica. Na natureza
os cruzamentos das abelhas, são contínuos, e muitas vezes esses cruzamentos,
não contemplam o interesse do apicultor.
O desenvolvimento da apicultura moderna, com o auxílio da tecnologia, nos
permite o melhoramento genético. A genética baseada nas leis de Mendel se
transformou em uma ferramenta muito poderosa, e na apicultura tem sido muito
estudada. Com ela podemos realizar diversas melhorias nos enxames de acordo
com nossas necessidades, podemos melhorar a produtividade do mel, da própolis,
do pólen, enfim qualquer produto que desejarmos. A agressividade também pode
ser melhorada com o melhoramento genético, além da resistência a doenças,
entre outras melhorias.

4. Biologia da abelha

As abelhas surgiram a partir de vespas carnívoras, que se alimentavam de


insetos e acabaram se adaptando (evoluindo) para se alimentar de néctar e pólen
de onde obtém seus nutrientes. Atualmente existem 10 famílias de abelhas, com
aproximadamente 700 gêneros e 20.000 espécies sociais e solitárias.
As abelhas da família Apidae, possuem a corbícula localizada nas pernas
posteriores, e servem para carregar o pólen, entre outras substâncias para a
colmeia.
As plantas que produzem flores e frutos necessitam das abelhas, para que
ocorra a polinização. É um processo de troca que traz benefícios a ambas as
partes (mutualismo), pois as flores são fecundadas completando seu ciclo
reprodutivo e as abelhas recebem seu alimento para a manutenção de sua prole
(néctar e pólen).
A classificação zoológica é que separa, define e explica as diferenças
existentes nas diversas classes de animais que vivem em nosso meio. A tabela 1
mostra a classificação da abelha melífera.

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Tabela 1: A classificação zoológica da abelha (Apis mellifera).

Reino Animal
Classe Insecta
Ordem Hímenópetera
Sub-ordem Apócrita
Família Apidae
Sub-família Apinae
Super-família Apoidea
Tribo Apini
Gênero Apis
Espécie Mellifera

Existem, diversas espécies de abelhas espalhadas pelo mundo, algumas vivem em


famílias, outras de vida solitárias. As abelhas que vivem em famílias, produzem mel e
possuem ferrão são pertencentes ao gênero Apis. As abelhas que não possuem ferrão e
são produtoras de mel pertencem geralmente aos gêneros Trigona,
Scaptotrigona,Tetragonisca, Melipona e Austroplebeia, embora existam outros gêneros
contendo espécies que produzem algum mel aproveitável. Elas são cultivadas na
meliponicultura da mesma forma que as abelhas com ferrão do gênero Apis são cultivadas
na apicultura.
Entre as mais conhecidas, e que podem ser cultivadas pelo homem, encontramos
as seguintes espécies:
 Borá  Manduri
 Guaraipo  Mirim-preguiça
 Iraí  Moça-branca
 Jandaíra  Tiúba
 Jataí  Tujuba
 Mandaçaia  Uruçu

A meliponicultura apesar de ainda ser menos explorada em relação a


apicultura, vem se destacando nos últimos anos em relação ao aumento de
produção e desenvolvimento de novos produtos relacionados ao mel.
Entre as raças da Apis melífera, as mais conhecidas e exploradas, pelos
apicultores do mundo, são:

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Raças europeias
 Apis melífera melífera  Apis melífera ligustica
 Apis melífera carnica  Apis melífera caucasica

Raças orientais
 Apis melífera indica  Apis melífera florea
 Apis melífera dorsata  Apis melífera meda

Raças africanas
 Apis melífera intermissa  Apis melífera lamarckii
 Apis melífera campencis  Apis melífera adansoni (Scutelata)

A colmeia é constituída por: uma rainha, milhares de operárias algumas


centenas de zangões.

Figura 1: Rainha, operária e zangão.

4.1 A Rainha
A rainha se desenvolve a partir de um ovo fecundado, idêntico aos que dão
origem a novas operárias. Esse desenvolvimento se dá em células especiais,
denominadas de realeiras, construídas pelas operárias e preparadas

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especialmente para formar um indivíduo sexualmente maduro (as operárias são
inférteis). Normalmente existe uma única rainha em cada colônia, sendo esta
responsável pelo equilíbrio populacional da família, e alimentada durante toda a
vida por geleia real. O desenvolvimento se diferencia devido à alimentação
exclusiva através da geleia real, rica em proteínas e hormônios, produzida a partir
de glândulas presentes na cabeça das operárias mais jovens. Todas as larvas são
alimentadas com um pouco de geleia real, mas somente as futuras rainhas se
alimentam exclusivamente dela. A rainha nasce a partir de 16°. dia da postura
(Figura 2), apesar de possuir o ciclo de nascimento mais curto em relação aos
zangões e as operárias, ela pode viver em média 5 anos. Apesar de ser, fácil a
identificação de uma rainha na colmeia, é interessante, que se faça a marcação
com tinta, no dorso da mesma na seguinte combinação de cores/ anos:
Cor Anos terminados em
Branco 1 ou 6
Amarelo 2 ou 7
Vermelho 3 ou 8
Verde 4 ou 9
Azul 5 ou 0
Tabela 2: Relação cores/ anos.

4.2 As operárias
As abelhas operárias são responsáveis por todo o serviço de limpeza,
produção e defesa da colmeia, e encontram-se cerca de 60.000 em cada colmeia.
Suas atividades são realizadas instintivamente de acordo com sua idade. Na
espécie Apis melífera, somente as abelhas operarias possuem a corbícola,
localizada nas pernas posteriores. Essas estruturas são utilizadas também para a
realização da polinização, já que no momento em que a abelha coleta o néctar ou
mesmo o pólen, ocorre a transferência desse pólen das anteras para os estigmas,
e quando atinge o ovário da flor, ocorre a fecundação, gerando a produção de
frutos. Como a rainha, as operarias, provem de um ovo fecundado, entretanto após
o terceiro dia, este não receberá mais a geleia real, portanto a alimentação, que as
diferenciam no desenvolvimento da abelha rainha. O ciclo devida de uma operária
é de 21 dias até seu nascimento (figura 2), e vive em média 42 dias.

