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Criação de Abelhas: Histórico e Importância - Apicultura – Agronomia

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO A CRIAÇÃO DE ABELHAS


A ciência que se dedica a criação racional de abelhas para fins de lazer ou comercial, visando a
obtenção de mel, propólis, geléia real, pólen, cera e veneno (apitoxina) é denominada de
apicultura. O mel, que é usado como alimento pelo homem desde a pré-história, por vários séculos
foi retirado dos enxames de forma extrativista e predatória, muitas vezes causando danos ao meio
ambiente, matando as abelhas. Entretanto, com o tempo, o homem foi aprendendo a proteger seus
enxames, instalá-los em colmeias racionais e manejá-los de forma que houvesse maior produção de
mel sem causar prejuízo para as abelhas. Nascia, assim, a apicultura.
No início, o homem promovia uma verdadeira "caçada ao mel", tendo que procurar e localizar os
enxames, que muitas vezes nidificavam (formavam ninhos) em locais de difícil acesso e de grande
risco para os coletores. Naquela época, o alimento ingerido era uma mistura de mel, pólen, crias e
cera, pois o homem ainda não sabia como separar os produtos do favo. Os enxames, muitas vezes,
morriam ou fugiam, obrigando o homem a procurar novos ninhos cada vez que necessitasse retirar
o mel para consumo.
Há, aproximadamente, 2.400 anos a.C., os egípcios começaram a colocar as abelhas em potes de
barro. A retirada do mel ainda era muito similar à "caçada" primitiva, entretanto, os enxames
podiam ser transportados e colocados próximo à residência do produtor ou ainda transportados
próximos a reservas florais para coleta de néctar e pólen. O mel juntamente com o fermentado
obtido do pão (cerveja de pão) constituiam uma das principais fontes de energia para os trabalhos
nas grandes construções. Apesar de os egípcios serem considerados os pioneiros na criação de
abelhas, a palavra colmeia vem do grego, pois os gregos colocavam seus enxames em recipientes
com forma de sino feitos de palha trançada chamada de colmo.
Naquela época, as abelhas já assumiam tanta importância para o homem que eram consideradas
sagradas para muitas civilizações. Com isso várias lendas e cultos surgiram a respeito desses
insetos. Com o tempo, elas também passaram a assumir grande importância econômica e a ser
consideradas um símbolo de poder para reis, rainhas, papas, cardeais, duques, condes e príncipes,
fazendo parte de brasões, cetros, coroas, moedas, mantos reais, entre outros.
Na Idade Média, em algumas regiões da Europa, as árvores eram propriedade do governo, sendo
proibido derrubá-las, pois elas poderiam servir de abrigo a um enxame no futuro. Os enxames eram
registrados em cartório e deixados de herança por escrito, o roubo de abelhas era considerado um
crime imperdoável, podendo ser punido com a morte. Nesse período, muitos produtores já não
suportavam ter que matar suas abelhas para coletar o mel e vários estudos iniciaram-se nesse
sentido. O uso de recipientes horizontais e com comprimento maior que o braço do produtor foi
uma das primeiras tentativas. Nessas colmeias, para colheita do mel, o apicultor jogava fumaça na
entrada da caixa, fazendo com que todas as abelhas fossem para o fundo, inclusive a rainha, e
depois retirava somente os favos da frente, deixando uma reserva para as abelhas.
Alguns anos depois, surgiu a idéia de se trabalhar com recipientes sobrepostos, em que o apicultor
removeria a parte superior, deixando reserva para as abelhas na caixa inferior. Embora resolvesse a
questão da colheita do mel, o produtor não tinha acesso à área de cria sem destrui-la, o que
impossibilitava um manejo mais racional dos enxames. Para resolver essa questão, os produtores
começaram a colocar barras horizontais no topo dos recipientes, separadas por uma distância igual
à distância dos favos construídos. Assim, as abelhas construíam os favos nessas barras, facilitando a
inspeção, entretanto, as laterais dos favos ainda ficavam presas às paredes da colmeia.
Em 1851, o Reverendo Lorenzo Lorraine Langstroth verificou que as abelhas depositavam
própolis em qualquer espaço inferior a 4,7 mm e construíam favos em espaços superiores a 9,5 mm.
A medida entre esses dois espaços Langstroth chamou de "espaço abelha", que é o menor espaço
livre existente no interior da colmeia e por onde podem passar duas abelhas ao mesmo tempo. Essa
descoberta simples foi uma das chaves para o desenvolvimento da apicultura racional. Inspirado no
modelo de colmeia usado pelo entomologista suiço Francis Huber, que prendia cada favo em
quadros presos pelas laterais e os movimentava como as páginas de um livro, Langstroth resolveu
estender as barras superiores já usadas e fechar o quadro nas laterais e abaixo, mantendo sempre o
espaço abelha entre cada peça da caixa, criando, assim, os quadros móveis que poderiam ser
retirados das colmeias pelo topo e movidos lateralmente dentro da caixa. A colmeia de quadros
móveis permitiu a criação racional de abelhas, favorecendo o avanço tecnológico da atividade como
a conhecemos hoje. Essa atividade atravessou o tempo, ganhou o mundo e se tornou uma
importante fonte de renda para várias famílias. Hoje, além do mel, é possível explorar, com a
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criação racional das abelhas, produtos como: pólen apícola, geléia real, rainhas, polinização,
apitoxina e cera. Existem casos de produtores que comercializam enxames e crias.

