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Prólogo

Os Três Fundadores vestiam verde no dia em que seriam executados. Era uma
ironia de péssimo gosto considerando a situação em que eles se encontravam.
Antes reverenciados como lendas, agora, tratados como charlatões sem escrúpulos,
isso baseado apenas na opinião do Monarca.
O atual governante do reino havia recém assumido o posto, depois da misteriosa
morte de Leorio Sythandhel, homem que conseguiu trazer a paz para o reino
através de suas excelentes técnicas em batalha, em destaque sua resistência,
comparada a uma montanha.
Uma grande montanha, não um morrinho ou algo do tipo.
O mesmo foi encontrado no chão de sua adega particular, com um ferimento na
cabeça, um forte odor de vômito e uma pedra manchada com sangue. Sua morte
não condiz com sua reputação ou sua reputação não condiz com a verdade, quem
sabe.
O Reino Hasami estava nas mãos de Fineas Ralphod Sythandhel, o primogênito da
família e que não possui nenhuma característica que seja positiva a seu respeito,
além de um apelido interessante: Finral.
Era um jovem de estatura média, nariz empinado e um claro ar de “Eu sou o Novo
Monarca, não questione minhas ordens! “. Uma clara referência a Monty Python e
seus estereótipos.
Contudo, essa não é uma narrativa sobre um rei agindo como um mimadinho.
— Acordem, seus hereges — disse Finral.
Sua voz ecoou pela cela úmida onde mantinham os prisioneiros considerados
inimigos do reino.
— Hoje, a era da Valência se encerra — declarou enquanto retirava seu capuz —
Seus esforços foram grandes, reconheço, porém nada pode superar a palavra de
um rei.
— Meu caro líder, receio que terá que adiar minha execução — disse um homem
com uma voz grossa e viril — estou em um quadro grave de Lambmia.
— Lambmia?
Um sorriso maldoso se formou no rosto do prisioneiro, igual a um adolescente
quando alguém cai em suas piadas de duplo sentido.
— Lamba minhas bolas! — gritou o homem seguido de uma gargalhada sincera
Tal atitude deixou o rei enfurecido.
— Escute aqui, Theodoro, você já causou problemas de mais a esse reino com
suas ideias de igualdade e seus roubos junto com seu grupinho de Harmoniosos.
— Diz isso o homem que não tem capacidade alguma para realizar qualquer uma
das três Valências — desdenhou Theodoro — Esperava mais do primogênito de um
dos maiores Escolhidos que já viveu na história. Que vergonha meu querido Fineas.
— Como ousa pronunciar meu nome em vão! — gritou Fineas com lágrimas de ira
em seus olhos.
— Por favor, poupe suas lágrimas para mendigar alguma Valência para o
Engenheiro. Se bem que o clamor de um mal amado, pelo Engenheiro é ignorado.
O que fará o pobre monarca? Ir correndo pro papai? Talvez fosse conseguir se ele
não estivesse morto .
— Você sabe que não precisa ser assim, seu bardo imundo. Se nos dissesse a
localização de pelo menos de algum dos três Canalizadores, você seria poupado e
até mesmo poderia trabalhar para o reino .
— Primeiramente, só estou imundo porque sua cela não tem banheira.
Segundamente, as localizações estão com vossa majestade. Bem no meio de seu
anûs.
— Vejo que será inútil argumentar com você. Você teve sua chance.
— Acha mesmo que me matando seus problemas com a Valência serão resolvidos?
Pois saiba que ela não pode ser extinguida. Enquanto houver pessoas, haverá
magia.
— É o que veremos.
Os outros dois membros permaneceram em silêncio durante toda a conversa. Finral
saiu frustrado e com raiva. Definitivamente ele queria a morte desses homens. E
queria que eles soubessem que ele foi o responsável por isso.

A Praça da Serenidade era um dos principais pontos comerciais e turísticos de todo


o reino. Além de se encontrar na capital, era onde as negociações econômicas dos
três principais reinos eram realizadas. Era um lugar largo com um grande chafariz
em seu centro, onde fora montado um palco para a decapitação.
Muitas pessoas foram até lá esse dia. Todos queriam saber se os rumores que o
infame Theodoro Paganini fora capturado eram reais. Se fosse, logo a cabeça do
mesmo seria exibida como símbolo de poder.
Era um dia ensolarado, quase sem nuvens no céu. O carrasco Jones estava de bom
humor. Ele adorava seu trabalho. Embora com o atual governo as execuções se
tornaram frequentes, uma execução ainda era uma execução e Jones apreciava
todas elas.
Por volta das duas da tarde, as carruagens chegaram trazendo consigo os membros
reais e o réu. Theodoro foi levado até o centro do palco.
Porém, quando os outros dois prisioneiros iam ser levados, foi revelado que eram
apenas duas túnicas afetadas pela Frequência. As duas roupas começaram a
dançar como se estivessem num festival. Risos foram ouvidos dentre a multidão que
cercava o centro da Praça. Embora fosse comum, a Valência sempre causava
admiração em quem a via.
Seguindo a tradição, as Normas Sagradas foram lidas pelo sumo sacerdote Horácio,
onde o mesmo pontuava os supostos “crimes contra o Engenheiro” que o réu havia
cometido. Após isso, as últimas palavras do condenado deveriam ser ouvidas.
Theodoro ficou em silêncio, até que ouviu uma voz vinda da multidão:
— Ei Theodoro, as histórias sobre você ter conseguido a Melodia são reais? Onde
ela está agora?
Theodoro sorriu. Ele ampliou sua voz
— Desejam saber a verdade sobre o mundo e a Valência? As Lendas são
verdadeiras! Vão em direção às Terras Mortas. Lá encontrarão o que buscam e
lembrem-se: Enquanto houver pessoas, haverá magia.
Todo ser em um raio de 100 metros conseguiu ouvir tais palavras.
Jones pegou seu machado negro, feito de obsidiana e cortou a cabeça de Theodoro
com um só golpe. O mesmo morreu com um sorriso no rosto.
O sangue escorreu até o chafariz e manchou a água antes límpida com o líquido
vermelho.
As confirmações das lendas motivaram aqueles que desejavam uma aventura, o
poder da Valência ou algum outro motivo pessoal a explorarem as Terras Mortas.
Uma dessas pessoas era uma garota nobre, cansada de bailes, chás e chocolates
com texturas estranhas. Sua alma necessitava de adrenalina e de respostas.
Logo, o nome dessa garota seria lembrado durante séculos:
Sunna Ryaku.

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