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4.3 Os zangões
Os machos ou zangões vivem somente para se alimentar e fecundar a
rainha, são encontrados aproximadamente 300 zangões em uma colmeia, nascem
a partir de um ovo não fecundado (partenogênese), e são maiores que as
operárias. Seu ciclo de vida é o maior entre as castas, levando 24 dias até o
nascimento (figura 2), e pode viver em média 80 dias. Quando há grandes
quantidades de mel na colmeia, os zangões são mais abundantes e quando falta
alimento, estes são expulsos da mesma. Seus alvéolos são facilmente observados
no interior da colmeia, por serem bem maiores, se comparados aos das operárias,
possuindo seus opérculos avançados, em relação aos das operárias. A
maioridade sexual do zangão é atingida aos doze dias; quando um zangão
fecunda uma rainha seus órgãos sexuais “explodem”, isso faz com que ele morra
no mesmo momento. O zangão não possui ferrão, e tem livre acesso as outras
colmeias, podendo entrar a sair quando quiser.
As Abelhas Mudam de Corpo: Durante seu ciclo vital, elas passam por
quatro etapas muito diferenciadas:

 Ovo.
 Larva.
 Ninfa.
 Adulto.

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Figura 2: Ciclo evolutivo das três castas da Apis melífera.

Assim como as borboletas, sofrem uma metamorfose: as larvas são muito


diferentes dos adultos e seu corpo sofre mudanças muito importantes durante seu
desenvolvimento.
A rainha põe um ovo em uma pequena cavidade, chamada alvéolo. Todos
os ovos têm o mesmo aspecto, mas podem ser de dois tipos: ovos fecundados,
dos quais nascerão fêmeas, o os ovos não fecundados, dos quais sairão os
machos. Após três dias, nasce a larva, que não tem asas nem patas e cujo
aspecto lembra o de um pequeno verme. A larva come muito e cresce
rapidamente; em pouco tempo ocupa todo o alvéolo. Nesse momento, entra na
fase de ninfa ou pupa e as operárias fecham a entrada do alvéolo. Ali escondida,
começa sua incrível transformação; pouco a pouco, seu corpo muda de aspecto e
vai desenvolvendo as asas e patas. Uma vez finalizada a metamorfose, sai a
abelha adulta, completamente formada.

5. Anatomia e fisiologia

O corpo abelha adulta (Apis mellifera) é revestido por um exoesqueleto,


formado de quitina, apresentando uma forma definida composta por segmentos,
que se interligam através de membranas finas, que permitem o movimento das
abelhas, por serem facilmente dobráveis. É dividido em três partes distintas:
cabeça, tórax e abdômen, passam por metamorfose completa desde a larva
vermiforme, através de um estágio pupal, até o adulto voador, alimenta-se de mel,
néctar e pólen e vive socialmente em uma colônia permanente compreendendo
indivíduos de três castas: rainha, zangão e operária.
A cabeça da abelha possui: duas antenas, responsáveis pelo tato e olfato;
três olhos simples (ocelos), localizados na parte frontal, que servem para enxergar
dentro da flor, no escuro e dentro da colmeia; dois olhos compostos, um de cada
lado, para enxergar de longe e com luz para a visitação das flores. As mandíbulas
das operárias servem para moldar a cera, coletar própolis, limpeza no interior da
colmeia além de outros serviços, enquanto que na rainha e no zangão a mandíbula
é utilizada para abrir os alvéolos. A língua é utilizada para sugar o néctar das flores

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e outros líquidos. As Glândulas hipofaringeanas, salivares e mandibulares são as
responsáveis pela transformação do mel e da geleia real.
O tórax suporta os órgãos de locomoção das abelhas e é dividido em três
partes: protórax, mesotórax e metatórax.
No abdômen estão localizados os principais órgãos de uma abelha, como:
aparelho reprodutor, sistema digestório, aparelho respiratório, glândula de veneno,
coração dentre outros.

Figura 4. Anatomia externa da abelha. Fonte: WIESE, 2005

Figura 4. Anatomia interna da abelha. Fonte: WIESE,2005

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6. Evolução da apicultura

Desde os primitivos métodos indígenas, de extrativismo de mel das abelhas


selvagens, a apicultura vem evoluindo. Esse primeiro método utilizado foi a criação
rudimentar. Que nada mais é que a criação natural, onde o caboclo encontra um
enxame no oco de alguma árvore, retira os favos de mel e leva o enxame com toco
para mais próximo da casa, onde em épocas determinadas, coleta mais favos de
mel.
A partir daí o homem foi aprimorando essa criação natural, passando para
uma “criação artificial”, onde transfere os enxames capturados na natureza para
cortiços adaptados. Diversos materiais eram utilizados: como cestas de vime,
tronco de árvore, barro cozido dentre outros, que ainda hoje, são possíveis de
serem encontrados.
As colmeias rústicas utilizadas na criação de abelhas, não possuem
medidas padronizadas, são construídas de forma bastante artesanal, por possuir
baixo custo e ainda são utilizadas em algumas regiões do mundo. Possuem
inúmeras desvantagens: desde a dificuldade de examinar o seu interior; não
permitem a realização de revisões; não possibilitam o controle de enxameação; os
favos não podem ser centrifugados.
Com o desenvolvimento da colmeia racional, graças aos apicultores
estudiosos, os quais desenvolveram quadros moveis, facilitando o manejo e a
coleta do mel. As caixas passaram a ser confeccionas em madeira obedecendo,
medidas específicas e testadas em diversos aspectos. Entre as principais
encontradas no Brasil estão: a Langstroth, Shenck, Schirmer, Paulistinha, Pries
entre outras.