HISTÓRIA DAS ABELHAS NO BRASIL


O Brasil é, atualmente, o 6° maior produtor de mel (ficando atrás somente da China, Estados
Unidos, Argentina, México e Canadá), entretanto, ainda existe um grande potencial apícola (flora e
clima) não explorado e grande possibilidade de se maximizar a produção, incrementando o
agronegócio apícola. Nem sempre foi assim, uma longa jornada de erros e acertos ocorreu durante a
história até assumirmos a produção de 20 toneladas de mel ao ano. Dentro dessa perspectiva
podemos identificar três fases da apicultura brasileira: (1) Estagnação das abelhas europeias; (2)
Advento das abelhas africanas; (3) Descoberta do potencial das abelhas indígenas sem ferrão.

ESTAGNAÇÃO DA ABELHAS EUROPÉIAS


As abelhas da espécie Apis mellifera foram introduzidas no Brasil em 1840, oriundas da Espanha e
Portugal, trazidas pelo Padre Antônio Carneiro. Provavelmente as subespécies (raças) Apis mellifera
mellifera Linneaus, 1758 (abelha preta ou alemã) e Apis mellifera carnica Pullman, 1879 (abelhas
originária da Aústria e norte europeu) tenham sido as primeiras abelhas a chegar em nosso país.
Imigrantes alemães introduziram a Apis mellifera mellifera no Sul do país em 1845 e depois mais
tarde em 1870 as abelhas italianas Apis mellifera ligustica Spinola, 1806 Sul e no estado da Bahia.
Não se tem registro preciso da introdução das abelhas no Norte e Nordeste do país, mas em 1845
Castelo Branco afirmava: "as abelhas do Piauí não têm ferrão". Naquele período, a maior parte dos
apicultores criava as abelhas de forma rústica, possuindo poucas colmeias no fundo do quintal,
onde, em razão da baixa agressividade, eram criadas próximo a outros animais, como porcos e
galinhas. Embora a atividade nessa época tenha sido tratada de maneira muito artesanal e com o
objetivo principal de subsistência (próprio consumo), o grande número de pequenos produtores
praticantes dessa atividade sustentou a produção de mel por um considerável período. A
decadência da apicultura brasileira iniciou em meados de 1950, com os problemas de doenças e
pragas como a nosemose, acariose e cria pútrida com redução de 80% da produção de mel. Essa
fato foi associado as precárias condições de criação e sanidade dos apiários pois na maioria das
vezes as abelhas eram alojadas em caixotes de qualquer espécie, balaios de vime, latas vazias e o
contato e contaminação com excrementos animais inevitável.

