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Andréa Zander Vaiano; Rosa García Márquez; Jorge Correa de Araújo; Hudson G. Moreira
FFP/UERJ, andreazanderv@gmail.com, rosagm@uerj.br, jcaraujo@iprj.uerj.br, Hudson-
moreira@oi.com.br
Resumo: As abelhas são insetos importantes no equilíbrio ecológico e seus alvéolos, locais onde
depositam suas larvas e o mel produzido, apresentam uma configuração geométrica especial. Neste
trabalho apresentamos uma breve história das abelhas no Brasil e a sua utilidade nas antigas
culturas, com ênfase nas abelhas com ferrão, por terem sido introduzidas no Brasil em meados do
século passado, com a finalidade de aumentar a resistência diante de predadores naturais, como o
ácaro Varroa Destructor. Usando a geometria analítica e o cálculo diferencial e integral,
determinamos, entre outros parâmetros, o volume do alvéolo das abelhas com ferrão.
Introdução
As abelhas são insetos voadores da ordem Hymenoptera (que significa "asas
membranosas") e da família Apoidea (Embrapa, 2012). Têm a sua importância no
equilibro ecológico pelo fato de colaborarem com a polinização de 35% das plantas
que geram alimentos para os humanos.
Por volta de 1950 a apicultura brasileira sofreu uma grande queda devido a
doenças, pragas e inseticidas, provocando a morte de 80% das abelhas europeias
no país. Com a diminuição drástica da quantidade de abelhas, houve a necessidade
de introduzir abelhas mais resistentes. Em 1956, o presidente da época, Juscelino
Kubitschek, pediu ao cientista Dr. Warwick Estevan Kerr que trouxesse da África
abelhas rainhas africanas, por serem altamente produtivas. Porém, devido à alta
agressividade dessa espécie, a ideia seria realizar cruzamentos monitorados com
abelhas italianas e alemãs, a fim de obter uma linhagem mais calma, produtiva e
aclimatada ao Brasil, gerando, assim, uma espécie híbrida a ser distribuída entre os
apicultores, em Piracicaba. Em 1957, algumas colônias trazidas por Kerr foram
levadas ao horto florestal de Camaquã em Rio Claro, São Paulo, para realizar os
objetivos traçados de forma controlada. No entanto, houve um incidente que
provocou o cruzamento natural dessas abelhas, ainda sem o melhoramento genético
pretendido, com as abelhas europeias anteriormente trazidas pelos imigrantes.
Surgiram então, as chamadas abelhas africanizadas. O impacto gerado pelo
incidente em São Paulo foi negativo, pois, em curto espaço de tempo, essas abelhas
dominaram colmeias já existentes e picaram várias pessoas, levando diversas à
morte. O episódio, o qual Kerr foi responsabilizado, motivou os apicultores a
abandonarem a atividade apícola, causando o efeito contrário ao desejado: uma
queda maior ainda na produção de mel. Porém, com o passar dos anos, os
apicultores foram se adaptando a esta nova espécie de abelhas, aprimorando
técnicas e vestes de manuseio. Em contrapartida, as pesquisas do Dr. Kerr, Dr.
Lionel Gonçales e colaboradores sobre as africanizadas, mostraram que elas eram a
única especie de abelhas resistente ao ácaro Varroa Destructor (Message, 1976).
O primeiro matemático que estudou os alvéolos das abelhas com ferrão foi o
egípcio Pappus de Alexandria (290 – 350). Com o conhecimento que os únicos
prismas regulares que podem ser justapostos sem que fiquem espaços vazios são
os de base triangular, quadrangular e hexagonal, suspeitava que o último
apresentasse maior capacidade de armazenamento de mel pelo simples fato de
possuir mais ângulos.
Figura 2: Alvéolo de base hexagonal (a) sem e (b) com o ápice triédrico
Área de cada um dos seis trapézios (At): Observemos inicialmente que o plano
determinado por A, B1 e C é paralelo ao plano que contém a base do alvéolo
A’B’C’D’E’F’. Deduzimos daí que o triângulo BB1M é retângulo em B1. A
determinação da medida de BB1 é necessária para o cálculo da área desse
trapézio. A figura 4 mostra o detalhamento de uma seção do alvéolo).
P
A
M
B1 C
h
B
F’ E’
A’ D’
B’ C’
Figura 4: Seção do alvéolo de base hexagonal passando por AA’CC’
L
Aplicando o Teorema de Pitágoras no triângulo BB 1M temos BB1 3 tan 2 1 .
2 2
Logo, a área de cada um dos seis trapézios que formam o alvéolo é dada por
L L 2
At = 2h 3 tan 1 ,
2 2 2
onde h é a altura do alvéolo. Assim, a área total, A() = 3.Al + 6.At,, será
L 9 L2
A() = 3L 2h 3 tan2 1 tan .
2 2 2 2
O próximo passo é descobrir o valor de θ que minimiza a área total. Derivando A()
em relação a θ, segue que
tan
2
2
A’() = 9L
sec 1 2 .
4 2
3 tan 2 1
2
1
Observemos que A’() = 0 se, e somente se, = 2.arctan , e este é um ponto de
2
2 81 2 2
mínimo, pois A’’ 2 arctan
L > 0.
2 16
Assim, devemos ter 70,52878º 70º 32’, e portanto, 109º 28’, estando em
concordância com os valores reais observados nos alvéolos das abelhas com ferrão.
L 3 3L
C’= , ,0 , conforme observado na figura 4. Observemos ainda que a projeção
2 2
3L2 L2 3 L2 3 3 1
(x - 0) + (y – 0) +
2 (z - h) = 0, ou z = h - 2 x + 2 y.
4 4
3 3 3
Onde ( x,y ) IR 2 0 x L e x y x L representa o
2 3 3
paralelogramo A’B’C’O , conforme a figura 5. Portanto, o volume de W é
1
3 2
Vvol (W ) dV = h x y dydx = L 3 h
2 2
W
2
3 3 2
Logo, o volume do alvéolo é dado por V = 3.Vol(W), ou seja, V = L h.
2
Sabendo que o volume do prisma hexagonal regular de altura h e aresta da base, L,
3 3 2
é igual a L h , concluímos que o volume do alvéolo é igual ao volume do prisma
2
hexagonal regular.
6. Conclusões
Em relação aos sólidos geométricos que podem ser justapostos de modo a
formarem as colmeias, o prisma hexagonal regular é o mais adequado para essa
finalidade, por ter maior capacidade volumétrica. Neste sentido, a natureza mostra-
se sábia, já que a deformação arquitetônica do prisma hexagonal regular para o
processo de justaposição, ao mesmo tempo em que minimiza o material de
revestimento, maximiza o volume de mel armazenado no alvéolo.
Referências bibliográficas