7. Materiais
Com o avanço da tecnologia e pesquisas na área da apicultura, esta vem se
modernizando cada vez mais. Muitos materiais foram desenvolvidos nos últimos
anos, mas nada impede de utilizarmos alguns materiais ou equipamentos mais
antigos desde que se tomem alguns cuidados adicionais. Como citado
anteriormente a caixa padrão Langstroth foi um avanço, muito discutido, aceitos
por uns, criticados por outros, mas é o padrão adotado pela maioria dos produtores
apícolas mundiais. Assim sendo todos os demais equipamentos e ferramentas

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devem atender este padrão. Conhecida também como colmeia padrão ou
universal, idealizada em 1952 por Lorenzo Loraine Langstroth, esta colmeia:
facilita o manejo; favorece alta produção de mel; possibilita a centrifugação dos
favos e seu reaproveitamento; possibilita a produção de mel de boa qualidade. A
construção da colmeia Langstroth deve seguir rigorosamente as medidas, afim de
evitar falta ou sobra de espaço, respeitando-se o espaço abelha.
A colmeia Langstroth é composta por um fundo (assoalho), ninho que
comporta dez quadros e uma tampa. A melgueira que também comporta dez
quadros, porém estes possuem menor altura relacionados aos quadros do ninho.
O fundo é avançado cerca de 10 cm da caixa, servindo de plataforma para
auxiliar as abelhas nos pousos e decolagens, sendo essa entrada da colmeia
chamado de alvado. No alvado poderão ser instalados vários dispositivos como: o
caça pólen, o alimentador Boardmann, o coletor de apitoxina, entre outros.
Muitos outros acessórios também auxiliam muito no manejo da colmeia
como a tela excluidora intermediária e de alvado, os alimentadores, tabuas
divisórias, escape abelhas, redutor de alvado.

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Além da caixa, outro item a ser escolhido em um apiário é o cavalete, pois é
um suporte indispensável que irá sustentar a caixa, muitas vezes servindo também
de proteção contra certos predadores. A escolha dos cavaletes pode variar muito
devido a diversos fatores, por isso fica a critério do apicultor, importante salientar
que este deve permanecer limpo sem utilização de produtos tóxicos para
impermeabilização, ou com intuito de expelir predadores. As caixas tipo Langstroth
devem ser confeccionadas em madeira (pinho, cedrinho, eucalipto, outras), de
preferência proveniente de reflorestamento (manejo sustentável). Enfatizamos aqui
que a apicultura deve ser desenvolvida, como uma atividade, que auxilia o meio
ambiente, assim, se deve contribuir ao máximo com a redução do impacto
ambiental.

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7.1 Ferramentas e equipamentos

Atualmente existem muitas ferramentas e equipamentos, específicos para


utilização no apiário, falaremos aqui somente dos principais para se realizar um
bom trabalho. O formão é uma ferramenta de fundamental importância, para a
retirada dos quadros que ficam parcialmente propolizados no interior da caixa,
sendo muito difícil sua retirada sem ferramenta.

Formões

A fumaça também é indispensável, para isto é utilizado o fumigador, onde


se introduz a serragem de boa qualidade (madeira sem produtos químicos)
peneirada, a mais.

Fumigador
Um pegador de quadros, que auxilia na retirada dos quadros e evita o
esmagamento de abelhas.

Uma escova de cerdas macias, é necessária para a retirada sutil de abelhas


aderentes nos quadros. Pegador de quadros
Dentre outros equipamentos: um bom macacão de preferência com a
máscara aderida (cor clara), luvas (não pode ser de tecido), botas de borracha (cor
clara), máscara de tela (no caso de o macacão não possuir).

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7.2 Apiário

Entende-se por apiário o local onde são colocadas várias caixas, que alojam
as abelhas, pode ser instalado tanto em pequenas, médias, quanto em grandes
propriedades. A florada existente no local é de fundamental importância para o
bom desenvolvimento do apiário. Deve se evitar locais de grande movimento não
podendo ser instalados próximos a currais, pocilgas, aviários, canis, escolas, ou
seja, onde haja aglomeração de pessoas ou animais confinados.
A maioria dos apiários são construídos em locais de fácil acesso para o
apicultor, devido ao peso das caixas quando estão cheias de mel, é importante que
se possa chegar com um veículo próximo ao apiário. É perfeitamente possível
instalar um apiário em várias condições de terreno até mesmo em regiões
montanhosas, pois para a abelha o importante mesmo é que existam fontes de
água limpa, néctar e pólen próximos da colmeia.
Devido a crescente procura por produtos apícolas muitos apicultores, que
possuíam apiários fixos, optaram em praticar a chamada apicultura itinerante ou
migratória. Que consiste em realizar um estudo do potencial produtivo da região,
sendo assim criado um cronograma de acordo com a época de florada. O apiário
passa então a ser transportando, de uma região para outra conforme a
disponibilidade da florada, aumentando assim a produção.
Alguns fatores devem ser seguidos para a escolha do apiário:
 Proteção contra ventos fortes;
 Locais com baixa presença de formigas;
 A florada de ser abundante e o mais próxima possível do apiário
(1500m de raio no máximo);
 Locais afastados de rodovias (100 a 150m);
 Áreas afastadas de pedestres e tratores.

Ao iniciar um apiário, o ideal é começar com poucas colmeias (cerca de


cinco), para se testar a pastagem, e outros fatores, que possam influenciar na
produção. A partir daí é possível ir aumentando as colmeias até alcançar o
equilíbrio entre as abelhas e flores, ou a produção desejada.

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7.2.1 Como conseguir meu primeiro enxame?