ADVENTO DAS ABELHAS AFRICANAS


Era necessário reestabelecer a produção tornando as abelhas mais resistentes as patologias
encontradas nos criadouros, o que fez com que o professor Warwick Estevan Kerr um grande
entusiasta da atividade no Brasil, se dirigisse à África, com apoio do Ministério da Agricultura, com
a incumbência de selecionar rainhas de colmeias africanas produtivas e resistentes a doenças. A
intenção era realizar pesquisas comparando a produtividade, rusticidade e agressividade entre as
abelhas européias, africanas e seus híbridos e, após os resultados conclusivos, recomendar a abelha
mais apropriada às nossas condições.
Dessa forma, em 1957, 49 rainhas foram levadas ao apiário experimental de Rio Claro para serem
testadas e comparadas com as abelhas italianas e pretas. Entretanto, nada se concluiu desse
experimento, pois, em virtude de um acidente, 26 das colmeias africanas enxamearam 45 dias após
a introdução. A liberação dessas abelhas muito produtivas, porém muito agressivas, criou um
grande problema para o Brasil. O pavor desse inseto invadiu o mundo em razão de notícias
sensacionalistas nas televisões, jornais e revistas internacionais, que não condiziam exatamente
com a verdade, mas ajudavam nas vendas. Nesse período, nenhum animal foi mais comentado em
livros, entrevistas, reportagens e filmes do que as "abelhas assassinas" ou "abelhas brasileiras",
como eram chamadas.
As "abelhas assassinas" eram consideradas pragas da apicultura e começaram a surgir campanhas
para a sua erradicação, não só dos apiários, mas também das matas, com a aplicação de inseticidas
em todo o País. Essa atitude, além de ser uma operação de alto custo, provocaria um desastre
ecológico de tamanho incalculável.
Toda essa campanha acabou provocando o abandono de muitos apicultores da atividade e uma
queda na produção de mel no País. Na verdade, o que acontecia era uma completa inadequação da
forma de criação e manejo das abelhas africanas. Embora as técnicas usadas fossem adaptadas às
abelhas européias, para as abelhas africanas, as vestimentas eram inadequadas; os fumigadores,
pequenos e pouco potentes; as técnicas de manejo, impróprias para as abelhas e as colmeias
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dispostas muito próximas das residências, escolas, estradas e de outros animais. Todos esses
fatores, em conjunto com a maior agressividade, facilitavam o ataque e os acidentes.
Com isso, muitos produtores considerados amadores abandonaram a atividade e os que
permaneceram tiveram que se adaptar as novas técnicas de manejo, profissionalizando-se cada vez
mais para controlar a agressividade das abelhas. Na tentativa de amenizar a situação, distribuíram-
se entre os apicultores rainhas italianas fecundadas por zangões italianos. Tal iniciativa não deu
certo porque os produtores, já sabendo da maior produtividade das abelhas africanas, eliminavam
as rainhas italianas. A solução foi distribuir rainhas italianas virgens, que se acasalavam com
zangões africanos, obtendo uma prole mais produtiva e menos agressiva.
Outros fatores importantes que contribuíram para a redução da agressividade das abelhas africanas
e para o crescimento e desenvolvimento da atividade foram: (1) Interação entre produtores e
pesquisadores nos congressos e simpósios; (2) Criação de concursos premiando novos inventos;
(3) Incentivo governamental através da liberação de créditos para a atividade; (4) Participação do
País em eventos internacionais; (5) Investimento em pesquisas; (6) Criação da Confederação
Brasileira de Apicultura em 1967; (7) Valorização progressiva de outros produtos apícolas.
Hoje, as abelhas chamadas de africanizadas (híbridos resultantes do cruzamento entre europeias e
africanas), por terem herdado muitas características das abelhas africanas, são consideradas como
as responsáveis pelo desenvolvimento apícola do País, de modo que o Brasil, que era o 28º
produtor mundial de mel (5 mil t/ano), passou para o 6º (20 mil t em 2001). A agressividade é
considerada por muitos apicultores como um forte aliado para se evitar roubo da sua produção e
ainda vêem a vantagem de serem tolerantes a várias pragas e doenças que assolam a atividade em
todo o mundo, mas não têm acarretado impacto econômico no Brasil. Apesar da concepção das
abelhas com ferrão de origem europeia nos apiários, dificilmente se encontrará uma abelha com
características puras, pois de longa data os cruzamentos e miscigenação com abelha africanas vem
se estabelecendo o que torna mais usual o conceito de abelhas africanizadas.