Esse é um momento muito especial na vida de um apicultor, é muito


emocionante entrar em contato a primeira vez com um enxame. É uma
oportunidade única de pôr em prática todo esse conhecimento teórico, absorvido
com tanto interesse.
É fácil hoje em dia encontrar enxames disponíveis para a compra no
mercado, porém é necessária muita cautela, na hora de adquirir um enxame.
Primeiramente devem-se obter informações seguras relacionadas à idoneidade do
fornecedor. Dificilmente podemos encontrar um enxame de raça pura, más isso
nem sempre é um problema, pois com os diversos cruzamentos, que ocorreram
entre as abelhas europeias e africanas, originaram-se as abelhas africanizadas,
que agregou também características de uma excelente produtora, resistente a
doenças e ainda com uma agressividade moderada. Também é possível adquirir o
primeiro enxame através da captura. Dependendo da qualidade desses enxames
como veremos mais adiante, é possível realizar o melhoramento genético.

7.2.2 Aquisição e captura

Tanto para o apicultor iniciante, quanto para o experiente com “anos de


janela”, podem adquirir enxames comerciais, constituído de quatro quadros, ou
enxames já em fase de produção constituído de ninho e melgueira.
O interessante para o apicultor iniciante é comprar um enxame comercial
constituído de um quadro de alimento (pão de abelha) e três quadros de crias, uma
rainha e operarias. Isso faz com que o apicultor iniciante aumente seus
conhecimentos, juntamente com o enxame, passando por todo o processo de
desenvolvimento.
Já para o apicultor avançado, adquirir uma colmeia em produção é mais
vantajoso, o qual torna mais rápido o retorno do capital investido.
É possível também capturar um enxame, que esteja instalado em um local
indesejado, não indicado para um apicultor iniciante, pois dependendo do local em
que se encontra, poderá trazer algum risco a quem estiver próximo. Quando uma
colmeia se sente ameaçada é preciso muita experiência para evitar problemas ou
situações indesejadas, e dependendo do caso nem a experiência resolve.

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Outra opção é a captura com caixas isca adicionada de ferormônio
(substância que atrai as abelhas), possui um custo baixo e pode ser aplicado por
qualquer pessoa. Além de poder ser usada na prevenção de enxames, quando se
quer evitar, que estes habitem lugares indesejáveis. As abelhas africanas têm o
habito de migrar, esse processo de migração é um processo natural de divisão de
colmeias, porém em nosso caso um processo indesejável, quando já a
capturamos. A enxameação ocorre com mais frequência na primavera e no verão.
De posse dessas caixas devem ser logo encaminhados, para o local, onde
ficarão em definitivo, isto é, no apiário fixo. Este já deve ter sido planejado com
certa antecedência e possuir a estrutura necessária para a acomodação das
caixas. O ideal é que o apiário se encontre limpo, com os cavaletes devidamente
posicionados. Todos os cuidados, quanto a instalação do apiário, devem ser
tomados antes da chegada dos enxames, evitando assim o menor estresse
possível nas colmeias.

7.2.3 Pastagem apícola

No Brasil, em todas as regiões é possível pôr em prática a apicultura, é


claro que umas, são mais beneficiadas, que outras, mas de modo geral é simples
de implanta-la em qualquer parte do país.
As plantas melíferas são inúmeras, porém para tornar mais lucrativa a
produção, os apiários são colocados em regiões com predominância, de uma
única espécie de flor. No estado de São Paulo, são encontrados
predominantemente três tipos de méis: principalmente o de flores silvestres, devido
à vasta diversidade de espécies botânica, que florescem o ano todo; os méis de
flores de eucalipto (Eucaliptus sp), provenientes das grandes áreas de
reflorestamento; e os méis de flores de laranjeira (Citrus sp), que possuem maior
procura devido a suas características próprias obtidas a partir do néctar cítrico.
Existem inúmeras outras plantas que possuem, floradas capazes de produzir méis
surpreendentes, e também plantas que auxiliam na manutenção da colmeia em
épocas de escassez de alimentos, como é o caso da Astrapeia ( Dombeya wallichii
). A Astrapeia é um arbusto ou árvore que pode atingir 7 metros de altura, de
origem em Madagascar, suas folhas são largas, aveludadas e as flores possuem
cinco pétalas perfumadas. Apesar de exótica esta planta serve de alimentos para

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uma serie de insetos. Outras plantas melíferas de nossa região são: Alecrim do
campo, assa-peixe, cambará, carqueja, citros, aroeira,

7.3 Manejo da colmeia

É comum encontrar alguém, que diz já ter “tirado abelhas”, e normalmente é


esse mesmo o termo, pois tiram abelhas, mel, crias e pólen tudo misturado. O
apicultor, que trabalha sério com abelha faz o manejo correto e coleta os produtos,
consciente, sempre poderá contar com essa produção futuramente. Enquanto que
muitos “meleiros”, comuns em algumas regiões de nosso país, agridem as
colmeias na tentativa de conseguir algum mel. Mesmo que consigam alguma
quantidade considerável de mel, é preciso ter em mente, que esse tipo de
extração, é na maioria das vezes única, e muitas vezes, ainda ocorre o apicídio
(morte das abelhas), trazendo um prejuízo imenso a natureza.
Antes de abrir uma colmeia é preciso estar consciente, que estamos
interferindo no trabalho de milhares de abelhas, estas possuem um eficiente
mecanismo de defesa. Por isso é necessário estar bem protegido e ciente do que
se pretende fazer, o tempo é muito importante nessa hora, quanto menos tempo
levar para efetuar o manejo, menor será o impacto sobre as abelhas.

7.3.1 Revisão da colmeia

A revisão na colmeia é a inspeção periódica realizada nas colônias de


abelhas, com o objetivo de observar as condições das crias, provisões de
alimentos e sanidade do enxame, a fim de manter os enxames em condições de
produção. Deve ser realizada periodicamente, más é importante salientar, que
quanto menos mexer com as abelhas melhor, é inevitável que algumas abelhas
acabem morrendo espremidas durante o manejo, o que não pode ocorrer de
maneira alguma com a rainha. Não é recomendado manipular as abelhas com
frequência, pois isso só prejudica e atrapalha a rotina de trabalho das abelhas.

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Com o passar do tempo o apicultor aprende a conhecer a colmeia, com a
retirada da tampa, já é possível identificar algumas situações relacionadas ao
enxame.
De posse de todos os equipamentos descritos anteriormente, pode-se iniciar
a revisão das colmeias.
Basicamente uma boa revisão além de ser rápida, deve ser objetiva, após
adicionar um pouco de fumaça, o apicultor abre cuidadosamente a tampa, com o
auxílio do formão, de imediato verifica-se o volume de abelhas, a quantidade de
alimento, ovos, larvas e alvéolos operculados com cria (pulpa), se tudo estiver
correto é só fechar a caixa e partir para a próxima. Quando diagnosticado algum
problema, este deve ser solucionado o mais breve possível, levando-se em
consideração o rápido ciclo de vida das abelhas. Qualquer problema mais sério
pode acarretar em perda do enxame, seja por morte ou evasão do mesmo.
A apicultura além de uma atividade rentável, ainda auxilia na
conscientização de preservação da natureza, é típico de qualquer apicultor o
respeito ao meio ambiente.

7.3.2 Controle de enxameação, divisão e união de enxames


Enxameação
O processo de enxameação, ou seja, o simples fato das abelhas
abandonarem a caixa, por mais difícil, que seja para o apicultor aceitar, é um
processo natural. É claro que existem muitas maneiras de reduzir essas perdas,
mas a decisão final cabe sempre as abelhas. A enxameação pode ocorrer por
alguns motivos: por falta de alimento; falta de espaço; simples abandono; migração
ou quando o enxame se reproduz, dividindo naturalmente. As abelhas africanas
possuem maior tendência a enxameação. Outros fatores que podem levar a
enxameação é o ataque de inimigos naturais, intervenções frequentes, queda da
caixa, dentre outras.
Divisão de enxames
Como dito anteriormente a divisão do enxame pode ocorrer de forma
natural, mas também de forma artificial, quando se faz necessária a multiplicação
das colmeias. Existem várias maneiras de se dividir um enxame: o mais utilizado é
a simples divisão dos quadros contendo as crias; o ideal é dividir o enxame

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introduzindo uma rainha nova. Mas a divisão só deve ocorrer em enxames fortes,
do contrário o insucesso é quase certo.
União de enxames
Em épocas de inverno rigoroso escassez de alimento, a união de enxames
pode ser uma opção para minimizar as perdas dos mesmos. São várias as
técnicas utilizadas para a união de enxames: Método de pulverização com xarope,
intercalação dos quadros, folha de papel.

8. Doenças das abelhas

 Cria pútrida americana; transmitida através do Paenibacillus larvae,


anteriormente denominado bacillus larvae. A principal forma de dispersão é
através do mel, más não tem efeito para o homem.
 Nosemose; é uma doença causada por um protozoário intestinal, conhecido
por Nosema apis zander, seus esporos enfraquecem e destroem as células
secretoras do epitélio ventricular, interferindo no sistema digestivo das
abelhas.
 Acariose; causada pelo ácaro Acarapis woody-renie, ataca o sistema
respiratório das abelhas adultas.
 Varroase; Varroa jacobsonii é uma espécie de ácaro de coloração marrom,
facilmente visível com o auxílio de uma lupa ou mesmo a olho nu. Este
ácaro fica aderido ao corpo das abelhas e de suas crias, especialmente nos
alvéolos dos zangões. É muito prejudicial as abelhas podendo levar a
morte.

8.1 Inimigos das abelhas


Na natureza, existe grande competição por alimentos, e as abelhas também
servem de alimentos para várias espécies da cadeia alimentar. Algumas se
alimentam do mel, outras das crias, da cera enfim, sempre trazendo algum tipo de
prejuízo para as abelhas. Os mais comuns são o tatu, pica-pau, sapo, aranha,
formigas, traça, entre outros.
O maior inimigo das abelhas pode ser o próprio homem, quando:

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- Não limpa o apiário facilitando a ação de outros inimigos;
- Não trata as abelhas contra as enfermidades;
- Instala o apiário em local úmido e sombrio no inverno;
- Deixa as colmeias jogadas no chão;
- Tira todo o mel e deixa as abelhas morrerem de fome no inverno;
- Usa fumaça tóxica nas abelhas;
- Mata famílias com álcool e inseticidas;
- Nada planta em favor das abelhas;
- Derruba as florestas desordenadamente;

9. Produtos da colmeia

Uma boa produção só se consegue com esforço e dedicação, além desses


fatores, enxames de boa procedência fortes e saudáveis são características
indispensáveis.

9.1 Mel

Mel é uma substância doce produzida como alimento pelas abelhas


melíferas a partir do néctar das flores e de secreções de partes vivas de certas
plantas ou de excreções de certos insetos sugadores de plantas, que vivem sobre
algumas espécies vegetais e que as abelhas recolhem, transformam, combinam e
deixam maturar nos favos da colmeia.
As abelhas recolhem o néctar das flores e o transformam em mel através da
ação de enzimas e transformações físicas, para finalmente deposita-lo nos
alvéolos onde continua o processo de desidratação até estar maduro para então
selar o opérculo com uma fina camada de cera.
O mel é um adoçante natural rico em nutrientes e propriedades terapêuticas
utilizado desde a antiguidade. Pode ser classificado em: monofloral, constituído do
néctar de uma única espécie floral ou quando a maior predominância for de uma
única espécie floral; polifloral ou multifloral, quando constituído do néctar de mais
de uma espécie floral; e extrafloral, que não provem, diretamente do néctar, sendo
produzido a partir de exuldato de plantas, restos de frutas, ou ainda de excreções
de certos insetos, como alguns pulgões e cochonilhas (mel de melato).
A cristalização do mel acontece quando a concentração de glicose for
superior a 30%, e o teor de umidade estiver baixo. Este processo pode ocorrer

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rapidamente ou lentamente dependendo da origem botânica e da temperatura
ambiente, em épocas mais frias o mel tende a cristalizar mais rapidamente.