DESCOBERTA DO POTENCIAL COMERCIAL DAS ABELHAS INDÍGENAS


A atividade da criação de abelhas nativas sem ferrão denominada de meliponicultura (abstração
de subfamília meliponinae) vem sendo desenvolvida há bastante tempo, antes mesmo da
introdução da abelhas europeias no Brasil em 1840. Essa atividade vem ganhando destaque
especial nos últimos anos devido a grande diversidade dessas abelhas, a ausência de ferrão e o mel
de excelente qualidade com suas propriedades medicinais. Assim tem se observado nas últimas
décadas um crescente interesse dos apicultores tradicionais pela meliponicultoura. No Norte e
Nordeste meliponicultores possuem um grande número de colmeias de uma única espécie, como é
o caso da Tiúba (Melipona compressipes) no Maranhão ou a Jandaíra (Melipona subnitida) no Ceará
e Rio Grande do Norte. No sul do país o número de produtores ainda é pequeno quando comparado
aqueles que se dedicam a criação de abelhas africanizadas (com ferrão), sendo explorado
esporadicamente como forma de passatempo.
Entre as abelhas sociais brasileiras, as pertencentes à subfamília Meliponinae, chamadas
popularmente de abelhas indígenas sem ferrão, são as mais conhecidas. Existem mais de 200
espécies diferentes, algumas das quais freqüentemente criadas para a produção de mel. O
interessado em abelhas indígenas precisa atentar para o fato de que muitas vezes o nome popular
varia de uma região para outra, de tal forma que muitas vezes uma única espécie recebe, em regiões
diversas, denominações diferentes e, muitas vezes, o mesmo pode ser usado para designar várias
espécies de abelhas.
Os ninhos dessas abelhas são encontrados, de acordo com a espécie, em locais bastante diversos,
havendo aquelas que constroem ninhos subterrâneos, dentro de cavidades preexistentes,
formigueiros abandonados, entre raízes de árvores etc, como a guira ou mulatinha-do-chão
(Schwarziana quadripunctata) ou a mombuca (Geotrigona mombuca) ou, ainda, a mandaçaia-do-
chão (Melipona quinquefasciata). Outras constroem ninhos aéreos, presos a galhos ou paredes como
a arapuá (Trigona spinipes) ou a sanharão (Trigona truculenta). A maioria das espécies, entretanto,
constrói seus ninhos dentro de cavidades existentes nos troncos ou galhos das árvores como a jataí
(Tetragonisca angustula), a mandaçaia (Melipona quadrifasciata), a manduri (Melipona marginata),
a mandaguari (Scaptotrigona postica), a timirim (Scaptotrigona xanthotricha) e muitas outras
espécies. Muitas dessas espécies, que utilizam cavidades em madeira, são muitas vezes encontradas
em cavidades existentes em muros e paredes de alvenaria, como acontece comumente com a jataí, a
iraí (Nannotrigona testaceicornis) e a mirim (Plebeia droryana). Algumas espécies fazem ninhos
ainda dentro de cupinzeiros como acontece com a cupira (Partamona sp.) ou com Scaura latitarsis,
e outras constroem dentro de formigueiros ativos.
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Os índios utilizavam-se dos subprodutos coletados de colônias de meliponíneos abrindo janelas no


tronco da árvore em que se alojava a colônia e, assim, realizavam a colheita do pólen e do mel
armazenados pelas abelhas. As tribos indígenas alimentavam- se dos subprodutos desses insetos e
utilizavam a cera para auxiliar na confecção de objetos de caça, como flechas, e na
impermeabilização de cestos e outros utensílios feitos de fibras vegetais. Esta prática foi constatada
entre os Paliukur, no Amapá. No trabalho de Herman Von Ihering de 1903 são encontradas várias
ilustrações que mostram colônias de meliponíneos e diferentes tipos de colmeias utilizadas para a
criação de abelhas nativas sem ferrão. Assim, há aproximadamente um século, os meliponíneos vêm
sendo alvo de interesse de cientistas e agricultores no sentido de criação, produção de mel e mais
recentemente, em trabalhos de polinização, biologia, manejo, genética e evolução. Considero a
polinização como a mais importante atividade para o futuro da meliponicultura brasileira, já que,
algumas plantas nativas cultivadas pelo homem têm sua reprodução basicamente associada às
abelhas tropicais.
O maior desafio da meliponiculura será adaptar o comportamento de produção de mel de cada
uma das espécies as técnicas racionais utilizando colmeias artificiais que possibilitam o fácil
manuseio e a produção em maior escala, e o processo de contaminação por excrementos animais.
Muito do que é obtido das abelhas indígenas ainda é feito de maneira meramente extrativista pelos
meleiros, acarretando frequentemente na destruição das colmeias, o que tem contribuído para a
extinção dessas abelhas em algumas regiões. Assim torna-se imprescindível o desenvolvimento de
técnicas que possibilitem a exploração das abelhas indígenas de maneira sustentável e renovável,
pois muitas das espécies vegetais de nossas florestas nativas dependem diretamente dessas
espécies de abelhas para realizar a polinização. Sem esse auxílio, a produção de frutos e sementes,
ficaria comprometida e nossas espécies vegetais estariam condenadas a extinção. Dada a grande
importância das abelhas indígenas é preciso que se preservem estas espécies, pois, muitas delas
estão sendo dizimadas, pela exploração inadequada, pelo desmatamento e queimadas, e pelo uso
indiscriminado de agrotóxicos.