Composição do mel
Umidade 16,0 à 20,0 %
Açúcares 75,0 à 79,0 %
Proteínas até 1,0 %
Ácidos orgânicos 3,5 à 4,5%
Minerais até 0,2 %
Vitaminas -
Enzimas -

A concentração de umidade um dos fatores de maior importância no mel,


pois acima de 20 % o risco de fermentação é iminente. O alto teor de umidade no
mel pode se dar devido a vários fatores, entre eles a colheita em dias úmidos ou
chuvosos, coleta de quadros não operculados, beneficiamento em áreas
inapropriadas. O mel é um produto higroscópico, ou seja, ele absorve a umidade
presente no ambiente.
O valor de pH pode estar diretamente relacionado com a composição
florística nas áreas de coleta, uma vez que o pH do mel pode ser influenciado pelo
pH do néctar, além das diferenças na composição do solo ou a associação de
espécies vegetais para a composição final do mel.
A acidez do mel deve-se à variação dos ácidos orgânicos causada pelas
diferentes fontes de néctar, pela ação da enzima glicose-oxidase que origina o
ácido glucônico, pela ação das bactérias durante a maturação do mel e ainda a
quantidade de minerais presentes no mel, podendo ser ainda explicada pela
presença de ácidos orgânicos em equilíbrio com suas lactonas correspondentes ou
ésteres internos e alguns íons inorgânicos, como fosfato. Desta forma, a acidez do
mel é um componente de extrema relevância, pois além de conferir características
químicas e sensoriais, contribui para a sua estabilidade frente ao desenvolvimento
de microrganismos.
O mel é ainda considerado um produto de baixo risco toxicológico, sendo
raro que apresente algum efeito tóxico. Todavia, pode haver plantas que
produzem méis tóxicos ou ainda formação de Hidroximetilfurfural, quando o

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produto é exposto a temperaturas superiores a 35 °C por longos períodos, o que
exige cuidados específicos durante a produção e processamento do mel.
Os procedimentos de extração do mel são:
 Recepção das melgueiras
 Desoperculação
 Centrifugação
 Filtragem
 Decantação
 Envase
 Armazenamento

9.2 Própolis
A própolis é uma substância resinosa, coletada pelas abelhas a partir de
secreções ou exuldatos de várias partes das diferentes espécies de plantas, como
folhas, fendas e cascas dos troncos de árvores. No interior da colméia é utilizada
pelas abelhas no reparo de frestas ou danos a colméia, no preparo de locais
assépticos para a postura da abelha rainha e na mumificação de insetos invasores.
A melhor época para coleta da própolis é após o inverno, pois as abelhas
propolisam todo e qualquer orifício da colméia, aumentando assim, muito a
quantidade de própolis. Essa coleta pode ser realizada por uma simples raspagem
desta própolis com o formão ou utilizando técnicas específicas para a produção e
colheita. No Brasil, a produção de própolis é estimada em torno de 100 toneladas
anuais, sendo grande parte destinada à exportação, tanto na forma bruta como em
produtos manufaturados, alcançando elevados preços no comércio exterior e
representando uma importante fonte de renda.
Devido a sua complexa composição a cada dia a própolis vem sendo cada
vez mais estudada e são inúmeras suas propriedades biológicas.
Extratos alcoólico de própolis possuem atividades cientificamente
comprovadas: antifúngicas, antiprotozoárias, bactericidas, antivirais e ainda
existem muitas pesquisas em andamento com relação a outras propriedades da
própolis.

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Composição da Própolis Bruta
Umidade máximo de 8%(m/m)
Cinzas (minerais) máximo de 5% (m/m);
Cera máximo de 25 % (m/m);
Compostos Fenólicos mínimo 5 % (m/m);
Flavonóides mínimo de 0,5 % (m/m);

Solúveis em Etanol mínimo de 35% (m/m).

Sua composição é de 55% resinas vegetais, 30% cera de abelhas, 8 a 10%


de óleos essenciais, 5% de pólen e microelementos.
Assim como no mel o teor de umidade na própolis nuca deve ser elevado,
pois também poderão ocorrer problemas com microrganismos.
Talvez a propriedade de maior interesse da própolis seja a anti-inflamatória,
comumente utilizada contra inflamações da garganta, infecções, reumatismo e
torções. Também possui ação dermatológica na cicatrização de ferimentos,
regeneração de tecidos, tratamento de queimaduras, eczemas, dermatite de
contato, úlceras externas, psoríase, herpes simples, zoster e genitalis, pruridos e
dermatófilos. Alguns relatos da literatura apresentam o sucesso clínico da própolis
no tratamento de doenças respiratórias.
Os procedimentos de extração da própolis bruta são:
 raspagem /coleta
 separação /seleção
 higienização
 armazenamento / congelamento

9.3 Pólen
Pólen é o gameta masculino da flor, formado por microscópicos grãos de
diversas formas, cores e sabores, localizado nas anteras, extremidade dos
estames, de onde é retirado pelas abelhas, levado até a colmeia e depositado nos
alvéolos para uso no preparo do alimento normal e da geleia real.
Da mesma forma que a própolis, o pólen também possui inúmeros
benefícios comprovados cientificamente, dentre eles: extraordinário tonificante e
estimulante (vigor físico), combate a arteriosclerose, depressão física e mental,

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fraqueza ocular, evitar nervosismo e insônia, distúrbios da memória, impotência e
astenia sexual, e muitas outras indicações.
A coleta do pólen é realizada com um equipamento chamado de caça-pólen,
que é colocado no alvado, tomando toda a entrada da caixa. As abelhas que
passam pelo caça-pólen, automaticamente passam por uma tela especial com
espessura entre 4,5 a 5,0mm, onde o pólen fica retido e cai na bandeja de coleta.
Posteriormente retira-se a bandeja e segue o processamento do pólen, que nada
mais é que a desidratação e separação de partículas estranhas.
Os procedimentos para a coleta do pólen apícola são:
 coleta (gavetas do caça pólen)
 congelamento
 secagem
 higienização
 envase
Todo o apicultor que desejar coletar pólen, de maneira racional e lucrativa,
precisa saber em quais épocas do ano acorre o maior pique de entrada do mesmo
nas colmeias.
Para isso, é interessante fazer um mapa da floração.

9.4 Geleia real

A geleia real é um produto natural secretado pelas abelhas jovens


(nutrizes), de consistência espessa e cremosa, de pouco odor, translúcida, com
reação ácida, de coloração esbranquiçada, parecendo-se com leite condensado.
A produção de geleia real não é um, processo simples, e exige alguns
conhecimentos avançados importantes, e muita experiência.
Muitos são os benefícios da geleia real, e pode ser considerado um
superalimento, com excelentes efeitos ao organismo humano, sem qualquer
contraindicação, existindo muitos casos de cura de doenças. Algumas indicações
são: asma bronquial, problema de climatério, esgotamento, problemas de visão,
arteriosclerose, diabete e como bactericida.

24
9.5 Outros produtos

Além dos produtos já citados, a apicultura pode também atender, a um


mercado mais específico, como é o caso da cera, apitoxina, polinização, produção
de rainhas e enxames. O direcionamento correto da produção resultará na melhora
da produção, e da qualidade desejadas.
Baixa produtividade das colmeias pode estar relacionada a um ou mais dos
seguintes fatores:
a) Pouca disponibilidade de plantas fornecedoras de pólen;
b) Entrada e armazenamento de pólen na colméia;
c) Rainha com baixa postura;
d) Rainha cuja carga genética, é inadequada para produção de pólen;
e) Excesso de xarope nos quadros;
f) Falta de espaço para a rainha fazer a postura;
g) Falta ou pouca alimentação, tanto estimulante como protéica;
h) Formigas carregando pólen para o seu ninho;
i) Excesso de fumaça - pouco uso da fumaça, somente o necessário;
j) Excesso de vento no alvado;
k) Mortandade de larvas provocada por e pólen tóxico (barbatimão);
l) Enxames muito fracos;
m) Enxames muito populosos.

10. Casa do mel

A casa do mel é o local onde são realizadas a extração e preparação básica


do mel para a comercialização. O Ministério de Agricultura Pecuária e
Abastecimento é o responsável pelas exigências legais referentes as condições
higiênico-sanitárias, que o estabelecimento de manipulação precisa cumprir
(Portaria SIPA n° 006, de 25 de julho de 1985 e Portaria n° 368, de 04 de
setembro de 1997 – DIPOA). A construção da casa do mel representa o maior
investimento apícola, portanto deve ser bem planejada e construída.
Recomenda-se que a casa do mel possua áreas destinadas a recepção de
melgueiras, manipulação dos favos e mel, estocagem de mel centrifugado,

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banheiro, vestiário e depósito. Os banheiros e vestiários não podem ter
comunicação direta com as áreas de processamento de alimento.
O fluxo do mel no estabelecimento deve ter sentido único, não sendo
admitido o cruzamento entre o mel processado e as melgueiras no interior da casa
do mel. Assim os favos chegam na recepção, passam para a desoperculação, indo
em seguida para a centrifugação. Na saída da centrífuga o mel é filtrado e segue
para os tanques de decantação. Após a decantação pode ser embalado, e segue
para o depósito ou comercialização. O depósito deve possuir saída exclusiva para
a expedição do mel.

10.1 Equipamentos e utensílios

Todos os equipamentos e utensílios empregados na casa do mel que


possam entrar em contato com o mel deverão ser de materiais que não liberem
substâncias tóxicas, odores nem sabores. Devem também ser resistentes a
corrosão e capazes de suportar a repetidos processos de limpeza e desinfecção.
Os equipamentos e utensílios são: mesa desoperculadora, centrífuga,
decantadores, peneiras, baldes, garfos desoperculadores.

10.2 Embalagem e armazenamento

Nesta etapa da produção é preciso um tanto de reflexão, devido ao fato de


que a qualidade total é uma realidade almejada tanto ao pequeno produtor quanto
as grandes empresas. O bom trabalho realizado até aqui, não deve ser perdido por
falta de higiene ou por pseudo economia.
A maior parte das embalagens utilizadas para produtos destinados a
alimentação humana devem ser preferencialmente de vidro esterilizado, podendo
ser substituído por outros recipientes, vasilhames ou embalagens conforme
autorizadas pelo serviço de inspeção. A reutilização de embalagens de outros
produtos, devem ser evitadas, utilizando-se sempre novas. No caso de potes,
sempre utilizar os de boca larga, pois é comum acontecer de o mel cristalizar,
assim fica mais fácil a retirada do produto pelo consumidor.

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O acondicionamento do produto embalado também é um fator muito
importante, pois suas características nutritivas, devem ser preservadas de
qualquer maneira. Para o caso de potes de vidro, plástico ou baldes de mel, é
importante armazena-los em local fresco e arejado, temperaturas elevadas
diminuem o valor nutricional do mel, e temperaturas baixas, fazem com que o mel
cristalize mais rapidamente.
A própolis bruta recém-colhida necessita de embalagem à vácuo para ser
congelada, já os extratos de própolis podem ser acondicionados em frascos de
vidro na cor âmbar esterilizados.
A geleia real deve ser colocada em potes plásticos para o congelamento.
O pólen deve ser armazenado em freezer até a desidratação, quando este
atingir a concentração de umidade adequado, pode ser acondicionado em sua
embalagem final, e também mantido em lugar fresco e arejado.