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DAS ABELHAS


As abelhas são muito mais importantes do que parecem. O seu papel ecológico é fundamental na
manutenção da diversidade de espécies vegetais. As 20 mil espécies de abelhas que estima-se
existir no globo, são essenciais para a reprodução sexual das plantas. Durante suas visitas às flores,
as abelhas transferem o pólen de uma flor para outra, promovendo o que chamamos de polinização
cruzada, ou seja neste momento ocorre a troca de gametas entre as plantas. Uma boa polinização
garante a variabilidade genética dos vegetais e a formação de bons frutos.
Deste modo, as abelhas também são importantes para as plantas cultivadas que dependem de
agentes polinizadores. Portanto, as abelhas são indiretamente responsáveis pela produção de
alimentos: frutas, legumes e grãos.
Como dito no início, a diversidade de abelhas no Brasil é grande. Porém, pouco conhecemos sobre a
vida da maioria destas espécies. Mas como toda unidade biológica, cada espécie de abelha tem seu
papel na comunidade, mesmo que este ainda não esteja avaliado. Portanto, as abelhas devem ser
preservadas, bem como o ambiente em que vivem e dependem para completar seus ciclos de vida.
No Brasil o emprego de abelhas na apicultura migratória é bastante restrito, sendo mais utilizado
no Rio Grande do Sul. A apicultura migratória ou móvel é fundamentada na mudança de
conjuntos de colméias (apiários) de uma região para outra acompanhando as floradas com vistas à
produção de mel e para a prestação de serviços de polinização. Nos EUA, a apicultura móvel é
praticada por grande número de apicultores que viajam com milhares de colméias ao longo de
centenas de quilômetros através de vários estados em busca de flores para suas abelhas e também
para fazer polinização. Para o desenvolvimento desta modalidade de exploração altamente
especializada, se torna necessária uma tecnologia adequada, complementada também por
equipamentos apropriados para facilitar a manipulação das colméias, permitir fácil transporte e
proporcionar a necessária resistência para os constantes deslocamentos das colméias. Com o
surgimento de extensa área de culturas mecanizadas, derrubadas da vegetação nativa para dar
lugar a imensos reflorestamentos com essências florestais melíferas ou não e ainda o perigo dos
inseticidas para as abelhas, a sobrevivência futura da apicultura vai depender da migração para
procurar novas fontes de alimento, como também, fugir com as colméias, quando da aplicação de
inseticidas nas culturas próximas ao apiário.
Por outro lado, os extensos pomares e outras culturas já reclama a presença urgente de abelhas
para manter sua frutificação e qualidade da produção e que encontram na apicultura migratória a
grande solução, a exemplo dos países com agricultura desenvolvida. A nova modalidade de
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exploração apícola, além de significar um incentivo para a apicultura industrial, é também o


caminho para possibilitar a prestação de serviços de polinização entomófila com abelhas nos
pomares e culturas. Sob o ponto de vista econômico, ainda interessa mais aos apicultores os
produtos e subprodutos relacionados as abelhas (mel, pólen, cera, geléia real, própolis e o próprio
veneno), cujo custos de manutenção são relativamente menores e o pacote tecnológico já
desenvolvido no Brasil.
O produto mais conhecido das abelhas sem dúvida nenhuma é o mel que é utilizado no inverno para
gerar energia para promover o tremor dos músculos das asas e respectiva produção de calor para
aquecer o ninho, ou ainda, no verão para gerar batimentos das asas e refrigeração. O mel também é
utilizado para a nutrição de toda a colônia, especialmente a rainha. Como as fontes nectaríferas
reduzem sensivelmente no inverno, todo o período restante é utilizado pelas abelhas para
produção e armazenamento de mel, e justamente desse comportamento que a apicultura tira seu
benefício. O mel corresponde a uma solução xaroposa de carboidratos quimicamente alterado e
armazenado no estômago ou divertículo de mel que resulta da ação das enzimas salivares sobre o
néctar coletado das flores. De um modo geral, o mel é constituído, na sua maior parte (cerca de
75%), por hidratos de carbono, nomeadamente por açúcares simples (glicose e frutose). O mel é
também composto por água (cerca de 20%), por minerais (cálcio, cobre, ferro, magnésio, fósforo,
potássio, entre outros), por cerca de metade dos aminoácidos existentes, por ácidos orgânicos
(ácido acético, ácido cítrico, entre outros) e por vitaminas do complexo B, por vitamina C, D e E. O
mel possui ainda um teor considerável de antioxidantes (flavonóides e fenólicos).
A produção de mel começa com a coleta de néctar pelo flabelo, que é armazenado na glossa na
forma de gotículas que depois são aspiradas pela boca e enviadas via esôfago para o divertículo ou
estômago de mel. No divertículo o néctar é atacado por um conjunto de enzimas como a invertase,
diastase, glicose oxidase, catalase e fosfatase que decompõem o açúcar do néctar em frutose
(levulose) e glicose (destrose), que são açúcares mais simples e mais fáceis de serem metabolizados
pela via glicolítica. Movimentos dos músculos abdominais induzem a abelha a regurgitar o mel
contido no divertículo que é depositado nas células do favo. As propriedades higroscópicas do mel
fazem com que ele contenha um alto teor de água, dessa forma as abelhas abanam as asas sobre as
células para retirar o excesso de água, conferindo ao mesmo o aspecto pastoso.
Existem dezenas de variedades de mel de abelhas e marimbondos que podemos obter segundo a
floração, os terrenos de obtenção, as técnicas de preparação, além da espécie de abelha melífera.
Dessa forma variam em cor, aroma e sabor. Diferenciam-se, assim, na cor, indo do branco incolor,
amarelo ao castanho principalmente. A sua cor e sabor estão diretamente relacionadas com a
predominância da florada utilizada para a sua produção. Os méis de coloração clara apresentam
sabor e aroma mais suaves, como, por exemplo, os produzidos em pomares de laranjeiras, que têm
alta cotação no mercado. No entanto, os méis de coloração escura são mais nutritivos, ricos em
proteínas e sais minerais. Outra característica marcante em alguns méis é a consistência líquida ou
endurecida que poderá apresentar quando armazenado em recipiente, sendo de igual qualidade
sob esse aspecto.
No que diz respeito ao néctar, pode provir de uma única flor (mel monofloral) ou de várias (mel
plurifloral). A obtenção de méis monoflorais depende das caracteríticas edafo-climáticas da região,
bem como das variações de temperatura e pluviosidade, dentre outros fatores, além da adoção de
técnicas pelo apicultor, a presença de outro néctar em pequena quantidade não influi
apreciavelmente no seu aroma, cor e sabor. Por se tratar de uma solução saturada de açúcares, o
mel tende a cristalizar-se de forma espontânea, adquirindo uma consistência sólida, esse efeito
nada mais é do que a condensação, a aglutinação, das partículas de glicose. A cristalização do mel é
uma garantia da sua qualidade e de sua pureza, quando cristalizado ele mantém todas as suas
propriedades nutricionais e energéticas, além de manter o aroma e sabor. Geralmente, os méis
puros acabam por cristalizar com o passar do tempo, se um mel não cristaliza é possível que tenha
sido submetido ao aquecimento durante o processo de extração, ou, talvez, antes do
envasilhamento. A temperatura habitualmente praticada em tais processos (acima dos 40º C)
destrói as inibinas do mel, que são substâncias termolábeis e fotolábeis (destruídas com o calor e
com a luz), que conferem capacidade bactericida ao mel. Os cristais do mel retornam ao estado
liquido quando colocados em banho-maria a uma temperatura de 40oC, o que não ocorre com mel
fraudado por conter, em sua maioria, açúcar de cana.
Além do mel os produtor pode obter rendimento com subprodutos das abelhas como o propólis,
geléia real, cera, pólen e a apitoxina (veneno de abelha). A própolis (pro, a frente + polis, cidade
fortificada) é uma substância resinosa, adesiva e balsâmica, elaborada pelas abelhas a partir da
mistura da cera e da resina coletada das plantas, retirada dos botões florais, gemas e dos cortes nas
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cascas dos vegetais. É composta essencialmente de 55% de resinas vegetais, 30% de cera, 10% de