10.3 Comercialização e preparação para o mercado

O potencial melífero do Brasil está estimado em mais de 200.000 toneladas


anuais de excelente mel, própolis, pólen, geleia real, cera, apitoxina aceitos pelos
mercados mais exigentes do mundo. Tudo isso é certo e animador para quem
pratica ou pretende um dia praticar a apicultura, mas para que realmente se
obtenha sucesso é necessário manter uma boa produtividade, com muita
qualidade técnica, para competir no “mercado livre” global.
Apesar de amplo, a cada dia o mercado apícola se torna mais competitivo,
com exigências cada vez mais rigorosas, por isso temos que nos manter sempre
atualizados.
Existem hoje vários segmentos na agricultura, indústria e comércio no qual os
produtos apícolas estão envolvidos. É importante que o apicultor principiante trace
um objetivo antes de iniciar sua criação, mesmo que seja por hobby.
Para cada área de comercialização, exige um perfil de produção diferenciado,
desde o manejo da colmeia.
Para a comercialização no varejo é necessário cumprir uma série de
exigências, fiscais e sanitárias conforme a legislação.

27
11. Legislação

A legislação de alimentos é bastante rigorosa, e a maior parte dos produtos


apícolas são alimentícios, e seguem leis e normas do Ministério de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA). A seguir encontram-se as legislações vigentes
que asseguram a qualidade dos produtos apícolas no Brasil:

 Instrução Normativa n.3 de 19 de janeiro de 2001. Regulamentos

Técnicos de Identidade e Qualidade de apitoxina, cera de abelha,

geléia real, geléia real liofilizada, pólen apícola, própolis e extrato

de própolis.

 Instrução Normativa n.11, de 20 de Outubro de 2000. Regulamento

Técnico de Identidade e Qualidade do Mel.

 Resolução n.01 de 19 de junho de 2001. Consulta Pública que

uniformiza os procedimentos na análise e aprovação por parte do

Serviço dos memoriais descritivos dos processos de elaboração e

dos rótulos do mel e demais produtos apícola com adições.

 Resolução RDC n.º 39, de 21 de março de 2001. Regulamentos

técnicos de Valores de Referência para Porções de Alimentos e

Bebidas Embalados para Fins de Rotulagem Nutricional.

 Resolução - RDC nº 40, de 21 de março de 2001. Regulamento

Técnico para Rotulagem Nutricional Obrigatória de Alimentos e

Bebidas Embalados.

 Resolução - RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003. Regulamento

técnico sobre rotulagem nutricional de alimentos embalados.

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12. Considerações finais
A globalização fez com que hoje, o apicultor possa se dar ao luxo, de escolher
um único segmento da apicultura, sendo este, suficiente para viver com uma boa
qualidade de vida. No Brasil já existem apicultores trabalhando somente com um
segmento da produção. Por exemplo, podemos citar a cera que vem sendo muito
utilizada como matéria prima para indústria de cosméticos, de velas artesanais, ou
até mesmo na confecção da cera alveolada, que possui uma boa clientela.
Em muitos estabelecimentos trabalham diretamente com os produtos apícolas,
o mel está deixando de ser o produto principal, embora ainda há muito caminho a
ser percorrido.

13. Referências bibliográficas

ARAUJO, N. Ganhe muito dinheiro criando abelhas. 1.ed. São Paulo: Nobel,
1983. p.212.
ALMEIDA-MURADIAN, L.B.; BERA, A. Manual de controle de qualidade do mel.
São Paulo: APACAME, 2008. p.32.
BRASIL, Instrução Normativa n.3 de 19 de janeiro de 2001. Regulamentos

Técnicos de Identidade e Qualidade de apitoxina, cera de abelha, geléia

real, geléia real liofilizada, pólen apícola, própolis e extrato de própolis,

[http://oc4j.agricultura.gov.br/agrolegis/do/consultaLei?op=viewTextual&codigo

=1798]. 19 de outubro de 2004.

BRASIL, Instrução Normativa n.11, de 20 de Outubro de 2000. Regulamento

Técnico de Identidade e Qualidade do Mel,

[http://oc4j.agricultura.gov.br/agrolegis/do/consultaLei?op=viewTextual&codigo=

7797]. 19 de outubro de 2004.

BRASIL, Resolução n.01 de 19 de junho de 2001. Consulta Pública que

uniformiza os procedimentos na análise e aprovação por parte do Serviço

dos memoriais descritivos dos processos de elaboração e dos rótulos do

29
mel e demais produtos apícola com adições,

[http://www.agricultura.gov.br/sda/dipoa/resolucao01_190601.htm.] 19 de

outubro de 2004.

BRASIL, Resolução RDC n.º 39, de 21 de março de 2001. Regulamentos

técnicos de Valores de Referência para Porções de Alimentos e Bebidas

Embalados para Fins de Rotulagem Nutricional,

[http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/39_01rdc.htm]. 19 de outubro de 2004.

BRASIL, Resolução - RDC nº 40, de 21 de março de 2001. Regulamento Técnico

para Rotulagem Nutricional Obrigatória de Alimentos e Bebidas

Embalados.[http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/40_01rdc.htm] 19 de outubro

de 2004.

BRASIL, Resolução - RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003. Regulamento

técnico sobre rotulagem nutricional de alimentos embalados, [http://e-

legis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=9059] 19 de outubro de 2004.

CRANE, E. Honey – a compreensive survey. 1.ed. London: Morrison and Gibb,


1975. p.608
CRANE, E. O Livro do mel. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1987. p.226.
PUTTKAMMER, E. Programa catarinense de profissionalização de
apicultores. Florianópolis,1994. (Apostila do curso sobre apicultura –
EPAGRI).
WIESE, H. Apicultura: Novos tempos. 1.ed. Guaíba: Agropecuária, 2000. p.424.
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WIESE, H. Nova apicultura. 8.ed. Porto Alegre: Agropecuária, 1987. p.493.
WIESE, H. Novo manual de apicultura. 1.ed. Guaíba: Agropecuária, 1995. p.292.

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