óleos essenciais e 5% de pólen com mais de 200 compostos químicos identificados. A própolis é
usada pelas abelhas para fechar as frestas e a entrada do ninho, evitando correntes de ar frias
durante o inverno. Em razão das suas propriedades bactericidas e fungicidas, é usada também na
limpeza da colônia e para isolar uma parte do ninho ou algum corpo estranho que não pode ser
removido da colônia. Sua composição, cor, odor e propriedades medicinais dependem da espécie de
planta disponível para as abelhas. Atualmente, a própolis é usada, principalmente, pelas indústrias
de cosméticos e farmacêutica. Cerca de 75% da própolis produzida no Brasil é exportada, sendo o
Japão o maior comprador.
A geléia real é uma secreção produzida pelas glândulas hipofaringeas de jovens abelhas operárias
até atingirem o 14º dia de vida, Contém notáveis quantidades de proteínas, lipídeos, carboidratos,
vitaminas, hormônios, enzimas, minerais e substâncias biocatalisadoras da regeneração celular. A
geléia real tem aspecto viscoso, leitoso e sabor ácido forte sendo fornecida a todas as abelhas
durante 3 dias e para a rainha por toda a vida. Como as larvas de operárias destinadas a se
transformarem em rainhas recebem uma quantidade maior de geléia, obtém o dobro de peso da
operária, podendo ter a vida estendida em 5 anos, o que nas operárias não ultrapassa os 35/40
dias. Embora não seja estocada nas colmeias como o mel e o pólen, é produzida por alguns
apicultores para comercialização in natura, misturada com mel ou mesmo liofilizada. A indústria de
cosméticos e medicamentos também a utilizam na composição de diversos produtos. A China é o
principal País produtor, responsável por cerca de 60% da produção mundial, exportando,
aproximadamente, 450 toneladas/ano para Japão, Estados Unidos e Europa. Para o homem a geléia
real tem ação vitalizadora e estimulante do organismo, aumenta o apetite e tem comprovado efeito
antigripal. Não se conhece, na biologia e medicina, outra substância com semelhante efeito sobre o
crescimento, longevidade e reprodução das espécies.
O pólen corresponde a um grão produzido por flores de plantas angiospermas ou por pinhas
masculinas de gimnospermas onde se encontram os gametas que vão fecundar o óvulo. As abelhas
utilizam os grãos de pólen como alimento (“pão de abelha”), porque possui uma grande proporção
de proteínas contendo todos os aminoácidos conhecidos, quantidades expressivas de vitaminas
especialmente a vitamina C e a vitamina PP. A presença de aminoácidos essenciais, oligominerais,
fibras, hormônios vegetais e vitaminas, fazem com que o pólen apícola tenha um elevado valor
nutritivo na dieta humana, sendo usado como suplemento alimentar, em fórmulas comerciais
misturado ao mel, seco, em cápsulas ou tabletes.
A cera é uma substância densa produzida por glândulas ceríngeas localizadas na porção ventral do
abdômen das operárias, a partir da conversão da glicose em cera. As abelhas convertem o açúcar do
mel em cera numa proporção de 8 kg de mel para 1 kg de cera, o qual é empregado principalmente
para construção dos favos e fechamento dos alvéolos (opérculo). A cera de Apis mellifera possui 248
componentes diferentes, nem todos ainda identificados. Logo após sua secreção, a cera possui uma
cor clara, escurecendo com o tempo, em virtude do depósito de pólen e do desenvolvimento das
larvas. As indústrias de cosméticos, medicamentos e velas são as principais consumidoras de cera;
entretanto, também é utilizada na indústria têxtil, na fabricação de polidores e vernizes, no
processamento de alimentos e na indústria tecnológica. A cera também apresenta propriedades
terapêuticas sendo empregada como componentes de pomadas, unguentos cicatrizantes, como
estimulador da motilidade digestiva e digestão, além de funcionar como aditivo de pastas para
controle do tártaro e fortalecimento de gengiva. Os principais importadores são: Estados Unidos,
Alemanha, Reino Unido, Japão e França; os principais exportadores são: Chile, Tanzânia, Brasil,
Holanda e Austrália.
A apitoxina é o veneno das abelhas operárias de Apis mellifera purificado. O veneno é constituído
basicamente de ácido fórmico, ácido clorídrico, ácido ortofosfórico, histamina, colina, triptofano e
enxofre, sendo produzido pelas glândulas de veneno nas duas primeiras semanas de vida da
operária e armazenado no "saco de veneno" situado na base do ferrão. Cada operária produz 0,3
mg de veneno, que corresponde a uma substância transparente, solúvel em água, injetado a partir
da introdução do ferrão ou aguilhão. O ferrão corresponde a um potente arpão serrilhado (espinho
pungente) usado como meio de defesa, que sempre custa a vida da abelha, pois só pode ser
introduzido uma única vez. Como está conectada com o intestino sua inserção na pele de intrusos
pilhadores de mel, faz com que a abelha perca parte de seu trato digestivo o que resulta em sua
morte instantânea. A tolerância do homem à dose do veneno é bastante variada. Existem relatos de
pessoas que sofreram mais de cem ferroadas e não apresentaram sintomas graves. Entretanto,
indivíduos extremamente alérgicos podem apresentar choque anafilático e falecer com uma única
ferroada. Embora a ação anti-reumática, analgésica, antinflamatória e imunossupressora do veneno
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Criação de Abelhas: Histórico e Importância - Apicultura – Agronomia

seja comprovada e o preço no mercado seja muito atrativo, trata-se de um produto de difícil
comercialização, pois, ao contrário de outros produtos apícolas, o veneno deve ser comercializado
para farmácias de manipulação e indústrias de processamento químico, em razão da sua ação
tóxica.

Exercícios de Revisão
(1). O homem extrai o mel desde os primórdios da humanidade, contudo a maneira pelo qual era
obtido sempre se caráter meramente extrativista. Assim descreva resumidamente como se
iniciaram os processos de racionalização da retirada de mel pelas primeiras civilizações?

(2). Você pode conseguir as abelhas para iniciar sua criação de três diferentes maneiras;
comprando colônias de apicultores comerciais, capturando colméias em estado natural ou atraindo
famílias em enxameamento para caixas. Nem sempre foi assim, por essa razão como foram
desenvolvidos os sistemas de caixas para criação de abelhas?

(3). Embora tenha um enorme potencial para a produção de mel, o Brasil ocupa a 6ª posição
mundial, perdendo para países da América do Sul, como a Argentina. Considerando o histórico da
criação de abelhas, quais obstáculos foram encontrados no processo de produção de mel entre os
séculos XIX e XX que desencadearam o processo de estagnação da apicultura?

(4). Uma das soluções para a manutenção da produção de mel foi o processo de africanização de
abelhas ocorrido em meados de 1950. Basicamente quais eram os objetivos desejados com o
processo de miscigenação com abelhas africanas? Que tipos de problemas a africanização trouxe
para a produção de mel e como esses foram contornados?

(5). O processo de cultivo de abelhas nativas ao contrário do que se pensa, vem de longa data com
os indígenas. Atualmente a criação dessas abelhas tem merecido um destaque especial em função
das propriedades medicinais do mel. Pensando nesse aspecto porque a maioria dos apicultores
ainda tem preferência por trabalhar com abelhas europeias?

(6). Apicultores gaúchos e catarinenses relatam desaparecimento de abelhas em níveis inéditos.


Alguns produtores registram perdas de 25% na produção de mel e diminuição na produção de
frutas. Considerando essa problemática, que tipo de prática poderíamos desenvolver dentro da
apicultura para retomar a produção de mel e de frutíferas?

(7). O produto mais conhecido das abelhas, sem dúvida nenhuma é o mel, que corresponde a
“vômito” açucarado da abelha. Reconhecidamente o mel apresenta propriedades nutricionais e
farmacológicas fantásticas. Considerando esses aspectos: (A) Como as Abelhas fazem para produzir
o mel? (B) Que tipos de aspectos do mel podemos analisar para verificar se o mesmo é de boa
qualidade?

(8). Não se conhece, na biologia e medicina, outra substância com semelhante efeito sobre o
crescimento, longevidade e reprodução das espécies, como a geléia real. Por essa razão explique
como as abelhas produzem a geléia real e que tipo de benefícios ela pode trazer aos seres humanos?

(9). O consumo de cera e pólen apícola, dois subprodutos associados as abelhas, tem crescido
vertiginosamente nos últimos anos. No que diz respeito a esses elementos: (A) Como eles são
produzidos e que papéis exercem na vida das abelhas? (B) Quais aplicações podem ser destinadas a
esses subprodutos que explicam o aumento de seu consumo?

(10). “Reumatismo é o termo genérico usado para designar um grupo de doenças que afeta
articulações, músculos e esqueleto, caracterizado por dores e restrições dos movimentos. Talvez as
abelhas tenham a solução para esse problema”. Porque o texto acima relaciona as abelhas com o
processo de cura de doenças reumáticas? Justifique.

(11). Extrato de própolis tem sido comercializado como um potente agente no combate de doenças
relacionadas com o trato respiratório. Dessa maneira determine como a própolis é produzido pelas
abelhas e como pode auxiliar no combate a afecções do trato respiratório?

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